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ESTUDO DA MICROBIOTA FÚNGICA ANEMÓFILA DE UMA INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA DE JUIZ DE FORA – MG
Josimar de Oliveira Mageste¹, Tatiana Caroline Dias Pereira²,Gabriel Araujo da Silva² ,³,
Rosângela Abreu Monteiro de Barros¹
RESUMO
Os fungos anemófilos são microrganismos encontrados regularmente no ar atmosférico e
que podem causar incômodos como a deterioração de materiais, alergias, intoxicações e
infecções. Na indústria de medicamentos, o controle dos fungos do ar é condição
essencial para a garantia da qualidade do produto, bem como para a saúde das pessoas
que trabalham no local. O objetivo desse trabalho foi de identificar e quantificar os fungos
anemófilos presentes no interior e exterior de uma indústria farmacêutica. Os gêneros de
fungos encontrados foram Cladosporium sp, Penicillium sp, Aspergillus sp,
Helminthosporium sp, Dreschlera sp, Candida sp, Rhodotorula sp, Epicoccum sp,
Alternaria sp, Sepedonium sp. e Mycelia sterilia. Quando comparados os resultados com
outros trabalhos, verificou-se que os mesmos fungos foram isolados em trabalhos
semelhantes, entretanto, não foi encontrado na literatura trabalhos sobre fungos
anemófilos em indústria farmacêutica. Pode-se concluir que o nível de contaminação
encontrado, não coloca em risco a qualidade dos medicamentos produzidos, nem a saúde
das pessoas que trabalham nestes ambientes.
PALAVRAS-CHAVE: fungos anemófilos, controle de qualidade, indústria.
ABSTRACT
The airborne fungi are microorganisms found regularly in the atmospheric air and that can
cause uncomfortable as to deterioration of materials, allergies, intoxications and infections.
In an industry of medicines, the control of the fungi of the air is essential condition for the
warranty of the quality of the product, as well as for the people's health that you they work
at the place. It was for considering this subject as fundamental that intended to the
accomplishment of this work that had for objective to identify and to quantify the fungi
present airborne in the interior and external of the industry and power like this to trace
measures of control necessary case. The goods of fungi found in our work they were
Cladosporium sp, Penicillium sp, Aspergillus sp, Helminthosporium sp, Dreschlera sp,
Cândida sp, Rhodotorula sp, Epicoccum sp, Alternate sp, Sepedonium sp. and Mycelia
sterilia. When we compared our results with other studies we could verify that the same
fungi were isolated in similar works, in spite of we have not found in the literature works on
airborne fungi in pharmaceutical industry. We could conclude that the level of
contamination found it doesn't place in risk the quality of the produced medicines, nor the
people's health that they work in these you adapt.
KEYWORDS: fungi airborne, quality control, industry.
1- Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, Juiz de Fora,MG, Brasil.
2- Faculdade de Colíder, FACIDER, Colíder,MT ,Brasil.
3- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Natal, RN, Brasil
Endereço para correspondência: Av. Senador Júlio Campos, 1036. Jardim Europa. Cep:78500-000. Colíder,MT.
E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Os fungos são microrganismos ubíquos, encontrados amplamente disseminados
no ar, solo e ambientes aquáticos. São seres vivos absortivos com organização celular e
DNA delimitado por um envoltório nuclear. Os fungos que vivem no ar atmosférico são
denominados anemófilos, sendo esse habitat o meio de dispersão mais utilizado e bem
sucedido desses microrganismos. Assim, dificilmente pode existir ambiente livre de
contaminação fúngica, pois esses têm o ar atmosférico como seu principal meio e
suportam grandes variações de temperatura, umidade e pH. Sendo assim, são facilmente
encontrados em ambientes internos (LACAZ et al., 2002).
Na indústria farmacêutica, assim como em outros tipos de indústria, como exemplo,
a de alimentos, a preservação da qualidade do ar dos ambientes é ponto importante para
a garantia asséptica dos medicamentos que a indústria produz. A contaminação ambiental
pode trazer várias consequências, principalmente quando esta ocorre no medicamento e
este é administrado em pessoas com sistema imunológico alterado, pois poderá acarretar
danos imprevisíveis, bem como em pessoas que trabalham neste ambiente, uma vez que,
estes são produzidos em ambientes fechados. Portanto, a higiene industrial e um
monitoramento microbiológico do ar, asseguram boas condições higiênico-sanitárias
evitando contaminações aos consumidores de seus medicamentos e funcionários
expostos (CORRÊA, 1998; KNEIFEL, CZECH e KOPP, 2001).
A contagem e caracterização dos fungos anemófilos assim como os fatores
internos e externos que levam à formação dessa microbiota, são importantes para avaliar
se os locais de produção do medicamento - onde também se expõe os funcionários,
possuem microbiota fúngica equilibrada para evitar possíveis contaminações e patologias
provocadas por fungos oportunistas (CORRÊA, 1998; KNEIFEL, CZECH e KOPP, 2001).
Considerando a escassez de trabalhos sobre fungos anemófilos isolados em indústrias
farmacêuticas e a considerável preocupação com a qualidade do ar onde são produzidos
medicamentos, optou-se pela realização do presente estudo.
1. CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA
As empresas produtoras de medicamentos estão regulamentadas por diretrizes
que tendem a garantir a minimização da contaminação microbiana através do
gerenciamento microbiológico. Para o controle da contaminação de ambientes industriais,
é necessária uma compreensão do ecossistema, dos nichos que surgem e dos fatores
que colaboram para a seleção e disseminação de microrganismos (EGUCHI, 2006).
A contaminação microbiológica varia com o tipo de contaminante e de produto que
foi contaminado. O risco de se encontrar materiais contaminantes reside não só na
construção das salas, mas também no sistema de tratamento e de circulação do ar e nos
sistemas de utilidades (VENERANDA, 2004).
A prevenção da contaminação microbiana na área de produção segue uma linha de
investigação que determinará os principais carreadores de microrganismos e os pontos
críticos do processo, além de um estudo dos pontos vulneráveis na linha de produção
(AMARAL, 2004).
De acordo com NBR ISO 14644-1 de 2005, a qualidade ambiental da sala limpa ou
da operação pode ser influenciada por alguns fatores de risco, como exemplos: (1) fatores
rotineiros de contaminação ambiental (fluxo de ar, partículas em suspensão no ar,
liberação de gás, gases perigosos, microrganismos, vibrações, cargas eletrostáticas,
contaminação molecular e outros); (2) fluxo de pessoal e de materiais; (3) serviços,
manutenção e reparos; (4) procedimentos de limpeza; (5) paradas de emergência e
planejadas; (6) expansão e modificações da instalação; (7) frequência de monitoramento
dos resultados da limpeza.
Salas limpas são consideradas áreas com controle ambiental definido em termos
de contaminação por partículas viáveis e não viáveis. Para se atingir um bom nível de
qualidade microbiana nos produtos farmacêuticos, é fundamental conhecer as fontes e os
mecanismos que podem ocasionar contaminação por microrganismos. Alguns fatores
como o tipo de instalação, operação de manutenção, processos produtivos, presença e
atividade de pessoal podem gerar contaminação e dispersão de partículas em salas
limpas (NBR ISO 14644-1, 2005; BRASIL, 2003).
A qualidade dos produtos é assegurada pela garantia de que o processo de
fabricação é realizado segundo normas específicas para a obtenção de produtos
eficientes, seguros e que satisfaçam aos anseios e necessidades do consumidor (PINTO,
KANEKA e OHARA, 2000).
Neste contexto, a Garantia da Qualidade é o conjunto de providências tomadas
visando garantir que os medicamentos estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos,
de modo a serem utilizados para os fins propostos (BRASIL, 2003).
A capacidade do microrganismo em promover o processo de deterioração depende
da sua capacidade em produzir enzimas adequadas, e o risco maior no caso de produtos
farmacêuticos e cosméticos reside na extrema versatilidade de caminhos bioquímicos dos
microrganismos, possibilitando a síntese de enzimas degradativas. Consequências
distintas, porém sempre problemáticas, advêm desta degradação enzimática por
microrganismos, podendo ser a queda da potência do princípio ativo, redução da
biodisponibilidade, formação de pigmentos e odores que tornam o produto inaceitável
para o usuário. A atividade microbiana pode também resultar na produção de toxinas ou
na degradação do próprio sistema conservante. Exemplos de conservantes susceptíveis à
degradação são a clorexidina, cetrimida, compostos fenólicos e ácido benzoico, entre
outros (PINTO, KANEKA e OHARA, 2000).
2. FUNGOS ANEMÓFILOS
Segundo Mezaari et al., 2003, os fungos são dispersos na natureza através do ar
atmosférico, água, insetos, homem e outros animais. São denominados fungos
anemófilos, os que são dispersos pelo ar atmosférico, possuindo capacidade de colonizar
habitas e substratos de forma eficiente. São encontrados na forma de esporos que
quando inalados podem causar algum tipo de patologia no homem.
Os fungos anemófilos podem ser encontrados em qualquer lugar que tenha
condições para o seu desenvolvimento, portando a maioria deles não causam nenhum
tipo de patologia no homem quando inalados por esse. Dos fungos encontrados no ar,
87% não causam nenhum tipo de doença no homem, 10% atuam como oportunistas e 3%
são patogênicos (BROOKS et al, 1998).
Quando se tornam oportunistas ou patogênicos, podem causar reações alérgicas
em humanos ou doenças e quando apresentam sua distribuição aumentada para outros
locais, podem aumentar o número de micoses e alergias em humanos ou animais e
doenças em plantas. A habilidade dos fungos em causar doença em humanos parece ser
um fenômeno acidental, diagnosticado como infecções oportunistas, com raríssimas
exceções, e estaria associada ao estado imunitário do indivíduo e a sua exposição
ambiental (WANKE, LAZERA e NUCCI, 2000).
Fungos anemófilos podem causar varias doenças (alérgicas ou não) quando seus
esporos são inalados pelo homem, trazendo principalmente complicações no trato
respiratório como asmas e rinites entre outras. Sendo assim é importante caracterizar a
microbiota fúngica do ambiente para permitir avanços nos diagnósticos e desenvolvimento
dos métodos de abordagem dessas doenças (MEZZARI et al., 2003).
Devido à suscetibilidade relacionada às doenças causadas por fungos anemófilos
explicam-se os estudos com esses fungos, pois as doenças causadas pelo ar interno já
estão entre as principais causas de pedidos de afastamento do trabalho, tanto nos
Estados Unidos quanto na Europa. Indivíduos de terceira idade passam até 90% do seu
tempo em ambientes fechados (ZHANG, 2004), e os poluentes contidos no ar desses
ambientes podem ser tóxicos, principalmente para indivíduos suscetíveis a derrame
cerebral e doenças cardíacas (QUADROS et al., 2009).
3. FUNGOS COMO ALERGÊNICOS EM AMBIENTES FECHADOS
A incidência de alergias provocadas por fungos anemófilos tem sido bastante
evidenciada na literatura médica, sendo os esporos inalados pelo ar, os principais
responsáveis por estas afecções, podendo também desencadear doenças infecciosas
como as otites, infecções urinárias, onicomicoses, infecções oculares, infecções do trato
respiratório, irritações em mucosas e pele e até fungemias provocadas por exposição de
indivíduos sensíveis aos propágulos e metabólicos toxigênicos desses fungos. Sendo
assim, esses tipos de patologias são preocupantes, pois esses fungos estão dispersos
abundantemente no meio ambiente (CARMO et al., 2007 apud SIDRIM e MOREIRA 1999;
GRUMACH 2001; LOBATO, VARGAS e SILVEIRA, 2009).
Na literatura consultada sobre fungos anemófilos, Menezes, Carvalho e Trindade,
2006, relatam em seu trabalho quatro fungos importantes desencadeadores de alergias
respiratórias encontrados em uma biblioteca: Aspergillus sp, Penicillium sp, Alternaria sp
e Cladosporium sp. Em seu estudo os autores relatam a importância desses organismos
relacionados com a imunoterapia das alergias por ele provocadas fato que pode ser
comprovado pelos sintomas em pessoas com predisposição as alergias e que
frequentavam a referida biblioteca. De acordo com os autores, o gênero Aspergillus sp é
um dos principais fungos anemófilos do mundo e foi isolado em todas as exposições
indicando sua presença na sala da biblioteca. Os alérgenos são principalmente proteínas
estranhas ou glicoproteínas com massa molecular variando geralmente entre 5.000 e
170.000 Da. Esporos e micélio de fungos são considerados um dos principais
aeroalergênicos (GAMBALE, PURCHIO e PAULA, 1983; MOHOVIC et. al., 1988).
4. FUNGOS CONTAMINANTES EM INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS E MEDICAMENTOS
Os fungos do ambiente são microrganismos importantes no campo da medicina,
fitopatologia, indústria, além de serem ecologicamente importantes como decompositores.
Porém,
também podem
ser
contaminantes
de
alimentos
causando
sua
deterioração, redução no valor nutricional e alterando suas qualidades organolépticas
tornando-se problema de saúde pública, pois alguns gêneros desses fungos são
produtores de toxinas e micotoxinas (RAVE, EVERT e EICHHON, 2001).
Como os fungos podem ser dispersos pelo ar atmosférico, pode ocorrer
contaminação das plantas, antes e após sua colheita, como também durante o
processamento. Entre os principais gêneros detectados no Brasil, destacam- se:
Cladosporium, Fusarium, Aspergillus, Penicillium e Rhizopus. A presença destes fungos
em fitoterápicos pode ser prejudicial à saúde humana, uma vez que estes podem causar
micotoxicoses, quando introduzidos por via oral, ou outras doenças, quando inalados.
(CORRÊA, 1998; KNEIFEL, CZECH e KOPP, 2001; LACAZ et al., 2002).
Em artigo de Vecchia e Castilhos-Fortes, 2007 onde os autores estudaram a
contaminação fúngica em um alimento, observaram a presença fungos produtores de
micotoxinas,
especialmente
dos
gêneros
Aspergillus,
Fusarium
e
Penicillium,
provavelmente oriundos de contaminação pelo ambiente. As aflatoxinas, toxinas
produzidas pelo gênero Aspergillus estão relacionadas com aproximadamente 35% dos
casos de câncer em humanos principalmente nos casos de câncer hepático. Já o fungo
Penicillium sp presente no ar e contaminante do alimento em estudo estava relacionado
com a produção de micotoxinas responsáveis por efeitos neurotóxicos, imunológicos e
alterações gastrointestinais em humanos.
5. MATERIAIS E MÉTODOS: CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA ESTUDADA
A indústria farmacêutica avaliada, localiza-se no município de Juiz de Fora – MG,
numa área de 682 m2 sendo dividida em duas partes, uma administrativa e outra unidade
fabril.
As duas partes ocupam apenas um andar, e está uma próxima a outra, ligadas por
um túnel. Na parte administrativa estão localizados os setores de vendas, contabilidade,
gerência recepção, refeitório e banheiros. Na unidade fabril, estão os setores de
produção, almoxarifados, Laboratórios de Controle de Qualidade, Garantia da Qualidade,
salas dos farmacêuticos, refeitório, banheiros e vestiários.
A indústria possui um total de 29 funcionários, sendo 4 na parte administrativa e os
outros 25 atuam na unidade fabril.
Os funcionários da unidade fabril possuem vestimenta e calçados específicos para
cada atividade, não sendo permitido o acesso com essas vestimentas fora do setor de
produção. Os funcionários dos setores controle de qualidade, garantia de qualidade,
responsável técnico, almoxarifado e serviços gerais também possuem vestimentas
específicas para suas atividades e outras para o acesso ao setor de produção quando
necessário. O acesso dos funcionários da parte administrativa aos principais setores da
unidade fabril (produção e laboratórios de controle de qualidade), só é realizado quando
devidamente indispensável, e é controlado pelos responsáveis por cada setor. Em
nenhum momento, é permitida a circulação de qualquer funcionário com vestimenta
específica nas partes externas na indústria. Alem disso, todos os funcionários desses
setores, possuem treinamento para evitar contaminações cruzadas de um setor para
outro.
O setor em estudo (produção) é dividido em: 1 sala de quarentena, 1 sala de
amostragem matéria prima, 3 salas de matéria prima liberada, 1 corredor,1 sala apoio, 1
sala de pesagem, 1 sala produção de líquidos, 1 sala envase de líquidos, 1 sala produção
de sólidos, 1 sala envase de sólidos, 1 sala embalagem e 1 sala expedição.
A indústria está no mercado há aproximadamente 80 anos e atualmente produz
dois medicamentos fitoterápicos (1 sólido e 1 líquido) destinados respectivamente a
problemas respiratórios em crianças e cólicas de recém-nascidos. Possui alvará de
licença para funcionamento e é fiscalizada anualmente por órgãos da Vigilância Sanitária.
6. PONTOS DE COLETA
Os pontos de coleta foram determinados no setor de produção, considerando as
áreas críticas para a contaminação na produção dos produtos, como salas onde eles são
manipulados e envasados, salas onde há maior número de concentração de pessoas
durante o período de trabalho, locais onde há maior circulação de pessoas, e onde são
armazenadas as matérias – primas e os produtos finais. Além disso, também foi coletado
em ambiente externo, para possíveis comparações com ambientes internos.
Os pontos de coleta foram: sala de matéria – prima liberada, corredor, sala de
pesagem, sala produção de líquidos, sala envase de líquidos, sala produção de sólidos,
sala envase de sólidos, sala embalagem, sala expedição e pátio.
Todas as salas em estudo (exceto corredor e pátios) são climatizadas e possuem
controle diário de temperatura e umidade. Foram realizadas 3 coletas no período de julho
a agosto de 2009, com um intervalo de 15 dias uma da outra, sempre as segundas-feiras.
Devido à programação de produção na indústria ser realizada semanalmente, e a
periodicidade de limpeza dessas salas (todas as sextas-feiras ou após uso de cada sala)
as coletas não foram realizadas todas nas mesmas condições, pois haviam salas que
estavam em uso e outras não.
Foi exposta uma placa de Petri contendo Agar Sabouraud Dextrose, em cada ponto
determinado anteriormente. Este método baseia-se na sedimentação de esporos dos
fungos anemófilos, sobre a placa em questão, colocada em posição horizontal.
As placas foram abertas dentro da sala por aproximadamente quinze minutos de
acordo com Gambale et al. (1993). Após este período foi levado ao Laboratório de
Micologia do Departamento de Parasitologia, Microbiologia e Imunologia, no Instituto de
Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG para incubação.
As placas, após a exposição, foram mantidas por quatro dias em estufa a 28ºC.
Após este período as colônias foram contadas, enumeradas e descritas. As placas de
Petri de cada ambiente foram identificadas com: nome do meio utilizado, data de coleta e
nome da sala em que foi coletado o material.
Cada fungo crescido na placa foi identificado com os seguintes números e iniciais:
1, 2 ou 3 (indicando o numero da coleta), letras (indicando as iniciais das salas
amostradas) e outro número (indicando o número da colônia).
Um representante de cada colônia foi repicado para tubos contendo o meio Agar
Sabouraud dextrose para perfeito isolamento. A partir da incubação nas mesmas
condições iniciais, foi realizado o microcultivo e demais técnicas necessárias à
identificação dos fungos crescidos. A identificação foi feita pelos métodos micológicos
descritos por LACAZ, et al., 2002 e NEUFELD, 1999. Os fungos filamentosos que não
apresentavam órgãos de frutificação que permitissem a sua identificação foram repicados
para tubos contendo Agar batata e Agar fubá. Quando o estado de não esporulação
persistiu nesses meios, foram então classificados como Mycelia sterilia.
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todas as salas, exceto pátio e corredor, foram controladas as temperaturas e
umidades nos momentos das coletas, e verificou-se que ao obedecerem aos padrões de
tolerância descritos pela indústria (Temperatura < 30ºC > 15ºC e Umidade < 80 % > 40%)
as temperaturas e umidades não contribuíram para o aumento ou diminuição do
crescimento dos fungos (Tabela 1).
TABELA 1 - Dados relativos à temperatura e umidade das salas onde foram realizadas as coletas
1ª coleta
2ª coleta
3ª coleta
Pontos de
coleta
Temp. (ºC) Umid.(%)
Temp. (ºC)
Umid.(%)
Temp. (ºC)
Umid.(%)
Matéria – prima
Pesagem
Líquidos
Envase de
Líquidos
Sólidos
Envase de
Sólidos
Embalagem
Expedição
20,0
22,5
19,0
66
66
45
22,8
21,8
19,7
66
61
51
22,9
23,7
25,2
70
62
58
20,0
71
19,5
60
22,3
62
22,0
61
21,0
58
22,0
61
21,2
76
20,3
64
21,4
59
23,3
19,5
69
66
22,8
21,7
54
67
25,2
23,8
66
70
Cladosporium sp foi isolado nas 3 coletas e foi o fungo de maior incidência (65
UFC). Sendo que na segunda coleta o isolamento foi menor (10 UFC). Penicillium sp foi
isolado nas três coletas, sendo que na primeira em menor quantidade (1 UFC) e na
terceira em maior quantidade (8 UFC). Mycelia sterilia foi coletado nas três coletas
mantendo uma média entre as três coletas. A levedura Rhodotorula sp é isolada nas 3
coletas, porém a maior incidência foi na última coleta (7 UFC). Leveduras do gênero
Candida sp foram isoladas em todas as coletas, sendo que na segunda coleta ela
apresentou menor incidência (3UFC) (Tabela 2).
TABELA 2 – Fungos encontrados na indústria de acordo com a coleta
Fungo encontrado
1ª coleta
(nº de UFCs)
2ª coleta
(nº de UFCs)
3ª coleta
(nº de UFCs)
Total
(nº de UFCs)
Cladosporium sp
Penicillium sp
Mycelia sterilia
Rhodotorula sp
Rhizopus sp
Candida sp
Epicoccum sp
Dreschlera sp
Sepedonium sp
Aspergillus sp
Helminthosporium sp
Alteranaria sp
Total (UFC)
31
1
6
1
0
3
0
3
0
1
1
0
47
11
5
3
1
0
1
4
0
1
0
0
0
26
22
8
5
7
7
3
0
0
0
0
0
1
53
65
14
14
9
7
7
4
3
1
1
1
1
126
Fungo do gênero Rhizopus sp só foi isolado na última coleta assim como Alternaria
sp. Crescimento de Epicoccum sp e Sepedonium sp só foram observado na segunda
coleta. Já os fungos Helminthosporium sp e Dreschlera sp só foram observados na
primeira coleta (Tabela 2).
Na primeira e terceira coletas, um maior número de UFC foi contado nas placas
sendo que na terceira houve um ligeiro aumento em relação às anteriores, talvez
explicado pela presença de um maior número de pessoas na Sala de Envase de Sólidos,
local onde se verifica normalmente um contingente menor de pessoas (Tabela 3).
Foi detectado na segunda coleta, um número de UFC correspondente à quase
metade das outras duas. Provavelmente devido à limpeza prévia realizada na sala de
pesagem e à ausência de pessoal na sala de Envase de Sólidos, uma vez que naquela
data estava sendo processado o envase de líquidos. Nas demais salas, esta redução
talvez tenha sido devido à limpeza semanal realizada na sexta-feira (antes da coleta), que
foi realizada sempre às segundas-feiras (Tabela 3).
TABELA 3 – Número de Unidades formadoras de colônias (UFCs) nas salas
Sala
MP Liberada
Corredor
Pesagem
Prod. Líq.
Env. Líq.
Prod. Sólid.
Env. Sólid.
Embalagem
Expedição
Pátio
1ª coleta
(nº de UFCs)
3
5
3
1
0
4
4
1
3
25
2ª coleta
(nº de UFCs)
0
1
0
4
0
2
1
2
0
16
3ª coleta
(nº de UFCs)
0
12
1
0
2
5
10
6
3
14
Total
(nº de UFCs)
3
19
4
5
2
11
15
9
6
55
Em todas as coletas foram encontradas também algumas colônias de bactérias nas
placas e consequentemente nas lâminas. O crescimento bacteriano é justificado pelo fato
de nos meios utilizados para o isolamento dos fungos não conter drogas antibacterianas.
Padrões de especificações para o interior da indústria:
• Contagem de UFCs após limpeza da sala ou ate 7 dias sem limpeza:
Limite permitido: < 35 UFCs.
Limite de alerta: < 25 UFCs
Limite de ação: < 30 UFCs
• Contagem de UFCs durante o uso da sala:
Permitido: < 50 UFCs
(Protocolo Validação Limpeza de Salas)
Os locais com maior crescimento fúngico foram o pátio e o corredor
respectivamente. Isto pode ser explicado pelo fato de no pátio as placas ficarem expostas
ao vento (importante disseminador de esporos fúngicos), o que pode ter contribuído
significativamente para isto. E, além disso, haver maior número de pessoas em
circulação, por ser um local de entrada e saída de produtos de transportadoras.
O corredor, local de deslocamento de pessoas, que trazem em suas vestimentas,
propágulos fúngicos do ambiente, houve o desenvolvimento maior de fungos, porém em
número muito inferior ao considerado no padrão de especificação (quando a sala está
sendo usada (< 50 UFC)), descrito no “Protocolo de Validação Limpeza de Áreas”,
seguido pela indústria para monitorar a microbiota fúngica dos ambientes internos.
Nas demais salas, houve crescimento menor em relação ao pátio e corredor,
provavelmente pelo fato da circulação de pessoas com calçados e vestimentas
específicas, número de pessoas, e sanitização adequada que atende o “Manual de Boas
Práticas” proposto pela indústria.
A distribuição de fungos coletados no interior e exterior (pátio) da indústria. Em
todos os pontos determinados foram colocadas placas de Petri com meio de cultura para
coleta, porém em algumas salas não houve crescimento, provavelmente devido suas
condições de uso e limpeza.
Dentre os fungos encontrados no interior e exterior da indústria, o de maior
incidência foi o Cladosporium sp. Esse fungo pode ser encontrado comumente no solo e
ar atmosférico comprovando seu potencial ubíquo, que pode contaminar ambientes
internos e causar alergias respiratórias às pessoas quando em contato com
concentrações eladas desses fungos (BERNADI e NASCIMENTO, 2005). Porém, Lacaz
et al., 2002, relata que esse microrganismo é considerado como saprófita e está
associado a casos de patologias raras, sendo uma delas a cladosporiose, uma micose no
sistema nervoso central, desconhecendo-se porém a porta de entrada desse fungo e os
diferentes fatores que interferem na exaltação da sua virulência e de sintomatologia
parecida com a de um tumor cerebral. O gênero Cladosporium sp está associado às
infecções do tipo feo-hifomicose sistêmica em indivíduos imunodeprimidos, causando
infecções no cérebro com raro envolvimento dos pulmões e outras partes do corpo, tendo
como via de entrada a inalação pelo trato respiratório. Esse fungo demáceo anemófilo
pode estar associado a casos de feo-hifomicose cutâneas e alergias
Depois do Cladosporium sp os fungos mais encontrados
na indústria foram
Mycelia sterilia e Penicillium sp sendo que Mycelia sterilia manteve uma média de UFC
sendo distribuídos em quase todos os locais da indústria. Esse fungo pode estar
associados a casos de feo-hifomicoses, sendo já registrado no Brasil, um caso de
infecção, com úlcera do terço distal do antebraço esquerdo acompanhada de febrite
ascendente (LACAZ et al., 2002).
Penicillium sp é um microrganismo encontrado facilmente em solos e matéria
orgânica podendo contaminar o ar atmosférico. Esse fungo está associado a patologias
relativamente raras, as penicilinoses, sendo encontrado na forma de infecções
broncopulmonares e infecções no ouvido externo, endocardite e ceratite. Algumas
espécies de Penicillium sp são também potentes produtores de micotoxinas. A ingestão
de alimentos, ou medicamentos contaminados com este fungo pode provocar
intoxicações graves e fatais em alguns animais, causando também distúrbios
gastrointestinais e outros, no homem (LACAZ et al., 2002). Segundo Rocha, Soares e
Corrêa, 2004 esses microrganismos podem provocar além de alergias, problemas graves
em imunossuprimidos e riscos para quem manipula fitoterápicos contaminados, tendo em
vista a possível inalação durante o processo de manipulação.
A levedura Rhodotorula sp foi o quarto fungo mais encontrado. Membros do gênero
Rhodotorula são fungos anemófilos comuns mostrando uma ubiquidade notável. Até bem
pouco tempo eram consideradas saprófitas não virulentas e contaminantes comuns. No
entanto, durante as duas últimas décadas, têm emergido como patógenos oportunistas,
principalmente em pacientes imunodeprimidos. Relatos de casos incluem fungemia,
endocardite peritonite, meningite e ventriculites associada com a infecção de cateteres e
outros dispositivos intravenosos a partir de fontes ambientais ou da microbiota humana
(WALSH, GROOL e HEIMES, 2004).
Candida sp e Rhizopus sp foram fungos também isolados a partir das coletas
realizadas na indústria. Espécies de Candida sp são encontradas habitualmente no trato
gastrointestinal, genital e cutâneo de seres humanos (MALUCHE & SANTOS, 2008).
Segundo Lacaz, et al., 2002 essa levedura esta associada as infecções oportunistas –
candidíases - (lesões na pele e mucosas), e serve como indicador das condições
higiênicas de fômites envolvidos em alguns processos industriais. Já as espécies de
Rhizopus sp, são associadas a patogenias em vasos sanguíneos, sistema nervoso
central, trato gastrointestinal e pulmões. O fungo Rhizopus sp, por pertencer a classe dos
zigomicetos, está associado também à casos de zigomicoses, sendo essas, micoses
subcutâneas que pode ser causadas por fungos desse gênero, que geralmente
manifestam-se como uma infiltração granulomatosa crônica da submucosa nasal,
estendendo-se para o tecido subcutâneo e pele da face (TODANO, et al., 2005).
Espécies de Epicoccum sp, Dreschlera sp, Helminthosporium sp, Sepedonium sp,
Alternaria sp e Aspergillus sp, foram encontradas com menor freqüência no interior da
indústria, sendo que Epicoccum sp e Aspergillus sp só foram isolados no corredor;
Dreschlera sp e Helminthosporium sp no pátio e Sepedonium sp e Alternaria sp na Sala
Envase de Sólidos, comprovando novamente a incidência desses fungos nos locais de
maior circulação de pessoas e materiais. Diversas espécies de fungos alergênicos foram
isolados do ar atmosférico, caracterizadas e padronizados para aplicações em diagnóstico
e imunoterapia. Estudos mostraram que as proteínas extraídas da biomassa de
Dreschlera foram altamente positivas em reações cutâneas alérgicas. Esta é uma das
espécies mais freqüentes encontradas em diversas regiões do Brasil, incluindo o estado
de São Paulo. (GAMBALE, PUCHIO e PAULA, 1983; MOHOVIC et. al., 1988).
O Epicoccum é um fungo mitospórico dematiáceo, amplamente distribuído e
geralmente isolado do ar, solo e alimentos. Pode ser encontrado também em alguns
animais e produtos têxteis (Doctor Fungus). O Epicoccum sp sintetiza um polissacarídeo
extracelular, chamado epiglucano. Os extratos Epicoccum sp utilizados em alergia e
exibem variações na composição da proteína e potência alergênicos (BISH, et al, 2000)
Drechslera está associado a casos raros de meningencefalite fatal. Mas, em alguns
casos de exposição prolongada a esse fungo, pode se observar quadros de obstrução
nasal, com pansinusite, erosão óssea, abscesso cerebral e sinusite (LACAZ et al., 2002).
O Helminthosporium é um fungo anemófilo que pode causar as oculomicoses, que
são micoses oculares provocadas por fungos, na maioria das vezes em indivíduos
imunodeprimidos (LACAZ et al., 2002).
Espécies pertencentes ao gênero Alternaria, são microrganismos frequentemente
encontrados como saprófitas ou parasitos de plantas. São considerados como fungos
oportunistas por excelência, pois, têm sido isolados de lesões cutâneas, osteolíticas e
onicomicoses em pacientes imunodeprimidos. Esse fungo também está associado a
casos de feo-hifomicoses cutâneas e a inalação de seus esporos pode provocar quadros
de asma e pneumonite (LACAZ et al., 2002).
Os Aspergillus são extremamente comuns ao ambiente, estão associados
principalmente a casos de aspergiloses e são adquiridos de fontes exógenas, ao contrário
de Candida. A aspergilose alérgica, doença causada por esse fungo, pode ocorrer como
processo benigno e tornar-se grave à medida que o paciente envelhece ou seu sistema
imune está debilitado, podendo evoluir para bronquiectasia e fibrose pulmonar. A
aspergilose sistêmica pode tornar-se grave e fatal a menos que diagnosticada e tratada
em sua fase inicial. (MURRAY, et al, 2002). Segundo Lacaz, et al., 2002, em relação ao
aparelho respiratório, esse fungo também pode causar doenças como asma brônquica
extrínseca, asma brônquica, eosinofilia pulmonar, aspergiloma intracavitário, alveolite
alérgica e aspergilose invasiva. São considerados oportunistas por excelência.
Comparando-se a microbiota fúngica da indústria em estudo com artigos já
publicados sobre fungos anemófilos, observou-se a ocorrência dos mesmos fungos
encontrados. SOUZA, VIEIRA e ARAÚJO, 2008, descrevem em seu estudo o gênero
Penicillium sp como o de maior prevalência (90,26%) em ambientes pesquisados; seguido
dos fungos leveduriformes (72,23%) e dos gêneros Rhizopus sp (66,66%), Aspergillus
spp (25%) e Acremonium spp (13,9%). Relatando a preocupação com a frequência de
fungos anemófilos em ambientes fechados que comportam demanda variável de pessoas
expostas a contaminações por esses fungos.
No trabalho de Cucé et al., 1993 foi relatado que os gêneros Mycelia sterilia.
Cladosporium sp. e Penicillium sp. foram os fungos mais encontrados nos ambientes
hospitalares pesquisados. Esses fungos anemófilos foram encontrados em determinadas
condições de temperatura, umidade, variações sazonais, métodos de limpeza dos
ambientes e fluxo de pessoas nos locais de estudo.
Já em estudo realizado por Menezes, Carvalho e Trindade, 2006 em Fortaleza, os
fungos predominantes no ar da cidade de foram: Aspergillus, Penicillium, Curvularia,
Cladosporium, Mycelia sterilia, Fusarium, Rhizopus, Drechslera, Absidia e Alternaria.
Apesar de não serem encontrados na mesma frequência de estudos anteriores
com fungos anemófilos, podemos observar que os mesmos gêneros encontrados em
nosso trabalho são os mesmos isolados nos trabalhos citados.
Não pudemos fazer
comparações quantitativas nem qualitativas, pois não encontramos na literatura, trabalhos
realizados em indústrias farmacêuticas.
CONCLUSÃO
Os gêneros de fungos encontrados no estudo foram os mesmos encontrados em
estudos similares, sendo o nível de contaminação ambiental por fungos no interior da
indústria analisada, menor que o índice mínimo determinado pelo “Protocolo de Validação
Limpeza de Ambientes” elaborado pela indústria de acordo com a RDC 210.
Os fungos isolados, apesar de serem na sua maioria inócuos aos seres humanos,
podem ser responsáveis por alergias e intoxicações, além de poder causar deterioração
de produtos, podendo comprometer a produção de medicamentos.
O baixo índice de contaminação encontrado pode ser pelo uso de vestimentas
específicas, EPIs, treinamentos de funcionários, monitoramento, e higienização correta
dos ambientes. A caracterização e identificação da microbiota fúngica anemófila, foi
importante para comprovar a responsabilidade da indústria, no sentido do controle
qualidade do medicamento produzido e da qualidade de vida dos funcionários,
demonstrando o correto procedimento descrito no “Manual de Boas Práticas” seguido na
indústria.
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