O genoma humano ajuda a perceber a “grandiosa

Propaganda
O genoma humano ajuda a perceber a “grandiosa matemática da criação” mas não diz
tudo sobre toda a “linguagem de Deus”, escreve o Papa Bento XVI no segundo tomo da
sua obra Jesus de Nazaré, que será posta à venda no próximo dia 11, num excerto a que
o PÚBLICO teve acesso. “A verdade funcional acerca do homem tornou-se visível; mas
a verdade sobre ele mesmo – o que é, donde vem, para que existe, que é o bem ou o mal
– esta verdade, infelizmente, não pode ser lida do mesmo modo.”
A afirmação faz parte de Jesus de Nazaré – Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição. O
primeiro volume da obra foi publicado por Joseph Ratzinger/Bento XVI no final de 2007. Este
segundo tomo será apresentado no próximo dia 10, quinta-feira, no Vaticano, e está destinado
a ser mais um "best-seller" – basta pensar que o último livro do Papa, a entrevista Luz do
Mundo, conduzida pelo jornalista Peter Seewald – ultrapassou já em muito os 600 mil
exemplares.
Nesta primeira fase, o livro será editado em sete línguas: alemão, italiano, inglês, espanhol,
francês, português e polaco. O Vaticano libertou esta manhã três excertos da obra, que estão a
ser publicados por vários meios de comunicação em todo o mundo – entre os quais o PÚBLICO.
Nos excertos agora divulgados, Joseph Ratzinger fala sobre a traição de Judas, o episódio que
levou à prisão de Jesus, sobre a polémica da datação da Última Ceia de Cristo e sobre o
interrogatório a que o governador romano, Pôncio Pilatos, submeteu Jesus antes de este ser
condenado à morte.
É neste último capítulo que Ratzinger fala do genoma, a propósito da redenção do mundo
trazida por Jesus. No mesmo capítulo, ele descarta a ideia de que tenham sido os judeus como
povo a acusar Jesus – uma tese que levou ao ódio de séculos em relação aos seguidores do
judaísmo. “O referido termo [os judeus] tem um significado específico e rigorosamente
limitado: designa a aristocracia do templo”, escreve o teólogo alemão, que se tornou Papa em
2005, sucedendo a João Paulo II.
A propósito da pergunta “Que é a verdade?”, que Pilatos faz a Jesus, o Papa fala da questão da
verdade nos estados contemporâneos: “A mesma pergunta é colocada também pela moderna
doutrina do Estado: pode a política assumir a verdade como categoria para a sua estrutura?
Ou deve deixar a verdade, enquanto dimensão inacessível, á subjectividade e, pelo contrário,
esforçar-se por conseguir estabelecer a paz e a justiça com instrumentos disponíveis no âmbito
do poder?”
Sem responder de forma assertiva à pergunta, Bento XVI deixa entender aquilo que tem
defendido em outras ocasiões: os Estados não podem eximir-se do critério moral na regulação
social. Quando conclui, no texto, que Pilatos preferiu a manutenção da paz social à justiça – ou
seja, segurar eventuais revoltas condenando Jesus –, o Papa acrescenta: “O facto de, em
última análise, a paz não poder ser estabelecida contra a verdade haveria de manifestar-se
mais tarde.”
Tal como no volume precedente, o Papa entende que esta sua obra sobre Jesus não pretende
ser mais uma biografia, género que já considera nem tratado por diversos exegetas bíblicos.
Nem sequer quer fazer uma “cristologia”, um tratado teológico acerca de Cristo, defendia o
Papa já a propósito do seu primeiro livro. O que Ratzinger/Bento XVI propõe é, antes, uma
reflexão – que não deixa de ser feita por um dos mais importantes teólogos contemporâneos –
sobre “a figura e a mensagem de Jesus”.
O trabalho de Joseph Ratzinger foi acolhido de forma diversa por outros teólogos e biblistas.
Em Portugal, entre reacções positivas, o exegeta bíblico Joaquim Carreira das Neves criticou o
que considerou uma visão de Jesus construída “não a partir de um estudo crítico”, mas a partir
da “vontade de Deus”.
Depois de o livro ser apresentado na tarde de dia 10, no Vaticano, a editora Principia, que
edita o livro em Portugal, coloca a obra à venda sexta-feira, no dia seguinte, tal como acontece
no resto do mundo.
Para dia 11, o patriarca de Lisboa e o bispo do Porto serão as estrelas convidadas a fazer a sua
leitura de Jesus de Nazaré, nas instalações da Universidade Católica no Porto, às 12h00, e na
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, às 18h30. Nos dias seguintes, os bispos de
várias dioceses irão também fazer apresentações do livro. Estão, para já, previstas sessões em
Évora (dia 13), Guarda e Viseu (18), Beja (19), Braga (24), Vila Real, Lamego e Faro (25).
In Público 02.03.2011 - por António Marujo
Download