Aulas de História

Propaganda
CLIO História – Textos e Documentos
Segundo a lenda, quando os gregos tornaram
Tróia, Enéias – nascido da união do pastor Anqu
Anquises com a deusa Vênus – conseguiu fugir da cid
cidade e foi se estabelecer na península Itálica, onde
desposou a filha do rei do Lácio. Oito gerações
depois, seu descendente Numitor subiu ao trono
de Alba Longa, a capital do reino, mas foi deposto
pelo irmão, Amúlio. Para que Numitor não tivesse
herdeiros, assassinaram seus filhos e fizeram de
sua filha Réia
ia Sílvia uma vestal (sacerdotisa da
deusa Vesta). Réia, porém, foi fecundada por
Marte, deus da guerra, e deu à luz os gêmeos
Rômulo e Remo. Amúlio mandou afogá
afogá-los no
Tibre, mas, miraculosamente, eles se salvaram e,
levados pela corrente até os pés do mo
monte Palatino, foram ali amamentados por uma loba e depois
recolhidos pelo pastor Fáustolo, que os educou.
Quando descobriram sua origem, os gêmeos, já
adolescentes, depuseram Amúlio e restituíram o
trono a Numitor, seu avô. Depois, com alguns
habitantes de Alba Longa, fundaram, em 21 de
abril de 753 a. C., uma cidade exatamente no
local onde a loba os havia encontrado. Interpr
Interpretando o voo dos pássaros como um vaticínio, R
Rômulo concluiu que fora designado rei da nova
cidade e traçou com um arado o sulco que marcaria os limites do seu território. Remo, indignado,
cruzou a divisa e foi assassinado pelo irmão. R
Rômulo tornou-se,
se, desse modo, o primeiro rei de
Roma.
Roma: das origens à República
Segundo inúmeros estudiosos, a lenda da fu
fundação de Roma baseia-se em acontecimentos
reais.
No decorrer da Idade do Ferro (séculos IX
IX-VIII
a.C.) populações de economia agrícola e pastoril
haviam se estabelecido na região do Lácio: eram
os latinos, sabinos, equos, volscos, lucanos...
Cada povo organizava-se
se em grandes família
famílias
(gens), compostas, além dos núcleos familiares
propriamente ditos, de amigos e servos que viv
viviam e trabalhavam na área de influência da gens.
A autoridade absoluta era exercida pelo chefe da
família, ao mesmo tempo guia político, militar e
religioso. O traço
raço de união entre as várias gentes
(agregados de famílias descendentes de um
mesmo ancestral) era o fato de falarem a mesma
língua, terem os mesmos usos e costumes e pre
prestarem culto às mesmas divindades. De tempos
em tempos, alguns povos do Lácio – latinos, sabinos e lucérios – reuniam-se
se na cidade de Alba
Longa para render culto a Júpiter Latiaris, o maior
dos deuses do Lácio. Nessas ocasiões reafirm
reafirmavam-se
se as alianças de comércio e defesa mútua
contra eventuais inimigos comuns.
O RAPTO DAS SABINAS
As tradições romanas contam que Rômulo, pr
preocupado em conseguir esposas para os latinos,
organizou uma grande festa e convidou os sab
sabinos e suas mulheres, que viviam nas colinas viz
vizinhas.
No meio da festa, os latinos agarraram as sabinas e expulsaram os sabinos.
os. Em represália, Tito
Tácio, rei dos sabinos, declarou guerra e avançou
contra Roma. Despeitada, Tarpeia, filha do latino
encarregado da fortaleza, abriu as portas aos
atacantes; sua perfídia foi punida pelos próprios
invasores, que a esmagaram sob seus escudos.
Quando as tropas de Tácio se preparavam para
atacar, as sabinas, sensíveis à homenagem que o
rapto significava, conseguiram evitar o confronto,
alegando que não queriam perder nem seus marimar
dos latinos nem seus pais e irmãos. Para resolver
o impasse,
e, Rômulo persuadiu Tácio a partilhar
consigo o reino de Roma, dando às tribos latinas e
sabinas cidadania comum. Esse fato explicaria a
posterior alternância de sabinos e romanos no
governo de Roma.
Após um longo reinado, Rômulo foi erguido ao
céu por um remoinho. Passou a ser adorado como
Quirino, um dos deuses favoritos do povo romarom
no.
A CIDADE DO RIO
Ignora-se
se se foi realmente Rômulo que traçou o
pomoerium (perímetro sagrado) da cidade. O fato
é que a lendária fundação de Roma corresponde
ao surgimento do Septimontium, uma federação
de tribos latinas, sabinas e lucérias que habitahabit
vam as sete colinas de Roma. Não se sabe tamta
bém se o rapto das sabinas é lenda ou verdade,
mas os sucessores de Rômulo no governo da cic
dade foram, alternadamente, um sabino e um
u
latino.
Segundo a tradição, Rômulo teria dado às genge
tes de Roma uma constituição político-militar
político
que
subdividia as tribos dos Titii (sabinos), Ramnes
(latinos) e Luceres (lucérios) em dez cúrias cada
uma, ao mesmo tempo em que instituía um Senado de cem membros.
mbros. As divisões atendiam a
objetivos
vos militares: cada tribo devia fornecer ao
exército
to 1 000 soldados e 100 cavaleiros (100
soldados e 10 cavaleiros para cada cúria).
Comprovou-se, de fato – independentemente
de ter sido Rômulo o autor da ideia –, que o Septimontium, consideravelmente fortalecido do ponpo
to de vista militar, obteve vitórias significativas
sobre Veios e Fidenes, cidades etruscas das viziviz
nhanças. Esse desafio, à Etrúria custou-lhes,
custou
porém, a ocupação. De 616 a 509 a.C. os etruscos
dominaram a cidade e, conforme uma corrente
histórica, foram eles que a batizaram, chamandochamando
a de Rumon, “a cidade do rio”.
SETE LONGOS REINADOS
De acordo com a tradição, o segundo rei de
Roma foi o sabino Numa Pompilio, que fortaleceu
a unidade das tribos e assegurou
asseguro quarenta anos
de paz ao povo. Sob o reinado do latino Tulo HosHo
tílio, Roma empreendeu uma política expansionisexpansioni
ta, o que é confirmado por urna série de fatos
historicamente comprova.dos. A cidade de Alba
Longa, antigo centro do Lácio
cio, foi conquistada e
destruída.
A seu sucessor, o sabino Anco Márcio, é atribuíatribu
da a realização de obras públicas como o aqueduaqued
CLIO História – Textos e Documentos
to Acqua Márcia e a fundação da colônia de Ostia,
junto ao mar Tirreno, que abriu caminho para a
expansão comercial de Roma.
A dominação etrusca
Coube aos
os etruscos a tarefa de transformar um
modesto centro agropastoril numa cidade
cidade-Estado
cercada de muralhas, com uma florescente ativ
atividade manufatureira e intenso comércio.
Segundo a lenda, o primeiro rei de Roma de origem etrusca foi Tarquínio Prisco, que o
obteve o
poder com o apoio dos lucérios, tribo até então
sem alguns dos privilégios dos latinos e sabinos.
Ao subir ao trono, Tarquínio recompensou
recompensou-os com
o acesso ao Senado, que lhes era vedado. Aos
abater-famílias
famílias de estirpe latina e sabina junt
juntaram-se esses
ses conscripti (agregados), totalizando
o número fixo de trezentos senadores. Tarquínio
Prisco deu início à construção de importantes
obras públicas, como a Cloaca Máxima, sistema
de esgotos que desembocava no rio Tibre, e o
Circo Máximo.
Tarquínio foi sucedido
cedido por Sérvio Túlio, que ce
cercou a área urbana de Roma com uma sólida colina
de muros. Ressentindo-se
se da medida, os grandes
proprietários de terras conspiraram para depô
depô-lo.
Isso o levou a aliar-se
se a elementos ricos, fora da
classe patrícia (os aristocratas),
atas), e a reorganizar o
exército e o corpo eleitoral para fortalecer a sua
posição. Promoveu o censo dos habitantes e das
propriedades, classificando os
cidadãos em cinco classes. Para
contrabalançar o poder dos aristocratas, criou também a classe dos
equites (cavaleiros), homens que
podiam equipar-se com armas e
um cavalo (equus) e servir na
cavalaria.
Sérvio Túlio foi assassinado e
sucedido por Tarquínio, o Soberbo, que, violento e despótico,
provocou descontentamento em
todas as classes. Em 510 a.C., diz
a tradição, Tarquínio foi expulso
de Roma, e proclamou-se a República.
Limites da autoridade durante
a monarquia
Para governar, o rei apoiava-se
no Conselho de Anciãos (Senado)
e na Assembleia Curiata. Os senadores, vitalícios, eram nomeados
pelo rei. Este, porém, era escolhido por eles, sendo, em última
instância, um delegado dos paterfamílias – e a escolha só tinha validade se confi
confirmada pela Assembleia Curiata, que reunia os p
patrícios divididos em trinta cúrias. Sempre que o
rei quisesse modificar a lei, conceder perdões ou
declarar guerra, precisava do consentimento d
deles. Essa assembleia conferia o imperium (autor
(autoridade para governar).
A REPÚBLICA
Não se sabe com certeza se a República foi, de
fato, estabelecida após um levante popular que
levou à expulsão
pulsão de Tarquínio, o Soberbo, ou se
resultou de um lento processo evolutivo que resre
tringiu progressivamente a autoridade monárquimonárqu
ca em favor dos chefes das gentes. De qualquer
forma, com a sua instauração, o poder passou às
mãos dos patrícios, que substituíram
substi
o rei por
dois cônsules eleitos anualmente. Sua função
abrangia o comando do exército e a supervisão
das atividades judiciárias.
Em latim, res publica significa “coisa de todos”,
mas a República romana pertencia a pouquíssipouquíss
mos cidadãos. Além de possuir
poss
a totalidade das
terras e monopolizar a vida religiosa, a aristocraaristocr
cia detinha o poder político; o Senado era a autoaut
ridade permanente, encarregada de controlar os
magistrados, ocupantes temporários de cargos
executivos. Os patrícios dominavam também a
Assembleia Curiata, que perdeu gradativamente
suas prerrogativas para a Assembleia Centuriata.
Mas esta era dominada também pelos patrícios e
equites. Cada centúria equivalia a um voto; os
mais ricos, podendo equipar 98 centúrias, dispudisp
nham de mais votos que
ue todas as outras classes,
cujo total perfazia 95 centúrias. Mesmo nas assembleias da plebe, a força dos patrícios exerciaexercia
se através dos seus clientes, que votavam a seu
favor.
polít
No gráfico está representada a organização política que vigorou durante a República.
Re
À Assembleia
Centuriata cabia eleger os cônsules, magistrados
que governavam Roma. O Senado, porém, que
chegou a ter 600 membros, confirmava a eleição.
As decisões senatoriais abrangiam não só a polítipolít
ca exterior como a administração interna. Em
CLIO História – Textos e Documentos
caso
aso de perigo, podiam até nomear um ditador,
governante com poderes absolutos.
A Assembleia Curiata perdeu todos os seus p
poderes para a Assembleia Centuriata, ficando ap
apenas com o privilégio do imperium. Junto com o
Senado, a Assembleia Centuriata fazia a nomeação dos magistrados e fiscalizava o seu trabalho:
os pretores, que ministravam a justiça; os cens
censores, que se encarregavam, a cada cinco anos, do
recenseamento da população; os questores, que
administravam o tesouro público e recolhiam iimpostos; os edis,
is, que cuidavam do abastecimento,
das construções, do policiamento e dos jogos
públicos. A revolta da plebe, em 494 a.C., teve
como consequência a criação da Assembleia dos
Plebeus (Concilium Plebis), que passou a eleger
então os tribunos da plebe. Estes eram intocáveis
e tinham o poder de veto sobre qualquer medida
do governo. A Assembleia dos Plebeus transfo
transformou-se nas Assembleias das Tribos (Comitia Tr
Tributa), das quais participavam todos os cidadãos,
sem distinção de classe ou poder econômico. No
inicio, as Assembleias das Tribos elegiam só os
tribunos e os edis da plebe. Depois passaram a
eleger os questores e, a partir de 287 a. C., vot
votavam também a maioria das leis.
PATRÍCIOS E PLEBEUS: UMA LONGA LUTA DE
CLASSES
A história da República romana foi dom
dominada
pela
la luta entre patrícios e plebeus e pela lenta
ascensão destes últimos, que, cientes de sua iimportância militar no processo de expansão de
Roma, reivindicavam maiores privilégios e maior
participação na vida pública.
Os plebeus ricos – comerciantes,
tes, fabricantes de
armas e outros fornecedores do exército, que
chegavam até a emprestar dinheiro ao Estado
para financiar as guerras – ressentiam
ressentiam-se da sua
exclusão do Senado e da classe dos equites. Os
pobres não suportavam a condição de inferiorid
inferioridade na
a qual eram mantidos e empobreciam ainda
mais com as guerras frequentes.. Os plebeus ca
camponeses eram obrigados a abandonar seus ca
campos; os artesãos urbanos deviam fechar oficinas e
lojas. Sem poder sustentar as famílias, pediam
dinheiro emprestado; quando não
ão podiam pagar o
débito, a lei facultava ao credor prender o dev
devedor, vendê-la
la como escravo e até matá
matá-la.
Na verdade, não existia uma lei escrita, clara e
válida para todos, mas como a justiça era mini
ministrada pelos patrícios (principais credores) a sua
interpretação
terpretação sempre beneficiava esta classe. Já
no início do século V a.C. começou a longa disp
disputa entre patrícios – que defendiam seus direitos e
privilégios – e plebeus, que lutavam para obter
igualdade de direitos. Foi uma feroz luta de cla
classes, durante a qual a plebe conseguiu importantes
vitórias.
A ascensão da plebe
494 a.C. – Uma multidão de plebeus armados
retirou-se
se para o Monte Sagrado (Aventino) e
decidiu não voltar ao trabalho ou combater no
exército a menos que obtivesse algumas conce
conces-
sões dos patrícios. Temendo um levante geral da
plebe, o Senado concordou com a criação da Assembleia dos Plebeus (Concilium Plebis), que eleel
geria os edis e os tribunos da plebe (dois no início
e dez em meados do século V a.C.). O tribuno
podia deter, com a palavra veto (“eu proíbo”),
toda a ação do Estado que julgasse prejudicial à
plebe. Sua pessoa era intocável e sua casa invioinvi
lável. As portas estavam abertas dia e noite a
qualquer cidadão que ali fosse pedir abrigo (direi(dire
to de santuário ou de asilo).
450 a.C. – Uma comissão de dez homens – os
decemviri –,, liderados por Apio Cláudio, transfortransfo
mou as velhas leis romanas, baseadas nos costucost
mes, na Lei das Doze Tábuas. O código abrangia
direito privado, penal, governamental e religioso e
assegurou aos plebeus paridade jurídica com os
patrícios.
445 a.C. – Pela Lei Canuléia foi abolida a proibiproib
ção de casamentos entre patrícios e plebeus.
367 a.C. – Os tribunos Licínio e Sextio propusepropus
ram que os juros já pagos fossem deduzidos do
principal (quantia emprestada pelo credor)
credor ; que
nenhum homem pudesse deter mais de 500 jugejug
ra (cerca de 120 hectares) de terra ou empregar
em suas culturas mais escravos do que trabalhatrabalh
dores livres; que um dos cônsules fosse regularregula
mente recrutado na plebe. Durante um ano o
Senado resistiu, mas acabou por acatar essas
propostas, que se transformaram nas Leis LicíLic
nias. Camilo, líder dos conservadores, celebrou a
reconciliação das classes no Templo da Concórdia,
no Fórum.
356 a.C. – Um plebeu tornou-se
tornou
ditador por um
ano.
351 a.C. – A plebe teve acesso
ac
ao cargo de
censor.
326 a.C. – Foi abolida a lei que estabelecia o did
reito do credor de escravizar seu devedor. O julju
gamento tornou-se
se obrigatório nos casos de dívidív
das.
300 a.C. – O sacerdócio foi franqueado aos plepl
beus.
287 a.C. – Pela Lei Hortênsia, as decisões da
Assembleia dos Plebeus (que se transformou em
449 a.C. nas Assembleias das Tribos) tornaram-se
tornaram
obrigatórias para todos os cidadãos romanos.
Esse episódio foi o último da longa disputa entre
plebeus e patrícios, da qual os plebeus ricos fof
ram
m os principais beneficiários. Como o acesso
aos cargos públicos era muito caro, os plebeus
afastavam-se
se deles automaticamente.
S.P.Q.R.: o Senado e o Povo Romano
Obtida a paridade, os plebeus ricos aliaram-se
aliaram
aos patrícios, inclusive por meio de uniões matrimoniais. Em consequência,, surgiu uma nova arisari
tocracia – a nobilitas (nobreza) –, à qual pertenciam os plebeus ricos que tivessem ocupado altas
magistraturas, condição que lhes permitia o acesace
so ao Senado.
O acesso à terra – uma das mais importantes
reivindicações dos pobres – foi satisfeito à custa
dos povos que ocupavam os territórios conquistaconquist
dos pelas legiões romanas. Por essa razão, ricos e
CLIO História – Textos e Documentos
pobres irmanavam-se
se na condição de soldados: o
expansionismo beneficiava a todos. Como o S
Senado determinava a verba destinada às camp
campanhas do exército, a partir do século III a.C., ele se
tornou a instituição mais prestigiada da República.
S.P.Q.R., a sigla oficial de Roma, queria dizer O
Senado e O Povo Romano, como se o poder em
emanasse da união do Senado e do conjunto
onjunto de assembleias de cidadãos. Na realidade, porém, o
poder continuava nas mãos de poucos.
a.C. e desejosos de recuperar a independência; os
volscos, ao sul, e os equos, a leste.
Entre 499 e 496 a.C. Roma enfrentou os latinos.
A vitória sobre os volscos, em 488 a.C., e sobre
os equos, em 457 a.C., fechou o ciclo da conquista do Lácio. Restava a Etrúria, antiga senhora de
Roma. Esse ciclo de campanhas terminou em 396
a.C., com a conquista da cidade de Veios, último
grande obstáculo à supremacia de Roma na TosTo
cana.
ROMA EM GUERRA
A conquista da Itália
No início do século IV a.C.,
a.C. os romanos depararam com um inimigo poderoso: os gauleses –
celtas da Gália que invadiram a península Itálica
e, em 390 a.C., ocuparam Roma. Três anos ded
pois, os gauleses retiraram-se
retiraram
mediante o pagamento de pesado resgate, fixando-se
fixando
no vale do
Pó.
Entre
e a segunda metade do século IV a.C. e o
início do século III a.C., Roma passou a ser ameam
açada pelas poderosas tribos samnitas, que habihab
tavam o centro-sul
sul da Itália. A batalha final ocoroco
reu em 295 a.C., perto de Sentino, nas Marcas. A
vitória assegurou a Roma
oma a posse da fértil planície
da Campânia e das regiões da Úmbria, Abruzos e
Marcas.
A etapa seguinte foi a anexação do sul da Itália,
pontilhado, na época, por cidades-Estado
cidades
gregas.
Em 282 a.C., os romanos entraram em guerra
contra Tarento, a mais poderosa
poder
cidade da região.
Os tarentinos pediram auxílio a Pirro, rei do Epiro
(noroeste da Grécia), que venceu os romanos em
Heradea (280 a.C.) e Asculum (279 a.C.), mas foi
derrotado em Benevento (275 a.C.). Com a tot
mada de Tarento, Roma estendeu seus domínios
domínio
a toda a península itálica, com exceção do vale do
Pó.
O legionário romano (miles), um dos grandes
protagonistas da história de Roma, era, de modo
geral, um camponês habituado às longas cam
caminhadas e às vicissitudes da vida rural. O equip
equipamento que transportava às costas pesava de 35 a
40 kg. Em condições normais, andava 30 km por
dia, mas, quando necessário, fazia 40 km ou
mais, em marcha acelerada. Ao chegar ao dest
destino, trabalhava ainda quatro ou cin
cinco horas na
armação do acampamento.
À esquerda, o equip
equipamento do legionário rromano.
no. Entre as armas
defensivas contavam
contavam-se:
o elmo metálico com pr
protetor para nuca e garga
garganta, muitas vezes ornado
com penas ou crina de
cavalo; o escudo de m
madeira, revestido de couro
e reforçado com orn
ornamentação de metal; urna
couraça, colocada sobre
uma túnica de couro ou
uma malha de ferro, e
perneiras (armaduras
para as pernas). Entre as
armas ofensivas: os pila,
dois dardos de madeira
com uma das pontas de
ferro; o gládio (espada de
dois gumes); a espada curta (50 cm em média) e
o punhal. A bagagem de cada legionário compr
compreendia: víveres e água; colher-gamela
gamela e panela
para cozinhar seu alimento básico e peles de an
animais para montar sua tenda; foice para cortar a
vegetação; uma pá ou picareta para cavar o fosso
e cercar o acampamento com uma proteção de
terra.
A LONGA MARCHA
A expansão romana começou efetiva
efetivamente com
a República (509 a.C.) e estendeu--se pelos 350
anos seguintes.
A expulsão de Tarquínio Sexto, rei etrusco d
de
Roma, enfraqueceu a cidade e despertou contra
ela a hostilidade de outros povos do Lácio. A vu
vulnerabilidade da República recém-formada
formada e suas
necessidades agrícolas foram as principais justif
justificativas para as campanhas contra os vizinhos: os
latinos, submetidos
etidos a Roma desde o século VIII
Os caminhos da vitória
A boa organização e armamentos eficientes gag
rantiram as sucessivas vitórias das legiões. A
manutenção dos territórios conquistados e a rapirap
dez com que o exército se movia deveram-se,
deve
sobretudo, à construção de estradas que ligavam
as províncias a Roma. A expressão “todos os cac
minhos levam a Roma” era verdadeira; nasceu,
provavelmente, quando os romanos descobriram
que suas legiões, máquinas de guerra e tropas de
reforço deslocavam-se
se com uma rapidez três vev
zes maior que a dos inimigos, por estradas pavipav
mentadas, construídas pelos próprios soldados.
Além dos objetivos militares, as antigas estraestr
das consulares (assim chamadas porque recebiam
o nome do cônsul encarregado de coordenar
coorden os
trabalhos da sua construção) foram as vias de
difusão da civilização romana. Até hoje represenreprese
tam a espinha dorsal do sistema viário italiano e,
em menor escala, de outros países europeus,
antigas colônias romanas. De 264 a 146 a.C., os
romanos lutaram
am contra os cartagineses pelo conco
trole do tráfego e do comércio no mar MediterrâMediterr
neo. O longo conflito denominado Guerras Púnicas
(púnica vem de poeni, designação latina para os
fenícios) terminou com a vitória total de Roma,
CLIO História – Textos e Documentos
assegurando-lhe a hegemonia na região do Med
Mediterrâneo e facilitando a conquista da maior parte
da Europa.
ROMA E CARTAGO: UM CONFRONTO DECIS
DECISIVO
A tradição clássica atribui a Dido, filha de um rei
de Tiro, a fundação da colônia fenícia de Cartago,
por volta do século IX a.C. Situada na costa norte
da África, a colônia recebeu o nome de Kart
Karthadashi (cidade nova). Os gregos transformaram
esse nome em Karchedon, e os romanos, em Ca
Cartago.
Enquanto Tiro, Sidon e outras importantes cid
cidades fenícias localizadas na costa do atual Líbano
entravam
am em decadência, Cartago crescia em
poder e esplendor, baseando sua prosperidade no
comércio. No século VI a.C. quase toda a costa
africana, da Cirenaica a Gibraltar, e a península
Ibérica, rica em ouro, prata, ferro e cobre, est
estavam sob o domínio dos cartagineses.
tagineses. Estes ta
também haviam se apoderado das ilhas Baleares, da
Sardenha, da Córsega, de metade da costa oeste
da Sicília e de Malta, ilha do Mediterrâneo central.
Cartago impunha aos territórios conquistados o
pagamento de grandes tributos anuais, obri
obrigava
os vencidos a se alistarem no seu exército e co
controlava-lhes
lhes rigorosamente o comércio exterior.
Em troca, oferecia proteção militar, garantia a
independência do governo local e a estabilidade
econômica. O Comércio e a exploração desse iimpério tornaram Cartago, no século III a.C., o mais
rico e poderoso Estado mediterrâneo.
As relações entre Roma e Cartago iniciaram
iniciaram-se
em 510 a.C., com um tratado pelo qual Roma
reconhecia a Cartago o direito de comerciar e
piratear em todo o Mediterrâneo ocidental, desd
desde
que não invadisse o mar Tirreno ou atacasse
qualquer das cidades latinas aliadas aos romanos.
Esse tratado foi renovado em 348 a.C., mas, no
século seguinte, Roma, senhora da península
Itálica, começou a ambicionar a Sicília, que era
grande produtora de trigo e ponto estratégico
para o controle do tráfego comercial e militar no
mar Mediterrâneo.
A guerra no mar
Na Primeira Guerra Púnica, Roma era uma p
potência terrestre desafiando Cartago, uma potência
marítima. A guerra só poderia ser ganha se Ca
Cartago fosse
sse derrotada em seu próprio elemento.
Nos combates navais da época, as embarc
embarcações, movidas com a maior velocidade possível
por meio de remadores, eram lançadas contra os
flancos dos navios adversários. Como a ponta da
quilha era equipada com um esporão metálico, o
resultado era um buraco na lateral do navio in
inimigo, abaixo da linha-d’água,
d’água, o que causava o
seu afundamento. Os cartagineses pareciam iimbatíveis no mar. Seus remadores eram mais ráp
rápidos e os marinheiros podiam frear bruscamente a
embarcação, mudar a sua direção de modo a d
defendê-la
la do esporão inimigo e efetuar outras m
manobras.
:., Roma construiu, em sessenta
Em 241 a.C.:.,
dias,
as, uma esquadra de duzentos quinquerremes.
Baseados no modelo cartaginês, mediam 40 m de
comprimento e abrigavam uma tripulação
tripula
de duzentos homens armados. Tinham, porém, uma
inovação: o “corvo”, espécie de ponte levadiça
que caía sobre a nave inimiga, transformando-se
transformando
numa passarela. Os soldados podiam, assim, paspa
sar ao navio adversário e fazer do combate naval
um combate semelhante
lhante ao terrestre, no qual
eram peritos. Criado pelo cônsul Caio Dílio, o
“corvo” assegurou aos romanos a vitória em MeM
lazzo.
PRIMEIRA GUERRA PÚNICA
(264-241 a. C.)
264 a.C. – Os romanos tomam, na Sicília, as cic
dades gregas aliadas de Cartago. Hierão de Siracusa alia-se
se a Roma e conquista a Sicília ocidental
até Agrigento (261 a.C.).
260 a.C. – A frota romana derrota os cartaginecartagin
ses, chefiados por Aníbal, ao largo de Milazzo.
256 a.C. – Os romanos desembarcam na África,
sob o comando de Atílio Régulo. No entanto, são
derrotados pelas tropas cartaginesas chefiadas
por Xantipo, mercenário espartano (255 a.C.).
250 a.C. – Roma conquista Panormo (Palerma)
e renova aliança com Hierão.
249 a.C. – Alternância de vitórias e derrotas pap
ra ambos os 'lados.
241 a.C. – Roma derrota os cartagineses numa
batalha naval realizada junto às Egades, pequepequ
nas ilhas situadas a oeste da Sicília. A paz é assiass
nada. Cartago renuncia à Sicília, que se torna
então a primeira província romana.
Acontecimentos posteriores
229-222 a.C. – Roma ocupa a Iliria (atual IuI
goslávia). Na Itália, derrota os gauleses em ClasCla
tidium (Casteggio, Pavia) e ocupa uma de suas
capitais: Mediolanum (Milão). Os romanos funfu
dam, ao norte da Itália, as colônias de Piacenza,
Modena e Bolonha.
UM EXÉRCITO INVENCÍVEL
NCÍVEL
Na primeira fase da Segunda Guerra Púnica o
exército romano sofreu severas derrotas. A partir
da batalha de Canas, porém, estabeleceram-se
estabeleceram
novas regras de tática e disciplina que o tornaram
quase invencível. Curiosamente, muitas das tátitát
cas foram aprendidas
rendidas dos próprios cartagineses e
depois desenvolvidas, com sucesso, por oficiais
romanos.
Só em Esparta a disciplina militar foi tão rigororigor
sa quanto no exército romano. Este era, de início,
um exército de camponeses – cidadãos que serviam dos 17 aos 45 anos. Dos 45 aos 60 passavam
à reserva, mas, frequentemente,
frequentemente eram chamados
para guerrear ou formar um corpo de defesa da
própria cidade. A importância do serviço militar
era tanta que nenhum cidadão podia se candidacandid
tar a um cargo público sem ter sido soldado
sold
durante pelo menos dez anos.
De legionário a colono
CLIO História – Textos e Documentos
Com a transformação da república agrícola do
Lácio em república mercantil e imperialista, com
começou a desaparecer a figura do agricultor
agricultor-soldado,
que depunha a espada e voltava a empunhar o
arado em seus campos. As legiões acolheram
milhares de camponeses empobrecidos, sem te
terras, que muitas vezes recebiam, como recompe
recompensa, uma gleba do.Estado (ager publicus) para
cultivar nas regiões conquistadas. O Estado emprestava dinheiro para construir uma cas
casa, comprar móveis, animais e instrumentos de tr
trabalho.
O miles transformava-se
se em colono, e mu
muitos
países europeus “romanizados” devem a esses
colonos a sua unidade cultural e civil, que foi um
legado de Roma.
A legião romana
Na época das Guerras Púnicas, a unidade co
combatente básica – a legião – tinha 4 200 soldados.
Esse número foi depois elevado para 5 000
000-6 000
soldados (infantes), ao lado de um mínimo de
novecentos cavaleiros.
Para facilitar as manobras em campo, a legião
era subdividida em coortes (em geral, dez) e cada
coorte, por sua vez, subdividia-se
se em mampulos.
O manípulo era dividido em unidades mais ágeis:
as centúrias (a princípio, cem homens e, depois,
entre oitenta e 150).
Os centuriões, oficiais que combatiam na e
extrema direita da primeira fila, lideravam a cent
centúria. Eram também, em tempo de paz, os treinad
treinadores dos jovens romanos, que se adestravam no
Campo de Marte, fora dos muros da cidade.
Na extremidade aposta da primeira fila, outro
oficial, o tesserarius, transmitia ordens a seus
homens
s ou, eventualmente, ao centurião da ce
centúria ao lado.
O último lugar à esquerda da última fila era ocupado por outro oficial, que comunicava as o
ordens provenientes das filas anteriores ou substit
substituía os feridos.
No centro do esquadrão, o aquilifer ou signi
signifer
(portador da, águia ou do estandarte da legião) e
o arauto, com a tradicional trompa, coordenavam
a ação das diversas centúrias, manípulos e coo
coortes, por meio dos movimentos do estandarte ou
dos sons da trompa.
A ação das legiões era dirigida pelos tri
tribunos,
oficiais superiores, e, sobretudo, pelo cônsul, m
magistrado eleito a quem cabia o comando supremo
e a responsabilidade total da batalha.
SEGUNDA GUERRA PÚNICA
Antecedentes
237-231 a.C. – Pelo tratado de paz de 241 a.C.,
os cartagineses ficam obrigados
dos a pagar por dez
anos um tributo anual da ordem de 3 200 tale
talentos. Amílcar Barca conquista territórios na Esp
Espanha (237 a.C.), e as minas de Serra Morena pe
permitem o pagamento dos tributos devidos a Roma.
Em 231 a.C. é assinado o Tratado de Ebro, pelo
quall os romanos reconhecem o domínio cartag
cartaginês ao sul desse rio espanhol.
228-221 a.C. – Morte de Amílcar. Aníbal é o
comandante supremo na Espanha.
219 a.C. – Aníbal conquista Sagunto, colônia
grega do litoral sul da Espanha, aliada de Roma, o
que equivale a uma declaração de guerra.
A Guerra
(218-201 a.C.)
218 a.C. – A fim de surpreender os romanos,
que se preparavam para combater na África, AníAn
bal entra na Itália, pelos Alpes, com 50 000 solso
dados, 9 000 cavaleiros e 37 elefantes. Em Trébia, os gauleses do vale do Pó aliam-se
al
aos cartagineses. 217 a.C. – Comandados por Caio FlamiFl
nio, os romanos são derrotados pelos cartaginecartag
ses junto ao lago de Trasimeno. Sob o comando
coma
de Cornélio Cipião, o Africano, retomam Sagunto
S
na Espanha. 216 a.C. – Esmagados pelos cartagica
neses em Canas, os romanos perdem 50 000 de
seus 80 000 soldados, entre eles o cônsul Paulo
Emilio.
215 a.C. – Morte de Hierão de Siracusa. Seu
sucessor alia-se
se a Cartago.
212 a.C. – Tomada de Tarento por Aníbal Barca.
Na Sicília, a frota romana, comandada
coma
por Marco
Antônio Marcelo, toma Siracusa. Em Capua os
romanos são derrotados por Aníbal.
211 a.C. – Cipião conquista Cartagena. 208 a.C.
– Asdrúbal Barca é vencido em Bácula por Cipião.
207 a.C. – Os romanos vencem os cartagineses
numa importante batalha
alha perto do rio Metauro
(norte da Itália), durante a qual morre Asdrúbal
Barca.
204 a.C. – Cipião desembarca na África e recerec
be apoio de Masinissa, rei da Numidia. Cartago
chama Aníbal de volta à África para combater os
romanos.
202 a.C. – Aníbal é derrotado
derro
em Zama, na batalha que põe fim à Segunda Guerra Púnica.
Acontecimentos posteriores
200-188 a.C. – Combatendo antigos inimigos,
aliados de Cartago, as legiões romanas expandem
seus domínios pela Itália do norte (190 a.C.),
península Ibérica, Grécia e Macedônia (197 a.C.)
Em 196 a.C. Aníbal, eleito magistrado supremo de
Cartago, propõe que o mandato dos juízes seja
fixado em um ano, adota medidas para impedir as
venalidades e liberta os cidadãos de taxas extras.
Os oligarcas denunciam-no
no a Roma, sob a acusação de planejar o reinício das hostilidades. Em
195 a.C. Aníbal foge para Antioquia, depois para
Creta e por fim para a Bitmia, onde se mata (183
a.C.). Em 188 a.C., ao derrotar Antíoco III da
Síria, que governava também a Ásia Menor, Roma
domina o Mediterrâneo oriental.
"DELENDA CARTHAGO”
Apesar dos duros termos de paz impostos a
Cartago ao final da Segunda Guerra Púnica, diaridiar
amente, no Senado romano, Catão erguia sua
voz; sempre terminava seus discursos com a exe
pressão Delenda Carthago (“Cartago deve ser
destruída”). Era necessária, a qualquer preço,
uma Terceira Guerra Púnica.
CLIO História – Textos e Documentos
O pretexto surgiu em 149 a.C., e por três anos
Cartago suportou o sítio por terra e por mar. Mas,
em 147 a.C., o Senado e as Assembleias nomearam cônsul Cornélio Cipião Emiliano
liano – que passaria à história como “o Africano Menor” –, o qual,
no ano seguinte, logrou escalar as muralhas e
penetrar na cidade, seguido por suas legiões.
Embora enfraquecidos e dizimados pela fome,
os cartagineses lutaram palmo a palmo por seis
dias. Hostilizado pelos guerrilheiros ocultos nas
casas, Cipião ordenou que as residências fossem
queimadas. Por fim, reduzida de 500 000 a 50
000, a população se rendeu. Os sobreviventes
foram vendidos como escravos e o que restava,
saqueado.
Relutando em arrasá-la,
la, Cipião pediu instruções
ao Senado. A resposta não se fez esperar: não
apenas Cartago, mas também seus arredores
deviam ser destruídos, e o solo arado e salgado
para que nada mais pudesse ali vicejar; e maldito
fosse o homem que tentasse construi
construir naquele
sítio. Durante dezessete dias Cartago esteve em
chamas. Depois, desapareceu.
TERCEIRA GUERRA PÚNICA (149
(149-146 a.C.)
Antecedentes
A paz, assinada em 201 a.C., impõe a Cartago
desarmamento naval e terrestre, pesadas inden
indenizações, renúncia a todas as
s possessões e perda
de política independente. Além disso, Roma incita
alguns de seus aliados africanos a guerrilhas co
contra Cartago e espera um pretexto para a completa
destruição de sua rival.
Este surge em 151 a.C., quando Masinissa, rei
da Numidia, aliada
da de Roma, pretende apoderar
apoderarse das costas da atual Tripolitânia, pertencentes a
Cartago. Os cartagineses declaram guerra à N
Numidia (151-150 a. C.).
149 a.C. – O Senado romano alega que Cartago
violara o tratado de paz e declara-lhe
lhe guerra. Os
cartagineses
s concordam em entregar todas as
suas armas aos romanos, mas, quando estes o
ordenam que eles se retirem da cidade, resolvem
oferecer-lhes resistência.
146 a.C. – Cartago é destruída. Seu território
torna-se
se então a província romana da África.
Transformada em província romana, a região foi
dividida em latifúndios e distribuída entre os rromanos como parte da ager publicus (domínios do
Estado), ao mesmo tempo em que os moradores
entravam
travam na herança do outrora próspero comé
comércio cartaginês. Apesar das maldições, em 122
a.C., o Senado romano ordenou que se fundasse
uma colônia no sítio de Cartago. A tentativa não
deu resultado. Mais tarde, porém, Júlio César
enviou para lá numerosos colonos romanos sem
terra e, em 29 a.C., Augusto centralizou a adm
administração romana da
a África naquele sítio. Nessa
época;a, a colônia, conhecida como Julia Carth
Carthago, prosperou
rou a ponto de rivalizar com a cidade
egípcia de Alexandria.
A RESISTÊNCIA LUSITANA
Depois da expulsão dos cartagineses, os romarom
nos tornaram-se
se senhores da península Ibérica.
Esta foi dividida em duas províncias – Espanha
ulterior (sul) e citerior (norte) –, obrigadas a pagar tributos em produtos agrícolas e minérios.
As rebeliões contra os romanos tiveram início
em 199 a.C. Em 179 a.C. Tibério Semprônio GraGr
co conseguiu
u pacificar a região. Mas, a partir de
154 a.C., os lusitanos, um povo que vivia a noronor
este da península (em território que atualmente
esta dividido entre Portugal e Espanha), fizeram
várias incursões contra cidades aliadas de Roma.
Graças à habilidade do seu chefe, Viriato, que
desenvolveu uma eficiente tática de guerrilha,
resistiram ate 139 a. C., quando Viriato foi assasassa
sinado por três colaboradores subornados pelos
romanos.
A resistência lusitana, entretanto, encorajou os
celtiberos à rebelião contra Roma
R
(143 a.C.). A
destruição de Numância (133 a. C.) marcou a
pacificação da península.
OS DOMÍNIOS DE ROMA
As regiões submetidas a Roma recebiam tratatrat
mento diferenciado conforme as circunstâncias.
Algumas eram escolhidas em termos de aliança
ou de Estados
s federados, devendo pagar um tritr
buto e manter uma guarnição romana “para propr
teção”, mas com a vantagem de poderem conserconse
var suas leis e seu sistema de governo. Outras
obtinham mais vantagens: seus habitantes podipod
am tornar-se
se eives romani, ou seja, ganhavam
ganhava
direito à cidadania romana. Em outros casos, os
territórios conquistados eram mantidos sob a
administração direta de Roma, com governadores
locais. Eram as províncias. As primeiras foram: a
Sicília, a Sardenha-Córsega,
Córsega, a Espanha, a África
cartaginesa e a Grécia.
O preço do “mare nostrum”
As Guerras Púnicas foram o mais caro empreempr
endimento bélico da Antiguidade. Arruinaram
centenas de cidades e mataram centenas de mim
lhares de pessoas: somente a Segunda Guerra
Púnica vitimou 300 000 homens. Mas esse evento
representou também um divisor de águas na hishi
tória romana.
Os minérios ibéricos deram novo impulso à exe
pansão imperialista. O saque às províncias, as
indenizações pagas pelos cartagineses e, depois,
pela Macedônia e Síria, os escravos que de toda
parte afluíam
luíam a Roma, os metais preciosos das
regiões conquistadas e outros golpes favoráveis
transformaram os ricos de Roma em opulentos
magnatas.
As Guerras Púnicas mudaram a face do MediterMedite
râneo, tornando-o
o um lago romano – o mare nostrum, como o chamavam os romanos;
ro
a prosperidade mudou a fisionomia da sociedade romana. A
possibilidade de importar toda sorte de produtos,
a baixo custo, das províncias provocou a decadec
dência da agricultura e indústria romanas. Em
contrapartida, o comércio e os bancos florescefloresc
ram. Roma tornava dinheiro do mundo para, com
ele, adquirir os produtos do mundo. Como resulresu
CLIO História – Textos e Documentos
tado, o patriciado e a classe média da República
romana trocaram sua austera simplicidade por um
luxo ostensivo e ocioso.
Fim
im da República Romana
Após oitenta anos de guerras, lutas, sacrifícios e
privações, os romanos se deram conta de que
tinham o mundo nas mãos. Entre os bens obtidos
estava a cultura grega, difundida por uma região
imensa que passara a pertencer a Roma: Sicília,
sul da Itália, Ásia Menor e a própria Grécia, anexada no século II a.C. Os gregos revidaram a
conquista introduzindo em Roma sua filosofia, sua
arte, seu teatro e até sua religião. Para os velhos
isso era uma verdadeira afronta, pois essas co
contribuições, aliadas ao luxo e à vida faustosa, sol
solapavam o caráter simples e austero dos romanos.
Mas, como disse Horácio, Graecia capta victorem
cepit (“a Grécia conquistada conquistou por sua
vez o vencedor”).
Antes das Guerras Púnicas a família romana era
um microcosmo, o centro gerador da religião, da
moral, da economia e do próprio Estado. Cada
aspecto da sua existência, material ou espiritual,
estava em solene intimidade com o panteão d
doméstico: a casa era regida pela deusa Vesta, pr
presente no fogo da lareira, chama que simbolizava a
vida e a continuidade
dade da família; os deuses Lares
guardavam os campos e as construções; os Pen
Penates, ou deuses do interior da casa, garantiam a
abundância; e a matrona romana era portadora
de uma centelha da divindade de Juno, pois tinha
dentro de si o genius da capacidade de gerar.
Eram dezenas de divindades laboriosas, presidi
presidindo as atividades da família.
Esta, por sua vez, compunha-se
se do pai e da
mãe, da casa, da terra e das propriedades dos
filhos solteiros ou casados, dos netos, das noras,
dos escravos e agregados. Era, portanto, uma
assembleia de pessoas e coisas governadas pelo
ascendente mais velho (patriarca). Dentro desse
pequeno mundo, que continha em si as funções
da família, igreja, escola, indústria e Estado, fo
forjaram-se
se os vencedores dos cartagineses.
Um romano como Catão, que nasceu por volta
de 230 a.C. e morreu em cerca de 150 a.C., pôde
assistir à transformação dos hábitos de vida dos
romanos. A mudança manifestava--se em todos os
setores: começava pelo cardápio e culminava com
a adoção dos sofisticados deuses
s gregos, relega
relegando a segundo plano o doméstico panteão romano.
Uma nova sociedade
A afluência de enormes riquezas a Roma benef
beneficiou sobretudo os patrícios e a nobreza senatorial.
As terras conquistadas que se transformavam em
ager publicus (terras do Estado),
ado), na realidade
ficavam quase sempre em suas mãos – ou como
recompensa por serviços prestados na guerra, ou
porque esses setores sociais eram os únicos com
dinheiro para comprá-las
las quando o Estado as
leiloava.
Os camponeses pouco se beneficiaram com as
vitórias, exceto aqueles que receberam uma gleba
nas terras conquistadas. E os soldados, ao voltar
a suas terras, tiveram uma surpresa desagradádesagrad
vel: Roma passara a consumir o trigo barato vinvi
do das províncias, e nas grandes propriedades o
trabalho mobilizava a mão--de-obra escrava, constituída de prisioneiros. Sem condições de colocar
sua colheita no mercado a preços competitivos e
sem emprego, o camponês acabava por vender
sua gleba (ou a entregava para saldar dívidas) e
ia para Roma engrossar o contingente de desocupados. Foi a essa massa desapropriada pelos frufr
tos das vitórias romanas que se ofereceu panem
et circenses (pão e circo).
Os ricos
Para Catão, a cultura grega representava uma
total subversão da ordem familiar e, consequentemente, da religião e do Estado. São de sua aua
toria algumas leis que limitavam as despesas em
banquetes e vestuário. Mas de pouco adiantaram.
Os bons cozinheiros continuaram a ser comprados
a peso de ouro no mercado de escravos; as baixebaix
las eram de ouro, as mulheres cobriam-se
cobriam
de
joias e tecidos finos e os cosméticos tornaram-se
tornaram
uma necessidade. À medida que as maneiras dos
patrícios e equites (cavaleiros) se refinavam, a
moral se afrouxava. O divórcio tornou-se
tornou
corrente
e a aura sagrada que envolvia a “família” se desde
fez. Nem Catão
atão nem ninguém poderia impedir a
“nova moralidade” ditada pela opulência e pelo
individualismo.
Os pobres
Desde o início da República, muitos plebeus viv
viam agregados às famílias patrícias como clienclie
tes: recebiam alimentos e roupas em troca de
pequenos serviços e do compromisso de votar a
favor de seus protetores nas assembleias. A partir
do século II a.C., pode-se
se dizer que toda a massa
de plebeus residentes em Roma constituiu uma
espécie de clientela. Eram cidadãos, e portanto
podiam votar nas Assembleias das Tribos, onde
eram eleitos os questores e edis da plebe e aproapr
vada a maioria das leis. Essa prerrogativa transtran
formou os pobres em massa de manobra dos
políticos e dos pretendentes a cargos políticos,
empenhados em conquistar o apoio eleitoral em
troca
ca de trigo, festas e jogos.
Roma criava, assim, um esquema demagógico
de controle social. O pão e o circo reduziam a
população empobrecida à condição de parasita e
afastavam os riscos de conflitos e revoltas.
A QUESTÃO AGRÁRIA
Duas forças políticas digladiaram-se
digla
durante a
República: de um lado, os patrícios e a nobilitas
(nobreza, classe que incluía os plebeus ricos que
haviam ocupado altas magistraturas, o que lhes
dava acesso ao Senado), integrados num partido
aristocrático ou “senatorial”; de outro, os
o equites
e os populares, que constituíam um partido ded
mocrático. Ao longo da luta entre as duas facções,
porém, muitos patrícios tornaram o partido da
CLIO História – Textos e Documentos
plebe e vice-versa.
versa. Foi o que se deu com a família
patrícia dos Graco.
Os irmãos Graco
Tibério e Caio Graco
raco pertenciam a uma das
mais prestigiadas famílias patrícias. Eram filhos
de Semprônio Graco, comandante na Espanha, e
de Cornélia, filha de Cipião, o Africano.
Vendo o estado de abandono das terras da Etrúria e a decadência do exército romano, Tibério
achou
chou necessário repovoar os campos para fav
favorecer a formação de um campesinato forte. Na
verdade, os agricultores – dado seu empobrec
empobrecimento e consequente falta de condições para se
armar à própria custa – tinham sido privados de
se integrarem ao exército.
Ao ser eleito tribuno da plebe, em 133 a.C., T
Tibério Graco propôs o revigoramento da lei que
impunha a devolução ao Estado das terras públ
públicas, então em poder da aristocracia, e sua distr
distribuição entre os cidadãos pobres. Com isso, pr
pretendia resolver graves problemas interligados:
excesso de escravos no campo, superpopulação e
corrupção urbanas e decadência militar de Roma.
A sugestão despertou forte reação do partido
senatorial, representante dos interesses dos
grandes proprietários. No final do ano, ao ten
tentar
se reeleger, Tibério foi trucidado por seus adve
adversários junto com trejeitos adeptos.
Em 123 a.C., seu irmão Caio Graco retomou e
esse programa. Além de revigorar a lei agrária,
propôs o fornecimento de roupas e armas aos
cidadãos pobres à custa do Estado;; a realização
de obras públicas, que proporcionassem emprego
a milhares de desocupados, e a lei do trigo, que
autorizava o governo a distribuir o cereal pela
metade do preço de mercado. Essa lei fez com
que as massas pobres deixassem de ser clientes
da aristocracia
istocracia para se tornar defensoras dos Gr
Graco e de seus sucessores do partido popular, entre
os quais Júlio César.
A reação oligárquica
Entre as propostas de Caio Graco figurava, ai
ainda, a concessão da cidadania romana aos povos
itálicos aliados (socii) de
e Roma, para que se ben
beneficiassem da distribuição de terras; e a particip
participação dos equites na coleta de impostos nas proví
províncias e, como jurados, nos julgamentos de crimes
de apropriação indébita que envolvessem funci
funcionários públicos (tarefa que competia ao Senado).
Prejudicados em seus interesses políticos e ec
econômicos, os nobres passaram a considerar as leis
agrárias e judiciária uma afronta ao poder senat
senatorial. Induzido por demagogos, o povo romano foi
convencido de que sua participação em festas e
jogos seria
ria cada vez mais limitada se os socii
obtivessem regalias reservadas aos cidadãos. As
leis de cidadania foram rejeitadas pelo Senado e,
em 121 a.C., as tropas chefiadas pelo cônsul L
Lúcio Opímio tornaram de assalto o monte Aventino,
onde os democráticos estavam
tavam entrincheirados.
Caio Graco, para não se entregar, preferiu o su
suicídio. Três mil de seus seguidores foram execut
executados sem processo algum.
Vitoriosos, os oligarcas anularam a reforma agrária, mas não conseguiram evitar os frutos de
algumas medidas dos Graco. Os equites e o povo
tinham tomado consciência de sua força política.
A CRISE DA DEMOCRACIA
No fim do século II a.C., havia só 2 000 propr
prietários
tários para 400 000 cidadãos romanos. A pop
breza fazia diminuir o número de soldados; não
tardou que Roma fosse
e atacada. Em 113 a.C., os
cimbros e os teutões invadiram a Itália com 300
000 homens. Quase simultaneamente irrompeu o
conflito do reino da Numídia: Jugurta combateu e
derrotou seus primos Aderbal e Hiempsal, com
quem dividia o trono, e dominou o país inteiro.
int
Como no episódio morreram também mercadores
romanos, em 111 a.C. Roma declarou-lhe
declarou
guerra.
Jugurta, porém, subornou os generais romanos,
tirando partido da incompetência e da corrupção.
Em 108 a.C. Caio Mário, filho de camponeses, que
servira na Numídia
dia sob as ordens de Quinto MeteMet
lo, candidatou-se
se ao consulado, oferecendo-se
oferecendo
para derrotar Jugurta. Essa promessa foi cumpricumpr
da em 106 a.C.; em 104 a.C. Mário foi reeleito
cônsul; em 102 a.C. derrotou os teutões e em
101 a.C., os cimbros. Esse sucesso devia-se
devi
a um
novo tipo de exército, resultado da reforma que
Mário fizera no recrutamento militar, possibilitanpossibilita
do o alistamento de cidadãos sem recursos. O
exército assim for-nado
nado compunha-se
compunha
basicamente de proletários urbanos,
os, que não lutavam pelo
seu país, mas pelo seu general.
O fantasma dos Graco
Em 100 a.C. Mário foi eleito cônsul pela sexta
vez junto com Lúcio Saturnino, que, ao se decladecl
rar disposto a realizar o programa dos Graco, foi
assassinado. Mas em 91 a.C. a “guerra social”
(dos socii contra Roma)) retomou um tema defendefe
dido pelos Graco: a concessão de cidadania aos
povos itálicos. A guerra durou dois anos e termiterm
nou com os socii recebendo uma cidadania de
segunda classe: divididos em dez tribos, só podipod
am votar depois de as 35 tribos romanas terem
votado.
A hora e vez dos generais
Em 88 a.C. começou a guerra contra Mitrídates,
rei do Ponto, que pretendia estender seus domídom
nios às possessões romanas da Ásia Menor. O
comando foi confiado ao aristocrata Lúcio Cornélio
Sila; imediatamente, o tribuno Públio Sulpicio
Rufo fez votar uma lei atribuindo a Mário a chefia.
Diante de tal oposição, Sila marchou sobre Roma;
os optimates (patrícios e nobilitas) declararam
Mário inimigo público, e ele se viu obrigado a fugir
para escapar da morte.
Sila fez aprovarr algumas leis que reforçavam o
partido aristocrático, mas, após a sua partida para
a Ásia, Mário, auxiliado por Lúcio Cornélio Cina,
organizou suas tropas e promoveu em Roma viovi
lenta perseguição aos optimates. Em 86 a.C., logo
depois de ter assumido pela sétima vez o consulado, Mário morreu. O poder ficou com Cina, cuja
primeira medida foi admitir os socii em todas as
CLIO História – Textos e Documentos
tribos eleitorais. Mas, em 84 a.C., quando tentava
organizar um grande exército para impedir que
Sila, o vencedor de Mitridates, regressasse a Roma, Cina foi assassinado.
Sila, que encontrou na Itália o apoio militar de
dois grandes generais – Marco Licínio Crasso e
Cneu Pompeu –,, anulou todas as medidas popul
populares e restabeleceu o poder da nobreza. Impondo
Impondose como ditador de 82 a 79 a.C., restr
restringiu as
atribuições das assembleias populares e dos tr
tribunos da plebe. Em 79 a.C., com a abdicação de
Sila, o cônsul Marco Emílio Lépido procurou iimplantar um programa de cunho popular. Opondo
Opondose a isso, o Senado concedeu poderes extraord
extraordinários a Pompeu para frustrar os objetivos do
novo cônsul. Em 77 a.C. Pompeu esmagava, na
Espanha, as forças de Quinto Ser-tório,
tório, seguidor
de Mário, que lutava pela restauração do regime
democrático.
Pompeu e Crasso
Entre 77 e 60 a.C. Pompeu e Crasso deram a
Roma a segurança
ança da invencibilidade do seu exé
exército. Pompeu, conquistando territórios no Oriente:
o Ponto, a Síria, a Cilícia, a Armênia, a Capadócia,
a Galícia, a Cólquida e a Palestina; Crasso, esm
esmagando, na Apúlia, em 71 a.C., a rebelião de 120
000 escravos liderados
os por Espártaco. De retorno
a Roma, em 70 a.C., Crasso e Pompeu estabel
estabeleceram uma súbita aliança com os populares e
ganharam a eleição para o consulado. Isso signif
significou a reintegração dos poderes das assembleias e
dos tribunos da plebe.
O primeiro triunvirato
Em 62 a.C., quando Pompeu voltou a Roma,
após reorganizar política e administrativamente o
Oriente, o Senado, temendo sua força, rejeitou
seus acordos com os reis das nações submetidas
e seu pedido de doação de terras aos soldados.
Esse foi o pretexto
o para a formação, em 60 a.C.,
do primeiro triunvirato, o governo de três: Po
Pompeu, Crasso e Júlio César, apoiados pelos popul
populares.
Embora pertencesse a uma antiga família patr
patrícia, César – orador brilhante e veterano da luta
política de Roma – integrava o partido democrát
democrático. Na ocasião, o menos influente dos triúnviros,
despontaria nos anos seguintes como um grande
líder militar. Em 55 a.C. César recebeu poderes
para governar por cinco anos a Gália Cisalpina e a
Gália Narbonense. Conquistou todo o país, n
numa
série de campanhas narradas em seu livro De
Bello Gallico. Após a morte de Crasso (53 a.C.),
Pompeu conseguiu que o Senado o nomeasse
princeps (o primeiro dos cidadãos) e ordenou a
César que voltasse a Roma sem suas legiões.
Convencido de que o conflito
o era inevitável, no
início de 48 a.C. César marchou com suas tropas
para Roma. Pompeu se refugiou na Grécia. César
derrotou-o
o em Farsália, na Tessália (em agosto),
obrigando-o
o a fugir para o Egito, onde foi assass
assassinado. Assim, em 48 a.C., Júlio César torn
tornou-se o
único senhor de Roma, precipitando a crise da
República.
O IMPÉRIO
RIO ROMANO
Na tarde de 14 de março, numa reunião realizada
em sua casa, Júlio César afirmara que, a seu ver,
a “melhor” morte era, sem dúvida, a “repentina”.
Na manhã seguinte, Calpúrnia,
Calpúrni sua mulher, recomendou-lhe
lhe que não fosse ao Senado, pois tivera
um sonho em que ele aparecia coberto de sangue.
Mas Décimo Bruto, tido como um dos seus mais
íntimos amigos (e um dos conspiradores), insistiu
no sentido de que ele comparecesse à sessão.
A caminho do Senado, César encontrou um viv
dente que certa ocasião lhe murmurara: “Cuidado
com os idos de março”. Sorriu-lhe
Sorriu
e comentou
que março já havia chegado e, no entanto, nada
lhe acontecera. “Chegou mas não passou”, replirepl
cou prontamente o vate. César fazia diante do
teatro de Pompeu o sacrifício que precedia cada
sessão do Senado, quando lhe entregaram um
bilhete, informando-o
o de que era vítima de uma
conspiração. Não teve tempo de lê-lo.
lê
Tinha-o
ainda nas mãos quando foi apunhalado por Bruto,
Cássio e outros aristocratas.
A trágica morte de César – narrada por Suetônio, Apiano e Plutarco, historiadores antigos –
precipitou a crise que conduziu à instituição da
autoridade imperial.
O ENSAIO CENTRALIZADOR
CENTRALIZADO
Em 44 a.C., quando o Senado declarou vitalícia
a ditadura de Júlio César, este não teve os seus
poderes muito ampliados. Desde 46 a.C. possuía,
de fato, o controle de Roma. Era imperator, ou
seja, comandava as forças armadas em terra e no
mar; havia sido investido do imperium domi, que
lhe concedia o comando
omando sobre todos os cidadãos e
aliados; na qualidade de pontifex maximus, conco
trolava a religião; como tribuno da plebe, possuía
o direito de veto sobre qualquer lei ou decisão;
como censor, nomeava e afastava senadores. Era,
enfim, o magistrado supremo de
d Roma. César,
porém, desagradara os aristocratas ao executar o
projeto dos Graco: distribuíra terras aos seus
veteranos e aos cidadãos pobres, proibindo que
elas mudassem de mãos (por compra ou venda)
durante vinte anos; ordenara que um terço dos
trabalhadores
dores de cada propriedade agrícola fosse
composto por homens livres; diminuíra a massa
de proletários em Roma, transferindo cerca de 80
000 pessoas para novas colônias; concedera cidacid
dania romana aos povos itálicos; gastara 160
milhões de sestércios em obras
obr públicas, dando
emprego a milhares de trabalhadores. Em consequência,, o número de pessoas que recebia trigo
do Estado, a baixo preço, decrescera de 320 000
para 150 000 – e estes passaram a obtê-lo
obtê
inteiramente de graça. Júlio César era o ídolo dos
populares,
lares, mas ferira os interesses da nobreza
senatorial e dos cavaleiros enriquecidos com a
inescrupulosa cobrança de impostos, ao criar leis
contra os juros extorsivos. Além disso, alimentara
a oposição dos republicanos, ao organizar a admiadm
nistração do Estado
do de modo a mantê-la
mantê
sob seu
controle pessoal.
CLIO História – Textos e Documentos
Todas as disposições de Júlio César, em res
resumo, levaram seus inimigos a se unir em uma
conspiração liderada por Marco Júnio Bruto e Caio
Cássio, que culminou com o seu assassinato, em
15 de março de 44 a.C. Os
s assassinos, todos pe
pertencentes à aristocracia, justificaram
justificaram-se acusando
César de premeditar o retorno à monarquia (o
que, provavelmente, era verdade).
O herdeiro
Após a morte de César, seus partidários – liderados pelo cônsul Marco Antônio e por Marco E
Emílio Lépido, chefe dos cavaleiros – assumiram o
controle de Roma. Mas, receando a guerra civil,
entraram em acordo com a facção inimiga: Bruto
e seus companheiros seriam anistiados desde que
todas as decisões políticas de César fossem ma
mantidas.
Para desembaraçar-se
se de Lépido – com quem
competia pelo legado político de César –, Antônio
enviou-o
o à Espanha, com o pretexto de obter a
adesão de Sexto Pompeu, comandante das tropas
do exército naquela região. No dia 19 de março,
porém, ao abrir o testamento de Cé
César, Antônio
constatou que o imperator escolhera como herde
herdeiro seu sobrinho-neto
neto Caio Júlio, um jovem de 18
anos. Além disso, deixara 300 sestércios a cada
cidadão.
O segundo triunvirato
Otávio encontrava-se
se na Ilíria quando soube da
morte de César. Voltou imediatamente a Roma,
onde assumiu o nome de Caio Júlio César Otavi
Otaviano. Buscando a popularidade, vendeu seus bens
para distribuir a soma prometida aos romanos e
recrutou um exército pessoal entre os veteranos
de seu tio. Apesar disso, Cícero, porta
porta-voz dos
ideais republicanos, acreditou que o jovem pude
pudesse ser moldado de maneira a atender aos intere
interesses do Senado, tornando-se
se um instrumento na
luta contra Antônio. E, em 43 a.C., Otaviano ch
chegou mesmo a comandar as legiões do Senado
contra Antônio, na Gália. Mas percebeu a armad
armadilha. O Senado reforçara a posição dos assassinos
de César, entregando a Bruto o governo da Mac
Macedônia e a Cássio o da Síria. Otaviano apoderou
apoderou-se
de Roma, fez-se
se nomear cônsul, reconciliou
reconciliou-se
com Antônio e formou, com ele e Lépi
Lépido, um novo
triunvirato.
A PARTILHA DO PODER
Com o objetivo declarado de vingar Júlio César
– e, de fato, visando a obter fundos destinados à
organização de tropas para a luta pelo poder –,
Lépido, Antônio e Otaviano deram início ao mais
sangrento reinado
o de terror da história romana.
Entre as vítimas encontrava-se
se Cícero, que havia
incentivado os adversários de Marco Antônio com
os seus discursos no Senado, conhecidos como
Filípicas. Em 42 a.C. Cássio e Bruto, vencidos na
Grécia e na Macedônia, suicidaram--se. Os triúnviros dividiram o império entre si: Lépido ficou com
a África, Otaviano com o Ocidente e Antônio esc
escolheu o Egito, a Grécia e o Oriente.
Contudo, dificuldades aguardavam Otaviano em
Roma. Sexto Pompeu, leal aos vencidos, bloqueabloque
va a importação
o de trigo, praticando atos de pirapir
taria no Mediterrâneo; a sociedade estava desordeso
ganizada pelo terror e pelas espoliações; e Lúcio
Antônio e Fúlvia – o irmão e a esposa de Marco
Antônio – tramavam contra o jovem triúnviro. A
oposição evoluiu para o conflito
confli aberto, mas, em
40 a.C., Otaviano sitiou as tropas de Lúcio AntôAnt
nio e Fúlvia, obrigando-os
os a se render. Marco
Antônio, que se mantivera alheio aos aconteciacontec
mentos, surgiu ao largo de Brindisi com uma ese
quadra para cercar as forças de Otaviano. EntreEntr
tanto,, mais uma vez, interesses comuns levaram
os dois triúnviros a se reconciliar. Selando a alianalia
ça, Antônio casou-se
se com Otávia, irmã de OtaviaOtavi
no. Mas todos sabiam que esse tipo de solução
tinha caráter provisório.
Antônio e Cleópatra
Na raiz dessas disputas
s estava a oposição entre
a Itália empobrecida e as riquezas enormes do
Oriente – uma oposição que levaria, séculos mais
tarde, à divisão do Império Romano.
Para dominar o Oriente, Antônio aliou-se
aliou
a Cleópatra, rainha do Egito, em 41 a.C. Mais tarde
assumiu
u a união, enviando Otávia de volta a RoR
ma. Otaviano foi mais hábil: aproximou-se
aproximou
da alta
nobreza, desposando Lívia Drusila (38 a.C.), perpe
tencente a uma das mais ilustres famílias patrípatr
cias. Paralelamente, reduziu os impostos e restarest
beleceu o abastecimento de trigo, em 36 a.C.,
após ter derrotado Sexto Pompeu.
Em 32 a.C. Antônio casou-se
casou
com Cleópatra e
confirmou-a
a herdeira do Egito e das províncias
romanas do Oriente. Os cidadãos indignaram-se
indignaram
com o fato de Antônio dispor de territórios de
Roma como se fossem
sem de sua propriedade partipart
cular.
lar. Otaviano obteve um juramento de fidelidafidelid
de de todas as classes sociais romanas e declarou
guerra a Cleópatra.
OTAVIANO, IMPERADOR
O conflito foi decidido com a vitória de Otaviano
na batalha naval de Áctio, em 31 a.C. Cleópatra
Cl
voltou ao Egito com o que restava de sua esquaesqu
dra; Antônio acompanhou-a. No ano seguinte,
Otaviano lançou-se
se contra o Egito, onde Antônio,
incapaz de organizar uma defesa efetiva, suicisuic
dou-se.
se. Percebendo que jamais chegaria a um
acordo com Otaviano,, Cleópatra também se mam
tou.
Em 29 a.C., Otaviano foi recebido triunfantetriunfant
mente em Roma. Com Lépido afastado do poder
desde 36 a.C. e Antônio morto, o herdeiro de
César era o único senhor do Império. Mas, conco
vencido de que só teria condições de consolidar
sua
ua posição se preservasse formalmente as instiinst
tuições republicanas, agiu de modo cauteloso.
Restabeleceu o patrimônio das famílias patrícias
arruinadas para que a República aristocrática
voltasse a ser viável, mas permitiu que o Senado
e as Assembleias o cumulassem
umulassem de poderes. OtaOt
viano conservou a chefia suprema das forças ara
madas, “expurgou” o Senado em 28 a.C., redured
CLIO História – Textos e Documentos
zindo o número de seus membros para seisce
seiscentos, e foi nomeado princeps senatus (chefe do
Senado). Desse título, assumido também por seus
sucessores, derivou-se
se “principado”, designação
do regime de governo que vigorou na primeira
fase do Império (27 a.C. até fim do século II
d.C.). No principado, embora teoricamente o g
governante reconhecesse ser apenas chefe do S
Senado, sua autoridade era a de um monarca: det
detinha o poder legislativo, executivo e judiciário;
podia propor leis ou decretos às Assembleias e ao
Senado, fazê-las
las executar e punir quem as viola
violasse. Esses poderes fundamentaram a autoridade
imperial, num momento em que as famílias ari
aristocráticas
ticas fugiam ao exercício dos onerosos ca
cargos públicos.
Em 27 a.C., numa sessão que, para muitos e
estudiosos, assinala o início da concentração imp
imperial de poderes, Otaviano declarou sua intenção
de devolver todas as prerrogativas extraordinárias
que recebera.
ra. Os senadores rogaram
rogaram-lhe que
permanecesse na chefia do Estado e deram
deram-lhe o
título de Augusto, isto é, “sagrado”, “divino”.
A PAZ ROMANA
Em sua missão de organização do Império, A
Augusto contou com o auxílio de figuras destacadas
na vida romana, como Caio
aio Clínio Mecenas e Agripa, na área político-militar,
militar, e Virgílio, Horácio e
Tito Lívio, no campo cultural. Dedicou especial
atenção a Roma, organizando-a
a em bairros e
construindo numerosos monumentos. Além disso,
preocupou-se
se com a agricultura, impulsiona
impulsionando o
enriquecimento das províncias e distribuindo te
terras (sobretudo aos veteranos). Augusto apoiou a
classe do pequeno campesinato e incentivou o
comércio. No plano político, criou um conselho
especial constituído por parentes, amigos e outros
que lhe eram
m devotados (base do consilium pri
principis).
Com o tempo, as decisões desse conselho pr
privado ganharam a força dos senatus consulta,
enquanto o Senado recebia a administração das
finanças do Estado (aerarium) e o governo das
províncias pacificadas. Mas os senadores
adores mostr
mostraram-se
se incapazes de exercer até mesmo essas
limitadas funções, atribuindo toda a responsabil
responsabilidade ao imperador.
As assembleias e comícios foram se reunindo
com frequência cada vez menor e, em 18 a.C., o
direito dos plebeus à ocupação de cargos públicos
praticamente se extinguiu, com a lei que abria os
cargos apenas aos possuidores de mais de 400
000 sestércios.
Até o século V d.C. os tribunos e cônsules co
continuaram a ser eleitos, mas, como os principais
poderes tinham passado para o “príncipe”, suas
funções tornaram-se
se mais administrativas que
executivas e, finalmente, degeneraram em meros
títulos honoríficos.
No plano externo, Augusto procurou ampliar as
fronteiras do Império anexando a Numídia, a R
Récia, a Vindélica e a Panônia. Mas alguns desa
desastres
na Dalmácia e na Germânia, no curso dos quais
milhares de soldados romanos morreram – entre
os quais Druso, seu enteado, e Públio Quintílio
Varo, seu amigo –,, levaram Augusto a decidir-se
decidir
pela fortificação do Império e por uma política
defensiva. Era a pax romana, estendida sobre
todo o Ocidente.
Em 9 de agosto de 14 d.C., após ter dirigido por
mais de quarenta anos o maior Estado da AntiguiAntigu
dade, Otaviano morreu. Seu reinado passou para
a História com o nome de “a idade de ouro”, nun
ma alusão à paz e à prosperidade desfrutadas
durante o seu governo.
Não tendo filhos, Augusto escolheu como sucessuce
sor seu enteado Tibério, filho de Lívia e de um
patrício da ilustre família Cláudia. Considerado um
dos mais brilhantes generais de sua geração, o
futuro imperadorr foi adotado como filho por AuA
gusto, que lhe conferiu as prerrogativas do impeimp
rium e da tribunicia potestas (poderes dos tributrib
nos da plebe).
A sociedade na idade de ouro
A pax romana trouxe benefícios a todos, sobresobr
tudo aos romanos. Cada cidadão tinha em média
dois ou três escravos (havia os que não tinham
nenhum e outros que possuíam muitos).
Um fluxo continuo de caravanas abastecia RoR
ma de mercadorias de primeira necessidade e
supérfluas: madeira e minério, trigo e frutas, tet
cidos e joias, azeite e cavalos
los de corrida. Navios
carregados ancoravam nos portos de Óstia, NápoNáp
les, Bríndisi e Rímini, trazendo bens e escravos
dos confins do Império. Alguns cidadãos tornatorn
ram-se
se mais ricos que o próprio Augusto; a maiomai
ria da população deixou de trabalhar, pois, após
ap a
conquista do Egito, a abundância de trigo era
tamanha que permitia a sua distribuição de graça
ou quase de graça.
Muitos preenchiam o otium (ócio) estudando,
aprendendo línguas estrangeiras, arte e literatura.
A maioria dos ricos, porém, entregava-se
entregava
a colossais banquetes e a divertimentos cada vez mais
grosseiros, em estúpidas exibições de luxo e rir
queza. A plebe passava a maior parte do tempo
assistindo a lutas violentas, às expensas do EstaEst
do. Era a degeneração dos costumes romanos. Os
resultados embora
bora não imediatos, quando se rer
velaram, foram catastróficos.
A crise do Império Romano
Nos dias de hoje os limites de um país são defidef
nidos por um simples traçado no mapa ou por um
discreto posto destinado à polícia de fronteira. No
Império Romano, porém,, as fronteiras, demarcademarc
das por monumentos e construções, eram mais
que concretas. A Muralha de Adriano, entre a
Inglaterra e a Escócia, constitui um dos mais non
táveis desses marcos. E uma barreira defensiva
de 118 km de extensão, que corta a Grã-Bretanha
Grã
de costa a costa. A manifesta intenção de defesa
contida nessas grandiosas obras era, sem dúvida,
um indício de que os romanos ganhavam consciconsc
ência de suas fraquezas e do gradativo declínio de
seu império.
CLIO História – Textos e Documentos
O “LIMITES” ENTRE OS BÁRBAROS E OS R
ROMANOS
Quase todas as fronteiras do Império Romano
eram assinaladas por um limite (limes), cuja pri
principal função era defensiva. Tratava
Tratava-se de estradas
fortemente guarnecidas ao longo da fronteira, que
dispunham de torres de vigia colocadas a distâ
distâncias regulares. Dessa maneira era possível contr
controlar qualquer tipo de movimentação.
Em caso de invasão, os soldados romanos ttinham ordem de recuar até uma posição pred
predeterminada, onde encontrariam reforços. Dispondo
de estradas pavimentadas e superprotegidas, as
tropas romanas deslocavam-se
se a uma velocidade
superior à dos invasores, obrigados a movime
movimentar-se em terreno inóspito.
A resistência era organizada na retaguarda, o
onde se aquartelavam os manípulos (unidades de
composição variável entre 100 e 160 homens) e
as centúrias (grupos
grupos de 100 soldados). Quando a
invasão era maciça, as tropas deveriam recuar
mais ainda e concentrar-se
se junto às pequenas
cidades de fronteira, onde estacionavam as leg
legiões. Por muitos séculos esse sistema permitiu
uma defesa eficiente do império contra as agressões.
O jogo do poder
Depois de vencer Marco Antônio e consolidar
sua autoridade sobre a decadente República, Caio
Júlio César Otaviano – denominado Augusto –
tornou-se
se o chefe supremo de 50 000 soldados. O
poder assentava-se
se sobre as legiões, e estas, que
o haviam levado à vitória, poderiam derrubá
derrubá-la a
qualquer momento. Para neutralizá
neutralizá-las, Augusto
desmobilizou cerca de 300 000 homens, dando
dandolhes terras e compensações em dinheiro. Manteve
na ativa apenas as legiões aquarteladas nas pr
províncias mais
is distantes, onde podiam exercer fu
funções defensivas sem ameaçar o poder em Roma.
Essa política iniciou um processo de “provinci
“provincialização” do exército, que se acentuou nos séculos
seguintes. As legiões começaram a ser formadas
por soldados profissionais, comandados
mandados por um
general também mercenário.
A partir desses elementos, pode--se concluir que
a queda do Império Romano não foi direta e e
exclusivamente provocada pela ascensão dos bárb
bárbaros, que invadiram as fronteiras do império. Esse
processo começou muito antes,
ntes, com a crise inte
interna do exército, que se estendeu a outros setores
da sociedade.
OS SUCESSORES DE AUGUSTO Tibério – Dez
anos antes de morrer, Augusto adorou Tibério
como filho e o nomeou seu herdeiro. Acatando
sua vontade, em 14 d. C., o Senado legi
legitimou a
sucessão, atribuindo a Tibério as honras de imp
imperator, princeps e o título de Augustus (que se
tornou hereditário). Bom imperador no inicio,
Tibério pouco a pouco transformou--se num tirano
impiedoso. Morreu no ano 37.
Calígula – Em criança, Caio César Germânico
recebeu o apelido de “Calígula” (pequena bota)
por sua mania de andar calçado com as caligae,
botas militares feitas com tiras de couro e pregos
na sola. Como era herdeiro da imensa fortuna da
dinastia Julio-Claudia (a mesina
esina de César e AuA
gusto), o Senado não pôde deixar de proclamá-lo
proclamá
imperador.
Considerado por todos um desequilibrado menme
tal, Calígula não logrou marcar sua passagem
pelo governo imperial coai qualquer realização.
Mandou decapitar vários senadores, e alguns
algun relatos dizem que, num gesto de profundo desprezo
pelas instituições romanas, nomeou cônsul seu
próprio cavalo. Foi assassinado pela guarda pretopret
riana no ano 41.
Cláudio – Os pretorianos imediatamente alçaalç
ram ao poder o estudioso Cláudio, tio de Calígula.
Calígula
Pretendiam dominar um imperador frágil e, dessa
maneira, conservar a autoridade efetiva, mas
para surpresa geral Cláudio revelou-se
revelou
um administrador competente. Governou com grande sas
bedoria, restituindo ao Senado parte do poder
perdido. Expandiu o império,
io, conquistando o atual
Marrocos e submetendo definitivamente a BretaBret
nha (Inglaterra). Morreu envenenado por AgripiAgrip
na, mãe de Nero, no ano 54.
Nero – E o mais tristemente famoso dos impeimp
radores romanos, devido ao incêndio de Roma e
ao massacre dos cristãos.
s. Apesar dos seus desde
mandos, assessorado pelo prefeito pretoriano
Burro e pelo filósofo Sêneca, exerceu um governo
equilibrado até 62. Afastados os conselheiros,
concentrou autoritariamente todo o poder em sua
própria pessoa. O caos se instalou a tal ponto
pont no
império que as legiões rebelaram-se,
rebelaram
cada urna
delas querendo impor seu “imperador”. Em 68
Nero foi declarado inimigo público pelo Senado e
para não ser preso fez-se
se matar por um servo.
Vespasiano – Durante o ano 69 estiveram precaprec
riamente no poder pelo
lo menos três imperadores,
cada um deles apoiado por suas legiões. A disputa
foi vencida pelo general Tito Flávio Vespasiano,
“candidato” das tropas do Oriente. Era o começo
de uma nova dinastia, a Flaviana. Vespasiano
reorganizou o império: fundou muitas cidades e
patrocinou maior romanização da cultura nas propr
víncias. Iniciou a construção do anfiteatro FlaviaFlavi
no ou Coliseu. Morreu em 79.
Tito – Filho de Vespasiano, famoso por suas
campanhas na Palestina (onde sufocou unia viovi
lenta rebelião e se apoderou dos
do tesouros de Jerusalém), Tito governou com sabedoria e generogener
sidade, obtendo grande aceitação popular. Morreu
cor 81. Seu reinado durou apenas dois anos.
Domiciano – Irmão de Tito, foi um imperador
enérgico e cruel. Consolidou as fronteiras na BreBr
tanha e na Germânia. Travou uma longa disputa
com o Senado, a fim de limitar seus poderes, e
perseguiu violentamente os cristãos. Foi assassiassass
nado em 96, com a cumplicidade de Domícia, sua
mulher. Tinha então 45 anos.
PROSPERIDADE E DECLÍNIO
O século II da era cristã
istã foi a idade áurea do
Império Romano. Áurea e contraditória: enquanto
Roma estendia sua influência cultural e econômica
até as mais distantes regiões, uma crise generaligeneral
CLIO História – Textos e Documentos
zada tornava conta do núcleo original do império,
a cidade de Roma e a península Itálica.
álica.
Crise moral
Jesus Cristo nasceu durante o reinado de A
Augusto e foi supliciado quando Tibério era imper
imperador. Em pouco tempo o cristianismo difundiu
difundiu-se
por todo o mundo romano. No mesmo período
surgiram doutrinas filosóficas que falavam de
coisas que um legionário das Guerras Púnicas
teria considerado indignas de um “verdadeiro
romano”: fraternidade, liberdade, piedade e just
justiça.
Do ponto de vista da história da civilização, e
esses novos estilos de pensamento representavam
um passo adiante. Mas eles suscitavam
scitavam dúvidas
que abalavam os valores firmados pelas próprias
estruturas da sociedade romana: “Seria justo
obedecer a um imperador como se ele fosse um
deus?” “Seria justo matar e morrer pelo poderio
de Roma?” “Seria justo que Roma dominasse o
mundo'?”
Corrupção dos costumes
Enquanto alguns se convertiam secretamente
ao cristianismo ou seguiam alguma outra filosofia
“humanitarista”, a maior parte da população aprovava o, martírio dos cristãos, considerados
inimigos do Estado. Com frequência cada vez
maior,
or, o sacrifício dos cristãos era transformado
em espetáculo público, nas arenas do majestoso
Coliseu. Muitos tinham simplesmente abandonado
a antiga religião, sem substituí-la
la por outra. Os
indivíduos queriam enriquecer, gozar a vida, e
ignoravam deliberadamente os problemas da c
comunidade. A crise das instituições romanas trad
tradicionais atingia agora os costumes.
Crise econômica
Um dos grandes orgulhos da Roma Imperial era
a rapidez e eficiência de seus transportes. Navios
de três cobertas transportavam de 250 a 1 000 t
de mercadorias. A uma velocidade média de 5 nós
(cerca de 9 km/h), com ventos favoráveis, e
embarcações levando o máximo de carga percorriam
220 km por dia.
se de Óstia a Tarragona, na
Em quatro dias, ia-se
Espanha; em dois dias chegava-se
se em Car
Cartago;em três,em Marselha; em nove dias atingia
atingia-se
Alexandria, no Egito. De março a outubro, os m
mares eram cruzados por navios abarrotados de
mercadorias destinadas a Roma e outras cidades
italianas.
Alimentada pela própria expansão imperial,
Roma tornava-se
e uma cidade exclusivamente
consumidora. A mão-de-obra
obra livre, necessária
para arar a terra, para fazer funcionar a indústria
e o comércio, era muito cara. E, devido aos lo
longos decênios de paz e a derrota da pirataria, eram reduzidas as possibilidades de se conseguir
escravos. O resultado é que os campos romanos
retraíram-se:
se: era mais conveniente deixar ao léu
os latifúndios do que empregar dinheiro no pag
pagamento dos trabalhadores da terra
Quanto aos produtos industriais, as províncias
que se encarregassem de produzi-los,
produzi
e os navios
e caravanas de carros que tratassem de fazê-los
fazê
chegar a Roma. Essa situação não poderia durar
eternamente. A crise econômica instalada na ItáIt
lia, centro nervoso do império, aos poucos iria se
alastrando implacavelmente por todos os seus
domínios.
OS IMPERADORES DA IDADE ÁUREA
Trajano (98/117) – Seu predecessor, Nerva,
reinou por apenas dois anos, mas estabeleceu
dois importantes princípios: colaboração com o
Senado, para evitar que a nobreza romana se
revoltasse contra o soberano,e designação do
sucessor, adotado como filho pelo imperador.
Foi assim que pela primeira vez um “provincia“provinci
no”, o espanhol Trajano, governador da Germânia
Superior, subiu legitimamente ao trono dos CésaCés
res.
Trajano governou com sabedoria. Conquistou
Conquisto a
Dácia (Romênia), a Armênia, a Mesopotâmia e
parte da Arábia. Com ele, o império atingiu sua
máxima extensão em territórios ocupados. Morreu
na Cilicia, sendo reconhecido como um dos mais
notáveis imperadores.
Adriano (117/138) – Também espanhol, encerence
rou
ou a fase de expansão e começou a de defesa:
enfatizou a política de alianças e construiu muramur
lhas nas fronteiras da Bretanha, Germânia, Dacia
e Mauritânia. Amava as artes e a cultura. FavoreFavor
ceu a criação de monumentos por todo o impeimpe
rio. Para seu túmulo, fez erguer sobre o Tibre o
Mausoléu de Adriano.
Antonino Pio (138/161) – De origem gaulesa,
recebeu do Senado a designação de “pio” provaprov
velmente pela reverência que prestou à memória
de Adriano. Deu prioridade à administração da
Itália, da qual nunca se afastou durante seu longo
reinado Até sua morte, viveu retirado em, sua
casa de campo, perto de Roma, deixando ao SeS
nado a responsabilidade pelos negócios do EstaEst
do.
Marco Aurélio (161/180) – Foi um imperadorfilósofo, estudioso e escritor. Admirável por sua
s
extrema habilidade de governante, conduziu energicamente duas guerras contra os inimigos de
Roma que ameaçavam o império pelas margens
orientais do Adriático. Só cometeu um erro de
graves consequências:: nomeou herdeiro seu filho
Cômodo, que cedo se revelou
lou incapaz e arbitrário.
No governo de Cômodo (180/192) a desordem
voltou a instaurar-se.
se. As legiões se rebelaram,
dilacerando o império, cada uma tentando impor
seu próprio “candidato” ao poder supremo. VenVe
ceu a disputa um general vindo da África oriental,
orienta
Sétimo Severo, que governou com férrea disciplidiscipl
na militar até 211, quando morreu numa campacamp
nha contra a Inglaterra.
Caracala (211/217) – Filho e sucessor de SéS
timo Severo, Caracala estendeu em 212 o direito
de cidadania a todos os cidadãos do império.
Mandou construir em Roma as mais grandiosas
termas de que se tem notícia: as Termas de CaraCar
cala, inauguradas em 216. No ano seguinte' foi
CLIO História – Textos e Documentos
assassinado. Com sua morte, o império passou a
ser palco de violentas disputas pelo poder. E
Enquanto isso acentuava-se a crise econômica. Ch
Chegava ao fim a idade áurea do Império Romano.
“MORITUR ET RIDET”
Algumas décadas depois, referindo
referindo-se ao destino do império que fora a maravilha do mundo, um
escritor latino plasmou a frase que se tornaria
famosa: Moritur et ridet, ou seja, “morre e ri”.
O luxo, as festas e os espetáculos nunca foram
tão ostensivos como durante esse período. Por
outro lado, era evidente que uma época gloriosa
da história do mundo estava se encerrando. Da
idade do ouro caminhava-se
se para uma soturna
idade do ferro e das espadas.
As décadas “negras”
O século III, espectador da anarquia militar, foi
o século "negro”. Com algumas exceções, durante
esse período o título de imperador foi usado por
soldados incultos, apoiados por exércitos que de
romanos tinham só o nome. Em geral, eram int
integrados por bárbaros e mercenários, sediados nas
regiões mais longínquas e pobres do império.
O poder central era extremamente frágil. Os
imperadores mantinham-se
se no trono por tempo
curto e caíam de modo violento: na sua maioria
eram vítima de conspiração e assassinato.
O tradicional orgulho romano sofria sucessivas
humilhações. Desde o leilão da coroa imperial –
farsa encenada pelas legiões –,, passando pelo
evento do milésimo aniversário da fundação de
Roma, ironicamente comemorado por um imper
imperador árabe, Felipe Árabe (filho de um xeque que
conseguira manter-se
se no poder durante alguns
meses), até a intolerável desonra acontecida com
o imperador Valeriano, que, aprisionado durante
uma batalha em 260, morreu como refém nas
mãos dos inimigos de Roma.
Ameaças externas
Enquanto o império enfraquecia, crescia a cor
coragem dos povos não romanos acantonados nas
fronteiras. Em numerosas ocasiões as legiões
romanas viram-se
se na contingência de enfrentar
invasores substancialmente mais fortes, ainda
que menos organizados. Manter o equilíbrio dessa
situação custou um alto preço. Territórios inteiros
tiveram que ser doados. Inimigos de ontem to
tornavam-se aliados arrogantes.
Ninguém ousava ainda sonhar que esses aliados
incultos seriam os futuros
turos donos do império.
A verdade é que Roma e a própria península Itálica deixavam de existir enquanto unidades pr
produtivas. A agricultura fora abandonada e as lim
limitadas jazidas minerais italianas estavam exaur
exauridas. As indústrias e lojas de artesãos fechav
fechavam
suas portas, devido ao alto custo da mão
mão-de-obra,
da concorrência estrangeira e da voracidade do
fisco, que tornavam essas atividades pouco re
rentáveis. Em resumo, o núcleo original do mundo
romano desmoronava com rapidez.
Era de se esperar que a Itália sentisse
entisse a crise
mais diretamente. Havia mais de um século que a
península vivia dos frutos – importados – do trabalho alheio. A tudo isso acrescentava-se
acrescentava
a necessidade cada vez maior de dinheiro que o impeimp
rador demandava para pagar as legiões que o
apoiavam,
m, assim como os funcionários que, bem
ou mal, mantinham o sistema imperial em atividade.. Na verdade, a corrupção já era parte inteint
grante do sistema, e o orçamento tinha que aba
sorver, além de salários e honorários, a parcela
correspondente às propinas. A indisciplina
i
ea
desordem administrativa eram generalizadas. Os
funcionários encarregados de cobrar os impostos,
lá onde isso ainda era possível, desviavam aberabe
tamente uma considerável parcela para si própr
prios.
Cada imperador aumentava os impostos na rar
zão direta do aumento dos gastos públicos. Os
antigos patrícios sentiram-se
se ultrajados quando
também tiveram de pagar impostos regulares,
antes obrigatórios apenas para os plebeus. Essa
indignação pode ser avaliada a partir dos numeronumer
sos escritos deixados por pessoas de origem non
bre, em que se lastimam, declarando que era
melhor viver como “pobre” entre os bárbaros do
que como cidadão romano.
Abandonando as cidades
Apesar dos altos impostos que recolhia, o EstaEst
do não garantia nem mesmo os serviços essenciessenc
ais. A delinquência aumentara incontrolavelmente
e não havia polícia. O comércio sofria os efeitos
da falta de segurança das estradas e dos portos.
Ninguém tinha capacidade para devolver a paz
aos mares invadidos por novos piratas.
O resultado foi que os potentiores
potent
(proprietários
poderosos) mais perspicazes começaram a abanaba
donar os centros urbanos, inseguros e carentes
de serviços. Instalavam-se
se em suas casas de
campo, fortificando-as
as com torres e altos muros.
As populações locais passaram a pedir-lhes
pedir
proteção,, oferecendo seu próprio trabalho em troca do
privilégio de abrigar-se
se naqueles núcleos. TornaTorn
vam-se
se servos do grande proprietário rural, logo
denominado dominus (senhor, tratamento anterianter
ormente reservado apenas aos deuses ou ao imi
perador). A crise global do império, exigindo non
vas estratégias de vida, criava as bases para a
organização social da Idade Média.
Última tentativa para salvar o império
Em 284, um soldado da Ilíria (atual Iugoslávia)
chamado Diocle tornou-se
se imperador, com o non
me de Diocleciano.. Através de profunda reforma
administrativa, durante algum tempo ele consecons
guiu restabelecer a dignidade do império. Dividiu
as províncias em dois blocos, confiando cada um
deles a um imperador que levava o título de AuA
gusto. O próprio Diocleciano encarregou-se
encarreg
do
Oriente enquanto o Ocidente foi entregue a um
general de confiança, Maximiano. Cada uma das
metades foi subdividida em duas partes, adminisadmini
tradas por um subalterno com o título de César.
Era a “tetrarquia”, um governo de quatro. CriaCri
ram-se quatro capitais: Milão, na Itália; NicoméNicom
dia, na Ásia Menor; Treves, na Alemanha; Sírmio,
CLIO História – Textos e Documentos
na Iugoslávia. Todas essas cidades situavam
situavam-se
perto de fronteiras, que eram cada vez mais ameaçadas pelos bárbaros.
No terreno econômico-social,
social, Diocleciano impôs
preços e salários fixos e, para evitar o abandono
do trabalho, criou um sistema em que as profi
profissões deveriam ser transmitidas hereditariamente.
O filho do camponês deveria ser camponês na
mesma terra; o filho do artesão teria a profissão
do pai. Desse modo, retardou
ou por algumas déc
décadas a agonia do império e criou os instrumentos
para que se estabelecesse uma nova ordem soc
social, baseada no trabalho servil e nas corporações
de ofício.
O Império Rom
Romano-Cristão
Duas letras gregas, o chi (X, =
C) e o rho (P, = R), form
formavam
um dos símbolos usados pelos
cristãos primitivos para represe
representar Jesus Cristo, pois indicavam as primeiras lletras do seu nome. Além disso, curiosamente, o
chi lembra a forma de uma cruz. Além desses
símbolos gráficos, havia muitos outros, entre eles
o peixe e o cordeiro.
Quando Jesus nasceu, os judeus da Palestina
gozavam de privilégios raramente concedidos às
populações das províncias romanas. Estavam
desobrigados de participar das cerimônias religi
religiosas oficiais, inclusive do culto aos imperadores,
pois sua religião, além de monoteísta, proibia a
adoração de imagens; apesar disso, tinham ace
acesso aos cargos públicos e chegavam a receber a
cidadania romana. Haviam conseguido um gove
governo local próprio, sujeito apenas a uma espécie de
supervisão dos romanos.
Tais regalias não representavam o reconhec
reconhecimento, por Roma, do poder de Jeová, ou das vi
virtudes do monoteísmo, que distinguia os judeus
dos demais povos da Antiguidade. Haviam sido
outorgadas por Augusto como uma recompensa
ao povo da Judéia, que o auxiliara,
iara, em 31 a.C., na
luta contra seu rival Marco Antônio.
No tempo de Cristo, o principal local de culto
dos hebreus era o santuário de Jerusalém, que
deveria ser visitado pelo menos uma vez na vida,
mesmo pelos judeus que não vivessem na Pale
Palestina. E havia
a milhares deles espalhados em quase
todas as províncias romanas, sobretudo nas reg
regiões asiáticas que haviam pertencido sucessiv
sucessivamente aos babilônios, aos persas e a Alexandre
da Macedônia. Eram os judeus da Diáspora, pal
palavra grega que significa “dispersão”.
”.
Durante séculos os judeus alimentaram a esp
esperança de que em breve viria um Messias para
resgatá-los
los da dominação estrangeira, recond
reconduzindo-os
os às glórias da época de Davi e Salomão.
Foi nessa atmosfera de intensa convicção religiosa
que nasceu Jesus. Segundo
undo os Evangelhos, até os
30 anos ele ganhou a vida como carpinteiro na
cidade de Nazaré. Em seguida tornou
tornou-se pregador
itinerante, vivendo em extrema pobreza. Reuniu
em torno de si um grupo de discípulos, enquanto
se difundia sua reputação de homem humilde
humil
e
caridoso. Jamais contradisse os preceitos do Velho
Testamento, mas sua mensagem diferia da dos
antigos profetas pela importância que dava ao
amor no sentido de fraternidade e bondade. Isso,
naturalmente, incluía o desapego aos bens matemat
riais e a força para enfrentar as vicissitudes deste
mundo. A recompensa viria com a vida eterna no
reino dos céus, aberto a todos os justos, especiespec
almente os pobres e desprezados. Muitos acolheacolh
ram-no
no como o Messias, outros o viram como um
perigoso agitador. Mas Jesus não
nã prometia uma
libertação política “neste mundo” e seus ensinaensin
mentos eram uma crítica à ordem religiosa e socisoc
al dos judeus de seu tempo.
A “BOA NOVA”
Entre os que se opunham a Jesus estavam os
sacerdotes, pertencentes ao grupamento político
religioso dos saduceus, que o acusaram de blasbla
fêmia quando ele se proclamou Filho de Deus. De
acordo com a lei hebraica, esse ato era punido
com a morte, mas, como o tribunal judeu – o
Sinédrio – não tinha competência para impor a
pena capital, Jesus foi conduzido a Pôncio
Pô
Pilatos,
procurador (governador) romano da província.
Após uma apressada audiência, Pilatos acolheu a
solicitação dos sacerdotes e expediu a sentença:
morte por crucificação, a mais infame de toda as
penas previstas pela lei romana.
Segundo o Novo Testamento,
tamento, Jesus ressuscitou
ao terceiro dia e teve vários encontros com os
discípulos, dando a cada um deles a obrigação de
pregar o Evangelho (do grego euangelion = boa
nova). Os discípulos transformaram-se,
transformaram
então, em
apostili, ou seja, em enviado.s, mensageiros
mensa
e
anunciadores da doutrina de Jesus. Nascera mais
uma das várias seitas judaicas: o novo credo,
fundamentado na vinda do Messias, na ressurreiressurre
ção do corpo e na volta de Jesus Cristo, não imi
pedia que os apóstolos continuassem a obedecer
à maior parte dos ritos hebraicos e a frequentar o
templo, em cujo átrio pregavam.
Por algum tempo as autoridades de Jerusalém
toleraram a nova e pequenina seita. Mas, como
em poucos anos o número de “nazarenos” aua
mentou
tou de 120 para 8 000, os sacerdotes alarmaalarm
ram-se, e os apóstolos começaram a ser detidos.
Assim, na terceira década da era cristã, Estevão,
chefe cristão dos gregos convertidos, foi condecond
nado à morte por apedrejamento em Jerusalém.
Mas a cisão definitiva entre judeus e cristãos só
se efetuou em 66, quando os judeus se rebelaram
contra Roma, e os “nazarenos” de Jerusalém,
alegando que o fim do mundo estava muito própr
ximo para que se preocupassem com política,
saíram da cidade e se estabeleceram às margens
do rio Jordão.
A DIFUSÃO DO CRISTIANISMO
Quando, no ano
no 70, Tito ordenou a destruição
do templo de Jerusalém, como punição à revolta
dos judeus, os cristãos viram nesse fato a realizarealiz
CLIO História – Textos e Documentos
ção de uma profecia de Jesus. A partir de então o
cristianismo não fez muitos adeptos entre os jjudeus, pois ignorava seus esforços
rços de libertação do
jugo romano.
Paralelamente, os apóstolos espalhavam a “boa
nova” entre os judeus da Diáspora, de Damasco a
Roma. Filipe conseguiu adeptos em Samaria e
Cesaréia; João criou uma forte comunidade cristã
em Éfeso, e Pedro evangelizou nume
numerosas cidades
da Síria e da Ásia Menor.
O grande missionário
Um dos convertidos ao cristianismo estava de
destinado a tornar-se
se o maior de todos os mission
missionários cristãos. Era Paulo, um judeu possuidor de
cidadania romana e que participou em Jerusalém
da primeira
eira perseguição aos cristãos por volta do
ano 30. Cinco anos depois, quando seguia para
Damasco, Paulo teve uma profunda experiência
religiosa na qual acreditou ter tido uma visão de
Cristo.
Converteu-se
se imediatamente e transformou
transformou-se
num missionário infatigável.
tigável. Percorreu a Grécia e
a Ásia Menor, atraindo para o cristianismo tanto
judeus quanto gentios; não se cansava de repetir
que o cristianismo não era uma seita do judaí
judaísmo. Seu apostolado resultou na adesão de dez
dezenas de milhares de gentios (não judeu
judeus), que
formavam a maior parte da população do Império
Romano.
O cristianismo primitivo
Graças ao intenso trabalho de Pedro, Paulo e
outros apóstolos, o cristianismo estava firmeme
firmemente estabelecido no final do século I. Os cristãos
reuniam-se em recintos privados,
rivados, organizados
segundo o modelo judeu da sinagoga; a congr
congregação recebia o nome de eklesia (igreja). No d
domingo, dia da ressurreição do Senhor, os cristãos
reuniam-se
se para o rito semanal. Os sacerdotes
liam as Escrituras, oravam e pregavam sermões
doutrinais.
utrinais. No século II, essas cerimônias torn
tornaram a forma da missa, baseada em rituais juda
judaicos (orações, leituras de salmos, prédicas) e de
outras religiões da época (a comunhão – na qual
o pão e o vinho são concebidos como símbolos do
corpo e do sangue de Cristo – inspirava
inspirava-se num
rito sacrifical).
O que existia de realmente novo era a exigência
de uma vida baseada nos preceitos cristãos. A fé,
segundo Cristo, devia refletir-se
se nas boas obras;
todos os bens eram partilhados em comum; lo
louvavam-se o celibato
o e os laços de família. O cre
crente deveria, em suma, fazer de sua vida um exe
exemplo de piedade e virtude.
AS PERSEGUIÇÕES
Sendo Roma a capital do Império Romano, era
natural que os discípulos de Cristo
sto acorressem
para evangelizá-la. Pedro chegou a Roma por
volta do ano 40, e Paulo cerca de vinte ano.s d
depois. Ambos morreram em 64, o primeiro crucif
crucificado e o segundo decapitado, no tempo do imp
imperador Nero.
Antes de Nero, os cristãos tinham sido consideconsid
rados, em Roma e nas províncias, como praticanpratica
te.s de uma seita
eita judaica, e, portanto, estavam
isentos de frequentar as cerimônias religiosas
oficiais. Logo, porém, tornou-se
tornou
evidente que os
cristãos não deviam ser tratado.s como judeus:
as relações entre os "nazarenos’' e as várias seise
tas judaicas estavam longe de serem amigáveis.
Contudo, os cristãos continuaram a recusar a
participação nas cerimônias oficiais, nas funções
públicas e no exército, para não prestar juramenjurame
to em nome de desses pagãos.
Nero inaugurou as perseguições fazendo execuexec
tar Pedro e Paulo e vários
rios milhares de cristãos.
Muitos foram destroçados por animais ferozes;
outros, abatidos por gladiadores. As perseguições
prosseguiram sob Domiciano (81/96), Trajano
(98/117) e Marco Aurélio, o imperador dos filósofilós
fos (161/180). Cessaram na época de Cômodo
Cômod
(180/192) e retornaram com Sétimo Severo
(193/211). Seguiu-se
se um período de trégua, mas,
no século III, Décio, Valeriano e Diocleciano fizefiz
ram tentativas sucessivas para destruir os criscri
tãos em todo o império. Nessa época, Roma estaest
va acossada pelos bárbaros
aros que ameaçavam as
suas fronteiras, depauperada economicamente:
uma onda de sentimento religioso, patriotismo e
medo tomou conta da população. Os cristãos, à
margem do tumulto e hostis ao serviço militar,
foram responsabilizados pelo colapso. Por fim, o
governo imperial viu-se
se forçado a desistir das
perseguições, pois elas pareciam só aumentar 0
número de fiéis. A última campanha em larga
escala encerrou-se
se em 311.
As catacumbas
Na época das perseguições, as catacumbas serse
viam de local de refúgio aos cristãos,
cr
embora não
tivessem sido construídas com esse objetivo. Na
realidade foram criadas por volta do ano 100,
quando os cristãos de Roma, adotando as traditrad
ções sírias e etruscas, começaram a enterrar os
mortos ad catacumbas (nas cavidades), possivelpossive
mente
e mais por economia de espaço do que para
ocultamento. Extensas galerias subterrâneas eram abertas em vários níveis e as paredes recebireceb
am até três corpos, dispostos horizontalmente.
O COLAPSO DE ROMA
Apesar de os imperadores e a população romarom
na fiel aos deuses tradicionais atribuírem aos criscri
tãos a debilitação de Roma, as dificuldades que
assolavam o império decorriam de sua própria
organização política, social, econômica e jurídica.
Em 212, por exemplo, o imperador Caracala tinha
concedido a cidadania a todos os que viviam nas
várias províncias de Roma (cerca de 100 milhões
de pessoas). A intenção não era humanitária;
simplesmente visava obter maior arrecadação de
taxas, conseguir recursos para os cofres imperiimper
ais. A pesada tributação, de resto, levara gradugr
almente à decadência do comércio e das manufamanuf
turas e à transferência de significativas parcelas
da população para as regiões não romanizadas,
onde estavam a salvo dos coletores.
CLIO História – Textos e Documentos
E além disso havia os “bárbaros”, as tribos n
nômades que pressionavam as fronteiras
nteiras do imp
império. Em 293, Diocleciano tentou sanar todos esses
problemas por meio de uma profunda reforma
administrativa. Para melhor defender os territ
territórios romanos dividiu-os
os em duas partes, a oriental
e a ocidental. Cada uma dessas partes foi subd
subdividida em duas outras, criando-se
se desse modo
quatro unidades territoriais.
Para evitar que após a sua morte o império fo
fosse destroçado pelas lutas entre os pretendentes,
Diocleciano criou a tetrarquia (governo de qu
quatro). Dois eram imperadores de fato (os aug
augustos)
e residiam em Nicomédia, no Oriente, e em Milão,
no Ocidente. Cada augusto era auxiliado por um
césar, que deveria sucedê-la.
la. Mas o sistema só
funcionou enquanto Diocleciano esteve no poder.
Para resolver a grave crise econômica, Dioclec
Diocleciano estatizou
ou as manufaturas, o comércio e as
corporações de artesãos. Essas medidas, porém,
quase nada resolveram. Cada reforma ampliava
os custos com a administração, e não havia rrecursos para efetuá-las.
A VITÓRIA DO CRISTIANISMO
Enquanto o império entrava em ver
vertiginosa
queda, o número de cristãos multiplicava
multiplicava-se de
ano para ano; entre seus adeptos havia patrícios,
altos oficiais e até mesmo membros da família
imperial. Os cristãos, na verdade, constituíam
uma sociedade à parte, que funcionava perfeit
perfeitamente no interior
terior da estrutura social romana em
crise generalizada.
O alto prestígio moral e a devoção dos fiéis atribuíram uma dimensão de autoridade civil à
hierarquia religiosa, sobretudo nas províncias
onde seu poder era real e reconhecido. Os presb
presbiteroi (presbíteros),
teros), os padres, eram, na prática, a
autoridade máxima nas paróquias ou bairros a
administrativos em que eram divididas as cidades do
império. Gradativamente, a autoridade do bispo
(chefe religioso de uma cidade) tornou
tornou-se mais
respeitada que a do prefeito romano; para a p
população de uma província era mais importante a
palavra do metropolita, ou arcebispo, que a do
governador romano. E, pouco a pouco, o sínodo,
ou assembleia de bispos, assumiu as funções das
assembleias provinciais. Uma carta encíclica, ou
seja, uma “circular” assinada pelo papa e difund
difundida com rapidez por todo o império, tornava
tornava-se lei
férrea para milhões de cristãos.
A aliança com os cristãos
Em 305 Diocleciano e Maximiano, o outro a
augusto, abdicaram; o criador da tetrarquia retirou
retirouse para seu palácio em Spalato, de onde acomp
acompanhou o fracasso de dois de seus projetos: destruir
os cristãos e garantir uma sucessão pacífica. “O
sangue dos mártires é semente”, escrevia Tertul
Tertuliano, teólogo cristão.
Diocleciano e Maximiano foram sucedidos por
Galério e Constâncio Cloro, que nomearam os
césares Severo e Maximiano Daia. Em 306 mo
morreu Constâncio Cloro, e a tetrarquia passou a
reunir Galério e Severo e os césares Maximiano e
Constantino, filho de Constâncio Cloro. AproveiAprove
tando-se
se do descontentamento
descontentamen dos pretorianos
ameaçados de transferência ou demissão e dos
rumores de que Roma deveria se sujeitar aos
impostos provinciais, Maxêncio (filho de MaximiaMaximi
no) proclamou-se
se imperador.
A disputa seria resolvida através de um comco
plexo jogo de alianças, durante
duran o qual o império
chegou a ser entregue a seis augustos. Foi nesse
período confuso que, pela primeira vez, o cristiacristi
nismo teve sua influência política. Apesar da sansa
guinária perseguição de Diocleciano, os cristãos
eram um poderoso elemento no jogo do poder;
pod
muito hábil, Constantino soube utilizá-los.
utilizá
Apresentou-se
se como defensor do cristianismo, contra
o qual Maxêncio ainda lutava, e na batalha de
Ponte Milvia (312) venceu Maxêncio com o auxilio
dos cristãos. No ano seguinte, juntamente com
Licínio, o augusto
sto do Oriente, lançou o Edito de
Milão, pelo qual o cristianismo ganhava plena
liberdade de culto. Leis subsequentes isentaram
os sacerdotes do pagamento de impostos e deram
à Igreja o direito de receber heranças.
Até então Constantino tivera em Licínio um
u aliado. Mas, a pretexto de uma política de perseguipersegu
ção de Licínio aos cristãos, Constantino obrigou-o
obrigou
a abdicar, exilou-o
o e, depois, ordenou a sua exeex
cução (324). Era o fim dos últimos resquícios da
reforma de Diocleciano; a unidade administrativa
era restabelecida.
stabelecida. Roma, entretanto, não voltaria
a ser a capital: em 330 o imperador ergueu a
cidade de Constantinopla, no lugar de Bizâncio,
centro grego da Ásia Menor, e ali se estabeleceu.
Após a morte de Constantino o império foi non
vamente dividido. Seus sucessores
cessores favoreceram
os cristãos e perseguiram o paganismo, à exceção
de Juliano, conhecido na literatura cristã como
Juliano, o Apóstata, que reinou de 361 a 363.
A UNIFICAÇÃO DA DOUTRINA
Os ensinamentos de Jesus não tinham sido elael
borados num sistema completo
mpleto e estavam sujeisuje
tos a diferentes interpretações. Cada missionário
pregava a sua própria versão da doutrina "naza"naz
rena"; em consequência,, cada congregação ded
terminava suas próprias crenças.
Uma das controvérsias mais frequentes versava
sobre a natureza de Jesus. A posição tradicional
que a Igreja aceitava era a de ser Cristo ao mesme
mo tempo Deus e homem. Mas os monofisistas
negavam a Jesus os atributos do ser humano, e o
arianismo, a mais forte das heresias. dizia que
Cristo não era Deus nem homem, mas um
u ser
intermediário entre as naturezas humana e dividiv
na.
No século IV, as dissensões entre os cristãos
eram tantas que ameaçavam a paz do império.
Preocupado, Constantino convidou os dirigentes
das igrejas a se reunirem em Nicéia (325), onde
foi elaborada uma
ma síntese da crença cristã – O
Credo de Nicéa – pela qual se definiu a natureza
da Santíssima Trindade e se fixou uma doutrina
católica, ou Seja, uma doutrina cristã universal.
A Igreja de Roma
CLIO História – Textos e Documentos
O chefe espiritual da Igreja desde o século I era
o papa – o bispo de Roma. Sua autoridade repo
repousava no fato de que Jesus designara o apóstolo
Pedro como chefe da nova Igreja, e Pedro, que se
tornara o primeiro bispo de Roma, passara a dir
direção de toda a Igreja aos seus sucessores do bi
bispado romano.
Essa ascendência não foi aceita tranquilamente
tranquilamente,
nem mesmo nos primeiros tempos do cristiani
cristianismo. Mas, enquanto as demais igrejas discutiam a
natureza de Jesus, a Igreja de Roma dava prior
prioridade à sua organização e se fortalecia cada vez
mais. No século III sua posição era iincontestável:
o papa exercia autoridade efetiva sobre as com
comunidades cristãs do império.
entrara em Roma, inviolada havia oito séculos, e
saqueara a cidade. O relato de Gerolamo, porém,
exagerava os fatos, o que era natural: o aconteacont
cimento foi muito ampliado pelos fugitivos. O
episódio teve grande repercussão, mais pelo sigsi
nificado
ficado moral do que pelas consequências materiais. Cristãos e pagãos
os se comoveram, pois todos
consideravam Roma uma cidade sagrada, e a sua
triste sorte acendeu um conflito entre os adeptos
das duas religiões, que se acusavam reciprocareciproc
mente de ter privado a capital da proteção divina
que a acompanhara durante séculos. Na verdade,
a queda de Roma não passou de um golpe decisidecis
vo numa agonia que durava no mínimo duzentos
anos.
A RELIGIÃO DO ESTADO
No final do século IV o imperador do Oriente,
Teodósio, foi impedido de entrar na basílica por
Ambrósio, bispo de Milão, a menos que se pen
penitenciasse
asse dos seus pecados. Teodósio mandara
matar 6 000 pessoas em Tessalônica e, ao se
curvar às determinações do bispo, admitia publ
publicamente estar sujeito aos preceitos exigidos de
todos os cristãos.
O gesto de Ambrósio indicava que a Igreja tinha
o poder de disciplinar mesmo os mais elevados
dirigentes seculares. Era a vitória ostensiva do
cristianismo, que, em 380, era proclamado, pelo
mesmo Teodósio, religião oficial do Estado.
Nesse momento, muitas formas e costumes p
pagãos já haviam sido incorporados pela Igreja: a
túnica usada pelos sacerdotes; o título de pontifex
maximus (sumo pontífice) para o papa; a arquit
arquitetura do edifício religioso – a basílica (sede do tr
tribunal para os romanos); o uso do latim como
língua oficial da Igreja, a partir do século IV. A
organização da Igreja modelou-se
se pela do imp
império, com uma diferença: a eclesiástica funcionava
perfeitamente.
UMA AMEAÇA PERMANENTE
O problema dos “bárbaros”, populações não
romanas que pressionavam as fronteiras do impéimp
rio, era tão antigo quanto o próprio império.
im
Por
três séculos os conflitos haviam sido controlados
ou pela ação militar dos legionários ou por acoraco
dos diplomáticos: os bárbaros podiam permanecer
nas fronteiras de territórios imperiais desde que
jurassem fidelidade a Roma. Muitos engajaram-se
engajaram
como
omo mercenários nos exércitos romanos e ala
guns fizeram carreira militar.
Queda do Império
rio Romano do Oc
Ocidente
“Do
Do Ocidente chega uma pavorosa notícia: R
Roma foi sitiada e pagou com ouro a salvação dos
seus cidadãos. Mas, depois de eles serem priv
privados dos seus bens, foram novamente assediados
e, junto com os bens, perderam a sua vida. Os
romanos foram vencidos mais pela fome do que
pelas armas.
Os poucos sobreviventes foram feitos prisione
prisioneiros. A fúria dos famintos era tal que eles se e
esquartejavam uns aos outros. Que dor para mim
ver essa antiga potência dissolver--se nessa miséria, absolutamente privada de qualquer abrigo,
comida ou veste.”
A carta acima,, datada de outubro de 410, foi
escrita por São Gerolamo, que na époc
época se encontrava na Palestina, estudando as Sagradas Escr
Escrituras.
O teólogo cristão difundia a notícia que convu
convulsionaria todo o mundo romano: no dia 24 de agosto daquele ano, Alarico, rei dos visigodos,
Ação em cadeia
Os hunos são descritos pelos historiadores do
século IV como a “semente de toda a calamidade
e morticínio”. Na realidade, eram simplesmente
um povo nômade, oriundo de uma região entre a
China e a Sibéria, que ao longo de vários séculos
percorreu as estepes da Ásia central.
No século IV, impedidos em seu avanço para
leste pelos chineses, voltaram-se
voltaram
para oeste e,
por volta de 370, penetraram na Europa pela
Rússia. Os primeiros
meiros povos atacados foram os
sármatas e os alanos (ambos originários da Ásia e
instalados na Rússia europeia).
europeia Uma parte deles
foi incorporada, outra fugiu para oeste, provocanprovoca
do o deslocamento de povos eslavos e germânigermân
cos. Entre eles estavam os visigodos,
visigod
que obtiveram refúgio ao sul do Danúbio, na atual Bulgária,
em território romano, com a autorização do impeimp
rador Valente. Ali, maltratados por funcionários
do império, revoltaram-se,
se, provocando a interinte
venção do próprio imperador, que acabou mormo
rendo em Adrianópolis (378), numa batalha conco
tra o povo que acolhera.
Federados do império
O Sucessor de Valente, Teodósio I, conseguiu
neutralizar, em 382, a ação dos visigodos elevaneleva
do-os
os à condição de foederati (federados), ou
seja, aliados. O chefe Alarico chegou
ch
mesmo a
atingir uma posição de destaque no exército e na
corte de Teodósio e, quando este morreu, os ror
manos acreditaram que os visigodos constituíam
um novo baluarte defensivo do império. Com a
morte do imperador, porém, os bárbaros passapass
ram à ofensiva
va contra os romanos. Chegaram a
ameaçar Constantinopla, obrigando o príncipe
Rufino, regente do Império Oriental durante a
CLIO História – Textos e Documentos
minoridade de Arcádio, a fazer enormes conce
concessões. Finalmente, Alarico concordou em transferir
seu povo para a Dalmácia, que se tran
transformou na
base de devastadoras incursões visigodas pela
Grécia e Ásia Menor.
Na época, a corte do Ocidente estava sediada
em Milão, sob a chefia do general Estilicão, filho
de um chefe vândalo e tutor do jovem Honório,
herdeiro do trono, e esperava-se
se que a qualquer
momento Alarico invadisse a Itália. Isso, de fato,
ocorreu em 401, mas Estilicão deteve o avanço
visigodo, derrotando os bárbaros no Piemonte
(402) e na região do Vêneto (403). No entanto,
para evitar novas invasões, Estilicão foi obrigado
a negociar com Alarico, dando-lhe
lhe valiosos pr
presentes para que seu povo permanecesse além da
fronteira. Em 404, como medida de segurança,
Honório transferiu a corte para Ravena.
A ação defensiva de Estilicão prosseguiu contra
os vândalos e ostrogodos (godos do leste), que
invadiram a região da Toscana em 406. Mas o
zelo do general na defesa da Itália e suas relações
às vezes ambíguas com Alarico alimentaram a
suspeita de que ele estivesse cobiçando o trono.
Em 408 Honório mandou assassiná
assassiná-lo. Alarico,
aproveitando-se
se da confusão interna do império,
invadiu a Itália. Chegou às portas de Roma e d
durante dois anos negociou com Honório a salvação
da cidade em troca de terras e tributos; o imp
imperador mostrou-se
se inflexível. Então, em agosto de
410, os visigodos invadiram e saquearam Roma.
POR QUE ROMA CAIU
A queda de Roma, do mesmo modo que sua a
ascensão, não teve uma causa, mas muitas. E ta
também não foi um processo súbito, mas provocado
por diversos e numerosos fatores ao longo de
trezentos anos: o colapso da agricultura e das
manufaturas; a perda do mercado das províncias;
as importações que superavam as exportações e
a consequente drenagem do ouro para o exterior;
o crescente custo dos exércitos, da assistência
militar, das obras públicas, da burocracia, cada
vez maior, e da corte, à qual se agregavam m
milhares de parasitas; a depreciação da moeda; as
devastações da guerra, das revoluções e das
grandes epidemias (a peste de 260/265 fez 5 000
mortes por dia durante muitas semanas); o decl
declínio da população a partir de meados do século II;
os altos impostos, que desestimulavam as ativ
atividades produtivas; a decadência das instituições
políticas, que levou os cidadãos a se desinteress
desinteressarem pela participação na vida pública; o desp
despotismo, a violência e a corrupção dos homens que
detinham
inham o poder; a divisão do império e a mult
multiplicação das capitais, que rompeu a unidade a
administrativa. Escreve o teólogo cristão Salviano,
testemunha dos últimos anos do Império Romano
do Ocidente: “Em todas as cidades, em todas as
vilas existem tantos tiranos
iranos quantos cobradores
de impostos. Os pobres estão reduzidos ao dese
desespero; viúvas e órfãos são oprimidos. Até mesmo
muitos romanos de nascimento ilustre e de boa
educação preferem procurar refúgio junto aos
inimigos para escapar da tirania do Estado. E é
junto aos bárbaros que encontram aquela justiça
e humanidade que no passado caracterizaram a
civilização romana. Eles são diferentes dos bárbabárb
ros nos costumes, no idioma e pode-se
pode
dizer que
se incomodam com o mau cheiro dos farrapos dos
seus hospedeiros.. Entretanto, isso lhes é preferíprefer
vel a tolerar a injustiça dos romanos; escolhem a
realidade de serem livres sob uma aparência de
escravidão, a serem escravos sob uma aparência
de liberdade. No passado, o título de cidadão ror
mano era disputado, estimado; agora
a
é desprezado”.
Nessas condições não era difícil prever a derroderr
cada final. Os problemas internos – mais importantes que os externos – minaram o império. Os
bárbaros só entraram em ação quando a fraqueza
de Roma era tal que os próprios romanos se sense
tiam
m mais livres entre os seus inimigos. Esse era
um sintoma evidente do fracasso político, econôecon
mico e moral responsável pela ruína do império.
O CRISTIANISMO E A QUEDA DE ROMA
Certos historiadores atribuem ao cristianismo a
queda de Roma, afirmando que essa religião declarou guerra à cultura clássica e ao paganismo,
sustentáculos do senso prático dos romanos; que
o cristianismo desviou os homens das tarefas
deste mundo preparando-os
os para o outro; que os
teria levado ao misticismo; que os teria também
desinteressado
interessado da vida pública; que os teria induind
zido a não participar dos serviços públicos, a eviev
tarem o serviço militar; que a religião cristã prepr
gava a paz e a não resistência, incompatíveis com
a manutenção do império, o que acabou contribucontrib
indo para o rompimento
mpimento da sua unidade.
Embora, sobretudo no último item, haja alguma
verdade, o fato é que o desenvolvimento do criscri
tianismo, para a maior parte dos historiadores, foi
mais um efeito que uma causa da decadência
romana. Os romanos cristianizaram-se
cristianizaram
porque o
Estado se tornou brutal, arbitrário e incompetenincompete
te; e foi incapaz de protegê-los
protegê
contra a fome, a
peste, as invasões e a extrema penúria.
O último golpe dos hunos
Em meados do século V, os hunos, liderados
por Átila, tinham conquistado um imenso territóterri
rio entre a atual Rússia e os limites da Europa
ocidental, e lançariam os olhos para ConstantinoConstantin
pla. Após destruir o exército imperial, contentacontent
ram-se
se com 2 100 libras de ouro para não atacar
a capital do Oriente. Mas voltaram-se
voltaram
para o Ocidente. Com 500 000 homens fizeram uma razia
pela Grécia, Baviera e Gália. As várias populações
dessas regiões denominaram Átila o “flagelo de
Deus”.
Em 451, Écio, general romano criado entre os
visigodos, reuniu os bárbaros espalhados pela
Gália (visigodos, francos e burgúndios)
bu
e derrotou
o exército de Átila nos Campos Catalúnicos, perto
da atual cidade de Troyes.
No ano seguinte, porém, os hunos invadiram a
Itália, destruíram Aquiléia e saquearam uma parte
do vale do Pó, na época debilitado pela peste.
Milão e Pavia só não foram destruídas porque
CLIO História – Textos e Documentos
permitiram aos invasores levar tudo o que quise
quisessem, inclusive jovens que se transformariam em
escravos. Mas o caminho para Roma estava abe
aberto.
O fim oficial
O “exército” romano que foi ao encontro de Át
Átila era formado apenas pelo papa Leão I, dois s
senadores armados e um grupo de jovens cantando
hinos sacros. Ninguém sabe o que o papa e Átila
conversaram, mas, após o encontro, o chefe bá
bárbaro ordenou que se levantasse acampamento e
partiu para Ezelnburg (atual Belgrado). Atila morreu em 453 e seu reino dissolveu-se.
se. No ano s
seguinte, o imperador Valentiniano III assassinou
Écio, o último defensor do Ocidente.
Em 455, os vândalos, que já tinham tomado o
sul da Espanha e o norte da África, atacaram e
saquearam Roma. A devastação foii tamanha que
ainda hoje vandalismo é sinônimo de grave e
injustificada destruição. Nos vinte anos seguintes,
todas as tentativas para conter os bárbaros na
Itália e defender as províncias foram inúteis. Em
475, Orestes, um militar romano da Panônia, c
colocou
ou no trono o filho Rômulo, pejorativamente
chamado augústulo (imperadorzinho).
O menino, de 14 anos, foi o último imperador
do Ocidente. O pai morreu em Pavia, assassinado
pelos mercenários bárbaros do seu exército. Od
Odoacro, líder dessa rebelião, depôs o augústulo e foi
aclamado imperador pelos seus homens. Não
quis, porém, assumir; enviou as insígnias imper
imperiais a Zenão, imperador do Oriente, que reco
recompensou o ato de obediência concedendo
concedendo-lhe o
título de patricius e o governo da Itália. Era o fim
oficial do Império do Ocidente.
Download