Universidade Federal do Tocantins Campus de Porto Nacional Curso de História HUDSON REZENDE DE ARAUJO O Orgasmo Divino As Práticas Sexuais das Esposas de Amon no Novo Império Porto Nacional Setembro/2013 Universidade Federal do Tocantins Campus de Porto Nacional Curso de História HUDSON REZENDE DE ARAUJO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em História, pelo curso de História da Universidade Federal do Tocantins, sob a orientação da Profª Drª Mírian Aparecida Tesserolli. Porto Nacional Setembro/2013 HUDSON REZENDE DE ARAUJO O Orgasmo Divino As Práticas Sexuais das Esposas de Amon no Novo Império Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em História, pelo curso de História da Universidade Federal do Tocantins, sob a orientação da Profª Drª Mírian Aparecida Tesserolli, com Banca Examinadora constituída pelos seguintes professores: ___________________________________________ Profª Drª Mírian Aparecida Tesserolli Orientadora ____________________________________________ Profª Drª Noeci Carvalho Messias Examinador Externo ____________________________________________ Prof. MSc. Elson Santos Silva Carvalho Examinador Externo Resumo Após a queda dos “Reis-Pastores”, chamados de Hicsos, faraós tebanos deram início a um período da história egípcia marcada por guerras, prosperidade e grande poder exercido tanto pelos faraós, quanto pelo clero do maior deus da mitologia egípcia. Esse período se denominou de Novo Império e essa vitória foi concedida a Amon. Dentro do Grande Templo de Karnak, mulheres da mais alta nobreza, dançavam, cantavam e faziam oferendas para a divindade que criou o mundo por meio de seu orgasmo divino. As Esposas do Deus Amon exerceram poder político e religioso sem procedentes na cultua egípcia, devido sua aproximação com a divindade mais cultuada nesse período. Suas práticas tinham como finalidade satisfazer sexualmente o deus Amon, que criou tudo a partir de sua potência sexual. Esses rituais consistiam em fazer o deus entrar em orgasmos por meio das simbologias eróticas fazendo com que, assim, o grande criador pudesse manter a ordem cósmica. Palavras-chave: Esposas do Deus Amon, Novo Império, Sexualidade no Egito Antigo Abstract After the fall of the "Shepherd-Kings", called the Hyksos pharaohs Thebans began a period of Egyptian history marked by wars, prosperity and great power so exercised by the pharaohs, as the clergy of the greatest god of Egyptian mythology. This period is called the New Kingdom and the victory was awarded to Amon. Inside the Great Temple of Karnak, women of the highest nobility, danced, sang and made offerings to the deity who created the world through his divine orgasm. God's Wife of Amon exercised political and religious power without coming in Egyptian worship, because of its proximity to the deity worshiped over this period. Their practices were intended to sexually satisfy the god Amon, who created everything from your sexual potency. These rituals were to make God come into orgasms through symbologies erotic making thus the great creator could maintain cosmic order. Key words: God's Wife of Amon, New Kingdom, Sexuality in Ancient Egypt O Orgasmo Divino – As Práticas Sexuais das Esposas de Amon no Novo Império Toque o Sistrum <para>... ele Amon-Ra o rei dos deuses. Faça isto para Ele lhe dar vida1 Prefácio O Egito Antigo esteve no imaginário ocidental por séculos, criando lendas, mitos e especulações aos quais alguns historiadores nem ousam comentar em seus textos científicos, no entanto, sua distância no tempo evoca uma força tão magnífica que a sociedade contemporânea não arrisca ignorar. De fato, para o historiador, é difícil escrever uma História tão distante, não só o Egito Antigo, mas toda a História Antiga, que trás o julgo desse nome, se faz pensar que nada é possível aprender com essa cultura. No entanto, Guarinello, sabiamente, alerta que a Antiguidade “não foi um produto de uma única cultura ou de uma única sociedade, mas de uma grande diversidade de culturas e sociedades ao longo de milênios” (2003, p. 57). Essa multiplicidade cultural existente na História Antiga elucida um conhecimento que não se pode ignorar, o estudo da antiguidade é a base para compreender a cultura e a sociedade contemporânea, ela é o baluarte para o conhecimento histórico e a raiz da humanidade. A descoberta da Pedra de Roseta2, em 1802, deu início a uma nova interpretação da mentalidade egípcia, seus textos se abriram como véus e, assim, pode-se compreender a rica sociedade egípcia, sua cultura que já encantava o homem do século XVII, ampliando a nova perspectiva de humanidade e sociedade. Essa cultura verdadeiramente africana, e não se pode jamais esquecer isso, é realmente ímpar até mesmo a seus contemporâneos e dessa forma, deve-se sempre olhá-los como tal: reconhecendo-os como um povo único, como assinala Cuche, “isto quer dizer estudar todas as culturas quaisquer que seja a priori, sem compará-las e ou "medi-las" prematuramente em relação às outras culturas” (2002, p. 241). 1 TEETER, 2009, p. 11 Pedra que continha um decreto do período Ptolomaico escrita em 3 sistemas diferentes, o hieróglifo, o demótico e o grego. 2 1 Ressalta-se que este artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica. Primeiramente, será abordado como era o Egito Antigo, pontuando a geografia, povo, cultura e religiosidade, enfatizando pontos relevantes para o desenvolvimento da pesquisa. Depois, será apontado o recorte cronológico para a narrativa do texto, que é o Império Novo, período que se estende a partir da expulsão dos Hicsos do Egito, por volta de 1550 a.C., com Amósis, primeiro faraó da XVIII Dinastia, e vai até 1070 a.C., com o Ramsés XI, último faraó da XX Dinastia. Contudo, não se pode destacar o Novo Império sem antes mencionar quem são os Hicsos e como eles se estabeleceram no Egito, pois esse povo introduziu na sociedade egípcia conhecimentos e experiências antes não compreendidas pela população local, o que moldou a cultura egípcia do Novo Império tornando-o mais diferente, próspero e, ao mesmo tempo, com pluralidade religiosa e cultural ímpar em comparação a outras épocas egípcias. O Egito Antigo, desde sua origem, se formou sob a característica de uma teocracia, palavra grega que significa que o governo ou política de uma determinada cultura está ligada à sua religiosidade. De fato, não é possível dissociar essas duas características, sendo que a religião e a política se completavam de tal forma que até mesmo o rei egípcio era visto como um deus vivo. A religiosidade egípcia tem suas peculiaridades, que a diferenciava de muitos dos seus contemporâneos. De todos os cultos aos deuses egípcios, o mais bem sucedido foi o culto a Amon, deus do alto e baixo Egito do Novo Império que assimilou a imagem de diversos outros deuses, formando assim, a personalidade de um Deus Universal. Seu clero foi o mais poderoso, seus filhos governaram a terra sagrada do Egito. O faraó, então, passou a ser filho legítimo de um deus e sua mãe, a Divina Esposa de Amon, um conceito que elevou o status de certas mulheres egípcias, dando-lhes poderes sem precedentes na História do Egito faraônico. Por meio da interpretação dos mitos cosmogônicos ao qual Amon é o principal demiurgo, que trouxe a ordem ao universo, criando o Tudo com seu poder sexual, as Divinas Adoradoras encenavam atos sexuais para que esse deus pudesse sentir-se satisfeito, dia após dia, e, assim, manter o equilíbrio, jamais deixando o Egito e o resto do mundo conhecido cair novamente no caos e na desordem. Esse mistério rendeu uma incrível disputa às quais vários protagonistas foram conhecidos por toda a história do Egito, entre elas Hatshepsut que, por ser uma Esposa de Amon e estar o mais próxima do Grande Deus como nenhuma outra pessoa, sentiu-se livre e capaz de assumir o papel do faraó, obliterando a imagem de seu marido e irmão e 2 adquirindo um poder que antes lhe era negado, mas que, com o status de Divina Esposa, ela seria admitida no maior dos tronos. A Terra Sagrada do Egito Antigo Pirâmides, faraós e múmias: talvez sejam as primeiras palavras que vem à mente quando se fala de Egito Antigo. De fato, esta área, que fica no nordeste do grande continente africano, por séculos exerceu grande fascínio na sociedade ocidente, seja pelas construções gigantescas, ou pelo prestígio que essa cultura exerceu durante seu tempo de existência. O Egito, em relação ao seu território atual, pouco lembra o Império que foi na antiguidade, passava por onde atualmente é o Sudão, Eritreia, Etiópia e Somália. Suas fronteiras eram o Mar Mediterrâneo, ao norte; o Deserto da Líbia, ao oeste; o Deserto Oriental Africano, a leste; e a primeira catarata do Nilo no sul. Kemet, que a tradução é Terra Negra (DAVID, 1996, p. 18), como os nativos chamavam seu território, foi considerado o primeiro Império consolidado da humanidade devido sua unificação, por volta de 3.000 a.C., feito pelo primeiro faraó, eternizado na Paleta de Narmer. A partir de então, o Egito se tornou um império unificado. Existem muitas especulações da origem do povo egípcio, no entanto, há a tese de que por volta de cinco mil anos a.C., nômades se estabeleceram nas margens do Rio Nilo e, com o tempo, se organizaram culturalmente. No entanto, diferentes correntes podem variar sobre a origem desse povo nômade. Cheikh Anta Diop, por exemplo, salienta que os egípcios na verdade, advieram da África Negra e, assim, fazem parte de “homens etnicamente homogêneos e negroides” (2010, p. 02). O Egito Faraônico manteve sua unificação por cerca de três milênios, com exceção das fases chamadas Períodos Intermediários, “fases de descentralização, anarquia e domínio estrangeiro”, apesar disso “durante estes longos séculos o Egito constituiu uma mesma entidade política reconhecível” (CARDOSO, 2004, p. 07). Os egípcios apreciavam misturar - sem com os povos vizinhos, pelo contrário, sempre fizeram questão de se manter afastados, demonstrando certa atitude de xenofobia (HEALY, 2000). O que de fato era compreensível, uma vez que, por todos os momentos onde havia um grande número de estrangeiros no território, sempre havia a perda do poder do povo nativo. No entanto, a penetração estrangeira não era totalmente 3 controlada, principalmente no que se refere ao Delta do Nilo, localizado no Baixo Egito (ZAYED, 2010, p. 104). Todavia, todos os faraós tinham como obrigação manter os estrangeiros longe, protegendo o território egípcio. Esse certo “etnocentrismo” egípcio pode ser confirmado no Texto das Pirâmides que descreve que foi o deus Hórus quem definiu os limites: As portas que existem em ti erguem-se para proteger. Não se abrem para os ocidentais, Não se abrem para os Orientais, Não se abrem para os Meridionais, Não se abrem para os Setentrionais![...] Abrem-se para Hórus! Foi ele quem as construiu, Foi ele quem as ergueu, foi ele quem as salvou de todos os ataques de Set contra eles! (DONADONI, 1994, p. 191) Este texto abre outra faceta importante dos egípcios: o de um país extremamente teocrata. A religião talvez seja um dos seus maiores legados, eles a desenvolveram durante toda sua história, permanecendo como uma cultura politeísta. No período denominado Pré-Dinástico3, os egípcios já enterravam seus mortos, mostrando um caráter religioso formado, apesar disto “não há consenso sobre como o conceito de divino surgiu, nem sobre a forma que tomou” (BYRON, 2002, p. 25), isto deve-se ao fato que a escrita no Egito só surgiu por volta de 4.000 a.C., esta escrita denomina-se hieróglifo4, que foi um dos primeiros sistemas de escrita da humanidade. Este sistema foi usado exclusivamente para fins religiosos e se perpetuou por toda a História do Egito faraônico (BUNSON, 2002). Para compreender a cultura egípcia da antiguidade, os egiptólogos se baseiam principalmente em textos funerários, como os Textos das Pirâmides e os Textos dos Sarcófagos, entre outros textos como pergaminhos ou óstracos5 encontrados nas escavações em terras egípcias. No entanto, Araújo nos alerta que No caso de uma língua verdadeiramente 'morta', vale dizer, não mais falada há milênios, e, ainda mais, expressa numa escrita igualmente morta, as dificuldades só tendem a aumentar. Como se não bastasse, os escritos daí advindos exprimem atualmente valores culturais e ideológicos que não correspondem ao cartesianismo do Ocidente 3 O Período Pré-Dinástico ou Período Arcaico, se estende de 4500 a 3000 a.C. que teve seu fim com a unificação do Alto e Baixo Egito. 4 Hieróglifo é uma palavra de origem grega que significa “Escrita Sagrada”. 5 Pedaços de cacos de vasos, vasos inteiros e lascas de calcário com alguma escrita ou desenho. 4 cristão, conformado em grande medida pelo pensamento grecoromano clássico (2000, p. 21). Vale ressaltar que assim como a prática da escrita hieroglífica, a própria língua egípcia também se modificou drasticamente na dominação do cristianismo, por volta do século VIII a.C. Somente no ano de 1822, com a descoberta da Pedra de Roseta, que o francês Champollion conseguiu decifrar a escrita, lançando uma nova era sobre a compreensão do Egito Antigo. A partir desta descoberta, novas teorias e compreensões foram possíveis, como também um novo posicionamento das fontes utilizadas para desvendar os mistérios egípcios. Anteriormente eram usados textos de autores gregos que visitaram o Egito e escreveram sobre ele ainda na antiguidade, como Heródoto ou, também, textos bíblicos que citavam o Egito. Sendo assim, nada impede do egiptólogo, quando for escrever, usar somente textos egípcios como fonte primaria. Os egípcios foram minuciosos em expressar sua visão religiosa em sua escrita, foram criados vários mitos para diferentes propósitos que pudessem contar a criação do mundo e o desígnio do homem na terra. Rocha explica que o “mito é... uma narrativa especial, particular, capaz de ser distinguida das demais narrativas humanas” (ROCHA, 1985, p. 2), assim, existe uma vasta gama de explicações sobre a religiosidade egípcia. A cultura egípcia não permaneceu estática religiosamente por toda sua história, ao contrário, existiam mudanças significativas a cada Faraó (ou como os egípcios chamavam, Nisut) que subia no trono, pois este impunha a sua visão religiosa e política a toda nação. Assim, dependendo do rei, ou a dinastia que estava no poder, o centro de culto e, também, o deus nacional6 mudava. Se necessário, até mesmo novas mitologias eram criadas ou modificadas, para atender a vontade do faraó ou o que ele almejava. Isto não caracterizava um desrespeito à cultura ou aos deuses, uma vez que o faraó “está mais próximo dos deuses, pertence de fato, ao seu mundo e não é separável deles” (DONADONI, 1994, p. 239). Assim, ele tinha facilmente esse poder em suas mãos. Outra explicação, que fazia com que os egípcios não vissem certas mudanças na forma de culto com tanta estranheza, é a compreensão do divino pelos egípcios, que tinham uma concepção monólatra. Ou seja, a crença em uma força divina, chamada de Netjer, que por sua vez, se dividia em vários outros Deuses e Deusas, Netjeru e Netjeret, 6 O deus nacional é aquele adorado e cultuado por todo o Egito por questões políticas. 5 respectivamente, estes eram considerados em textos religiosos como os “Nomes de Deus” (WILKINSON, 2003, p. 26). Isto em momento algum vai excluir o Egito Antigo de uma cultura pagã, ou politeísta, como sugere E.A. Wallis Budge quando cita que os egípcios “acreditavam em um Deus Único que era Todo-Poderoso” (2009, p. 13). Esta visão é exclusiva de religiões judaico-cristãs e não se adéqua à religiosidade egípcia, ora, nos textos egípcios, frequentemente, os deuses são descritos como "rico em nomes”, e a multiplicidade de nomes apresentados por divindades individuais fornece um exemplo importante do princípio segundo o qual um deus pode ser visto como muitos (WILKINSON, 2003, p. 32). Para os egípcios antigos, deus era os deuses e os deuses eram deus. Apesar de todos os esforços para proteger os limites do Império, vários povos vizinhos se infiltraram para poder viver ao redor do Nilo, o maior Oásis nas terras secas do Oriente Próximo. O portal desta infiltração provavelmente foi no Baixo Egito, já que o “Delta foi palco de frequentes migrações – por vezes maciças – de povos vizinhos do oeste, do norte e do nordeste. Em maior ou menor grau, isso sempre afetou a vida do Egito” (ZAYED, 2010, p. 104). Esse efeito, por vezes foi tão drástico que culminou na perda de poder do povo egípcio, a mais notável desta fase é descrita como o Segundo Período Intermediário. O Segundo Período Intermediário e o Novo Império Até no final do Médio Império, período que corresponde de 2040 a 1640 a.C., o Egito Antigo gozou de um equilíbrio econômico e o país se manteve unificado. Essa estabilidade trouxe vários estrangeiros ao Egito em busca de melhores condições de vida, em especial, vindos da Ásia e é a partir de 1800 até 1640 a.C. que essa onda de imigração se intensificou ainda mais, principalmente na área do Delta, no Baixo Egito. Então, em maior quantidade “conquistaram progressivamente a independência e se tornaram moradores permanentes” (BAINES, 2008, p. 42). Os faraós do Médio Império não resistiram e logo sucumbiram aos estrangeiros, os Hicsos, que pode ser traduzido como “Reis-Pastores” ou “Soberanos de Países Estrangeiros” (HEALY, 2000, p. 05; BAINES, 2008, p. 42). A origem desse povo ainda 6 é incerta. No entanto, ao analisar o nome de alguns reis, como Anat‑Hr, Semken, Amu ou Jakub‑Hr, pode-se supor que, na verdade, eles tiveram origem semítica, o “certo é que a invasão dos Hicsos está ligada a um amplo movimento de povos que emigraram das estepes euroasiáticas” (GIORDANI, 1969, p. 72). Para se estabelecerem como autoridade perante os egípcios, foram necessários algumas medidas sabiamente tomadas por esses estrangeiros: eles adotaram quase que integralmente a cultura egípcia, junto com sua simbologia e nomes. Tais atitudes foram fundamentais para impor-se perante os egípcios, sejam os camponeses ou até mesmo para com os nobres, Clifford nos diz que os símbolos religiosos formulam uma congruência básica entre um estilo de vida particular e uma metafísica específica (implícita, no mais das vezes) e, ao fazê-lo, sustentam cada uma delas com a autoridade emprestada do outro (1989, p. 67). Essa autoridade emprestada pela cultura egípcia é o papel do faraó, pois ao adotar essa simbologia, a dominação sobre o povo nativo tomou proporções muito além de tirar da nobreza tebana o maior cargo da hierarquia. O faraó hicso se tornou o único vínculo entre os deuses e o povo e, assim como todos os outros faraós, deveria ser cultuado e reverenciado. Na XV dinastia, que é a dos Hicsos, a capital do Egito foi transportada de Tebas, que desde a XI Dinastia era a capital, para Avaris, que em egípcio se chamava Hat‑Uaret, cidade situada no Baixo Egito, no Delta, área que foi praticamente ocupada por estrangeiros. Contemporânea a XV dinastia, estavam a XVI e a XVII que eram dinastias tebanas, contudo, pouco tiveram poder, devido a dominação dos Hicsos. Apesar disso, todos os reis tebanos fizeram várias tentativas para expulsar os invasores, como, por exemplo, o faraó Tao II e seu filho Kamose, sem sucesso, pois os Hicsos tinham conhecimento até então desconhecido pelos egípcios, como o uso do bronze e cavalo. Avaris, nova sede administrativa, se tornou também um grande centro militar e econômico da região e, paralelo a esta, mais ao sul, os reis tebanos governavam sob o julgo estrangeiro, cuidando da parte do sul e dos limites com a Núbia. Esta dominação estrangeira gerou no povo egípcio um sentimento de humilhação sem procedentes, fazendo com que o povo se unisse aos reis tebanos para lutar contra os “Reis-Pastores”. 7 Hicso, em egípcio é Hka‑Hasut que quer dizer “Reis-Pastores”, é um termo pejorativo dado pelos egípcios a esse povo, pois com isso queriam diminuí-los diante dos outros faraós nativos (HEALY, 2000, p. 7). Mâneton7 foi o primeiro a usar o termo Hicsos e boa parte da visão dos egípcios desses faraós é originária do que Mâneton escreveu, como pontua: Em seu reinado, o que fazer eu não sei, um sopro de Deus nos feriu, e inesperadamente, a partir das regiões do leste, invasores de raça obscura marcharam na confiança da vitória contra a nossa terra. Pela força dominaram facilmente os governantes da terra, então eles queimaram nossas cidades impiedosamente, destruíram os templos dos deuses, e tratados todos os nativos com uma hostilidade cruel, massacrando alguns e levando à escravidão as esposas e filhos de outros... Em Saite (Sethroite) nomo que ele encontrou uma cidade muito bem situada no leste do Bubasti e chamou Avaris... Este lugar ele reconstruiu e fortificou com paredes maciças, plantando ali uma guarnição... Sua raça como um todo foi chamado Hicsos, que é reispastores. (REDFORD, 2001, p. 163) Como os Hicsos se estabeleceram em Avaris, cidade de culto a Set, surgiu entre os egípcios a interpretação de antagonismo a ordem divina do universo, já que o faraó é considerado a forma terrestre de Hórus, filho de Ísis (em egípcio Heru-sa-Aset), fazendo uma recordação do Mito da Contenda de Set e Hórus, que na verdade quer ilustrar a luta entre o Baixo Egito, governado por Set, e o Alto Egito, governado por Hórus. No mito, esta divindade é o grande ganhador da disputa. O Faraó, governando o Alto e Baixo Egito sob a benção dos deuses, assim como todos os seus sucessores, era visto como deus vivo. A imagem de um faraó sob o nome de Set poderia ser assustador para os egípcios, uma vez que isso colocava a própria ordem do universo em jogo. Para a compreensão desse mito, Assmann explica que Vale a pena notar, contudo, que a expulsão dos hicsos foi interpretada e comemorada em termos do mito de Hórus e Set, o mito essencial para o Estado que estabeleceu o vocabulário fundamental do Reino Antigo e serviu como um protótipo para o futuro mitos. Do ponto de vista contrário, é igualmente importante notar que o mito de Hórus e Set foi-se reinterpretado à luz da experiência histórica das guerras de 7 Mâneton foi um historiador e sacerdote egípcio natural de Sebenitos (em egípcio antigo, Tjebnutjer) que viveu durante a era ptolemaica, aproximadamente o século III a.C. Mâneton escreveu a Aegyptiaca (História do Egito), obra tem grande interesse para egiptólogos, e que frequentemente é utilizada como evidência para a cronologia dos faraós (REDFORD, 2001, p. 336-337). 8 libertação. Por conseguinte, oposição operatório já não era lei versus força, ou cultura versus selvageria e nomadismo, mas o Egito contra a Ásia. Set foi transformado no deus dos hicsos e, portanto, em um asiático. (1996, p. 199) Outra representação religiosa importante para a análise é o faraó hicso chamado Apophis (em egípcio Apep) que reinou de 1605 a 1565 a.C. e que lutou contra o rei Kamose de Tebas. Esta luta é escrita por Mâneton como a luta entre a escuridão e a luz. A simbologia de Apophis é descrita na mitologia egípcia como um gigantesco monstroserpente que está sempre em combate contra Ra, ela ainda é mostrada como o caos e a desordem (HART, 2005, p. 31). Esta iconografia de luta entre o bem e mal foi fundamental para fomentar a raiva dos egípcios contra os estrangeiros, que resultaria na expulsão desse povo. Durante 300 anos de dominação estrangeira, os egípcios tiveram que se adaptar a essa presença, no entanto, muito aprenderam com os Hicsos. As várias derrotas militares dos egípcios se deram principalmente pelo fato dos Hka‑Hasut dominarem conhecimentos que os nativos desconheciam totalmente, isto fez que com ao passar dos anos, aprendessem essas táticas importantes e usassem contra seus inimigos. Para derrotar os Hicsos, os reis tebanos criaram e fortaleceram laços com alguns vizinhos, entre eles, os Núbios (que podem ser identificados como Medjay) com os quais eles ainda mantinham contato. A convocação dos núbios para a guerra foi feita pelo rei de Tebas Kamose, filho de Tao II. Em contraposição, os Hicsos tentaram manter contato com o Reino de Kush, que outrora foi fonte de ouro entre outros minerais para os egípcios e que no Segundo Período Intermediário perderam a dominação da área. No entanto, Kamose foi informado sobre o mensageiro que estava levando a mensagem e conseguiu interceptar, impedindo tal união que poderia ser crucial para vencê-los (ZAYED, 2010, p.107). Nos textos referente a Kamose, o deus Amon é representado como um deus nacional, ao qual lhe rendera toda a glória e poder pela vitória contra o povo estrangeiro, “no decurso do tempo, a justificação religiosa para uma ação militar tornouse cada vez mais insistente e penetrante, e o simbolismo religioso da guerra cada vez mais ricos” (ASSMANN, 1996, p. 202). Infelizmente, Kamose não sobreviveu para ver a derrota esmagadora dos Hicsos, o que aconteceu somente com o seu sucessor, irmão e fundador da XVIII Dinastia, o 9 faraó Amosis, que finalmente derrotou e expulsou os Hicsos do Egito, abrindo uma nova época de glória e poder, intitulada pelos egiptólogos de Novo Império. O Novo Império é o período que se estende a partir da expulsão dos Hicsos do Egito, por volta de 1550 a.C., por Amósis, primeiro faraó da XVIII Dinastia, e vai até 1070 a.C. com o Ramsés XI, último faraó da XX Dinastia, que, quando morreu, foi sucedido por seu vizir Smendes, fundador da XXI Dinastia. Amosis prosseguiu com a luta que seu irmão mais velho começou, mas foi somente no seu sexto ano de reinado que finalmente conseguiu invadir Avaris. Após essa derrota, foi fácil expulsar os Hicsos do Delta, ainda, depois disto, teve que voltar-se ao sul, ao Reino de Kush, que tinha demonstrado apoio aos Hicsos. De fato, os primeiros anos do Novo Império foram bastante conturbados, mas moldou a personalidade dos faraós dessas dinastias. Healy vai descrever os faraós dessa dinastia como “Faraós Guerreiros” devido o Novo Império ser a fase onde o Egito mais fez expedições ao exterior, muitas vezes, fazendo guerra. Essa nova perspectiva bélica do Egito deve-se principalmente ao povo que eles expulsaram, os Hicsos, que foi a “principal consequência [...] que transformou o Egito em um estado militar” (HEALY, 2000, p. 14). Os Hicsos trouxeram para a cultura egípcia o uso de diversas ferramentas antes desconhecidas por eles, como armas mais modernas e, principalmente, o uso do cavalo em guerras, que fez com que o exército egípcio se tornasse poderoso e temível por todo Oriente Próximo. Em nenhum outro período o Egito antigo teve tanto poder quanto no Novo Império, tanto que foi o terceiro maior período e seus faraós foram firmes em não permitir que o povo estivesse na mão de outros estrangeiros como o período anterior; o caos não poderia voltar e, para isso, guerrear e dominar seus vizinhos era a melhor opção. Os egípcios foram astutos e aprenderam tudo que puderam para poder se tornar cada vez mais fortes, usando técnicas adquiridas com os Hicsos e sempre aliando-se com reinos fortes. Ficou na memória coletiva do povo egípcio, a constante ameaça externa, desta forma, foi necessário um Rei Guerreiro que estivesse junto com os deuses para sempre manter o Egito unido. Ganhada a guerra, a capital imperial passou novamente a ser Tebas. Os faraós tebanos fizeram questão de criar novas mitologias, novas iconografias para assegurar seu poder perante os deuses; o faraó assumiu, também, novas posições perante o povo, agora, como Grande Guerreiro de natureza marcial “onde o rei é retratado em estilos tradicionais como o deus do sol, mas também é retratado como uma encarnação do deus 10 da guerra, Montu e a personificação do próprio Egito” (HEALY, 2000, p. 17). Montu é o deus tradicional tebano, podia ser representado como um homem com uma cabeça de falcão, tendo na cabeça duas plumas altas e um disco solar com uraeus (Serpente) duplo. Em suas mãos ele portava vários objetos característicos de guerra, como um machado, flechas ou arcos, ganhou grande destaque na XI Dinastia, principalmente com o faraó MontuHotep – Montu Está Satisfeito – quando se tornou um deus nacional. Montu recebeu várias modificações através do tempo, tendo sincronia com deuses como Hórus, Ra e Amon. Isso fez com que a XII Dinastia perdesse espaço para Amon, que passou a ser o deus nacional, no entanto, sua imagem nunca foi dissociada, já que Amon carrega em sua cabeça as duas plumas, igual na imagem de Montu. Na verdade, os faraós adquiriram essa personificação de Montu, para evocar seu poder de guerra na figura do faraó (REDFORD, 2001, p. 203). Imagem 01 – Deus Montu Fonte: HART, 2005, p. 96 11 Com várias conquistas, os egípcios conseguiram elevar sua economia como nunca, iniciando, assim, uma era de grande prosperidade de toda a nação. A economia do Egito, nesta época, ainda era fortemente agrícola, no entanto, existiam várias outras formas de se adquirir riquezas, como por exemplo, o tributo a ser pago pelos reinos conquistados. Este “tributo constituía um dos símbolos de submissão dos povos vizinhos do Egito, e o não-pagamento implicava o envio de expedições punitivas” (ZAYED, 2010, p. 99). Da Núbia e Kush vinham a maior parte do ouro usado pelos egípcios e é exatamente no Novo Império que essa extração vai atingir seu auge. Djehut I (em grego Tutmés I) foi o primeiro a ser enterrado no Vale dos Reis, residência eterna de praticamente todos os seus sucessores ele governou de 1504 a 1492 a.C. e, também, assumiu a postura de guerreiro dos seus sucessores. Em 1473 a 1458 a.C., um faraó totalmente diferente assume o poder usurpado de seu irmão Djehut III, essa é Hatshepsut, que primeiramente foi casada com seu irmão Djehut II que teve uma morte prematura. O seu reinado foi extremamente próspero e pacífico (CARDOSO, 2004, p. 25), ou seja, seu governo destoa dos seus antecessores, que sempre estavam em fronte de guerra em busca de mais conquistas. Não para esta mulher, que preferiu construir templos, entre eles, o mais célebre de todos, em Deir el-Bahri, que foi construído na margem direita do Nilo à entrada do Vale dos Reis. Neste templo funerário para a própria rainha, estava muito de sua personalidade forte e o que ela queria que vissem sobre ela. Ela deixou em seus afrescos um provável amor escondido que ela alimentou por Senenmut, arquiteto real que planejou a construção desse magnífico templo. Hatshepsut foi astuta ao se impor como faraó, pois para assumir esse poder, foi capaz de criar um mito que comprovasse sua linhagem divina e digna do trono egípcio, assim como seus sucessores fizeram, ao qual era destinado somente a linhagem masculina. Este mito é encontrado nas paredes de seu templo em Deir elBahri: Amon encontrou a rainha nos seus aposentos internos do palácio. Ao sentir o aroma divino, ela acordou, e sorriu para ele. Imediatamente ele se dirigiu para ela. Ansiava por ela e deu-lhe o seu coração. Permitiulhe ver o seu real corpo divino, tendo-se-lhe achegado. Ela se rejubilou com a sua visibilidade, e o amor por ela fluiu através do seu corpo. O palácio inundou-se com o aroma do deus, rescendia como no reino de Ponto (terra do incenso). Então o deus fez com ela o que quis. Ela fê-lo regozijar-se sobre o seu corpo, e o beijou. Ela disse-lhe, “Que esplendor é ver-te face-a-face. Tua força divina me enleva, teu orvalho perpassa os meus membros!” E uma vez deus fez com ela o que quis, e disse. “Em verdade, Hatshepsut 12 será o nome da criança que pus no teu ventre, pois foi esta a tua exclamação” (MANNICHE, 1990, p. 59) Após a morte de Hetshepsut, seu irmão, que ela havia usurpado o trono, Djehut III, finalmente traz de volta a cultura fálica e militar do reinado egípcio, empreendendo várias campanhas no Oriente Médio, começando pela reconquista do território da Palestina. Trinta e quatro anos e o reinado de dois faraós, Amonhotep II e Djehut IV, separam Djehut III e o faraó que causou a maior revolução religiosa, social e cultural em toda a História do Egito Antigo. Vale a pena mencionar Amonhotep III, pois foi ele que quebrou relações com o clero amoniano e instituiu uma nova religião. Primeiramente, este faraó “concedeu a si mesmo o título de sumo sacerdote do deus sol, papel que era tradicional entre os reis do Egito, mas que não havia sido incorporado à sua titulação” (BAINES, 2008, p. 45). Ele estava dedicado ao culto do deus Aton, cultuado desde o Antigo Império, e foi representado somente como um disco solar com raios que terminam em forma de mãos segurando uma Ankh8, mas teve pouco espaço entre a realeza, principalmente no Novo Império, que cultuava Amon, como símbolo de vitória e realeza. No entanto, após cinco anos de seu reinado, decide mudar seu nome para Akhenaton (Face de Aton) e, também, mudar a capital para uma cidade planejada, totalmente nova e longe do culto a Amon, chamada Akhetaten – O Horizonte de Aton. A singularidade desse culto é que chama a atenção, pois ele é totalmente monoteísta, cultuando somente Aton realmente como deus único. Akhenaton também foi ousado, pois ordenou fechar todos os templos de outros deuses e edificou diversos santuários em nome de Aton. O faraó conhecido como “o herege” teve um governo razoavelmente longo, de 1391 a 1353 a.C. No entanto, sua morte é completamente desconhecida, pois quando faleceu, sua memória foi perseguida e o clero de Amon se esforçou para apagar da história egípcia qualquer vestígio desse rei. Seu primeiro sucessor foi Semenkharé9, que governou somente por três anos, também desaparecendo misteriosamente. Após este, um jovem faraó toma o poder e é conhecido não somente por restabelecer o culto a Amon em Tebas tal como antes de Akhenaton, mas também por ser o faraó cuja tumba é 8 Ankh (pronuncia-se arr) conhecida também como cruz ansada, era na escrita hieroglífica egípcia o símbolo da vida. Conhecido também como símbolo da vida eterna. Os egípcios a usavam para indicar a vida após a morte. 9 Existe uma série de especulações que na verdade esse faraó foi a esposa de Akhenaton, Nefertiti, e o nome Semenkharé era o seu segundo nome, no entanto, isso não é de fato comprovado. 13 descoberta quase que intacta em pleno século XX, o filho de Akhenaton, chamado Tutancâmon. A Dinastia XIX é marcada novamente pelas várias conquistas territoriais e pela grande riqueza adquirida, mantendo a unificação do Império. De fato, de todos os faraós desta dinastia, destaca-se o grandioso reinado de Ramsés II (1290 a 1224 a.C.), terceiro de sua dinastia, que incrivelmente foi o que levantou mais monumentos e mais estátuas em toda a história do Egito faraônico. Ele também se esforçou o máximo possível para manter a hegemonia egípcia, sempre travando guerras, como por exemplo, a famosa guerra contra os Hititas, chamada de Guerra de Kadesh, fato imortalizado pelos vários monumentos que contam a história. Vários outros Ramsés sucederam Ramsés II, inclusive é na XX Dinastia que se encontra a maior parte destes, indo de Ramsés III a Ramsés XI, quando se findou a dinastia e o Egito novamente entra em um novo período intermediário. Tebas – A Cidade de um Deus O Novo Império foi um dos períodos mais ricos do Egito e a capital desse reinado foi o maior exemplo de riqueza e poder. Para os egípcios, ela se chamava Waset e para os gregos Tebas. Esta era a capital desde o Médio Império, no entanto, em nenhum outro tempo esta cidade e seus templos se tornaram tão ricos quanto no Novo Império. Tebas foi um local importante e estratégico para o Novo Império, pois tinha uma posição geográfica privilegiada, “ficava próximo a Núbia e ao Deserto Oriental, com seus valiosos recursos minerais e suas rotas mercantis” (BAINES, 2008, p. 84). Waset era formada por vários templos e edificações por todo seu território, era do lado leste e oeste do Nilo, por motivos religiosos, pois, na crença egípcia, o lado ocidental é dedicado aos mortos, era chamada de "O Grande Oeste" ou “Morada Ocidental” (REDFORD, 2001, p. 383), está ligada a crença que os mortos vão para o Céu Ocidental, lugar que continuaria sua vida após a morte (ASSMANN, 1996, p. 169-182). Na margem ocidental se encontrava um aglomerado de templos que, na sua maioria, correspondente aos Templos Funerários10 dedicados aos governantes do Novo 10 Templos Funerários ou Mortuários eram templos construídos pelo monarca com o intuito de servir de local para culto e adoração de sua imagem depois de sua morte, uma vez que para os egípcios os 14 Império, sendo principais os dois templos de Deir El-Bahri construídos por MontuHotep, da XI dinastia, chamado de Akhisut e por Hatshepsut, da XVIII dinastia, chamado de Djeser-djeseru. Também está na margem ocidental o templo de Ramsés II chamado de Khnemt-waset; e o templo de Ramsés III chamado de Khnemtneheh. Outras importantes áreas na margem ocidental é o Vale dos Reis, Vale das Rainhas e as tumbas individuais feitas para nobres que possuíam muitos bens. (REEVES; WILKINSON, 1996, p. 16-19) Na margem oriental, que na religiosidade egípcia simbolizava a vida, encontravam-se os principais templos dedicados ao deus nacional, Amon. Foram erguidos dois templos principais, dentro destes poderiam ser erguidos várias capelas a outros deuses ligados ao culto de Amon. Os Templos de Tebas “foram os mais importantes e os mais ricos de todo o Egito” (BAINES, 2008: 90), entre eles, está o chamado Templo de Ipet-resyt pelos egípcios e conhecido pelos gregos por Luxor; este foi edificado primeiro por Amonhotep III e depois por Ramsés II, no entanto, tiveram várias outras contribuições de diferentes faraós. Este templo é conhecido primeiramente pela avenida de esfinges com cabeça humana de Nectanebo I11 que unia Luxor a Karnak, três quilômetros ao norte. Dentro dele, foram erguidos três outros santuários, um dedicado a Tríade Tebana que será enfatizada a seguir; outro a Hethert12; e outro construído no período Ptolomaico, o Templo de Serápis. O segundo Templo era o principal de todos em Waset, pois era onde estavam as principais capelas e outros santuários, este era o Ipet-Isut, "O Mais Seleto dos Lugares", originário do vizinho povoado moderno chamado de El-Karnak, usado para designar um vasto conglomerado de templos, capelas e outras construções em ruínas que pertencem a diferentes períodos e que ocupam uma extensão aproximadamente de 1.5 x 0,8 km. Foi iniciado por volta de 2.200 a.C. e terminado por volta de 360 a.C. No entanto, foi no Novo Império que esse complexo de templos obteve grande prestigio. Depois que os faraós tebanos e o deus Amon alcançaram seu maior poder, logo no começo da Dinastia XVIII, que a capital passou para Tebas e como afirma Baines: “foram erguidos, aumentados e novamente derrubados, e houve ampliações e restaurações durante mais de dois mil anos.” (2008, p. 84) governantes eram deuses. No entanto, dentro desse templos poderia encontrar vários outros santuários para diferentes deuses. 11 Faraó do período Ptolomaico e pertencente da XXX Dinastia, governando de 380–362 a.C. 12 Na versão grega esta deusa se chama Hathor. 15 O imponente templo de Karnak pode ser divido em três partes, sendo ao norte setentrional a Área de Montu, que, como já foi dito, é o deus da guerra e também a divindade tradicional de Tebas quando esta ainda não era a capital nacional, dentro deste recinto existem vários outros templos menores, como a de Ma’at e Hapre. Na parte central concentra-se o maior espaço de toda Karnak, a Área de Amon, onde se encontra o santuário principal, um grande lago sagrado e vários outros pequenos templos, como o de seu filho Khonsu. Esta é ligada por uma avenida de esfinges com cabeça de touro a Área de Mut, segunda maior área de Karnak que abriga o templo central de Mut e um grande lago em forma de lua crescente. Dentro destas áreas, durante os 2000 anos de construção, vários faraós ergueram outros templos dedicados a esses deuses, que sempre fazem alguma relação ao culto amoniano – como Wesir13 ou Ptah – ou levantaram colunas. Estas três divindades, Amon, Mut e Khonsu fazem parte da chamada Tríade Tebana, sendo Amon o pai, Mut a mãe e Khonsu o filho e são exatamente esses deuses que foram os maiores protagonistas da religiosidade do Novo Império. A Tríade Tebana A fé egípcia abrigava vários grupos de deuses, entre eles estão as chamadas “Tríades Divinas” que são quase sempre deuses que possuem um parentesco familiar constituído por “Pai (deus), Mãe (deusa) e Filho (quase sempre uma divindade masculina jovem)” (WILKINSON, 2003, p. 75), sendo que esse grupo Familiar Divino no Novo Império está ligado principalmente a própria Família Real. Mut cujo nome significa “Mãe”, era a grande mãe dos deuses e também consorte divina do deus Amon. Era representada principalmente como “uma mulher com a Coroa Branca e a Coroa Vermelha em sua cabeça, possuindo assim o título de Rainha do Alto e Baixo Egito” (WILKINSON, 2003, p. 154). Ela era associada diretamente tanto às Mães dos Faraós quanto às Esposas Reais; no Novo Império foi tão importante para a teologia tebana quando seu marido divino e foi ainda o símbolo real feminino. No Templo de Karnak foi construído um grande santuário dedicado a seu culto. Assim, esta deusa se tornou o maior símbolo de poder feminino e foi amplamente cultuada nesse 13 Wesir é o nome egípcio usado para se referir ao deus Osíris. 16 período. A origem desse culto ainda é incerta, pois não existem relatos dela até o final do Médio Império, sendo que somente no Segundo Período Intermediário que Mut ganhou um papel de destaque nos cultos Tebanos. Tudo indica que ela é uma “evolução” da antiga consorte de Amon chamada Amaunet, juntos eles faziam parte dos Hemeru14, os Oito deuses da cosmogonia Hermopolitana. Somente na XVII dinastia que esta deusa será conhecida como “A Grande Senhora de Isheru15” (REDFORD, 2001, p. 454). Filho de Mut e Amon, Khonsu é uma divindade lunar que junto com o deus Djehuty (Thot na versão grega) marca o tempo, seu nome significa “O Viajante”, pois, assim como Ra viaja pelo dia, ele navega pelo corpo de Nut durante a noite. Ele é retratado com o corpo mumificado e como símbolo de infância e juventude usa um penteado no cabelo que se chama sidelock (ver imagem 02). Seu templo em Karnak é o mais bem conservado. Esse deus é descrito primeiramente nos textos das pirâmides como uma divindade violenta, no entanto, com o passar dos anos, ele foi perdendo essa personificação e passou a ser um deus mais bondoso e calmo, graças a sua associação com Mut e Amon que são deuses com personalidades mais serenas (REDFORD, 2001, p. 233). Imagem 02: Deus Khonsu Fonte: WILKINSON, 2003, p. 113 14 Hemeru, ou na língua grega Ogdoade, é o grupo de oito divindades, quatro masculinas (com cabeças de rã) e quatro femininas (com cabeças de serpentes), que participaram da criação segundo a cosmologia de Hermópolis, estas divindades eram: Nun e Naunet, Heh e Hauet, Kuk e Kauket, Amon e Amaunet. 15 Nome dado ao lago em forma de Lua Crescente no Templo de Mut em Karnak. 17 Para completar a Tríade Tebana, o deus mais cultuado por toda a história egípcia, Amon, cujo nome pode ser traduzido como “O Escondido” ou “O Oculto”, foi primeiramente citado nos Textos das Pirâmides, no Antigo Império 16 e foi cultuado até mesmo no fim da história do Egito faraônico. Amon é mencionado primeiramente por fazer parte da Cosmologia de Hermópolis ou Hemeru; nesta, ele também estava associado ao ar, fazendo par com Amaunet, seu oposto feminino, simbolizando o oculto e o misterioso. Byron afirma que “Quando os elementos dos cosmos e do ambiente eram representados de forma concreta, normalmente assumiam a forma humana” (2002, p. 36), podendo ser por essa razão que Amon passa a ser associado na forma de um homem portando em sua cabeça duas plumas. Foi com a expulsão dos Hicsos que Amon aumentou seu poder, pois lhe foi atribuída a vitória do povo egípcio sobre os estrangeiros, isto na verdade é causado pelo apoio integral dado pelos sacerdotes do templo de Karnak (SHAW, 2002, p. 203-217). Assim, vários templos foram erguidos em sua honra em todo o território egípcio, sendo que o santuário central era o de Karnak, recebendo, assim, o título de “Rei dos Deuses”, onde “a magnitude do poder espiritual e política de Amon-Ra transformou o antigo Egito numa teocracia” (REDFORD, 2001, p. 82-84). Junto com os governantes, o Clero também recebeu um imenso poder durante o Novo Império, capaz de tomar decisões não só espirituais, mas tendo bastante influência política. Amon foi a divindade mais associada a outros deuses, buscando unir forças e adicionar características que foram importantes para formar sua personalidade, criando um deus mais poderoso. Isso está relacionado com o que os faraós e sacerdotes queriam transmitir a população nessa fase histórica, Geertz acentua que a “sinopse da ordem cósmica, um conjunto de crenças religiosas, também representa um polimento no mundo mundano das relações sociais e dos acontecimentos psicológicos” (2002, p. 90). Amon tem vários poderes que lhe foram atribuídos com essas associações; no Novo Império, ele se torna um Deus Solar, um Deus Criador, o Deus da Fertilidade, o Deus da Guerra, o Rei dos Deuses e, por fim, um Deus Universal, que alguns egiptólogos fazem uma crítica ao afirmar que a teologia tebana beirava ao monoteísmo (WILKINSON, 2003, p. 92-95). 16 Período que corresponde a 3.200 a 2.433 a.C. 18 Como Deus da Guerra, Amon será associado com Montu, a primeira divindade protetora de Tebas, recebendo assim, o título de “Senhor da Vitória” principalmente pelo fato dele ser identificado com a vitória sobre os Hicsos. Primeiramente ele é tratado como filho de Montu, somente depois que ele não será mais tratado como seu filho e, assim, passará a ser identificado como o próprio senhor da guerra. Como Deus Solar, a associação foi com a divindade de Heliópolis chamada Ra que é quando Amon passa a ser o maior netjeru do panteão egípcio sendo ligado também à política. Redford explica que Amon e Ra ainda permaneceram como divindades, mas o sincretismo é uma expressão de união de poderes. Associação de outras divindades foram também encontradas, e Amon suportou várias outras denominações como Amon-Ra-Atum, Amon-Ra-Montu, Amon-RaHarakhty e Min-Amon (2001, p. 82-84). De fato, de todas as associações de Amon, a com Ra foi a que mais gerou força a seu culto. Assmann explica que “nenhum outro período da história egípcia, e de fato nenhuma outra cultura, produziu tal abundância de louvores ao deus sol” (2009, p. 16), já que nesta perspectiva dualista, Amon é a personificação do invisível ou oculto, e Ra é o visível, o palpável, pois este é o Deus Sol. É possível compreender essa junção de deuses de acordo com Byron: Não é possível simplesmente rotular uma divindade como deus de alguma coisa e outra como deus de outra coisa. Havia muitas identificações e inter-relações entre os membros do panteão, porém subjacentes a essa complexa rede de divindades encontra-se uma concepção altamente desenvolvida do que era divino, que surgiu durante o período formativo dessa antiga civilização e evoluiu para compor as doutrinas que fundamentariam a religião do antigo Egito ao longo de mais de três mil anos. (2002, p. 21). Uma vez que Amon passou a ser reverenciado como Amon-Ra, ele também se tornou o demiurgo, pois Ra-Atum foi o grande criador na mitologia de Heliópolis. A Cosmologia Tebana passou a identificá-lo como o grande criador do universo, conforme está nas paredes do Grande Complexo de Karnak. De fato, as cosmologias de Heliópolis e Tebas são bastante semelhantes, sendo que o Zep-Tepi segundo a teologia de Tebas é Amon que tem o título de “o auto criado, sem mãe e sem pai”, criador de tudo a partir de 19 sua masturbação, assim como Atum. Bakos afirma que “esse sincretismo, em Tebas, foi importante, pois agrupou inúmeros deuses poderosos desde os textos das Pirâmides da Enéade de Heliópolis” (2009, p. 262). Para evocar a força de Amon-nesu-netcheru, que na tradução é “Amon Rei dos Deuses”, todos os monarcas do Novo Império se tornaram os seus filhos legítimos, com isso, Hatshepsut não foi a única a criar um mito que explicasse sua concepção feita pelo próprio deus ao se deitar com sua mãe para gerá-la, todos os outros faraós também usaram dessa mesma simbologia (REDFORD, 2001, p. 83-84). Amon – O Criador do Universo Não existe como dissociar duas formas de Amon: o de Deus da Fertilidade e do Deus Criador, pois todos os mitos que fazem essa referência o mencionam criando o universo a partir de sua potência sexual, tornando esse ato extremamente simbólico. Sua aproximação com o deus itifálico17 Min, tradicionalmente ligado à fertilidade, foi usada sob vários títulos, sendo um deles o de Amon-Kamutef (Ver Imagem 01), na tradução literal é “Amon Touro de Sua Mãe”. Adotando, assim, uma imagem muito similar com a de Min e aceitando outro nome: Min-Amon, que é retratado como um homem com pênis ereto e com as duas plumas na cabeça. 17 Itifálico, ou seja, o que possui o pênis ereto, no caso de Min, ele será sempre representado desta forma. 20 Imagem 03 – Amon-Kamutef em um pilar de Karnak Fonte: Página da Static Flickr, 2013 Esta imagem de Amon-Kamutef foi a principal imagem cultuada num dos maiores festivais do Egito faraônico, o Festival de Opet, ao qual o palco dessa grande festa foi Luxor que consistia na viagem, de barca, da estátua do deus, acompanhado por sua mulher Mut, e do seu filho, Khonsu, do Templo de Karnak em direção ao templo de Luxor. Esta procissão era presidida pelo rei, que assim confirmava um aspecto importante do dogma faraônico, a sua filiação divina. O cortejo era ainda acompanhado pelos sacerdotes e altos dignitários, bem como por muitos fieis. (LOPES, 1999, p. 415420) A face de Amon, como Deus Criador evoca os principais demiurgos da religiosidade egípcia, que consistia em juntar os “três principais deuses do Estado – Amon, do ar, Ra, do Sol, e Ptah, do mundo dos mortos – três manifestações cosmográficas e políticas de „uma mesma – e única – divindade” (YOYOTTE, 2010, p. 91). 21 A religiosidade egípcia permitia facilmente que em diferentes épocas e cidades, houvesse mitos distintos, assim, foram criadas versões sobre a criação do universo. Dependendo do deus da cidade era normal que, naquele local, houvesse um mito que contasse a participação daquela divindade na criação do universo. Isto fortalecia laços dos religiosos com a divindade, no entanto, dentro dessa gama de mitos cosmogônicos contados pelos egípcios, existiam “centros espirituais responsáveis pelas correntes cosmogônicas mais influentes sendo eles: Heliópolis, Mênfis e Hermópolis”. Estas mitologias serviram de influência para outros três centos culturais, sendo elas: Tebas, Elefentina e Esna que desenvolveram versões próprias de criação do mundo (SOUSA, 2003, p. 315). Tebas, por sua vez, criou diferentes explicações cosmogônicas, em todas elas, Amon é o demiurgo capaz de criar o universo. Tanto Karnak quanto Luxor estão repletos de textos religiosos nos quais é possível verificar a influência de Heliópolis, Mênfis e Hermópolis nos mitos. Bayron descreve uma narrativa específica que faz uma espécie de fusão dos mitos de Hermópolis e de Mênfis, no entanto, com Amon criando a todos, sendo o que fecunda o ovo da criação. Esse se encontra na Capela de Khonsu em Karnak: Palavras ditas por Amon-Ra, rei dos deuses, criatura augusta, chefe de todos os deuses, o grande deus, senhor do céu, da terra, do outro mundo, da água e das montanhas, a alma augusta da serpente Kemutef, pai do sêmen, mãe do ovo, que engendrou todos os seres vivos, a alma oculta que criou os deuses, que formou a terra com o seu sêmen, pai dos pais da Ogdoade na câmara funerária na necrópole no lugar Djeme, que criou este lugar em Nun, transbordando semente da primeira vez. A primeira serpente fez os céus por meio do seu desejo... a terra surgiu, o céu cuspiu um ovo, como o ovo de um falcão. Era como a face... terra. Foi assim que surgiu a segunda serpente com a face de um besouro, igualmente, enquanto a vaca, diante deste predecessor, foi embora... Amon em seu nome chamou Ptah, criou o ovo que surgiu de Nun... como Ptah dos deuses Heh e as deusas Nenu que criaram o Tjenene (um santuário de Ptah em Mênfis), jorrou de baixo dele, como aquilo que acontece, em nome de “grão de semente”. Ele fertilizou o ovo e os outo surgiram dele no distrito em torno da Ogdoade. Ele caiu ali em Nun, na grande enchente. Ele os conhecia; seu pescoço os recebeu. Ele viajou para Tebas em sua forma de Khonsu. Ele voltou sua face para esta semente. Era sua Ma’at, aquela grande que se ergue como uma força na terra, um colar em seu peito criado à semelhança dele, trazido da... terra alta em Nun. E assim surgiu Tebas em seu nome de Vale. Assim surgiu Hethert, a grande, em meio ao “grão de semente”, em seu nome de Nunet. Então ele colocou o seu corpo sobre o dela e a abriu como Ptah, o pai dos deuses. E assim surgiu a Ogodade... é isto 22 que Tebas fez, juntamente com as quatro gotas que estavam nela. Eles são os homens e as mulheres de Tanen. A terra de Tebas alegrou-se com Tanen, pois Tanen tinha criado a Ogdoade em Tebas. Eles foram levados pela água até a Ilha das Chamas, e assim surgiu a sua forma, a primeira da grande enchente. (2002, p. 128-129) A parte mais latente nesta narrativa é a capacidade sexual de Amon, sendo ele descrito como um “deus hermafrodita”, capaz de fecundar-se a si mesmo, característica de “divindades associadas à fecundidade” (BYRON, 2002, p. 37), que em sua forma de Kamutef é capaz de engendrar-se e, assim, criar todo o universo. Outra divindade com características hermafroditas que também é descrita nos mitos é Ra, de Heliópolis. Ele é capaz de criar-se a si mesmo através da masturbação, sendo a divindade solar mais poderosa de todo o panteão egípcio. Existem várias outras divindades solares, mas nenhuma deles se compara ao poder desse deus (REDFORD, 2001, p. 123). No mito desta cidade, que na língua egípcia se chamada Iunu, criado na V Dinastia, conta que no começo tudo era Nun, o mar primordial, em um momento, nasce Ra – que na versão tebana é Amon-Ra – Amon-Ra nasce de uma flor de lótus, desta flor nasce um ovo e desse ovo cósmico nasce uma criança solar, então, o grande criador masturba-se até ejacular, com sua mão recolhe o sêmen e cria Shu, deus do ar e Tefnut, deus da humanidade, esses dois deuses então criam Geb, deus da Terra e Nut, deusa do céu, por sua vez, esses dois deuses criam outros 5 deuses, Wesir, Heru-Wer, Set, Aset e Nebet-Het18, esses deuses completam o Pasdjet, ou “Os Cinco Grandes Deuses” (RUIZ, 2001, p. 123). É através destes mitos que o povo egípcio se organizava, Willis afirma que "os mitos passavam um tipo de moral, concepção de ordem e caos, e valores éticos que deveriam ser seguidos e ensinados às próximas gerações" (2007, p. 13). E é exatamente esse o papel do sacerdote dentro dessa ordem que existia no Egito. Era papel do grupo sacerdotal manter a ordem cósmica do universo, servindo os deuses diariamente para que, com isso, os deuses pudessem sempre se manter satisfeitos. 18 Wesir é o nome egípcio de Osiris; Heru-wer é o nome egípcio de Hórus, O Antigo; Aset é o nome egípcio de Ísis; Nebet-Het é o nome egípcio de Neftis. Muitas vezes esse mito é interpretado equivocadamente contanto que é somente 4 deuses que nascem de Nut e Heru nasce de Wesir e Aset posteriormente, no entanto, isso é uma errônea interpretação gerada primeiramente pelos historiadores estrangeiros que visitaram o Egito ainda na antiguidade, uma vez que Heru-Wer (Hórus, O Antigo) é uma divindade diferente de Heru-sa-Aset (Horus-Filho-de-Isis). O nascimento desses cinco deuses também é a causa mitológica da prática de adicionar cinco dias no final do Calendário Egípcio chamado de Dias Apagomenais, somente após esses dias que o ano começa de fato. (RUIZ, 2001) 23 Os Cleros do deus Amon Está nas mãos dos sacerdotes manter a ordem cósmica, a mesma que livrou o universo do caos causado por Nun, o mar primordial. O trabalho nos templos era dar aos deuses o necessário para manter a vida terrestre, aliás, os egípcios viviam o mito todos os dias de sua vida, Sauneron afirma que a arte, pensamento, o padrão de vida, o modo de expressão, tudo no Egito Antigo está inicialmente marcado por uma concepção estática das coisas, invariável em seu aspecto eterno ou o ritmo, como eram originalmente criado (1960, p. 29). A cultura egípcia impunha ao faraó o cargo de Sumo Sacerdote, era ele que presidia os principais mitos, era seu papel edificar templos e consagrá-los aos deuses. As Instruções de Udjahorresne19 destaca qual era o posicionamento do Faraó perante a religiosidade que ele representava como deus vivo: “O rei do Alto e do Baixo Egito veio. Ele antes fez uma grande prostração [à deusa], como todo rei tem feito. Ele fez uma grande oferta de cada coisa boa... Como todo rei beneficente fez” (ASSMANN, 1996, p. 368). Devido não ser possível o faraó estar todos os dias nos vários templos espalhados por Kemet, ele delegava a maioria de suas funções como Sumo Sacerdote a outros sacerdotes que sempre se dirigiam a sua imagem e fariam o seu papel na manutenção da ordem cósmica. Essa importância no papel do sacerdote gerou grande poder a esses homens, principalmente em lugares nos quais eles eram a única representação do faraó. No entanto, em nenhum outro período os sacerdotes gozaram de tanta força quanto no Novo Império. Estava na mão dos sacerdotes um grande poder econômico, pois os templos egípcios eram grandes proprietários de terras e alimentos em geral, possuíam também servos em diferentes categorias de trabalhos. Em certo momento, os sacerdotes possuíam tanto poder que até mesmo os faraós se incomodaram, que foi o caso de Amonhotep IV, o Akhenaton, como foi pontuado anteriormente. 19 Nobre e alto funcionário da corte que viveu em 550 a 480 a.C. 24 Em Karnak ou em Luxor, os sacerdotes tinham um poder que poderia se igualar a dos faraós. De fato, o ofício sacerdotal, nesta época, se assemelha muito ao papel do deus vivo, até mesmo, muitas das posições sacerdotais poderiam passar de pai para filho, uma forma hereditária de manter esse vasto poder dentro de uma casta familiar, onde o filho herdava do pai seus bens e seus papéis dentro dos templos a serviço dos deuses. Esse fato é encontrado somente no Novo Império (WILKINSON, 2000, p. 92). Outro papel do sacerdote, principalmente os que estavam no maior grau hierárquico no templo, era suceder o faraó no caso deste não ter herdeiros que pudessem subir ao trono. Pode-se notar este fato após a morte de Tutancâmon, faraó da XVIII Dinastia, devido à sua morte prematura não teve nenhum filho que pudesse o suceder, assim, seu substituto foi Ay, alto sacerdote do templo de Karnak. (REDFORD 2001, p. 160) Esse grupo sacerdotal poderia ser formado por homens e mulheres, não existia distinção entre os gêneros para o trabalho religioso, é certo que teriam papéis diferentes, alguns somente para homens, outros somente para mulheres. Bakos afirma que “a mulher, no espaço do seu microcosmo é a semelhança do sol no firmamento e do Faraó na terra, tem responsabilidade do ciclo vital” (2001, p. 55), assim, a mulher tinha sua importância na sociedade egípcia tanto quanto o homem. As Esposas de Amon Heródoto afirma que no Egito não era permitido o sacerdócio feminino (HERÓDOTO, 1988), todavia, é possível constatar que o sacerdócio feminino era tão amplo quanto o masculino, as mulheres poderiam receber vários títulos importantes, no “Antigo Império várias mulheres de boas famílias mantinha o título de hemet-netjer que é de „Serva de Deus‟ ou simplesmente „Sacerdotisa‟” (WILKINSON, 2000, p. 93). Nesta época, ainda existem outras nomenclaturas dadas somente às mulheres, como a de participação em ritos importantes em templos funerários. Serviam, também, deusas femininas como „Hemet-Hethert’ ou ‘Hemet-Nit’ que, na tradução, significa „Sacerdotisa de Hethert‟ e „Sacerdotisa de Nit’, respectivamente. No entanto, este último, até onde constam as pesquisas, essas funções estavam delegadas às mulheres dos templos de Mênfis, enquanto a sacerdotisa de Hethert está em todos os templos dedicados a essa deusa. (FISCHER, 2000, p. 24) 25 Com o passar do tempo, as mulheres foram ganhando títulos sacerdotais antes dados somente para homens, como o caso de Hemet-Wab, que significa Sacerdote Puro, que a partir do Médio Império, esse título também será dedicado às mulheres como Hemet-Wabet. No entanto, com o declínio do Médio Império, as mulheres também perderam espaço nos templos, ficando somente com os de sacerdotisas de Hethert, o que pode ter sido causado, principalmente, pelo fato da incapacidade da mulher em exercer a função Wab, ou seja, estado de pureza ritual, em momento de parto ou menstruação, o que causou um rompimento nestes serviços (WILKINSON, 2000). Já no Novo Império não foi unicamente o sacerdócio masculino que obteve grande poder nas mãos, um tipo de sacerdócio feminino criado no final do Médio Império exerceu grande influência e poder nesse período, até mesmo maior que o clero formado por homens. Uns grupos de mulheres tiveram contato direto com a maior divindade do panteão egípcio, o próprio criador do universo, Amon-Ra. Amon-Ra de fato foi um deus que rendeu muita autoridade a homens e mulheres no Novo Império, alguns egiptólogos, afirmam que a teologia tebana “chega a se tornar quase monoteísta” devido a essa importância, se rendeu um imenso prestígio do deus bem como todos os que o serviam (WILKINSON, 2003, p. 93). E foi nessa perspectiva que o Clero de Amon gozou de um grande poderio, e em Karnak surgiu um clero feminino intitulado as Esposas de Amon, um grupo seleto de mulheres de extremo poder tanto com atribuições políticas (uma vez que o Egito Antigo era teocrático); e, em sua maior parte, espiritual, pois elas estavam incumbidas de satisfazer sexualmente o deus Amon e manter a ordem estabelecida no começo da criação do universo. Estas mulheres tiveram maior poder a partir da XVIII Dinastia, quando este título se tornou sagrado, isto com a filha de Ahmosi I, chamada Ahmose Nefertari que recebeu este título e o tornou de grande importância na religiosidade egípcia, sendo suas sucessoras ainda mais poderosas. No Egito Antigo poucos tinham acesso à escrita, somente os mais altos escalões da sociedade conseguiam ler e escrever e, com certeza, as Esposas de Amon estavam enquadradas nesse requisito básico de aprendizagem, pois a educação, principalmente da escrita e dos conceitos religiosos, estavam dedicados somente a nobreza. Não era qualquer mulher que poderia ser uma Esposa do Deus, era necessário ser uma mulher nobre, ou mãe, ou esposa do rei, todavia, como Noblecourt afirma, o papel da Esposa de Amon, na segunda metade do Novo Império, passou ser “única e totalmente confiada à 26 filha do rei, consagrada em Tebas, onde era contemplada com uma propriedade, uma Corte e um pessoal administrativo.” (1994, p. 140). Com isto é fato que ela recebia, sim, uma boa educação desde sua infância. A filha do rei que fosse dedicada ao culto sacerdotal, era educada e treinada na Per Ankh, ou Casa da Vida, segundo Jacq, “Era nas salas secretas da Casa de Vida que os sacerdotes se iniciavam na leitura e na compreensão desses textos utilizados nas cerimônias públicas e privadas” (2001, p. 35). O mais evidente em todos os casos é que poucas mulheres tinham acesso à educação, no entanto, o status de nobreza lhe rende vários benefícios que poucos da população poderiam ter. Para compreender as Esposas de Amon é necessário primeiramente entender o porquê e como que a primeira mulher recebeu o título de “A Esposa do Deus Amon”. Tudo indica que Ahhotep I foi uma grande mulher, com muito poder em suas mãos, seu título está estabelecido na Estela de Doação de Karnak, esta cria a instituição de Divina Adoradora do Deus Amon, elevando Ahhotep I como a maior sacerdotisa no Templo de Karnak. (GRAVES-BROWN, 2010, p. 87) Ahhotep I era esposa de Tao II e mãe de Ahmose, ou seja, era esposa de um grande faraó do final do Segundo Período Intermediário e mãe do primeiro faraó da XVIII Dinastia do Novo Império, isso mostra o quanto ela estava ligada aos dois homens mais poderosos de sua época. Ser Esposa de um Deus e dar a luz ao rei é primeiramente um ato cultural já que para os egípcios “o caráter divino dos reis transmitia-se pelas mulheres” (CARDOSO, 2004, p. 23). Esse ato que se intitula teogamia, ou seja, um deus que se deita com uma humana, é um artifício religioso usado por praticamente todos os faraós a partir do Novo Império. Não foi por acaso que Ahhotep I recebeu esse título grandioso, apesar de ser uma mulher bem instruída e totalmente capaz de carregar esse cargo, foi dado a ela essa posição para que o faraó tivesse dentro do templo uma pessoa de sua própria linhagem. Um papel tão significante dentro do templo do deus nacional seria de grande importância para o “aumentar o poder do faraó e de toda a monarquia” (GRAVESBROWN, 2010, p. 87). E é por esse motivo que o cargo, então, passou a ser dado somente para a realeza, sendo as principais a adotar esse cargo a Mãe do Rei, ou a Esposa do Rei. A partir de Ahhotep I, foi imposto que manter o título de Esposa do Deus Amon (hemet-netjer Imn) no alto clero, esta posição deveria ser hereditária, para, assim, garantir que a próxima Esposa seria sua filha Ahmose-Nefertari, filha de Tao II e irmã27 esposa de Ahmose. A Estela que empossa Ahmose e Ahmose-Nefertari, como o "filho do rei mais velho", os mostra a frente do deus Amon-Ra, o senhor do trono do alto e baixo Egito e senhor do céu. Na mesma Estela, Ahmose-Nefertari diz o seguinte: A filha do rei, irmã do rei, a esposa do deus, grande esposa real, aquele para quem tudo o que ela diz é feito por ela, a principal sacerdotisa do Alto e do Baixo Egito, Ahmose-Nefertari, que ela possa viver! (BRYAN, 2003, p. 03) A linha sucessória das Esposas do Deus segue até 1397 a.C., passando por nomes célebres como Sit-Kamose, que provavelmente foi filha de Kamose, que pode ter sido a Esposa do Deus só postumamente. Ela é titulada como: “Esposa de Deus, Senhora das Duas Terras, Kamose, que ela possa viver” (DODSON, HILTON, 2004, p. 70). Após Sit-Kamose, sua sucessora foi Meryetamon que é filha de Ahmose e irmãesposa de Amonhotep I. Sua tumba foi encontrada nas colinas de Tebas e em seu sarcófago há uma inscrição identificando-a: O Rei dá uma bênção para Osíris, o Grande Deus, Senhor de Abidos, que pode causar a surgir na chamada, pão e cerveja, carne e aves, ataduras, incensos e unguentos e todas as coisas boas e puras em que um Deus vive, e do doce vento norte, para o espírito da filha do Rei e irmã, Esposa do Deus, grande esposa do rei, juntou-se à coroa de Senhora do Alto e Baixo Egito, Senhora das Duas Terras, Meryetamon verdadeiro de voz com Wesir. (DODSON, HILTON, 2004, p. 122) Seguindo a linha sucessória tem Sitamon: filha de Amosis e, possivelmente, representada como uma estátua colossal em frente do poste oito, em Karnak. Foi encontrada uma pulseira com a seguinte inscrição, de um lado: “Esposa Sitamon de Deus, amada de Amon”, do outro lado “A Mulher de Deus, amado de Amon-Ra”. Após esta, segue uma das mulheres mais famosas do Egito, Hatshepsut, filha de Tutmés I e da rainha Ahmose (DODSON, HILTON, 2004). Após Hatshepsut, houveram outras Esposas de Amon, sendo elas Neferure que é filha de Hatshepsut, Iset, Satiah, Merytre-Hatshepsut, Meritamon e, por fim, Tiaa que é esposa de Amonhotep II e mãe de Tutmés IV. Após estas, houve uma grande pausa, devido às mudanças políticas e religiosas ocorridas durante o reinado de Akhenaton. 28 O clero divino das Esposas de Amon só voltou novamente com a entronização de Ramsés I, primeiro faraó da XIX Dinastia. Ramsés, querendo ter controle sobre o mais alto clero de Amon, vai dar o cargo a sua Esposa, chamada Sitre, ao qual pode ter sido nomeada por Tiaa antes de seu marido subir ao trono. Seus títulos incluem: Esposa de Deus, esposa do grande rei, seu amado, Senhora do Alto e Baixo Egito (DODSON, HILTON, 2004). A partir de Sitre, a titulação segue conforme no passado, por hereditariedade, mantendo o cargo dentro da nobreza. No entanto, no reinado de Ramsés VI haverá uma mudança radical na forma que se obtinha o cargo de Esposa do Deus. Ramsés empossa não sua Esposa, mas, sim, sua própria filha chamada Aset impondo, ainda, uma condição para ela e para todas que iriam suceder no cargo, essa exigência é a permanência de sua virgindade. Esse fato pode ter ocorrido após o que aconteceu com Hatshepsut, pois o faraó quis eliminar a linha sucessora por hereditariedade das Esposas do Deus, para que, assim, elas não pudessem competir ao trono, igual aconteceu anteriormente. A princesa Aset necessitou adotar o celibato para honrar Amon como Esposa do Deus, o que se pode observar a partir dela é que esse fator foi adotado por todas as outras que receberam esse título. Esse voto teria que ser como um “celibato terrestre” que “nenhuma „conjunção morganática‟ jamais poderia perturbar” (NOBLECOURT, 1994, p. 140), ou seja, elas eram dedicadas unicamente para a Divindade, não tendo nenhum outro relacionamento a não ser com o Deus. Ainda, segundo Christian Jacq: as Divinas Adoradoras... não tomavam marido humano e não tinham filhos, a fim de se consagrarem exclusivamente ao serviço da divindade. Não sendo reclusas, passavam a maior parte do tempo no interior do templo de Amon em Karnak, onde todos os dias despertavam o poder do deus e mantinham a sua presença na Terra. (1998, p. 280). Isto também pode ter acontecido por não haver necessidade de se manter uma Rainha no serviço, que necessitava de uma dedicação cada vez mais exclusiva. Outro motivo, também pode ser o fato que os faraós não necessitavam mais impor sua soberania usando o mito da concepção divina. 29 A última nobre princesa a assumir o cargo sagrado foi Nitokris II, filha de Ahmose II, faraó da XXVI dinastia egípcia, que governou entre 570 e 526 a.C., na Época Baixa20. O fim do sacerdócio de Divina Esposa de Amon pode ter sido causado pelo baixo prestígio do culto amoniano nesta época, mas também pela invasão persa que aconteceu no reinado de Psamético III, irmão da princesa. Para Satisfazer o Deus Existiu uma extensa linha de rainhas e princesas que obtiveram o título de Esposa de Amon, no entanto, para se referir a elas, eram adotados outras importantes nomenclaturas, sendo que a de hemet-netjer, literalmente Servidora do Deus e, também, duat-netjer que é Adoradora de Deus, podendo aparecer todas as vezes onde estas mulheres são referidas. Por exemplo, nas várias titulações de Henut-taui que, em uma dessas, está como Mãe da Adoradora Divina de Amon, pois ela era mãe de Maatkaré. (ARAÚJO, 2006, p. 73). Neste caso, até mesmo as outras mulheres que estavam ligadas a esposa do deus também deveriam ser citadas. Outro título bastante peculiar e sugestivo recebido por elas era de djrt-ntjr ou “A Mão de Deus – A que regozija as carnes do deus, a que se une ao deus, a que se farta de ver Amon...” (NOBLECOURT, 1994, p. 146). É claro que essa nomenclatura está interligada ao mito da criação do universo, onde Amon-Kamutef se masturba criando, a partir disto, outros deuses que causam a ordem universal, ou seja, Ma’at. O termo Ma’at exerce uma importância muito grande na religiosidade egípcia, podendo ser tanto um nome e uma deusa, quanto um conceito. Todavia, a divindade, é apenas uma personificação desse conceito maior que numa tradução literal assume várias expressões como a verdade, justiça, ordem ou equilíbrio. Esta senhora na verdade está muito além do que outros deuses na mitologia egípcia, pois ela é uma das poucas deusas que foi cultuada em todas as épocas do Egito faraônico, bem como suas “funções e poderes” que não vai ser alterado nem modificado, assim, Camara afirma que tal deusa [...] costurou, pelo menos desde a terceira dinastia, a trama religiosa, política e social, de modo a possibilitar que o Estado egípcio fosse cultural e socialmente compreendido, ainda que apenas pela elite letrada, como o 'espelho de uma perfeita ordem cósmica' (2011, p. 18). 20 Época que antecede o Terceiro Período Intermediário, nos anos de 664 a 332 a.C. 30 A própria imagem de Amon-Ra busca o equilíbrio e é nesta perspectiva dualista que Amon torna-se a personificação do invisível ou oculto, enquanto Ra, o visível, o palpável, pois este é o Deus Sol. Assim, Amon-Ra se torna o principal mantenedor da política e de Ma’at, símbolo da ordem cósmica. Essa visão de conservador do equilíbrio e da ordem está descrito em um hino em adoração a Amon-Ra do final do Novo Império: Este deus sublime, o senhor de todos os deuses, Amon-Ra, senhor de Karnak, primeiro de Tebas, O augusto Ba, o primeiro que originou-se, O grande deus que vivi em Ma’at, O primeiro deus primordial que gerou os deuses primordiais, Ele de quem todos os deuses saíram, O único deus que se fez em milhões, O primeiro e único que criou os seres, Que criou o mundo no inicio, Misterioso de nascimento, rico em encarnação, cuja origem se faz desconhecida. (ASSMANN, 1996, p. 292) É fato que o principal papel das Divinas Adoradoras era satisfazer sexualmente Amon para, assim, manter a ordem universal que Ele estabeleceu no Zep-Tepi, não deixando que o Egito, nem o resto do mundo, caia novamente no caos. Esse papel sexual era praticado por todas as Esposas do Deus. Nesse sentido, nada havia mudado com relação a rainha Ahhotep I a princesa Nitrokris II, esse papel estava além de qualquer outro humano. Para compreender esse serviço, é necessário observar as engrenagens simbólicas do ato e o Mito da Criação é a maior chave para isso. Amon criou o universo a partir de “atos sexuais”: ejacular no ovo cósmico, ou a masturbação, ambos os atos fornecem a base do que essas mulheres deveriam fazer dentro do templo. Ayad explica que essa tarefa não é fácil, pois “existem poucos achados arqueológicos que demonstram o que acontecia de fato no interior dos templos” (2009, p. 63). É relevante expor que a imagem cultuada pelas hemet-netjer era a do AmonKamutef, ou seja, a imagem itifálica do deus, a mesma que era exposta no grande Festival de Opet, no qual as Esposas do Deus eram personagens indispensáveis a serem reverenciadas, pois como o festival era em honra aos poderes de fertilidade de Amon, 31 suas Esposas eram as principais servas incumbidas para esta função divina. Assim, o papel dessas mulheres é estimular a divindade sexualmente, por meios de ritos e encenações sexuais, para que Amon estivesse sempre satisfeito. É interessante observar que “a sexualidade é os códigos sexuais são símbolos religiosos” (EL-QUAMID, TOLEDANO, 2007, p. 14) e são essas simbologias sexuais que faziam a diferença nos ritos praticados dentro dos templos e nos festivais de fertilidade do deus Amon. Como já foi dito, o título de djrt-ntjr era o mais comum a ser utilizado ao se referir Esposas de Amon, isto porque elas faziam referência a Mão que Amon havia se masturbado. Essa palavra é compreendida pela simbologia egípcia em que “a mão na língua egípcia, é descrita como uma palavra feminina” (GRAVES-BROWN, 2010, p. 89). Assim, esse membro que Amon usa para masturbar-se é o princípio feminino, às vezes, indicado com a deusa Mut, que por vezes também é descrita como a Mão de Amon. Na linguagem egípcia é abundante o “caráter erótico dos textos, em formas simbólicas e metafóricas, como por exemplo: „ela segura a lança em sua mão‟, „ela toca a harpa que é o corpo dela‟, „ela segura a flauta‟, „o céu e a terra se encontram‟” (ELQUAMID, TOLEDANO, 2007, p. 27). Para satisfazer o Deus, as Esposas de Amon usavam diversos artifícios de caráter eróticos que pudessem mover a força e a libido de Amon. Para encontrar esses recursos, a compreensão dos símbolos sexuais que os egípcios usavam em atos sexuais é primordial, pois são esses mesmos que foram usados nas práticas ritualísticas que as Divinas Adoradoras sabiamente usavam. Previamente, as mulheres do Harém de Amon faziam oferendas de flores, principalmente a flor sagrada de lótus, comumente associada ao sexo pelo fato que essa, além de perfumar o local, também tinha um efeito alucinógeno, o uso desse artifício pode ser encontrado até mesmo no famoso Papiro Erótico de Turim21. Em Karnak, as flores eram uma oferenda em especial ao Deus Amon-Kamutef que “era a divindade que criou a si mesmo” (AYAD, 2009, p. 45). Os textos descrevem que uma das “principais oferendas a Amon, são flores, de preferência a lótus” (REDFORD, 2001, p. 543), que é possível relacionar ao Mito da Criação narrado no templo de Khonsu, mencionando que foi desta flor que Amon nasceu. Essa preferência específica e por outras flores em geral está amplamente difundida pelos diversos afrescos espalhados tanto em tumbas quanto 21 Trata-se de um papiro de 2,59 metros, feito na época de ramésida e encontrado próximo a Tebas por volta do século XVI a.C. O papiro retrata os aspectos sexuais da época no antigo Egito (EL-QUAMID; TOLEDANO. 2007: 51. 32 nos templos onde faraós ou sacerdotes ofertavam a Amon, buquês e arranjos (WILKINSON, 2000). A flor também é um componente principal em atos sexuais e é ainda ligada ao amor. As Esposas de Amon por vezes são mostradas ofertando-a a Amon, como pode-se ser atestar numa imagem de Maatkare (Ver imagem 04) no Templo de Karnak. Imagem 04 – Maatkaré ofertando flores e usando o Sistrum Fonte: Lepsius, 2013 É fato que quem faria esses rituais não era somente a Esposa de Amon, sendo que a principal e a líder desse clero tinha que ser uma nobre. No entanto, existem textos que fazem referência a um Harém de Amon, podendo ser interpretado como um grupo de mulheres que faziam esses ritos sexuais para Amon. Contudo, seus nomes não foram marcados na história, pois tudo indica que essas mulheres não eram nobres e, assim, não se pode classificá-las (AYAD, 2009). Em suas imagens, pode-se observar que as Esposas do Deus sempre estavam com grandes e ricas perucas, muito enfeitadas, que apesar desse utensílio ser de uso normal na sociedade egípcia, uma vez que eles cortavam o cabelo para não ter piolhos, era um grande recurso erótico, quando os cabelos estavam perfumados. Outra simbologia sexual usada por estas mulheres era o Sistrum, instrumento musical dedicado ao deus do amor Hethert, deusa do amor, da dança e do prazer, que era comumente tocado na hora das relações sexuais. Pode-se observar estas cenas em 33 colunas do Templo de Karnak, onde esta escrito “Toque o Sistrum <para>... ele AmonRa o rei dos deuses. Faça isto para Ele lhe dar vida” (TEETER, 2009, p. 11). Várias Esposas de Amon foram retratadas sempre com esse instrumento na mão, como pode-se ver nas imagens da princesa Maatkare (ver imagem 04). Símbolo da deusa do amor, da fertilidade e da música, o Sistrum é o símbolo erótico mais usado, Lise Manniche vai citá-lo como “o instrumento do amor”, sendo que ele é um chocalho sagrado que junto com o menat que é um contrapeso de um colar, “eram usados em ritos realizados nos templos, e também pelos simples mortais, como voto de felicidade e de fertilidade” (MANNICHE, 1990, p. 45) A música sempre esteve ligada ao culto sexual a Amon, pois um outro título recebido pelas Esposas era a de Cantora de Amon, atribuído por muitas, inclusive por Meresamon, uma importante Esposa do Deus, da XXII Dinastia. Outro elemento comumente usado pelas Adoradoras de Amon era o cetro Was e o símbolo Ankh. O primeiro é o símbolo de poder real, não uma força comum, mas uma dada pelos deuses sobre toda forma de vida, usada comumente somente por faraós ou deuses. Já o segundo (ver imagem 05), é uma cruz com laço que simboliza vida eterna, também usada somente por faraós e deuses (AYAD, 2009). Imagem 05 – Ahmose-Nefertari (primeira personagem da esquerda) segurando a Ankh em sua mão Fonte: Lepsius, 2013 As Esposas do Deus tinham grandes poderes que muitas vezes era concedido somente ao faraó, poderes tantos espirituais quanto políticos, elas ordenavam a construção de templos como também os consagravam à divindade. Elas ainda tinham muitos funcionários ao seu dispor e ainda eram proprietárias de vários bens. Por isso, 34 muitas poderiam ser grande ameaça aos poderes do faraó, pois poderiam facilmente usurpar o trono do rei, assim como fez Hatshepsut, na XVIII Dinastia. Já símbolo da Vida, a Ankh, mostrava que a Divina Adorada estava além dos poderes terrestres, eram mulheres que tinham poder no além vida ou no plano espiritual, exatamente por esse contato próximo e pessoal que elas tinham com a divindade. De fato, esse contato íntimo com o deus rendeu a essas mulheres um status bem próximo de deusas, tal como o status de deus que o faraó possuía. Esses símbolos mostram muito do poder que essas mulheres tinham e ainda mais sua proximidade sexual com o deus Amon, que é muito expressada em diversas capelas construídas a mando delas, ao norte do grande templo de Karnak, na região onde foram consagradas as capelas na forma itifálica de Amon, que mostra estas Esposas em poses íntimas com Amon, onde pode-se observar a hemet-netjer, chamada de Amunirdis II, abraçando Amon e ele espremendo seu corpo contra o dela e colocando sua perna entre as pernas da mulher sagrada, uma pose extremamente erótica na arte egípcia (ver imagem 06). Estas mulheres eram agraciadas pelo deus, pois numa outra capela nota-se na imagem Amon tocando sua boca com uma Ankh, ao mesmo tempo que lhes dá nas mãos outras três, lhe entregando o poder sobre a vida. 35 Imagem 06: Amunirdis II sendo abraçada por Amon Fonte: TEETER, 2009, p. 17 Não só pelo fato de pertencer à nobreza, mas as Esposas de Amon foram retratadas com o mais rico em roupas, jóias ou perucas que o Egito poderia dar a elas, suas imagens são retratas de forma muito elegante, pois elas, de fato, eram vestidas como deusas. Suas imagens recebem vários símbolos, tanto da deusa Mut quanto do próprio Amon, símbolos estes que muitas vezes são dedicados somente a essas mulheres. Assim como Mut, elas carregavam em suas cabeças a coroa de Nebhbet, a deusa abutre que representa o Alto Egito, usado também pelas rainhas, eram retratadas ainda com roupas dedicadas somente ao mais alto escalão social egípcio, como vestes de linho puro que acentuavam as formas de seus corpos. Elas foram retratadas também com a coroa dupla, como expressão de poder no alto e baixo Egito, pois se compreende que estas mulheres poderiam facilmente ser vistas como co-regentes de faraós. Como 36 símbolo amoniano, elas poderiam ser retratadas com as duas plumas (AYAD, 2009). Estas plumas que ornamenta a cabeça das Esposas do Deus está ligada a força do vento e do ar ao qual Amon foi primeiramente representado, pois o poder de Amon é sentido, mas jamais pode ser visto. Considerações Finais A sexualidade na antiguidade não era tratada como algo impuro ou apenas com finalidade de reprodução, mas como algo divino, pois os Deuses tinham atividade sexual. Os romanos e os gregos saíram na frente em demonstrar com explícita clareza suas relações sexuais em suas diversas obras de arte. Essa visão, enfatizada ainda mais depois do Renascimento, pois os gregos e romanos passaram a ser exemplo de liberdade sexual, deve-se ao fato que sua religiosidade estava condizente com suas práticas, pois como os humanos, os deuses também tinham práticas eróticas. Assim, as pessoas estariam tornando esse comportamento sagrado e fundamentado pela religiosidade para aperfeiçoar a compreensão desse ato, Clifford Geertz afirma que “a religião apoia uma conduta satisfatória retratando um mundo no qual essa conduta é apenas o senso comum” (GEERTZ, 1989, p. 95). No caso do Egito Antigo, essa retração perante o sexo não foi menos diferente das outras sociedades da antiguidade, no entanto, ainda existe bastante dificuldade em analisar vários assuntos relacionados ao sexo. Algumas vezes, essas barreiras são quebradas diante de alguns assuntos que começam a ser abordados no século XX, como por exemplo, sobre a Mulher e sua importância na sociedade egípcia, como pode-se constatar, está muito a frente de outras sociedades contemporâneas aos egípcios, a mulher tinha seu espaço reservado e respeitado, não abaixo do homem, mas em igual posição (OLIVEIRA, 2005). Outros assuntos, no entanto, recebem pouca atenção, que é o caso da Homossexualidade no Egito Antigo22, que ainda há muito para ser discutido e esclarecido. Em relação à sexualidade egípcia, ainda se tem impedimentos para esclarecer alguns fatores, tanto pela dificuldade em decifrar certos códigos, símbolos e metáforas, quanto pelo fato do tabu imposto por certos egiptólogos em não querer ver o Egito 22 Ver: PARKINSON, R. B. Homosexual desire and middle kingdom literature. In: The Journal of Egyptian Archaeology, v. 81, 1985. P. 57-76 37 como uma sociedade que o sexo poderia, sim, fazer parte da sociedade puritana sem ser vulgar. Como é possível observar ver no fato do pai da egiptologia, Champollion23, que se referiu ao Papiro de Turim, como "monstruosa obscenidade" que não era digna dos egípcios. (JANAÁK, 2009, p. 63-70). Esta ideologia equivocada do sexo como algo impuro é desconstruída quando se depara com as Esposas de Amon, mulheres dedicadas à satisfação sexual de uma divindade. O que pode, de certo, parecer estranho à cultura ocidental judaico-cristã, no entanto, numa mentalidade impregnada no povo do antigo Egito, onde o universo fora criado a partir de um ato sexual, isto era necessário para a vida continuar a existir, ou seja, o sexo fazia parte da vida. Longe de uma visão pecaminosa do sexo, os egípcios observaram a vida como um grande milagre, causado pela Heka, nome que os egípcios davam à força que mantinha o equilíbrio cósmico, que muitas vezes é traduzido como magia, e à qual eles concebiam como a força criada para mudar a realidade. Nos Ensinamento para Merikarê ver-se que “o Criador deu ao homem a magia para repelir o efeito fulgurante do que acontece inesperadamente” (JACQ, 2001, p. 14) De fato, os egípcios jamais estiveram longe de deus, o povo estava próximo a tal ponto que o mundo físico e o mundo espiritual se juntam até mesmo em um simples ritual, dando aos humanos o milagre de poder dançar, cantar, comungar e, até mesmo como as Esposas de Amon, de fazer amor com o deus. Estas mulheres, além de quebrar um tabu sobre o ato sexual, também quebram o conceito de poder masculino na antiguidade, pois elas possuíam poderes que se equiparavam ao faraó ou até mesmo, em certos casos espirituais, ultrapassavam seus poderes. As Divinas Adoradoras, vistas como deusas encarnadas, ficavam com o mais precioso poder, que era satisfazer a divindade que construiu o universo. Elas entregaram seus corpos e sua vida à divindade, tanto por amor ao deus, como para com seu povo e ao mundo, pois seus corpos serviam como alimento para o bau24 de Amon e, assim, Ele sempre poderia manter a vida no universo com seu fluído sexual divino. Assim, Karnak como morada do Grande Deus Amon, foi palco de uma grande ascensão espiritual de mulheres que tinham um poder político e espiritual ainda 23 Jean-François Champollion, nasceu em Figeac no dia 23 de Dezembro de 1790 e morreu em Paris no dia 4 de Março de 1832. Foi um linguista e egiptólogo francês. Considerado o pai da egiptologia, a ele se deve a decifração dos hieróglifos egípcios. 24 Ba é o equivalente a alma para o egípcios. Os humanos tinham apenar um Ba, enquanto os deuses, como seres magníficos e de muitas formas e nomes, tinham vários Ba, que no plural, se transforma Bau que é a parte da divindade que se alimenta com oferendas prestadas pelos humanos. 38 inimaginável e, também, pouco explorado pelos estudiosos, seus olhares singelos e sua postura divinal ainda tem muito que mostrar ao homem, pois seu poder ainda ecoa nas altas colunas de Karnak – as maiores já construídas no mundo – onde o Amon, o Oculto, tornou divino o prazer. Referencias Bibliográficas ARAÚJO, Emanuel Oliveira. Escrito para eternidade. A literatura no Egito Faraônico. Brasília: UNB, 2000. ARAÚJO, Luís M. Henut-taui: uma dama do antigo Egito. In: Estudos em homenagem ao professor Doutor José Amadeu Coelho Dias/org. Departamento de Ciências e Técnicas do Patrimônio, Departamento de História. 2 vols.. Porto: Faculdade de Letras da Universidade de Porto, 2006. ASSMANN, Jan. 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