ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ONCOLÓGICO NO HOSPITAL: REVISÃO INTEGRATIVA1 Maria Enoia Dantas da Costa e Silva2 Liana Dantas da Costa e Silva3 Amanda Lúcia Barreto Dantas4 Daniela Oliveira Rufino de Araújo5 Isabela Santana Duarte5 RESUMO O câncer é uma doença que atinge pessoas de todas os sexos, idades, culturas e situações sócio- econômicas; está entre as principais causas de morte, causando um impacto psicológico na percepção da sexualidade, imagem pessoal e autoestima. Logo é um assunto de bastante importância a ser debatido com vista a melhores ações na assistência. Assim esse estudo foi realizado com o objetivo de realizar o levantamento das produções científicas e analisar a contribuição das pesquisas produzidas sobre a assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital, no período de 2004 a 2012. É descritivo e exploratório de natureza bibliográfica, com abordagem qualitativa, proveniente da Biblioteca Virtual de Saúde (LILACS E MEDLINE). Para tanto se utilizou os seguintes unitermos: enfermagem oncológica, cuidado, hospitalização. Após a coleta de dados foi realizada uma leitura exploratória, seletiva, crítica e análise temática. Dos resultados emergiram as seguintes categorias: A assistência em diferentes dimensões e Hospitalização e a assistência de enfermagem. O presente trabalho poderá contribuir para melhor compreender a vivência do paciente durante a hospitalização e minimizar o impacto que essas medidas exercem sobre o indivíduo, para melhoria da assistência prestada ao paciente com câncer. Concluímos então que o enfermeiro reflita sobre a importância do cuidado, pois é necessário assegurar a dignidade da qualidade de vida ao paciente. Além disso, contribuir para o desenvolvimento do enfermeiro que atua nas áreas de saúde/oncologia, devido ao sofrimento enfrentado por este paciente, atuando numa assistência mais humanizada, acolhedora e participativa, atuando na prevenção de futuras complicações. Descritores: Enfermagem oncológica. Cuidado. Hospitalização. Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado à disciplina Metodologia de Pesquisa em Saúde II, da Faculdade Santo Agostinho FSA, como requisito parcial para obtenção do grau de Enfermeira. 2 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Coordenadora do Curso de Enfermagem do Instituto Camillo Filho. Docente da Faculdade Santo Agostinho. Teresina – PI. [email protected] 3 Psicóloga. Mestre em Biosaúde. Docente da Faculdade Santo Agostinho, Instituto Camillo Filho e UniNOVAFAPI. Teresina – PI. 4 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Docente da Faculdade Santo Agostinho. Enfermeira do Hospital Getúlio Vargas – HGV. Teresina – PI. 5 Graduandas do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade Santo Agostinho – FSA. 1 1 INTRODUÇÃO O câncer é uma doença causada pelo crescimento anormal e desordenada das células que atinge pessoas de todas os sexos, idades, culturas e situações sócioeconômicas, está entre as principais causas de morte, causando um impacto psicológico na percepção da sexualidade, imagem pessoal e autoestima, de uma maneira muito significativa. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a serem muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo, as causas de câncer são variadas, podendo ser externas e internas ao organismo estando inter-relacionadas. Embora o câncer afete todas as faixas etárias, a sua maior suscetibilidade está relacionada, sobretudo, aos fatores extrínsecos, tais como: o ambiente, em particular a ocupação, dieta, estresse e hábitos de vida. Trata-se, assim de uma doença complexa, que pode ser de longa duração e que compromete significativamente a vida dos indivíduos nas dimensões biológica, social e afetiva, exigindo assistência especializada de diferentes profissionais (SOUZA; SANTO, 2007). O Instituto Nacional do Câncer (INCA) refere que os fatores de risco de câncer, numa determinada população, dependem diretamente das características biológicas e comportamentais dos indivíduos que a compõem, bem como das condições sociais, ambientais, políticas e economias que rodeiam esses indivíduos, ou seja, são altamente influenciados pela cultura do grupo ao qual eles pertencem (MUNIZ; ZAGO, 2009). Atualmente, o câncer vem se mostrando como uma das principais causas de mortalidade no mundo, merecendo especial atenção por parte dos profissionais de saúde no sentido de amenizar o sofrimento, pois mesmo havendo cura para muitos casos a taxa de mortalidade é muito alta. Nos países em desenvolvimento, os casos são diagnosticados em estágios avançados e, consequentemente, a sobrevida média é menor, quando comparada aos países desenvolvidos, cerca de 40% após cinco anos. A média mundial estimada é de 49%. É uma doença com possibilidade de cura; na impossibilidade desta, é possível o estabelecimento de cuidados que visem a diminuir o sofrimento dos doentes e de seus familiares. O câncer repercute de maneira significativa no indivíduo e as restrições físicas e psíquicas decorrentes da doença implicam mudanças significativas, levando a pessoa a afastar-se do convívio pessoal ou interromper projetos de vida. No estágio avançado, 90% dos pacientes queixam-se de dor moderada a severa, suficiente para reduzir suas atividades e exigir medicações, sendo a dor secundária à evolução da patologia (SILVA et al., 2011). O cliente com câncer deve contar com uma ampla estrutura de apoio para enfrentar as diferentes etapas do processo, pois requerem intensos cuidados, exigindo da equipe de enfermagem conhecimento científicos e habilidades no tocante ao reconhecimento de sinais e/ou sintomas subjetivos próprios destes clientes (SOUZA; VALADARES, 2011) Diante do câncer, o paciente oncológico passa por completa mudança em suas relações sociais, familiares e consigo mesmo, portanto, é necessário que haja assistência humanizada capaz de vê-la como pessoa que sofre, mas que não perdeu sua essência. A assistência de enfermagem para pacientes com câncer deve ser vista como cuidado pleno, encorajador, afetuoso e comprometido em auxiliar na adaptação às novas condições de vida (ARAÚJO; SILVA; BONFIM, 2010). O câncer remete ao medo de mutilações e desfiguramento, à perspectiva de tratamentos dolorosos e de muitas perdas provocadas pela doença, ainda é considerado pela maioria das pessoas uma doença incurável e com difícil aceitação por todos, além disso, traz consigo vários significados e na maioria deles negativos. Essa situação de sofrimento conduz a uma psíquica com características específicas (SOUZA; SANTO, 20007). Diante de uma patologia como o câncer, o envolvimento familiar é inevitável. A família é a principal instituição social em que o indivíduo inicia suas relações afetivas, cria vínculos e internaliza valores. Essa relação familiar apresenta-se de forma interligada como se fosse à extensão do outro, pois acredita-se que a experiência de uma doença grave traz modificações no modo de pensar, sentir e agir das pessoas (SOUZA; SANTO, 2007). Visando a diminuição do impacto das possíveis alterações físicas e emocionais e, também, dos efeitos colaterais adversos do tratamento quimioterápico e, numa tentativa de proporcionar uma maior qualidade de vida aos pacientes, a oncologia surge como uma especialidade que, por excelência, se viu confrontada com a necessidade de avaliar as propostas, já que muitas vezes na busca de acrescentar “anos à vida” era deixado de lado à necessidade de acrescentar “vida aos anos” (CHAVES; GORINI, 2011). A percepção pelo enfermeiro dos problemas relacionados à morte e ao adoecer, é fortemente influenciada por suas vivências, conhecimentos, valores éticos e pessoais e nessa perspectiva, cada indivíduo, paciente, profissional ou familiar, deve ser considerado como único, tendo necessidades, valores e crenças específicas, o impacto da doença e hospitalização do paciente e a influência da interação familiar sobre a causa e sua cura, tem obrigado a enfermagem a um compromisso de incluí-la nos cuidados de saúde (CASANOVA; LOPES, 2009). Os cuidados de enfermagem ao paciente com câncer devem ser individualizados, pois cada fase da vida apresenta transformações fisiológicas e psíquicas. O paciente está fragilizado e com uma perspectiva de sobrevida reduzida; por isso diante de um diagnóstico de uma doença neoplásica, a sua perspectiva se torna bem reduzida e ocorre um grau de sofrimento. O enfermeiro deve promover uma maior aproximação com esse paciente, alcançado por meio da comunicação, para identificar suas necessidades e proporcionar, melhor qualidade de vida (PETERSON; CARVALHO, 2010). A importância do relacionamento paciente e equipe de enfermagem e família, no processo de cuidar, inclui a maneira como é dada a notícia, a clareza com que é abordado o assunto, a abertura que é dada ao paciente e a sua família para que assim se possa conversar sobre o seu sofrimento, sentimentos, dúvidas, recuperação. A pessoa com câncer precisa de ajuda da enfermagem na identificação de seus problemas para que possa enfrentá-los de forma realista, participar ativamente da experiência e, se possível, encontrar soluções para eles (PEDRO; FUNGHETTO, 2005). Neste sentido, é possível se perceber a importância do enfermeiro para o controle do medo, da fragilidade, das angústias e das dificuldades encontradas na experiência da internação através da assistência de enfermagem promovendo suporte psicossocial, provendo conforto e cuidados necessários para este contexto. Assim, esta pesquisa apresenta como objeto, uma revisão literária sobre a assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital, buscando resposta para a seguinte questão norteadora: Quais as contribuições dos estudos produzidos sobre a assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital? A essa questão, a pesquisa se propôs alcançar os seguintes objetivos: realizar o levantamento das produções científicas sobre a assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital e analisar a contribuição das pesquisas produzidas sobre a assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital. O despertar de interesse para esta revisão de literatura foi, combinar trabalho e cuidado, uma vez que estes não podem se colocar em lados opostos, visto que juntos constituem a integralidade de experiência humana, princípios e valores que devem prevalecer e nortear a relação entre equipe de enfermagem e paciente. Com base no exposto, surgiu a curiosidade de identificar e analisar o conhecimento já produzido sobre o tema, acreditando-se que os resultados deste estudo poderão ser relevantes para ampliar conhecimento sobre as estratégias adotadas para essa assistência nas diferentes realidades onde são desenvolvidas. Ainda, direcionar novos estudos sobre a temática. 2 METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, de natureza bibliográfica. Foi desenvolvido a partir da análise de 20 artigos dos quais procurou-se analisar o material cujo enfoque fosse a assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital. Para a busca dos artigos foram utilizados as bases eletrônicas de dados MEDLINE, BVS E LILACS e como os unitermos: assistência de enfermagem, enfermagem oncológica e hospitalização. A amostra inicial foi composta por 124 produções científicas. Após a leitura dos resumos procedeu-se a seleção dos artigos com base nos critérios de inclusão e exclusão previamente delimitados. Foram considerados como critérios de inclusão: estudos publicados no período de 2004 a 2012, disponíveis nas bases de dados citados, escritos em português com acesso na íntegra; estudos com enfoque na assistência de enfermagem. Os critérios de exclusão foram: editoriais e estudos repetidos nas bases de dados; além de estudos que não abordem o assunto assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital e os estudos de publicação internacional. Procedeu-se a busca utilizando-se apenas o descritor “assistência de enfermagem” tendo sido encontradas 124 referências. No entanto, houve a necessidade de um refinamento, pois algumas produções se apresentavam repetidas nas bases de dados e outras possuíam alguns dos termos delimitados na busca, embora não tratassem do assunto de interesse do estudo, foi associada ao descritor “enfermagem oncológica” o que reduziu o número de referências para 73. Considerando-se a necessidade de se atender a questão norteadora do estudo, foi incluído um terceiro descritor “hospitalização” que determinou a seleção de 20 artigos, apenas. Após essa etapa, realizou-se a análise descritiva dos dados, caracterizando-se as variáveis: ano, fonte, tipo de estudo e área de estudo, o que permitiu um panorama da situação da produção do conhecimento. Em seguida, foi realizada a análise temática de conteúdo relacionada à variável objeto/temática. Os resultados foram discutidos com base na literatura pertinente ao assunto. Esse processo metodológico, de acordo com Lakatos e Marconi (2011) foi composto pelos seguintes passos: escolha do tema, elaboração do plano de trabalho, fichamento, análise e interpretação dos resultados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os artigos utilizados nesta pesquisa bibliográfica foram selecionados de acordo com a natureza/abordagem relacionados ao tema, sendo agrupados e analisados na íntegra. Os dados obtidos mostraram que 85% dos estudos apresentaram a abordagem qualitativa exploratória – descritiva e 15% quantitativa. Acredita-se que o destaque para a primeira abordagem esteja relacionado à expansão das pesquisas qualitativas na área da saúde, pois os profissionais intensificam as buscas da explicação dos fenômenos subjetivos, os quais não podem ser quantificados. A abordagem qualitativa apresenta-se como uma orientação cada vez mais difundida no âmbito da saúde, pois possui como foco essencial, o desejo de conhecer a comunidade, seus traços característicos e seus problemas. Além disso, pretende descrever os fatos e os fenômenos de determinada realidade, sem que se pretenda realizar qualquer processo de intervenção na realidade estudada (GIL, 2002). Quanto à tendência de crescimento da produção do conhecimento sobre o assunto, os artigos mostraram que no período de 2004 a 2007 os percentuais se mantiveram (5%) e nos 4 últimos anos (2009 a 2012), esta elevação foi crescente o que coincide com a ênfase dada aos Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCC) no ensino de graduação e pós-graduação que contribui para maior produção e publicação de artigos sobre os mais variados temas, incluindo o tema deste estudo que se reveste de grande importância pelos problemas que acarretam à saúde da população especialmente com câncer, uma vez que esta doença traz sérias consequências, pois o processo de adoecer não é apenas um acontecimento individual, pois abrange não só a dimensão corporal, mas também as relações familiares e sociais. Dentre os periódicos consultados destacou-se a Revista de Enfermagem UERJ, com 30%, seguida da Revista Brasileira de Enfermagem REBEN e da Revista de Enfermagem da Escola Anna Nery, com 20%, e depois da Revista Gaúcha de Enfermagem, com 15%, e a Revista Brasileira de Cancerologia com 10%. Os percentuais encontrados condizem com estudos diversos que apontam serem estes periódicos os de elevados números de publicações entre outros no Brasil, na área de Enfermagem. O processo de assistir e o cuidado ao paciente oncológico é uma área específica da enfermagem. A enfermagem é uma das profissões da área da saúde cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano. Cuidado é entendido como ir ao encontro, dar sentido à existência, buscar transpor a realidade do sofrimento e da dor, mediante formas criativas e efetivas e vislumbrando novos horizontes de cuidado. Desta maneira, o cuidar na enfermagem se traduz em uma dinâmica de troca e interação, alicerçada na confiança, respeito, ética e na experiência compartilhada de vida. Compete à equipe de enfermagem oncológica, além das atribuições de cunho técnico e assistencial, atividades de caráter educativo, relativas à prevenção, detecção precoce, cuidados e reabilitação, envolvendo equipe, paciente e familiares (STUMM et al., 2008). Segundo os mesmos estudiosos, essas ações, uma vez concretizadas, contribuem na melhoria da qualidade de vida ou sobrevida dos pacientes oncológicos. A atuação do enfermeiro na reabilitação e tratamento do paciente com câncer é ampla e variada as suas intervenções, o planejamento é realizado considerando as especificidades vivenciadas de cada paciente, o processo de reabilitação tem como alvo o paciente e a família, requerendo que assistência seja prestada de forma holística (STUMM et al., 2008). Desse modo, o cuidar está voltado para propiciar a melhoria da qualidade de vida da pessoa que, por vezes, necessita de uma abordagem diferenciada para descobrir quais as implicações e impacto social, emocional, físico e espiritual que a doença traz consigo e identificar as expectativas em relação à terapêutica instituída. Ao enfermeiro cabe otimizar este cuidado, sendo um bom avaliador dos sintomas e suas intensidades, atuando preventivamente quanto às complicações indesejáveis, realizando um manejo adequado de lesões e limitações impostas pelo agravo da doença oncológica avançada (SOUZA; SANTO, 2007). Dentre os autores dos artigos explorados, percebeu-se que os enfermeiros foram os que mais produziram com 80%, seguidos dos Psicólogos com 20% das publicações. Atribui-se que o destaque para os enfermeiros, na produção científica, esteja relacionado ao amplo envolvimento na realização das ações assistenciais nos cuidados prestados junto ao paciente oncológico durante a hospitalização, o que fornece subsídios para a produção de conhecimentos, tornando-se imprescindíveis para a melhoria da assistência. A experiência de cuidar do paciente mostra que é imprescindível a atuação conjunta da equipe de saúde de modo a desenvolver uma prática coerente, por meio de uma conduta cuidadosa e calma, o enfermeiro pode ajudar o paciente a diminuir a ansiedade diante do diagnóstico e durante o tratamento, já que os medos podem influenciar no tratamento e comprometer o processo de promoção da saúde. Assim, o paciente com câncer precisa de ajuda profissional e o enfermeiro como facilitador do processo educativo e terapêutico pode auxiliá-lo nesse sentido. 3.1 Categorização dos artigos estudados A construção das categorias deste estudo teve início a partir da análise e discussão dos artigos estudados, no que diz respeito à assistência de enfermagem a pessoa hospitalizada com câncer, com o agrupamento semântico das idéias dos diferentes autores. No tocante a estas categorias, foi possível se entender melhor o comportamento dos profissionais de enfermagem relacionado à assistência de enfermagem ao paciente oncológico no hospital. A primeira categoria denominada “A assistência em diferentes dimensões” foi a que apresentou maior conteúdo quando comparada a outra, conforme observado a seguir: 3.2 A assistência em diferentes dimensões Esta categoria foi formada pelos núcleos do conteúdo de 14 artigos que tratavam basicamente da essência da assistência em enfermagem, mostrando que esta assistência significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção e concretiza no contexto da vida em sociedade. Segundo Stumm et al. (2009), assistir implica colocar-se no lugar do outro, geralmente em situações diversas, quer na dimensão pessoal, quer na social. É um modo de estar com o outro, no que se refere a questões especiais da vida. Compreender o valor do cuidado de enfermagem requer uma concepção ética que contemple a vida para respeitar a do outro em sua complexidade e suas escolhas. Um elemento essencial para a prática de enfermagem e para a avaliação das necessidades culturais depende de uma comunicação eficaz com todos os pacientes e seus familiares, assim, cuidado competente significa ser sensível, além, claro, respeitar a forma como os próprios pacientes desejam ser tratados. Durante a interação com os pacientes, é importante saber escutá-los ativamente, observar a linguagem corporal, ouvir o que eles estão dizendo (GUERRERO et al., 2009). Segundo Souza e Valadares (2011) o ato de cuidar implica em estabelecer interação entre os sujeitos, ou seja, quem cuida e quem é cuidado. Portanto, cuidar do outro não é somente imprimir ações técnicas, mas, fundamentalmente, sensíveis. De tal modo, envolve o contato entre humanos através do toque, do olhar, do ouvir e da fala, uma ação que envolve sensibilidade própria dos sentidos, bem como a liberdade, a subjetividade, a intuição e a comunicação. Os processos emocionais desencadeados nesses pacientes exigem um profissional especializado. É essencial compreender e dar suporte a essas transformações, bem como ouvir e aprender com o paciente, tendo sempre em mente que se está cuidando de um ser humano e não apenas da enfermidade que ele traz (SOUZA; SANTO, 2007). A sensibilidade permeia o cuidado, solicita que o profissional esteja receptivo para ajudar na medida do possível, atendendo as necessidades do outro. Por isso, é necessário aprender canalizá-la de forma que possa conduzir o profissional a realizar o cuidado de maneira sensível, sem deixar de utilizar os procedimentos tão necessários no fazer da enfermagem. Assim, o cuidado implica empatia, carinho, proporcionar medidas de conforto e com isso bem-estar, envolve doação, sugere apoio, conversa, momentos juntos; sendo assim, todos contribuem para um cuidado ampliado e humano e não restrito à técnica (KLUSER et al., 2011). O processo de cuidado junto ao paciente oncológico caracteriza-se como unidade complexa que liga, transforma, mantém ou produz acontecimentos não somente para o cliente, mas, também para o enfermeiro. Pensar no cuidado representa apontar no sentido da auto-organização do enfermeiro, considerando os aspectos como: autonomia, relações e atitudes profissionais. É admirável que o enfermeiro na prática com o paciente oncológico possa compreender as respostas humanas, e, portanto, inclusive as emocionais. O cuidado exige conhecimento técnico, científico e sensibilidade aguçada para o entendimento das respostas verbais e não verbais do paciente. De tal modo, o enfermeiro junto ao paciente oncológico utiliza-se de estratégias, como se apropriar dos diagnósticos de enfermagem enquanto instrumento para o cuidado para prestar melhor assistência de enfermagem, considerando sua complexidade assistencial, que demanda, sobretudo, cuidados especializados (SOUZA; VALADARES, 2011). O profissional da equipe de enfermagem oncológica, por estar mais presente no cotidiano dos pacientes com diagnóstico de câncer e de seus familiares, vivencia situações difíceis as quais podem despertar sentimentos que resultem em desgaste físico e emocional. A relação entre o profissional de enfermagem e o outro pode se estabelecer em uma interação que transcende o saber técnico-científico, suscitando vínculos de natureza pessoal e afetiva (KLUSER et al., 2011). Para os autores Souza e Santo (2007) o objetivo de assistir na enfermagem é compreender que a experiência do cuidado é um processo recíproco e requerem o conhecimento de ambas as pessoas que estão envolvidas no cuidado. As pessoas envolvidas precisam perceber o outro em sua totalidade, através de uma relação mútua, na qual a confiança e a coragem são necessárias. Esse processo mútuo é iniciado quando os enfermeiros entram no mundo do outro e o outro os convida para sua vida e seus sentimentos mais íntimos. A assistência de enfermagem ofertada ao paciente na oncologia visa prover o conforto, agir e reagir adequadamente frente à situação de morte com o doente e consigo mesmo; promover o crescimento pessoal do doente, valorizar o sofrimento e as conquistas, empoderar o outro com seu cuidado e empoderar-se pelo cuidado, lutar para preservar a integralidade física, moral, emocional e espiritual, vincular-se e auxiliar o outro e a si mesmo a encontrar significados nas situações (SALES et al., 2012). A assistência em oncologia requer do profissional de saúde uma prática resolutiva, seja qual for à situação da doença vivenciada. A atuação da equipe de enfermagem diante da complexidade do cuidado ao paciente com câncer compreende a necessidade de empenho da equipe de saúde, por meio do trabalho interdisciplinar. Contempla atender a família e o paciente em suas possibilidades, incertezas, diversidades e imprevisibilidades, perante a instabilidade do quadro clínico do paciente e a proximidade da morte (MUTII et al., 2012). Segundo SALES et al. 2012 para que a assistência seja autêntica, a mesma deve articular que o paciente e sua família sejam envolvidos na assistência e, sobretudo, que possam ser assistidos de modo humanizado e receber da equipe manifestações de desvelo, visto que uma interação efetiva da enfermagem com a família do paciente é um passo fundamental em seu processo de recuperação. Para que estas medidas se tornem mais efetivas, a equipe de enfermagem deve educar, cuidar, promover, advogar e coordenar o seu cuidado. O cuidar vai além de executar técnicas: ele envolve presença, confiança e atitude do profissional enfermeiro com o paciente que está sendo cuidado. Para cuidar, é preciso, em muitos momentos, colocar-se no lugar do outro e perceber, mesmo na linguagem não verbal, as necessidades fisiológicas e emocionais, proporcionando ao outro conforto e segurança, para que ele possa conviver melhor com os momentos difíceis, de forma mais amena e tranqüila (SOUZA; SANTO, 2007). Um simples gesto, um toque, o estar atento, um olhar, um sorriso carinhoso são considerados maneiras de expressar interesse pelo outro. Esta expressividade é considerada um instrumento importante para recuperação e bem estar dos seres cuidados, bem como para própria saúde e felicidade dos cuidadores, assim, a relação de cuidado é acompanhada de uma troca, um compartilhar de experiências vividas entre cuidadores e seres cuidados (PEDRO; FUNGHETTO, 2005). A assistência humanizada ao paciente com câncer consiste no emprego de atitudes que originem espaços que permitam a todos verbalizar seus sentimentos e valorizá-los; identificar áreas potencialmente problemáticas; auxiliá-los a identificar fontes de ajuda, que podem estar dentro ou fora da própria família, fornecer informações e esclarecer suas percepções; ajudá-los na busca de soluções dos problemas relacionados ao tratamento para que tomem decisões sobre o tratamento proposto e levar ao desempenho de ações de autocuidado, dentro de suas possibilidades. Entre as múltiplas ações de saúde necessárias para propiciar cuidados que privilegiem, dentre outros, os aspectos psicológicos, estão à disponibilidade, a atitude de aceitação e de escuta e a criação e a manutenção de um ambiente terapêutico (COSTA; FILHO; SOARES, 2004). Para os autores Pedro e Funghetto (2005) o profissional da saúde deve desenvolver habilidades e competências com as questões de gerenciamento, aprimoramento tecnológico, questões essencialmente semiotécnicas para cuidar. Entretanto, não se deve esquecer que tanto para a enfermagem, que é a arte e a ciência do cuidado humano, quanto para as demais profissões da saúde, nenhuma técnica pode substituir a presença, o afago, o olhar, a palavra, a escuta entre outros. A atenção humanizada na prestação do cuidado perpassa pelo acolhimento da experiência singular do adoecimento observada durante o cuidar e tratamento prescrito aos pacientes e como é entendida pela sua rede social. A realização do cuidado depende da conjução de algumas ações, sendo a fundamental investir na qualidade da relação entre aquele que cuida, e aquele que é cuidado, isto é, o paciente e sua família (KLUSER et al., 2011). A participação da equipe de enfermagem no atendimento das necessidades foi visualizada nas ações que incluem o modo de ser, de fazer e de viver com os outros, ganhando destaque a empatia, a tranqüilidade, a competência, a habilidade, a agilidade e a comunicação. Sendo assim, a equipe de enfermagem busca a organização, principalmente por meio do atendimento das necessidades dos clientes, evidenciando a importância da resolubilidade das ações, de acordo com a situação-problema e evolução da doença, empenhando-se em prol de objetivos de cuidados que vão ao encontro dos preceitos na atenção e na assistência oncológica (SILVA et al., 2012). Assim, ao cuidarem de um paciente portador de doença oncológica, os enfermeiros também cuidam dos familiares, por meio de uma conversa, um abraço, um ombro, ações que possibilitam consolo para o sofrimento por eles vivenciado. O enfermeiro ao exercer o cuidar desvela uma conduta humana que lhe é própria no cuidado com o outro, desenvolve uma ação social baseada na compreensão do contexto familiar em que o paciente está inserido, buscando se aproximar dos familiares para confortá-los, visando o conforto do outro em uma relação de solidariedade (MONTEIRO et al., 2012). O objetivo da enfermagem traduz-se no cuidado de seres humanos e atuação desses profissionais, como facilitadores do processo educativo e terapêutico exigem prerrogativas como a sensibilidade frente ao paciente e a família, o cuidar está fundamentado num sistema de valores humanísticos universais, tais como a amabilidade, o respeito, o afeto por si e pelos outros. Este sistema de valores humanísticos envolve a capacidade de gostar das pessoas, apreciarem a diversidade e a indivisibilidade (SOUZA; SANTO, 2007). Segundo Pedro e Funghetto (2005) entende-se que para cuidar, precisa-se ter por base o sistema de valores humanísticos e de sensibilidade a fim de considerar os sentimentos diante da doença do paciente hospitalizado, do tratamento e da esperança de vida. O entendimento dos sentimentos do paciente frente ao tratamento e aos cuidados, proporciona, sem dúvida, a humanização do atendimento e a melhora na qualidade de vida desses pacientes. Dessa análise pode-se apreender que os enfermeiros, através do modo de cuidar, propiciam ao outro a percepção de que existe nele uma força, uma pulsão de vida, uma vontade que, quando acionada, é capaz de gerar grandes transformações. Assim, a verdadeira obra de arte da enfermagem está em transformar um ser humano doente em um ser humano com melhor qualidade de vida, reconhecendo no processo de doença uma possibilidade de crescimento pessoal e social. Desse modo, representam a arte de cuidar através das palavras que afirmam o valor e a beleza da vida, como o amor, a estética, a identificação, o envolvimento, a vocação, a transformação, o despertar para a vida e, ainda, a linguagem dos sentidos; para eles são esses fenômenos que compõem a arte de cuidar. 3.3 Hospitalização e a assistência de enfermagem Esta categoria foi constituída semanticamente a partir de 6 artigos que tratavam basicamente da hospitalização, mostrando que a internação é um momento doloroso e que acarreta sofrimento ao paciente e a sua família. O ambiente hospitalar é estressante, barulhento, com normas e rotinas próprias. Nesse ambiente, o paciente perde sua identidade, privacidade e sua percepção de liberdade. A hospitalização traz para os pacientes e seus familiares sentimentos de insegurança que se acentuam quando estes pacientes possuem dependência para os cuidados básicos de enfermagem, como alimentação, higiene e mobilidade (PASSOS; SADIGUSKY, 2011). Segundo Casanova e Lopes (2009) a experiência da internação é vivenciada de forma muito dolorosa, pois o hospital está diretamente vinculado ao medo da morte, da invalidez, do desconhecido e da solidão, a experiência é desencadeadora de ansiedade e muito estresse e estas reações podem potencializar o quadro, agravando o prognóstico e dificultando a assistência de enfermagem. O paciente com câncer precisa se adaptar à hospitalização, utilizando estratégias de enfretamento adequadas a fim de minimizar os efeitos negativos, demandando um tempo considerável de hospitalização e expondo o paciente a procedimentos invasivos e desagradáveis, tanto física quanto emocionalmente. O paciente precisa, então, adaptarse a essa nova situação, sendo necessária a utilização de estratégias de enfretamento adequadas (MOTTA; ENUMO, 2004). Para SALES et al. 2012 ao se descobrir no mundo hospitalar, o doente com câncer passa a viver em uma realidade na qual a possibilidade da morte revela-se de forma inevitável e concreta, de modo que não almeja apenas o cuidado, mas anseia também por manifestações de solicitude que contemple a si próprio no ambiente hospitalar. Duarte, Zanini e Nedel (2012) consideram que o paciente com câncer vivencia diariamente a hospitalização, à espera de informações, tratamento e da cura. Esse cotidiano é organizado de acordo com as rotinas hospitalares, além de ser permeado muitas vezes de solidão, sobrecarga, insegurança e medo. Nesse sentido, o dia a dia do paciente passa por uma série de alterações, além de sentimentos como medo e ansiedade com o adoecimento e com a hospitalização fazerem parte desse novo cotidiano. Assim os efeitos da hospitalização transcendem a doença e acabam alterando o cotidiano e sua própria estrutura. Durante a internação em instituições hospitalares é muito importante a presença de um ente querido, pois este proporciona segurança ao doente, e isso favorece em sua recuperação. A hospitalização constitui uma oportunidade para o familiar aprender ou aperfeiçoar a realização dos cuidados básicos para seu doente e minimizar suas próprias dificuldades relacionadas à doença e ao tratamento (SALES et al., 2012). A hospitalização pode ser entendida como um fator de risco no desenvolvimento do indivíduo. Ao chegar ao hospital, o paciente se vê impelido a enfrentar uma série de mudanças bruscas no seu dia a dia. A interrupção de sua rotina, a separação do que lhe é familiar e do que lhe traz segurança; a submissão a uma equipe de profissionais muitas vezes desconhecidos e a acomodações geralmente desconfortáveis; a possibilidade de dividir o quarto com outro paciente, além da dor física, são alguns dos fatores de risco aos quais o indivíduo se encontra exposto. As repetidas internações e o estigma de doente incurável podem agravar ainda mais o quadro do paciente (BIANCHINI et al., 2006). Segundo Dell Aglio et al. (2006) na rotina hospitalar, podem ser observadas diferentes formas de o indivíduo reagir às situações de internação. Para preservar o ego de situações que ameacem sua integridade, o paciente pode recorrer a mecanismos de defesa, como a negação, regressão e isolamento, não raro comprometendo sua relação com o tratamento e até mesmo agravando seu estado clínico. Contudo, ele também pode encontrar recursos positivos de enfretamento da situação de hospitalização, se reorganizando frente à doença e internação, e enfrentando os episódios específicos do processo de tratamento. O paciente com doença crônica estabelece um vínculo e uma familiaridade com o ambiente hospitalar devido às internações recorrentes e ao tempo de duração das mesmas. Isto faz com que os profissionais que atuam nos serviços desenvolvam vínculos e conheçam particularidades, tanto da família quanto do paciente, aprendendo a identificar as suas necessidades para, assim, prestarem um cuidado com qualidade (PEDRO; FUNGHETTO, 2005). Para Vieira e Queiroz (2006) a essência de uma instituição é a rotina que rege seu cotidiano. No entanto, esta rotina nem sempre favorece o tratamento de quem é atendido por ela. O atendimento despersonalizado e impessoal, no interior de uma postura mais ampla que desconsidera as atitudes e os sentimentos do paciente, além de dificultar o convívio social e familiar é amplamente considerado como um ambiente desconfortável para a promoção de cura. Neste contexto, a importância de um acompanhante presente no paciente oncológico durante seu período de hospitalização se observa o distanciamento entre o familiar e os membros da equipe de enfermagem. Assim, no contexto hospitalar, em muitas ocasiões e os cuidados ofertados ao paciente são deficientes pela falta de relacionamento entre o enfermeiro e o familiar, que em muitas ocasiões, chega a ser formal e burocrático e, sobretudo despersonalizado. Isso quando o mesmo não é evitado pelos próprios funcionários de saúde no ambiente hospitalar, gerando aumento no estresse da família que sobrevém diretamente no paciente (SALES et al., 2012). A hospitalização, além dos custos para o sistema de saúde, impõe ao paciente um ambiente desconhecido, com horários poucos flexíveis, com restrição no número de visitas que pode receber. Para o enfermeiro, aliar ofício e emoção é um ponto crucial, uma vez que pelas circunstâncias do seu trabalho, com ênfase na área hospitalar, ele tem mais oportunidade de conviver com pessoas doentes e, portanto, de experienciar com elas sua dores e seus sofrimentos e conseqüentemente estabelecer um maior envolvimento com a fragilidade humana (VIEIRA et al., 2012). No cenário hospitalar, a família identifica o controle oncológico como parte integrante do tratamento e vê alta hospitalar como algo inalcançável. Outro aspecto importante evidenciado é o vínculo que a família cria com o hospital, pois a família é membro importante e aliado à equipe como controladora de sinais e sintomas e durante o controle da doença oncológica, ela continua o seu papel de vigilância em casa, onde familiares, vizinhos são envolvidos em uma rede de ajuda à instituição para manter o “controle” do estado de saúde. Nesse caso, é interessante como as orientações do hospital transpõem o muro institucional e vão se expandindo dentro da família e comunidade, passando a ser mais valorizadas, uma vez que foram enfatizadas durante a permanência no hospital ( COUTO; OLIVEIRA, 2012). A vivência do profissional da equipe de enfermagem oncológica no cuidado ao paciente com diagnóstico de câncer hospitalizado implica na compreensão do cuidado, englobando assim o outro, e de maneira muito particular, isso demanda um apoio emocional devido aos seus enfrentamentos do dia-a-dia no cuidado do paciente, refletindo na maneira de cuidar o outro e ampliando assim, a compreensão da dimensão do cuidado em oncologia, também, proporciona um olhar mais reflexivo acerca do cuidado ao paciente, uma vez que é na relação entre profissional e ser-cuidado que se estabelece qual a melhor maneira de cuidar, individualizando o cuidado e buscando um cuidado mais humanizado (KLUSER et al., 2011). Segundo Sales et al. (2012) a presença do acompanhante, na maioria das vezes, configura-se, cada vez mais, em uma necessidade, quando se busca a continuidade dos cuidados no ambiente hospitalar, com vistas a redução do tempo de internação. Esta permanência é extremamente eficaz no que se refere ao apoio emocional e à segurança proporcionada ao paciente, visto que a presença de um membro da família representa seu contato com o mundo exterior, posto que o hospital seja um ambiente desconhecido, com inflexibilidade de horários e com restrições de visitas. A presença do familiar, no contexto, é valorizar pelo mesmo diante da oportunidade de participar do cuidado e contribuir para o conforto físico e psicológico do seu ente querido. Para a permanência do familiar enquanto acompanhante nas enfermarias, muitas vezes, em tempo integral, é fundamental que seja estabelecida uma relação interpessoal construtiva deste com os membros da equipe de enfermagem e de saúde. Neste sentido, a comunicação eficaz é a principal forma de atender as necessidades dos familiares, seja na relação entre a equipe de enfermagem, paciente e familiares, e entre a própria equipe de enfermagem e de saúde, na perspectiva da interdisciplinaridade (SILVA et al., 2012). A família busca adaptar-se à nova realidade e tenta reorganizar-se para enfrentar a experiência de viver e conviver com a doença, isto é, reconstruir sua identidade como grupo familiar. O hospital torna-se, então, um ambiente que faz parte do cotidiano do paciente e de sua família. Os odores, ruídos, sons, assim como as pessoas que ali trabalham assumem características comuns. O que era antes assustador e desconhecido, agora é parte integrante de suas vidas (PEDRO; FUNGHETTO, 2005). Com base nos recortes dos conteúdos semânticos esta categoria ressalta que o cuidado de enfermagem em oncologia vem se especializando e modificando com o passar do tempo. Assim é necessário que a equipe multidisciplinar esteja mais próxima, acolhendo e executando de forma qualificada as demandas dessa família, indo ao encontro dos pressupostos da humanização do cuidado. Dessa forma, a enfermagem, na relação intersubjetiva que mantém com a família do paciente, pode atenuar as dificuldades encontradas em relação à doença e ao tratamento e potencializar estratégias de conforto, estimulando a criação de redes e vínculos que auxiliam no enfrentamento do cotidiano da hospitalização. 4 CONCLUSÃO Este estudo possibilitou a compreensão de que o câncer não só envolve a pessoa doente, mas todo o grupo familiar que se apoiam mutuamente e buscam valorizar um modo de agir, no qual o estar perto, o estar junto, o estar presente com o familiar doente é de grande relevância no momento do tratamento e durante todo o processo de cura e recuperação do doente. Assim os objetivos almejados através do estudo puderam ser contemplados, deixando sempre clara a importância da atuação do enfermeiro junto à família do paciente. O estudo evidenciou que o adoecimento por câncer causa desespero e insegurança, momento que necessita de um preparo, pois existem as dificuldades de adaptação, o convívio com sequelas, o reconhecimento de dificuldades físicas, cognitivas e psicossociais e o medo constante da ameaça do retorno da doença – a recidiva, que merecem uma maior atenção por parte dos profissionais de saúde Acredita-se que o câncer acarreta uma mescla de sentimentos por parte de todas as pessoas envolvidas, o paciente por ter de se adaptar a um tratamento que muitas vezes poderá lhe causar sofrimento; à família, por terem que vivenciar uma situação inesperada que lhes causará dor, problemas financeiros, sentimentos como culpa, raiva, entre outros; à equipe, que se entristece, se sente frágil e impotente frente à situação. Quanto ao cuidado percebido como um sentimento de realização ou gratificação, o mesmo evidencia-se no momento em que esse paciente sai curado ou consegue restabelecer-se com sucesso. A equipe se expressa com um sentimento de prazer, uma sensação agradável de dever cumprido na sua prática de cuidado. Nesse contexto, faz-se necessário a busca pelo equilíbrio entre o cuidado biologicista e o cuidado humanizado, uma vez que o tratamento do câncer exige a utilização de cuidados altamente técnicos os quais devem ser acompanhados do cuidado humanizado. Esse equilíbrio pode auxiliar as famílias no enfrentamento das dificuldades experienciadas neste período crítico de suas vidas. O estudo constatou que os significados construídos evidenciam a necessidade de ampliar o foco de atenção dos profissionais de saúde, incluindo as referências socioculturais do contexto das pessoas que vivenciam o processo de ter uma doença crônica, como é o caso do câncer. No caso da enfermagem, isso significa uma forma de ultrapassar a dimensão biológica do cuidar. Nesse pensar, entende-se ser necessário construir, junto com as pessoas acometidas pelo câncer, estratégias de cuidado em consonância com suas concepções e expectativas, com vistas a promover a sua sobrevivência com qualidade. REFERÊNCIAS ARAÚJO, H. M. A.; SILVA, R. M.; BONFIM, I. M.; FERNANDES, A. F. C. A comunicação da enfermeira na assistência de enfermagem à mulher mastectomizada: um estudo de Ground Theory. Rev. Latino – am. Enferm. Vol. 18, n.1, pp. 1 – 7, 2010. BIANCHINI, D. C. S.; DEE’ AGLIO, D. D. Processos de resiliência no contexto de hospitalização: um estudo de caso. Rev. Bras. de Cancerologia. Vol.16, n. 35, pp. 427 – 436, 2006. CASANOVA, E. G.; LOPES, G. T. Comunicação da equipe de enfermagem com a família do paciente. Rev. Bras. de Cancerologia. Vol. 62, n. 6, pp. 831 – 836, 2009. COSTA, C. A.; LUNARDI FILHO, W. D.; SOATES, N. V. 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