Protocolos Assistenciais Aplicação fotos: dreamstime.com correta Conheçaestratégiasdehospitaisqueconseguirammelhorara adesãoaoprotocolodeAntibioticoterapiaProfilática PorSaraDuarteFeijó M edicar um paciente com antibióticos antes e após a cirurgia é uma das principais barreiras contra infecções hospitalares. Por isso, de acordo com o Institute for Healthcare Improvement (IHI), a Antibioticoterapia Profilática é um indicador estratégico e faz parte do protocolo de Cirurgia Segura. No Brasil, todos os hospitais acreditados estão comprometidos em garantir o 50 Melh res Práticas seu cumprimento. Para tanto, é necessário que a instituição disponha de um Centro de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), composto por infectologistas. São eles que irão investigar quais as floras bacterianas mais frequentes naquele hospital e determinar como combatê-las. Em outras palavras, é a equipe do CCIH quem elabora o protocolo de Antibioticoterapia Profilática, que deve ser praticado sempre que houver uma cirurgia. Até o início dos anos 2000, a escolha do antibiótico ficava a cargo de cada cirurgião. Porém, o processo de acreditação trouxe a padronização de procedimentos e a elaboração de protocolos para aumentar a segurança do paciente, de modo que hoje em dia, em determinados procedimentos, é obrigatória a aplicação da Antibioticoterapia Profilática. Entre eles estão: transplantes, histerectomias, cirurgias no cérebro, gastroplastia, cirurgias do trato urinário ou na região colorretal, colocação de próteses ortopédicas, operações na coluna, amputações e até mesmo exames urológicos invasivos. Segundo Silvana de Barros Ricardo, chefe do serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, a necessidade da Antibioticoterapia Profilática cirúrgica não depende exclusivamente da complexidade da operação (se a cirurgia é aberta ou feita com procedimentos minimamente invasivos). “O fator primordial na hora de decidir por essa medida é o local da incisão”, diz Silvana. “É preciso especial cuidado quando a cirurgia é em um órgão vital capilarizado, como o coração ou o útero, e também quando envolve alguma região do corpo onde há uma flora vulnerável a infecções, como o reto e o intestino”. De acordo com Massanori Shibata Jr., ex-auditor do Health Services Accreditation (IQG, agência que confere os selos ONA e Accreditation Canada) e atual diretor técnico do Hospital Santa Helena, em Santo André (SP), algumas vezes, mesmo que a cirurgia não se encaixe nessas premissas, mas a ocorrência de uma infecção possa piorar muito a recuperação do paciente, é preferível aplicar a Antibioticoterapia Profilática. “É o caso de um paciente cardiopata que sofre um ferimento no mediastino (músculo onde se localiza o coração), ou de um diabético que tem de amputar um dedo”, diz. “Mediante as doenças de base, se eles não receberem antibióticos, podem sofrer sérias complicações.” O Centro de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), composto por infectologistas, irá investigar quais as floras bacterianas mais frequentes naquele hospital e determinar como combatê-las timiNg é fuNDameNtal Para que a Antibioticoterapia Profilática seja eficaz, além de usar o medicamento escolhido pelo CCIH para aquele tipo de cirurgia, é preciso aplicá-lo da forma correta: por via injetável, de 30 a 60 minutos antes da primeira incisão. O uso precisa ser interrompido exatamente 24 horas depois. O roteiro parece simples, mas a maioria dos hospitais tem dificuldade de conscientizar os cirurgiões sobre a necessidade de segui-lo à risca. No Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro, a adesão ao protocolo de Antibioticoterapia Profilática tem sido monitorada desde 2008. No começo, verificou-se que a adesão era de mais de 75%, mas nem sempre ocorria no momento adequado. “Quase metade dos pacientes recebiam o antibiótico muito antes da cirurgia, o que é incorreto”, afirma Magda Conceição de Souza, infectologista do Barra D’Or. Para corrigir essa situação, o Barra D’Or fez uma campanha de conscientização para os cirurgiões. Além disso, por sugestão da equipe de enfermagem, criou-se uma maneira mais simples de os anestesistas registrarem seus procedimentos. “Antes, os anestesistas preenchiam um formulário cheio de quadradinhos e cruzinhas, e suas anotações ficavam confusas”, diz Melh res Práticas 51 Para ser eficaz, é preciso aplicá-la da forma foto: dreamstime.com correta: por via injetável, de 30 a 60 minutos antes da primeira incisão, e interromper o uso exatamente 24 horas depois Magda. “Criamos um carimbo onde está escrito apenas: ‘antibiótico, data e hora’. Agora, eles só preenchem as lacunas e as enfermeiras cuidam para que a medicação seja retirada em 24 horas”, diz. Outra medida adotada pelo Barra D’Or foi determinar que o antibiótico tem de ser colocado em um pacote fechado destinado ao anestesista. “Dessa forma, garantimos que só será aplicado na sala de operação”, diz Magda. Essas mudanças fizeram efeito. Nos últimos quatro anos, a taxa de adequação do horário de aplicação do antibiótico saltou de 47% para 80%, e a de adesão ao protocolo subiu de 80% para 92% – acima, portanto, da média dos hospitais-membros da ANAHP (Associação Nacional de Hospitais Privados), que, em 2011, registrou média anual de 80,1% na taxa de conformidade à Antibioticoterapia Profilática. 52 Melh res Práticas CoNSCieNtização De PeSSoal A rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, optou por unificar processos e investir em treinamento. O grupo mantém três hospitais (Pompeia, Santana e Ipiranga) que, juntos, realizam mais de 23 mil cirurgias por ano. Entre 2009 e 2010, foram realizas duas campanhas internas para envolvimento do corpo clínico e, em abril de 2011, um cirurgião de renome foi contratado para dar uma palestra. “A ideia era deixar claro que a adesão ao protocolo de Cirurgia Segura é obrigatória, tanto para os cirurgiões fixos quanto para os externos, que hoje representam 33% do total”, afirma a gerente corporativa de qualidade Daniela Akemi. Segundo Daniela, a rede também fica atenta à notificação do grau da adesão e das taxas de infecção no pós-operatório. “A adesão é monitorada pelos gestores de cada processo, no qual há sempre um médico e um enfermeiro responsáveis. São eles que dão o feedback para as equipes, apontando o que precisa ser melhorado”, explica. Desde 2009, a adesão ao protocolo aumentou 29,5% e houve uma redução de 27% a 30% no número de infecções. No hospital Mater Dei, que realiza 2.800 cirurgias por mês, o protocolo de Antibioticoterapia Profilática é praticado há mais de uma década. Em 2012, a instituição lançou a 22ª versão. “O controle da infecção hospitalar requer vigilância constante e atualização permanente”, explica Silvana de Barros Ricardo. “Por isso, sempre que mudam as bactérias, mudam os antibióticos indicados para cada tipo de cirurgia”, completa. Cada vez que é lançado um novo protocolo, o Mater Dei faz um programa de treinamento para estimular a adesão das equipes às novas determinações. Se, há alguns anos, apenas os cirurgiões e anestesistas eram responsabilizados pela aplicação correta do protocolo, hoje o planejamento envolve toda a equipe, da farmácia à enfermagem. Além disso, desde 2011, a forma de publicação dos resultados mudou. “Antes, fazíamos a contagem por clínica: a ginecologia teve X por cento de adesão, a neurologia teve Y”, explica Silva-