Câncer, o mal do século, ou será o tabaco um câncer para a

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Semana 19 - 06/05/2012 a 12/05/2012
Câncer, o mal do século, ou será o tabaco um câncer para a humanidade?
Por Letícia Baoli
Atualmente, o câncer é a segunda causa de morte por doença, no Brasil. Somente na Região Nordeste, ele
representa a terceira causa de morte pela doença. Nas demais regiões, segue-se as doenças
cardiovasculares, como causa de morte, com incidência maior na Região Sul. Os motivos que levam ao
grande número de casos são o aumento da expectativa de vida da população em geral, associada a maior
exposição a fatores de risco. O tipo de câncer que mais cresce é o de pulmão, em consequência da
propagação do hábito de fumar.
Já foi chique tragar. Lembro-me de certa vez, um amigo comentando o quanto ele achava elegante
algumas mulheres fumarem. Ele dizia: “Eu não fumo, minha mulher não gosta. Eu digo a minha esposa o
quanto acho elegante, mas ela nem de longe gosta de cigarros.” Esta história eu ouvi já tem cerca de 12
anos. Ela pode parecer meio maluca, mas houve um tempo em que fumar era modinha e por isso, virou
símbolo da elegância e do glamour. Ainda nos dias de hoje, não é raro, encontrarmos quem incentive ao
fumo. As próprias prateleiras de padarias e supermercados oferecem “N” opções. As propagandas do
produto foram banidas em todas as mídias, desde o ano de 2000 e não fosse isso, ainda nos depararíamos
com uma infinidade de divertidos – e às vezes chocantes – anúncios de cigarros que veiculavam um
conteúdo que indicava claramente que fumar fazia bem à saúde.
Para as mocinhas e mocinhos adeptos desta modinha, uma dica: o cigarro está fora de moda e
dentro das estatísticas fatais.
Em 25 anos, o fumo virou vilão da saúde. Pelo menos um bilhão de pessoas devem morrer por uso
e exposição ao fumo até o final deste século, é o que apresentou o relatório da Fundação Mundial do
Pulmão e da Sociedade Americana do Câncer. O número equivale a uma morte a cada 6 segundos. Apesar
de todas as medidas restritivas tomadas no mundo, na última década as mortes pelo uso de tabaco
triplicaram, chegando a 50 milhões. Dados deste relatório mostraram que somente em 2011, 6 milhões de
pessoas morreram, sendo 80% delas em países pobres e em desenvolvimento. De acordo com a
Fundação Mundial do Pulmão, o cigarro e outros derivados de tabaco são responsáveis por 15% das mortes
de homens em todo o mundo e 7% entre as mulheres.
CÂNCERES NO BRASIL - Sete novas localizações de câncer entraram no ranking dos tumores mais
frequentes do país. As informações fazem parte da publicação Estimativa 2012 – Incidência de Câncer no
Brasil, que a Instituição lançou em novembro do ano passado. Desconsiderando o câncer de pele não
melanoma - tumor com baixa letalidade entre o sexo masculino o câncer de próstata permanecerá como o
mais comum, seguido pelo de pulmão, cólon e reto, estômago, cavidade oral, laringe e bexiga. Já nas
mulheres, a glândula tireoide, de modo inédito, aparece no quinto lugar geral, atrás do câncer de pele não
melanoma, mama, colo do útero, cólon e reto. Na sequência, vêm os tumores de pulmão, estômago e
ovário.
Ainda que as estatísticas atuais comprovem que os homens adoecem e morrem mais cedo em
relação às mulheres, os números estimados de casos novos de câncer são bem semelhantes para ambos
os sexos: cerca de 260 mil. O fato se deve, em parte, pela população feminina, na faixa etária acima do 50
anos (idade de mais risco da doença) ser maior do que a masculina. Hoje, há no Brasil, acima dos 50 anos,
21 milhões de mulheres e 17 milhões de homens, de acordo com o Censo Demográfico 2010, do IBGE.
Nos países de baixa e média renda, a incidência de alguns tipos de câncer é maior. O câncer que
atinge a traqueia, os brônquios e o pulmão, relacionado ao consumo de tabaco, foi o que mais matou
nesses países no ano passado, tirando a vida de 770 mil pessoas. O câncer de estômago surge em
segundo lugar, com 695 mil vítimas e o de esôfago, em terceiro lugar, surge com 379 mil mortes. A quarta
forma mais letal do câncer é o de cólon e reto, com 356 mil vitimas. Em quinto lugar aparece o câncer de
mama, com 317 mil mortes registradas. O sexto tipo de câncer mais letal é o de boca e faringe, com 271 mil
vitimas.
CIGARRO: UM FATOR DE ALTO RISCO
O Sr. Evanor Brito, de 52 anos, esteve entre um dos tipos de cânceres que mais matam. Contudo, um
diagnóstico em tempo, favoreceu o seu tratamento. Ele conta que foi fumante por 10 anos. Parou de fumar
há 27 e em abril deste ano, retirou um carcinoma de sua bexiga. “O resultado foi negativo para infiltração
tumoral. Ficou constatado que o tumor foi causado pelo cigarro de 27 anos atrás”, contou Brito, que também
é um dos participantes da série do Fantástico, “Brasil sem cigarro”, um programa proposto pela TV Globo,
por iniciativa do oncologista, Dr. Dráuzeo Varella.
Ações de promoção da saúde, diagnóstico precoce e a ampliação do acesso aos serviços
favorecem a longevidade. Segundo o coordenador de ações estratégicas do INCA, Claudio Noronha,
quanto mais velha é uma população, maior são as chances de alguns tipos de câncer surgirem.
Aproximadamente 4700 substâncias são encontradas no fumo das quais, cerca de 50 são
carcinogênicas, ou seja, provocam o câncer. Para o ano de 2012, os alertam, que, se os brasileiros
continuarem no mesmo ritmo de consumo ao cigarro, os números de óbitos continuarão alarmantes. O
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, o INCA, em um estudo para 2012-2013, aponta
que, no Brasil, por ano, 520 mil brasileiros tenham câncer.
FUMO NO BRASIL - De acordo com a Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para
o Controle do Tabaco (Conicq), o Brasil é o segundo produtor mundial de fumo em folha, ficando atrás
somente da China. A Região Sul se destaca por concentrar a maior parte da produção de fumo do país. “O
Sul do Brasil concentra a maior parte de produtores de fumo. O fato pode estar diretamente relacionado ao
alto consumo de derivados do tabaco, fazendo com que a região sofra com os altos índices de incidência de
câncer de pulmão”, diz o pneumologista da Divisão de Controle de Tabagismo do INCA, Ricardo Meirelles.
FORÇA DE VONTADE
Diante de tantos malefícios, o Sr. José Carlos, também participante do programa “Brasil sem cigarro”, tomou
uma dose de consciência e começou a se tratar. A sua luta não é fácil, porém, ele persevera. Conheceu a
nicotina aos 13 anos de idade e fumou durante 17 anos. Fumava em torno de 1,5 a 2 maços/dia. Ele relata
que na véspera do nascimento de sua filha mais velha largou o cigarro muito motivado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de cada mil pessoas que tentam parar de fumar
pela primeira vez, 17,2% conseguem largar o vício, mas 82,8% falham. Muitos continuam tentando até
conseguirem, outros desistem. Calcula-se que, de todos os fumantes, 60% já tentaram parar de fumar pelo
menos uma vez, principalmente aqueles com maior acesso à informação.
“Cinco anos depois eu ainda sonhava com cigarro as vezes, apesar de conviver com pessoas que
fumavam e suportar isso sem grandes sacrifícios. Então acreditei que tinha dominado o vício e num dia
descontraído fumei aquele que seria só um cigarrinho. Depois eu largo, pensei. No outro dia eu estava
comprando só pra deixar dentro do carro e fumar um de vez enquando, dois dias depois eles estavam no
meu bolso e na minha cabeça o tempo todo. Fumei mais 3 anos aproximadamente, engordei um absurdo e
me tornei uma pessoa nervosa”, conta José Carlos
De acordo com a pneumologista Maria Eunice Souza, vários são os fatores que influenciam para o
fracasso do fumante, como o estresse, as propagandas, a facilidade de adquirir o produto,
associações
psicológicas com prazeres como boas refeições, bebidas ou músicas, por exemplo. "A forma de largar o
cigarro depende muito da personalidade da pessoa e do seu nível de dependência", explica a
pneumologista. "Para todos, porém, é recomendável o acompanhamento médico durante o processo, pois
os sintomas da abstinência, como a insônia, a irritabilidade e as dores de cabeça podem ser muito
intensos".
José Carlos está neste processo. Hoje, pratica atividades físicas com regularidade, pedala 14 km
duas vezes/semana, caminha durante uma hora/dia intercalado com corrida e faz musculação 3
vezes/semana. “Já emagreci 28 kg e estou a 6 meses sem fumar. Se Deus me permitir eu nunca mais caio
nessa, hoje tenho 40 anos e nunca, em toda minha vida me senti tão bem”, se alegra.
COLUNA/BOX
Medidas para a diminuição do uso do tabaco
Na Austrália, nem a marca pode aparecer no maço. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) aprovou por unanimidade, em 16 de março deste ano, a resolução que proíbe o uso de aditivos
que dão sabor a produtos derivados de tabaco, como mentol, chocolate e cravo. Essa é a medida mais
recente tomada pelas autoridades do País na luta contra o fumo. Se antes a indústria tabagista conseguia,
numa incrível manobra de construção de imagem, associar o cigarro à sedução e ao poder, hoje a
sociedade civil, profissionais da saúde e o poder público unem forças para controlar e reduzir a epidemia do
tabagismo.
“Nossa ação terá um impacto direto na redução da iniciação de novos fumantes, já que esses
aditivos têm como objetivo principal tornar os produtos derivados do tabaco mais atraentes para crianças e
adolescentes” — afirma o diretor da Anvisa Agenor Álvares, relator da proposta.
A Anvisa ainda proibiu o uso de expressões como “baixo teor”, “alto teor”, “light”, “soft”, “leve”,
“suave”, entre outras, nas embalagens. Segundo a agência, esses termos podem induzir o consumidor a
uma “interpretação equivocada” a respeito da composição do produto.
BOX
Doenças que se associam ao tabaco
Além de as doenças mais sutis à saúde como cansaço, falta de ar, insônia, envelhecimento precoce,
amarelamento dos dentes, os fumantes, mesmo os passivos, têm risco de desenvolverem as seguintes
doenças:
Coronariana (como angina e infarto): o tabagismo é responsável por 45% das mortes entre homens e
40% entre mulheres, com menos de 65 anos, por doença coronariana.
Problemas circulatórios: os fumantes têm um elevado fator de risco de desenvolver arteriosclerose,
envolvendo as artérias da perna, o que leva a dores, dificuldade em caminhar, podendo chegar a gangrena
e amputação.
Aneurisma da aorta: é uma dilatação anormal da aorta, podendo levar ao seu rompimento. O
desenvolvimento de aneurisma da aorta abdominal é mais comum entre fumantes. Aneurismas podem
ocorrer também no cérebro, coração, intestino e outras partes do corpo.
Câncer de pulmão: 90% dos casos de câncer de pulmão são em fumantes. O câncer de pulmão é uma
doença altamente letal – apenas um pequeno número de pacientes consegue sobreviver por 5 anos após o
diagnóstico.
Câncer da boca, traqueia, cavidade oral, faringe, laringe e esôfago: cânceres da cavidade oral são
fortemente associados ao tabagismo, principalmente ao uso de charutos e de fumo mascável.
Câncer no pâncreas: fumantes e usuários de fumo mascável têm risco maior de desenvolver câncer no
pâncreas do que não fumantes. O câncer no pâncreas ocorre devido principalmente à presença de
nitrosaminas na fumaça e no tabaco.
Câncer nos rins: evidências científicas sugerem a associação entre o fumo e o câncer nos rins, devido ao
acúmulo de cádmio maior nos rins de fumantes do que dos não fumantes.
Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC): doença que diminui a capacidade de respirar. No Brasil
ocupa a 5ª posição em causa de morte e 290 mil pacientes são internados anualmente. O fumo é a principal
causa da DPOC: 90% dos casos são de fumantes ou ex-fumantes.
Colesterol alto: fumantes tendem a ter os níveis de HDL (colesterol bom) menores e níveis mais elevados
de LDL (colesterol ruim). Com isso, aumenta o risco de formação de plaquetas e entupimento das artérias.
Problemas gastrointestinais: úlceras pépticas, que são lesões localizadas no estômago ou duodeno com
destruição da mucosa da parede destes órgãos.
Impotência sexual no homem: o risco de disfunção erétil é maior em fumantes do que em não fumantes.
Isso ocorre provavelmente devido à nicotina, que reduz o fluxo sanguíneo para o pênis, por constrição das
artérias.
BOX
Teste o seu grau de dependência à nicotina
Elaborado na década de 70 pelo médico dinamarquês Karl Fagerström, este teste é usado até hoje pelos
especialistas para medir o grau de dependência dos fumantes. Descubra qual é o seu, somando os pontos
de cada alternativa anotada.
1. Quanto tempo após acordar costuma dar o primeiro trago?
a) Nos primeiros 5 minutos - 3 pontos
b) Entre 6 e 30 minutos - 2 pontos
c) Entre 31 e 60 minutos - 1 ponto
d) Mais de 60 minutos - o ponto
2. Acha difícil não poder fumar em locais proibidos?
a) Sim - 1 ponto
b) Não - 0 Ponto
3. Qual o cigarro do dia que lhe proporciona mais satisfação?
a) O primeiro da manhã - 1 ponto
b) Qualquer outro - 0 ponto
4. Quantos cigarros você fuma diariamente?
a) 10 cigarros ou menos - 0 ponto
b) De 11 a 20 - 1 ponto
c) De 21 a 30 - 2 pontos
d) 31 ou mais - 3 pontos
5. Fuma mais cigarros pela manhã do que no restante do dia?
a) Sim - 1 ponto
b) Não - 0 ponto
6. Consegue ficar sem fumar se estiver doente?
a) Sim - 0 ponto
b) Não - 1 ponto
RESULTADO:
Até 4 pontos: Grau baixo de dependência
Se você se encaixou neste grupo, saiba que sua força de vontade é uma poderosa arma. Mesmo sem o uso
de medicamentos, é possível largar de vez o cigarro.
5 pontos: Grau moderado de dependência
O seu organismo já está acostumado com a presença da nicotina. Para deixar de fumar, sua garra pode não
ser suficiente. Por isso, em alguns casos, o uso de medicamentos será fundamental. O melhor a fazer é
procurar um médico.
6 a 10 pontos: Grau elevado de dependência
Sua dependência à nicotina atingiu um nível bem elevado. Sem a ajuda médica dificilmente você terá êxito.
É preciso um tratamento controlado, inclusive com o uso de remédios específicos para conter a síndrome de
abstinência.
Fonte: Sérgio Ricardo, pneumologista do PrevFumo, Núcleo de Apoio ao Fumante da Unifesp
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