PARASITISMO NO CAMPO E CRIAÇÃO EM CONDIÇÕES DE LABORATÓRIO DOS PULGÕES DA COUVE E DO PARASITÓIDE Diaeretiella rapae M’INTOSH (HYMENOPTERA: BRACONIDAE, APHIDIINAE) Suelen Oliveira Arantes1 Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Ciências Agrárias, Laboratório de Entomologia - Controle Biológico, Av. Acre s/n, Campus Umuarama, Bloco 2E, Uberlândia-MG, CEP 38405-402 [email protected] Marcus Vinicius Sampaio2 [email protected] Resumo: O parasitismo no campo e a criação em laboratório de uma espécie de parasitóide são etapas importantes de um programa de controle biológico de pragas. Este trabalho teve o objetivo de determinar o parasitismo de Diaeretiella rapae (M’Intosh) nas três espécies de afídeos das brássicas em condições de campo e também testar uma metodologia de criação dos pulgões da couve e do parasitóide Diaeretiella rapae em condições de laboratório. Foram realizadas coletas semanais em campo e avaliada a densidade populacional dos afídeos e sua respectiva porcentagem de parasitismo. As criações foram mantidas em laboratório com temperatura de 25-29°C e fotofase de 12h. Os pulgões foram mantidos em mudas de couve (variedade manteiga da Geórgia) em vasos plásticos contendo substrato orgânico, dentro de gaiolas de 45 x 90 x 50 cm. Os parasitóides foram mantidos em gaiolas de 22 x 33 x 32 cm, em mudas de couve contendo os pulgões Brevicoryne brassicae (Linné) ou Lipaphis erysimi (Kaltenbach). As três espécies de afídeos foram parasitadas por Diaeretiella rapae, porém em proporções diferentes. O parasitismo foi menor em Lipaphis erysimi, embora essa espécie tenha sido a que apresentou a maior população. O método de criação em gaiolas de polietileno se mostrou menos eficiente na criação de Brevicoryne brassicae e bastante eficiente na criação de Lipaphis erysimi, Myzus persicae (Sulzer) e Diaeretiella rapae. Para a criação de Diaeretiella rapae, tanto Brevicoryne brassicae como Lipaphis erysimi foram considerados bons hospedeiros, sendo possível manter o parasitóide em laboratório por várias gerações. Palavras-chave: Controle biológico, criação massal, Brevicoryne brassicae, Lipaphis erysimi, Myzus persicae. 1. INTRODUÇÃO O grande desafio atual da agricultura é manter a produtividade dos cultivos e ao mesmo tempo melhorar a qualidade biológica (valor nutritivo) e a sanidade dos alimentos (ausência de resíduos tóxicos). Dentro dessa perspectiva, o controle biológico de pragas torna-se uma ferramenta fundamental no manejo de pragas agrícolas por ser de custo relativamente mais baixo e de menor risco à saúde humana e ao meio ambiente (AGUIAR MENEZES, 2003). A couve (Brassica oleracea var. acephla L.) é uma hortaliça cultivada em praticamente todo o território brasileiro. As brássicas apresentam grande importância na alimentação humana, principalmente pelo fornecimento de fibras, sais minerais e vitaminas (FILGUEIRA, 2003). Segundo Blackman e Eastop (2000) os pulgões (Hemiptera: Aphididae) são pragas-chave em diversas culturas de interesse agrícola, tanto no campo como em cultivos protegidos e devido ao seu hábito alimentar podem depauperar as plantas pela sucção de grandes quantidades de seiva e causar deformações nas partes vegetais, além da depreciação de frutos e flores pela ação de fungos que desenvolvem em seus excrementos. 1 2 Acadêmico do curso de Agronomia Orientador Destacam-se, pelos danos causados a cultura da couve as espécies de afídeos Brevicoryne brassicae (Liné), Lipaphis erysimi (Kaltenbach) e Myzus persicae (Sulzer) (SOUSA-SILVA; ILHARCO, 1995). O controle químico desses insetos tem causado problemas como resistência a inseticidas (STARÝ, 1993) e redução na longevidade e fecundidade de alguns de seus inimigos naturais (HAGVAR; HOFSVANG, 1991). Assim, vários estudos têm sido direcionados para métodos alternativos de controle como o biológico, onde o papel desempenhado pelos parasitóides é de grande importância (STARÝ, 1993). O afidiíneo Diaeretiella rapae é um endoparasitóide (desenvolve-se no interior do corpo do hospedeiro), solitário (apenas um indivíduo tem desenvolvimento completo por hospedeiro), cosmopolita, sendo encontrado freqüentemente no continente americano (PIKE et al., 1999). Tem grande afinidade com brássicas, sendo o parasitóide de maior ocorrência, e, na maioria dos casos, o único a parasitar os afídeos que utilizam a couve como planta hospedeira (PIKE et al., 1999) sendo o principal fator de mortalidade de pulgões em brássicas (BUENO; SOUZA, 1993). A preferência de um parasitóide só pode ser avaliada pela observação da espécie mais vezes atacadas ou com maior parasitismo em testes de laboratório (SAMPAIO; BUENO; VAN LENTEREN, 2001), porém, a porcentagem de parasitismo das diferentes espécies de hospedeiros no campo nos dá uma idéia da preferência do parasitóide (SAMPAIO, 2004). Para que haja o estabelecimento de um programa de controle biológico de pragas é necessário ter conhecimento à respeito do comportamento do parasitóide frente a diversidade de espécies hospedeiras presentes no agroecossistema. Deste modo, pode-se inferir a respeito da possibilidade de utilização de Diaeretiella rapae para o controle das diferentes espécies de pulgões que ocorrem em brássicas. Por outro lado, é de suma importância se obter pulgões e parasitóides de forma ininterrupta para experimentos de laboratório. Com isso, é possível obter resultados mais conclusivos sobre o parasitismo de Diaeretiella rapae nos pulgões da couve, além de contribuir para o desenvolvimento de uma metodologia de criação massal do parasitóide para programas de controle biológico. Assim, este trabalho teve o objetivo de determinar o parasitismo de Diaeretiella rapae nas três espécies de afídeos hospedeiros, Brevicoryne brassicae, Lipaphis erysimi e Myzus persicae, em condições de campo e também testar uma metodologia, proposta por Sampaio (2004), para a criação dos pulgões da couve e do parasitóide Diaeretiella rapae em condições de laboratório. Para o parasitismo no campo foram avaliadas as seguintes hipóteses: - Hipótese nula (H0): as três espécies de afídeos, B. brassicae, L. erysimi e M. persicae são parasitadas por D. rapae na mesma proporção, independente da flutuação populacional dos afídeos. - Hipótese alternativa (H1): uma das três espécies de afídeo, B. brassicae, L. erysimi ou M. persicae é parasitada por D. rapae em maior proporção do que as outras duas espécies, independente da flutuação populacional dos afídeos. - Hipótese alternativa (H2): cada uma das três espécies de afídeos, B. brassicae, L. erysimi e M. persicae é parasitada por D. rapae em proporção diferente, dependendo da flutuação populacional dos afídeos. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Parasitismo de Diaeretiella rape no campo O experimento foi instalado na Fazenda experimental do Glória, da Universidade Federal de Uberlândia, situada no município de Uberlândia. Foram cultivadas 75 plantas de couve, no espaçamento de 1 metro entre linhas e 0,5 metro entre plantas. Foram realizadas coletas semanais entre os meses de dezembro 2006 a dezembro 2007, escolhendo-se ao acaso três (3) plantas de couve, das quais foram retiradas, com auxílio de uma tesoura sem ponta, três (3) folhas, uma de cada região da planta, superior, mediana e inferior (ou seja, apical, mediana e basal). Para a diferenciação entre folhas apicais, medianas e inferiores foram consideradas folhas apicais, no início do desenvolvimento, ainda em expansão; folhas medianas, totalmente expandidas, mas não senescentes; e folhas inferiores, após o inicio da senescência. As folhas coletadas foram acondicionadas em sacos plásticos e levadas para o Laboratório de Entomologia da UFU para a contagem dos insetos presentes. Foram contados o número de afídeos e o número de afídeos mumificados por folha de cada espécie. Os afídeos mumificados foram individualizados em tubos eppendorfs, por até quatro semanas para a emergência dos parasitóides. Foi avaliada a flutuação populacional semanal de Lipaphis erysimi, Myzus persicae e Brevicoryne brassicae e destas mesmas espécies mumificadas (múmias) utilizando-se o somatório total de pulgões das três plantas avaliadas. Os pulgões e as múmias foram observados em microscópio estereoscópico, no laboratório, para a correta identificação da espécie do pulgão, baseado em características morfológicas, como tamanho, cor, quantidade de cera e tamanho do sifúnculo (PEÑAMARTINEZ, 1992; BLACKMAN; EASTOP, 2000). As características das múmias como cor e forma foram usadas para identificar a família do parasitóide, já que Braconidae induz a formação de múmias de coloração amarelada e de formato arredondado (STARÝ, 1988) e Aphelinidae múmias negras e com o mesmo formato do hospedeiro (STARÝ, 1988). Foi verificada a espécie de parasitóide que emergiu com o auxílio de microscópio estereoscópico. As identificações foram feitas de acordo com Pike et al. (1999). Foi feita a quantificação do número de pulgões vivos e de múmias de cada espécie de pulgão. Foi feita análise de variância e teste de Tukey para comparar as médias do número de pulgões vivos e parasitados de cada espécie. 2.2 Teste de metodologia de criação proposta por Sampaio (2004) dos afídeos Lipaphis erysimi, Myzus persicae e Brevicoryne brassicae e do parasitóide Diaeretiella rapae O estudo foi conduzido no Laboratório de Entomologia e Controle Biológico do Instituto de Ciências Agrárias, da Universidade Federal de Uberlândia no período de março de 2007 a julho de 2008. As criações foram mantidas em laboratório com temperatura média diária de 25-29ºC e com fotofase de 12 horas. 2.2.1 Criação dos pulgões Lipaphis erysimi, Myzus persicae e Brevicoryne brassicae em condições de laboratório Mudas de couve produzidas em casa de vegetação foram levadas ao laboratório, ocorrendo em seguida a limpeza destas com auxílio de papel toalha umedecido em água limpa. Após a limpeza, estas mudas foram colocadas separadamente em gaiolas de polietileno com dimensões de 45 x 90 x 50 cm (Figura 1). Cada gaiola contendo uma planta de couve foi infestada com uma das três espécies de afídeo Lipaphis erysimi, Myzus persicae ou Brevicoryne brassicae trazidas do campo em folhas de couve manteiga. Para a manutenção destas criações foi feito o monitoramento diário das gaiolas para que se pudesse eliminar manualmente com auxílio de agulha possíveis contaminações como pulgões parasitados, pulgões de outra espécie, lagartas e formigas. A rega das mudas foi realizada a cada dois dias. As plantas foram trocadas por novas mudas mantidas em casa de vegetação toda semana para que a qualidade nutricional fosse sempre mantida, pretendendo assim, que não houvesse diminuição da quantidade de pulgões das criações. Figura 1: Gaiola de criação dos pulgões Lipaphis erysimi, Myzus persicae e Brevicoryne brassicae em condições de laboratório, Uberlândia, 2008. 2.2.3 Criação do parasitóide Diaeretiella rapae nas espécies Brevicoryne brassicae e Lipaphis erysimi Para a criação do parasitóide Diaeretiella rapae foram utilizadas gaiolas de polietileno nas dimensões 22 X 33 X 32 cm, a qual possuía uma abertura lateral vedada com tecido fino (organza) (Figura 2). O tecido foi confeccionado no formato de uma manga de camisa, para permitir o manuseio da planta dentro da gaiola sem que os parasitóides pudessem escapar para o ambiente. Foi mantido por gaiola uma muda de couve oriunda da casa de vegetação, previamente limpa com papel-toalha umedecido com água limpa, e foi infestada com pulgões da criação de Brevicoryne brassicae. Foram utilizados parasitóides machos e fêmeas da espécie Diaeretiella rapae, provenientes de múmias de Brevicoryne brassicae coletadas em plantas de couve mantidas em campo. Os parasitóides foram sexados com o auxílio de um microscópio estereoscópico e colocados juntos para acasalarem em tubos de ensaio tampados com filme plástico de P.V.C. laminado. Após o acasalamento os parasitóides foram liberados na gaiola. Foi necessário iniciar a criação por duas vezes, em função da falta de hospedeiros. Na primeira criação foram utilizadas 9 fêmeas e 7 machos e na segunda 16 fêmeas e 7 machos, numa proporção de 2 : 1. A cada geração do parasitóide uma nova muda infestada com Brevicoryne brassicae foi alocada na gaiola. Para se ter uma idéia do número de parasitóide produzidos, foi verificado o número total de múmias formadas por gaiola. Na primeira criação de Diaeretiella rapae em Brevicoryne brassicae, este número foi verificado na segunda geração do parasitóide mantido em laboratório e na segunda criação do parasitóide, o número de múmias formadas foi verificado na primeira geração. Ainda, para verificar a razão sexual do parasitóide, uma amostra de 30 múmias da terceira geração da segunda criação foi avaliada. Cada múmia foi individualizada em tubo eppendorf e o sexo dos parasitóides emergidos foi verificado sob microscópio estereoscópico. Visando avaliar a adaptação do método de criação do parasitóide em outra espécie de pulgão hospedeiro, foi também mantida uma criação de Diaeretiella rapae em Lipaphis erysimi. Foi utilizada a mesma metodologia da criação do parasitóide em Brevicoryne brassicae, no entanto, o parasitóides da espécie Diaeretiella rapae foram provenientes de múmias de Lipaphis erysimi coletadas em plantas de couve mantidas em campo. Para essa criação, foram liberados 20 fêmeas e 6 machos, na proporção de 3 : 1. A cada geração do parasitóide uma nova muda infestada com Lipaphis erysimi foi alocada na gaiola. Para se ter uma idéia do número de Diaeretiella rapae produzidos em Lipaphis erysimi, foi verificado o número total de múmias formadas por gaiola, na quinta geração do parasitóide mantido em laboratório. Figura 2: Gaiola de criação do parasitóide Diaeretiella rapae nas espécies Brevicoryne brassicae e Lipaphis erysimi 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Parasitismo de Diaeretiella rape no campo A população das três espécies de pulgões variou em número de acordo com o mês de coleta. De maneira análoga, a porcentagem de parasitismo variou nas três espécies de pulgões avaliadas. Foram obtidas somente múmias de Braconidae e a única espécie de parasitóide emergida foi Diaeretiella rapae. Este parasitóide foi também a única espécie encontrada parasitando Brevicoryne brassicae e Lipaphis erysimi em plantas de canola (MUSSURY; FERNANDES, 2002) e de couve (CIVIDANES, 2002; RESENDE et al., 2006). Embora outras espécies de parasitóides tenham sido relacionadas com Brevicoryne brassicae em couve (VAZ; TAVARES; LOMÔNACO, 2004), Diaeretiella rapae é o parasitóide mais comum nos pulgões que colonizam brássicas (STARÝ; SAMPAIO; BUENO, 2007). Nos meses de fevereiro, março, abril, maio e junho a espécie Lipaphis erysimi apresentou densidade populacional maior que Brevicoryne brassicae e Myzus persicae. Porém sua porcentagem de parasitismo foi significativamente menor que as outras duas espécies nos meses de abril, maio e junho, o que demonstra que esta espécie mesmo estando em altas populações possui porcentagem de parasitismo baixa. No mês de agosto o número de pulgões desta espécie foi significativamente igual ao de Brevicoryne brassicae tendo taxa de parasitismo também igual (Tabela 1). A espécie Brevicoryne brassicae apresentou densidade populacional mais alta nos meses de setembro, outubro e dezembro. No mês de setembro houve um pico populacional com média de 30.239,75 pulgões. No mês de dezembro de 2007 a população de Brevicoryne brassicae não se diferiu de Lipaphis erysimi. Apesar da densidade populacional de Brevicoryne brassicae ter sido menor do que a de Lipaphis erysimi em muitas coletas, sua porcentagem de parasitismo foi significativamente maior nos meses de dezembro de 2006, abril, maio, junho e outubro de 2007. Myzus persicae foi a espécie que apresentou menor densidade populacional na maioria dos meses de coleta, somente nos meses de junho e outubro sua população se apresentou em maior número, porém no mês de junho não se diferiu estatisticamente de Lipaphis erysimi e no mês de outubro de Brevicoryne brassicae. A porcentagem de parasitismo de Myzus persicae foi alta no mês de dezembro, porém foi igual à de Brevicoryne brassicae, e no mês de outubro o parasitismo sobre M. persicae foi maior que em Lipaphis erysimi não se diferindo, no entanto, de Brevicoryne brassicae. Com o levantamento realizado verificou-se em relação a flutuação populacional mensal das três espécies de afídeos que a espécie Lipaphis erysimi apresentou uma maior densidade populacional na maioria dos meses analisados, vindo em seguida Brevicoryne brassicae e logo após Myzus persicae (Tabela 1). Tabela 1 – Número médio mensal e porcentagem de parasitismo de Brevicoryne brassicae, Lipaphis erysimi e Myzus persicae . Uberlândia-MG dezembro de 2006 a dezembro de 2007. *Letras iguais na linha não se diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% para a variável número de pulgões. **Letras iguais na linha não se diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% para a variável % de parasitismo. Data Dez. 06 Jan. 07 Fev. 07 Mar. 07 Abr. 07 Mai. 07 Jun. 07 Julh. 07 Ago. 07 Set. 07 Out. 07 Nov. 07 Dez.07 Brevicoryne brassicae Número de % de pulgões parasitismo 22,6 b** 33,5 a* 2,4 a 28,0 a 0,0 a 0,25 a 0,0 a 129,0 a 12,8 b 708,0 a 33,8 b 20,0 a 17,1 b 8,4 a 0,0 a 38,5 a 0,4 a 3094,8 b 1,1 a 30239,8 b Lipaphis erysimi Myzus persicae Número de % de Número de % de pulgões parasitismo pulgões parasitismo 3,2 a** 30,0 b** 65,25 a* 5,0 a* 0,5 a 0,0 a 72,5 a 14,25 a 0,1 a 0,0 a 241,5 b 9,0 a 0,03 a 0,0 a 815,0 b 1,0 a 0,5 a 2,5 a 3161,5 b 26,0 a 0,3 a 3,5 a 957,0 b 11,0 a 0,1 a 6,2 a 266,0 b 18,2 ab 0,3 a 0,0 a 152,0 a 8,0 a 0,1 a 0,0 a 760,2 b 38,0 a 0,0 a 11,6 a 1280 a 317,25 a 11367,8 b 467,3 a 5730,0 b 369,6 a 746,5 a 3126,0 ab 17,6 b 1,6 a 3,9 a 0,0 a 0,0 a 0,7 a 51,4 a 113,0 a 143,8 a 5,3 ab 4,2 a 2,4 a Já com a porcentagem de parasitismo verificou-se que apesar da espécie Lipaphis erysimi ter tido média mensal de número de pulgões maior que as outras duas espécies em seis meses, sua porcentagem de parasitismo foi menor em muito dos meses de coleta. De acordo com os resultados encontrados no presente trabalho, Brevicoryne brassicae e Myzus persicae são as espécies hospedeiras mais indicadas para serem controladas pelo parasitóide Diaeretiella rapae. Já o parasitismo encontrado para Lipaphis erysimi, sugere que esta espécie é menos preferida pelo parasitóide ou que existe alguma incompatibilidade fisiológica entre este hospedeiro e Diaeretiella rapae. O mesmo se espera para a criação massal do parasitóide. De acordo com os resultados de parasitismo no campo, é provável, que a criação de Diaeretiella rapae seja mais bem sucedida com a utilização de Brevicoryne brassicae e Myzus persicae, e que Lipaphis erysimi apresente baixo rendimento como hospedeiro de Diaeretiella rapae em criações de laboratório. Ambos os hospedeiros foram testados visando verificar esta premissa (item 3.2) A porcentagem de parasitismo das diferentes espécies de hospedeiros no campo nos dá um indício da preferência do parasitóide (SAMPAIO, 2004), porém, por esta metodologia, não há como certificar que a espécie com maior porcentagem de parasitismo é a preferida, pois por motivos ainda não muito esclarecidos a larva que está no interior do hospedeiro pode vir a morrer e não chegar a fase de múmia. Assim, não há como definir se o pulgão não foi parasitado, ou seja, não foi escolhido pela fêmea, ou se foi parasitado e a larva morreu. Portanto a preferência de um parasitóide só pode ser avaliada pela observação da espécie mais vezes atacada ou com maior parasitismo em testes de laboratório (SAMPAIO; BUENO; VAN LENTEREN, 2001). Em testes de laboratório, o parasitóide Diaeretiella rapae localizou com mais facilidade e preferiu Lipaphis erysimi a Myzus persicae (BLANDE; PICKETT; POPPY, 2004, 2007), indicando resultados contrários para populações européias aos encontrados no presente trabalho em Uberlândia. 3.2 Criação dos pulgões Brevicoryne brassicae, Myzus persicae e Lipaphis erysimi, em condições de laboratório Foi possível criar as três espécies de pulgões hospedeiros nas condições avaliadas. Todas apresentaram boa multiplicação em laboratório nas gaiolas testadas, porém, diferiram na velocidade de multiplicação das colônias. Dentre as três espécies de pulgões avaliadas, Brevicoryne brassicae se mostrou como a espécie mais difícil de ser mantida nas condições de laboratório, apesar de ser uma das espécies mais agressivas no campo, ocasionando grandes danos à cultura da couve. A grande dificuldade encontrada foi a baixa multiplicação desta espécie nas plantas mantidas em gaiolas de polietileno, fazendo com que a criação fosse interrompida várias vezes pela baixa quantidade de afídeos nas plantas. Para que a criação fosse novamente iniciada, foi preciso coletar novos indivíduos em plantas de couve manteiga mantidas em campo e re-infestar a gaiola. Já Myzus persicae se mostrou uma ótima opção para criação em condições de laboratório nas gaiolas de polietileno, pois sua população na planta se manteve sempre constante, havendo necessidade de nova infestação da gaiola com pulgões trazidos do campo somente uma vez durante os três meses de criação. Assim como Myzus persicae, Lipaphis erysimi também manteve constante sua população nas plantas de couve em gaiola de polietileno, infestando com facilidade cada nova muda que era alocada na gaiola, porém com melhor desempenho, pois não houve a necessidade de nenhuma outra infestação com novos indivíduos trazidos do campo nos três meses de condução das criações. A espécie Brevicoryne brassicae foi a que apresentou o maior parasitismo no campo, contudo, foi possível observar que as espécies Lipaphis erysimi e Myzus persicae podem ser mais promissoras para a criação massal do parasitóide Diaeretiella rapae em função da melhor adaptação dessas espécies as condições de laboratório. Embora a gaiola de polietileno tenha apresentado uma diminuição na quantidade de luz, foi possível manter as três espécies de pulgões nesta gaiola. A criação de pulgões em gaiolas de madeira e de acrílico tem sido bem sucedida na criação de diversas espécies de pulgões em laboratório (SAMPAIO, 1999; SAMPAIO, 2004). Levando-se em conta o baixo custo deste material, pode-se considerar que é uma excelente alternativa para as gaiolas tradicionais de madeira e acrílico. 3.3 Criação do parasitóide Diaeretiella rapae nas espécies de pulgão Brevicoryne brassicae e Lipaphis erysimi Com a criação de Diaeretiella rapae sobre a espécie Brevicoryne brassicae em gaiolas de polietileno foram obtidas três gerações do parasitóide na primeira criação e quatro gerações na segunda criação, a qual permaneceu sendo conduzida em laboratório. A produção de múmias foi compatível com a quantidade de pulgões que infestavam a planta. Foram obtidas 60 e 127 múmias nas gerações avaliadas da primeira criação e da segunda criação, respectivamente. O ciclo médio entre as gerações foi de 12 dias. A maior dificuldade encontrada na criação deste parasitóide sobre Brevicoryne brassicae foi a baixa disponibilidade desta espécie hospedeira. Isso porque, a criação deste afídeo em gaiolas de polietileno nas condições de laboratório se mostrou menos eficiente do que as de Lipaphis erysimi e Myzus persicae, visto que Brevicoryne brassicae não se multiplicou em quantidade suficiente para a manutenção da gaiola de criação do parasitóide em questão. Foi preciso então, buscar uma nova alternativa para que se pudesse dar continuidade à criação deste parasitóide. A saída encontrada foi substituir a espécie hospedeira por uma com maior facilidade de manutenção em laboratório e que houvesse em disponibilidade suficiente para que a criação de Diaeretiella rapae fosse mantida de forma ininterrupta. Como a porcentagem de parasitismo no campo de Lipaphis erysimi apresentou resultados insatisfatórios, esta espécie foi a escolhida para verificar a possibilidade de incompatibilidade fisiológica que impedisse a criação do parasitóide. Os índices de parasitismo de Lipaphis erysimi por Diaeretiella rapae em condições de campo foram de 11% de parasitismo máximo, contra mais de 70% para Brevicoryne brassicae e Myzus persicae. Portanto, tinha-se o receio de que esta espécie não fosse também parasitada em criações de laboratório em porcentagem suficiente para a continuidade da criação. No entanto, a criação de Diaeretiella rapae em Lipaphis erysimi obteve grande sucesso, pois foram alcançadas 9 gerações do parasitóide durante a condução do experimento, com número de múmias formado compatível com o número de afídeos existentes na planta. Foram obtidas 88 múmias na quinta geração do parasitóide em laboratório. Das 30 múmias retiradas da criação de Diaeretiella rapae em Lipaphis erysimi 50% emergiram, originando 11 fêmeas e 4 machos resultando em uma razão sexual de 3 : 1. Embora o parasitismo de Lipaphis erysimi no campo seja baixo, este hospedeiro foi adequado para criação de Diaeretiella rapae em laboratório. Desta forma, foi possível observar que a possibilidade de incompatibilidade fisiológica entre Diaeretiella rapae e Lipaphis erysimi é baixa, sendo o baixo parasitismo encontrado no campo para essa espécie hospedeira, provavelmente em função da preferência do parasitóide. Testes de preferência devem ser realizados para elucidar de forma conclusiva os aspectos da preferência de Diaeretiella rapae sobre estas três espécies hospedeiras e as possíveis interferências em programas de controle biológico dos pulgões das brássicas com este parasitóide. A criação de parasitóides em gaiolas de madeira e de acrílico tem sido bem sucedida, de maneira análoga a criação de pulgões (SAMPAIO 1999; SAMPAIO, 2004). Embora com menor custo que as tradicionais, a vida útil das gaiolas de polietileno não foi avaliada, sendo necessária a utilização desse material por períodos mais prolongados, visando avaliar o desgaste e a relação custo benefício do acrílico, da madeira e do polietileno. 4. AGRADECIMENTO Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento do projeto e pelo fornecimento da bolsa de iniciação científica. 5. REFERÊNCIAS AGUIAR MENEZES, E. L. de Controle biológico de pragas: princípios e estratégias de aplicação em ecossistemas agrícolas. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 2003. 44 p. (Embrapa Agrobiologia. Documentos, 164). BLACKMAN, R.L.; EASTOP, V.F. Aphids on the World’s Crops: na identification guide. Chichester: J. Wiley, 2000. BLANDE, J. D.; PICKETT, J. A.; POPPY, G. 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PARASITISM IN THE FIELD AND MASS REARING IN LABORATORY CONDITIONS OF COLLARD GREENS APHIDS AND THE PARASITOID Diaeretiella rapae M’INTOSH (HYMENOPTERA: BRACONIDAE, APHIDIINAE) Suelen Oliveira Arantes1 Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Ciências Agrárias, Laboratório de Entomologia - Controle Biológico, Av. Acre s/n, Campus Umuarama, Bloco 2E, Uberlândia-MG, CEP 38405-402 [email protected] Marcus Vinicius Sampaio2 [email protected] Abstract: Parasitism in the field and mass rearing in laboratory conditions of a parasitoid species are important stages for a biological control program. The objectives of this work were to determine the parasitism, in field conditions, of Diaeretiella rapae (M’Intosh) on the three aphid species of Brassicaceae plants; and to test a mass rearing methodology for collard greens aphids and for the aphid parasitoid Diaeretiella rapae, in laboratory conditions. The samples were collected weekly in the field and the aphid populations and parasitism were evaluated. The aphids and parasitoids were reared in laboratory at 25-29°C and 12h of photophase. The aphids were reared on collard greens plants (var. manteiga da Geórgia), in plastic pots with organic substrate. These pots were kept in polystyrene cages (45 x 90 x 50 cm). The parasitoids were reared in 22 x 33 x 32 cm polystyrene cages, on kale plants colonized with Brevicoryne brassicae (Linné) or Lipaphis erysimi (Kaltenbach). The three aphid species were parasitized in different proportions by Diaretiella rapae. Parasitism was minimum on Lipaphis erysimi, the aphid species with the greatest population. Mass rearing of the insects in polystyrene cages was less effective for Brevicoryne brassicae, but was very effective for Lipaphis erysimi, Myzus persicae (Sulzer) and Diaeretiella rapae. The aphids Brevicoryne brassicae and Lipaphis erysimi were good hosts for Diaeretiella rapae rearing, allowing the mass rearing for many generations of the parasitoid in laboratory conditions. Key words: Aphididae, Aphidiidae, Aphidiinae, biological control, mass rearing, Brevicoryne brassicae, Lipaphis erysimi, Myzus persicae.