DESCOMPLICANDO A TOXICIDADE DOS COSMÉTICOS

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DESCOMPLICANDO A TOXICIDADE DOS COSMÉTICOS
Daiani Garbellotto1
Daniela Mascarello2
Gildete Aparecida Valdameri3
Resumo
Os cosméticos estão em amplo destaque e seu uso está crescendo de maneira
acelerada. São muitos os benefícios que este crescimento traz aos consumidores e
aos profissionais de estética, mas não se pode esquecer que junto a isto possíveis
reações adversas podem vir a acontecer. A partir disso o objetivo deste trabalho é
fornecer informações sobre prováveis reações adversas, os riscos e os testes de
segurança utilizados para a avaliação dos componentes presentes nas formulações
cosméticas. Abordando de forma clara sobre as avaliações toxicológicas
(toxicidades agudas e crônicas e seus efeitos sistêmicos) e quais as principais vias
de absorção dos tóxicos, mencionando também sobre algumas substâncias que já
foram citadas em estudos por terem causado algum tipo de dano. A metodologia
compõe-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva por revisão bibliográfica
que tem por finalidade fazer um levantamento sobre o assunto abordado. No
decorrer do estudo observou-se a grande necessidade da realização de testes de
segurança para garantir produtos cosméticos seguros, não só aos profissionais da
área, mas também aos consumidores que diariamente se expõem a eles e
necessitam que maiores informações sejam oferecidas para evitar malefícios
indesejáveis.
Palavras-chaves: Toxicidade. Cosméticos. Testes. Efeitos. Segurança.
1 INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, em função de vários aspectos como higiene e
limpeza, vaidade e beleza, as pessoas estão usando cada vez mais produtos
cosméticos, muitas vezes sem conhecer a composição dos mesmos e muito menos
sua ação sobre a pele. Nesse sentido Romanowski e Schueller (2002, p. 55)
informam que “num único dia, um consumidor pode chegar a usar 25 produtos
Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI,
Balneário Camboriú, Santa Catarina. [email protected]
2
Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI,
Balneário Camboriú, Santa Catarina. [email protected]
3
Orientadora, Professora Msc. do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. [email protected]
1
cosméticos. Se cada um desses produtos contiver 10 ingredientes diferentes, esse
consumidor pode facilmente estar exposto a mais de 200 compostos químicos, só
nesse dia!”. Por força disto cada vez mais aumenta a preocupação e a importância
de se utilizar produtos cosméticos que garantam a segurança do consumidor e do
profissional que vai utilizá-los.
Os profissionais da área de Cosmetologia e Estética vêm ganhando grande
destaque seja pelo crescimento no mercado da beleza ou pelos bons serviços que
oferecem. No Brasil contam com a ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância
Sanitária), órgão responsável pela fiscalização e pela garantia de segurança e
eficácia dos produtos cosméticos (ANVISA, 2003).
Os produtos cosméticos, na prática, raramente são associados a possíveis
danos que podem causar à saúde, mas isto não garante que estes sejam sempre
seguros, levando em conta principalmente os efeitos que possam vir a longo prazo
(CHORILLI et al., 2009).
Mesmo com as inovações tecnológicas é preciso ter em mente que reações
são susceptíveis de acontecer, é o que afirma Carvalho (2007). O autor diz ainda
que os produtos brasileiros de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos ocupam o
3º lugar em vendas significativas. Desta forma Chorilli et al., (2007) destaca que é
primordial o desenvolvimento de testes que comprovem a segurança dos mesmos,
que serão utilizados por vários tipos de consumidores, com diferentes condições de
pele.
Este artigo tem por objetivo informar e esclarecer aos profissionais sobre a
toxicidade dos produtos cosméticos, quanto às reações adversas que podem ocorrer
a partir de suas formulações, identificando quais os possíveis riscos que o uso pode
causar à pele e à saúde e quais os testes utilizados para a avaliação de segurança.
Ao Tecnólogo em Cosmetologia e Estética cabe orientar e repassar
informações aos seus clientes para diminuir os efeitos indesejáveis que esses
possam estar se expondo na busca pela beleza. Este artigo pretende reforçar os
conhecimentos já adquiridos sobre o tema compilando o que já está presente em
diferentes obras científicas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A história da toxicologia vem sendo motivo de preocupação desde a
civilização antiga, pois já naquela época os homens possuíam conhecimentos sobre
os efeitos tóxicos de venenos de animais e algumas espécies de plantas. O Papiro
de Ebers (1500 a.C.) é um dos documentos mais antigos que oferece uma lista com
mais de 800 ingredientes, como metais do tipo chumbo e cobre e diversos vegetais
tóxicos (OGA; SIQUEIRA, 2003). Ainda informam os autores que Paracelsus (14931541), importante figura da medicina e da ciência desenvolveu estudos e idéias
revolucionárias a respeito da farmacologia, a toxicologia e a terapêutica, sendo que
um de seus princípios permanece ainda válidos, principalmente seu postulado mais
conhecido que diz “Todas as substâncias são venenos; não há nenhum que não
seja um veneno. A dose correta diferencia o veneno do remédio” (p.3).
Devido esta característica a toxicologia é a ciência que estuda os efeitos
nocivos causados pelas interações de substâncias químicas com o organismo,
abrangendo uma vasta área de conhecimentos, na qual atuam profissionais de
diferentes campos de trabalhos, que se dividem conforme quadro a seguir (OGA;
SIQUEIRA, 2003):
DIVISÃO DA
TOXICOLOOGIA
Analítica
Médica
ou Clinica
Experimental
CONCEITO
Trata de detecção do agente químico, buscando métodos exatos,
preciosos de sensibilidade adequada para a identificação inequívoca do
toxicante, ou para observar alterações bioquímicas funcionais do
organismo.
Desempenha relevante papel nos diagnósticos das intoxicações e na
identificação dos agentes toxicantes, através de análises laboratoriais,
clínicas e toxicológicas.
Estuda a elucidação dos mecanismos de ação dos agentes tóxicos e
seus efeitos.
Fonte: (OGA ; SIQUEIRA, 2003. p.5-6)
De acordo com a natureza do agente ou a maneira como este atinge o
sistema biológico distingue-se as várias áreas de atuação da Toxicologia. Dentre
elas estão os estudos da Toxicologia Ambiental, Toxicologia Ocupacional,
Toxicologia de Alimentos e Toxicologia Social. A área em que se estudam os efeitos
nocivos produzidos pela interação de medicamentos ou cosméticos com o
organismo, pelo uso inadequado ou da suscetibilidade individual é a Toxicologia de
Medicamentos e Cosméticos (OGA; SIQUEIRA, 2003).
2.1 Vias de absorção dos tóxicos
Entende-se por absorção dos tóxicos a passagem de substâncias para a
circulação sangüínea. As principais vias de absorção de acordo com Oga (2003) são
a transcutânea e a respiratória. E ainda Consiglieri (2002) faz referências à via
oftálmica que também pode ser considerado um importante meio de ação
toxicológica por cosméticos. Esses autores descrevem essas vias de absorção da
seguinte forma:
Via Cutânea: A pele é formada por várias camadas, entretanto é permeável a
grande maioria de toxicantes. Substâncias que atuam diretamente sobre a pele
podem causar sensibilização e até mutações.
Via Respiratória: A via respiratória é considerada uma excelente entrada de
substâncias para o organismo, pois no ar atmosférico encontram-se partículas
suspensas, tais como substâncias voláteis e gases que facilmente são inspirados
pelas fossas nasais, passando pela faringe, laringe, brônquios, traquéia e alvéolos
pulmonares onde é feita a absorção.
Via Oftálmica: Pode ocorrer introdução acidental de substâncias químicas nessa
via.
2.2 Avaliações toxicológicas
A avaliação toxicológica é entendida como a análise dos dados toxicológicos
de uma substância ou composta químico que tem a finalidade de classificá-los
toxicologicamente (LARINI, 1997). Barros e Davino (2003) consideram que toda
substância pode ser um agente tóxico, o que determina isto são as condições de
exposição, ou seja, a quantidade da dose administrada ou absorvida, tempo e
freqüência de exposição e vias pela qual é administrada. Larini (1997) descreve
como avaliação toxicológica as toxicidades agudas e crônicas e seus efeitos
sistêmicos (neurotóxicos, carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos), que serão
vistos nos itens seguintes.
2.2.1 Toxicidade Aguda
A toxicidade aguda é o efeito nefasto que pode ser produzido após um curto
período de tempo, resultante da administração de uma única ou várias doses de
uma substância em um período de 24 horas (BRITO, 1994). Dessa maneira utilizase a dose única para determinar qual a potência da substância em casos de
ingestão ou envenenamento acidental e as doses múltiplas para avaliar os efeitos
cumulativos (BARROS; DAVINO, 2003).
2.2.2 Toxicidade crônica
A toxicidade crônica é resultante de administrações repetidas e diárias de
uma determinada substância (BRITO, 1994). Podem-se compreender os dados a
partir de experimentos feitos em curto, médio e longo prazo. A toxicidade em curto
prazo é dada através da administração em ratos de doses diárias, pelas vias oral,
dérmica e respiratória em um período de 28 dias. Em médio prazo os experimentos
são feitos por um período não superior a 10% da vida média do animal, realizandose administração de doses repetidas da substância para que seja medida a
capacidade de produzir efeitos adversos. Em longo prazo os dados são obtidos
através da administração diária da substância em ratos albinos por um período
mínimo de 12 meses (LARINI, 1997).
Os efeitos da toxicidade, aguda ou crônica, podem causar sensibilizações
dérmicas, efeitos carcinogênicos, teratogênicos e mutagênicos (SANTOS, 2008).
2.2.3 Efeitos sistêmicos
Efeitos sistêmicos são aqueles resultantes da passagem de determinadas
substâncias para a circulação sanguínea, seja por via oral, inalatória, transcutânea
ou transmucosa (ANVISA, 2003). O risco sistêmico é avaliado a partir dos dados
feitos com as matérias primas. Não se conhece efeitos toxicológicos sistêmicos em
produtos acabados que não sejam causados pelos próprios ingredientes (ANVISA,
2003). Porém, “é importante antever este tipo de risco para poder então prevenir que
alguns produtos causem algum tipo de acidente, sejam eles, ingerido ou inalado, ou
aqueles destinados a uma população em particular como crianças e gestantes
(ANVISA, 2003, p. 12)”. Então diante disso estes efeitos são definidos como:
Neurotóxicos: A neurotoxicidade, assim como define Larini (1997) é a capacidade
que composto químico tem de provocar efeitos adversos no sistema nervoso central
e em nervos periféricos. Esses efeitos são considerados reversíveis quando agem
de forma temporária causando somente mudanças funcionais e irreversíveis aqueles
que interferem nas células nervosas e em sua regeneração.
Carcinogênicos: “A carcinogênese ou oncogênese é um processo anormal, não
controlado de diferenciação e proliferação celular, inicialmente localizado, mas que
pode ser disseminado pelo organismo provocando a sua morte” (LARINI, 1997,
p.50). Os agentes mutagênicos geralmente são carcinogênicos. As substâncias que
agem de tal modo, dependendo da dose em que a pessoa é exposta, certamente
irão desenvolver câncer (MACHADO-SANTELLI, 2003).
Mutagênicos: A mutagênese pode ser definida como sendo a propriedade que
substâncias químicas têm de provocar alterações no material genético das células,
de maneira que estas modificações sejam transmitidas às novas células durante a
divisão. A mutação pode acarretar no desenvolvimento de anormalidades
congênitas, morte do embrião ou feto, dependendo da célula que foi afetada
(BARROS; DAVINO, 2003).
Teratogênicos: Usa-se o termo teratogênico quando uma substância causa
anormalidades ou deformidades no desenvolvimento fetal. Esses efeitos ocorrem
durante o período fetal de modo precoce e podem alterar a função e a estrutura das
células e tecidos (PINTO; KANEKO; OHARA, 2003).
2.3 Reações cutâneas que podem ser observadas
Diversas são as reações cutâneas que o uso de cosméticos pode causar a
partir de possíveis efeitos tóxicos, sejam elas locais ou sistêmicas, as quais
conceitua-se a seguir:
Irritação: A irritação por um determinado produto dependente da condição da
barreira do estrato córneo. Quando esta se encontra danificada, este produto pode
ser irritante (DRAELOS, 1999). As reações restringem-se ao local que entrou em
contato direto com o produto. Pode ocorrer intolerância local que corresponde a
reações de desconforto com variação de intensidade, provocando desde ardor,
coceira e pinicação (ANVISA, 2003).
Sensibilização: A sensibilização envolve mecanismos imunológicos e pode
aparecer em áreas que não foram expostas ao produto (ANVISA, 2003). Os efeitos
da sensibilização podem ser caracterizados por prurido, edema, pápulas, vesículas,
bolhas ou então pela combinação dessas manifestações (BRITO, 1994).
Alergenicidade: A alergia é uma reação provocada pela exposição previa de um
alérgeno ao sistema imunológico (PEYREFITTE, 1998). Em cosméticos, é uma das
reações que ocorre no organismo com maior freqüência (SANTOS, 2008).
Acnegenicidade: Ocorre devido à irritação do óstio folicular causando pápulas e
pústulas (DRAELOS, 1999).
Comedogenicidade: Para Draelos (1999) a comedogenicidade ocorre devido ao
tamponamento folicular. Substâncias com propriedades comedógenas quando em
contato com a pele por um período suficientemente longo favorecem o
desenvolvimento de comedões (LACHAPELLE, 1994).
Corrosão: As substâncias corrosivas quando em contato com os tecidos biológicos
queimam quimicamente (CONSIGLIERI, 2002).
2.4 Métodos para avaliação da segurança dos cosméticos
Os testes de segurança que podem prever reações adversas dos cosméticos
são feitos através de ensaios in vivo e in vitro. Segundo o Guia para Avaliação de
Segurança de Produtos Cosméticos os ensaios em animais (in vivo) têm servido há
muito tempo como uma maneira de se determinar a segurança e eficácia de
substâncias e produtos (ANVISA, 2003).
Na área cosmética os animais podem ser utilizados para a avaliação de
segurança, mas cabe ressaltar que sua utilização deve obrigatoriamente seguir os
preceitos do rigor científico, é o que determina a ANVISA (2003).
Os estudos in vivo permitem observar os efeitos adversos que determinada
substância pode ter, a partir da investigação de seu potencial toxicológico quando
aplicada no animal através de uma via de exposição, seja oral, inalatória ou tópica
(CHORILLI et al., 2007). Estudos preliminares de microbiologia e segurança clínica
são fundamentais para que estudos in vivo sejam feitos, devido ao risco inerente ao
voluntário (NEVES, 2008).
Os sistemas in vitro são procedimentos alternativos e quando comprovados
cientificamente podem eliminar os animais da triagem toxicológica, porém alguns
cientistas ressaltam que os animais não podem ser substituídos totalmente, mas
observam ainda que o desenvolvimento de métodos alternativos reduza o seu uso
(PINTO; KANEKO; OHARA, 2003). “Estes procedimentos incluem órgãos isolados,
culturas de células e de tecidos, ensaios químicos e físicos, tecidos simulados e
fluidos corpóreos, organismos inferiores, modelos mecânicos, matemáticos e
simulações em computador” (PINTO; KANEKO; OHARA, 2003, p.315).
2.4.1 Testes de Segurança de Produtos Cosméticos
Os centros de pesquisa de universidades e empresas têm gerado grande
quantidade de novos produtos, isto aumenta a demanda de testes rigorosos dos
efeitos tóxicos (BRITO, 1994).
Os testes que são aplicados em animais de
laboratório permitem que se estabeleçam quais os possíveis efeitos de uma
determinada substância (BARROS; DAVINO, 2003). No grupo dos produtos de
higiene pessoal e cosméticos, têm-se as matérias-primas e produtos acabados que
são candidatos potenciais aos testes (PINTO; KANEKO; OHARA, 2003).
Barros e Davino (2003) ressaltam ainda que os testes toxicológicos não são
apenas para garantir a segurança de um agente químico, mas sim para caracterizar
o tipo de efeito tóxico que a substância é capaz de produzir.
A realização desses ensaios toxicológicos in vitro ou in vivo em animais ou
humanos bem como histórico de segurança do produto e de suas matérias-primas
são necessários para comprovar e garantir a segurança de produtos de higiene,
cosméticos e perfumes. Para todo produto cosmético seja ele de grau de risco 1 ou
2, em principio deve dispor dos dados de segurança, esta é uma obrigação do
fabricante (SANTOS, 2008). Conforme a legislação brasileira vigente e harmonizada
no MERCOSUL, é exigida a apresentação dos dados de controle de qualidade
(especificações) no ato da regularização do produto (ANVISA, 2008, p.18)”. Para o
controle de qualidade existem muitos testes disponíveis, dentre eles:
Teste Oclusivo: No teste oclusivo é feito uma bandagem oclusiva com a substância
em teste, nas costas ou no antebraço de voluntários humanos, que após 24 ou 48
horas são removidas e a pele é examinada, observando se há edema ou eritema
(ROMANOWSKI; SCHUELLER, 2002).
Teste de sensibilização Cutânea: A sensibilização é uma reação cutânea que
promove pequena reação em uma primeira exposição à substância, mas que,
entretanto, numa segunda exposição torna-se severa e persistente (PINTO;
KANEKO; OHARA, 2003). Os testes são geralmente realizados em cobaias que são
submetidos a doses repetidas da substância (BARROS; DAVINO, 2003).
Teste de corrosividade: A utilização do teste de corrosividade com modelo de pele
reconstituída já é considerado uma metodologia válida, porém não atende às
necessidades de avaliação de produtos acabados (ANVISA, 2003). Por se tratar de
um teste aonde envolve uma viabilidade celular é preciso desempenhar uma
avaliação que consiga medir as atividades mitocondriais. Então para poder realizar
uma quantificação por espectrofotometria, é feito através de um leitor instintivo de
pequenas placas, onde são aplicadas em todos os tipos de formulações, menos as
alcoólicas por ter uma fixação maior (ANVISA, 2003).
Teste de fototoxicidade: A fototoxicidade é uma irritação que está associada à luz,
e que pode ocorrer após exposição da pele com quantidade adequada do produto
químico. As reações podem ser respostas de fototoxicidade e fotoalergenicidade. A
fototoxicidade ocorre na primeira exposição e a fotoalergenicidade é uma reação
que ocorre apenas em indivíduos previamente sensibilizados (PINTO; KANEKO;
OHARA, 2003). São realizados dois testes cutâneos: um em local a ser irradiado e
outro em um local protegido, onde a substância permanece na pele por 48 horas
(DRAELOS, 1999).
Teste de acnegenicidade: O teste e feito no canal auditivo externo de um coelho
albino, onde a substância em teste é aplicada e é observado se há formação de
acne. Os testes feitos em animais obtêm resultados satisfatórios, porém estes não
podem substituir os testes com seres humanos (ROMANOWSKI; SCHUELLER,
2002).
Teste de Irritação Ocular: O teste de irritação ocular tem grande importância para
produtos cosméticos, uma vez que pode ocorrer a introdução acidental. O teste é
feito em coelhos albinos para avaliar quanto aos efeitos irritativos que a substância
pode causar na conjuntiva, córnea e íris (DRAELOS, 1999).
Teste de Inalação: Em produtos de minúsculas partículas como aerossóis o teste
de inalação é muito importante, pois, ao serem inalados podem causar problemas
internos e no sistema respiratório. No teste de concentração letal, animais são
expostos através de inalação a determinadas concentrações do composto no ar para
medir a mortalidade (ROMANOWSKI; SCHUELLER, 2002).
Teste de Teratogenicidade: Os testes para avaliar o efeito teratogênico de um
composto são feitos em animais de laboratório, e são executados num complexo
protocolo que envolve três fases. Na primeira fase avalia-se o potencial tóxico do
composto sobre a fertilidade e o desempenho reprodutivo. Na segunda fase obtêm-
se informações através de fêmeas grávidas que recebem doses diárias da
substância química em sua dieta. Na terceira fase é administrado o toxicante
durante o período do último terço da gestação até o desmame, avaliando os efeitos
sobre o desenvolvimento peri e pós-natal (LARINI, 1997).
Teste de Mutagenicidade: Foram desenvolvidos vários testes in vivo e in vitro para
identificar a capacidade mutagênica das substâncias químicas (BARROS; DAVINO,
2003). A avaliação do potencial mutagênico é dada a partir de testes bem
padronizados que utilizam diferentes sistemas biológicos (MACHADO-SANTELLI,
2003).
Teste de Carcinogenicidade: Os testes para determinar se uma substância
provoca câncer são parecidos com os testes de mutagenicidade, o que difere é a
sua duração que é muito mais longa (ROMANOWSKI; SCHUELLER, 2002). Devemse realizar tais testes principalmente nos casos em que ocorra exposição por um
longo período (BARROS; DAVINO, 2003).
2.5 Substâncias que oferecem risco de toxicidade
Algumas substâncias no decorrer do tempo tiveram seus conceitos
modificados quanto as suas funções, ações estéticas e funcionais perante as
formulações cosméticas. A partir disso observa-se que determinadas substâncias
passam a serem consideradas prejudiciais e causadoras de danos à saúde dos
profissionais da área da estética e/ou seus consumidores, conforme relata-se a
seguir:
Draelos (1999) faz referência a substâncias comedogênicas citando uma lista
padrão daquelas que possivelmente causem este problema indesejado. Entre elas
estão: Manteiga de Cacau, Lanolina, Óleo Mineral, Ácido Esteárico, Isoesterato de
Isopropil, Palmitato de Isopropil, Ácido Oléico, Estearato de Propilenoglicol, entre
outros. Lachapelle (1994) complementa que o óleo mineral tem propriedades
comedogênicas
cosméticos.
intensas,
nitidamente
superior
a
de
numerosos
produtos
Uma substância que polemizou foi o uso do formol. Recentemente uma
resolução foi publicada restringindo o acesso da população a ele, para coibir o uso
como alisante capilar que não é permitido pela ANVISA, pois usado dessa maneira
pode causar danos a quem aplica o produto e ao usuário, tais como, irritação,
vermelhidão, queda do cabelo, coceira entre outros (ANVISA, 2009). Segundo o
INCA (Instituto Nacional de Câncer) o formol é tóxico quando ingerido, inalado ou
quando entra em contato com o tecido cutâneo. Os sintomas mais comuns no caso
de inalação são fortes dores de cabeça, tosse, falta de ar, vertigem, dificuldade para
respirar (INCA, 2011).
Com propriedades vasodilatadoras e refrescantes em produtos cosméticos o
mentol, quando usado em baixas concentrações não produz efeitos tóxicos, mas é
importante considerar que em concentração igual ou superior a 3% pode causar
irritação. Outra substância com ação vasodilatadora é o nicotinato de metila, que até
o presente momento não foram relatados estudos que envolvam a segurança e
eficácia do mesmo com finalidades cosméticas (ANVISA, 2005).
O Triclosan de acordo com os dados toxicológicos disponíveis no SCCP
(Committee on Consumer Products) não é considerado seguro quando usado nas
concentrações de no máximo 0, 3% em produtos cosméticos e nos sem enxágue
como loções corporais e soluções bucais devido as altas exposições. No entanto,
nessa mesma concentração em produtos como sabonetes, desodorantes, pó faciais
pode ser considerado seguro.
A uréia é considerada tóxica por que ela aumenta a penetração cutânea de
outras substâncias ativas, por isso é preciso que nas rotulagens de cosméticos que
são considerados de grau 2, e que contenha uma concentração acima de 3% e de
no máximo 10% é obrigatório constar as seguintes informações: não utilizar durante
a gravidez, manter longe do alcance de crianças, não utilizar em pele lesionada ou
com irritação (ANVISA, 2005) .
Outra substância presente em cosméticos e que possui considerável grau de
toxicidade é a fragrância. Jackson (1993) afirma que de 1500 substâncias
comumente usadas em fragrâncias, cerca de 100 (6,7%) causam reações adversas.
Como exemplo, tem-se óleo de marigold, que apresenta fototoxicidade.
Por fim, o uso tópico da cânfora em concentrações que excedam 3% pode
apresentar efeito de analgesia. A cânfora utilizada como plastificante em esmaltes
de unha em preparações com altas concentrações pode apresentar um risco maior
de toxicidade. Em crianças a dose letal por via oral é de 1 grama e para adultos é
de 2 gramas o que comprovam os sintomas de toxicidade (ANVISA, 2001).
As substâncias mencionadas são algumas citadas em artigos e pareceres
técnicos para exemplificar sobre as toxicidades e possíveis reações adversas que
um produto cosmético possa apresentar.
3 METODOLOGIA
A metodologia de pesquisa utilizada neste artigo baseia-se em um estudo
descritivo que segundo Oliveira (1999) procura abranger aspectos de um contexto
social de modo geral e amplo, que possibilita desenvolver um nível de análise para
que se possa identificar as diversas formas dos fenômenos, sua ordenação e
classificação,
permitindo
ao
pesquisador
uma
melhor
compreensão
do
comportamento dos diferentes fatores e elementos que influenciam tais fenômenos.
Através de uma abordagem qualitativa que leva a necessidade de uma série
de leituras sobre o assunto a pesquisar, relatando minuciosamente o que os
diferentes autores escreveram sobre o tema, permitindo a correlação com o ponto
de vista do seu autor (OLIVEIRA, 1999).
Como instrumento utilizou-se a pesquisa bibliográfica que conforme descrito
pelos autores Lakatos e Marconi (1992, p.43,44) ”trata-se de levantamento de toda
bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e
imprensa escrita”, com a finalidade de colocar o pesquisador diretamente em contato
com tudo que já foi escrito sobre o assunto abordado, portanto então sendo
considerado o primeiro passo para a realização de toda a pesquisa cientifica.
Os mecanismos de busca utilizados foram retirados de livros, publicações,
periódicos, artigos eletrônicos com as palavras chaves: toxicologia, cosméticos e
reações adversas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todos os aspectos abordados neste artigo visam informar que é necessário
atenção especial em relação aos possíveis efeitos indesejados que um produto
cosmético possa apresentar pelo seu uso. Esclarece também sobre a importância da
avaliação de segurança e de maiores informações para que os mesmos sejam
utilizados de forma segura, sendo este o principal meio de se evitar os possíveis
efeitos adversos.
Além de toda regulamentação já preconizada pela ANVISA, o consumidor
pode contar com a resolução 332/05 que a partir do dia 31 de dezembro de 2005 as
empresas fabricantes/importadoras têm por obrigatoriedade implantar um sistema de
Cosmetovigilância que permite uma maior segurança e eficácia dos produtos
cosméticos, e facilita o acesso aos consumidores sobre os problemas recorrentes do
uso, possíveis defeitos de qualidade ou até mesmo efeitos adversos (ANVISA,
2011).
Contudo as informações obtidas através de artigos eletrônicos, periódicos e
livros sobre a toxicidade de substâncias são ferramentas importantes para que se
tenha um bom entendimento sobre a toxicologia e sua vasta área de estudos. Estes
estudos possibilitam que os produtos cosméticos sejam utilizados de forma segura e
a exposição a diversas substâncias seja feita de maneira não prejudicial à saúde.
“A toxicologia é hoje uma verdadeira ciência social, cujo estudo visa propor
maneiras seguras de se expor as substâncias químicas, permitindo que o homem se
beneficie das conquistas tecnológicas atuais (OGA; SIQUEIRA, 2003, p.4)”.
Mais expressivo ainda é o esclarecimento de Philip Hanawalt que diz: “O que
não se sabe é o mais importante na ciência” (CARVALHO, 2009).
REFERÊNCIAS
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OGA, Seizi. Fundamentos de toxicologia. 2. ed.São Paulo: Atheneu, 2003.
Cap.1.5, p.[57] - 67.
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