Aula 3 - Isolamento de células de retina de embrião de pinto. Variados tipos de células (vegetais e animais) e organismos são actualmente utilizados como modelos experimentais para estudar diferentes aspectos da biologia celular e molecular. Uma vez que as características fundamentais de todas as células foram sendo conservadas ao longo da evolução, os princípios básicos retirados de experiências realizadas com um tipo de células são muitas vezes aplicáveis a outros tipos de células. As culturas de células (in vitro) têm um largo espectro de aplicação, estando na base de uma grande variedade de estudos, permitindo, por exemplo, o estudo do crescimento e diferenciação celular e, inclusivamente, a manipulação genética de forma a compreender a função e a estrutura de um determinado gene. Uma das maiores vantagens da utilização de culturas celulares é o facto de se poder controlar mais eficazmente o ambiente experimental. De forma a preservar mais informação sobre cada tipo individual de célula desenvolveram-se métodos de dissociar as células dos tecidos e separar os vários tipos celulares. O resultado desta dissociação, uma população celular homogénea, pode ser então analisado directamente ou após o número de células ser aumentado através da sua proliferação em cultura. O primeiro passo para se isolarem células animais de um único tipo é romper a matriz extracelular e as junções intercelulares que mantêm as células juntas. Quando se querem isolar células sem capacidade proliferativa, como os neurónios, normalmente recorre-se a tecido fetal, embrionário ou neo-natal. Podem-se também isolar células com capacidade proliferativa provenientes de tecido adulto ou de tecido tumoral. O isolamento celular é feito através do tratamento com enzimas proteolíticas (ex. tripsina ou colagenase) e/ou com agentes que ligam cálcio (EDTA), necessário para a adesão entre as células. Após o isolamento, realizado em condições assépticas de forma a minorar as contaminações microbiológicas, as células são mantidas em caixas ou frascos de plástico especiais para culturas, contendo meio de cultura com os nutrientes necessários, numa incubadora a 37ºC com 95% humidade e 5% CO2. As culturas celulares que se estabelecem inicialmente a partir de um tecido são denominadas culturas primárias. Normalmente, células com capacidade de divisão crescem até cobrirem toda a superfície do frasco ou caixa. Algumas células da cultura primária podem então ser colocadas numa densidade mais baixa em novos frascos de cultura estabelecendo culturas secundárias ou culturas filhas. Este processo pode ser repetido várias vezes mas, de uma maneira geral, não indefinidamente. De facto, a partir de determinado número de divisões, dependendo do tipo de células, as células acabam por morrer. Por exemplo, fibroblastos humanos normais podem ser cultivados cerca de 50 vezes a partir de uma cultura primária. No entanto, células retiradas de tumores ou células modificadas através de vírus podem proliferar de forma indefinida em cultura, sendo referidas como linhas celulares imortais. Este tipo de linhas é bastante útil em diferentes tipos de experiências uma vez que providenciam uma fonte de células de forma contínua e uniforme, podendo ser manipuladas, clonadas e propagadas indefenidamente no laboratório. 1 2 3 4 Câmara de contagem , Câmara de NeuBauer ou Hemocitómetro Isolamento de Células da Retina de Embrião de Pinto - Protocolo Na aula prática ir-se-á proceder ao isolamento de células de retina a partir de embriões de pinto, com o objectivo de estabelecer uma cultura celular primária. O isolamento das células de retina de pinto deve ser feito em condições assépticas numa câmara de fluxo laminar (ver figura). A. Material - Ovos de galinha com 8 dias de incubação a 38,5 ºC, 70% humidade - Caixas de Petri - Multi-wells revestidas com poli-L-lisina 0,1 % - Pinças B. Soluções - BME – Meio basal de Eagle com 20 mM de Hepes e 1 mM NaHCO3, suplementado com 5% de soro fetal bovino, penicilina (100 U/ml) e estreptomicina (100 µg/ml) - Meio de isolamento – Meio de Hanks sem Ca2+ nem Mg2+ (NaCl 137 mM, KCl 4,4 mM, KH2PO4 0,34 mM, NaHCO3 4 mM, glicose 5 mM, pH 7,4) - 0,1 % de tripsina em meio de isolamento C. Procedimento - Aquecer os meios a 37º C e preparar a solução de tripsina - Preparar as caixas de Petri com Meio de Isolamento - Passar os ovos por álcool, partindo-os com a tesoura pela parte mais larga - Remover o embrião para uma caixa de Petri, separar os olhos e retirar o tecido em volta destes - Retirar o humor aquoso ou cristalino e o humor vítreo - Separar a retina do epitélio pigmentado - Colocar as retinas num tubo de falcon com tripsina em Meio de isolamento (0,1 %) - Incubar a 37º C durante 15 minutos - Centrifugar a 800 rpm durante 1 min - Ressuspender as células em Meio de Cultura e aspirar com uma pipeta repetidamente para as dissociar. Contagem das células (exemplo): - Retirar 25 µl da suspensão celular e diluir 5x com azul de tripã. - Colocar a suspensão numa câmara de contagem (ver figura) e contar as células. - Colocar o nº de células desejado em multi-wells revestidas com poli-L-lisina. Exemplo: Quadrado 1 - 50 células viáveis Quadrado 2 - 45 células viáveis Quadrado 3 - 52 células viáveis Média: 50,75 células Quadrado 4 - 56 células viáveis [ ] suspensão celular: 50,75 x factor de diluição x 104 células/ml 50,75 x 5 x 104 células = 2, 54 x 106 células/ml de suspensão