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Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável
Julho/2016
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Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável
Simone Cristina Nienke Prado - [email protected]
Design de Interiores Ambientação e Produção de Espaço
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Brasília, DF, 10 de março de 2015
Resumo
Este artigo tem como objetivo o estudo da utilização de jardins verticais em ambientes
compostos por paredes nuas. Trata-se de um novo modelo de urbanização que vem crescendo
na ambientação urbana, principalmente pelo enfoque dado à questão da sustentabilidade tão
difundida nos tempos atuais. Nesse contexto, diante do crescimento desordenado das cidades
e com a intensa ocupação do solo, questiona-se até que ponto os jardins verticais podem
auxiliar nesse processo, atuando como um instrumento mediador para amenizar a carência
de áreas verdes no meio urbano, além de proporcionar outras vantagens, tais como a
melhoria da eficiência energética, acústica e da qualidade do ar do interior das edificações.
Para a realização do estudo, embora tenha sido encontrado pouco material sobre o tema,
recorreu-se à pesquisa bibliográfica em artigos e dissertações disponibilizadas pela internet,
bem como algumas publicações relacionadas ao assunto. O texto foi desenvolvido em tópicos,
os quais versaram sobre a evolução urbana; a origem, a trajetória, os conceitos, as
características e os pressupostos técnicos dos jardins verticais; bem como as vantagens e
desvantagens da utilização desses modelos de jardins. Ao final, restou demonstrado que
apesar do alto custo, os jardins verticais despontam como uma alternativa para a moderna
arquitetura urbana, pois incorpora o conceito de sustentabilidade ao crescimento dos
grandes centros urbanos.
Palavras-chave: Jardins Verticais. Urbanização. Áreas Verdes. Meio Ambiente. Plantas.
1. Introdução
Sob o tema “Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável”, o presente artigo
tem a finalidade de cumprir o requisito exigido pelo Instituto de Pós-Graduação – IPOG para
o Curso de Design de Interiores Ambientação e Produção de Espaço.
Além da sua importância dentro do contexto ambiental vivenciado atualmente, a escolha do
tema foi motivada pelo interesse em conhecer mais a fundo os benefícios que a implantação
desse projeto arquitetônico traz para o meio urbano, abrangendo não só o bem-estar humano,
mas também como uma forma de contribuir para o aumento das áreas verdes das cidades, ou
seja, uma maneira de devolver a natureza às áreas tomadas por edificações.
Vale ressaltar que, por se tratar de tema relativamente novo, a bibliografia relacionada ao
assunto ainda é escassa, fazendo com que se recorresse à pesquisa em trabalhos e artigos
publicados em revistas e disponibilizados pela internet, com o intuito de reunir as informações
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necessárias que auxiliem na percepção do tema e defina o seu papel na melhoria do meio
ambiente e na reabilitação das edificações.
Nesse contexto, o estudo faz inicialmente uma abordagem sobre o processo da evolução
urbana desde o surgimento das primeiras civilizações até a sua generalização durante o século
XX. Na sequência, mostra-se a origem dos jardins verticais, criados ainda no século VI a.C.
Dando seguimento, é apresentada a evolução desse modelo, que foi implantado pelos vikings
na Islândia; em países da América do Norte, como o Canadá, os Estados Unidos; na Europa
pelos italianos e franceses, especialmente pelo arquiteto austríaco Adolf Loos; e no Brasil
pelo renomado paisagista Roberto Burle Marx na década de 1970. São apresentados os
conceitos e as características dos jardins verticais, para depois serem descritos os pressupostos
técnicos das fachadas verdes e das paredes vivas, categorias atribuídas aos jardins verticais
dadas por Costa (2011) e adotada para o contexto do presente artigo. Em seguida, são
relatadas as formas empregadas para manutenção desses jardins. E, por fim, são exibidas as
vantagens e desvantagens da implantação dos jardins verticais. Portanto, a intenção é mostrar,
de maneira sucinta, como o uso sustentável dos espaços urbanos por meio da projeção de
jardins verticais poderá suprir a ausência de áreas verdes, melhorar a biodiversidade e a
qualidade do ar nos grandes centros urbanos.
2. A evolução urbana
Os relatos históricos apontam que as primeiras civilizações urbanas surgiram na
Mesopotâmia, numa região localizada entre os rios Tigre e Eufrates. Por causa dos recursos
hídricos e da fertilidade do solo, essa região facilitava o acesso de povos de culturas
diferentes, fato que contribuiu para o surgimento de vilas e povoados, que mais tarde
evoluíram para a formação das cidades. Assim sendo, as primeiras cidades datam de 3500
a.C. (MURUCCI, 2014).
A formação da civilização egípcia teve início no ano 3100 a.C. com as aglomerações urbanas
situadas ao longo do rio Nilo. Assim, surgiram nessa região cidades como Mênfis e Tebas.
Aproximadamente em 2.500 a.C., nos vales do rio Indo (Índia) e do rio Amarelo (China),
foram criadas as cidades de Mohenjodaro e Pequim, respectivamente. Desse modo, nota-se
que essas regiões, por serem abastecidas por rios, facilitaram a irrigação e a produção de
alimentos, motivo pelo qual estão associadas à escolha para construção e desenvolvimento
dessas cidades (MURUCCI, 2014; PORTAL UOL – EDUCAÇÃO, 2014).
Os maias e os astecas foram os maiores responsáveis pela formação dos grandes centros
urbanos, conforme se depreende das informações prestadas por Murucci (2014).
Em Tical, cidade maia localizada na Guatemala, foi encontrada 3000 construções,
com 60% de propriedades residenciais. Em Dzibilchaltun, outra cidade maia em
Lucatã, uma pesquisa realizada em menos da metade da área total da cidade revelou
mais de 1500 construções. Teotihuacán, atualmente ocupada pela cidade do México,
apresentava um número incrível de aproximadamente 100 mil habitantes no
primeiro milênio d.C.
Para Abiko, Almeida e Barreiros (1995), não restam dúvidas de que as primeiras cidades com
características de civilização urbana foram as criadas na Mesopotâmia, Índia e China.
As cidades foram de desenvolvendo, alcançando dimensões expressivas. Atenas, por
exemplo, chegou a possuir 250 mil habitantes; e Roma, enquanto capital do Império Romano,
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atingiu a marca de um milhão de pessoas (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2003). A
expansão do Império Romano fez com que outras cidades surgissem na África, Grécia, Gália
e Bretanha (PORTAL UOL – EDUCAÇÃO, 2014).
Posteriormente, a queda do Império Romano fez diminuir o ritmo do crescimento das cidades,
algumas inclusive chegaram a desaparecer. Esse fato marcou o início da Idade Média, período
em que ocorreu um retrocesso na urbanização. O poder centralizador cedeu lugar ao sistema
feudal, o qual, por ser fundamentalmente agrário, manteve uma produção autossuficiente,
dando lugar ao consumo (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995).
A urbanização voltou a crescer após a primeira Revolução Industrial. Inicialmente, o
crescimento demográfico ocorreu na Inglaterra, seguido da França e da Alemanha. Isso
porque “a evolução das técnicas agrícolas, trazidas por ela, permitiu que o trabalho humano
fosse sendo substituído pela força das máquinas”, fazendo com que “que o êxodo rural se
tornasse a maior causa da urbanização nos últimos dois séculos” (PORTAL UOL –
EDUCAÇÃO, 2014). Nesse sentido, “a população a viver nas cidades multiplicava-se por 10,
graças aos progressos científicos, melhores condições de vida, criação de postos de trabalho, e
consequente crescimento econômico”. Tudo isso alavancou o crescimento das cidades
(ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995).
Mas foi no século XX que o processo de urbanização realmente se generalizou, graças ao
crescimento da industrialização. Esse crescimento teve relação direta com o aumento da
população que passou a viver nas cidades, tanto que atualmente cinquenta por cento da
população mundial pode ser encontrada nos centros urbanos. (PORTAL UOL –
EDUCAÇÃO, 2014).
3. Origem e trajetória dos jardins verticais
A história aponta os jardins suspensos da Babilônia (Figura 1) como as primeiras referências
desse modelo no mundo. Criados no século VI a.C. por Nabucodonosor II como presente para
sua esposa, os jardins foram construídos sobre o palácio, “acerca de 20 metros de altura e
conformavam-se através de inúmeros terraços arborizados, irrigados a partir do rio Eufrates,
impondo uma cultura botânica e estética” (SOUSA, 2012:33).
Figura 1 – Jardins suspensos da Babilônia
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Fonte: Reis, Algayer, Taglieti (2013)
Reis, Algayer e Taglieti (2013:4) explicam porque os jardins suspensos são considerados os
precursores desse modelo de paisagismo:
Embora, no caso dos Jardins Suspensos, o crescimento das plantas se desse em
plano horizontal, é possível considerá-los os precursores dos jardins verticais, uma
vez que o visual assumido à distância é semelhante ao que encontramos no
paisagismo vertical atual, além do seu sistema ter servido de modelo para a criação
dos processos de plantio e irrigação atuais.
De acordo com Pereira (2014:3), não há “um registro fiel ou vestígios científicos quanto à
configuração e técnica executiva empregada” na construção dos jardins suspensos da
Babilônia.
Desde então, foi possível observar a evolução dos jardins construídos em terraços na
Antiguidade Clássica. São exemplos dessa prática os jardins do Mausoleo de Augusto e o
Castelo de Santo Ângelo, localizados em Roma. A ornamentação de pátios das habitações se
tornou uma prática comum, inclusive nas fachadas das vilas romanas, utilizando-se para tal
flores, árvores, arbustos e plantas trepadeiras, posto que além de deixarem o ambiente
esteticamente mais bonito, minimizavam as amplitudes térmicas (ARAGÃO, 2011).
Aragão (2011) aponta as Turfhouses (Figura 2), na Islândia, como outro exemplo dos
primeiros jardins verticais. Os vikings construíam suas casas com uma estrutura de “madeira
assente numa base de pedra e preenchida por uma espécie de tijolos de terra relvada” e
coberta por bétula, uma árvore nativa da Islândia. Ao utilizar esses materiais, a intenção era
amenizar as extremas condições climatéricas e, ao mesmo tempo, integrar as paredes cobertas
de relvado à paisagem. Esse tipo de construção foi expandido pelos próprios vikings para a
América do Norte (no Canadá), sendo que os Estados Unidos adotaram o mesmo método nas
construções das pradarias no século XIX.
Figura 2 – Turf houses
Fonte: Pereira (2014:5)
Outra obra considerada precursora por Taylor (apud PEREIRA, 2014) é a cidade peruana de
Machu Picchu, construída no século XV. O solo fértil aliado ao clima subtropical permitiu a
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composição de terraços e paredes cobertos pela vegetação, proporcionando uma paisagem
exuberante da cidade no alto de uma montanha.
A evolução dos jardins verticais alcançou a Europa, especificamente na Itália, que passou a
cultivar a videira – planta trepadeira – junto às fachadas das casas. Por ocupar um espaço
menor, fornecer alimentos e oferecer às habitações um maior conforto climático no verão, os
europeus adotaram essa técnica para cultivar outros tipos de frutos. Posteriormente, países
como a França e a Inglaterra também empregaram o mesmo sistema, fazendo com que essa
prática se popularizasse na segunda metade do século XX. A proposta da “cidade jardim”
elaborada por Ebenezer Howard em 1898 for marcante nesse sentido, pois além de aproveitar
as vantagens da cidade e do campo, também tentou evitar o crescimento urbano
desproporcional. Portanto, foi a partir desse momento que a concepção de usar a vegetação
para cobrir os muros pôde ser “considerada como um elemento que prestigia a fachada”
(SOUSA, 2012:38).
A questão ambiental tornou-se tema de preocupação na sociedade entre o final do século XIX
e início do século XX. Nesse contexto, os jardins verticais ganharam espaço, chamando a
atenção dos estudiosos, uma vez que poderiam trazer aos grandes centros urbanos um ganho
sustentável ao desgaste provocado pelo crescimento urbano desordenado (SOUSA, 2012).
Uma obra de referência nesse sentido foi a Casa Scheu (Figura 3), construída por Adolf Loos
em Viena, na Áustria, que utilizou terraços superiores em substituição aos telhados
convencionais e uma cobertura vegetal em uma de suas fachadas (SOUSA, 2012). Noutra
obra – a Casa Steiner –, Adolf Loos também empregou o mesmo recurso, revestindo uma das
fachadas com plantas trepadeiras (PEREIRA, 2014), conforme se observa na Figura 4.
Figura 3 – Casa Scheu
Fonte: Pereira (2014:6)
Figura 4 - Casa Steiner
Fonte: Pereira (2014:6)
Segundo Sarnitz (apud SOUSA, 2012), o arquiteto austríaco foi pioneiro ao colocar em
prática o princípio da cobertura vegetal em terraço e no uso dos jardins verticais (fachadas
verdes), pois combinou esses elementos de maneira que “representassem um símbolo de
liberdade pessoal e proporcionassem uma ‘sensação de ar livre’.”
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Na década de 1930, com a introdução de novas técnicas de construção, a utilização de plantas
trepadeiras em fachadas sofreu um declínio, pois havia certa preocupação com as
consequências trazidas à estabilidade das paredes (SÉGUIN apud PEREIRA, 2014).
Nos Estados Unidos, o uso de jardins verticais foi ainda menos frequente. Lá, o professor de
paisagismo Stanley Hart White da Universidade de Illinois foi pioneiro nesse estudo, tendo
inventado os tijolos botânicos, descritos em 1937 “simplesmente como unidades de plantas
que podiam ser superpostas a qualquer altura, de modo a criarem rápidos efeitos paisagísticos
e superfícies verticais cobertas por trepadeiras floridas ou algo semelhante”. Em 1938 o
professor patenteou sua invenção denominando-a de Vegetation-Bearing Architectonic
Structure and System, “o qual pode ser considerado precursor dos vertical gardens de todo
mundo, estabelecendo precedentes para o modernismo verdejante no pré-guerra do centrooeste americano” (HINDLE apud PEREIRA, 2014:6).
No Brasil, a história dos jardins verticais teve início com Roberto Burle Marx na década de
1970. O renomado paisagista desenvolveu vários projetos no exterior, entre eles o Parque Del
Este, situado em Caracas, na Venezuela, que incluíram paredes verdes, sendo que sua
primeira obra brasileira relacionada aos jardins verticais encontra-se na sede do Banco Safra
em São Paulo (Figura 5) além de outras obras como a sede da Xerox do Brasil, no Rio de
Janeiro (Figura 6). Na estrutura vertical desse edifício foram colocadas espécies de plantas
tropicais de porte médio, com mecanismos específicos para absorver a umidade do ar
(JARDINS verticais ..., 2012). Conforme o site Wallgreen (2014), Burle Marx se utilizou de
bromélias, orquídeas e outras epífitas para moldar esculturas naturais e paisagens verticais,
demonstrando sua clara preferência pelas plantas nativas brasileiras, o que mais tarde
consolidou a arquitetura moderna do Brasil.
Figura 5 – Jardim Vertical da sede do Banco Safra,
São Paulo, 1983
Fonte: Finotti (apud GUIMARÃES, 2013:13)
Figura 6 – Jardim Vertical da Sede da Xerox
do Brasil, Rio, 1980
Fonte: Finotti (apud GUIMARÃES, 2013:13)
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Cabe salientar que a técnica de usar plantas trepadeiras em fachadas de edificações em muito
contribuiu para difundir a concepção de jardim vertical, porém, à época se aplicava mais às
construções de até dois andares de altura. Contudo, esse conceito foi modificado pelos
estudos do botânico francês Patrick Blanc referente à parede vegetalizada (mur végétalisé),
por meio da qual era aplicada a mistura de substrato de nutrientes e água sobre as paredes, o
que permitia cultivar plantas fora do solo. Tratava-se, assim, do sistema hidrópico, que
consiste:
Na sobrevivência das plantas em ausência de solo, sendo a água a responsável pela
sua vitalidade. No que confere às paredes vivas, que é um tipo de jardim vertical
explicado no capítulo seguinte, a hidroponia é fundamental, visto que as plantas
dispostas ao longo das paredes, suportadas por materiais como, feltro, turfa ou geotêxteis, se alimentam pelos nutrientes que a água lhes faz chegar. Desta forma, a
água é considerada o suporte vital das plantas em soluções hidrópicas (GROULT,
2008 apud SOUSA, 2012:42).
Patrick Blanc é considerado o criador do conceito de jardim vertical e o “representante mais
significativo dos paisagistas que atuam na área”. O botânico cria, por meio da combinação
gráfica de plantas, um mosaico de expressiva complexidade inspirado nos vegetais que se
desenvolvem de forma natural em superfícies rochosas e úmidas. Ele criou um sistema
próprio com painéis de feltro acrílico irrigados automaticamente para reproduzir a vegetação
no sentido vertical tanto no interior quanto no exterior de edificações. Suas obras encontramse espalhadas em várias partes do mundo, dentre as quais podem ser citadas a do Musée du
quai Branly, inaugurada em Paris no ano de 2005 (Figura 7), e a do Shopping Dolce Vita em
Lisboa, concluído em 2009 (Figura 8).
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Figura 7 – Jardim Vertical do Musée du quai Branly
Fonte: Blanc (2011 apud Lima Júnior (2014:49)
Figura 8 – Jardim Vertical do Shopping Dolce Vita
Fonte: Costa (2011)
Atualmente, os jardins nos tetos dos edifícios já são amplamente utilizados, principalmente
em alguns países da Europa e da Ásia. Em Cingapura e Hong Kong, essa paisagem é
amplamente difundida por causa da restrição para expansão de suas áreas. Quanto ao uso de
jardins verticais, embora ainda seja considerado incipiente, algumas cidades alemãs, por
exemplo, possuem programas de incentivo à construção ecológica, em que as edificações
possuam fachadas verdes, principalmente com o objetivo de melhorar o clima urbano.
(COSTA, 2011).
4. Conceitos e características dos jardins verticais
Há vários termos atribuídos à designação de cobertura vegetal em edificações: “paredes
verdes, fachadas vivas, jardins verticais, mur vert, mur vegetal, facade garden, living walls,
green curtain, fassadenbegrünung etc.”. Na visão de Costa (2011), a terminologia “jardins
verticais” é a mais adequada, pois engloba todos os demais tipos de paredes cobertas por
vegetação, o que varia de um simples acessório estético de pequeno porte até uma grande área
cultivada por vários tipos de plantas.
Jardim vertical pode ser conceituado como o resultado da intervenção de vegetalizar paredes
internas ou externas de prédios, por meio de técnicas especializadas (REIS, ALGAYER,
TAGLIETI, 2013). Trata-se de um termo que descreve as formas de vegetalização total ou
parcial de fachadas de edifícios, ou seja, anexar plantas às estruturas de engenharia civil e
paredes de prédios (MIR, 2011; OTTELÉ, 2011 apud SOUSA, 2012).
Refere-se a uma nova vertente do paisagismo, uma tendência da nova arquitetura, que designa
a jardinagem urbana, uma vez que é utilizada em espaços de solo limitados e de alto custo.
(REIS, ALGAYER, TAGLIETI, 2013).
No site Wallgreen (2014:1) pode ser encontrada a seguinte definição para jardins verticais:
“[...] uma opção de paisagismo onde as plantas se desenvolvem numa parede ou muro que
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pode ser implantado em ambientes internos e externos, pequenos espaços ou amplas paredes
sem limite de tamanho ou altura, ou seja, as possibilidades são infinitas”.
Inspirado na natureza, os jardins verticais prometem revolucionar a concepção e o uso das
edificações, trazendo benefícios para o clima, melhoria da qualidade do ar, isolamento
térmico, biodiversidade, absorção do dióxido de carbono e, principalmente, impactar
positivamente na saúde da população (SOUSA, 2012).
Loh e Köhler (apud SOUSA, 2012) classificam os sistemas de jardins verticais internos e
externos em três espécies: sistema painel, sistema com superfícies porosas e sistema de
containers ou vasos. O sistema painel comporta o substrato distribuído por câmaras no interior
dos painéis, os quais são pré-plantados e afixados na parede por meio de um suporte de metal
e com um sistema de irrigação. No sistema de superfícies porosas, as plantas são postas em
bolsões com substrato, devidamente impermeabilizados com policloreto de vinila (PVC) e
mantidos umedecidos constantemente. O sistema de containers ou vasos compreende o
cultivo de plantas em recipientes, sendo que estas podem subir por treliças e sua irrigação é
feita por gotejamento, através de sensores dentro dos recipientes que permitem controlar a
água e os nutrientes.
Já Costa (2011) divide os jardins verticais em duas categorias: fachadas verdes e paredes
vivas. Nas fachadas verdes, o sistema empregado é mais simples e depende do substrato para
que as plantas sobrevivam, ou seja, as plantas são fixadas ao substrato em caixas ao longo da
parede. Nas paredes vivas, o sistema é mais complexo (semelhante ao inventado por Patrick
Blanc); é produzido no próprio local e consiste no plantio em camadas de feltro atreladas à
estrutura de PVC, requerendo um eficiente sistema de rega, uma vez que as plantas possuem
características que lhes permitem desenvolver sem a presença do substrato. A classificação de
Costa (2011) pode ser observada na Figura 9.
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Figura 9 – Tipos de jardins verticais
Fonte: Sousa (2012:62)
5. Pressupostos técnicos
Diante da classificação adotada por Costa (2011), passa-se agora à avaliação técnica das
fachadas verdes e das paredes vidas.
5.1. Fachadas verdes
Conforme já mencionado, o cultivo feito nas fachadas verdes requer o uso de um sistema
hidropônico para que as plantas se desenvolvam de forma aderente.
Costa (2011) explica que o modo de cultivo da vegetação pode variar, isto é, a planta pode ser
fixada em qualquer tipo de solo, por “auto-apego”, independente do solo e em caixas de
substrato.
5.1.1. Fachada verde plantada no solo
Embora seja considerado o sistema mais simples, apresenta a desvantagem da lentidão no
tempo dispendido para que a fachada seja inteiramente coberta pela vegetação, dependendo
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ainda do tipo de planta e da altura da fachada. Subdivide-se em sistemas de plantas de autoapego (diretamente na parede) e sistemas de plantas que precisam de estruturas de suporte
complementares (indiretamente na parede).
No plantio por “auto-apego”, são utilizadas trepadeiras com capacidade de aderir à fachada,
principalmente quando a parede tem superfície rugosa; entretanto, em alguns casos, suas
raízes podem danificar a parede.
Quando a planta – que deve ser trepadeira – não possui capacidade de aderir à parede, deve
ser empregado o sistema de cabos ou painéis modulares, que servirão para orientar o seu
crescimento (Figuras 10 e 11). Tem a “vantagem de contribuir com o resfriamento da
superfície, que é possível por conta da camada de ar que é criada pelo afastamento entre a
parede e o sistema orientador das plantas”, além de auxiliar na “preservação da estrutura e
acabamento da parede”. (COSTA, 2011).
Figura 10 – Fachada Verde em painel modular
Fonte: Mir (2011 apud SOUSA, 2012:65)
Figura 11 – Fachada verde em sistema de cabos
Fonte: GreenRoofs (2008 apud SOUSA, 2012:65)
5.1.2. Fachada verde em caixa suspensa de substrato
As espécies plantadas em caixas têm acesso à quantidade de substrato colocada nos
recipientes; este sistema, além de promover um bom desenvolvimento da vegetação também
traz a vantagem de ser facilmente mantido, apesar de a frequência das regas ser maior. Costa
(2011) expõe que esse sistema comporta um ou mais níveis de substrato, o que limita o
crescimento das plantas na vertical e na horizontal, logo se a parede for grande “devem ser
usadas caixas de substrato de dois ou mais níveis, os quais aceleram o processo de
preenchimento”. As caixas de substrato são posicionadas na margem das fachadas, das
coberturas ou em sistemas de suspensão.
A Figura 12 demonstra esses tipos de fachada verde.
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Legenda: a) auto-apego; b) com dependência da parede; c) em caixa de substrato de
1 nível e d) caixa de substrato de 2 ou mais níveis.
Figura 12 – Tipos de fachada verde
Fonte: Sousa (2012:64)
5.2. Paredes vivas
Diferentemente das fachadas verdes, no sistema de paredes vivas são requeridas técnicas mais
complexas, incluindo cuidados maiores com a manutenção e a execução de regas com mais
frequência. Contudo, permite a formação de jardins verticais com interessantes jogos de
plantas (PEREIRA, 2012).
Figura 13 – Exemplo de parede viva no museu de QuaiBranly, em Paris
Fonte: Vialard (2010 apud SOUSA, 2012:69)
Esse sistema é montado no local ou é pré-fabricado. Nele são utilizados materiais e outras
técnicas (sistema hidrópico, substrato leve, muro-cortina etc.) que facilitam a sobrevivência
da planta na parede. O uso do substrato, por exemplo, é reduzido de modo a diminuir o peso
total do jardim e assegurar o equilíbrio da estrutura, por isso há necessidade de constantes
regas (GARRIDO apud SOUSA, 2012).
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5.2.1. Sistema produzido no local
A montagem direta nas paredes, também conhecida por in situ, é feita por meio da aplicação
de camadas de feltro, lã-de-rocha ou outros materiais geotêxtis, que “substituem o substrato
como suporte e armazenamento de nutrientes para a vegetação” (PEREIRA, 2014:10). Assim,
opta-se por plantas que cresçam rapidamente, com dimensões reduzidas e que combinem
biologicamente entre si. Garrido (apud SOUSA, 2012) recomenda o uso de espécies nativas e
com alta capacidade de adaptação ao tipo de ambiente.
A técnica de sistema hidrópico, amplamente utilizada por Patrick Blanc, é a mais simples e é
executada da seguinte maneira:
A sua estrutura consiste na instalação de ripas verticais (e algumas horizontais)
sobre o muro, com a finalidade de obter uma superfície perfeitamente vertical e
independente da parede, a fim de garantir afastamento entre a parede e a estrutura
verde, para a circulação de ar. Sobre este sistema de ripas fixa-se um painel de
polietileno reticular ou PVC. Este painel tem a finalidade de suportar as camadas de
feltro armado que aguentará o peso das plantas. Em geral, com este sistema, pode-se
colocar uma média de 20-30 plantas/m² (GARRIDO apud SOUSA, 2012:70).
Sousa (2012) aponta como vantagens desse sistema: o reduzido peso e a facilidade de suporte
na parede, além da fácil adaptação a diferentes edifícios e tipos de parede ou vãos. Todavia,
tem como desvantagens: custo elevado; grande consumo de água e nutrientes; necessidade de
um sistema complexo de rega e filtragem; sensibilidade às falhas da rega, podendo incorrer no
perecimento das plantas; grande reposição de plantas por secagem; alto custo de manutenção.
O sistema de substrato leve tem estrutura semelhante ao hidrópico, porém se diferencia na
cobertura das ripas, sobre as quais são colocadas “bandejas com pequenas quantidades de
substrato, onde são introduzidas as raízes das plantas”, o que permite uma densidade superior
se comparada ao sistema hidrópico. A rega desse sistema deve ser feita por gotejamento,
ensejando um baixo consumo de água, que por sua vez requer menor quantidade de
nutrientes, os quais podem ser acumulados no substrato (SOUSA, 2012).
As vantagens desse sistema descritas por Garrido (apud SOUSA, 2012) são: baixo consumo
de água, reciclagem de água da chuva; desnecessidade de sistema de recolha inferior de água
e reciclagem; baixo custo de manutenção, preço moderado e menor reposição de plantas.
Como desvantagem, o autor expõe a lenta instalação e a necessidade de mão de obra
especializada.
No sistema de muro-cortina a montagem é considerada mais simples. Assim, são colocados
montantes metálicos verticais (perfil em ômega) sobre o muro do edifício que são presos a
montantes horizontais (alumínio reciclado e perfurado), sendo que estes servirão para
sustentar o substrato e fornecer água. A rega é feita por entre os perfis (SOUSA, 2012).
Nesse sistema é possível combinar vidro, vegetação e outros tipos de material de forma
homogênea. Também permite utilizar uma média de 80 a 100 plantas de tamanhos reduzidos
por metro quadro. Apresentam como vantagens: simplicidade e rapidez na instalação; baixo
consumo de água e nutrientes; reaproveitamento de águas pluviais nas regas; pequena
incidência de falhas nas regas e baixo custo em função da pouca manutenção (GARRIDO
apud SOUSA, 2012; PEREIRA, 2014).
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5.2.2. Sistemas pré-fabricados
Os sistemas pré-fabricados são produzidos por várias empresas de maneira relativamente
simples. A título de exemplos, serão descritos algumas dessas montagens.
a) Caixas de substrato: confeccionadas em materiais leves, compreendem módulos verticais
de plástico, com baixa capacidade de armazenamento para diminuir o peso; são fixadas por
estruturas de aço presas à parede através de parafusos. Os recipientes plásticos têm a
função de armazenar o substrato da planta, a água e seus nutrientes. Sistema de rega
funciona por meio de tubulação posicionada na parte superior do jardim, através de uma
“pequena torneira por coluna de módulos que distribui a água para os recipientes em um
efeito cascata”, possibilitando o controle do desperdício (PEREIRA, 2014:12).
b) Caixas de suporte plástico: são compostas por módulos plásticos (vasos de vários
formatos) nos quais são aplicadas as plantas, e, posteriormente, são facilmente instalados
nas paredes. Com estrutura de sustentação individual, os vasos se encaixam em qualquer
tipo de parede. Portanto, cada módulo suporta seu próprio peso, sem sobrecarga para a
estrutura, o que os tornam ideais para paredes altas (SOUSA, 2012). Conta com
gotejadores individuais, o que evita o desperdício de água (PEREIRA, 2014).
c) Painéis de alumínio: compreendem uma “série de painéis modulares de espuma branca
obtida através de resina de aminoplásto (organitos que podem aparecer em algumas células
vegetais), que servirá de substrato às plantas”. De confecção rápida e fácil instalação, esse
sistema permite um processo de rega automática, através do gotejamento por gravidade.
Pode ser usado em qualquer tipo de parede e superfícies internas e externas (SOUSA,
2012:77).
d) Blocos cerâmicos: sua composição compreende “tijolos pré-fabricados, não-estruturais,
com cavidade própria para a colocação de substrato para plantas”. A fixação das peças
deve ser feita com argamassa de cimento na parede estrutural, devidamente
impermeabilizada, para evitar infiltrações. Com um custo reduzido e fácil montagem, sua
única desvantagem é seu uso em paredes de até 2,5 metros de altura. (PEREIRA, 2014:12).
A Figura 14 ilustra os sistemas pré-fabricados.
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a) Corte explicativo de Parede Viva
Hidrópica:
1. Água;
2. Camada de feltro ou outro;
3. Ripa horizontal;
4. Raiz;
5. Grampo metálico;
6. Camada de polietileno ou PVC;
7. Caixa-de-ar ventilada;
8. Vegetação;
9. Isolamento térmico;
10. Parede estrutural
b) Corte explicativo de Parede Viva
de Substrato Ligeiro:
1. Ripa horizontal;
2. Água;
3. Vegetação;
4. Raízes da vegetação;
5. Bandeja de polietileno;
6. Substrato;
7. Tela de filtro geotêxtil;
8. Parede estrutural;
9. Isolamento térmico;
10. Caixa-de-ar ventilada;
11. Sistema de rega
c) Corte explicativo de Parede Viva
tipo Muro Cortina
1. Montante vertical de perfil Ω;
2. Painel de polietileno;
3. Travessão horizontal em alumínio;
4. Parafuso de fixação da malha;
5. Camada de feltro;
6. Malha de aço;
7. Substrato;
8. Vegetação;
9. Raízes da vegetação;
10. Isolamento térmico;
11. Caixa-de-ar;
12. Parede estrutural;
13. Sistema de rega;
14. Água
Figura 14 – Cortes explicativos de paredes vivas
Fonte: Garrido (2011 apud SOUSA, 2012:70-74)
Outro método que vem sendo utilizado com frequência no Brasil nos últimos tempos, segundo
Pereira (2014), é o do jardim vertical em parede-canguru. Formado por containers de floreiras
ou vasos, esse sistema é projetado para reservar água e repassar o que exceder ao vaso
posicionado logo abaixo, criando um efeito “cascata” até chegar ao último recipiente. Trata-se
de sistema cuja rega é determinada por um controlador automático ligado à rede de água,
podendo ser utilizado em jardins internos, terraços e fachadas.
6. Manutenção de jardins verticais
Por se tratarem de sistemas vivos, os jardins verticais de fachadas verdes e paredes vivas
requerem manutenção periódica. Tais manutenções englobam podas, adubações, limpeza e
substituição de plantas. Contudo, a manutenção dependerá do tipo de jardim e das espécies
cultivadas. Para o botânico Patrick Blanc (apud SOUSA, 2012:83), quanto maior a
diversidade de espécies, maior longevidade terá o jardim vertical, pois, segundo ele, trata-se
de um pequeno “ecossistema independente, um espaço silvestre dentro de um ambiente
urbano, altamente artificial”.
A manutenção do jardim vertical pode ser feita de maneira direta (com a poda ou a
requalificação do sistema) e indireta (rega ou adubação) (OTTELÉ apud SOUSA, 2012).
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Nos jardins verticais de fachadas verdes, as plantas utilizadas são trepadeiras e videiras, o que
implica em uma variedade maior de manutenção. Os processos de rega e adição de nutrientes
são frequentes; entretanto, a poda e a educação dos ramos para controle e direcionamento da
vegetação são menores. Quanto aos sistemas de cabos como de painéis modulares, estes
devem ser constantemente inspecionados, reajustados ou substituídos para garantir a plena
saúde do sistema. Caso a manutenção não seja feita, poderão ocorrer danos na fachada verde
ou no próprio edifício, além do ressecamento de algumas plantas (SOUSA, 2012).
Nos jardins verticais de paredes vivas, a manutenção deve ser mais frequente e intensa em
função da densidade e diversidade de vida das plantas. Todavia, irá depender também da
estética e da fluorescência pretendida (MIR apud SOUSA, 2012). A adição de nutrientes e a
rega devem ser feitas constantemente, mas a quantidade irá variar conforme a espécie. A poda
é outra manutenção a ser executada; o processo é de longo prazo e sua frequência depende
“[...] das plantas e sistema em causa”. Além disso, algumas plantas devem ser substituídas,
seja por causa da sua “seca” ou “eventuais arranjos no seu sistema de suporte”.
Em suma, a manutenção estrutural deve ser feita, preventivamente, em todos os tipos de
jardins verticais, caso contrário as consequências podem ser desastrosas, variando desde a
perda do jardim até o comprometimento da estrutura do edifício.
7. As vantagens e desvantagens dos jardins verticais
Na concepção de Pereira (2014) e Sousa (2012), ainda há dúvidas sobre a compreensão das
vantagens e das desvantagens dos jardins verticais, inclusive sobre a sua relação
custo/benefício, principalmente por causa da pouca exploração do assunto. Contudo, os
autores procuraram dividir os benefícios por categorias, a saber: comuns, específicos,
públicos e privados. Os comuns estão presentes em todos os tipos de jardins verticais;
enquanto os específicos se referem “a algum tipo ou técnica utilizada”; os públicos dizem
respeito a tudo que está ligado ao ambiente externo; já os privados são os que se situam
dentro das edificações.
Desse modo, dentre os benefícios públicos trazidos pelos jardins verticais, podem ser citados:
a) Redução do efeito ilha de calor, já que promove processos de arrefecimento
natural, reduzindo as temperaturas nas áreas urbanas;
b) Aumento da biodiversidade, porque recria sistemas semelhantes a ambientes
naturais, resgatando paisagens e meios importantes para a fauna e a flora;
c) Melhoria da qualidade do ar exterior, uma vez que captura partículas poluentes,
filtra gases nocivos, absorve gás carbônico (CO2) e libera oxigênio (O2), estimandose que uma fachada verde de 80 m² pode absorver até 60 kg/ano de CO2; e
d) Estética do edifício, pois contribui para uma paisagem urbana com características
mais naturais, criando oportunidade de maior contato com a natureza no cotidiano e
favorecendo o bem-estar das pessoas à sua volta. ( PEREIRA, 2014).
No que se referem aos benefícios privados, as vantagens são:
a) Eficiência energética melhorada, pois aprisiona uma massa de ar dentro da
camada vegetal; limita a circulação de calor por meio de densas massas de
vegetação; reduz a temperatura ambiente através do sombreamento e do processo de
evapotranspiração das plantas; e pode criar um amortecedor contra o vento durante
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os meses de inverno, além de reduzir a energia associada ao aquecimento e
resfriamento do ambiente;
b) Proteção da estrutura do edifício, já que protege os acabamentos exteriores da
radiação ultravioleta (UV), assim como dos elementos e flutuações de temperatura
que desgastam os materiais,garantindo assim melhor proteção contra as intempéries;
c) Melhoria na qualidade do ar interior, porque captura poluentes do ar, tais como
poeira e pólen, além de filtrar gases nocivos e partículas de tapetes, móveis e outros
elementos de construção; e
d) Melhoria acústica, uma vez que promove o isolamento contra ruídos e diminui as
reflexões sonoras. (PEREIRA, 2014).
Portanto, os jardins verticais podem ser o diferencial no futuro do ambiente urbano, pois além
de suprir a falta de superfícies verdes, podem ser uma forma alternativa para aumentar a
biodiversidade e melhorar a qualidade do ar nesse meio. Do mesmo modo, oferecem certos
benefícios para os edifícios, que tendem a se tornar mais sustentáveis, podendo até mesmo
trazer um retorno financeiro com a diminuição do consumo de energia (SOUSA, 2012).
Para Pereira (2014), tais benefícios também podem variar diante de algumas condições, como
é o caso da “densidade de folhagens, a localização da parede e a escala do projeto.”
Em relação às desvantagens, a mais comum, no entendimento dos especialistas, é o custobenefícios, ou seja, a construção e a manutenção desses jardins não são compatíveis com os
benefícios, até porque a técnica inferida nesses projetos é bem maior que a utilizada em um
jardim convencional, pois envolvem profissionais especializados, reposição de plantas, grande
necessidade de regas e nutrientes e reparos no sistema (PEREIRA, 2014; SOUSA, 2012).
8. Conclusão
Apesar da pouca disponibilidade de bibliografia sobre o assunto, o artigo se propôs a
apresentar um panorama sobre a utilização dos jardins verticais em paredes nuas e sua
importância para suprir a falta de áreas verdes nos grandes centros urbanos. Embora ainda
seja um elemento incipiente no Brasil, os jardins verticais já despontam como uma das
grandes inovações para melhorar o ambiente urbano, como já vem acontecendo em vários
países. Do conceito apresentado, pôde-se extrair que se trata da vegetalização de paredes
internas e externas de prédios, por meio de técnicas especializadas.
O estudo mostrou que essa técnica, na verdade, teve início na Antiguidade Clássica,
exemplificada pelos jardins suspensos da Babilônia, e ao longo dos anos foi se aprimorando
por novas pesquisas aplicadas em países como a Irlanda, Canadá, Itália entre outros.
Contudo, no Brasil, tal técnica demorou a ser implantada, sendo que a primeira experiência
com fachadas verdes só foi empregada nos anos 1970, pelo paisagista Roberto Burle Marx.
Foram apresentadas duas categorias de jardins verticais: as fachadas verdes, considerado o
sistema mais simples, pois as plantas (trepadeiras) são fixadas em caixas com substrato e estas
colocadas ao longo das paredes; e as paredes vivas, cujo plantio é feito no próprio local
através de camadas de feltro atreladas à estrutura de PVC.
Foi possível conhecer os principais sistemas de plantio, entre os quais estão o hidrópico, o
substrato leve e muro-cortina; discorrer sobre as técnicas e materiais disponíveis, os quais
evoluíram bastante, desde os sistemas de impermeabilização e aplicação até os sistemas de
cultivo e irrigação, bem como a manutenção desses jardins, que é feita por podas, adubações,
limpeza e substituição de plantas.
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A pesquisa também expôs como principais vantagens: a sustentabilidade, a melhoria do clima,
da qualidade do ar, da acústica e da biodiversidade; e como maior desvantagem o fator custobenefícios, pois se tratam de projetos de custo elevado.
Em suma, infere-se que os jardins verticais são uma ótima alternativa para a arquitetura
moderna, pois incorporam uma nova tendência muito defendida nos dias atuais, que é aliar o
crescimento urbano às questões ambientais, priorizando o conceito de sustentabilidade.
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016
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