Boletim de Conjuntura CRISE ECONÔMICA NO BRASIL Outubro/2016 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ Sumário 1. 2 Indicadores da Economia Internacional ................................................................................... 2 1.1 PIB Mundial ................................................................................................................... 2 1.2 Indicadores da economia internacional ....................................................................... 2 Indicadores da Economia Brasileira......................................................................................... 4 2.4 Balança comercial ......................................................................................................... 6 2.5 Inflação .......................................................................................................................... 6 ............................................................................................................................................... 7 2.5.1 Inflação Acumulada - Data-Base Segundo Semestre: ................................................. 7 2.6 Produção Industrial:...................................................................................................... 8 2.7 BNDES .......................................................................................................................... 10 2.8 Setor Automotivo........................................................................................................ 11 2.9 Perspectivas para o Setor Automotivo ...................................................................... 13 3 Mercado de Trabalho ............................................................................................................ 14 4 Perspectivas Gerais ............................................................................................................... 17 5 Considerações finais ............................................................................................................. 19 1 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ 1. Indicadores da Economia Internacional 1.1 PIB Mundial Estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresenta as variações do PIB do Brasil e da economia mundial entre 2011 e 2015, assim como as previsões para os anos 2016 e 2017. Estima-se que, em 2016, a média de crescimento nos países desenvolvidos será de 1,9%, enquanto que nos países em desenvolvimento, 4,1%. Ainda sobre as estimativas para 2016, na América Latina e Caribe, espera-se média negativa em 0,5%. No Brasil, apostam numa redução de 3,3% em 2016, e somente a partir de 2017 variação positiva, 0,5%. Tabela 1 PIB Mundial – 2011-2017 (%) Fonte: World Economic Outlook – FMI – Abril/2016 Elaboração: Subseção do DIEESE / Metalúrgicos do ABC Observação: 2015-2017 – estimativas 1.2 Indicadores da economia internacional Para o bem ou para o mal, o desempenho da economia mundial interfere na economia brasileira. E as duas maiores potências, Estados Unidos e China, merecem 2 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ destaque especial, uma vez que juntos detêm quase ¼1 de todo o comércio mundial e são os principais parceiros comerciais do Brasil. Nos EUA, a taxa de desemprego permanece relativamente estável em 2016, sempre próxima a casa dos 5%. A variação percentual do PIB foi positiva nos últimos quatro trimestres, mas demonstra atenuação a cada divulgação. No segundo trimestre de 2016, a economia americana cresceu 1,2% em relação ao mesmo período de 2015. Em julho/2016, a produção industrial americana retraiu 1,1% em relação ao mesmo período de 2015; apresenta variação negativa e ininterrupta desde setembro/2015. As vendas no varejo também permanecem estáveis. Em julho/2016, apresentou variação de -0,3% depois de quatro meses de alta. As perspectivas sobre a economia americana têm se apresentado bastante inconstantes nos últimos anos e não traz panoramas de estabilidade, o que causa incerteza em toda a economia mundial. A aproximação do pleito eleitoral entre os candidatos Donald Trump e Hillary Clinton deve ampliar as turbulências e indefinições. E assim como os EUA, a China, segunda maior economia mundial tem apresentado movimentações contundentes na sua economia, a principal delas passa por um processo de transição do seu modelo econômico. Até então, o país era fortemente voltado às exportações e infraestrutura e começa a alterar sua plataforma de crescimento, direcionando-a para o consumo e para os serviços. O PIB chinês cresceu 6,7% no segundo trimestre do ano na comparação com o mesmo período de 2015. A taxa de desemprego é estável: em julho, ficou em 4,1%. A produção industrial cresceu 6,3% no segundo semestre/2016, em relação ao ano anterior. O crescimento econômico da China chegou em 13% em 2007. Após muitos anos com taxas acima dos dois dígitos, a previsão para 2017 está entre 6,5% e 7,0%. 1 Dados da WTO – Word Trade Organization – in: International Trade Statistics 2015 3 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ Os rumos da economia chinesa causa tensão em todo o mundo e precisam ser observados de perto. Tabela 2 Indicadores Econômicos Países Selecionados – 2016 2 Indicadores da Economia Brasileira 2.1 PIB Trimestral Pelo sexto trimestre seguido o PIB brasileiro apresenta resultados negativos. Segundo o IBGE, no segundo trimestre/2016, a redução foi de 0,6%. O resultado aponta que a recessão perde fôlego, uma vez que depois de 10 quedas seguidas os investimentos voltaram a apresentar variação positiva: alta de 0,4%. Outro dado positivo foi o desempenho da indústria, que após sucessivas quedas se estabilizou 4 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ com pequena elevação de 0,3%. E ainda, o menor ritmo da contração no consumo das famílias (-0,7%) também sinaliza positivamente para o fim da recessão. Os setores de serviços e agropecuária recuaram 0,8% e 2,0%, respectivamente. As comparações são referentes ao trimestre imediatamente anterior. 2.2 Reservas Internacionais O Brasil conta com uma quantidade considerável de reservas internacionais – US$ 369,60 bilhões – e é o sexto país com maior volume, superando a Alemanha (US$ 183,95 bilhões) e o Reino Unido (US$ 147,42 bilhões). A China é o país que detém maior reserva de dólares (US$ 3,18 trilhões). Na atual crise interna, e, diante de um cenário de instabilidade nas principais economias, o acúmulo da moeda estrangeira pode minimizar a vulnerabilidade do país frente a economia mundial. Esse volume permite ao Banco Central - BC brasileiro maior flexibilidade na condução da política monetária. Quando os investidores internacionais resolvem retirar divisas do mercado em grande quantidade, nossas reservas podem neutralizar os impactos negativos. O BC pode intervir disponibilizando dólares em grandes volumes, e, assim, a oferta da moeda americana impede a desvalorização excessiva do real. 5 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ 2.3 Conta corrente A previsão do Banco Central para as transações correntes, em 2016, aponta para um déficit de US$ 15 bilhões. Em 2015, o déficit em conta corrente2 foi de US$ 58,90 bilhões. Nos sete primeiros meses de 2016, o déficit soma US$ 12,54 bilhões, contra US$ 43,57 bilhões em igual período do ano anterior. 2.4 Balança comercial As exportações brasileiras superaram as importações ocasionando um superávit de US$ 32,37 bilhões no acumulado de janeiro a agosto de 2016. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Este é o melhor resultado para o intervalo (janeiro a agosto) em 28 anos. Até então, o maior saldo para o período havia ocorrido em 2006, quando foi contabilizado um superávit de US$ 29,74 bilhões. Economia enfraquecida, renda em queda e diminuição da demanda por produtos e serviços importados, associados ao elevado patamar do câmbio, são elementos que justificam esse resultado. 2.5 Inflação Em 2015, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, registrou 10,7%, alcançando dois dígitos, maior índice desde 2002, quando registrou 12,5%. Naquele ano, a É um dos principais resultados computados no balanço de pagamentos. A conta corrente, ou conta de transações correntes, reúne a balança comercial (exportações e importações) e a balança de serviços (transportes, seguros, remessas e recebimento de juros e lucros, rendas e transações unilaterais). Somente não contabiliza o investimento direto e os créditos financeiros. O saldo em conta corrente é visto de várias formas: indica se os habitantes de um país estão concedendo ou tomando empréstimos do resto do mundo; o déficit menos o investimento estrangeiro direto líquido mostra a necessidade de financiamento externo; modelos pós-keynesiano e estruturalista consideram o déficit em conta corrente como uma das principais restrições ao crescimento econômico; outros interpretam que o déficit, ao contrário, pode resultar de expectativas otimistas sobre o crescimento econômico futuro. O Brasil historicamente tem saldo negativo em conta corrente, mas de 2003 a 2007 teve um período contínuo de saldo positivo. (SOUZA, Jorge Luiz de. Desafio do Desenvolvimento – IPEA) 2 6 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ economia brasileira cresceu 3,1% (PIB). Neste ano, no acumulado de doze meses até agosto, está em 8,9%. A diferença é que o cenário atual apresenta uma combinação complicada de altas taxas de inflação e recessão, simultaneamente. Esperava-se que, com o desaquecimento da economia, a inflação voltasse ao centro da meta, no entanto, resiste e não dá sinais de trégua. Todo o instrumento de política monetária não tem surtido efeito, exemplo disso são as taxas de juros que vem se elevando sistematicamente, ocupando espaço entre as maiores do mundo, porém não consegue conter a inflação. Gráfico 1 Indicadores de Preços - ICV-DIEESE / IPCA-IBGE Brasil - 2015-2016 Fonte: IBGE/DIEESE Elaboração: Subseção DIEESE/SMABC 2.5.1 Inflação Acumulada - Data-Base Segundo Semestre: Ainda que os indicadores de inflação, desemprego e desempenho econômico não estejam em patamares considerados positivos, o segundo semestre reúne datas-bases de categorias com importante capacidade de mobilização; espera-se algum nível de melhora 7 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ nas negociações. A inflação acumulada (INPC) para as datas bases de setembro ficou em 9,6%. Estudo recente do DIEESE mostra que as negociações no primeiro semestre deste ano tiveram resultados mais favoráveis nos meses mais recentes, do que os fechados entre janeiro e março, período em que pouco mais da metade dos trabalhadores tiveram a garantia da reposição da inflação em seus salários. Dos acordos fechados no âmbito da indústria neste primeiro semestre, os metalúrgicos tiveram resultados mais favoráveis. Em média, 46% dos acordos na indústria de transformação garantiram a inflação acumulada dos 12 meses e apenas 21% resultaram em ganhos reais. Do total de acordos de metalúrgicos, 87,0% garantiram o poder de compra, e destes, 39,0% conquistaram aumentos reais. 2.6 Produção Industrial: Em julho de 2016, a produção industrial nacional cresceu 0,1% em relação ao mês imediatamente anterior, é o quinto resultado positivo mensal, acumulando neste período de alta 3,7%. O setor de bens de capital assinalou queda de 2,7%, interrompendo seis meses consecutivos de crescimento na produção, neste período acumulou crescimento de 14,7%. Os setores de bens de consumo duráveis (-16,2%) e bens de capital (-11,9%) apresentaram as maiores reduções na comparação anual. Dar especial atenção ao seguimento de bens de capital é importante, pois aponta o desempenho dos investimentos das empresas. Ainda sobre o setor de bens de capital, de acordo com os dados apurados pela Abimaq, o consumo aparente3 de máquinas e equipamentos, em junho somou R$ 5,87 bilhões em valores correntes, evolução de 56,7% em relação ao mês imediatamente anterior; em maio, havia-se apurado um acréscimo de 2,8% em relação a abril. Ainda é 3 Consumo aparente: Produção + Importações – Exportações 8 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ prematuro falar em recuperação. Os resultados dos próximos meses precisam continuar avançando, o que ainda é incerto. A produção física mensal por segmento econômico, de julho, em relação a igual mês do ano anterior, mostra que a indústria geral apresentou queda de 6,6%. É a vigésima nona taxa negativa em sequência para essa comparação. O setor de metalurgia retraiu 1,4% na comparação anual, mas avançou 1,6% em julho sobre o mês anterior. O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias retraiu 13,8% no ano. Nos últimos meses, o setor vinha apresentando recuperação. No mês anterior apresentou expansão de 5,5%, mas voltou a cair em julho (-1,7%). E os dados apresentados no relatório da Pesquisa Conjuntural do Sindipeças, mostra que o setor de autopeças apresentou queda da produção industrial de 0,9% em julho, em relação a junho/2016, na comparação com julho do ano passado, o resultado foi negativo em 10,9%. . Gráfico 2 Variação Mensal da Produção Industrial Brasil – 2015-2016 (%) Fonte: PIM-IBGE Elaboração: Subseção DIEESE/SMABC 9 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ 2.7 BNDES O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um dos mais importantes bancos de desenvolvimento do mundo e o principal instrumento do Governo Federal para o financiamento de longo prazo dos investimentos em todos os segmentos da economia brasileira. Com o desaquecimento da economia o BNDES diminuiu os desembolsos do primeiro semestre em 42,0%, somando R$ 40,12 bilhões, mediante R$ 69,17 bilhões do mesmo período do ano passado. O setor de Infraestrutura, que tem a maior participação (32,3%), teve uma redução de 50,0%. A indústria, que tem participação de 29,5%, teve os desembolsos reduzidos em 42%. Retomando as políticas de privatizações ocorridas nos anos 1990 pelo governo FHC, o governo Temer lançou, em setembro/2016, o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e coloca o BNDES como o principal condutor do programa de concessões e privatizações dos ativos públicos. O BNDES vai ofertar cerca de R$ 30,00 bilhões em dinheiro, com juros subsidiados às empresas do setor privado, para concessões e privatizações de 34 projetos em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, mineração, petróleo, gás e energia elétrica. Assim como nos anos 1990, o governo financiará o desmonte das empresas públicas. 10 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ Tabela 3 Desempenho Setorial do BNDES Brasil - Primeiro Semestre 2016 (R$ milhões) Fonte: Banco Central do Brasil 2.8 Setor Automotivo Há uma grande expectativa para que, finalmente, as vendas de autoveículos encerrem seu processo de queda e voltem a apresentar variação positiva. No acumulado do ano, entre janeiro e agosto/2016, as vendas totais somaram 1,35 milhão de unidades, uma retração de 23,1% em relação ao mesmo período do ano passado. No segmento de pesados, 11 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ as vendas de caminhões (34,7 mil unidades) e ônibus (8,6 mil unidades), tiveram as maiores quedas: -30,1% e -30,7%, respectivamente. Em agosto, os licenciamentos de autoveículos somaram 178,3 mil unidades, alta de 1,9% em relação ao mês imediatamente anterior. É o quarto mês consecutivo de crescimento, mas ainda assim, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, as vendas foram menores em 23,4%. Os autoveículos importados acumularam vendas de 187,9 mil unidades de janeiro a agosto deste ano, redução de 34,4% sobre o período de 2015. Além do desaquecimento da economia, a taxa de câmbio atual e as exigências do Programa Inovar-Auto, impactam favoravelmente nas vendas de importados no país. Tabela 4 Indicadores de Vendas Automotivas Brasil – 2015-2016 (acumulado de janeiro a agosto) Fonte: ANFAVEA Elaboração Subseção do DIEESE 12 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ A produção de autoveículos (carros, comerciais leves, caminhões e ônibus) no Brasil despencou 20,1% no acumulado do ano (janeiro a agosto) em comparação ao mesmo período do ano passado. No início do ano, a previsão da ANFAVEA era de crescimento de 0,5% em 2016. Com o desempenho atual, a previsão foi reajustada para uma redução de 5,5%. Já as exportações, beneficiadas pela taxa de câmbio, demonstram o segundo indicador com resultado favorável. Entre janeiro e agosto, o Brasil vendeu para o exterior cerca de 312,4 mil unidades de veículos, alta de 19,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2015, a participação das exportações sobre a produção foi de 17,2%. Com o crescimento das exportações em 2016 e a redução das vendas no mercado interno, essa participação passou para 22,6%. Tabela 5 Produção e Exportações de Autoveículos Brasil – 2015-2016 (acumulado de janeiro a agosto) Fonte: ANFAVEA Elaboração Subseção DIEESE / Metalúrgicos ABC 2.9 Perspectivas para o Setor Automotivo A ANFAVEA avalia que, a partir do início do próximo ano, a indústria automobilística deve iniciar seu processo de retomada. Mas as previsões para 2016 ainda são negativas, com redução em todos os segmentos, exceção para as exportações que, 13 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ seguindo sua previsão, deve chegar a 507 mil unidades no ano, com crescimento de 21,5%. Do ponto de vista da produção nacional e do emprego, a diminuição das importações é igualmente percebida como indicador positivo. Por outro lado, a produção e os licenciamentos totais devem se reduzir em 5,5% e 19,0%, respectivamente. Quadro 1 Realizado e previsões de Produção, Vendas e Exportações, segundo a ANFAVEA Brasil – 2015-2016 Fonte: ANFAVEA 3 Mercado de Trabalho A trajetória de crescimento da economia brasileira dos últimos 20 anos foi duramente interrompida em 2014 e levou o país a uma recessão econômica das mais intensas da sua história. Este cenário de crise econômica, política e social atinge diretamente aos trabalhadores que sofrem com os ataques do patronato e segmentos do governo que operam para flexibilizar direitos. O rompimento da crise econômica se dá através do crescimento da produção, do emprego e da renda dos trabalhadores. Mas todas as medidas anunciadas pela equipe econômica do governo no período recente (terceirização - PL 4330, elevação do limite da 14 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ jornada diária para 12 horas, negociado sobre legislado, aumento do tempo de contribuição à Previdência, entre outras) vão na contramão da geração do emprego de qualidade, formal, com benefícios sociais e precarizam as condições de trabalho e renda. Os trabalhadores com carteira assinada no país foram estimados em 47,412 milhões de pessoas em julho de 2016, saldo negativo de 91,6 mil postos de trabalho no referido mês. Com esse resultado, já somam 16 meses seguidos em que as demissões superam as contratações. O último saldo positivo registrado havia ocorrido em março de 2015, quando as contratações superaram as demissões em 36 mil empregos. Os resultados demonstrados são do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE e foram extraídos dos registros da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED. Eles consideram informações encaminhadas pelas empresas ao MTE dentro e fora dos prazos. Gráfico 3 Evolução e Saldo do Emprego Formal Brasil – 2015-2016 (milhões) Fonte: MTE. Elaboração: Subseção DIEESE / SMABC. (*) Estimativa até julho/2016 Elaboração: Subseção do DIEESE/SMABC 15 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ Entre julho de 2015 e julho de 2016, foram fechados 1,706 milhão de postos de trabalho. Todos os segmentos apresentaram redução das ocupações. A indústria de transformação foi o segmento mais afetado, com o fechamento de 539,3 mil postos de trabalho, seguido pelo setor de serviços, com a eliminação de 438,3 mil, a construção civil, com 410,6 mil, o comércio, com 279,4 mil. Outros segmentos fecharam 38,9 mil postos de trabalho. Gráfico 4 Saldo do Emprego com Carteira, por Setores de Atividade Econômica Brasil - Julho/2015 a Julho/2016 (mil) Fonte: MTE. Elaboração: Subseção DIEESE / SMABC. (*) Estimativa até julho/2016 E o aumento do desemprego vem acompanhado pelo aumento da informalidade. Quando o trabalhador perde o emprego, umas das alternativas é recorrer à contratação informal. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), o volume de trabalhadores na informalidade chegou a 10,160 milhões no último período, ou seja, de maio a julho, com crescimento de 5% em relação ao início do ano. 16 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ 4 Perspectivas Gerais Diante de uma crise de grandes proporções, como a atual, o que mais se espera é a chegada do ponto de inflexão da economia, momento onde os indicadores param de cair e inicia-se o processo de estabilidade, para somente então partir para a retomada da economia. Os grandes números da economia permanecem acumulando resultados negativos na comparação anual. No entanto, alguns indicadores de referência têm apresentado avanços na relação mensal. Este é o caso, por exemplo, do setor de bens de capital citado no contexto deste estudo, que contabiliza seis meses consecutivos de crescimento. Outro dado relevante na apuração do clima econômico é o desempenho das vendas no varejo, uma vez que apura as vendas diretas aos consumidores finais. Em julho, as vendas no comércio varejista4 apresentaram redução de 0,3% no volume de vendas, após alta de 0,3% em junho. Já o comércio varejista ampliado5 apresentou variação negativa de 0,5% sobre o mês anterior, na série com ajuste para o volume de vendas. No acumulado do ano (janeiro a agosto), as vendas no comércio varejista apresentaram variação negativa de 6,7% e o comércio varejista ampliado redução de 9,4%. Ainda nessa perspectiva, vale observar o desempenho da expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulados, divulgados pela Associação Brasileira de Papelão Ondulados - ABPO. A indústria e o comércio são os principais consumidores 4 Comércio varejista: Combustíveis e lubrificantes; hipermercados e supermercados; produtos alimentícios; bebidas e fumo; tecidos, vestuário e calçados; móveis e eletrodomésticos; artigos farmacêuticos, médicos e ortopédicos; perfumaria; livros, jornais, revistas e papelaria, equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação e outros artigos de uso pessoal e doméstico. 5 Comércio varejista ampliado: veículos, motos, parte, peças e material de construção. 17 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ destes produtos, assim sendo, o crescimento deste segmento é um bom indicador para avaliar a conjuntura. Em agosto, a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulados somaram 287,2 mil toneladas, evidenciando crescimento de 3,1% em relação ao mês imediatamente anterior. Este já é o terceiro mês consecutivo de crescimento, contudo, no acumulado do ano, registra redução de 1,4% sobre o mesmo período de 2015. Os dados do setor mostram desaceleração da queda. Se mantiver esse ritmo, nos próximos meses poderá haver uma inversão do saldo acumulado. 18 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ 5 Considerações finais É prematuro afirmar que o Brasil está no ponto de inflexão da economia, no entanto, de uma forma geral, pode-se sugerir que o país está diante de um processo de desaceleração no ritmo de desaquecimento econômico. O cenário de instabilidade política, responsável por parte significativa da recessão atual está longe de ter um desfecho, o que impede qualquer previsão mais assertiva sobre os rumos da economia. Como se pôde observar, os últimos meses acentuaram um conjunto de indicadores com variações positivas nas comparações mensais. Ainda assim, quando comparado ao mesmo período de 2015, que se colocou como uma base fraca (vide a queda do PIB de 3,8%), esses indicadores permanecem negativos. A crise no Brasil não se limita a indicadores ruins resultantes da crise econômica interna ou das conjecturas internacionais. O país passa por uma crise institucional de ataque à democracia, de descrédito dos agentes econômicos e sociais dos três poderes (legislativo, executivo e judiciário), dificultando demasiadamente o processo de retomada. 19 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________ FICHA BIBLIOGRÁFICA Título: Boletim de Conjuntura Econômica – Crise Econômica no Brasil Autoria: Subseção DIEESE / Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Equipe técnica responsável: Zeíra Mara Camargo de Santana, Warley Batista Soares, Silvana Martins de Miranda, José Luiz Lei e Douglas Meira Ferreira Foto/Capa: Edu Guimarães Resumo: Os macros indicadores econômicos do Brasil e a possibilidade de inflexão da economia Palavras-chave: conjuntura, economia, perspectivas, retomada da economia Diretório: M:\Conjuntura – Boletim de Conjuntura Econômica Outubro/2016 20 Boletim de Conjuntura – Crise Econômica no Brasil | Subseção do DIEESE/SMABC __________________________________________________________________