prevenção do câncer de colo uterino e a ampliação da faixa etária

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ISSN: 1981-8963
DOI: 10.5205/reuol.5876-50610-1-SM.0806201405
Silva BL da, Santos RNLC dos, Ribeiro FF et al.
Prevenção do câncer de colo uterino e a ampliação…
ARTIGO ORIGINAL
PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO UTERINO E A AMPLIAÇÃO DA FAIXA
ETÁRIA DE RISCO
PREVENTION OF CERVICAL CANCER AND THE EXPANSION OF THE RISK AGE
PREVENCIÓN DEL CÁNCER DEL CUELLO UTERINO Y LA EXPANSIÓN DE LA EDAD DE RIESGO
Bruna Lopes da Silva1, Renata Newman Leite Cardoso dos Santos2, Frederico Fávaro Ribeiro3, Ulisses Umbelino
dos Anjos4, Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro5
RESUMO
Objetivo: verificar a cobertura do exame preventivo de câncer do colo de útero e a necessidade de ampliar a
faixa etária preconizada para prevenção. Método: estudo exploratório, documental, com abordagem
quantitativa, realizado nas USFs de João Pessoa/PB, com análise no software R, de 1387 registros de exames
citológicos. O projeto de pesquisa teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE nº
0568.0.126.000.10. Resultados: a cobertura do Papanicolau foi de 26,59%. A Candida sp foi mais prevalente
nas mulheres <25 anos, já Gardnerella vaginalis, Trichomonas vaginalis e HPV a ocorrência foi semelhante nas
mulheres <25 e de 25-59 anos. Conclusão: a cobertura do Papanicolau foi inferior ao preconizado e as ações
preventivas não atenderam as necessidades locais, pois os dois grupos apresentaram-se igualmente
vulneráveis ao câncer de colo de útero, denotando a necessidade de ampliar a faixa etária preconizada.
Descritores: Prevenção de Câncer de Colo Uterino; Esfregaço Vaginal; Saúde da Mulher.
ABSTRACT
Objective: verifying the coverage of Pap of cervical cancer and the need to expand the age range
recommended for prevention. Method: an exploratory, documentary study with a quantitative approach,
performed in FHUs of João Pessoa/Paraíba, with analysis in R software, of 1387 records of Pap tests. The
research project was approved by the Research Ethics Committee, CAAE No 0568.0.126.000.10. Results: Pap
coverage was of 26,59%. Candida sp was more prevalent in women < 25 years old, has Gardnerella vaginalis,
Trichomonas vaginalis and HPV occurrence was similar in women < 25 and 25-59 years old. Conclusion: Pap
coverage was lower than that recommended preventive actions and did not meet local needs, since the two
groups were equally vulnerable to cervical cancer, indicating the need to expand the recommended age
range. Descriptors: Prevention of Cervical Cancer; Vaginal Swab; Women's Health.
RESUMEN
Objetivo: verificar la cobertura de Papanicolaou de cáncer de cuello uterino y la necesidad de ampliar el
rango de edad recomendado para la prevención. Método: estudio exploratorio, documental con un enfoque
cuantitativo, realizado en USFs de João Pessoa/Paraíba, con el análisis en el software R, de 1387 registros de
las pruebas de Papanicolaou. El proyecto de investigación fue aprobado por el Comité de Ética de la
Investigación, CAAE No 0568.0.126.000.10. Resultados: la cobertura de Papanicolau fue de 26,59%. Candida
sp fue más frecuente en las mujeres < 25 años, ya Gardnerella vaginalis, Trichomonas vaginalis y la aparición
del VPH fue similar en mujeres < 25 y 25-59 años. Conclusión: la cobertura de Papanicolau fue inferior que el
recomendado y las acciones preventivas no hán satisfecto a las necesidades locales, ya que los dos grupos
eran igualmente vulnerables al cáncer de cuello uterino, lo que indica la necesidad de ampliar el rango de
edad recomendado. Descriptores: Prevención de Cáncer de Cuello Uterino; Torunda Vaginal; Salud de la
Mujer.
1
Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão e Saúde – Mestrado, Universidade Federal da
Paraíba/PPGMDS/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Fisioterapeuta, Mestranda, Programa de PósGraduação em Modelos de Decisão e Saúde – Mestrado, Universidade Federal da Paraíba/PPGMDS/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. Email:[email protected]; 3Biólogo, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão e Saúde – Mestrado,
Universidade Federal da Paraíba/PPGMDS/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Estatístico, Professor
Doutor em Estatística, Departamento de Estatística, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail:
[email protected]; 5Fisioterapeuta, Professora Doutora em Educação, Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da
Paraíba/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]
Português/Inglês
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Silva BL da, Santos RNLC dos, Ribeiro FF et al.
INTRODUÇÃO
O câncer de colo de útero é o único tipo de
câncer que possui tecnologia capaz de realizar
a detecção precoce, a qual associada ao
conhecimento sobre os fatores de risco, os
meios tecnológicos mais avançados para
diagnóstico como o histopatológico e
colposcopia e recursos humanos qualificados,
deveriam ser suficientes para o controle desta
patologia. Entretanto, tal conhecimento não
esta surtindo o efeito esperado, pois o mesmo
ainda se configura como um problema de
Saúde Mundial.1-3
O câncer de colo de útero foi o terceiro
câncer mais comum e a quarta causa de morte
em todo o mundo, perdendo apenas para o
câncer de mama, pulmão e colón retal.
Estima-se que ocorram no mundo cerca de 529
512 diagnósticos de câncer de colo de útero o
que corresponde a uma taxa de incidência de
15,4 casos por 100 000 habitantes e cerca de
274 967 mortes por câncer de colo de útero,
ou seja, 7,8 óbitos por 100 000 habitantes.
Entretanto a maioria dos casos diagnosticados
é referente a países pobres (85%), bem como
as mortes (90%), os quais apresentam
problemas para implantar o rastreamento do
câncer de colo de útero de forma adequada e
efetiva.4-6 Essa situação de acometimento
desigual e maior do câncer de colo de útero,
nós países em desenvolvimento decorre da
carência medicamentosa e da falta da triagem
como meio preventivo e de diagnostico
precoce6.
O Brasil mesmo sendo um país em
desenvolvimento,
realiza
a
triagem,
desenvolve ações de prevenção do câncer de
colo de útero que são promovidas pelo
Ministério da Saúde e estão em consonância
com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
as quais têm o objetivo de cobrir a população
de risco ao desenvolvimento do câncer de colo
de útero, com a realização do citológico e
cobrir cerca de 80% das mulheres na faixa
etária de risco (25 a 59 anos) para o
desenvolvimento do câncer. O cumprimento
desse objetivo proporcionaria a detecção
precoce, o que elevaria a chance de cura para
100%, nos casos que foram detectados em
estágio inicial do desenvolvimento.2
O que se verifica no Brasil é o câncer de
colo uterino sendo o segundo tipo mais
incidente nas mulheres, com 17.540 novos
casos em 2012 e incidência de 17,49 casos por
100 mil habitantes. Destacando-se assim a
necessidade de pesquisas para direcionar
melhor a atenção em saúde, no controle e
prevenção do mesmo7, pois o problema não
está relacionada a falta de triagem como as
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pesquisas internacionais vêm a demonstrar,
mas possivelmente em como essa triagem está
ocorrendo, sendo assim necessário investigar e
refletir sobre a prevenção do câncer de colo
de útero no Brasil.
O direcionamento da atenção em saúde no
combate ao câncer de colo de útero necessita
de conhecimento científico quanto as
características do público que se deseja
envolver, para assim identificar os possíveis
problemas que podem estar interferindo na
eficiência e eficácia das ações. Sendo assim
importante o desenvolvimento de pesquisas
em loco, nos serviços de saúde, que possam
refletir a realidade da população, a qual é
responsável e subsidiar na melhor aplicação e
adequação do Programa de Prevenção do
Câncer de Colo de Útero.8
A determinação da faixa etária para a
realização das ações de promoção, prevenção
e detecção precoce deste câncer é de suma
importância para não deixar mulheres com
potencial risco, descobertas pelas ações de
saúde. É certo que a faixa etária de incidência
do câncer de colo de útero é de 35 a 59 anos6,
entretanto se o objetivo é prevenir e detectar
precocemente, essa mulher deve ser
envolvida nas ações antes dos 35 anos.
O Ministério da Saúde preconiza como faixa
etária de risco para o desenvolvimento deste
câncer as mulheres entre 25 e 59 anos, pois é
o momento em que normalmente tem início a
atividade sexual, em que há maior incidência
das lesões de alto grau (30 e 39 anos), uma
vez que as mulheres mais jovens tendem a
apresentar infecções por Papilomavírus
Humano (HPV) e lesões de baixo grau, que
regridem espontaneamente.1-2 Entretanto,
estudos já mostram a necessidade de
ampliação dessa faixa etária, ao passo que se
verificou uma tendência à antecipação do
início da atividade sexual9 e também maior
incidência do HPV9-10 nas adolescentes, além
do fato que a evolução para câncer de colo de
útero é lenta e pode levar cerca de 30 anos e
mesmo assim mulheres menores de 25 anos
apresentam o diagnostico de câncer de colo
de útero. 4,8
Uma pesquisa realizada com adolescentes
do sexo feminino mostrou a atividade sexual
iniciando-se em media aos 14,8 anos.11 Outro
estudo12 identificou 13,9% das mulheres
iniciando sua atividade sexual aos 14 anos ou
menos; 37,2% com 15 a 17 anos; 18,5% com 18
a 20 anos; e apenas 10% acima dos 21 anos.
Destacou-se no estudo que 27,6% das
adolescentes com vida sexual ativa relataram
Infecção
Sexualmente Transmissível (IST)
prévia, sendo mencionada infecções vaginais
por Candida sp ou Tricomonas sp em 20,7%,
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Silva BL da, Santos RNLC dos, Ribeiro FF et al.
infecções uretrais em 4,6%, HPV em 2,3% e
infecção por herpes vírus humano em 1,2%.
Observou-se que as adolescentes que já
tiveram DST não possuíam conhecimento
sobre o câncer de colo de útero, o
Papanicolau e o HPV, o qual é o principal fator
de risco para o desenvolvimento do câncer.11
Na capital da Paraíba, João Pessoa/PB, no
anos de 2000 a 2009, 3,31% das mulheres que
foram a óbito em decorrência do câncer de
colo de útero, eram menores de 30 anos, o
que chama a atenção, pois esta neoplasia é de
evolução lenta, podendo deduzir que muitas
dessas mulheres adquiriram a alteração
celular ainda na adolescência.13 Essa
informação corrobora com uma pesquisa
realizada em Rio Branco/AC, que trouxe a
variável idade como um dos fatores que
estava associado a não realização do
preventivo. Mulheres com idade inferior a 25
anos e acima de 59 anos não possuíam
disponibilidade igualitária do citológico, como
a faixa etária que era preconizada.14
Em um estudo caso-controle realizado no
Reino Unido, objetivando avaliar a efetividade
do rastreio cervical em mulheres, em função
da
idade,
não
encontrou
evidências
suficientes para afirmar que o exame
preventivo realizado em mulheres menores de
25 anos, reduziu a incidência de câncer de
colo de útero dos 25-29 anos.15 Entretanto,
pode-se ressaltar que para o desenvolvimento
do câncer após a exposição de agentes précancerigenos leva vários anos, não sendo,
portanto, possível evidenciar a diminuição na
incidência desta doença antes da 3° década
de vida, a ampliação da faixa etária de risco
não vai demonstrar de imediato o seu impacto
na prevenção do câncer de colo de útero, pois
a visualização do seu efeito ocorrerá na faixa
de incidência do câncer, sendo assim
importante
a
sua
realização
e
acompanhamento para visualizar a sua
eficácia.
Tais informações preocupam e propõe uma
reflexão, pois apesar do parâmetro etário
definido pelo Ministério da Saúde se basear na
concepção de que na mulher menor de 25
anos as alterações verificadas não são
preocupantes
e
costumam
regredir
espontaneamente, está a trata-se de um
público com imaturidade dos tecidos genitais,
o qual é um dos fatores predisponente para o
HPV e, consequentemente, para o câncer de
colo uterino.12 Outro fato foi encontrado por
um
estudo
de
coorte
retrospectivo,
desenvolvido na Nova Zelândia, com 1063
registros de mulheres diagnosticadas com
NIC3, o qual tem o HPV como principal
preditor. Estas mulheres apresentaram
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Prevenção do câncer de colo uterino e a ampliação…
incidência de 31,3% de câncer de colo de
útero, 30 anos após o diagnóstico do NIC3,
contra 0,7% de risco de câncer nas mulheres
que iniciaram o tratamento no momento de
diagnóstico do NIC3 ou HPV.16
Além da imaturidade do tecido e a
presença do HPV nas mulheres menores de 25
anos,
verifica-se
ainda
situações
de
vulnerabilidade como o acometimento de
infecções que proporcionam alterações
celulares e no ph vaginal, tais como as
vulvovaginites, as vaginoses bacterianas e as
DST, as quais aumentam as chances de
ocorrência do HPV. Sendo válido resaltar que
a presença das DST’s aumenta em cinco vezes
a chance de ocorrência do câncer de colo de
útero. Tais condições parecem andar junto
com as mulheres mais jovens, e assim tendem
a fazer delas um público de risco.14,17
Ao corroborar com as informações sobre a
prevenção e detecção precoce do câncer de
colo de útero que nos propusemos a avaliar a
prevenção realizada em uma Unidade
Integrada de Saúde da Família, na cidade de
João Pessoa, no período de junho de 2009 a
julho de 2010. Esta pesquisa é uma estratégia
para averiguar se as ações preconizadas pelo
Ministério da Saúde estão corroborando com a
realidade local, uma vez que, as estratégias
nacionais e internacionais para controle de
agravos devem ser trabalhadas de acordo com
à realidade dos estados, municípios e
localidades, sendo assim passiveis de
alteração mediante a necessidade do seu
público alvo e o alcance dos objetivos.2,8
Questão essa que é ressaltada em pesquisa
realizada no Ceará/Mirim RN que expõe a
necessidade de os profissionais e gestores
estarem atentos ao acesso da população ao
serviço, e determinar se o envolvimento de
menores de 25 é necessário ou não de acordo
com a realidade local é um dos pontos
importantes18.
Avaliar isoladamente a Unidade Integrada
de Saúde responsável por um determinado
bairro, em uma região desfavorecida
socioeconomicamente, é útil para verificar se
a ação de controle do câncer de colo de útero
está sendo adequado à necessidade da
população. Sendo assim verificou-se a
cobertura do exame preventivo de câncer do
colo de útero, de acordo com a faixa etária
preconizada pelo Ministério da Saúde e
avaliou-se a necessidade de ampliar a faixa
etária preconizada para prevenção, através da
identificação da ocorrência de afecções
ginecológicas que proporcionam um meio
adequado ao desenvolvimento do câncer na
faixa etária de risco e nas mulheres menores
de 25 anos.
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Este estudo analisou a necessidade de
ampliação da faixa etária para a prevenção do
câncer de colo de útero de forma inovadora,
uma vez que os demais estudos na área
analisam a necessidade de ampliação, pleo
acometimento do HPV, do início da atividade
sexual, mas não identificaram se ambos os
grupos (menores de 25 anos e de 25 a 59 anos)
são
igualmente
vulneráveis
ao
desenvolvimento do câncer de colo de útero.
OBJETIVO
● Verificar a cobertura do exame
preventivo de câncer do colo de útero e a
necessidade de ampliar a faixa etária
preconizada para prevenção
MÉTÓDO
Este estudo transversal, exploratório e
documental, com abordagem quantitativa. O
local de realização foi uma Unidade Integrada
de Saúde da Família de um distrito sanitário
do município de João Pessoa/PB.
Trabalhou-se com dados secundários, sendo
as informações coletadas do livro de registro
dos resultados de exames citológicos, da
unidade de saúde referida, no período de
junho de 2009 à julho de 2010. Inicialmente a
amostra foi composta por 1427 registros de
exames preventivos, entretanto, foram
excluídos, 34 registros por apresentarem faixa
etária maior (>59 anos) que o objetivo do
estudo e seis, por ausência do registro da
idade da paciente, totalizando 1387 registros
analisados.
A coleta de dados foi realizada em
dezembro de 2010, sendo retiradas as
informações referentes à idade; presença da
Candida
sp.,
Gardnerella
vaginalis,
Ttrichomonas varginalis e HPV. Inicialmente,
os dados foram digitalizados e categorizados
em planilha do Excell versão 2007 e
posteriormente, foram transportados para o
software estatístico R versão 2.15.1.
A categorização dos dados foi realizada em
todas as variáveis do estudo. Na variável faixa
etária, atribuiu-se 1 as mulheres menores de
25 anos e 2 as inseridas na faixa de 25 a 59
anos de idade;
na variável presença de
microrganismo o 0 foi atribuído as mulheres
que não apresentaram afecção e o 1 àquelas
onde verificou-se a presença do agente
fúngico, bacteriano, protozoário e/ou viral,
sendo
avaliado
para
cada
afecção
individualmente.
A fim de verificar associação entre as
variáveis categóricas, utilizou-se um método
de tomada de decisão estatística baseado em
teste de hipótese, o qual é capaz de rejeitar
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Prevenção do câncer de colo uterino e a ampliação…
ou não uma determinada pressuposição acerca
de um problema relacionado à certa
população.19 Para averiguar se a faixa etária
menor de 25 anos e entre 25 e 59 anos
apresentam proporções iguais ou diferentes
quanto a presença de afecções ginecológicas
foi utilizado o teste do qui-quadrado, sendo
considerada significante quando p < 0,05.
Em todas as etapas do estudo foram
respeitados os aspectos éticos relativos à
pesquisa com sujeitos humanos, conforme a
Resolução Nº. 196/96, sendo a pesquisa
submetida e aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal da
Paraíba (processo:735/10).
RESULTADOS
A área de abrangência da Unidade
Integrada de Saúde tem uma população
feminina de 3876 mulheres, na faixa etária de
25 a 59 anos, as quais devem ser acobertadas
pelas ações de saúde, pois se trata de uma
faixa de risco para o desenvolvimento do
câncer de colo de útero.
Mediante a análise do livro de registro dos
exames citológicos, no período de junho de
2009 a julho de 2010, pudemos constatar que
foram realizados 1427 exames preventivos,
dos quais 1031 foram realizados em mulheres
na faixa etária de 25 a 59 anos; 356 em
menores de 25 anos; 34 em maiores de 59
anos e seis exames citológicos não
apresentavam o registro da idade. Os
citológicos de mulheres que não continham a
idade foram excluídos, como também os
registros de maiores de 59 anos devido ao
pequeno número de observações, resultando
em uma amostra de 1387 registros.
No período do estudo a cobertura do
Papanicolau foi de 26,59% deixando a desejar,
uma vez que é preconizada a cobertura de
80% da população de risco ao desenvolvimento
do câncer de colo de útero. Quanto as faixas
etárias analisadas, 74,33% da amostra
correspondeu a faixa etária de 25 a 59 anos,
enquanto que 25,67% a faixa etária menor que
25 anos.
Uma
característica
avaliada
foi
a
presença/ausência
dos
agentes
microbiológicos, identificados pelo citológico,
sendo verificado a presença de sete diferentes
microrganismos. Destes, Lactobacilos, cocos e
bacilos foram os mais prevalentes, entretanto
sem significado epidemiológico com relação a
prevenção do câncer de colo uterino.
Quanto
aos
microrganismos
com
repercussão para o desenvolvimento do câncer
de colo de útero foram identificados
vulvovaginites, vaginose bacteriana e DST’s,
sendo a Candida sp a mais prevalente, seguida
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Prevenção do câncer de colo uterino e a ampliação…
pela Gardinerella vaginalis, como pode-se
observar na Tabela 1.
Tabela 1. Distribuição do resultado do
exame do citológico em mulheres até 59
anos,
segundo
a
microbiologia
identificada (N= 1387), João Pessoa - PB.
Resultado Microbiológico
N
%
Lactobacilos
468 33,74
Cocos
397 28,62
Bacilos
304 21,91
Candida sp
260 18,74
Gardinerella vaginalis
72
5,21
Trichomonas vaginalis
31
2,23
HPV
4
0,23
É importante salientar que as mulheres
normalmente apresentavam uma associação
microbiana nos resultados microbiológicos,
logo um caso de Lactobacillus sp, por
exemplo, pode estar associado a qualquer
outro caso microbiológico identificado ou a
mais de um deles.
Com o proposito de verificar a necessidade
de aumentar a faixa etária preconizada para
prevenção do câncer de colo uterino, avaliouse a associação entre as faixas etárias e
presença/ausência dos microrganismos com
significado
epidemiológico
para
o
desenvolvimento do câncer de colo de útero.
Por meio do teste Qui-quadrado avaliou-se se
a presenças/ausência da Candida sp,
Gardnerella vaginalis, Trichomonas vaginalis e
HPV eram iguais ou diferentes na faixa etária
menor de 25 anos e de 25 a 59 anos.
Com a realização do teste para a
presença/ausência de Candida sp, verificou-se
que a faixa etária menor de 25 anos foi a mais
acometida,
sendo
essa
diferença
estatisticamente significativa (p < 0,05),
indicando que as mulheres menores de 25
anos são mais acometidas por Candida sp que
as mulheres na faixa etária de risco.
Quanto a Gardnerella vaginalis verificou-se
também que as mulheres menores de 25 anos
foram mais acometidas, entretanto essa
diferença não foi significativa (p> 0,05). Já a
Trichomonas vaginalis foi mais prevalente na
faixa etária preconizada para prevenção,
todavia sem significância estatística (p> 0,05),
e o HPV, por sua vez, apresentou maior
proporção na faixa etária menor que 25 anos,
mas sem relevância estatística (p> 0,05),
como evidenciado na Tabela 2.
Tabela 2. Percentual diagnóstico do exame do Papanicolau em mulheres por faixa etária (N =
1387), João Pessoa - PB.
Diagnóstico
Menores de 25 anos (%)
Entre 25 e 59 anos (%)
X2
P-valor
Candida sp
Gardinerella vaginalis
Trichomonas vaginalis
HPV
23,03
5,8
1,4
0,5
17,26
4,9
2,5
0,1
5.4094
0.3132
1.0438
0.2944
0,02*
0,57
0,3
0,58
Teste do Qui-quadrado: *P<0,05.
É importante ressaltar que, não identificar
um p-valor significativo para a diferença de
proporções entre as faixas etárias (menor que
25 anos e de 25 a 59 anos), relacionado a
presença
de
Gardnerella
vaginalis,
Trichomonas vaginalis e HPV, indica que o
acometimento dessas faixas etárias é
semelhante. Entende-se então que a faixa
etária menor de 25 anos apresenta o mesmo
grau de risco para o desenvolvimento do
câncer de colo de útero que a faixa etária
preconizada para a prevenção.
DISCUSSÃO
A cobertura do Papanicolau no período de
estudo foi inferior ao que é preconizado o que
interfere significantemente na assistência ao
combate do câncer de colo de útero, pois por
mais que, a maioria dos exames realizados
esteja na faixa etária preconizada, a
cobertura obtida pela unidade está aquém do
esperado, porém a cobertura identificada
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ainda foi superior às relatadas em pesquisas
no Ceará e Igatú, onde respectivamente
verificou-se uma cobertura de 11,22% e 14,9%
da população de 25 a 59 anos. A cobertura de
80% da população alvo não é fácil, mas
necessita que, independente dos problemas
identificados, as ações preventivas venham a
ocorrer, buscando essa meta quantitativa,
associada a ações de qualidade.20-1
Uma característica que comumente tem
proporcionado a realização do citológico na
unidade em questão é o diagnostico anterior
da presença de vulvovaginites e/ou vaginoses
bacterianas ou a verificação de seus sinais
clínicos o que como consequência proporciona
a busca pela realização do citológico. Logo as
mulheres têm buscado a prevenção do câncer
de colo de útero, não com o intuito de
preveni-lo,
mas
de
tratar
afecções
ginecológicas
e
paralelamente
acabam
realizando o preventivo.
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Conclusões
semelhantes
foram
22
identificadas em outra pesquisa , que
verificou, nas narrativas das entrevistadas,
que a mulher procura assistência médica ao
identificar problemas em si, e entende que o
câncer de colo de útero como algo temível e
ameaçador, do qual pode ser vitimada. Em
outro estudo23, foi obtida a mesma
constatação, em sua pesquisa no Sul do Brasil,
onde as mulheres entrevistadas procuraram
cuidados médicos e assistência preventiva, na
tentativa de curar problemas ginecológicos,
porém, uma vez sanado o seu problema, elas
não retornam com o resultado do citológico,
talvez por não compreenderem a importância
do exame preventivo do câncer de colo de
útero,
como
sendo
um
importante
identificador de lesão pré-maligna que precisa
ser resolvida.
É importante mencionar que o exame
citológico tem como objetivo prevenir o
câncer de colo de útero e não identificar
afecções
ginecológicas,
entretanto
a
percepção da mulher com relação a presença
de vulvovaginite e vaginoses bacterianas e a
sua necessidade de tratamento pode não esta
totalmente errada, pois por mais que o exame
não seja realizado com esse propósito, o
mesmo identifica algumas afecções, as quais
proporcionam um ambiente propício ao
desenvolvimento do câncer, logo identificá-las
e tratá-las faz parte da prevenção e é uma
questão importante.
O resultado microbiológico do citológico
também
foi
analisado
por
outros
21
pesquisadores
em
Igarapava,
onde
mostraram a Gardnerella vaginalis com uma
incidência em 34,7% dos exames analisados,
seguidas por Candida sp. com 12,7%, e flora
mista com 10,2%. Já a pesquisa realizada por
Vasconcelos et al.24 em Fortaleza, traz a
colonização cérvico-vaginal, diagnosticada nos
laudos, ocorrendo principalmente por cocos e
bacilos 42,6%, seguida pela Gardnerella
vaginalis 25,3%, Lactobacillus sp. 17,7%,
Candida sp. 10,2% e Trichomonas vaginalis
3,1%. Uma pesquisa anterior à de Vasconcelos,
também realizada em Fortaleza, mostrou o
Lactobacillus sp. presente na maioria dos
laudos microbiológicos (38,2%), seguidos pela
Gardnerella vaginalis (28,3%), cocos e bacilos
(24,8%), Candida sp. (7,7%) e Trichomonas
vaginalis 0,5%.25
Observou-se
que
o
acometimento
microbiológico, nos exames citológicos, está
variando entre os estudos e o que foi
verificado nessa pesquisa. Não se têm, em
nenhum momento, dados semelhantes, pois
cada população é única e apresenta sua
especificidade, que vai incidir diretamente
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Prevenção do câncer de colo uterino e a ampliação…
nos resultados observados, porem é válido
ressaltar que mesmo com as diferenças, os
microrganismos Candida sp., Gardnerella
vaginalis e Trichomonas vaginalis sempre
estão presentes e com altos valores de
acometimento.
Quanto ao HPV que é um dos principais
fatores de risco ao desenvolvimento do
câncer, um estudo realizado em Maceió
mostrou alta taxa de adolescentes infectadas
pelo vírus (27%), assim como elevados
percentuais do HPV de alto risco oncogênico
(28,5%) e ainda que entre as adolescentes
infectadas, as DST´s apresentaram associação
significativa.10´ Sendo assim é importante
refletir se só as mulheres na faixa etária de 25
a 59 anos estão propícias ao desenvolvimento
de tais afecções ginecológicas, as quais, com
a realização de um exame rápido e de baixo
custo, que é o citológico, podem ser
identificadas e tratadas previamente e assim
realizar prevenção dos fatores predisponentes
ao câncer de colo de útero.
Essa reflexão já foi constatada em outros
estudos os quais já remetem a necessidade de
ampliação da faixa etária preconizada para a
prevenção do câncer de colo de útero, pois as
jovens têm iniciado a sua vida sexual mais
cedo, com isso, ocorre o uso do contraceptivo
oral que na maioria dos casos, não segue a
recomendação do profissional da saúde e,
além disso, os métodos contraceptivos, como
os preservativos, passam a não ser usados
pelas jovens o que facilita a aquisição de IST.
Logo, esse grupo acaba exposto a uma gama
de fatores que podem vir a desencadear o
câncer.2,26
Na presente pesquisa, a Candida sp,
acometeu de forma significativa as mulheres
menos de 25 anos em detrimento a faixa
etária de risco, o que caracteriza maior
envolvimento da faixa etária inferior. Uma
questão que deve ficar clara é que por mais
que faça parte da microbiota normal da
mucosa vaginal, quando presente no resultado
microbiológico merece atenção e cuidados,
pois ocasionará um meio propício para o
desenvolvimento da vaginose bactéria, e que
consequentemente proporciona a instalação
de outras infecções, dentre elas, o HPV e
possível desenvolvimento de câncer de colo de
útero, e ainda, de resultados falsos positivos
ou negativos na citologia oncótica, que
interfere significativamente na prevenção.
Está claro que a Candida sp. não é um fator
predisponente ao desenvolvimento do câncer
de colo de útero, entretanto ela situa-se no
início da cadeia de eventos que podem
culminar com a ocorrência de alterações
celulares malignas, sendo assim importante o
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diagnóstico e tratamento adequados e de
forma prévia, dando a importância adequada
a sua constatação no citológico, pois nesse
momento sua concentração passa do normal
para o patológico. Evidenciou-se ainda, um
acometimento equiparado entre as mulheres
menores de 25 anos e na faixa etária de 25 a
59 anos quanto a presença de Gardnerella
vaginalis, Trichomonas vaginallis e HPV.
Indicando que tanto as mulheres na faixa
etária preconizada para a prevenção do
câncer de colo de útero como as mais jovens
são infectadas de forma semelhante por essas
afecções ginecológicas.
A Gardnerella vaginalis é uma das espécies
de bactéria responsável pela instalação da
vaginose bactéria que decorre do desequilíbrio
da flora vaginal, em especial as anaeróbicas.
Logo, em baixas concentrações na microbiota
não causa danos. Porém existem fatores que
podem proporcionar o processo inflamatório,
alterando o equilíbrio biológico, causando o
predomínio dessa bactéria e, assim, a
vaginose bacteriana, como exemplo a
candidíase.2,20
Modificações da microbiota vaginal, que
possibilitam um meio propício para a
instalação da vaginose bactéria, ocorrem com
maior frequência entre as mulheres com
anormalidades citológicas cervicais. Outro
fator importante é a significativa associação
entre o HPV e o meio propício à vaginose, o
que poderia ter papel importante no
desenvolvimento da neoplasia intraepitelial
cervical (NIC). Isso foi constatado durante um
estudo, no qual a Gardnerella vaginalis estava
presente em 66,7% dos laudos com NIC
I/HPV.27
No tocante a Trichomonas vaginalli, é um
protozoário que realiza o parasitismo da
cérvice uterina, vagina e uretra; é o agente
etiológico da tricomoníase, uma DST que tem
um risco de transmissão sexual de 60% a 80%.
Em decorrência disso, sua identificação, em
um exame citológico, requer atenção e como
conduta o tratamento da mulher e também do
seu parceiro sexual.2
Quando presente em um resultado do
citológico requer a realização de um novo
exame preventivo após o tratamento, pois a
tricomoníase vaginal pode gerar um resultado
falso negativo. Além disso, é uma DST e assim
aumenta em cinco vezes a chance de
desenvolver o câncer de colo de útero.2,28
O HPV, por sua vez, esta associado a
presença de alterações celulares em 90% dos
casos, apresenta-se, na maioria das vezes de
forma assintomática
ou como lesões
subclínicas. Em decorrência disso, necessita
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Prevenção do câncer de colo uterino e a ampliação…
de atenção durante o rastreamento por meio
do exame Papanicolau.2
Como foi verificado os três agentes
infecciosos
que
acometem
de
forma
semelhante as mulheres menores de 25 anos e
as entre 25 e 59 anos, são fatores
predisponentes no desenvolvimento do câncer
de colo de útero, logo o desenvolvimento de
ações de prevenção que só envolvem a faixa
etária de 25 a 59 anos deixa a desejar, ao
passo que uma parcela alta das mulheres
vulneráveis ficam desprovidas de assistência,
o que denota uma lacuna nas ações de
prevenção do câncer que iram impactar
negativamente no controle desta patologia
tanto na incidência quanto na mortalidade,
ambas ainda sem controle.
CONCLUSÃO
A cobertura do exame Papanicolau na
Unidade Integrada de Saúde da Família
analisada está aquém do preconizado pelo
Ministério da Saúde, mas foi superior ao
constatado em outros municípios brasileiros.
Têm-se indícios de que a faixa etária
preconizada para a prevenção do câncer de
colo uterino deve ser ampliada e assim passar
a envolver as mulheres menores de 25 anos,
público que de acordo com esta pesquisa
possui
acometimento
dos
fatores
predisponentes e de risco de forma
semelhante a faixa etária alvo.
Logo as mulheres menores de 25 anos estão
tão vulneráveis quanto as de 25 a 59 anos ao
desenvolvimento do câncer de colo de útero,
sendo de suma importância que as ações de
prevenção as alcance e assim possibilite um
real impacto sobre a população alvo, sendo
valido ressalta que as mulheres desta pesquisa
se encontram em uma área geográfica
desfavorecida
economicamente
e
socialmente, característica essa que de
acordo com pesquisa realizada em Natal
também deve ser visualizada pelos gestores e
profissionais da área, no momento de propor a
assistência29.
Este estudo ainda mostrou a necessidade
de padronização dos livros de registro dos
citológicos, como também o cuidado no
registro dos dados, para evitar que
informações relevantes possam ser perdidas e
assim possibilitar uma avaliação mais
profunda da situação.
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Submissão: 20/03/2013
Aceito: 04/04/2014
Publicado: 01/06/2014
Correspondência
Bruna Lopes da Silva
Universidade Federal da Paraíba
Cidade Universitária – Campus I
CEP 58051-900 ― João Pessoa (PB), Brasil
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