http://pibnet.com.br/pib/index.php?option=com_k2&view=itemlist&layout=category&task=category&id=7&Itemi d=140 Semana 19 - 06/05/2012 a 12/05/2012 Câncer, o mal do século, ou será o tabaco um câncer para a humanidade? Por Letícia Baoli Atualmente, o câncer é a segunda causa de morte por doença, no Brasil. Somente na Região Nordeste, ele representa a terceira causa de morte pela doença. Nas demais regiões, segue-se as doenças cardiovasculares, como causa de morte, com incidência maior na Região Sul. Os motivos que levam ao grande número de casos são o aumento da expectativa de vida da população em geral, associada a maior exposição a fatores de risco. O tipo de câncer que mais cresce é o de pulmão, em consequência da propagação do hábito de fumar. Já foi chique tragar. Lembro-me de certa vez, um amigo comentando o quanto ele achava elegante algumas mulheres fumarem. Ele dizia: “Eu não fumo, minha mulher não gosta. Eu digo a minha esposa o quanto acho elegante, mas ela nem de longe gosta de cigarros.” Esta história eu ouvi já tem cerca de 12 anos. Ela pode parecer meio maluca, mas houve um tempo em que fumar era modinha e por isso, virou símbolo da elegância e do glamour. Ainda nos dias de hoje, não é raro, encontrarmos quem incentive ao fumo. As próprias prateleiras de padarias e supermercados oferecem “N” opções. As propagandas do produto foram banidas em todas as mídias, desde o ano de 2000 e não fosse isso, ainda nos depararíamos com uma infinidade de divertidos – e às vezes chocantes – anúncios de cigarros que veiculavam um conteúdo que indicava claramente que fumar fazia bem à saúde. Para as mocinhas e mocinhos adeptos desta modinha, uma dica: o cigarro está fora de moda e dentro das estatísticas fatais. Em 25 anos, o fumo virou vilão da saúde. Pelo menos um bilhão de pessoas devem morrer por uso e exposição ao fumo até o final deste século, é o que apresentou o relatório da Fundação Mundial do Pulmão e da Sociedade Americana do Câncer. O número equivale a uma morte a cada 6 segundos. Apesar de todas as medidas restritivas tomadas no mundo, na última década as mortes pelo uso de tabaco triplicaram, chegando a 50 milhões. Dados deste relatório mostraram que somente em 2011, 6 milhões de pessoas morreram, sendo 80% delas em países pobres e em desenvolvimento. De acordo com a Fundação Mundial do Pulmão, o cigarro e outros derivados de tabaco são responsáveis por 15% das mortes de homens em todo o mundo e 7% entre as mulheres. CÂNCERES NO BRASIL - Sete novas localizações de câncer entraram no ranking dos tumores mais frequentes do país. As informações fazem parte da publicação Estimativa 2012 – Incidência de Câncer no Brasil, que a Instituição lançou em novembro do ano passado. Desconsiderando o câncer de pele não melanoma - tumor com baixa letalidade entre o sexo masculino o câncer de próstata permanecerá como o mais comum, seguido pelo de pulmão, cólon e reto, estômago, cavidade oral, laringe e bexiga. Já nas mulheres, a glândula tireoide, de modo inédito, aparece no quinto lugar geral, atrás do câncer de pele não melanoma, mama, colo do útero, cólon e reto. Na sequência, vêm os tumores de pulmão, estômago e ovário. Ainda que as estatísticas atuais comprovem que os homens adoecem e morrem mais cedo em relação às mulheres, os números estimados de casos novos de câncer são bem semelhantes para ambos os sexos: cerca de 260 mil. O fato se deve, em parte, pela população feminina, na faixa etária acima do 50 anos (idade de mais risco da doença) ser maior do que a masculina. Hoje, há no Brasil, acima dos 50 anos, 21 milhões de mulheres e 17 milhões de homens, de acordo com o Censo Demográfico 2010, do IBGE. Nos países de baixa e média renda, a incidência de alguns tipos de câncer é maior. O câncer que atinge a traqueia, os brônquios e o pulmão, relacionado ao consumo de tabaco, foi o que mais matou nesses países no ano passado, tirando a vida de 770 mil pessoas. O câncer de estômago surge em segundo lugar, com 695 mil vítimas e o de esôfago, em terceiro lugar, surge com 379 mil mortes. A quarta forma mais letal do câncer é o de cólon e reto, com 356 mil vitimas. Em quinto lugar aparece o câncer de mama, com 317 mil mortes registradas. O sexto tipo de câncer mais letal é o de boca e faringe, com 271 mil vitimas. CIGARRO: UM FATOR DE ALTO RISCO O Sr. Evanor Brito, de 52 anos, esteve entre um dos tipos de cânceres que mais matam. Contudo, um diagnóstico em tempo, favoreceu o seu tratamento. Ele conta que foi fumante por 10 anos. Parou de fumar há 27 e em abril deste ano, retirou um carcinoma de sua bexiga. “O resultado foi negativo para infiltração tumoral. Ficou constatado que o tumor foi causado pelo cigarro de 27 anos atrás”, contou Brito, que também é um dos participantes da série do Fantástico, “Brasil sem cigarro”, um programa proposto pela TV Globo, por iniciativa do oncologista, Dr. Dráuzeo Varella. Ações de promoção da saúde, diagnóstico precoce e a ampliação do acesso aos serviços favorecem a longevidade. Segundo o coordenador de ações estratégicas do INCA, Claudio Noronha, quanto mais velha é uma população, maior são as chances de alguns tipos de câncer surgirem. Aproximadamente 4700 substâncias são encontradas no fumo das quais, cerca de 50 são carcinogênicas, ou seja, provocam o câncer. Para o ano de 2012, os alertam, que, se os brasileiros continuarem no mesmo ritmo de consumo ao cigarro, os números de óbitos continuarão alarmantes. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, o INCA, em um estudo para 2012-2013, aponta que, no Brasil, por ano, 520 mil brasileiros tenham câncer. FUMO NO BRASIL - De acordo com a Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq), o Brasil é o segundo produtor mundial de fumo em folha, ficando atrás somente da China. A Região Sul se destaca por concentrar a maior parte da produção de fumo do país. “O Sul do Brasil concentra a maior parte de produtores de fumo. O fato pode estar diretamente relacionado ao alto consumo de derivados do tabaco, fazendo com que a região sofra com os altos índices de incidência de câncer de pulmão”, diz o pneumologista da Divisão de Controle de Tabagismo do INCA, Ricardo Meirelles. FORÇA DE VONTADE Diante de tantos malefícios, o Sr. José Carlos, também participante do programa “Brasil sem cigarro”, tomou uma dose de consciência e começou a se tratar. A sua luta não é fácil, porém, ele persevera. Conheceu a nicotina aos 13 anos de idade e fumou durante 17 anos. Fumava em torno de 1,5 a 2 maços/dia. Ele relata que na véspera do nascimento de sua filha mais velha largou o cigarro muito motivado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de cada mil pessoas que tentam parar de fumar pela primeira vez, 17,2% conseguem largar o vício, mas 82,8% falham. Muitos continuam tentando até conseguirem, outros desistem. Calcula-se que, de todos os fumantes, 60% já tentaram parar de fumar pelo menos uma vez, principalmente aqueles com maior acesso à informação. “Cinco anos depois eu ainda sonhava com cigarro as vezes, apesar de conviver com pessoas que fumavam e suportar isso sem grandes sacrifícios. Então acreditei que tinha dominado o vício e num dia descontraído fumei aquele que seria só um cigarrinho. Depois eu largo, pensei. No outro dia eu estava comprando só pra deixar dentro do carro e fumar um de vez enquando, dois dias depois eles estavam no meu bolso e na minha cabeça o tempo todo. Fumei mais 3 anos aproximadamente, engordei um absurdo e me tornei uma pessoa nervosa”, conta José Carlos De acordo com a pneumologista Maria Eunice Souza, vários são os fatores que influenciam para o fracasso do fumante, como o estresse, as propagandas, a facilidade de adquirir o produto, associações psicológicas com prazeres como boas refeições, bebidas ou músicas, por exemplo. "A forma de largar o cigarro depende muito da personalidade da pessoa e do seu nível de dependência", explica a pneumologista. "Para todos, porém, é recomendável o acompanhamento médico durante o processo, pois os sintomas da abstinência, como a insônia, a irritabilidade e as dores de cabeça podem ser muito intensos". José Carlos está neste processo. Hoje, pratica atividades físicas com regularidade, pedala 14 km duas vezes/semana, caminha durante uma hora/dia intercalado com corrida e faz musculação 3 vezes/semana. “Já emagreci 28 kg e estou a 6 meses sem fumar. Se Deus me permitir eu nunca mais caio nessa, hoje tenho 40 anos e nunca, em toda minha vida me senti tão bem”, se alegra. COLUNA/BOX Medidas para a diminuição do uso do tabaco Na Austrália, nem a marca pode aparecer no maço. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou por unanimidade, em 16 de março deste ano, a resolução que proíbe o uso de aditivos que dão sabor a produtos derivados de tabaco, como mentol, chocolate e cravo. Essa é a medida mais recente tomada pelas autoridades do País na luta contra o fumo. Se antes a indústria tabagista conseguia, numa incrível manobra de construção de imagem, associar o cigarro à sedução e ao poder, hoje a sociedade civil, profissionais da saúde e o poder público unem forças para controlar e reduzir a epidemia do tabagismo. “Nossa ação terá um impacto direto na redução da iniciação de novos fumantes, já que esses aditivos têm como objetivo principal tornar os produtos derivados do tabaco mais atraentes para crianças e adolescentes” — afirma o diretor da Anvisa Agenor Álvares, relator da proposta. A Anvisa ainda proibiu o uso de expressões como “baixo teor”, “alto teor”, “light”, “soft”, “leve”, “suave”, entre outras, nas embalagens. Segundo a agência, esses termos podem induzir o consumidor a uma “interpretação equivocada” a respeito da composição do produto. BOX Doenças que se associam ao tabaco Além de as doenças mais sutis à saúde como cansaço, falta de ar, insônia, envelhecimento precoce, amarelamento dos dentes, os fumantes, mesmo os passivos, têm risco de desenvolverem as seguintes doenças: Coronariana (como angina e infarto): o tabagismo é responsável por 45% das mortes entre homens e 40% entre mulheres, com menos de 65 anos, por doença coronariana. Problemas circulatórios: os fumantes têm um elevado fator de risco de desenvolver arteriosclerose, envolvendo as artérias da perna, o que leva a dores, dificuldade em caminhar, podendo chegar a gangrena e amputação. Aneurisma da aorta: é uma dilatação anormal da aorta, podendo levar ao seu rompimento. O desenvolvimento de aneurisma da aorta abdominal é mais comum entre fumantes. Aneurismas podem ocorrer também no cérebro, coração, intestino e outras partes do corpo. Câncer de pulmão: 90% dos casos de câncer de pulmão são em fumantes. O câncer de pulmão é uma doença altamente letal – apenas um pequeno número de pacientes consegue sobreviver por 5 anos após o diagnóstico. Câncer da boca, traqueia, cavidade oral, faringe, laringe e esôfago: cânceres da cavidade oral são fortemente associados ao tabagismo, principalmente ao uso de charutos e de fumo mascável. Câncer no pâncreas: fumantes e usuários de fumo mascável têm risco maior de desenvolver câncer no pâncreas do que não fumantes. O câncer no pâncreas ocorre devido principalmente à presença de nitrosaminas na fumaça e no tabaco. Câncer nos rins: evidências científicas sugerem a associação entre o fumo e o câncer nos rins, devido ao acúmulo de cádmio maior nos rins de fumantes do que dos não fumantes. Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC): doença que diminui a capacidade de respirar. No Brasil ocupa a 5ª posição em causa de morte e 290 mil pacientes são internados anualmente. O fumo é a principal causa da DPOC: 90% dos casos são de fumantes ou ex-fumantes. Colesterol alto: fumantes tendem a ter os níveis de HDL (colesterol bom) menores e níveis mais elevados de LDL (colesterol ruim). Com isso, aumenta o risco de formação de plaquetas e entupimento das artérias. Problemas gastrointestinais: úlceras pépticas, que são lesões localizadas no estômago ou duodeno com destruição da mucosa da parede destes órgãos. Impotência sexual no homem: o risco de disfunção erétil é maior em fumantes do que em não fumantes. Isso ocorre provavelmente devido à nicotina, que reduz o fluxo sanguíneo para o pênis, por constrição das artérias. BOX Teste o seu grau de dependência à nicotina Elaborado na década de 70 pelo médico dinamarquês Karl Fagerström, este teste é usado até hoje pelos especialistas para medir o grau de dependência dos fumantes. Descubra qual é o seu, somando os pontos de cada alternativa anotada. 1. Quanto tempo após acordar costuma dar o primeiro trago? a) Nos primeiros 5 minutos - 3 pontos b) Entre 6 e 30 minutos - 2 pontos c) Entre 31 e 60 minutos - 1 ponto d) Mais de 60 minutos - o ponto 2. Acha difícil não poder fumar em locais proibidos? a) Sim - 1 ponto b) Não - 0 Ponto 3. Qual o cigarro do dia que lhe proporciona mais satisfação? a) O primeiro da manhã - 1 ponto b) Qualquer outro - 0 ponto 4. Quantos cigarros você fuma diariamente? a) 10 cigarros ou menos - 0 ponto b) De 11 a 20 - 1 ponto c) De 21 a 30 - 2 pontos d) 31 ou mais - 3 pontos 5. Fuma mais cigarros pela manhã do que no restante do dia? a) Sim - 1 ponto b) Não - 0 ponto 6. Consegue ficar sem fumar se estiver doente? a) Sim - 0 ponto b) Não - 1 ponto RESULTADO: Até 4 pontos: Grau baixo de dependência Se você se encaixou neste grupo, saiba que sua força de vontade é uma poderosa arma. Mesmo sem o uso de medicamentos, é possível largar de vez o cigarro. 5 pontos: Grau moderado de dependência O seu organismo já está acostumado com a presença da nicotina. Para deixar de fumar, sua garra pode não ser suficiente. Por isso, em alguns casos, o uso de medicamentos será fundamental. O melhor a fazer é procurar um médico. 6 a 10 pontos: Grau elevado de dependência Sua dependência à nicotina atingiu um nível bem elevado. Sem a ajuda médica dificilmente você terá êxito. É preciso um tratamento controlado, inclusive com o uso de remédios específicos para conter a síndrome de abstinência. Fonte: Sérgio Ricardo, pneumologista do PrevFumo, Núcleo de Apoio ao Fumante da Unifesp