sobre o conceito de memória em bertrand russel

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SOBRE O CONCEITO DE MEMÓRIA EM BERTRAND
RUSSEL1
ON THE CONCEPT OF MEMORY IN BERTRAND RUSSEL
Andréa Vermont S. R. da Cunha (Doutoranda –Instituto Packter)
Mariluze Ferreira de Andrade e Silva (Orientadora)
Resumo: A importância da memória para o sujeito cognoscente é
reconhecida ao longo da história do pensamento em geral, sendo
assim, discutiremos de forma aprofundada o conceito de Memória e
suas implicações nos processos mentais, cognitivos e perceptivos no
processo de aquisição de conhecimento, tomando como base a
conceituação de Bertrand Russel.
Palavras chave: Memória. Epistemologia. Percepção. Imaginação.
Consciência.
Abstract: The importance of memory for the knowing subject is
recognized throughout the history of thought in general, so we will
discuss in depth the concept of memory and its implications for
mental processes, cognitive and perceptual in the process of
acquiring knowledge, and based the concept of Bertrand Russell.
Key Words: Memory. Epistemology. Perception. Imagination.
Consciousness
1 Trabalho apresentado como parte da pesquisa do Doutorado em Filosofia da
Mente, pelo Instituto Parkter – Porto Alegre-R.S
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Introdução
N
este
Módulo
de
estudo
objetivamos
desenvolver e aprofundar os conceitos a
respeito de Memória e suas implicações nos
processos mentais, cognitivos e perceptivos no processo de
aquisição de conhecimento.
Estudos de processos de processos mentais básicos
passaram por grandes transformações nas últimas duas
décadas, graças aos avanços da Neurociência e às mudanças
conceituais nos métodos de experimentação. A identificação
de correlatos neurais e a inclusão de dados de primeira pessoa
em experimentos abrem novas perspectivas para a
compreensão dos processos cognitivo-perceptivo, entre eles a
memória.
A importância da memória para o sujeito cognoscente é
reconhecida ao longo da história do pensamento em geral.
Santo Agostinho, por exemplo, chegava a igualar mente e
memória, afirmando que todo funcionamento psicológico
depende da memória. Assim, aquisição de hábitos, a
compreensão do significado das palavras, e o reconhecimento
de si mesmo como uma continuidade no tempo são
capacitações da memória (Agostinho, séc. IV).
De certa forma, a formulação de Agostinho chega a
prognosticar remotamente uma ligação entre os conceitos da
primeira psicologia da memória de Aristóteles, e os modelos
contemporâneos das ciências cognitivas, nos quais a memória
encontra-se distribuída como propriedade do processamento
em praticamente todos os sistemas (Greenberg & Rubin,
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2003).
Usaremos como embasamento teórico para pautarmos
nossas discussões neste módulo, o conceito de Memória em
Bertrand Russel.
O presente estudo recupera formulações de memória
em momentos diferentes da história e da Filosofia, mais
intentará destacar e desenvolver essencialmente dois pólos
do pensamento Russeliano de memória: memória como hábito
e memória como crença, bem como todas as implicações do
uso e assentimento destes dois conceitos.
Nos estudos dos textos Russel e mesmo de suas fontes
de pesquisa, percebe-se que sua grande preocupação ao se
ocupar do tema memória é: a implicação da definição e uso
deste conceito para o conhecimento em geral (epistemologia),
levando-se em consideração que em Russel a memória
pressupõe o conhecimento como um todo, sendo assim
imprescindível para o sujeito cognoscente.
Bertrand Russell fará uma análise das diferenças que
podem ocorrer entre as diversas relações cognitivas (tais como
a atenção, sensação, memória e imaginação), e
uma
explicação de como os dados cognitivos (tais como
percepções
e
conceitos)
tornam-se
elementos
do
conhecimento.
Russell explica como o conhecimento pode envolver a
familiaridade com fatos lógicos ou empíricos, e discute ainda a
diferença entre o conhecimento (como uma dupla relação entre
um sujeito e um objeto) e crença (como uma relação múltipla
entre um sujeito e um complexo de objetos) e ainda explicará a
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diferença entre o conhecimento direto e indireto (ou seja, o
conhecimento por familiaridade e conhecimento por descrição).
E, finalmente, no texto base desta pesquisa o autor
definirá o que, para ele, pode ser conceituado como Memória.
Filosofia e o estudo da memória
Para os filósofos, memória, imaginação e percepção
eram modalidades distintas de conhecimento do mundo. A
distinção entre essas capacidades implicou na análise da
relação entre vivacidade de imagens mnêmicas, sentimentos
de decorrência do tempo, e julgamentos da realidade dos
eventos e da referência deles ao passado.
É em Aristóteles (385-322 a.C.) que encontramos a
primeira reflexão psicológica sistemática sobre a experiência
da memória no tratado Sobre a Alma (trad. 1957),
especificamente no capítulo Sobre Memória e Recordação.
Aristóteles propõe uma distinção entre duas
modalidades de “apresentação”, ou seja, formas de trazer
idéias à capacidade do raciocínio.
A memória é contrastada com a recordação, sendo que
a última é prerrogativa dos seres humanos. Ali se apresenta o
que podemos entender como uma dissociação funcional entre
manifestações da capacidade de lembrar, em duas classes:
memória (mime) e recordação (anamnhseos). A primeira, uma
função da faculdade primária de senso-percepção, constitui um
modo especial de representação após um lapso de tempo
percebido. A segunda consiste na reiteração dos objetos da
memória e é um estado especial da consciência. Nesse
sistema, toda memória implica num tempo decorrido; então,
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somente animais que percebem o tempo têm a faculdade de
lembrar. Tal afirmativa é assim justificada: a lembrança
propriamente dita, para não ser tomada por uma sensação
presente (alucinação), nem ser confundida com o
reaprendizado
de
algo
que
já
se
sabia
(reconhecimento/recognição), implica a consciência de ser o
que realmente é, ou seja, uma memória, no tempo presente,
de algo que foi percebido num tempo passado. “Lembrança,
como nós a concebemos, implica essencialmente em
consciência (p.309).
Com efeito, Aristóteles circunscreveu a experiência à
faculdade da memória, ligada à condição de principal condição
para exercício do raciocínio (Abbagnano, 1971/2000).
No primeiro livro da sua Metafísica, Aristóteles
enunciava uma das mais conhecidas premissas da sua teoria
do conhecimento: a da experiência como condição para o
conhecimento do mundo. Num sistema em que “a ciência e a
arte chegam aos homens através da experiência”, a
especificidade da memória humana acompanha a capacidade
de raciocinar (Spinelli, 1998, p.137). Animais que têm memória
para as sensações que tiveram são mais aptos a aprender;
entre estes, aqueles que têm arte e raciocínio podem produzir
experiência a partir do que ficou na memória.
Hume, no Tratado da Natureza Humana (1740/2000)
também dedicou-se ao problema de como se pode distinguir
memórias de fantasias. A característica que distingue a
memória da imaginação não estaria nas idéias simples nem na
forma como elas se associam para formar idéias complexas. A
imaginação pode representar todos os mesmos objetos que a
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memória nos oferece, e a única característica que as distingue
é o sentimento quanto às idéias que representam. Hume
argumenta que é a vivacidade das imagens que determina se
um evento ou objeto será ou não considerado como passado.
Esse sentimento advém da vivacidade das memórias e
constitui um primeiro ato de julgamento sobre a realidade e
caráter de passado dos eventos a que elas se referem. Assim,
distinguir lembranças de imaginações somente é possível, pois
as primeiras são mais fortes e vívidas.
A grande dificuldade da teoria Humeneana, segundo o
próprio Russel, é que “ a sensação a de que uma imagem se
supõe ser a cópia está no passado, quando a imagem existe,
portanto só pode ser conhecida pela memória, enquanto por
outro lado, a memória das sensações passadas só parece ser
possível por meio de imagens presentes.”
A grande questão é: Como comparar uma imagem
presente com uma sensação passada?
Também o inglês William James (1842-1910) no seu
célebre Princípios de Psicologia, o tratado mais influente da
disciplina durante grande parte do século XX (James,
1890/1990) pesquisou e considerou a memória, através da
distinção da memória primária, de memória propriamente dita,
ou secundária. A primeira diz respeito à percepção de objetos
num passado apenas intuído, ou seja, é a pós-imagem que
caracteriza mais a fisiologia dos órgãos dos sentidos do que
propriamente a recordação de um objeto ausente. A memória
propriamente dita, por outro lado, refere-se a objetos ou
eventos do passado pessoal:
Memória propriamente dita (...) é o conhecimento de um
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estado mental anterior, após ele haver saído da consciência;
ou ainda o conhecimento de um evento ou fato, sobre o qual
entrementes não estivemos pensando, somado à consciência
de que o pensamos ou o experimentamos anteriormente.
(p.424)
A memória propriamente dita de James implica em uma
consciência do passado, e a experiência de recordar consiste
em estar ciente de que o que está ocorrendo é uma reativação
ou recomposição de uma experiência anterior. Os elementos
da manifestação da memória propriamente dita são um
sentimento geral da direção do tempo passado, e um evento
imaginado como contido nesse tempo passado, definido por
um nome ou por seus conteúdos fenomenais, e tido por mim
como parte da minha experiência. Sobre a relação entre
memória e consciência, James ressaltava que a efetiva
consciência que temos dos nossos próprios estados é sempre
“pós-consciência”, mediada pela memória.
Já René Descartes, em sua obra Meditações
Metafísicas, demonstrou sua ‘total descrença’ na memória, que
tem como principal fonte de subsídios os sentidos, sentidos
que para ele não são bons, pois, segundo o pensador, foram
os responsáveis em transferir a ele o que era tido como
verdadeiro e seguro, e o enganaram em determinados
momentos, ele então chega à conclusão de que se estes
sentidos
o
enganaram,
não
são
confiáveis
e
conseqüentemente não são bons.
Descartes diz que:
Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro
e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora,
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experimentei algumas vezes que esses sentidos eram
enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em
quem já nos enganou uma vez (DESCARTES, 1979, p. 86)
Em contrapartida, o filósofo irlandês George Berkeley
(1685 – 1753) tem outra concepção de sentidos que atuam
como co-participes na formação da Memória, estes para ele
são úteis ao conhecimento humano, uma vez que para ele
todos os objetos deste conhecimento são realmente idéias
impressas nos sentidos, em sua obra Tratado sobre os
Princípios do Conhecimento Humano, Berkeley relata o
seguinte:
É evidente a quem tome para examinar os objetos do
conhecimento humano, que eles também podem ser idéias
atualmente impressa através dos sentidos, ou também
semelhante às percebidas por atender as paixões e operações
do espírito, ou finalmente idéias formadas por ajuda da
memória e imaginação, também compondo, dividindo, ou
simplesmente representando aquelas originalmente percebidas
do modo supracitado. Pela vista eu tenho a idéia de luz ou de
cores com seus diversos graus e variações. Pelo tato eu
percebo, por exemplo, duro ou macio, quente ou frio,
movimento e resistência, e de todos estes os de menor ou
maior quantidade ou grau. O olfato fornece-me aromas; o
paladar, sabores, e a audição traz sons para o espírito em toda
sua variedade de tons e composição. E como os diversos
destes são observados na companhia um do outro, eles vem
marcados por um nome, e nesse caso, são renomeados como
uma coisa. Neste caso, por exemplo, certas cores, sabores,
aromas, forma e consistência se observados juntos, são tidos
como para explicar uma coisa distinta, significada pelo nome
maçã.
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Berkeley apresenta na passagem acima, que as idéias
impressas nos sentidos, paixões, operações da mente bem
como as idéias formadas pela memória e imaginação são
todos objetos de conhecimento. Sendo assim, entende-se que
tudo o que é objeto de conhecimento humano é percebido, e
esta percepção é realizada pelos sentidos, tato, olfato, paladar,
audição, visão. Rios, casas, sensações de dor e quimeras,
todos seriam conhecidos ou percebidos pelos homens através
dos sentidos, sendo esta a diferença que queremos mostrar:
para Descartes os sentidos não são confiáveis, enquanto para
Berkeley é o contrário, com todas as implicações referentes à
MEMÓRIA que estes dois postulados inferem.
Memória em Bertrand Russell
Em sua obra clássica “Análise da Mente” (The Analysis
of Mind), Bertrand Russell (1872-1970) ressaltou a influência
generalizada da memória no processo de conhecer o mundo,
considerando que praticamente toda forma de conhecimento
pressupõe alguma modalidade de memória (Russell,
1919/1995).
Russel iniciará suas discussões apartir dos impactos da
memória no conhecimento, sendo que uma questão importante
sobre os limites do conhecimento é: se o conhecimento pode
ser atingido de coisas que estão além da nossa própria
experiência pessoal, o que para ele só ocorre pelo fato de que
podemos relembrar e agrupar vários fragmentos de nossas
experiências pessoais.
Outra
questão
importante
sobre
os
limites
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do
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conhecimento é se a natureza de nossa experiência é mental
ou física, o que em muita remonta as discussões atuais da
Filosofia da Mente (Problema mente-cérebro). De acordo com
Russell, "o monismo materialista" é a teoria de que toda
realidade é física, e que os fenômenos mentais são meramente
rearranjos da matéria física e o "Monismo idealista" é a teoria
de que toda realidade é mental, e que o mundo físico é
produzido pela mente e ainda, "Monismo neutro" onde a
realidade física e mental não são intrinsecamente diferentes, e
que os fenômenos físicos e mentais são meros rearranjos de
uma única substância ou elemento neutro.
Russell encontrará nestas teorias monistas vários
pontos discordantes de seus postulados. Critica "monismo
materialista" por afirmar que toda relação cognitiva é física, e
para a sua afirmação de que não há fatos abstratos ou
subjetividade, critica o "monismo idealista" por sua afirmação
de que não podemos experimentar o mundo físico diretamente,
e que só podemos experimentar o mundo físico por meio de
"idéias”, e finalmente, Russell critica "monismo neutral" para a
sua incapacidade de determinar se a experiência sensorial é
mental ou física, e por sua incapacidade de distinguir o que é
mental do que é físico. Para ele, conhecimento é uma relação
de base cognitiva e aspecto fundamental da experiência
humana, sendo uma relação sujeito-objeto, no qual um objeto
é experimentado (percebido, refletido, lembrado ou imaginado)
por um sujeito.
Russell argumenta que não existem objetos irreais de
conhecimento, fatos ilusórios ou objetos imaginados podem ser
verdadeiros objetos de conhecimento, tanto a imaginação,
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como uma relação de familiaridade, pode ser tão real como
sensação. Sensação é uma relação de familiaridade com um
determinado objeto, e o objeto da sensação são
simultaneamente presentes para o assunto.
Memória, por outro lado, é uma relação em que um
sujeito se lembra de um conhecimento passado com um objeto
específico, onde fica explícito que a sensação e a memória
estabelecem relações temporais entre sujeito e objeto,
enquanto a simultaneidade e a sucessão estabelecer relações
temporais entre um objeto e outro objeto.
Já imaginação é uma relação que, ao contrário da
sensação ou memória, não depende de qualquer relação
temporal entre o sujeito e o objeto.
Por outro lado, Russell enfatiza a necessidade de
distinguir a “memória verdadeira” de outras manifestações
como o hábito.
Definindo, pois que, em Russel MEMÓRIA coincide
com a recordação consciente de eventos únicos do passado,
sendo que essa capacidade implica em dois fatores: a
formação da imagem do evento e uma crença de que a
imagem refere-se a algo que ocorreu no passado. Nesse
sentido, as imagens que constituem a memória verdadeira,
diferem daquelas possíveis pelo simples exercício da
imaginação, justamente por serem acompanhadas do
sentimento de acreditar na existência passada do evento a que
a imagem se refere, traduzida na expressão “isto aconteceu”,
ou “isto existiu”. A crença na existência passada é determinada
não pelo conteúdo da imagem (aquilo que se está lembrando),
mas pelo ato de acreditar em si, que é um sentimento
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específico. Segundo Russell, o conhecimento do passado é
logicamente independente de uma ligação efetiva com o
passado em si, podendo ser analisado em termos de
processos e conteúdos estritamente presentes, no caso a
imagem da memória e a crença ou sentimento de passado.
Resumindo, para Russel a conceituação mais criteriosa
de Memória, que pode ser usada epistemologicamente, sem
prejuízo nenhum ao conhecimento cristaliza-se na pendência
de dois fatores pré-existentes: um objeto de recordação e a
crença na sua existência passada, o que difere em muito de
hábito, o qual pode prescindir de um objeto presente parar se
efetivar.
Conclusão
Concluindo, a grande discussão realizada por Russell a
respeito da memória encontra muita consonância as grandes
discussões atuais da Filosofia da Mente, onde “trava-se”
também, grandes postulados a respeito dos conteúdos
mentais: quais seriam suas bases de captação, qual seria seu
grau de fidelidade em relação à realidade experimentada,
como e quanto da subjetividade interfere na formação e
percepção das experiências (qualia), e daí por diante.
Sendo assim, tornam-se imprescindíveis discussões e
pesquisas como estas, que realizamos através de Russel e
outros autores, de conceitos clássicos da Filosofia, como
memória, percepção, sentidos, conhecimento e outros, para
que a partir destes estudos a Filosofia da Mente se estabeleça
cada vez mais como uma área do saber Filosófico criteriosa,
que não busca respostas exatas que encerram discussões,
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mais que tem como essência primeira a busca por todo
conhecimento que possa enriquecer, ainda mais, os
postulados que se debruçam sobre as pesquisas da Mente e
dos conteúdos mentais, suas interações e influência direta dos
mesmos sobre o bem estar existencial de cada indivíduo.
Portanto, o primeiro passo para “ser filosofia" está na
capacidade de indicação de problemas e dúvidas - e será
também o primeiro passo no critério do estudo filosófico.
Parafraseando Russell, “a filosofia origina-se de uma
tentativa obstinada de atingir o conhecimento, não se
importando em ser fragmentada e provisória, pois a verdade
derradeira e exata pertence somente aos céus, não a este
mundo.”
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