Revista “Cabral, o Viajante do Rei”

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Revista “Cabral, o Viajante do Rei” - 11ª Edição
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A Lenda da Senhora da Estrela
Manuel Marques
Andava um rei a caçar por estas terras (hoje chamadas Serra da Estrela), quando,
com o ardor da caça, a noite sobreveio sem que antes pudesse acoitar-se. Perdido e
acossado por um urso, pediu auxílio a Nossa Senhora. De repente aparece-lhe uma estrela
que lhe serviu de guia e pôde encontrar-se a salvo.
Agradecido com o que considerou um milagre, mandou fazer ali uma capela sob a
invocação de Nossa Senhora da Estrela. Esta capela pode ter sido a sede da paróquia
medieval de Olas e depois de Anguias de Godim (Inguias) e é a mesma capela em que a
pedra do altar estava assente sobre uma ara dedicada a Júpiter (Juppiter Optimus Maximus).
No tempo de D. Pedro, já há muito que esta igreja pertencia aos Bispos da Guarda e não aos
Bispos de Coimbra, seus fundadores.
Esta lenda ou semelhante conta-se em locais diversos, como Seia, Boidobra. Mas
aqui, conta-se também que D. Pedro andava a caçar por estas bandas, quando lhe vieram
anunciar a morte de D. Inês.
E há quem diga mais: que andava a caçar com um seu grande amigo, o Cônego D.
Gil Cabral, Deão da Sé da Guarda, a quem este rei, por mercês e ou amizade, doou grandes
terras em Belmonte e redondezas.
Esta amizade pode ter sido anterior ao casamento de D. Pedro com D. Inês de
Castro ou pode ter começado ou aumentado depois. Por que? Precisamente porque foi D.
Gil Cabral que, em 1º de janeiro de 1354, em Bragança, assistiu a este casamento.
Assim o declarou, sendo já bispo da Guarda, em Coimbra, em 18 de junho de 1360,
ao tabelião geral Gonçalo Pires, e na presença de D. João Afonso, (Conde de Barcelos),
Vasco Martins (Chanceler - Mor), e Mestre Afonso.
Mas quem acredita em histórias, neste caso até repetidas noutros lugares, de
aparecerem estrelas ou a própria Nossa Senhora, a nobres, príncipes e reis, (às vezes até a
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gente do povo), para, perdidos em terras onde se desorientavam os salvar de ursos ou outros
perigos? Ninguém.
Mas quem ignora que foram gentes destas que promoveram a construção de capelas
e igrejas em terras geralmente suas, onde inicialmente só caçavam, mas que queriam
povoar? Terras, eles não trabalhavam, não era (ou não foi) sequer da sua condição de
nobres dedicados por vocação ou simples determinação sócio-legal à guerra.
Sem gente que a trabalhasse a terra. A quem haviam de cobrar as rendas que
pretendiam?
Foi tático construir uma igreja ou capela, para reunir e organizar gente à volta delas.
Muitas vezes, ficavam comendadores ou padroeiros destas igrejas, com direitos de
apresentação e até nomeação dos párocos, e as rendas, claro.
Por vezes os detentores das terras colocavam simples aras votivas, e só depois
construíam ermidas ou capelas que, com o afluxo de pessoas, obrigavam a criar títulos e
cargos eclesiásticos, com condições de sustento e habitação, para garantir o serviço
religioso para artífices e agricultores que nessas terras habitavam. Muitas vezes essas aras,
ermidas e capelas funcionavam como monumentos ao mesmo tempo votivos ou de
afirmação de propriedade, colocados no centro ou na divisória das suas terras. Daqui
nasceu o costume, há pouco extinto mas que durou séculos, de haver padroeiros e
apresentadores de igrejas ou capelas, com o proveito que depois de daí adveio.
O altar da Senhora da Estrela estava colocado, até há pouco tempo, sobre uma ara
dedicada a Júpiter.
E, acredite-se ou não nestas lendas às vezes sem originalidade para nós, o que é
certo é que um milagrezinho, mesmo lendário, dava uma força para a gente daquele tempo
ir se reunindo à volta da capela ou igreja erguida como voto.
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