... O Sol se ergueu em sua majestade; O mundo tão gloriosamente contemplando Que os cedros e vaies parecem ouro lustrado Vênus o saúda com seu doce bom-dia: "Ó tu, claro deus, padroeiro de toda luz, De quem cada Campada e brilhante estreia empresta Essa bela influência que as faz brilhar... * — Shakespeare, "Vênus e Adônis " O Sol ocupa uma posição única na astrologia. Não é igual aos outros planetas. Fica de fora, acima dos outros, devido ao fato de que todos os planetas giram em torno dele. É o centro do grupo; sua luz e seu calor permitem que a vida exista, cresça e se desenvolva — ao menos na Terra. A primeira religião verdadeiramente monoteísta na história humana foi um culto solar, instituído pelo faraó egípcio Akenaton. O hino composto por esse precoce pensador religioso ainda sobrevive e indica que para Akenaton, assim como para os primeiros habitantes do planeta Terra, o Sol era a fonte de toda a vida: Ó Rá, Na alvorada abres todos os horizontes, Cada mundo de vida que fizeste É conquistado pelo teu amor. Como a luz do dia segue a ti, Ela anda em paz... Tudo o que foi criado Foi criado em teu coração: A Terra, as pessoas sobre ela, Os alados, os de quatro patas, Os que nadam, todos... Eu sou teu filho. Na maior de todas as alvoradas, Eleva-me!12 A posição do Sol na roda do horóscopo, junto com seu signo e aspectos, tem sido para muitos astrólogos o ponto de referência principal. Talvez por isso a astrologia solar tenha se tornado tão popular. Mas, apesar de sua importância, o Sol não é o único fator no horóscopo; o destaque dado à astrologia solar nos jornais e revistas conspirou, na verdade, para impedir que o público tivesse consciência dos aspectos mais profundos da astrologia como um sistema integrado, holístico de pensamento. Embora a discussão sobre a importância do Sol em relação aos outros planetas vá se estender por muitas décadas, a maioria dos astrólogos provavelmente concorda que ele é ainda o primeiro item estudado na leitura de um mapa e, combinado com a Lua e o ascendente, constitui a maior parte dos dados essenciais a se basear na leitura astrológica. A maior parte das culturas teve deuses solares. Na Grécia, a primeira Hélios com os cavalos do sol ______________________________________________________________________ 12. Traduzido do egípcio para o inglês por Kenneth Johnson. O Colosso de Rodes, a personificação gigante do deus-sol Hélios, gravado por Jean Cousin e impresso por Jean de Tournes e Guillaume Gazeau para a Cosmographia de Levant, de André Thevet. Lyon, 1554 divindade solar foi o Titã Hélios, que conduzia o carro do Sol pelo céu a cada dia e que foi o tema da famosa estátua chamada Colosso de Rodes (a ensolarada ilha de Rodes era consagrada a Hélios). Mas, o deus do Sol mais familiar à cultura ocidental é Apolo. Sua mãe, a Titanesa Leto, fora fecundada por Zeus, o rei dos deuses. A esposa de Zeus, Hera, furiosa com a aventura de seu marido com Leto, decretou uma proclamação celestial que proibia qualquer santuário em homenagem à grávida Leto. Após vagar por toda a região em busca de um lugar para dar à luz, Leto finalmente chegou à ilha de Ortígia e ali deu à luz Ártemis, irmã gêmea de Apolo e deusa da Lua, que assim que saíra do útero de sua mãe, esta imediatamente a conduziu, ainda em trabalho de parto, à ilha vizinha de Delos onde, no nono dia, ajudou no nascimento de seu irmão Apolo. Nenhum mortal tinha permissão de nascer ou morrer nessa ilha. É interessante notar que Delos é considerada o centro da cadeia de ilhas chamadas Cíclades, assim como o Sol é considerado o centro do sistema dos planetas. E dois leões, emblemas do signo de Leão, regido pelo Sol, guardam o santuário de Apolo naquele local. Apolo era o filho dourado do panteão grego, dotado em música, matemática, medicina e profecia. Mas, no início, vagava pela Grécia em busca de um lugar sagrado para fundar seu santuário. Por fim, chegou ao ponto que hoje chamamos Delfos, porém o encontrou guardado por uma serpente gigante, a Píton. Apolo lutou contra a serpente, matou-a e ergueu seu santuário. Ali ficava a sacerdotisa conhecida como Pitonisa; a quem pessoas em todas as estações da vida vinham de todo o mundo antigo para formular questões ao oráculo de Delfos. A pitonisa mascava folhas de louro sagradas, respirava a fumaça que saía de uma fissura na Terra e profetizava. Qualquer mensagem trazida era considerada lei imutável. Ninguém podia questionar ou discutir. Dessa forma, Apolo, mesmo sem ditar diretamente as mensagens, tornou-se associado às leis proclamadas em Delfos. Duas mensagens inscritas nos portões do templo em Delfos eram "Conhece a ti mesmo" e "Nada em excesso". O primeiro axioma tem clara ressonância com o conceito astrológico do Sol, uma vez que esse corpo luminoso é normalmente visto como representante do "Verdadeiro Eu" de um indivíduo. Na maioria das vezes, a introdução à astrologia e aos aspectos mais profundos se dá por meio da informação representada pela posição do Sol no horóscopo. Porém, e quanto a "Nada em excesso"? Também esse axioma descreve uma função solar, mas que demanda um exame muito mais profundo do mito. Lendas que descrevem um deus em combate contra uma serpente mítica ou um dragão como Píton estão muito espalhadas. Alguns estudiosos feministas vêem como emblemáticos esses mitos da história sagrada. O deus, segundo eles, representa a divindade das tribos Detalhe de O êxtase da Pítia de Delfos, uma gravura do século XIX patriarcais invasoras, enquanto a serpente representa a Cirande Mãe, que fora dominada e posta de lado pelas novas religiões, que são mais guerreiras13. Mas o mesmo mito pode ser encontrado, quase exatamente na mesma forma, entre os semitas, assim como entre os indoeuropeus — por todo o mundo antigo. Na Índia, o deus Indra derrota o dragão Vritra; o norueguês Thor enfrenta a serpente Midgard; ainda na Grécia, Zeus luta contra o dragão primordial Tifão; o épico da criação babilônica relata a batalha de Marduk contra a Hélios, o deus-sol serpente marinha Tiamat; e o Antigo Testamento preserva fragmentos de um antigo mito no qual Javé batalha com outra serpente marinha, o Leviatã. Obviamente, esse mito da luta contra o dragão é comum a todos os povos indoeuropeus, assim como entre os judeus e os babilônicos, que pertencem à mesma órbita cultural. É verdade que, no Oriente próximo, a serpente primordial é descrita como feminina e podemos desconfiar que nessa região o mito realmente se tornou uma metáfora para a conquista do matriarcado. Mas, sua universalidade sugere que há um significado mais profundo, psicoespiritual, por trás dele. Erich Neumann, em seu conhecido livro The Origins and History of Consciousness, faz uma interpretação junguiana desses mitos sobre a morte do dragão14. A serpente primordial, ou dragão, representa o inconsciente coletivo, como pode ser visto claramente pelo fato de ela viver sob o oceano (ou, na história de Apolo, embaixo da Terra), um símbolo universal do inconsciente. Assim como a serpente da alquimia, Ouroboros, o dragão possui o poder, o poder vital da própria vida. Mas esse poder ainda não tem direção nem propósito, está sem um foco. O dragão pode ocasionalmente ser representado como feminino porque a 13. Stone, Merlin, When God Was A Woman, San Diego, CA, Harvest Books, 1976. 14. Neumann, Erich, The Origins and History of Consciousness, Princeton, NJ, Princeton-Bollingen, 1973. Gravura do século XIX mostrando Apolo Belvedere com serpente, arco e flechas consciência feminina recebe impressões e percepções de modo intuitivo, psíquico, e não por meio de julgamentos conscientes (estamos aqui falando em termos muito gerais, sem referências aos modos de percepção escolhidos por homens e mulheres em particular). Então o deus matador do dragão traz a ordem ao caos e leva o poder vital da mente coletiva para a luz do dia, dando-lhe foco e direção. O Sol sempre simbolizou essa vontade dirigida ou senso de propósito — um Sol forte no horóscopo corresponde a um forte senso de propósito. Mas, o Sol, como doador de toda a vida, é também a vasta e incipiente força vital que reside por trás da consciência centrada. É por isso que todos os deuses do Sol simbolizam um equilíbrio entre a força vital inconsciente e a vontade, ou finalidade, que a dirige. Ao estudar os atributos das diversas divindade solares, podemos aprender como os antigos percebiam o equilíbrio espiritual. Apolo pode não ter sido um deus-sol originalmente (essa divindade tem uma história longa e conturbada)15, mas tornou-se vital no período clássico, merecidamente, considerando-se as artes e os dons que simbolizava. Era o deus da ciência, da matemática e do manejo do arco, que são funções da consciência centrada, mas era também o deus dos oráculos e profecias, que são funções daquela consciência mais profunda e mais mística que reside por trás da consciência direcionada. Como deus da música e da medicina, Apolo mostra sua verdadeira natureza de reconciliador de opostos — o musicista traz ordem ao caos sagrado do som puro, assim como o curandeiro traz ordem à própria força vital. "Nada em excesso" — essa filosofia do equilíbrio que encontra expressão nos portões do oráculo de Delfos — pode significar igualmente "tudo em equilíbrio". Shamash, o deus-sol babilônico, é freqüentemente simbolizado erguendo-se entre duas montanhas16. Essas montanhas simbolizam os limites do mundo — ou, como diríamos hoje, as polaridades da consciência. O Sol reconcilia os opostos e representa o ponto central ou o equilíbrio entre o yin e o yang da vida. No sistema astrológico ptolomaico praticado nas épocas romana e medieval, o Sol era visto como o rei dos planetas e o imperador Aureliano erigiu templos a Sol Invictus, o "Sol Invencível"17. Tradicionalmente, diz-se que o Sol rege o Leão e o leão é o rei dos animais. Esse conceito do Sol sobreviveu na alquimia, que até o século XVII tinha uma visão de mundo mitológica. Os alquimistas ilustravam seus tratados com 15. Graves, Robert, The Greek Myths, Baltimore, Penguin Books, 1964, Vol. 1, pp. 802 (Os Mitos Gregos, publicado no Brasil em 2004 pela Ed. Madras, com tradução de Julia Vidili). 16. Gray, John, Near Eastern Mythology, Londres, Hamlyn, 1969, p. 20. 17. Cumont, Franz, Astrology and Religion Among the Greeks and Romans, Nova York, Dover, 1960, pp. 55, 74. desenhos fabulosos e mágicos nos quais a força solar era freqüentemente representada como um rei coroado e vestido de púrpura. O Sol alquímico freqüentemente era uma metáfora para o enxofre, uma substância ígnea, inflamável. Em termos psicológicos, "Sol", "Enxofre" ou "Leão solar" simbolizava a força vital primordial, a mesma força que se manifesta em nossas vidas cotidianas como o ego18. O Sol, portanto, pode ser comparado ao poderoso arquétipo masculino, que Robert Bly chama "rei interior"19. Esse rei interior, Representação emblemática do sol como que todos nós, homens e deus, da Arte Symbolica de Boschio. mulheres, possuímos, é Augsburgo, 1702 certamente um arquétipo muito complexo e não pode ser relegado apenas ao Sol — Júpiter, por exemplo, é também um importante componente do rei interior. Mas, em seu nível mais fundamental, o rei interior é outro símbolo do senso de propósito individual que toma nossas decisões por nós, que estabelece a estrada pela qual viajamos. Não é o "Eu", o símbolo da completa totalidade. Embora tenhamos descoberto que o potencial para a completude era de algum modo incorporado pelos deuses Apolo e Shamash, o Sol ou rei interior é para a maioria de nós aquilo que foi para os alquimistas — a força vital ou princípio direcionador masculino. De acordo com os alquimistas, o "Eu" aparece apenas quando o rei se une com a rainha em um casamento místico ou sagrado - a mysterium coniunctionis do Sol e da Luna, o Sol e a Lua. A emergência do "Eu" depende de uma união das qualidades masculinas e femininas20. Durante o período medieval e, mais tarde no século XVIII, o rei era um símbolo visível da força vital solar. Luís XIV da França pensava de forma mitológica ao se proclamar "O Rei-Sol". Seria de se estranhar, então, que os reis fossem vistos como seres sagrados? 18. Jung, Carl G., Mysterium Coniunctionis (Collected Works, vol. 14), Princeton, NJ, Princeton-Bollingen, 1974. 19. Bly, Robert, Iron John, Reading, MA, Addison-Wesley Publishing Co., 1990, pp. 110-3. 20. Jung, Carl G., Mysterium Coniunctionis, ibid. Detalhe de uma página decorada por Tobias Stimmer da Biblische Figuren, impressa por Thomas Gwarin. Mostra Eva, que provavelmente era uma deusa do sol em sua forma original. Basiléia, 1576 Acreditava-se que os faraós egípcios e os reis merovíngios da França eram filhos dos deuses, ou de Deus, e os reis hebreus como Saul e Davi eram "ungidos". Obviamente, um único indivíduo não é, na verdade, um ser "sagrado" — exceto no sentido de que nós somos todos seres sagrados. Em nosso mundo democrático, já ultrapassamos o conceito de absoluta monarquia que com freqüência mantém a maior parte da humanidade oprimida ou escravizada pelos desejos e éditos de uma única pessoa. Mas, se ganhamos em termos de liberdade, perdemos em termos de clareza — astrologicamente, devemos notar que Urano, planeta da liberdade, que dá sentido às revoluções democráticas de todos os lugares, rege o signo oposto a Leão (Aquário), e que a clareza solar está em eterna oposição com o caos da liberdade democrática. Robert Bly aponta que poucos líderes americanos, ao menos durante o último meio século, incorporaram um verdadeiro arquétipo solar ou real que possa ser relacionado a um nível nacional. Em vez disso, incorporaram uma forma pervertida do arquétipo do guerreiro — Marte atacando em um campo de batalha21. Ficamos assim privados, enquanto nação, de clareza ou de um propósito direcionado. 21. Bly, Robert, Iron John, ibid., pp. 146-79. Faetonte, filho do Sol Mas, mesmo essa perda aparente pode ter seus benefícios. Somos agora levados a buscar o rei dentro de nós mesmos, e não por meio de arquétipos patrióticos nacionais. Somos forçados a perseguir nossa própria autoconsciência. Embora o rei interior seja normalmente visto como um arquétipo masculino — ao menos na Europa e no Oriente Próximo, de onde nossa cultura veio —, usamos o termo gênero deliberadamente. Houve muitas deusas do Sol na história do mundo, notadamente no Japão e entre os cherokee. Mesmo em nossa própria esfera cultural, descobrimos que a força solar foi por vezes representada como feminina. Os hititas reverenciavam uma deusa solar chamada Hebat; seu nome em grego era Hebe, a deusa da juventude que servia néctar e ambrosia aos deuses do Olimpo (Hércules, o herói solar arquetípico cujos doze trabalhos são reminiscências dos signos do zodíaco, casou-se com Hebe ao ser divinizado). Hebat ou Hebe também pode ser relacionada lingüisticamente à hebréia Eva — a "primeira mulher" pode ter sido, originalmente, uma deusa do Sol. O nome de Eva provavelmente significa "a mãe de todos os viventes". Os arquétipos, afinal de contas, são mutáveis e fluidos — os babilônicos viam a Lua como um deus, e não uma deusa. 22. Campbell, Joseph, The Hero with a Thousand Faces, Princeton, NJ, PrincetonBollingen, 1973. Como símbolo da vontade ou finalidade humana, o Sol é também um herói mítico; e a jornada do herói, como demonstrou Joseph Campbell, nada mais é que a jornada da consciência humana em direção ao "Eu".22 Mencionamos Hércules: para os gregos e romanos, esse personagem vigoroso e poderoso era o herói quintessencial. Mas, Hércules era tão caótico quanto corajoso — ficava bêbado, entrava em brigas, tinha ataques de raiva e de fanfarronice e assim por diante. Da mesma forma da própria vida, ele é uma força da natureza, não constrangida por tradições sociais ou valores éticos. A selvagem arrogância de Hércules aponta para o lado mais desagradável do Sol. Considere-se o mito de Faetonte. Esse "filho do Sol" ilegítimo viajou para o extremo leste do horizonte para confrontar seu pai, o deus-sol Hélios. Tinha apenas um pedido: queria dirigir o carro do Sol. Seu pai tentou dissuadi-lo, mas Faetonte insistiu. Relutante, ele permitiu que o rapaz subisse ao carro solar. Mas, dirigir os cavalos do Sol estava além da habilidade do jovem Faetonte; o carro disparou descontrolado pelo céu, queimando a Terra ao se aproximar dela. Por fim Júpiter, enraivecido, mandou um relâmpago fulminar Faetonte. O significado do mito é claro: excesso de força de vontade e de determinação nos leva à arrogância, o que pode ter conseqüências destrutivas. Outro mito nos conta o quão destrutivas podem ser essas conseqüências. Nessa história babilônica, Nergal, o deus do Sol do meio-dia, irrompe no mundo subterrâneo e subjuga a deusa que ali governa. Declara-se senhor dos mortos e diz que governará ao lado da deusa sombria23. Nergal representa o Sol escaldante do meio-dia que seca e faz murchar a plantação. Representa também o planeta Marte. É outro símbolo da força solar negativa, que é a ira, a violência, a insolência e a raiva. Os astrólogos notaram que essa história liga Marte, ao Sol e a Plutão. O Sol é exaltado em um signo regido por Marte (Áries) e Marte divide a regência de outro signo (Escorpião) com Plutão. Ainda outro mito solar trata de Ìcaro, o jovem filho do mestre artesão Dédalo (ver Touro). Pai e filho haviam sido aprisionados pelo rei Minos de Creta no labirinto que o próprio Dédalo havia construído. Para escapar, Dédalo preparou dois pares de asas com cera, amarrou-os em si e no rapaz e preveniu Ícaro de que, se voasse muito perto do Sol, as asas derreteriam. Sem dar atenção ao pai, Ícaro voou em direção ao Sol, embriagado pela experiência. Como resultado, caiu no mar. Com mais autocontrole, seu pai chegou em segurança à Sicília. Essas histórias nos advertem das conseqüências do Sol em demasia; há ainda outro aspecto negativo do Sol, que é quando a determinação 23. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid, p. 23. O Vôo de Dédalo e a Queda de Ícaro, gravado por Albrecht Dürer para a Spiegel der wahren Rhetorik. Fraiburgo, 1493 solar não é forte o bastante. Tradicionalmente, o Sol está em "queda" em Libra, que é o "ponto de ocaso" simbólico na mandala astrológica. Aqui, a vontade e a determinação do indivíduo são submersas pelo desejo de se comprometer ou harmonizar com outros. Embora o Sol em Libra seja tipicamente considerado um Sol "fraco", seu simbolismo aponta para algo em que o poderoso ego solar não é muito bom: relacionamentos. Apolo pode ter sido o mais belo e bem-feito dos deuses, mas era um fracasso em seus relacionamentos. Nunca se casou. Apaixonara-se pela ninfa Dafne, mas ela o rejeitou, fugiu e foi subseqüentemente transformada em uma árvore pela ira de Apolo — o loureiro, a árvore sagrada de Apolo, cujas folhas eram mascadas pela sacerdotisa de Delfos. Por que Dafne relutava tanto em ser a parceira do mais glorioso dos deuses? O fato é: pessoas solares são quase inteiramente absorvidas em si mesmas. O senso de determinação, o objetivo a ser cumprido significa tudo para eles. Não têm tempo para relacionar-se com os outros, pois estão muito ocupados conquistando o mundo. Hércules foi outro herói solar que fracassara miseravelmente em suas relações, até que morreu e foi levado ao Olimpo (como vimos, ele se casou com Hebe, outro símbolo solar). Pessoas excessivamente solares são arrogantes e egocêntricas — afinal de contas, o Sol rege Leão e é exaltado em Áries, dois signos conhecidos por sua presunção. De acordo com a verdadeira mecânica de nosso sistema solar, é importante reconhecer que os planetas realmente giram em torno do Sol. A maioria dos ocidentais pratica a forma de astrologia conhecida como geocêntrica (centrada na Terra), na qual, para fins práticos, o Sol é visto como um corpo no espaço que orbita longe de nós, assim como a Lua e os outros planetas. Recentemente, tem-se dado maior atenção à astrologia heliocêntrica, na qual o Sol é posto no centro e o ponto Terra/ Lua é colocado no horóscopo a 180 graus do Sol. Na astrologia geocêntrica, o Sol pode não ser literalmente a força central, mas é visto como tal para fins práticos; é importante notar o ocaso dos outros planetas conforme transmitem ou recebem energia do Sol. Uma cuidadosa observação dos aspectos solares é também importante para a análise da vontade individual. Por exemplo, muitas pessoas nascidas nas décadas de 1940 e 1950 com o Sol em Áries possuem o planeta Netuno (que ocupava Libra durante aqueles anos) em exata oposição a seus sóis e em conjunção com suas posições de Terra (ver Gaia). Embora normalmente pensemos no Sol de Áries como a expressão primordial do fogo, inteiramente desimpedido, devemos também pensar nas profundezas aquosas e turbulentas de Netuno afetando continuamente esse indivíduo. Claro que sempre haverá uma profunda necessidade de expressar esse fogo primordial, mas as forças inconscientes simbolizadas por Netuno devem primeiro ser manejadas antes que o indivíduo possa perceber seu destino solar (ver Netuno). O sistema de aspectos, ou ligações geométricas de um planeta a outro, constitui uma grande parte do campo de trabalho astrológico; os planetas que se ligam diretamente ao Sol terão um profundo impacto na capacidade do indivíduo de atingir seu objetivo consciente na vida. E, assim como a vitalidade e a força vital simbolizam a boa saúde, não devemos esquecer que Apolo era também o deus da cura. A harmonia entre o mundo exterior e a determinação solar de uma pessoa talvez sejam a melhor garantia disponível de boa saúde.