CartaparaÉlida_MarthaRodrigues

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Oi Elida
Como não poderei comparecer a reunião estou te enviando um
“testemunho” sobre a experiência em participar do seminário de humanização.
Diferente dos demais seminários onde tudo é muito formal, neste havia
alegria e informalidade presente até na área física, que sendo em forma de
arena deixava o ambiente mais intimista e amigável.
A música sempre presente, a conversa que acontecia nas
arquibancadas que às vezes chegava a atrapalhar, a diversidade de sotaques,
enfim tudo contribuía para uma visão deste Brasil que se manifestava ali com
suas cores e musicalidade e apesar da aparente desordem havia uma força
muito grande tipo uma fé quase religiosa dos seguidores SUS.
Parecia um comício onde a cada palavra de ordem defendendo,
acreditando, reafirmando fazia o povo gritar, aplaudir, se manifestar. Era o
showSUS.
Lembrei então de um tempo em que eu participava, acreditava e me
sentia capaz de prosseguir lutando por política limpa, com políticos limpos e
que eleição após eleição foi apagando o “sonho” dentro de mim.
Mas esta experiência com o seminário fez acordar “o coração
adormecido”.
O SUS existe sim, tá ali na constituição e para mim é um dos textos mais
bonitos que já li. Volta e meia eu releio prá dar um gás, dá uma aquecida no
coração.
Como sempre trabalhei em hospital público de grande porte, parece que
prá nós o SUS não existe. Isto é para o pessoal do posto de saúde, do tal PSF.
Trabalhamos com tecnologia pesada entendeu? Esse negócio de inclusão,
equidade, acolhimento não tem espaço não. O importante é não faltar
antibiótico, equipamento funcionando e roupa de cama. Não temos tempo para
firulas. Não temos tempo para conversar com o doente, pois são muitos e
temos hora pra tudo. Um modelo que ao qual nos enquadramos e que acaba
sendo um escudo de proteção e às vezes de omissão.
Mas Deus é pai e muito generoso. Com a inclusão do SUS nos
programas dos concursos, não há atualmente profissional de saúde que não
tenha entrado em contato com a legislação do SUS. O vírus do SUS me
infectou e o tratamento foi “aprender”, recomeçar, desconstruir a visão
hospitalocêntrica e entrar num novo mundo prá mim.
O SUS não entra na grade do curriculum nas universidades ou não
entrava. Sei que algumas instituições estão inserindo, mas às vezes é eletiva.
Através de Maria conheci Élida que conhecia o HumanizaSUS que a
Maria também conhecia e que a Martha passou a conhecer.
Através da você e da Maria fui parar em Brasília. Estou ainda me
apropriando deste novo conteúdo, que para mim, é um movimento bem
estruturado de sensibilização quanto ao respeito e dignidade que queremos
para o SUS e para todos nós, cidadãos.
No seminário entrei em contato com experiências compartilhadas por
participantes de todo o Brasil. Vi um movimento forte e sério. Conquistas
progressivas e criativas. O cai e levanta. O desiste e recomeça, mas ninguém
dizendo que não vale a pena.
O que apreendi é que a “luta” não é apenas pelo SUS ou pela PNH, ela
é muito mais ampla. A luta é por nós mesmos que precisamos e acreditamos
que podemos construir um viver coletivo e criativo, com respeito e gentileza.
Enfim foi uma experiência acalentadora e muito promissora.
Martha Vieira Rodrigues, enfermeira, IPEC/Fiocruz
Rio de Janeiro, agosto de 2009
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