IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 Potencial Elétrico Quando estudamos campo elétrico nas aulas passadas, vimos que ele pode ser definido em termos da força elétrica que uma carga q exerce sobre uma carga de prova q0. Essa força é, pela lei de Coulomb, = 1 , 4 e dividindo-se pela carga de prova q0 temos o campo elétrico : = 1 . 4 Note que a força elétrica é um conceito associado à carga que sente a força (q0) e à carga (ou cargas) que produz (ou produzem) a força, q (ou q1, q2, etc). Já o campo elétrico é um conceito associado apenas à carga (ou cargas) que produz (ou produzem) o campo. O campo elétrico gerado por uma distribuição de cargas num dado ponto do espaço existe nesse ponto mesmo que não seja colocada nenhuma carga de prova nele. Da mesma forma, o conceito de energia potencial elétrica introduzido na aula passada está associado à carga de prova q0 e às cargas que fazem forças sobre ela. A equação (10) da aula passada é: 1 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 = . 4 (1) Assim como no caso do campo elétrico, podemos definir uma nova grandeza a partir de U que não dependa da carga de prova q0 (basta dividir por q0). Esta nova grandeza é chamada de potencial elétrico V: 1 = . 4 (2) Podemos dizer então que uma distribuição de cargas gera num dado ponto do espaço P um potencial elétrico cujo valor é igual ao da energia potencial elétrica associada a essa distribuição de cargas e a uma carga de prova q0 colocada em P dividido por q0: = ou = . (3) Pela equação acima, vemos que a unidade do potencial elétrico é J/C. Esta unidade é chamada de volt (símbolo V) em homenagem ao físico italiano Alessandro Volta (1745-1827), inventor da primeira pilha elétrica. O potencial elétrico também pode ser definido em termos do trabalho para levar uma carga q0 de um ponto a a um ponto b (veja a figura abaixo). 2 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 Como U = q0V, ∆U = q0∆V. Logo, →" = − Δ e →" = −(" − ) = − " ≡ " . (4) Define-se: Va = potencial no ponto a e Vb = potencial no ponto b; Vab = Va − Vb = potencial de a em relação a b. Pode-se usar (4) para definir Vab como o trabalho feito pela força elétrica quando uma carga unitária (q0 = 1) se desloca de a para b. Potencial de uma carga puntiforme Quando há apenas uma carga puntiforme q no espaço, o potencial elétrico gerado por ela em um ponto a uma distância r do seu centro (veja abaixo) é, pela equação (2): 3 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 ( ) = 1 . 4 (5) Portanto, se q > 0, V > 0 em todos os pontos do espaço e, se q < 0, V < 0 em todos os pontos do espaço. Independentemente do sinal da carga q, quando r → ∞, V → 0. Potencial de um conjunto de cargas Pelo princípio da superposição, o potencial elétrico gerado por um conjunto de cargas puntiformes em um dado ponto P do espaço (veja a figura abaixo) é dado pela soma dos potenciais gerados por cada carga individualmente: ( 1 = . 4 (6) 4 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 Se, ao invés de um conjunto de N cargas puntiformes, tivermos uma distribuição contínua de cargas (veja abaixo) o potencial elétrico será dado por: = * 1 ) . 4 (7) Relação entre V e E Pela definição de trabalho, →" " " = ) ∙ *ℓ . = ) ∙ *ℓ Portanto, de (4) temos: " " →" . = − " = = ) ∙ *ℓ (8) 5 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 A equação (8) estabelece uma maneira de relacionar V e : O potencial de a em relação a b é igual à integral de linha do campo elétrico de a para b. Como a força elétrica é conservativa, essa integral independe da trajetória. De (8) temos que: " > 0 ⟹ − " > 0 ⟹ > " . (V diminui de a para b) Quando / ∙ *ℓ " < 0 ⟹ − " < 0 ⟹ < " . Quando / ∙ *ℓ (V cresce de a para b) Para entender melhor esta relação entre V e , consideremos o caso de uma carga puntiforme. a) Carga puntiforme positiva: " A integral / ∙ *ℓ = * ̂ ): *ℓ entre a e b é (note que = ( ) ̂ e 6 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 " " " 1 * = ) ( )* ̂ ∙ ̂ = ) ( )* = ) ∙ *ℓ ) 4 = " 1 1 1 5 − 6. 4 " Como ra < rb, 1/ra > 1/rb e a integral é positiva. Isto quer dizer que − " > 0 ou > " . O potencial elétrico gerado por uma carga puntiforme positiva diminui quando nos afastamos da carga. Em outras palavras: O potencial elétrico gerado por uma carga puntiforme positiva diminui quando nos movemos no mesmo sentido do campo elétrico. b) Carga puntiforme negativa: " entre a e b é Neste caso, a integral / ∙ *ℓ ; 789: <= − ? < 0 <> (mostre como exercício). Portanto: 7 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 − " < 0 ou < " . O potencial elétrico gerado por uma carga puntiforme negativa aumenta quando nos afastamos da carga. Em outras palavras: O potencial elétrico gerado por uma carga puntiforme negativa diminui quando nos movemos no mesmo sentido do campo elétrico. Note que as conclusões obtidas para o que acontece com o potencial elétrico quando nos movimentamos no sentido do campo elétrico são as mesmas nos dois casos. Esta é uma regra geral que relaciona o potencial elétrico ao campo elétrico: O potencial elétrico V diminui quando o movimento se dá no . mesmo sentido do campo elétrico @ 8 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 O potencial elétrico é uma grandeza tão importante em eletricidade que é costume medir outras grandezas em termos da unidade de V (volt). Por exemplo, costuma-se dar o valor do campo elétrico em volts/metro (V/m) ao invés de em newtons/coulomb (N/C): 1 V/m = 1 N/C. Como outro exemplo, costuma-se medir energia em termos da variação da energia potencial elétrica que um elétron sofre quando se move por uma diferença de potencial de um volt. Imagine uma situação como a ilustrada abaixo em que um elétron se move entre dois pontos a e b com uma diferença de potencial entre eles igual a 1 volt: O trabalho da força elétrica sobre o elétron é: ⟶" = −Δ. De (4), temos também que: ⟶" = ( − " ). 9 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 Combinando essas duas expressões: −Δ = ( − " ). Fazendo q0 = −e = −1,602 × 10−19 C e (Va − Vb) = 1 V: ∆U = (1,602 × 10−19 C)(1 V) = 1,602 × 10−19 J. Esta quantidade é definida como elétron-volt (eV): 1 eV ≡ 1,602 × 10−19 J. O elétron-volt é uma unidade de energia (9) muito usada, principalmente em física de partículas elementares. Cálculo do potencial elétrico Em geral, há duas maneiras de se calcular o potencial elétrico: • Quando se conhece a distribuição de cargas, usa-se a equação (6) ou a (7) para calcular V; • Quando se conhece o campo elétrico, usa-se a equação (8) para calcular V. Neste caso, note que a equação dá Va − Vb e costuma-se escolher o ponto b como um ponto onde o potencial vale zero. Essa escolha é arbitrária e depende do problema. 10 IBM1018 – Física Básica II – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque – Aula 7 Para ilustrar o segundo método, vamos calcular o potencial em um ponto a a uma distância r de uma carga puntiforme q (veja abaixo): De (8) temos: " " " →" = ) ( )* . = − " = = ) ∙ *ℓ Neste caso, o potencial vale zero no infinito, portanto podemos fazer b = ∞. Logo, Vb = 0 e então: B − " = = ) ( )* . < O cálculo da integral nos dá: B * 1 1 1 ) ( )* = ) = , C− − 5− 6E = 4 4 ∞ 4 < < B e então: = ( ) = 1 . 4 Este é o mesmo resultado que já tínhamos obtido anteriormente (equação 5), só que agora utilizamos o método da integral do campo elétrico. Estude os exemplos 23.4 e 23.7 do livro-texto. 11