DETERMINAÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA EM CULTIVARES DE ALGODOEIRO HERBÁCEO POR MARCADORES MICROSSATÉLITES Cândida H.C. de Magalhães Bertini1, Ivan Shuster(2), Tocio Sediyama(3), Everaldo Gonçalves de Barros(4) , Maurílio Alves Moreira(5).(1) BIOAGRO, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000 Viçosa, MG; (2) COODETEC, Cx. Postal 301, 85.818-660 Cascavel, PR. (3) Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000 Viçosa, MG; (4) BIOAGRO, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000 Viçosa, MG; (5) BIOAGRO, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000 Viçosa, MG RESUMO O conhecimento da diversidade genética e a relação entre os materiais melhorados são de grande importância para o melhoramento das culturas. Para se obter tais informações o presente trabalho teve como objetivos: (1) estimar a informatividade dos locos SSR de algodão e (2) estimar a distância genética entre 53 cultivares de algodoeiro herbáceo atualmente cultivados na América do Sul. Foram usados 31 pares de primers de microssatélites que amplificaram 31 locos polimórficos, num total de 66 alelos e média de 2,13 alelos por loco. O índice de diversidade (ID) calculado para estimar a informatividade de cada primer variou de 0,18 a 0,62. O coeficiente de dissimilaridade variou de 0,00 a 0,71, com uma média de 0,40 ± 0,01. Através do método UPGMA observou-se no dendograma a formação de 7 grupos e 28 subgrupos. Esses resultados são consistentes com as informações do pedigree e genealogia obtidas para alguns cultivares. Nesse trabalho observou-se que a maioria das cultivares obtidas nos programas de melhoramento é resultante de seleção dentro de cultivares de sucesso. Os resultados revelaram o potencial dos marcadores microssatélites em estudos de diversidade genética entre indivíduos da mesma espécie, uma base genética estreita entre os cultivares de algodoeiro e a necessidade de se introduzir novos alelos no pool gênico dos algodoeiros melhorados. INTRODUÇÃO O conhecimento relacionado à diversidade genética das espécies traz duas vantagens a um programa de melhoramento. A primeira diz respeito à heterogeneidade genética que limita a vulnerabilidade das espécies às pragas e doenças e a segunda está relacionada ao fornecimento de um amplo suprimento de variação alélica que pode ser usada para criar novas combinações de genes favoráveis. Muitas variedades de algodoeiro têm sido desenvolvidas a partir de cruzamentos entre pais proximamente relacionados, mas o ganho de produção limitado tem levado à procura do uso mais extensivo de germoplasma exótico. Apesar de os métodos de melhoramento terem aumentado a eficiência na transferência da variação alélica das fontes de germoplasma para o pool gênico dos algodoeiros melhorados, as fontes de germoplasma ainda permanecem subutilizadas (Van Esbroeck and Bowman, 1998). Os marcadores moleculares possibilitam várias aplicações e análises genéticas com grandes oportunidades de utilização no melhoramento genético. Esses marcadores apresentam várias vantagens sobre os marcadores morfológicos, dentre elas, destaca-se o polimorfismo, a independência entre os efeitos ambientais e o estádio fisiológico da planta. Desses marcadores, os microssatélites, também denominados SSR (Simple Sequence Repeat), possibilitam ampla utilização nos programas de melhoramento. A disponibilidade e abundância desses marcadores ao longo do genoma do algodoeiro, sua natureza polimórfica, co-dominância e por serem baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR), os fazem bastante úteis em estudos de diversidade genética (Reddy et al., 2001). Com o intuito de se ter um conhecimento mais aprofundado da diversidade genética de algumas variedades de algodoeiro, o presente trabalho teve como objetivos: (1) estimar a informatividade dos locos SSR de algodão e (2) estimar a distância genética entre 53 cultivares de algodoeiro herbáceo atualmente cultivados na América do Sul. MATERIAL E MÉTODOS Para a determinação da diversidade genética foram usadas 53 variedades de algodoeiro herbáceo, desenvolvidas e lançadas por instituições públicas e privadas do Brasil e países como Argentina e Paraguai. A extração do DNA foi feita com base no protocolo descrito por McDonald et al. (1994), com algumas modificações. Foram utilizados os “primers” microssatélites de algodão disponibilizados pela Research Genetics. As reações foram realizadas em 15 µL de solução contendo 10 ng de DNA genômico, tampão 1X (10 mM de Tris-HCl, pH 8,3 e 50 mM de KCl), 2,5-3,0 mM de MgCl2, 0,2 mM de dNTPs, 0,2 µM de cada primer e uma unidade de enzima Taq DNA polimerase. A reação de PCR foi realizada em termociclador com um programa do tipo touch down. Os fragmentos amplificados foram separados em gel desnaturante de poliacrilamida 7% contendo formamida e visualizado sob luz ultravioleta, após serem corados com brometo de etídio. O índice de diversidade de cada microssatélite foi obtido através da freqüência dos alelos utilizando a fórmula proposta por Weir (1990). A distância genética foi calculada com base na matriz de dissimilaridade obtida a partir do cálculo do complemento do coeficiente de coincidência simples (Cruz, 2001). Os métodos usados para realizar a análise de agrupamento feita com base na matriz de dissimilaridade foram os do tipo hierárquico aglomerativo, sendo estes o método do vizinho mais próximo, vizinho mais distante e UPGMA. A eficiência do método de agrupamento foi avaliada através do coeficiente de correlação cofenética, observando a concordância entre a matriz de dissimilaridade original e o dendograma. RESULTADOS E DISCUSSÃO DIVERSIDADE ALÉLICA DOS MARCADORES SSR Nesse trabalho 31 pares de primers amplificaram 31 locos polimórficos. Apesar de dois primers (BNL 1694 e BNL 3408) terem amplificado dois locos cada, apenas um foi polimórfico. Liu et al. (2000a) realizando um trabalho de mapeamento de marcadores SSR em algodão encontraram alguns primers com esse mesmo comportamento, dentre eles o primer BNL 3408. Os primers amplificaram um total de 66 alelos com uma média de 2,13 alelos por loco. Resultado semelhante foi obtido por Gutiérrez et al. (2002) que obtiveram uma média de dois alelos por loco SSR. Por outro lado Liu et al. (2000b) encontraram uma média de 5 alelos por loco SSR. O índice de diversidade (ID) calculado para estimar a informatividade de cada primer variou de 0,18 a 0,62 com uma média de 0,40. No trabalho realizado por Liu et al. (2000b) o valor médio do PIC (equivalente ao ID) foi de 0,31. Os primers mais informativos foram BNL 3257, BNL 3590, BNL 3408, BNL 2986, BNL 2921 e BNL 1694. DISTÂNCIA GENÉTICA E DIVERSIDADE O coeficiente de dissimilaridade usado para calcular a distância genética entre os 53 cultivares avaliados a partir dos locos SSR variaram de 0,00 a 0,71, com uma média de 0,40 ± 0,01. A análise de distribuição dos 1.378 pares de genótipos comparados (Figura 1) mostrou uma concentração dos valores nas classes de 0,2-0,3 a 0,4-0,5. A distância genética mais alta (0,71) ocorreu entre as cultivares IAC 20 e BRS Itaúba. Enquanto as distâncias mais baixas (0,00) ocorreram entre as cultivares Sicala 3-2e ITA 90 e as cultivares Epamig 5 e CD 402. As correlações cofenéticas entre os dados de dissimilaridade e as matrizes fenéticas obtidas pelos métodos UPGMA, vizinho mais distante e vizinho mais próximo foram de 68%, 63% e 43%, respectivamente. Portanto, o método UPGMA apresentou maior eficiência em representar as dissimilaridades entre os genótipos avaliados em relação aos outros métodos. Através do dendograma (Figura 2) observou-se a formação de 7 grupos e 28 subgrupos. A formação de alguns grupos e subgrupos é consistente com as informações do pedigree e genealogia obtidas para alguns cultivares. Segundo Carvalho (1999) pouca diversidade genética é encontrada nas cultivares plantadas no Brasil. Grande parte delas descendem de apenas 3 origens diferentes, o que torna estreita a base genética dessas cultivares e pode torná-las vulneráveis à ocorrência de doenças. Baixos valores de distância genética também foram encontrados por Multani e Lion (1995) e Gutiérrez et al. (2002) usando marcadores SSR. Iqbal et al. (1997) também encontraram uma elevada similaridade genética (0,82 a 0,93) entre 17 cultivares de G. hirsutum com base em marcadores RAPD. A utilização de apenas alguns cultivares de sucesso e seu uso extensivo como progenitores em programas de melhoramento têm limitado a diversidade genética (Van Esbroeck et al., 1998). No presente trabalho observou-se que a maioria das cultivares obtidas nos programas de melhoramento são resultantes de seleção dentro de cultivares de sucesso e que o outro método mais adotado é o cruzamento entre cultivares e entre cultivares e linhagens. Van Esbroeck e Bowman (1998) sugerem a existência de suficiente variação alélica, mutação ou recombinação entre os indivíduos proximamente relacionados. O grande número de cultivares de sucesso obtidas através de reseleções indica que uma pequena quantidade de recombinação resultou em uma variância genética suficiente para se obter progresso genético dentro dos programas de melhoramento. Apesar dessa constatação um grande esforço para introgredir um germoplasma mais diverso que não acarrete efeitos negativos na produção, em cultivares já adaptados às regiões do País, pode oferecer maiores recompensas ao melhoramento da cultura e reduzir a vulnerabilidade genética destas cultivares. CONCLUSÕES 0, 8 7- 0, 7 0, 6- 0, 6 0, 5- 0, 5 0, 4- 0, 4 0, 3- 0, 3 0, 2- 0, 2 0, 1- 0, 0- 0, 1 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 0 Nº de pares de genótipo Os resultados revelaram o potencial dos marcadores microssatélites em estudos de diversidade genética entre indivíduos da mesma espécie, uma base genética estreita entre os cultivares de algodoeiro e a necessidade de se introduzir novos alelos no pool gênico dos algodoeiros melhorados. Coeficiente de dissimilaridade Figura 1- Distribuição das distâncias genéticas calculadas para 1.378 pares de genótipos. Unweighted pair-group average (UPGMA) 0,5 0,3 0,2 0,1 0,0 49.CD98-87 36.BRS96-227 30.BRS197 15.IAC23 32.BRSAroeira 52.CD98-383 18.IPR96 51.CD98-225 46.CD403 29.CNPAITA92 21.OroBlanco 53.CD98-440 19.GuazunchoII 44.CD401 43.IAN338 50.CD98-101 20.Cacique 16.IPR94 48.CD405 25.CNPA8H 47.CD404 17.IPR95 12.IAC20 45.CD402 40.Epamig5 38.Alva 41.Liça 26.CNPAP1 24.CNPA7H 42.MG/UFU 39.Redenção 14.IAC22 13.IAC21 11.IAC19 10.IAC17 5.BRSAntares 28.CNPAP3 27.CNPAP2 4.BRSFacual 9.FM986 3.ITA96 6.SATURNO 8.FM966 37.FETAGRI 31.BRSItaúba 35.BRS96-148 23.Fabrika 22.Makina 34.BRSSucupira 7.DeltaOpal 33.BRSIpê 2.ITA90 1.Sicala3-2 Distâncias genéticas 0,4 G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 Figura 2 – Dendograma construído com base nas medidas de dissimilaridade e usando o método das médias das distâncias (UPGMA). Os grupos indicados abaixo da figura (G1, G2, G3, G4, G5, G6 e G7) foram obtidos considerando um limite superior de 35% da distância genética (linha tracejada). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, L. de Contribuição do melhoramento ao cultivo do algodão no Brasil. In: BELTRÃO, N.E.M. O Agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. v. 2, p. 255-269. CRUZ, C. D. Programa genes: versão Windows; aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: UFV, 2001. 648p. GUTIÉRREZ, O.A., BASU, S., SAHA, S., JENKINS, J.N., SHOEMAKER, D.B. CHEATHAM, C.L.A., McCARTY Jr., J.C. Genetic Distances among Selected Cotton Genotypes and Its Relationship with F2 Performance. Crop Sci., v.42, p. 1841-1847.,2002. IQBAL, M.J., AZIZ, N., SAEED, N.A., ZAFAR, Y. Genetic diversity evaluation of some elite cotton varieties by RAPD analysis. Theor Appl Genet., v.94, p. 139-144, 1997. LIU, S., CANTRELL, R.G., McCARTY Jr., J.C., STEWART, J. McD. 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