4 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2015 Reportagem Especial DIVULGAÇÃO NOVOS MEDICAMENTOS Terapias genéticas contra doenças Cientistas usam vírus e transportam informações para as células a fim de reprogramá-las e criar tratamentos ientistas estão reescrevendo o DNA de vírus para implantar em pacientes e obter a cura de doenças. Pessoas com incapacidade de digerir gordura, por exemplo, podem ter um vírus feito em laboratório implantado no corpo para alterar o código genético e fazer com que comece a produzir a enzima que faltava. Apesar de parecer algo distante e fora da normalidade, a terapia genética está sendo estudada em vários campos da medicina. A maioria dos estudos usa os vírus, que tanto causam doenças, como forma de transportar informações pa- C ra dentro do código genético de células para reprogramá-las e tratar doenças. A terapia genética está sendo um dos campos mais estudados da medicina. Segundo o professor Carlos Menck, titular do Departamento de Microbiologia da Universidade de São Paulo (USP), são mais de 2 mil protocolos clínicos para terapia genética que estão em andamento e, nos próximos cinco anos, avanços significativos nessas terapias deverão ser observados. “Existem testes de terapia genética sendo realizados em tratamentos de câncer, Aids, hemofilia e outras doenças. Mas ainda estamos engatinhando. São só duas terapias genéticas autorizadas até o momento: uma para câncer, na China, e outra, na Europa, para quem tem a deficiência na produção da (enzima) lipase. Mas há uma grande expectativa nesses tratamentos.” Menck também afirmou que não se pode criar um excesso de expec- tativa em relação aos medicamentos. “Ainda é início de trabalho, pesquisas estão sendo realizadas e não existe mágica. Pode ser que dos 2 mil protocolos, poucos consigam bons resultados. Então teremos novidades nos próximos anos, mas não é possível precisar quantas serão”, explicou. CÂNCER Em relação ao tratamento de câncer, o coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC), do Ministério da Saúde, Carlos Gil Ferreira, afirmou que há expectativas de que a terapia genética comece a chegar para os pacientes, ainda de forma restrita, nos próximos anos. “A terapia genética para tratar casos de câncer ainda está no âmbito de pesquisas. A ideia é fazer uma reprogramação das células do próprio paciente, para que elas consigam combater as células cancerígenas.” Pacientes buscam tratamento no exterior OPINIÕES Existem testes de terapia genética sendo realizados para tratar câncer e Aids “ Carlos Menck, professor de Microbiologia da USP CARLOS GIL FERREIRA, do Ministério da Saúde, explicou técnicas ” O Brasil caminha, mesmo a passos lentos, aceitando as tecnologias médicas “ ” Otavio Baiocchi, hematologista e professor da Unifesp Temos restrição de antibióticos e, por isso, temos de usálos bem, para que se mantenham eficientes “ ” Crispim Cerutti, infectologista (Ufes) Médicos cobram novos antibióticos O aumento da resistência das bactérias aos antibióticos existentes no mercado, para especialistas, demonstra a necessidade de realização de pesquisas para a criação de novas classes de remédios para combater as bactérias. O infectologista e professor da Ufes Crispim Cerutti alertou que, para se desenvolver uma nova droga, é preciso, pelo menos, 10 anos de testes. “Hoje, as bactérias são mais resistentes. Para combatê-las e conseguir os mesmos resultados de antes, fazemos uma combinação de classes de drogas antigas, e isso gera uma toxicidade maior para os pacientes.” Ele frisou que é preciso retomar as pesquisas. “Se não for feito nada, algumas bactérias mais resistentes não terão como ser controladas.” Cerutti também alertou para o uso indiscriminado dessas drogas. “Tem áreas da medicina que usam muito antibiótico. Por exemplo, quando uma criança tem várias infecções respiratórias por ano. Mas a maioria é viral. Isso acaba crianDIVULGAÇÃO MARCELO NEUBAUER: futuro do bactérias mais resistentes.” Desde 2000, apenas duas novas classes de antibióticos foram lançadas no mercado. O gerente médico da AstraZeneca Brasil, Marcelo Neubauer, reconheceu a necessidade de desenvolver novas opções de antibióticos. O laboratório desenvolveu o antibiótico Zinforo (Ceftarolina fosamila) para o tratamento de pneumonia e infecções de pele e tecidos moles. “As opções atuais são adequadas para a maioria dos casos. Entretanto, é preciso pensar no futuro, quando essas opções podem se esgotar. No mundo está aparecendo bactérias cada vez mais difíceis de serem tratadas, algumas com resistência à maioria dos antibióticos usados. É preciso o desenvolvimento de novas opções.” Por falta de opção de alguns medicamentos mais modernos no Brasil, pacientes acabam buscando tratamentos que já foram lançados em outros países como tentativa de se curar. Segundo especialistas, a maior parte desses casos é de câncer, que tem uma evolução constante na linha de tratamentos. Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está analisando a liberação de 12 medicamentos novos e 124 medicamentos para usos diferentes daqueles que foram registrados. “Antes de ser aprovado no País, as redes pública e privada não oferecem o medicamento. Isso acaba fazendo com que pacientes busquem o remédio em outros países. Isso precisa ser trabalhado no governo, nos marcos regulatórios. Infelizmente, eles ainda demoram muito para serem aprovados”, afirmou o coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC), do Ministério da Saúde, Carlos Gil Ferreira. Segundo ele, ainda são poucas clínicas que fazem o diagnóstico molecular dos tumores, para que possam ser usados medicamentos-alvo. “A estratégia ainda não é adotada em todos os centros de câncer do País. A maior parte dos centros não tem acesso e, por falta dos testes adequados, não usa os medicamentos-alvo.” Um exemplo, segundo o hematologista e professor da Unifesp Otavio Baiocchi, é a brentuximabe (Adcetris, da Takeda), que foi aprovada neste ano pela Anvisa, mas é aprovado desde 2011 nos Estados Unidos. “Alguns poucos têm condição de arcar com esses custos. Tivemos alguns pacientes que fizeram o uso, trazendo a um preço altíssimo do exterior. Os planos de saúde não pagam esses medicamentos”, frisou Baiocchi. SAIBA MAIS Doze remédios aguardam análise Autorização > PARA UM MEDICAMENTO estar no mercado ele precisa estar autorizado pela Anvisa. O processo começa com a apresentação de um pedido de registro feito pelo laboratório produtor. A partir daí, a Anvisa vai analisar os estudos apresentados para decidir se o produto pode ser comercializado. > NA LISTA de medicamentos novos, que são substâncias que ainda não existem no País, há 12 produtos aguardando análise. Já na lista de medicamentos inovadores, que trata de novos usos ou indicações de substâncias existentes, há 124 produtos. Fases para venda > SÃO TRÊS FASES para aprovação na Anvisa. A primeira é a pesquisa clínica, com fases de testes em humanos. Depois disso, é feita a fase de registro, onde é feita análise da segurança e eficácia do medicamento. Por fim, a fase de pós-mercado, quando os registros devem ser renovados. Fonte: Anvisa.