Projecto de três anos Laboratório de Coimbra quer reduzir emissões de CO2 com atalho químico 24.10.2011 - 19:24 Por Nicolau Ferreira Os combustíveis fósseis são a principal fonte energética (Jo Yong-Hak/Reuters (arquivo)) Enquanto a energia no mundo for produzida à base de combustíveis fósseis, haverá libertação de dióxido de carbono de tubos de escape e chaminés de fábricas. Mas o gás não tem que inundar a atmosfera e acentuar as alterações climáticas, pode ser armazenado logo em grandes agregados de moléculas e ser utilizado na indústria química. Esta é ideia de um projecto para evitar o aumento de gases na atmosfera que provocam o efeito de estufa, liderado por Abílio Sobral, investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. “Nos próximos anos não me parece que haja alternativa aos combustíveis fósseis para a indústria, e nessa perspectiva há que resolver o problema, muitos ecossistemas podem deixar de existir [devido às alterações climáticas]”, disse ao PÚBLICO o químico, especialista na vertente orgânica – a química que estuda as moléculas da vida, baseadas no carbono. O investigador do Departamento de Química da universidade está a tentar desenvolver uma espécie de esponja que absorve as moléculas como o dióxido de carbono ou o metano, mas não só. “Há dois ou três materiais que fazem isto, mas o que se faz depois? O que propusemos é usar o dióxido de carbono acumulado como material industrial”, disse. Para produzir por exemplo formaldeído, um composto muito utilizado em processos industriais. O projecto tem dinheiro da FCT para três anos e “só começou há seis meses”. A equipa de Sobral está a inspirar-se em várias moléculas orgânicas para obter a esponja, entre as quais a clorofila – responsável nas plantas pela obtenção de energia através de energia solar. Se resultar, as moléculas serão depois sintetizadas no laboratório. “O ideal era utilizar energia solar”, explicou o cientista. Abílio Sobral ainda não sabe qual será o grau de eficácia da tecnologia, mas espera ser muito grande. Ou seja, para uma unidade de “esponja”, haverá a absorção de “100, 200 ou 300 moléculas de CO2”. Isto, em situações de alta concentração do gás, como nas saídas de tubos de escape de carros ou chaminés de fábricas. Depois, o CO2 seria utilizado nos processos químicos reduzindo a quantidade de matéria-prima normalmente utilizada nestes produtos. Actualmente há várias ideias de geoengenharia com o objectivo de diminuir os efeitos das alterações climáticas. Uma quer colocar sulfatos para a atmosfera, imitando o que os vulcões fazem. Isso aumenta a radiação solar que é reflectida para o espaço e diminui momentaneamente a temperatura na Terra. Outra ideia é enviar o CO2 atmosférico de volta para os espaços no interior da crosta terrestre de onde se retirou o petróleo. Mas Abílio não considera que este projecto entre nessa categoria, porque não está a mexer directamente no ciclo do carbono. “Estamos a fazer um atalho, o dióxido de carbono é logo capturado quando é emitido, é um atalho químico”, disse o cientista que não se sente à vontade com as ideias da geoengenharia. “Podemos discutir a ideia mas não concordo, por cautela científica. Qualquer ecossistema tem 1000 variáveis que não conhecemos, a ciência deve ser humilde e vejo a geoengenharia com alguma preocupação”, defendeu. http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/laboratorio-de-coimbra-quer-reduzir-emissoes-deco2-com-atalho-quimico-1518022