UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE NEUROPLASTICIDADE E PSICOMOTRICIDADE Por: Marcely Ribeiro Lengruber Orientador: Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro 2004 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE NEUROPLASTICIDADE E PSICOMOTRICIDADE Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Latu Sensu” em Psicomotricidade. Por: Marcely Ribeiro Lengruber 3 AGRADECIMENTOS Aos meus colegas e meus pacientes que me estimularam a buscar enriquecimento profissional 4 DEDICATÓRIA Ao meu amor Virgilio e a minha mãe, por seu carinho, cuidado e bons exemplos. 5 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo o estudo da importante capacidade de reorganização apresentada pelo cérebro: a Neuroplasticidade. A descoberta e o aprofundamento dos estudos de tal capacidade tem colaborado de forma inenarrável para os avanços das áreas da reabilitação e aprendizagem ou educação. Para tanto, será apresentado um breve esclarecimento das várias fases que está presente no complexo percurso de desenvolvimento das principais células que constituirão o Sistema Nervoso, também pretende transmitir informações ao leitor referentes ao movimento, quais as ativações que o controle do movimento exige para que esta função seja organizada e executada. Com o intuito de preparar o leitor para um entendimento maior sobre a Neuroplasticidade será fornecido informações acerca desta fantástica capacidade cerebral de se reorganizar, afim de executar de maneira mais perfeita possível seus objetivos, seja em uma situação de aprendizagem ou lesão. Finalizando então, com a apresentação das principais áreas psicomotoras, de modo que o leitor possa estar consciente da importância de um perfeito desenvolvimento psicomotor para o bom desempenho do indivíduo e para qualidade de vida deste em seu meio. Para a realização desse estudo foi utilizado como metodologia pesquisas bibliográficas e observação do objeto de estudo. Os principais teóricos que fundamentaram o estudo foram Laurie Lundy-Erkman e Vitor da Fonceca. Palavras-Chave: Neuroplasticidade, cérebro, psicomotricidade. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 07 1 – ASPECTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO 09 2 – MOTRICIDADE 14 3 – O QUE É NEUROPLASTICIDADE? 18 4 - PSICOMOTRICIDADE 28 CONCLUSÃO 40 BIBLIOGRAFIA 43 ANEXOS 44 FOLHA DE AVALIAÇÃO 45 ÍNDICE 46 7 INTRODUÇÃO Neuroplasticidade é a capacidade de organização do Sistema Nervoso frente ao aprendizado e a lesão, através de um fenômeno denominado neuroplasticidade, o cérebro pode se reajustar funcionalmente, havendo uma reorganização dos mapas corticais. As mudanças descritas na organização do córtex incluem o aumento dos dendritos, das sinapses e de fatores neurotróficos essenciais para a sobrevivência de células nervosas. Após ocorrer uma lesão, em algum lugar do córtex motor, mudanças de ativação em outras regiões motoras são observadas. Essas mudanças podem ocorrer em regiões homólogas do hemisfério não afetado, que assumem as funções perdidas, ou no córtex intacto adjacente a lesão. Esta organização se relaciona com a modificação de algumas conexões sinápticas. A plasticidade nervosa não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume também funções extremamente importantes no funcionamento normal do indivíduo. A recuperação da lesão passa por processos diferenciados que variam desde a existência de vias motoras latentes em várias áreas do córtex ou no hemisfério contralateral que podem ser ativadas para assumir a função do tecido lesado até o fato da função ser totalmente substituída pelo hemisfério remanescente. A monografia é constituída por quatro capítulos. O primeiro, “Aspectos sobre o Desenvolvimento do Sistema Nervoso”, que se destina a oportunizar ao leitor um breve esclarecimento das várias fases que está presente no percurso de desenvolvimento de todas as partes que constituirão o SN. 8 O segundo capítulo, “Motricidade” pretende transmitir informações ao leitor referentes ao movimento, quais as ativações que o controle do movimento exige para que esta função seja organizada e executada. O terceiro capítulo, “O que é Neuroplasticidade?”, visa fornecer ao leitor informações acerca desta fantástica capacidade cerebral em se reorganizar, a fim de executar de maneira mais perfeita possível seus objetivos, seja em uma situação de aprendizagem ou lesão. O quarto e último capítulo, “Psicomotricidade”, visa apresentar principais áreas psicomotoras, de modo que o leitor possa estar consciente da importância de um perfeito desenvolvimento psicomotor para o bom desempenho do indivíduo e para qualidade de vida deste em seu meio social. 9 1 ASPECTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO O ser humano completo pode se desenvolver a partir de uma única célula fertilizada. Como é que o sistema nervoso extremamente complexo é gerado durante o desenvolvimento? Influências genéticas e ambientais atuam sobre as células durante todo o processo de desenvolvimento, estimulando seu crescimento, sua migração e diferenciação, e até mesmo sua morte e retração axônia para criar o sistema nervoso adulto. Alguns desses processos são complementados in útero, enquanto outros continuam durante os primeiros anos após o nascimento. 1.1 Estágios do Desenvolvimento In Útero • Estágio Pré-embrionário O estágio pré-embrionário vai desde a concepção até duas semanas após. A fertilização do óvulo ocorre em geral na trompa uterina. O ovo fertilizado, uma única célula começa a se dividir à medida que passa ao longo da trompa uterina, para dentro de sua cavidade. Por divisões celulares repetidas, forma-se uma esfera sólida de células. A seguir, forma-se uma cavidade, nessa esfera sólida de células. Nesse estágio do desenvolvimento, a esfera é chamada de blastocisto. A camada externa do blastocisto se tornará a contribuição fetal à placenta enquanto a camada interna vai formar o embrião. O blastocisto se implanta no endométrio uterino. Durante essa implantação a massa interna das células se desenvolve no disco embrionário, que consiste em duas camadas celulares: ectoderma, endoderma. Logo depois, uma terceira camada celular, o mesoderma, se forma entre as duas camadas. • Estágio Embrionário Durante o estágio embrionário os órgãos são formados. Este estágio vai da segunda semana até o término da oitava semana de gestação. O ectoderma dá origem aos órgãos sensoriais, a epiderme e ao sistema nervoso. O mesoderma dá origem à derma, aos músculos, ao esqueleto e aos sistemas excretores e circulatório. O 10 endoderma se diferencia no que vai ser o intestino, o fígado, o pâncreas e o sistema respiratório. • Estágio Fetal O estágio fetal dura do término da oitava semana até o nascimento. O sistema nervoso se desenvolve mais completamente e começa a mielinização (isolamento dos axônios por tecido gorduroso). 1.2 Formação do Sistema Nervoso A formação do sistema nervoso ocorre durante o estágio embrionário e tem duas fases. Na primeira o tecido que vai se formar o tecido nervoso coalesce para formar um tubo ao longo do dorso do embrião. Quando se fecham as extremidades desse tubo, começa a segunda fase, a formação do encéfalo. O encéfalo e a medula espinhal se desenvolvem inteiramente a partir do tubo neural. Os neurônios na parte dorsal do tubo neural processam a informação sensorial. Os neurônios com os seus corpos celulares na parte ventral inervam os músculos esqueléticos. • Formação do Encéfalo Quando neuroporo superior fecha, a futura região encefálica do tubo neural se expande, formando três dilatações: O cérebro posterior (rombencéfalo), o cérebro médio (mesencéfalo) e o cérebro anterior (prosencéfalo). Pouco depois duas dilatações adicionais aparecem, dividindo o encéfalo em cinco regiões distintas. Essas dilatações, como o seu tubo neural precursor são ocas. No sistema nervoso maduro, essas cavidades, cheias de líquido são chamadas de ventrículos. Em 1 quilo e 500 gramas de cérebro a massa encefálica de um adulto, 100 bilhões de células nervosas estão em atividades. Cada uma liga-se a milhares de outras em mais de 100 trilhões de conexões. A trama é precisa e delicada. Graças a ela, o homem, pensa, raciocina, lembra, enxerga, ouve, aprende, emociona-se. Essa 11 teia, porém, não vem pronta e acabada, os 400 gramas de massa cinzenta de um recém-nascido guardam os neurônios de toda uma vida. As conexões, no entanto, ainda não estão totalmente desenvolvidas. E elas não são etéreas, imateriais, a diferença de peso entre o cérebro de um adulto e o de um bebê vem exatamente desse fato. As fibras nervosas capazes de ativar o cérebro têm de ser construídas, e o são pelas exigências, pelos desafios e estímulos a que uma criança é submetida, a maior parte entre o nascimento e os 4 anos de idade. O cérebro então é a maior e mais completa massa de tecido nervoso do corpo. Os centros que governam todas as atividades sensoriais e motoras estão localizada no cérebro. Há, adicionalmente, áreas que determinam raciocínio, memória e inteligência. - Os hemisférios cerebrais consistem em: Córtex cerebral: camada de circulação de massa cinzenta que cobre os hemisférios cerebrais. Algumas funções específicas são localizadas em certas áreas gerais do córtex cerebral. Substância branca: cada hemisfério é constituído no seu interior pela massa branca, a qual se localiza isolada da massa cinzenta, é formada por fibras corticais aferentes e eferentes. Hemisfério cerebral: cada hemisfério cerebral contem um conjunto completo de centros para governar as atividades sensoriais e motoras do corpo. As atividades associadas do hemisfério são contralaterais ao corpo. O hemisfério esquerdo na maioria das pessoas controla a fala e a linguagem, também é especializado no controle das mãos e nos processos analíticos. O hemisfério direito é especializado em funções como a estereognose, e a percepção do espaço. O hemisfério cerebral que controla a fala e a linguagem é chamado de hemisfério dominante. 12 Os dois hemisférios são separados pela grande fissura longitudinal e são unidos pelo corpo caloso. É dividido em quatro lobos: - Lobo Frontal: o giro pré-central é a região motora primária do córtex cerebral situado no lobo frontal. - Lobo Parietal: o giro pós-central é a região somatossensorial primária do córtex cerebral, situado no lobo parietal. - Lobo Temporal: localização do córtex auditivo primário. Adjacente a ele, fica o córtex auditivo de associação, responsável pela interpretação da informação auditiva. - Lobo Occipital: localização do córtex visual primário, é o córtex visual de associação, responsável pela interpretação da informação auditiva. Luria (1973) dividiu o cérebro em três unidades funcionais. Sob bases estrutural-funcionais. Unidade I, as estruturas da unidade estão situadas no tronco cerebral e nas superfícies médias dos hemisférios cerebrais. Regula o controle do tônus, vigília e estado mental, recebe e envia impulsos para a periferia. Unidade II, ocupa as regiões posteriores das superficies laterais e consiste nos lóbulos occipital, temporal e parietal, capta, processa e registra e informações ambientais. Tendo três modos de inputs: audição, visão e sensação tátil – cinestésica, processa informações que entram ou prepara programas para a ação. A unidade III, situa-se nos lóbulos frontais. É responsável pela programação, controle e verificação de atividades, responsável pela participação integrativa de muitas áreas. O cérebro posterior se divide em duas partes: a parte inferior forma o mielencéfalo, a parte superior o metencéfalo. A diante, essas partes vão se diferenciar no bulbo, na ponte e no cerebelo. Na parte superior do cerebelo posterior, o canal central se expande, para formar o quarto ventrículo. A ponte e o bulbo superior ficam anteriores ao quarto ventrículo, enquanto o cerebelo tem sua situação posterior. 13 A dilatação do cerebelo médio retém seu nome, mesencéfalo durante todo o desenvolvimento. O canal central se forma no aqueduto cerebral, no mesencéfalo conectando os terceiro e quarto ventrículos. A parte superior do cérebro anterior permanece na linha média, para formar o diencéfalo. Suas estruturas principais são o tálamo e o hipotálamo. A cavidade na linha média forma o terceiro ventrículo. A parte anterior do cerebelo anterior dá origem ao telencéfalo. A cavidade central se expande para formar os ventrículos laterais. O telencéfalo vai formar os hemisférios cerebrais; os hemisférios cerebrais se expandem de forma tão extensa que chegam a envolver o diencéfalo. Os hemisférios cerebrais consistem em núcleos profundos, incluindo os gânglios da base, a substância branca e o córtex, conforme os hemisférios se expandem para formar os lobos temporais. 14 2 MOTRICIDADE Ler, falar, andar, escrever, cozinhar, andar de bicicleta, tocar um instrumento, cada ação que realizamos depende de vários sistemas. Um deles, é de primordial importância, é o sistema motor. O movimento é orquestrado pela ação coordenada das regiões periférica, medular, tronco encefálico, cerebelar e cerebral, ação essa formada por um contexto específico e direcionada pelas intenções da pessoa. Considere quando uma grande poça de óleo recobre a calçada, ou poças de água após uma chuva; cadência, comprimento da passada e a postura se ajustam as novas necessidades. Uma ou outra pessoa pode preferir se apoiar em alguma coisa, arrastar os pés escorregando em vez de arriscar uma queda. Essas alternativas são escolhidas em função da informação sensorial, o desenvolvimento motor normal e a sensibilidade são indissociavelmente ligados. A informação sensorial necessária, varia em função da tarefa e, com freqüência é usada no preparo do próximo movimento ou movimento adiante (feed-forward) além de fornecer informação durante e após o movimento (feed-back). Como o sistema motor controla um ato motor simples, como a decisão de pegar um garfo, ou uma caneta? A seqüência da atividade neural começa com a decisão, que ocorre na parte anterior do lobo frontal. Em seguida as áreas de planejamento motor são ativadas; depois os circuitos de controle. Esses circuitos de controle, formados pelo cerebelo e pelos gânglios da base, regulam as atividades das vias motoras descendentes. Essas vias motoras descendentes levam sinais para os interneurônios medulares e para os motoneurônios inferiores. Os motoneurônios inferiores transmitem sinais diretamente para os músculos esqueléticos, produzindo a contração das fibras musculares apropriadas para mover o membro superior e os dedos. O controle normal do movimento exige a ativação do seguinte: • Motoneurônios Inferiores • Conexões da região medular 15 • Vias descendentes • Circuitos de controle • Áreas de planejamento motor DECISÃO ÁREAS DE PLANEJAMENTO MOTOR CIRCUITOS DE CONTROLE VIAS MOTORAS DESCENDENTES INTERNEURÔNIOS MEDULARES MOTONEURÔNIOS INFERIORES MÚSCULOS ESQUELÉTICOS 16 2.1 Controle Motor O comportamento motor evolui a partir de um complexo conjunto neurológicos e mecânicos que determinam a natureza dos movimentos. Alguns movimentos são geneticamente predeterminados e se tornam aparentes através dos processos de crescimento e desenvolvimento normais, são exemplos desses movimentos os padrões reflexos que predominam durante grande parte do início de nossas vidas. Outros movimentos denominados habilidades motoras, são aprendidos através da interação e exploração do ambiente. Assim, a prática e a experiência, são importantes variáveis na definição do aprendizado motor e no desenvolvimento das habilidades motoras. Tanto os padrões reflexos quanto as habilidades motoras estão sujeitos ao controle pelo sistema nervoso central, que organiza vasta quantidade de informações sensoriais e produz os comandos necessários para o movimento coordenado. Bobath 1990, fundamenta que a função do sistema nervoso central, com respeito a nossa conduta motora, e a de nos dar habilidade de nos movimentar e realizar atividades altamente especializadas mantendo ao mesmo tempo nossa postura e equilíbrio. A autora relata que, no plano motor, o nascimento não tem um significado privilegiado, a motricidade do recém-nascido até os seis meses é subcortical; predominam os centros inferiores, o que resultam em um comportamento totalmente dominado pelas necessidades orgânicas e pela tentativa alimento-sono. Os gestos são orientados e mais parecem “crise de movimento”. A formação reticular, responsável pela organização do tônus, só vai alcançar maturidade em torno dos oito meses, a partir de informações que lhe são dirigidas. Duas grandes estruturas intervêm para modelar a atividade reticular e o tônus: o cerebelo, peça-chave do sistema postural, e o hipotálamo e glândulas endócrinas que fazem o tônus variar, em função das necessidades orgânicas. Bobath descreve que, o desenvolvimento motor normal depende da maturação superior do sistema nervoso, do código genético e das experiências do meio ambiente (feedback), este desenvolvimento se processa: céfalo-caudal, próximodistal e movimentos grosseiros/movimentos finos. É mais comumente chamado de 17 desenvolvimento sensório-motor, pois, depende do input sensorial para se manifestar, e para isso todo o sistema sensorial deve estar envolvido; tátil, proprioceptivo, cinestésico, visual e vestibular. 2.2 Recuperação da Força Muscular Após lesões ou períodos de paralisação de movimentos, a recuperação da força muscular e o aumento na habilidade funcional ocorrem através de vários processos fisiológicos. Os neurônios recuperados desenvolvem brotamentos axonais para reinervar fibras musculares órfãs. Um outro processo provê um aumento na habilidade funcional e um aumento aparente na força através do aprendizado neuromuscular enquanto que a prática de um exercício ou uma atividade leva a uma melhora nas habilidades e desempenho sem necessidade de aumento da força muscular. Os ganhos funcionais iniciais após a lesão são atribuídos à redução do edema cerebral, absorção de tecido lesado e melhora do fluxo vascular local (circulação de luxo). Como o sistema nervoso em desenvolvimento é mais plástico que o sistema nervoso do adulto, uma lesão em uma criança de 8 anos de idade é geralmente caracterizada por boa recuperação de função. Contudo, uma lesão aos 80 anos de idade pode ser mais devastadora como resultado de uma recuperação funcional pior. Quanto menos completa a lesão, maior a probabilidade que ocorra uma recuperação significativa. A lesão nas vias motoras ou sensoriais primárias é mais provável resultar em maior déficit funcional que o dano a outras áreas. Está comprovada que a atuação da fisioterapia, através de estímulos aos padrões normais de movimento e inibição dos padrões anormais, provoca um aumento e aceleração no processo de recuperação funcional cerebral. A atuação correta e eficaz da equipe de reabilitação na estimulação da plasticidade é de fundamental importância para a recuperação máxima da função motora do indivíduo. Isso implica na escolha certa do tratamento e na intensidade do mesmo no período de maior recuperação da área lesada e sua atividade funcional. 18 3 . O QUE É NEUROPLASTICIDADE? O cérebro é considerado um órgão plástico pois, sofre alterações e mudanças ao longo de nossas vidas. É qualquer modificação do sistema nervoso central que não seja periódica e que tenha duração maior que poucos segundos. Como também é o processo através do qual o sistema nervoso central tenta manter suas funções com os neurônios que sobraram após uma lesão. Neuroplasticidade é a denominação das capacidades adaptativas do SNC - sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos. Este fato é melhor compreendido através do conhecimento do neurônio, da natureza das suas conexões sinápticas e da organização das áreas cerebrais. A cada nova experiência do indivíduo, portanto, redes de neurônios são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas e múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis. Existem variáveis importantes no sentido de entender o potencial para a recuperação funcional após lesão. São elas: idade do indivíduo, local e tempo da lesão e a natureza da mesma. Podemos encontrar várias teorias sobre como se dá a recuperação das funções perdidas em uma lesão cerebral: ela poderia ser mediada por partes adjacentes de tecido nervoso que não foram lesadas, e o efeito da lesão dependeria mais da quantidade de tecido poupado do que da localização da lesão; pela alteração qualitativa da função de uma via nervosa íntegra controlando uma função que antes não era sua; através de estratégias motoras diferentes para realizar uma atividade que esteja perdida, sendo o movimento recuperado diferente do original embora o resultado final seja o mesmo. 19 As alterações celulares que acompanham estas teorias são: Brotamento que é definido como um novo crescimento a partir de axônios. Envolve a participação de vários fatores celulares e químicos: a resposta do corpo celular e a formação de novos brotos; alongamento dos novos brotos; cessação do alongamento axonal e sinaptogênese. Existem duas formas de brotamento neural no SNC: regeneração, que diz respeito a um novo crescimento em neurônios lesados, e o brotamento colateral, um novo crescimento em neurônios ilesos adjacentes ao tecido neural destruído. Essas alterações sinápticas difusas podem ser o mecanismo fisiológico subjacente a uma reaprendizagem ou processo compensatório Brotamento colateral em um paciente com síndrome amiotrófica lateral, mostra um mesmo neurônio inervando duas placas motoras O brotamento é caracterizado por uma fase inicial rápida, seguida de outra muito mais lenta que duram meses. Brotamentos a partir de axônios preservados aparecem e se propagam sobre os campos próximos, entre 4 a 5 dias após a lesão. Outra característica do fenômeno é sua seletividade tanto em termos do local, quanto do tipo de fibras que sofrem o processo. Ativação de Sinapses Latentes: quando um estímulo importante às células nervosas é destruído, sinapses residuais ou dormentes previamente ineficazes podem se tornar eficientes. Supersensitividade de Desnervação: quando ocorre desnervação a célula pós sináptica torna-se quimicamente supersensível. Dois possíveis mecanismos são responsáveis pelo fenômeno: desvio na supersensitividade (pré sináptica) causando acúmulo de acetilcolina na fenda sináptica; alterações na atividade elétrica das membranas. Estas formas de regeneração no SNC são crucialmente dependentes do ambiente tissular no qual os novos axônios estão crescendo. Eles podem não conseguir estabelecer conexões sinápticas apropriadas, devido aos fatores tróficos, condições desfavoráveis de substratos extracelulares, barreiras mecânicas, como de 20 cicatrizes gliais densas, ou outros mecanismos inibitórios. As áreas motoras do SNC demonstram os princípios do brotamento e da sinaptogênese reativa. O brotamento colateral já foi identificado no córtex, no núcleo vermelho e outras regiões cerebrais, sugerindo que este é um fenômeno generalizado. Supersensitividade de desnervação, por outro lado, já foi demonstrada no núcleo caudado. A base das mudanças reorganizacionais é a presença de conexões intracorticais que permitem interações variáveis entre neurônios no córtex motor primário. Outro mecanismo ainda em fase de testes é o de transplante de células. O uso do transplante, combinado com um treinamento adequado, demonstra que pode haver recuperação através deste associado com programas de reabilitação, com melhora na habilidade motora. Plasticidade não é igual a cura, mas sim uma capacidade da célula nervosa saudável de tentar estabelecer conexões ou manter contato quando o sistema nervoso é lesado. É o processo pelo qual ocorre a melhora da comunicação entre as células nervosas ou seja a melhora das sinapses. Há algum tempo atrás as pessoas pensavam o cérebro como uma caixa preta, contendo ligações definitivas. Ao contrário do que se acreditou por muito tempo, a estrutura do cérebro pode ser remodelada extensivamente no decurso de uma vida. É possível ensinar regiões do cérebro a executar tarefas diferentes, se for preciso. Se uma região apresentar uma disfunção ou estiver danificada, outra poderá servir como substituta. Um outro mecanismo que também poderá ocorrer é a regeneração axônia, mas somente alguns neurônios têm a capacidade de regenerar seus axônios. As modificações que ocorrem no cérebro incluem: • Habituação • Aprendizado e memória • Recuperação de lesão 21 3.1 Habituação A habituação é uma das formas mais simples de neuroplasticidade. Em seus estudos sobre postura e locomoção de animais, Charles Sherrington observou que certos comportamentos reflexos, como afastar (retirada) um membro de um estímulo moderadamente doloroso, cessavam de ser produzidos após várias repetições do mesmo estímulo. Sherrington propôs que a reatividade diminuída, ou a habituação, resultaria de redução funcional da eficácia sináptica da via estimulada até o neurônio motor. Posteriormente demonstrou-se que a habituação do reflexo era, na verdade, devida a redução da atividade sináptica entre os neurônios sensoriais e os interneurônios. Essa é considerada como sendo devida em parte à diminuição da quantidade liberada de neurotransmissores pela terminação pré-sináptica do neurônio sensorial. Geralmente após alguns segundos de repouso, os efeitos da habituação não estão mais presentes e um reflexo pode ser procurado em resposta a estimulação sensorial, todavia, com repetição prolongada da estimulação, ocorrem alterações estruturais mais permanentes: o numero de conexões sinápticas diminuiu. Clinicamente o termo habituação é aplicado a técnicas e exercícios usados na reabilitação visando a diminuição da resposta neural a um estímulo. 3.2 Aprendizado e Memória Diferentemente dos efeitos de curta duração e reversíveis da habituação, o aprendizado e memória dependem de alterações persistentes e de longa duração da força das conexões sinápticas. As técnicas de neuroimageamento revelam que, durante as fases iniciais do aprendizado motor, regiões grandes e difusas do encéfalo mostram atividade sináptica. Com a repetição da tarefa, ocorre a redução do numero de regiões ativas do encéfalo. Finalmente quando a tarefa foi aprendida, só pequenas regiões distintas do encéfalo mostram atividade aumentada durante a execução da tarefa. A memória a longo prazo depende da síntese de novas proteínas, bem como do crescimento de novas conexões sinápticas. Com a repetição de estímulo específico, a síntese e a ativação de novas proteínas modificam a excitabilidade 22 neuronal e promovem o crescimento de novas conexões sinápticas. Um mecanismo celular para a formação da memória, chamado Potencialização a Longo Prazo (longterm potentiation [LTP]) foi identificado no hipocampo. O hipocampo no lobo temporal, é essencial para o processamento das memórias que possam ser, com facilidade, verbalizada. Por exemplo, o hipocampo é importante para a recordação de nomes, mas não para a lembrança de atos motores, como andar de bicicleta. A estimulação experimental demonstrou que descarga breve de alta freqüência nas vias aferentes para o hipocampo produz aumento da amplitude dos potenciais póssinápticos excitatórios (PPSEs) nas células associadas ao hipocampo. Essa facilitação dos PPSEs pode durar vários dias no animal intacto. Essa facilitação, ou potencialização a longo prazo tem três exigências: 1 – Mais de uma fibra nervosa tem de ser ativada (cooperatividade). 2 – As fibras contribuintes e a célula pós-sináptica têm de ser ativadas junto (associatividade). 3 – A potenciação tem de ser específica para apenas a via ativada (especificidade). As propriedades de cooperatividade e de associatividade são importantes, visto que múltiplas entradas (inputs) podem ter efeito aditivo, e uma entrada fraca será potenciada se for ativada em associação com uma entrada forte. Experimentos indicam que o processamento da memória facilmente verbalizada está relacionado ao aumento da atividade sináptica e a alterações metabólicas que aumentam a eficácia da descarga celular. Mais uma vez, o influxo de Ca++ tem papel importante na transmissão sináptica. A produção de LTP depende da despolarização da célula pós sináptica, do influxo de Ca++ e da ativação pelo Ca++, de segundos mensageiros celulares. A manutenção da LPT necessita da liberação, mediada pelo cálcio, de neurotransmissor pela terminação pré-sináptica. As alterações a longo prazo, incluindo a síntese de novas proteínas e crescimento de novas conexões sinápticas, produzem resposta sustentada e memória de estímulos repetitivos específicos. 23 3.3 Recuperação de Lesão Tudo que lesar ou seccionar um axônio neuronal provoca alterações degenerativas que podem, mas não necessariamente, causar a morte da célula. Alguns neurônios têm a capacidade de regenerar seus axônios. Contrastando com o que ocorre nos axônios, a lesão destrutiva do corpo celular neuronal leva, invariavelmente, à morte desta célula. Quando neurônios no sistema nervoso adulto morrem, eles não são substituídos. Contudo, as alterações nas sinapses, na reorganização funcional do sistema nervoso central e as alterações relacionadas com a atividade, na liberação de neurotransmissores, promovem a recuperação da lesão. 3.4 Lesão Axônica Quando um axônio é seccionado, a parte que permanece ligada ao corpo celular é designada como segmento proximal, enquanto a que fica isolada do corpo celular é designada como segmento distal. Imediatamente após a secção, o protoplasma vaza das extremidades cortadas e os segmentos se retraem, afastando-se um do outro, uma vez isolado do corpo celular o segmento distal do axônio passa pelo processo designado como degeneração Walleriana. Quando o segmento distal do axônio se degenera, a bainha de mielina se afasta do axônio, enquanto o próprio axônio incha e se rompe, formando curtos segmentos. As terminações axônicas se degeneram e sua perda é seguida pela morte de todo o segmento distal. As células da glia invadem essa região, removendo os dendritos do axônio degenerado. Além da degeneração axônica, o corpo celular associado passa por alterações degenerativas, chamadas cromatólise central, levando ocasionalmente, á morte celular. Ao mesmo tempo, a célula pós-sináptica, que tinha contato com a terminação axônica, também degenera até morrer. O axônio lesado emite brotamentos laterais para novos alvos. A regenerção funcional dos axônios ocorre com mais freqüência, no sistema nervoso periférico, em parte porque a produção do fator de crescimento neural (nerve growth factor [NGF]) pelas células de Schwann contribui para a recuperação dos axônios periféricos. Essa recuperação é lenta, com crescimento da ordem de 1mm a cada dia, 24 ou aproximadamente uma polegada (2,5 cm) por mês. Diferente das lesões dos axônios periféricos, as lesões do sistema nervoso central são irreversíveis, visto que os neurônios centrais não podem regenerar funcionalmente seus neurônios nas condições fisiológicas normais. A falta de regeneração decorre em parte, da falta de NGF, da inibição do crescimento pelos oligodendrocitos e pela interferência da atividade de limpeza da microglia. O brotamento por axônios periféricos pode causar problemas quando um alvo inadequado é reinervado, por exemplo, após lesão de nervo periférico, os axônios motores podem reinervar outros músculos que não os inervados antes, resultando em movimentos não desejados quando os neurônios ficam ativos. Esses movimentos não desejados, chamados sincinesias perduram, em geral por pouco tempo, a medida que a pessoa reaprende o controle motor de forma semelhante nos sistemas sensoriais, a reinervação dos receptores sensoriais por axônios que previamente inervam tipo diferente de receptor sensorial pode causar confusão entre as modalidades sensoriais. Axônios periféricos lesados podem se recuperar da lesão e os alvos, privados de entrada (input) pelos axônios lesados, podem atrair novos brotamentos para manter o funcionamento do sistema nervoso. 3.5 Reorganização Funcional No encéfalo adulto as áreas corticais rotineiramente ajustam o modo como processam informação, conservando a capacidade de desenvolver novas funções. Os mapas das áreas funcionais do córtex cerebral são produzidos pelo registro da atividade neuronal, em resposta a estimulação sensorial ou durante as contrações musculares ativas. Em adultos foi demonstrada por imageamento por ressonância magnética (MRI), a realocação das funções neurais no córtex cerebral. 25 Já podemos concluir a mudança daquele conceito de “sistema nervoso estagnado e imutável” para um neuro-universo cada vez mais responsável, dinâmico e plástico. 26 4 . PSICOMOTRICIDADE O psicomotricidade é a posição global do sujeito. Pode ser entendido como a função de ser humano que sintetiza psiquismo e motricidade com o propósito de permitir ao indivíduo adaptar de maneira flexível e harmoniosa ao meio que o cerca. Pode ser entendido como um olhar globalizado que percebe a relação entre a motricidade e o psiquismo como entre o indivíduo global e o mundo externo. Pode ser entendido como uma técnica cuja organização de atividades possibilite à pessoa conhecer de uma maneira concreta seu ser e seu ambiente de imediato para atuar de maneira adaptada. O desenvolvimento motor é o resultado da maturação de certos tecidos nervosos, aumento em tamanho e complexidade do sistema nervoso central, crescimento dos ossos e músculos. São portanto comportamentos não aprendidos que surgem espontaneamente desde que a criança tenha condições adequadas para exercitar-se. Esses comportamentos não se desenvolverão caso haja algum tipo de distúrbio ou doença. Podemos notar que crianças que vivem em creches e que ficam presas em seus berços sem qualquer estimulação não desenvolverão o comportamento de sentar e andar na época adequada que futuramente apresentarão problemas de coordenação e motricidade. As principais funções psicomotoras são um bom desenvolvimento da estruturação proprioceptiva que mostre a evolução da apresentação da imagem do corpo e o reconhecimento do próprio corpo, evolução de preensão e da coordenação óculo-manual que nos proporciona a fixação ocular e preensão e olhar e desenvolvimento da função tônico e da postura em pé e reflexos arcaicos da estruturação espaço-temporal (tempo, espaço, distância e retina) Um perfeito desenvolvimento de nosso corpo ocorre não somente mecanicamente, mas sim que são aprendidos e vivenciados junto à família, o ambiente em geral onde a criança aprende a formar a base da noção de seu 'eu corporal'. Não podemos esquecer de citar a importância dos sentimentos da criança na fase do conhecimento de seu próprio corpo, pois um reconhecimento 27 corporal mal estruturado pode determinar na criança um certo desajeitamento e falta de coordenação, se sentindo insegura e isso poderá desencadear uma série de reações negativas como: agressividade, mau humor, apatia, que às vezes parece ser algo tão simples, poderá originar sérios problemas de motricidade que serão manifestados através do comportamento. O psicomotricidade é a técnica ou grupo de técnicas que tendem a interferir no ato intencional significativo, para estimular ou modificá-lo, usando como mediadores a atividade corporal e sua expressão simbólica. O objetivo, por conseguinte, é aumentar a capacidade de interação do sujeito com o ambiente. Os conceitos funcionais são referentes à integralização motora do indivíduo em um determinado espaço e tempo, cuja a ação e qualidade podem ser percebidas e mensuradas, são eles: 4.1 Tônus No âmbito da organização da psicomotricidade, o fator da tonicidade é sua base fundamental. A tonicidade orienta, por conseqüência, as atitudes, as posturas, as mímicas, as emoções etc, de onde surgem todas as atividades motoras humanas. A tonicidade tem um papel imprescindível no desenvolvimento motor. A tonicidade engloba todos os músculos responsáveis pelas funções biológicas e psicológicas, além de toda e qualquer forma de relação e comunicação não-verbal. Toda a motricidade necessita do suporte da tonicidade, ou seja, de um estado de tensão ativa e permanente. É impossível separar a motricidade da tonicidade. A tonicidade segue a motricidade em seu preparo, apoio, inibição, autoregulando. Todo o estudo sobre a motricidade humana, e como tal sobre a psicomotricidade, não pode deixar de focar a tonicidade, suporte fundamental. A tonicidade está relacionada com as respostas adaptativas a gravidade, onde se incluem os padrões hierarquizados do controle da cabeça ao 28 controle da postura de sentado, da quadrupedia, da braquiação e da conquista definitiva da postura bípede. A organização motora de base é o primeiro alicerce fundamental do sistema funcional complexo, que compreende a psicomotricidade. Sem esta organização tônica de suporte, a atividade motora não se desencadeia, nem a estruturação psicomotora se desenvolve. A tonicidade requer não só uma super complexa organização, reflexos a todo o nível do neuroeixo, como subentende toda a integração sensorial subcortical e cortical. A tonicidade também reflete o primeiro grau de maturidade neurológica do ser humano, suporte de gravidade e preparo da seqüência ordenada das aquisições do desenvolvimento postural e do desenvolvimento da preensão. 4.2 Equilibração A equilibração é uma condição básica da organização psicomotora, visto que envolve uma multiplicidade de ajustamentos posturais antigravíticos, que dão suporte a qualquer resposta motora. A equilibração reflete, conseqüentemente, a resposta motora vigilante e integrada, face a força gravitacional que atua permanentemente sobre o individuo. A equilibração reúne uma série de habilidades estáticas e dinâmicas, abrangendo o controle postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção. Movimento e postura são, de fato, inseparáveis em termos de controle motor. O movimento tende a deslocar uns segmentos corporais em relação a outros, ou a totalidade do corpo em relação ao solo. A postura, ou seja, a sua manutenção, é um processo ativo regulado por uma grande variedade de inputs sensoriais e centrais, que previnem a mudança de posição. Os sistemas de controle do movimento e da postura co-atuam e co-ajustam ao mesmo tempo, ou seja, são coordenados sinergeticamente, a fim de manterem uma ação integrada. Tal área compreende, em termos psicomotores, a integração da postura num sistema funcional complexo, que combina a função tônica e a proprioceptividade nas inúmeras relações com o espaço que envolve. 29 A equilibração permite a postura bípede do homem. É especifica da nossa espécie a complexa integração sensorial que está na base da equilibração. Dela partem as orientações simbólicas definitivas do homem. A equilibração é essencial para o desenvolvimento psiconeurológico da criança, um fator central para todas as ações coordenadas e intencionais, que no fundo são os alicerces dos processos humanos de aprendizagem. A organização neurológica da equilibração envolve fundamentalmente o tronco cerebral, o cerebelo e os gânglios da base. Para o cérebro estar mais apto a aquisições complexas, ele tem a necessidade de transferir as funções motoras mais simples para centros automáticos, daí a resposta dos problemas posturais em todas as funções de aprendizagem, ser psicomotoras ou psicolingüísticas. Quando aos quatro meses uma criança levanta a cabeça, como reação de suporte de gravidade, o cérebro não para de integrar a função da gravidade. A inibição dos reflexos tônicos do pescoço e dos reflexos tônico-labirínticos resulta num sistema sensório motor cada vez mais hierarquizado e organizado, local de onde surgem, os sucessivos estágios na aquisição da postura. A modulação tônica que encerra o domínio da equilibração é dependente do mecanismo de integração sensorial dos fusos neuromusculares. A função do uso neuromuscular é a chave para a manutenção do tônus muscular, esta é fundamental par a regulação da equilibração. A sua disfunção é, em certo ponto, o mesmo que inadequada informação sensorial. Esta disfunção implica uma diminuição na aferência neuromuscular, que tende a produzir efeitos em nível da integração proprioceptica e vestibular. A inadequação desde nível reduz a atividade dos fusos musculares tornando-os menos eficientes, pondo em risco a implementação de qualquer reação motora, reflexos posturais e os movimentos voluntários. Então a tonicidade está relacionada com a integração sensorial e esta intimamente dependente da organização da equilibração. O sistema vestibular é sem dúvida um dos processos básicos de convergência polissensorial, fundamental para a integração com a terra, onde a força 30 gravitacional atua. Esta integração importante, pertence a equilibração e só pode gerar outras relações mais completas, quando há uma verdadeira integração. Este sistema influência a visão e a audição associados ao músculo do pescoço. Coordena as informações visuais e auditivas com a cabeça e o corpo a fim que eles induzam a significação da informação. A informação do sistema vestibular é indispensável à visão para que relacione o espaço, tanto para o movimento global, quanto para manipular objetos. A visualização espacial joga indubitavelmente com o sistema vestibular, verdadeiro giroscópio do corpo. A informação visual só é útil quando relacionada com alguma referencia postural. Tal referência é desempenhada no corpo humano pelos canais semicirculares do sistema vestibular, verdadeiro radar endopsíquico, que interfere naturalmente com a noção do corpo (somatognosia). (Fonseca, p. 151) A equilibração, englobando o controle da postura, entrega o grau de integridade de fundamentais centros e circuitos neurológicos, sem os quais nenhuma atividade poderá ser realizada. Trata de bases do cérebro, como o tronco cerebral e o cerebelo que preparam para as primeiras aquisições, sobre as quais se irão construir os sistemas funcionais mais superiores. Esta área, junto com a tonicidade faz a organização motora base que prepara a organização psicomotora superior: Lateralidade, somatognosia, estruturação espácio-temporal e praxias. A motricidade antecipa a psicomotricidade. Apenas depois a atividade mental superior absorve a motricidade, fazendo dela psicomotricidade, razão pela qual esta traduz a organização psiconeurológica que atende a todas as aprendizagens do homem. 4.3 Lateralidade A lateralidade tem como função fundamental a recepção, a análise e o armazenamento da informação. Ela respeita a progressiva especialização dos dois hemisférios que resultam das funções sócio-históricas da motricidade laboral e da linguagem. 31 Muitas diferenças entre a motricidade animal e a psicomotricidade resultam do papel da lateralização na organização e na hierarquização funcional dos dois hemisférios cerebrais. Como conseqüência da integração bilateral postural do corpo a lateralidade é característica no ser humano e está evidentemente ligada com a evolução e utilização dos instrumentos, com integrações sensoriais complexas e com aquisições motoras unilaterais muito especializadas, dinâmicas e de origem social. A lateralidade basicamente inata, é dirigida por fatores genéticos, porém o ambiente pode influenciar. A lateralidade manual surge no fim do primeiro ano, mas só se fixa por volta dos 4-5 anos, embora muitas crianças possam ter a ambilateralidade antes da lateralidade definida. Ao nascer, os hemisférios, funcionalmente tem potencias iguais, e com a idade e com as experiências especializam-se funcionalmente um nos conteúdos simbólicos e o outro nos nãosimbólicos. O termo lateralidade vem do latim e significa lado. Desde a antiguidade a utilização da mão esquerda como dominante era visto como profana, o universo tinha um lado que era tido como melhor e outro pior, por isso que os canhotos são também denominados de sinistros. Vivemos em um mundo orientado para a mão direita: as carteiras escolares, réguas, veículos automotivos, tesouras etc, vários instrumentos têm uma configuração que privilegia os destros. É claro que estas atitudes e crenças históricas influenciam a lateralidade. Pais e professores devem estar conscientes dessas situações e não perpetuarem tais atitudes desreipetosas, impondo o uso da mão direita às crianças. Muitas crianças com tendência para a ambidestria ou para a mão esquerda na idade pré-escolar acabam por serem moldadas pelas aprendizagens da escola para o direcionamento da mão direita nas atividades manuais, muitas vezes as custas de um desvio psicomotor e ou problemas relacionados à aprendizagem . 32 A integração bilateral é imprescindível ao controle da postura e ao controle perceptivo visual. Sem eles a lateralidade como sistema funcional complexo não se diferencia e não produziria efeitos na psicomotricidade e na aprendizagem. A falta de lateralização do corpo está normalmente associada a pobre evocação de reflexos posturais, a uma equilibração estática e dinâmica pouco disponível, a um fraco controle visual, a permanentes confusões espaciais e direcionais e a hesitações múltiplas que prejudicam as relações com o envolvimento. A lateralidade traduz a capacidade de integração sensório-motora dos dois lados do corpo, transformando-se numa espécie de radar endopsíquico de relação e de orientação com o mundo exterior. Em termo de motricidade, retrata uma competência operacional, que preside a todas as formas de orientação do indivíduo. A lateralidade, com os seus vários componentes funcionais, ocular, auditivo, manual e pedal, promove a estabilidade do universo vivido, do qual partem todas as relações essenciais entre o indivíduo e o seu envolvimento. A não estabilização vivida, do sistema postural do humano, tende a alterar todas as relações de integração com o meio exterior, afetando a organização dos fatores tônicos e posturais e desintegrando os componentes da organização práxica. A equilibração e a lateralidade no ser humano permitem o acesso a orientação simbólica e de um dos hemisférios, normalmente o esquerdo, que cada vez mais se liberta da informação somática e torna-se apto a lidar com informação extrasomática de origem social. Em qualquer processo de aprendizagem, o hemisfério direito é mais rápido que o esquerdo. O acesso à linguagem no ser humano requer uma equilibração altamente complexa, superiormente governada por um hemisfério. Para lidar com sinais e símbolos, o cérebro tem que se organizar primeiro para lidar com informações tônicas, táteis e quinestésicas. A postura abre o caminho a linguagem através da função de lateralização, transformando o cérebro num órgão capaz de processar informação que tem origem fora do seu corpo. 33 4.4 Propriocepção A função primordial da propriocepção é a recepção, análise e armazenamento das informações vindas do corpo, reunidas sobre a forma de uma tomada de consciência estruturada e armazenada no soma. A evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo, a criança é o seu corpo, é através dele que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua personalidade. A propriocepção resulta das projeções específicas das áreas primárias, mas elabora-se e armazena-se como construção gnóstica corporal nas áreas parietais secundárias. A noção de corpo em psicomotricidade não avalia a sua forma ou as suas realizações motoras, procura outra via de análise que se centra mais no estudo da sua representação psicológica e lingüística e nas suas relações inseparáveis com o potencial de aprendizagem. A propriocepcia como noção construída pela própria criança adquire um sentido e uma significação cuja integração está na base das funções psíquicas superiores. Na observação psicomotora, a noção do corpo deve ser reconhecida como resultante da organização do input sensorial tátil-cinestésico, vestibular e proprioceptivo numa imagem interiorizada, de onde emerge uma representação mental, que em si, constitui-se num marco de referência interna que precede todas as relações com o exterior. A discriminação, identificação e localização tátil do corpo é, por conseqüência, determinante para a organização da propriocepção. Qualquer disfunção em integrar essa informação sensorial implica disgnosias ou agnosias, a dificuldade em localizar precisamente as partes do corpo envolvidas, ou por extensão, a dificuldade em identificar objetos por palpação ou manipulação. A propriocepção é a imagem do corpo humano e humanizado, imagem adquirida, elaborada e organizada no cérebro do indivíduo por meio da sua 34 aprendizagem mediada. A noção do corpo é uma gestalt de nós mesmos, a matriz biologicamente determinada pelas leis do desenvolvimento humano. A imagem do corpo não é a soma total das percepções e das experiências, mas a constelação dessas experiências num todo de si próprio. Os objetos estão referidos em relação ao nosso corpo e orientados no espaço com referência a ele. Por esse fato, a criança necessita possuir uma noção do corpo precisa e perfeita, uma imagem completa do seu corpo e uma imagem clara da sua posição no espaço. A propriocepção, além de revelar a capacidade peculiar do ser humano se reconhecer como um objeto no seu próprio campo perceptivo, de onde resulta a sua autoconfiança e auto-estima, numa palavra, o seu autocontrole, é também o resultado de uma integração sensorial cortical, que por meio dela, atingimos a matriz das nossas percepções e das nossas ações. 4.5 Estruturação Espácio-Temporal A estruturação espácio-temporal envolve as regiões posteriores do córtex, que subentendem as funções de análise, processamento e armazenamento da informação. Este fator envolve basicamente a integração cortical de dados espaciais, mais referenciados com o sistema visual, e de dados temporais, rítmicos, mais referenciados com o sistema auditivo. A estruturação espácio-temporal decorre como organização funcional da lateralização e da noção do corpo, uma vez que é necessário desenvolver a conscientização espacial interna do corpo antes de projetar o referencial somatognóstico no espaço exterior. Emerge da motricidade, da relação com os objetos localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, enfim das múltiplas relações integradas da tonicidade, da equilibração, da lateralização e da noção do corpo, confirmando o princípio da hierarquização dos sistemas funcionais e da sua organização vertical. A estruturação espácio-temporal depende do grau de integração e de organização dos anteriores fatores psicomotores. Toda a informação relacionada com o espaço tem de ser interpretada através do corpo. Pelo corpo, podemos estimular a 35 quantidade de movimento necessário para explorar o espaço, ou contatar com qualquer objeto nele localizado ou contido. Pela quantidade de movimento, podemos estimar a distância percorrida no espaço a percorrer para apanhar o objeto. Através da translação do movimento no espaço que obtemos conhecimento da distância a que nos encontramos do objeto ou da distância percorrida no espaço. Transformamos o conhecimento do corpo em conhecimento do espaço, primeiro intuitivamente, depois conceitualmente. A evolução do espaço é uma evolução de espaços. A expansão da consciência espacial parte do corpo, passa pela locomoção e pela percepção e chega à sua representação. A estruturação temporal envolve a localização do espaço de forma permanente. A seqüência dos acontecimentos e a sua relação temporal são essenciais para estabelecer sistemas de relações na medida em que a experiência materializa uma corrente e uma fluência de eventos ao longo de uma direção temporal irreversível. Através da estruturação temporal a criança tem consciência da sua ação, o seu passado conhecido e atualizado, o presente experimentado e o futuro desconhecido é antecipado. Essa estrutura de organização é determinante para todos os processos de aprendizagem. A noção do tempo é uma noção de controle e de organização, no nível da atividade a no nível da cognitividade. A unidade de extensão da dimensão temporal é o ritmo, que envolve a conscientização da igualdade dos intervalos de tempo. O ritmo constante é uma série de intervalos de tempo iguais, como vários ritmos biológicos do individuo. A estruturação temporal e a estruturação espacial, são os fundamentos psicomotores básicos da aprendizagem e da função cognitiva, pois, fornecem as bases do pensamento relacional, a capacidade de ordenação e de organização, a capacidade de processamento simultâneo e seqüenciado da informação, a capacidade de retenção e de reauditorizaçao e revisualizaçao, de representação, quantificação e de categorização. 36 A estruturação espácio-temporal fornece, no seu conjunto, imensos dados, cuja implicação educacional psiconeurológica é significativa, na medida em que identifica o estado de maturação das pré-aptidões simbólicas da criança em idade pré-primária, e porque permite detectar sinais de alguma importância para a compreensão e reabilitação dos problemas da criança com dificuldades de aprendizagem. 4.6 Coordenação Motora Global Refere-se às atividades dos grandes músculos conjuntamente. Através da movimentação desses músculos e da sua experenciação, o indivíduo busca o eixo corporal e conquista o equilíbrio. Possibilita o controle e a organização da musculatura ampla para a realização dos movimentos e conseqüentemente vai se conscientizando do corpo e das posturas. A coordenação motora global tem como função fundamental envolver a organização da atividade consciente e a sua programação, regulação e verificação. Tem como principal missão a realização e a automação dos movimentos globais complexos, que se desenrolam num certo período de tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares. A coordenação motora global envolve muitos níveis hierárquicos, desde a tonicidade à estruturação espácio-temporal. Este fator é a expressão da informação do córtex motor, como resultado da recepção de muitas informações sensoriais, táteis, quinestésicas, vestibulares, visuais. O movimento voluntário é definido em relação à sua finalidade que só pode ser desencadeada internamente quando os sistemas vestíbulo e visuoespacial conferem as necessárias condições de estabilidade postural. Uma vez desintegrada a informação proprioceptiva, o cérebro perde a concentração no fim que lhe é exterior e tem de passar a processas informação que lhe é interior, diminuindo conseqüentemente a sua organização práxica. 37 A realização das tarefas da praxia global revelam o nível de atenção voluntário da criança, sua capacidade de planificar e sequencializar ações perante situações novas e as suas funções cognitivas gerais, que caracterizam o seu potencial de aprendizagem. A coordenação motora global apresenta assim um caráter modular, em que os vários fatores psicomotores contribuem particularmente para o desenrolar da sua atividade total integradora. A tonicidade fornece o tônus, a equilibração, o domínio gravitacional básico, a lateralidade e a noção de corpo, a orientação intracorporal, a estrutura espácio-temporal, a orientação espácia e temporal (timing), que emprega a cada componente psicomotor a integração na seqüência que revela a melodia cinestésica da praxia. 4.7 Coordenação Motora Fina A coordenação motora fina integra todos os seus parâmetros a um nível mais complexo e diferenciado. Compreende tarefas, motoras seqüências finas, está estreitamente ligada á função de coordenação dos movimentos dos olhos durante a fixação da atenção e durante as manipulações de objetos que exigem controle visual, além de abrangerem as funções de programação, regulação e verificação das atividades preensivas e manipulativas mais finas e complexas. A mão é o órgão de preensão por excelência, portanto esta no foco central da coordenação motora fina, a mão é o resultado de aquisições filogenéticas decorrentes da adaptação arborial. Preensão, oposição, convergência, divergência e outras habilidades motoras facilitaram a planificação de ações para atingir a fabricação e utilização de ferramentas vantagem seletivas para os homens primitivos. A destreza manual preparou o caminho para a evolução do cérebro. Cada uma das mãos se especializou em função de iniciativa e outra de suporte. 38 A íntima relação que a coordenação motora fina tem com percepção visual é de grande importância para o desenvolvimento psicomotor e para o desenvolvimento da aprendizagem, nomeadamente da leitura, escrita e cálculo. A coordenação motora fina engloba aspectos aferentes, em que participam a visão central e o sistema de analise e identificação perceptiva das propriedades dos objetos e a visão periférica, dependente da regulação do sistema vestibular e da função quinestésica postural; assim como eferentes, necessários à motricidade monodigital e ao serviço de preensão, que estão na base da manipulação. A coordenação motora fina em conjunto com os outros fatores psicomotores, permite antever e perspectivar como é que o cérebro integra, processa e elabora informação, uma vez que, como órgão de aprendizagem, não só recodifica a informação sensorial, transformando-a num sistema de conceitos, como estabelece planos, programas e forma de controle consciente das ações. 39 CONCLUSÃO A idéia de neuroplasticidade representa um avanço no processo de reabilitação. Há tempos se pensava que as células cerebrais não poderiam se regenerar, muitas pessoas que sofreriam lesões estavam fadados a conviver com suas limitações, sem que houvesse esperanças por parte da medicina tradicional de recuperação ou conquistas de melhorias. No que se refere à aprendizagem, o conceito de neuplasticidade também contribui de forma representativa, uma vez que, sabe-se que o cérebro possui uma capacidade muitas vezes até infinita de se adaptar, se desenvolver e absorver informações. O processo de recuperação depende da reorganização de circuítos que foram separados pela lesão. A plasticidade sináptica nos já existentes caminhos e a formação de novos circuitos em brotamentos colaterais são importantes componentes deste processo de recuperação. As pesquisas em torno do processo da neuroplasticidade vem avançando a olhos vistos. Os mecanismos relacionados a neuroplasticidade ainda não estão totalmente definidos. Muita coisa é falada a respeito de recrutamento de vias paralelas, atividade em vias parcialmente poupadas, brotamento sináptico, regeneração axonal ou dendrítica, remielinização e recuperação da excitabilidade neuronal. Os conceitos sobre plasticidade neural ainda estão evoluindo e servirão, em breve, para nortear o programa fisioterápico de pacientes com lesão do Sistema Nervoso Central A plasticidade nervosa com fora citado acima, não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume funções no desenvolvimento normal do organismo. Podemos citar as importantes organizações das conexões nervosas que têm lugar durante o período embriológico e ontogenético do indivíduo, onde muitas dessas conexões não podem ser determinadas apenas por um programa genético e, 40 mais tarde, no adulto, suas funções neuronais de adaptação dependerão de condições do ambiente. Assim, uma das primeiras formas de plasticidade nervosa é denominada de amadurecimento estímulo-dependente (fatores epigenéticos) do SNC. A forma de plasticidade em um organismo normal é o processo de aprendizagem, no qual são considerados: o aprendizado motor inconsciente (automatismo) e o consciente (memória). Os dois processos baseiam-se em mecanismos fisiológicos semelhantes e constituem a base para uma organização normal do sistema nervoso, e para a reorganização após processos lesionais, que são direcionados por atividade neural e, por conseguinte, são influenciados através de estimulação periférica, uma vez que todas as percepções do nosso corpo e do meio que nos rodeia são captadas e conduzidas ao neuro-eixo através dos sistemas dos sentidos (psicomotricidade) . Neste contexto ressaltamos o histórico, científico, do termo plasticidade como seu processo funcional, concluindo, portanto, que pensar em se treinar apenas e unicamente a região comprometida, estaria longe da verdade do desenvolvimento sensitivo-motor amplo e normal, e se o SN é um todo, devemos atentar para o paciente como tal, fornecendo dentro da cronologia e do grau de complexidade da organização neurológica as informações e estímulos adequados. Como sugestão de outras pesquisas relacionadas ao tema poderíamos citar: “A Importância da Neuroplasticidade no Aprendizado dos Portadores de Síndrome de Down”. Tal pesquisa se justifica pela importância em se aprofundar na descoberta de maneiras mais eficazes de pensar a deficiência mental, oportunizando um aumento representativo do desenvolvimento e conseqüentemente aumento na autonomia dos indivíduos portadores de tal deficiência. “Neuroplasticidade: Esperança de Maior Qualidade de Vida para Lesionados Cerebral”. Com os recentes avanços nos estudos da neuroplasticidade, seria de grande importância um estudo de campo acerca das melhorias de qualidade de vida dos lesionados cerebral a partir de tratamentos que tem como fundamento a capacidade neuroplástica do cérebro. Outra sugestão seria um estudo acerca da: “Neuroplasticidade e Terceira Idade”. O objetivo de tal estudo se fundamentaria na necessidade em se 41 conscientizar que, as pessoas idosas têm capacidade de aprendizado, podem se desenvolver, se informar, trabalhar, ter convívio social normal, seus cérebros também possuem capacidade de adaptações, organizações e aprendizados. 42 BIBLIOGRAFIA PINKER, Steven. Como a mente funciona..RJ. Cia das Letras 1999. LENTE, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais. São Paulo. Ateneu 2001. KANDEL, Eric R.; SCHWARTZ, James H.; JESSELL, Thomas M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. RJ. Guanabara Koogan 2000. RODRIGUES, Maria de Fátima A.; MIRANDA, Silvana de Moraes. A estimulação de criança especial em casa. RJ. Ateneu. 2001 FONCECA, Vitor da. Manual de observação psicomotora: significações psiconeurológicas dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Medicas. 1995. LUNDY-ERKMAN, Laurie. Neurociência: fundamentos para a reabilitação. RJ. Guanabara Koogan. 2000. 43 ANEXOS 44 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “Lato Sensu” Tema: Data da Entrega:___________________________________________ Avaliado por:________________________________Grau____________ __________________.______de________________________de_______ 45 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 SUMÁRIO 06 INTRODUÇÃO 07 CAPÍTULO I ASPECTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO 09 1.1 Estágios do Desenvolvimento In Útero 09 1.2 Formação do Sistema Nervoso 10 CAPÍTULO II MOTRICIDADE 14 2.1 Controle Motor 16 2.2 Recuperação da Força Muscular 17 CAPÍTULO III O QUE É NEUROPLASTICIDADE? 18 3.1 Habituação 21 3.2 Aprendizado e Memória 21 3.3 Recuperação por Lesão 23 3.4 Lesão Axônica 23 3.5 Reorganização Funcional 26 CAPÍTULO IV 46 PSICOMOTRICIDADE 28 4.1 Tônus 29 4.2 Equilibração 30 4.3 Lateralidade 32 4.4 Propriocepção 34 4.5 Estrutura Espácio-Temporal 36 4.6 Coordenação Motora Global 38 4.7 Coordenação Motora Fina 38 CONCLUSÃO 40 BIBLIOGRAFIA 43 ANEXOS 44 FOLHA DE AVALIAÇÃO 45 47