CAPÍTULO VI CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E METALOGENÉTICA DO DEPÓSITO DE Cu ± (Au, W, Mo, Sn) BREVES, CARAJÁS NILSON FRANCISQUINI BOTELHO MÁRCIA ABRAHÃO MOURA LUCIANA MIYAHARATEIXEIRA GEMA RIBEIRO OLIVO LYS MATOS CUNHA MIRIELA ULHOA SANTANA SUMÁRIO CAPÍTULO VI CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E METALOGENÉTICA DO DEPÓSITO DE Cu ± (Au, W, Mo, Sn) BREVES, CARAJÁS RESUMO ................................................................................................................................................................................... 339 ABSTRACT ............................................................................................................................................................................... 339 I. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 340 II. LOCALIZAÇÃO, HISTÓRICO E METODOLOGIA DE TRABALHO .................................... 341 III. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL .................................................................................... 342 VI. GEOLOGIA DO DEPÓSITO ......................................................................................................... 342 V. PETROGRAFIA ............................................................................................................................. 346 VI. LITOGEOQUÍMICA ...................................................................................................................... 352 Geoquímica ..................................................................................................................................................... 341 Geocronologia ................................................................................................................................................. 341 Inclusões Fluidas ............................................................................................................................................ 341 Isótopos Estáveis de O, H e S ........................................................................................................................ 342 Granitos e Encaixantes ................................................................................................................................... 346 Alteração Hidrotermal .................................................................................................................................... 349 Zona Mineralizada .......................................................................................................................................... 350 Biotita Granito e Granitos Subvulcânicos ....................................................................................................... 352 Rochas Vulcânicas Ácidas ............................................................................................................................. 354 Rochas Potassificadas .................................................................................................................................... 356 Rochas Mineralizadas .................................................................................................................................... 356 VII. QUÍMICA MINERAL .................................................................................................................... 359 Minerais de Ganga ......................................................................................................................................... 359 Minerais de Minério ....................................................................................................................................... 369 VIII. GEOCRONOLOGIA ...................................................................................................................... 373 IX. INCLUSÕES FLUIDAS ................................................................................................................. 374 X. ISÓPODOS ESTÁVEIS ................................................................................................................. 382 Introdução ....................................................................................................................................................... 374 Resultados ...................................................................................................................................................... 374 Interpretação dos Dados de Inclusões Fluidas .............................................................................................. 382 Introdução ....................................................................................................................................................... 382 Resultados ...................................................................................................................................................... 383 Discussão ....................................................................................................................................................... 384 XI. TIPOLOGIA DO DEPÓSITO E CONCLUSÕES ......................................................................... 384 XII. SUGESTÕES PARA EXPLORAÇÃO MINERAL REGIONAL E TRABALAHOS FUTUROS ....................................................................................................................................... 387 AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................. 387 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 387 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E METALOGENÉTICA DO DEPÓSITO DE Cu ± (Au, W, Mo, Sn) BREVES, CARAJÁS Nilson Francisquini Botelho1; Márcia Abrahão Moura1; Luciana MiyaharaTeixeira1; Gema Ribeiro Olivo2; Lys Matos Cunha1; Miriela Ulhoa Santana1 1 2 Instituto de Geociências, Universidade de Brasília UnB Brasília - DF. [email protected]; [email protected]; [email protected] Queen´sUniversity, Canadá. [email protected] RESUMO O Depósito Breves (Cu ± Au ± (Mo, W, Sn)), situado 9 km a NE da mina Igarapé-Bahia, está associado a sistema hidrotermal desenvolvido sobre e nas proximidades de biotita granito de tendência alcalina, semelhante aos granitos de ~1,88 Ga descritos na região de Carajás. O biotita granito está encaixado em rochas metassedimentares atribuídas à Formação Águas Claras (até 200m de profundidade), em rochas metavulcânicas ácidas e em rochas de natureza vulcanoclástica. Possui biotita como mineral máfico principal e zircão, allanita, monazita e apatita como principais acessórios. Dois tipos de alteração hidrotermal são preponderantes no depósito: potássica e fengíticaclorítica. A alteração potássica tem como minerais indicadores microclínio e biotita, e constitui espessas (> 10 m) aureólas metassomáticas sobre o granito e veios (0.1 10 cm), que cortam tanto o granito quanto as rochas encaixantes. A alteração fengíticaclorítica tem como minerais indicadores muscovita, clorita e turmalina e hospeda o minério principal. Outros minerais que acompanham as associações hidrotermais mineralizadas são fluorita, rutilo/anatásio, ilmenita, carbonato, apatita, xenotima e monazita. Sistemas venulares são comuns nas encaixantes, em que vênulas de quartzo podem conter importantes concentrações de minério. Os principais minerais de minério no depósito são calcopirita, arsenopirita cobaltífera, pirita, molibdenita, pirrotita, wolframita, cassiterita e bismutinita. Outros minerais presentes são marcassita, löllingita, glaucodoto, estanita, scheelita, berilo, fenacita, calcosita, covelita, uraninita e torita. O ouro, presente em quantidades muito pequenas no granito e nas rochas encaixantes hidrotermalizados, ocorre como inclusões em arsenopirita e calcopirita, quase sempre acompanhado de bismuto nativo. O biotita granito tem composição química de granito do tipo-A, intraplaca. A discussão sobre concentração de elementos mineralizadores, como Cu, Au e Sn, nos granitos está comprometida pelo hidrotermalismo e provável aporte de metais a partir das rochas encaixantes. No caso de Sn, os valores encontrados em amostras mais preservadas de biotita granito estão entre 5 e 10 ppm e são compatíveis com os teores encontrados em granitos mais precoces de províncias estaníferas. As rochas encaixantes metavulcânicas ácidas têm composição diferente daquela dos granitos, sendo enriquecidas em Mg e apresentando padrão de terras raras distinto dos demais obtidos no depósito Breves, caracterizado por enriquecimento em terras raras pesadas. Apesar dessas diferenças, as rochas metavulcânicas têm assinatura de magmatismo intraplaca. O minério principal do Depósito Breves tem assinatura de terras raras semelhante à do biotita granito, porém possui elevados teores de Co, Ni e As, incompatíveis com fonte granítica e provavelmente provenientes de rochas encaixantes não identificadas no contexto do depósito. A biotita primária do biotita granito possui composição compatível com biotita de granitos do tipo A, porém com elevados teores de cloro. Biotitas secundárias sempre apresentam teores médios de cloro mais elevados que os de flúor. Assim, apesar da freqüência de fluorita na mineralização, o Depósito Breves é aqui considerado um sistema rico em cloro. Entre os minerais de minério, apenas arsenopirita possui composição anômala, caracterizada pelos elevados teores de Co (até 10%) e associação com glaucodoto. O mesmo foi observado na lollingita, com teores de Co semelhantes aos da arsenopirita e associação com safflorita. Os fluidos aprisionados em quartzo de amostras mineralizadas são predominantemente aquosos, modelados pelo sistema H2O-NaCl ± (KCl, MgCl2, FeCl2), possuem salinidade inferior a 9% em peso de NaCl equivalente e temperatura de homogeneização total (TH) entre 150 e 250oC. Raras inclusões fluidas H2O-NaCl saturadas (40 a 50% em peso de NaCl equiv. e TH entre 350 e 450oC) estão preservadas em quartzo de rochas ígneas hidrotermalizadas e mineralizadas. Fluidos H2O-NaCl ± (CaCl2), com salinidade variável (10 - 30 % em peso de NaCl equiv.) e TH ~ 150oC, foram aprisionados em veios de quartzo contendo ouro nas rochas encaixantes. Os valores de δ34S de sulfetos de diferentes tipos de minérios situam-se entre 0 e + 2 , dados consistentes com fonte de enxofre magmática. As composições isotópicas de oxigênio e de hidrogênio dos fluidos em equilíbrio com as paragêneses hidrotermais são respectivamente δ18O = 2,5 a 6,7 e δD = -65 a -40. Os valores de temperatura de equilíbrio isotópico, estimados com base em pares de minerais, situam-se entre 287 e 481oC, os quais são coerentes com os dados de inclusões fluidas. O Depósito Breves possui características híbridas, com assinaturas mineralógicas e geoquímicas similares às de depósitos do tipo pórfiro, depósitos do tipo IOCG e depósitos de Sn e W associados a cúpulas graníticas. Os dados existentes, entretanto, apontam para tipo peculiar de depósito reduzido de Cu ± Au, resultante de evolução complexa, que envolveu provavelmente fluidos mineralizadores de origem magmática e fluidos meteóricos, que reagiram com rochas oxidadas preexistentes. Metais como Cu, Au, Mo, As e Co, identificados nos depósitos mais antigos da região de Carajás, foram possivelmente herdados de rochas mais antigas, tendo o biotita granito sido responsável pela alteração hidrotermal existente no depósito, aporte de metais como Sn e W e reconcentração dos outros metais. ABSTRACT The Breves Cu ± Au ± (Mo, W, Sn) deposit, 9 km NE of the Igarapé-Bahia mine, is associated with a hydrothermal system developed over and around biotite granite of alkaline affinity, similar to the ca. 1.88 Ga granites described in the Carajás region. The country rocks are metasedimentary rocks assigned to the Águas Claras formation (up to 200m), and acid metavolcanic and volcanoclastic rocks. The biotite granite has biotite as the main mafic mineral and zircon, allanite, monazite and apatite as accessory minerals. Two main types of hydrothermal alteration occur in the deposit: potassic 339 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás and phengitic-chloritic. The potassic alteration has microcline and biotite as diagnostic minerals and comprises thick metasomatic halos (>10 m) over the granite and veins (0.1 10 cm) that crosscut the granite and the country rocks. The phengitic-chloritic alteration has muscovite, chlorite and tourmaline as diagnostic minerals and hosts the main ore. Other minerals associated with the mineralized hydrothermal assemblages are fluorite, rutile/anatase, ilmenite, apatite, xenotime and monazite. Veinlet systems are common in the country rocks, where quartz veinlets host important ore concentrations. The main ore minerals in the deposit are chalcopyrite, Co-rich arsenopyrite, pyrite, molibdenite, pyrrotite, wolframite, cassiterite and bismutinite. Other minerals present are marcassite, löllingite, glaucodot, stannite, scheelite, beryl, fenacite, calcosite, covellite, uraninite and thorite. The gold, present in small amounts in altered granite and country rocks, occurs as inclusions in arsenopyrite and chalcopyrite, commonly associated with native bismuth. The biotite granite has chemical composition of A-type, withinplate granites. The concentration of ore elements, such as Cu, Au and Sn, has been masked by hydrothermal alteration and probable supply of metals from the country rocks. In the specific case of tin, the values obtained in more-preserved biotite granite samples are between 5 and 10 ppm, which are in the same range as the existing data from less evolved granites of several tin provinces. The metavolcanic acid rocks have chemical composition different from that of the biotite granite. They are rich in Mg and have REE pattern different from that obtained in other rocks from the Breves deposit, which are characterized by enrichment in HREE. Despite these differences, the metavolcanic rocks also have chemical signature of within-plate magmatism. The main ore of the Breves deposit has REE pattern similar to that of the biotite granite, but its high Co, Ni and As contents are not consistent with a granite source and are probably derived from country rocks not identified in the deposit area. Magmatic biotite from the biotite granite has chemical composition of biotite from A-type granites, although it has high chlorine contents. Even secondary biotite always has mean Cl contents higher than F values. Because of the chemical composition of the analyzed rocks and micas, the Breves deposit is here interpreted as part of a chlorinerich system, although fluorite is a common mineral in the ore. Among the ore minerals, only arsenopyrite has anomalous composition, characterized by high Co contents (up to 10 wt. %) and association with glaucodot. The same characteristics are observed in löllingite, which has Co contents in the same range as those from arsenopyrite and association with safflorite. The fluids preserved in quartz from mineralized samples are mainly aqueous, modeled by the H2O-NaCl ± (KCl, MgCl2, FeCl2) system, have salinity values lower than 9 wt% NaCl equivalent and total homogenization temperatures (TH) between 150 and 250oC. Rare H2O-NaCl saturated (40-50 wt% NaCl equiv. and TH = 350-450oC) fluid inclusions are preserved in quartz from the altered and mineralized igneous rocks. H2O-NaCl ± (CaCl2) fluids, with varied salinity (1030 wt% NaCl equiv.) and TH ~ 150oC, have been entrapped in orebearing quartz veins that cut the country rocks. d34S data on sulfides from different ore types vary from 0 to 2 , consistent with magmatic origin for the sulfur. The fluids in equilibrium with the hydrothermal assemblages have calculated d18O and dD values of 2.5 to 6.7 and -65 to -40, respectively. The estimated equilibrium temperatures obtained on d18O of mineral pairs are 287-481oC, which are in agreement with fluid inclusion homogenization temperatures. The Breves deposit has hybrid characteristics, as it has mineralogical and geochemical characteristics similar to those found in porphyry-type, IOCG and Sn-W granite-hosted deposits. Nevertheless, the existing data point to a peculiar type of reduced Cu ± Au deposit, which resulted from a complex evolution that probably involved the reaction of magma-derived mineralizing fluids and meteoric waters with preexisting oxidized rocks. Metals such as Cu, Au, Mo, As and Co, identified in the older deposits of the Carajás region, have probably been inherited from older rocks. In this proposed situation, the biotite granite has been responsible for the development of hydrothermal alteration, the origin of high Sn and W contents and for the re-concentration of the ore elements. I. INTRODUÇÃO competitividade para geração de depósitos gigantes. Os primeiros resultados não são muito promissores com relação a esses últimos depósitos, parecendo haver polarização de estilos e de potencial metalogenético, com a atribuição de maior potencialidade aos depósitos mais antigos do tipo Cu-Au-óxido de ferro (IOCG). As propostas de modelos para os depósitos paleoproterozóicos são também variadas, englobando modelos do tipo CuAu-óxido de ferro para Gameleira (Lyndenmayer et al , 2001), greisen em cúpulas graníticas (Tallarico et al. 2004) ou intrusion-related (Xavier et al. 2005) para Breves. Assim, este trabalho, no contexto da parceria entre órgãos de financiamento (FINEP), órgãos governamentais (DNPM), empresas (CVRD), universidades (UnB), estimulada pela ADIMB, tem o objetivo de caracterizar o Depósito Breves, o mais recente depósito do tipo Cu ± (Au, W, Mo, Sn) descoberto em Carajás, e sugerir modelo genético, como contribuição à avaliação do potencial desse tipo de depósito no contexto da Província Mineral de Carajás. A Província Mineral de Carajás tem sido, na última década, palco de intensos trabalhos e importantes descobertas de depósitos de cobre ± ouro e de ouro. Apesar de terem decorrido mais de trinta anos desde a descoberta do primeiro grande depósito de Cu-Au, o depósito do Salobo, em 1972, e de exaustivos estudos, procurando compreender e estabelecer modelos genéticos, com sugestões variadas de modelos, somente em 1997 foi apresentada a proposta que se tornou mais aceita, associando os grandes depósitos arqueanos de cobre e ouro de Carajás ao modelo do tipo Cu-Au-óxido de ferro (Huhn e Nascimento, 1997). Embora ainda motivo de debates, nesse modelo estão inseridos os depósitos de classe mundial do Salobo, Igarapé-Bahia, Cristalino e Sossego. Outros depósitos de Cu-Au, como Águas Claras, Gameleira, Estrela e Breves, considerados de idade paleoproterozóica, também têm sido alvo de trabalhos prospectivos e de estudos procurando estabelecer sua 340 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia II. LOCALIZAÇÃO, HISTÓRICO E METODOLOGIA DE TRABALHO O Depósito Breves situa-se aproximadamente 9 km a NE da mina Igarapé-Bahia, na Província Mineral de Carajás, em região denominada de Platô Breves. O alvo foi pesquisado pela DOCEGEO e CVRD, com primeiros resultados da investigação divulgados por Nunes et al. (2001) e Tallarico et al. (2004), que apresentam um depósito com recursos de cerca de 50 mt de minério sulfetado, com 1,22% Cu, 0,75 g/t Au, 2,4 g/t Ag, 1.200 g/ t W, 175 g/t Mo, 75g/t Bi e 70 g/t Sn. O estudo realizado procurou utilizar todas as ferramentas disponíveis para caracterização completa de depósito mineral, envolvendo análise petrográfica, geoquímica de rocha total e de minerais, geocronologia, microtermometria de inclusões fluidas, microssonda Raman, catodoluminescência e geoquímica de isótopos estáveis. O trabalho foi desenvolvido com amostragem de testemunhos de sondagem em duas etapas, tendo sido descritos 21 furos de sonda e recolhidas 194 amostras. Foram confeccionadas 216 lâminas polidas delgadas e 22 seções polidas. Geoquímica As análises químicas de rocha total, em 97 amostras, foram realizadas no laboratório ACME do Canadá. Os elementos maiores foram analisados por ICP-AES, após fusão com LiBO2. Elementos-traço e terras raras foram analisados por ICP-MS, após fusão com LiBO2, exceto para os metais-base, cuja extração foi feita por digestão com água-régia. Os minerais foram analisados em Microssonda Eletrônica CAMEBAX SX50 do Instituto de Geociências Universidade de Brasília (IG-UnB), equipada com quatro espectrômetros, sistema de dispersão de wave lenght e ângulo de take off de 40º. A correção dos efeitos de matriz foi feita mediante o programa PAP. Os silicatos foram analisados, utilizando voltagem de aceleração de 15Kv, corrente de 25nA e tempo de contagem de 10s. Para óxidos e sulfetos foi utilizada voltagem de aceleração de 20Kv, corrente de 40nA e tempo de contagem de 10s. Foram utilizados compostos naturais e vidros sintéticos como padrões para os elementos. Geocronologia As análises geocronológicas foram realizadas no Laboratório de Geocronologia do IG-UnB, em zircão de duas amostras do granito hospedeiro da mineralização e em uma amostra de dique de granito subvulcânico. Foram realizadas ainda 8 análises isotópicas Sm-Nd, com resul- tados comprometidos pela influência tanto do fracionamento dos granitos, quanto pela alteração hidrotermal, não sendo portanto utilizados no trabalho. Inclusões Fluidas O estudo de inclusões fluidas foi realizado incialmente no Laboratório de Microscopia do IG-UnB, onde foram estudadas inclusões fluidas isoladas, intragranulares, em quartzo interpretado como estando em equilíbrio com a paragênese de minério, e inclusões alinhadas ao longo de microfraturas, interpretadas como secundárias. Análises microtermométricas e de espectrometria Raman foram realizadas com o objetivo de estimar a composição e as condições de aprisionamento dos fluidos. As medidas das temperaturas de mudança de fase das inclusões fluidas foram efetuadas em platina modelo Linkam THMSG600, no Instituto de Geociências da UnB e na Queens University. A calibração do equipamento foi realizada por medições de temperaturas de fusão de CO 2 puro (TfCO 2 ), fusão de gelo (Tfg) e de homogeneização total de água pura (TH(H2O)) em inclusões fluidas de padrões sintéticos FLUID INC. A reprodutibilidade dos resultados foi de aproximadamente ± 0,1°C entre -56,6 e 30°C e ± 2°C para medições acima de 30°C. A primeira fase do estudo microtermométrico compreendeu o resfriamento das inclusões fluidas. Em seguida, inclusões selecionadas foram analisadas em microssonda Raman, com resultados insatisfatórios, comprometidos pelos sinais muito fracos e não conclusivos. O aquecimento das inclusões fluidas foi a última fase da microtermometria, devido à possibilidade de ocorrerem mudanças de volume, e até mesmo crepitação das inclusões, durante a fase de aquecimento, o que poderia prejudicar ou até mesmo inviabilizar as análises Raman. A microssonda Raman utilizada foi do tipo XY CONFOCAL DILOR, do laboratório do Instituto de Física da UnB. O aparelho é equipado com laser de argônio ionizado, modelo COHERENT INNOVA 90 (5 W) e com laser de kriptônio ionizado, modelo COHERENT INNOVA 90K. Um microscópio OLYMPUS equipado com objetivas de até 100x foi utilizado. Os espectros foram registrados, utilizando-se radiação de excitação de 514,532 nm, laser de 100 mW com diâmetro do feixe próximo a 1 µm, uma única acumulação e tempo de leitura de 60s. Foram realizadas 15 análises pontuais, incluindo fase gás, fase sólida, fase líquida e matriz. Amostras representativas foram estudadas em microscópio petrográfico com sistema de catodoluminescência acoplado, no Instituto de Geociências da UnB, com o objetivo de obter mais um critério de caracterização e distinção das diferentes populações de inclusões fluidas. 341 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Isótopos Estáveis de O, H e S As análises isotópicas de oxigênio, hidrogênio e enxofre foram realizadas na Queens University (Canadá). As composições isotópicas de oxigênio foram medidas, usando BrF5, conforme método de Clayton & Mayeda (1963), e as composições isotópicas de hidrogênio foram determinadas segundo o método de Kyser & O´Neil (1984). Enxofre dos sulfetos foi extraído online com tecnologia de fluxo contínuo. As medidas de isótopos estáveis foram efetuadas em espectrômetro de massa Finnigan MAT 252, com exceção das medidas de δD em turmalina, obtidas online no analisador de elementos TC. Todos os valores são reportados em unidades por mil (). Enxofre é referido em relação ao padrão CDT, enquanto oxigênio e hidrogênio são referidos em relação a VSMOW. A precisão analítica é 0,3 para valores de 34S e 18O e 3 para valores de deutério. Os fatores de fracionamento isotópico de oxigênio utilizados foram os sugeridos por Clayton et al. (1972) para quartzo-água, Zheng (1993) para cloritaágua, Bottinga & Javoy (1973) para biotita-água e Zhang et al. (1994) para wolframita-água. Os fatores de fracionamento isotópico de enxofre utilizados foram os sugeridos por Ohmoto & Rye (1979) para calcopirita-H2S e pirita-H2S; e os fatores de fracionamento isotópico de hidrogênio foram os propostos por Graham et al. (1984) para clorita-água e Suzuoki & Epstein (1976) para biotitaágua. III. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL A Província Mineral de Carajás compreende importante e bem preservada seqüência vulcano-sedimentar arqueana, sobreposta ao Complexo Xingu, embasamento granito-gnáissico migmatítico, de natureza tonalítica a trondhjemítica, de idade em torno de 2,86 Ga, com núcleos ortogranulíticos, pertencentes ao Complexo Pium (Pidgeon et al. 1998), de idade em torno de 3,0 Ga (Machado et al. 1991; Tallarico et al., 2004) (Figura 1). A seqüência vulcano-sedimentar arqueana compõe o Supergrupo Itacaiúnas, comportando rochas de diferentes graus metamórficos, desde anfibolito/granulito, no Grupo Igarapé-Salobo, até rochas praticamente indeformadas da fácies xisto-verde do Grupo Grão Pará, sendo importante o registro de acumulações de rochas vulcânicas em torno de 2,75 Ga (Tallarico et al., 2000, 2004, Machado et al. 1991, Trendall et al. 1998). Segundo esses autores, dados estratigráficos, geoquímicos e isotópicos das rochas vulcânicas do Grupo Grão Pará são indicativos de que a seqüência vulcano-sedimentar formou-se em ambiente de rifte continental. As unidades anteriores estão recobertas pela Formação Águas Claras, definida por Nogueira et al. (2000), como unidade de arenitos e siltitos, formada em ambiente marinho raso a fluvial, com idade em torno de 2,68 Ga (Trendall et al. 1998). As rochas graníticas da região de Carajás (Figura 1) estão representadas por suítes arqueanas, incluindo os granitos e dioritos da Suíte Plaquê, mais antigos (~2,74 Ga), e os granitos alcalinos mais jovens (~2,57 Ga), e por intrusões paleoproterozóicas, formadas por granitos anorogênicos de idade em torno de 1,88 Ga (Dall´Agnoll et al. 1994). A importância das rochas graníticas no contexto de Carajás está relacionada à metalogenia, já que a gênese dos depósitos de Cu ± Au arqueanos de classe mundial, como Salobo e Sossego, tem sido discutida envolvendo modelos metalogenéticos do tipo IOCG (Tallarico et al., 2005), classicamente associados a magmatismo ácido (Pollard, 2000; Sillitoe, 2003). Para os depósitos de menor porte, como Gameleira, Águas Claras e, mais recentemente, Breves, os modelos existentes propõem origem associada ao magmatismo anorogênico de 1,88 Ga. (Lindenmayer et al., 2001; Tallarico et al., 2004). IV. GEOLOGIA DO DEPÓSITO O Depósito Breves está hospedado em biotita granito correlacionável aos granitos anorogênicos, já que apresenta composição química compatível e idade em torno de 1,88 Ga (Tallarico et al., 2004). Todo o conjunto granítico do depósito está intensamente hidrotermalizado e intemperizado nos níveis mais rasos, em que não foi observada rocha granítica preservada. As amostras mais preservadas foram obtidas nas sondagens realizadas na porção NE da área, onde existe, a cerca de 400 metros de profundidade, aparente apófise de biotita granito (Figura 2). O depósito não possui expressão em superfície, estando todo recoberto por nível saprolítico, desenvolvido principalmente sobre meta-arenitos, além de provável cobertura de solos alóctones. No perfil de intemperismo do Platô Breves, abaixo da cobertura de solos, de cerca de 10 a 20 metros, empobrecida em metais, há uma crosta laterítica e, em seguida, um saprólito com Box works oxidados, associados a veios de quartzo, freqüentemente mineralizados em ouro (Nunes et al., 2001) (Figura 3A). Dois tipos de granito foram identificados no depósito, biotita granito dominante e granito posterior que ocorre na forma de dique, contendo interessante associação de faialita, quartzo e magnetita, denominado de granito subvulcânico. As relações de contato com as rochas encaixantes mostram que o biotita granito apresenta maiores efeitos de assimilação e o granito subvulcânico mostra contatos mais bruscos. Nos trabalhos anteriormente desenvolvidos no Depósito Breves (CVRD, 2001; Nunes et al. 2001; Tallarico et al., 2004) as rochas encaixantes dos granitos foram 342 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Figura 1 Mapa geológico da região de Carajás, mostrando as principais minas e depósitos minerais e a localização do Alvo Breves (simplificado de DOCEGEO 1988 e Barros e Barbey 1998). 343 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Figura 2 Seção transversal 00, representando aspectos da borda do Depósito Breves, onde foram encontradas as porções mais preservadas de biotita granito. G: localização das amostras com análise geocronológica; 85: local onde o furo de sonda 85 atravessa a seção. 344 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Figura 3 (a) seção transversal 400W, representando os principais aspectos da zona mineralizada do Alvo Breves, com localização dos cortes horizontais realizados nos níveis 450 e 250 (Figura 4) e das amostras representadas na figura 3b. FR100 representa o ponto onde furo de sonda atravessa a seção. Também está assinalada a região onde ocorre a epissienitização, entre 347,0 e 353,75 metros; (b) aspectos de biotita granito e de suas principais alterações hidrotermais no furo de sonda FR73. consideradas como pertencentes à Formação Águas Claras. De acordo com Nogueira et al. (2000), esta formação constitui uma seqüência arqueana de arenitos e siltitos, depositados em ambiente litorâneo até fluvial, controlados por tempestades. As descrições dos furos de sonda, entretanto, indicam que grande parte das rochas encaixantes do granito Breves é constituída de tipos litológicos incompatíveis com essa descrição. A presença de metapsamitos da Formação Águas Claras é indiscutível nos primeiros 100 metros da maioria dos furos descritos, mas, a profundidades maiores, principalmente após a passagem de rochas denominadas de greisens estéreis ou greisens azuis em trabalhos anteriores (CVRD 2001), há uma mudança importante na seqüência estratigráfica, que passa a ser constituída por materiais de origem vulcânica/vulcanoclástica, riolitos e/ou tufos, provavelmente intercalados com rochas metassedimentares (Figuras. 2 e 3a). Essa constatação ficou evidente apenas nas etapas finais do trabalho de caracterização do Depósito Breves e, conseqüentemente, não pode ser devidamente investigada, principalmente por causa da amostragem, direcionada preponderantemente para materiais de origem granítica. Os trabalhos mostraram que as rochas encaixantes devem ter tido papel fundamental na geração do depósito de Cu, Au, W, Mo e Sn, como será discutido mais adiante, sendo imprescindível sua melhor caracterização em trabalhos futuros. 345 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Figura 4 Seções geológicas de níveis mineralizados do Depósito Breves, elaboradas a partir de perfis geológicos, modificados de DOCEGEO (2001). V. PETROGRAFIA A análise petrográfica das amostras do Depósito Breves foi desenvolvida a partir de amostras de testemunhos de sondagens, sendo apresentada em três blocos: i) granitos e encaixantes mais preservados do hidrotermalismo; ii) rochas hidrotermais, com ênfase na potassificação e na alteração fengítica-clorítica; iii) zona mineralizada. Granitos e Encaixantes Biotita granito Amostras de biotita granito inalterado foram encontradas mais preservadas nos furos 82, 98 e 100, tendo sido também identificado nos furos 73, 129 e 135. O biotita granito é rocha holocristalina, fanerítica, aproximadamente equigranular com granulação média (Figura 5a), constituída por quartzo, feláspato potássico, plagioclásio e biotita, em proporção indicativa de sienogranito (Figura 6a). Os acessórios são zircão, allanita, fluorita e alguns raros minerais opacos, pirita, calcopirita e ilmenita, principalmente. Nas regiões de contato pode apresentar granulação mais fina e efeitos de acumulação de cristais, tanto de feldspatos quanto de biotita, bem como estruturas indicadoras de fluxo (Figura 5b). Nesse caso a textura mais comum passa a ser inequigranular porfirítica, com fenocristais de quartzo, precoces, localmente subédricos e aspecto sujo devido à presença de microinclusões, e, mais raramente, feldspato envolto por matriz mais fina com textura gráfica. O contato com a encaixante é sempre difuso, marcado por texturas de assimilação (Figura 5a, b e c). As amostras de biotita granito estudadas sempre apresentam alguma evidência de potassificação, com substituição parcial de biotita primária, de cor marrom avermelhada, por biotita secundária de cor verde (Figura 6b) e de ortoclásio, rico em microinclusões, por microclínio límpido. Além da potassificação, o biotita granito sempre apresenta alguma alteração fengítica-clorítica, com substituição parcial dos feldspatos, principalmente plagioclásio, por muscovita e alguma cloritização de biotita. Fluorita e, mais raramente, carbonatos, são minerais comuns associados a essas alterações. Em uma única amostra (FR98459,16) constatou-se a presença de turmalina secundária, de cor verde azulada. Foi constatada a presença de autólitos nas amostras FR73-471,25; FR98 459,16; FR98-461,63; FR100- 346 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) Figura 5 Aspectos das principais feições macroscópicas de granitos e minérios do Depósito Breves. (a), (b) e (c): biotia granito nas proximidades do contato com encaixante metavulcanossedimentar, com vênulas preenchidas principalmente por biotita e quartzo ou clorita, muscovita, quartzo e sulfetos e veios de quartzo, contendo wolframita e molibdenita. Na Figura 5B, a amostra superior possui estruturas de fluxo e acumulação de cristais, com porções claras e escuras, ricas, respectivamente, em feldspatos e biotita; (d) Faialitahornblendabiotita granito, também próximo ao contato, evidenciando menor interação com a encaixante do que o biotita granito; (e) e (f): minério principal com disseminação de sulfetos, concentração maciça de sulfetos em vênulas e concentração de wolframita em veios de quartzo (foto superior). (g) veios de quartzo nas proximidades do contato entre o biotita granito e a encaixante metavulcânica. A cor amarelada é devida ao enriquecimento em sulfetos, principalmente calcopirita e arsenopirita. (h) concentração maciça de sulfetos em veios concordantes e discordantes na encaixante metavulcanoclástica; (i) calcopirita maciça em zona de brecha, concentrada preferencialmente entre os fragmentos de rochas encaixates. 477,85; FR135-473,50; FR135-473,78, cuja composição mineralógica é a mesma do granito, com o mesmo grau de alteração e biotita oticamente idêntica. Os autólitos, entretanto, apresentam granulação mais fina e, localmente, maior conteúdo em muscovita do que o granito hospedeiro. Granito subvulcânico faialitahornblenda-biotita granito O granito subvulcânico foi observado nos intervalos FR85-418,20/453,90 e FR100-539,0/544,0, aparentemente na forma de dique que corta as demais rochas do Alvo Breves (Figura 2). Ao contrário do biotita granito dominante, os contatos do granito subvulcânico são bruscos e provocam brechação nas rochas encaixantes, não sendo observa- dos efeitos de assimilação (Figura 5d). A textura dominante é porfirítica com matriz de granulação fina a média, em que é comum observar intercrescimento gráfico, atestando seu caráter sub-vulcânico. É constituída por quartzo, ortoclásio, plagioclásio, biotita vermelha e, mais raramente, anfibólio e faialita (Figura 6d), com allanita, apatita e zircão como acessórios. Quartzo ocorre como fenocristais euédricos a arredondados, localmente apresentando golfos de corrosão, como constituinte da matriz, em grãos menores, anédricos, com alguma extinção ondulante, ou constituindo intercrescimento gráfico com feldspato da matriz. Feldspato potássico é encontrado como fenocristais e como constituinte da matriz. Em ambos os casos o hábito varia de tabular a anédrico e, praticamente, não mostra alteração para mica branca. Plagioclásio, também encontrado como fenocristais ou como constituinte da matriz, 347 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás (a) (b) (c) (d) (f) (e) Figura 6 Fotomicrografias (N//), apresentando as feições principais dos granitos e de suas alterações. (a) biotita granito com textura equigranular dominante e biotita primária (Bi) de cor marrom escuro; Qz: quartzo, Pl: plagioclásio, Kf: feldspato potássico; (b) granito potassificado, com alteração fengítica-clorítica avançada, correspondente à amostra 5 da Figura 3B, na qual se pode observar restos de biotita primária, biotita parcialmente reequilibrada, de cor marrom claro, biotita secundária de cor verde e turmalina verde (Tu); (5 , 6 e 7 indicam os pontos das análises de mesmo número, na Tabela 5) ; (c) biotita secundária em microveio em biotita granito ( F: fluorita); (d) granito subvulcânico com a associação faialita (fa)quartzo magnetita (opaco); (Hn: hornblenda); (e) minério disseminado, com sua textura típica, correspondente à amostra da Figura 5E. (f) Porção rica em turmalina verde no minério principal, com restos da biotita primária do granito e borda de turmalina marrom. ocorre como cristais tabulares a anédricos e mostra importante alteração para muscovita. A textura mais importante da rocha está representada pelos aglomerados de grãos arredondados de faialita, sempre envoltos por auréola constituída por magnetita e quartzo finamente intercrescidos, que também preenche as fraturas (Figura 6d). Discussão dessa textura e de seu significado é apresentada no item sobre química mineral. Anfibólio ocorre disseminado, como grãos intersticiais maciços a poiquilíticos, cuja maior 348 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia concentração é encontrada em torno dos aglomerados de olivina (Figura 6d). Outra característica marcante do granito subvulcânico é a concentração de minerais acessórios como allanita e zircão, cujo melhor exemplo é encontrado na amostra FR 100 453,80. Entre os acessórios foram observadas ainda ilmenita, pirita e calcopirita. Em algumas amostras, a pirita chega a formar fenocristais anédricos, intersticiais e, às vezes, poiquilíticos. Rochas encaixantes A petrografia das rochas encaixantes será concentrada apenas nos materiais de provável derivação vulcânica, denominados, preliminarmente, de metatufo e metavulcânicas ácidas. As rochas metassedimentares de topo encontram-se muito intemperizadas e nas porções mais profundas foram poucas as amostras com características de origem sedimentar. Vale ainda ressaltar que muitas rochas descritas macroscopicamente como prováveis sedimentos, mais por influência dos dados existentes, revelaram-se incompatíveis com essa classificação. Metatufo O metatufo foi identificado no furo 84, entre 241 e 244 metros e no furo 135, entre 473 e 478 metros. É rocha de granulação fina a muito fina, constituída de fenocristais ou fragmentos de turmalina zonada e de biotita, imersos em matriz formada por muscovita, biotita e algum quartzo. Foi observada ainda fraca disseminação de calcopirita, arsenopirita e rutilo. Localmente, a textura da rocha sugere a presença de estruturas de fluxo. Quartzo e biotita ocorrem como cristais pequenos, anédricos, associados à massa de muscovita que constitui cerca de 70% da rocha. Biotita, de cor marromavermelhada e sem evidências de alteração, também pode ocorrer como lamelas maiores disseminadas na rocha. Turmalina ocorre como cristais subédricos a euédricos, de até 1,5mm de comprimento, dispersos na rocha. Caracteristicamente possui cor marromavermelhada podendo ou não estar zonada, apresentando bordas de cor azul. Metavulcânicas ácidas As rochas denominadas de metavulcânicas ácidas englobam fácies com aspectos de metarriolito e fácies com aspectos de rocha piroclástica. Essas rochas foram encontradas nos furos 85, 96, 98, 100 e 149. As amostras mais representativas foram encontradas em FR85-145,65; FR96-210,10; FR96-210,60; FR100-257,70; FR149190,50; FR149-204,30;FR149-204,48 e FR149-212,60. As fácies com aspecto de metarriolito possuem textura porfirítica e contêm fenocristais de quartzo, ortoclásio, plagioclásio e, mais raramente, pirita e calcopirita, envoltos por matriz fina, localmente afanítica, constituída por quartzo, ortoclásio, plagioclásio e biotita (Figura 6e). Nas amostras FR85-145,65 e FR96-210,10 foram identificados alguns fragmentos líticos, constituídos por quartzo, clorita e muscovita em grandes lamelas, com evidências de arredondamento (reabsorção). Em outras amostras, como FR100-340,65 e FR100-347,70, a rocha apresenta textura semelhante à de rochas piroclásticas, em que se observam porções recristalizadas, que poderiam representar antigas púmices. Nesse caso, as amostras seriam indicativas de ignimbritos. As rochas metavulcânicas ácidas apresentam importante alteração fengítica-clorítica, acompanhada ou não de turmalinização, no mesmo estilo daquela encontrada em granitos, porém mais pobre em sulfetos. Essa alteração foi denominada, nos trabalhos anteriores realizados no Depósito Breves (CVRD, 2001), de greisens estéreis, ou greisens azuis no caso de enriquecimento em turmalina, constituindo verdadeiros turmalinitos. Embora obliterada pela turmalinização, ainda é possível identificar restos de textura porfirítica, semelhante à de riolitos. O turmalinito foi identificado nas amostras FR85-146,25; FR98-114,80; FR98-115,00; FR98-115,10; FR96-208,00. A melhor representação da seqüência de rochas metavulcânicas é encontrada no furo 149, no intervalo entre 200 e 320 metros, associada a uma seqüência de brechas, com importante concentração de sulfetos em alguns níveis, nas proximidades de brechas hidrotermais (Figura 7). Alteração Hidrotermal Potassificação A potassificação constitui alteração abrangente no contexto do Depósito Breves, desenvolvendo-se principalmente sobre o biotita granito e formando auréola ao redor da zona fengítica-clorítica (Figuras 3 e 4). Algumas amostras potassificadas mostram feições, como granulação mais fina associada a restos de textura porfirítica, comparáveis às de rochas metavulcânicas ácidas. A potassificação é caracterizado pela substituição de biotita primária por biotita secundária, neoformação de biotita e substituição dos feldspatos primários por microclínio, podendo levar à formação de rochas constituídas unicamente por microclínio e biotita, como nas amostras FR129-350,85 e FR129-350,95, e até mesmo epissienito. A epissienitização foi identificada unicamente no furo 73, em pequeno intervalo entre 347 e 353,75 metros, no 349 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás interior da zona mineralizada principal. Caracteriza-se pela lixiviação do quartzo original da rocha com o preenchimento, parcial a total, das cavidades por fluorita e/ou carbonato. Também se constatou o aporte tardio de sílica à rocha. O quartzo neoformado é prismático, localmente bipiramidado, preenchendo as cavidades deixadas pela episienitização. A precipitação de fluorita e/ou carbonato parece ser posterior à de quartzo. Apesar de ser alteração interessante para o estudo do hidrotermalismo, descrita anteriormente, com certa ênfase, por Tallarico et al. (2004), a epissienitização não tem importância metalogenética no contexto do Depósito Breves, tendo sido identificada em um único furo de sonda, em intervalo de sete metros, completamente estéril. Uma característica importante das rochas potassificadas e epissienitizadas é o elevado grau de metamictização de zircão e allanita. Alteração fengítica-clorítica A alteração fengítica-clorítica constitui a alteração hirdotermal mais importante no depósito, sendo, entretanto, necessário ressaltar que essa denominação ainda é motivo de discussão. Os primeiros trabalhos sobre Breves descrevem essa alteração como greisenização. Entretanto, os aspectos mineralógicos e químicos do depósito, além da natureza pouco evoluída do sistema granítico, não apóiam essa denominação. Denominação do tipo alteração fílica, por exemplo, também não é adequada, já que não há lixiviação de magnésio. Assim, a denominação de alteração fengítica-clorítica está sendo utilizada por ser coerente com o enriquecimento em fengita e clorita, cujas composições são, respectivamente, de muscovita e chamosita. No Depósito Breves a alteração fengítica-clorítica implica no desaparecimento de feldspatos e biotita e sua substituição por muscovita, clorita, turmalina e quartzo, resultando em rocha de coloração escura, que constitui o minério principal (Figuras 3b, 5e e 6e). As principais evidências de que o minério principal se desenvolveu por substituição de biotita granito estão representadas pelos aspectos seguintes: i) restos de biotita magmática em aglomerados de turmalina (Figura 6f); ii) enriquecimento em Ti em turmalina desenvolvida sobre antiga biotita, gerando cristais zonados; iii) presença de óxidos de Fe e/ou Ti em clorita, indicando sua formação sobre antiga biotita e iv) cristais prismáticos de zircão, idênticos àqueles encontrados no granito. A alteração fengítica-clorítica também está presente nas rochas encaixantes nas proximidades do corpo mineralizado ou de rochas graníticas. A nordeste do corpo principal, no furo de sonda 149, foi observado importante sistema de brechas, com faixas mineralizadas Figura 7 Descrição da zona de brecha na encaixante a NE do corpo mineralizado do Depósito Breves. Foto representa fenocristal de quartzo magmático com golfos de corrosão em matriz riolítica. Os bolsões de sulfeto maciço têm a aparência daqueles representados na Figura 5I. (Figuras 2 e 7), tendo sido o setor onde foram encontradas as maiores concentrações de cassiterita (Figuras 8e e 8f). Nos intervalos entre 272 e 295 metros e entre 317 e 320 metros são importantes as concentrações maciças de calcopirita, envolvendo completamente os fragmentos das brechas hidrotermais (Figura 5I). Zona Mineralizada A mineralização principal está associada à zona hidrotermal gerada pela alteração fengítica-clorítica, que constitui corpo homogêneo, cujas dimensões máximas estão estimadas em cerca de 200 metros de espessura e 500 metros de comprimento, podendo ser contínuo, em profundidade, por cerca de 400 metros. O corpo possui alongamento NNW, mergulhando fortemente para NNE (Figura 3a). A rocha mineralizada apresenta textura xenomórfica e é constituída de matriz de grãos de quartzo, com muscovita e clorita intersticiais. Os sulfetos se concentram preferencialmente nas porções mais micáceas e englobam os minerais silicáticos (Figura 6e). 350 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Os principais minerais de minério do Depósito Breves são calcopirita, arsenopirita cobaltífera, pirita, molibdenita, pirrotita, wolframita, cassiterita e bismutinita (Figuras 8 e 9). Outros minerais presentes são marcassita, löllingita, glaucodoto, safflorita, estanita, scheelita, berilo, fenacita, calcosita, covelita. O ouro, presente em quantidades muito pequenas no granito e na rocha encaixante alterados, ocorre como inclusões em arsenopirita (Figura 8d) e, mais raramente, glaucodoto e calcopirita, quase sempre acompanhado de bismuto nativo. Nos furos 98 e 100 ocorrem sistemas de veios de quartzo mineralizados, nos quais foram identificados vários grãos de ouro como inclusões em arsenopirita cobaltífera e glaucodoto (Figura 8c) Sistemas venulares são comuns nas encaixantes metassedimentares e metavulcânicas, nas quais veios de quartzo podem conter importantes concentrações de minério. Outros minerais comuns que acompanham as associações hidrotermais mineralizadas são fluorita, rutilo/ anatásio, ilmenita, carbonato, apatita, xenotima, monazita, uraninita e torita. Sob esse aspecto, chamam a atenção os veios enriquecidos em monazita, xenotima, apatita rica em ETR e uraninita, que podem significar importantes concentrações de U e ETR no Depósito Breves, além da grande concentração de fluorita. Contrapondo essa asso- ciação comum em granitos de tendência alcalina, aparece o enriquecimento em cobalto na paragênese sulfetada, com formação de glaucodoto e safflorita, incomum em associações graníticas. As zonas hidrotermalizadas no Depósito Breves podem ser compartimentadas em seis tipos distintos, com associações minerais características, em variedade e quantidade. Resumo dos tipos de minério e minerais associados é apresentado na figura 9. As principais características e minerais mais importantes são: I Zona Potássica. Fraca disseminação de minério. Calcopirita + pirita + pirrotita ± molibdenita ± cassiterita ± wolframita II Minério disseminado principal. Disseminação média, mas constante por dezenas até centenas de metros, associada à alteração fengíticaclorítica (Figura 5e). Concentrações maciças de sulfeto em vênulas (Figura 5f). Calcopirita + pirrotita + arsenopirita + pirita + molibdenita + ouro + wolframita (± scheelita) III Veios nas proximidades do contato entre granito e encaixantes. Concentrações maciças de sulfetos e wolframita com quartzo (Figura 5g). Nos veios ricos em biotita foram identificadas as maiores concentrações de minerais de terras raras. (c) (a) (b) (d) (e) (f) Figura 8 Fotomicrografia em luz refletida (N//) das principais associações de minerais de minério. (a) Relações entre arsenopirita cobaltífera (aspy (Co) precoce e calcopirita em veio de sulfeto maciço no minério principal; (b) veio de quartzo no minério principal, rico em calcopirita, pirrotita (amarelo) e wolframita. As manchas escuras irregulares em wolframita representam scheelita; (c) grãos de ouro (Au), acompanhados de bismuto nativo (Bi) e bismutinita (Bt), inclusos em glaucodoto (Gl), associados a veios de quartzo (Qz) no contato granito-encaixante; (d) grão de ouro e pirita (py), inclusos em arsenopirita, no minério principal; (e) aspecto, em luz transmitida, dos grãos de cassiterita na zona de brecha do furo 149, associada aos bolsões de sulfeto da Figura 5I; (f) grão de cassiterita da foto anterior em luz refletida com borda parcialmente substituída por estanita e rara herzenbergita (SnS). 351 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Figura 9 Minerais associados às áreas hidrotermalizadas e aos tipos de minério do Depósito Breves, com indicações sobre concentração e cronologia relativas. Calcopirita + arsenopirita (± löllingita ± glaucodoto ± safflorita) + bismutinita + Bi-nativo + ouro + molibdenita + wolframita + cassiterita + monazita + xenotima + apatita. IV Disseminação nas encaixantes. Fraca disseminação em zonas hidrotermalizadas mais superficiais. Maiores concentrações de turmalina. Pirita + calcopirita + arsenopirita ± pirrotita V Veios na Encaixante (Figura 5h) Pirita + calcopirita + pirrotita + monazita + xenotima + apatita VI Brechas na encaixante (Figura 5i) Calcopirita + pirita + pirrotita + arsenopirita + cassiterita (± estanita) + wolframita (± scheelita). das as amostras estudadas, já que não houve possibilidade de amostragem sistemática mais distante da zona mineralizada. Nesse aspecto, a utilização de elementos maiores para análise de parâmetros como alcalinidade e aluminosidade está seriamente comprometida e não será abordada. Análises representativas de granitos, granito potassificado e encaixantes encontram-se na Tabela 1 e os diagramas mais importantes para discussão das relações entre essas rochas são apresentados nas figuras 10 e 11. Os minérios, cujas análises representativas encontramse na Tabela 2, também serão abordados neste item, com o objetivo de discutir seu provável protolito e o enriquecimento em elementos metálicos. VI. LITOGEOQUÍMICA Biotita granito e granito subvulcânico A discussão sobre litogeoquímica do Alvo Breves será feita primeiramente com base nas amostras menos alteradas de granitos e encaixantes metavulcânicas. Mesmo assim, deve ser ressaltado que efeitos de reequilíbrio tardi/pós-magmático estão presentes em to- O biotita granito dominante no Depósito Breves é caracterizado por razão MgO/TiO2 ligeiramente maior ou próxima de 1, semelhante àquelas descritas para granitos do tipo A (Figura 10a). O granito subvulcânico possui essa razão em torno de 0,5, embora também tenha caracterís- 352 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Tabela 1 Análises de amostras representativas de granitos e de rochas encaixantes do Depósito Breves (< abaixo do limite de detecção; óxidos e S em % peso; Au em ppb; demais elementos em ppm) ticas de granito tipo A. Nos demais diagramas esses granitos são muito semelhantes, caracterizados pelo enriquecimento em Ba, Zr, Nb, Y e terras raras. O biotita granito tem padrão de terras raras (TR) pouco fracionado semelhante aos granitos do tipo A de mesma idade, descritos por Dall´Agnol et al. (1994) na re- 353 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás (a) (b) (d) (c) (f) (e) (g) (h) Figura 10 Relações entre elementos maiores e elementos-traço mais importantes na discussão petrológica dos granitos e rochas encaixantes do Depósito Breves. gião. O granito subvulcânico com olivina apresenta padrão peculiar, sem a característica anomalia negativa de Eu, mas com fracionamento e concentração média de terras raras semelhantes. Embora, em alguns diagramas, como, por exemplo, Nb x Ta (Figura 10d), as amostras dos granitos pareçam indicar um único conjunto evolutivo e considerando que essas mesmas amostras represen- tem líquidos graníticos, a diferença no padrão de terras raras sugere que o granito subvulcânico e o biotita granito principal não são co-magmáticos. Evidências para essa interpretação serão também apresentadas no capítulo sobre geoquímica isotópica. Ambos os granitos têm concentrações de Nb, Y e Rb indicativas de granitos intraplaca (Figura 12). 354 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia (a) (b) (c) (d) Figura 11 Diagramas de terras raras normalizados ao condrito (Boynton 1984), comparando os padrões dos conjuntos de rochas mais homogêneos do Depósito Breves. A discussão sobre concentração de elementos mineralizadores, como Cu, Au e Sn nos granitos está comprometida pelo hidrotermalismo. As centenas de ppm de Cu, dezenas de ppm de Sn e dezenas de ppb de Au (Figuras 10e, 10f e 10g) são muito provavelmente produtos de enriquecimento tardi/pós-magmático, com provável aporte de Cu e Au a partir das rochas encaixantes. A respeito de Sn, vale salientar que os valores encontrados no granito subvulcânico e em amostras mais preservadas do biotita granito estão entre 5 e 10 ppm e são compatíveis com os teores encontrados nos granitos mais precoces de províncias estaníferas brasileiras (Botelho & Moura 1998; Lenharo et al. 2002). Rochas metavulcânicas ácidas As rochas englobadas sob a denominação de metavulcânicas ácidas, incluídos aqui tufos e metarriolitos, têm comportamento geoquímico semelhante, quando são observados os elementos menos móveis. Apresentam razão MgO/TiO2 muito elevada, entre 5 e 40, muito distinta daquelas encontradas nos granitos (Figura 10a). Juntamente com o enriquecimento em MgO, as rochas apresentam altos teores de elementos incompatíveis, como Rb, Sn, Be, Nb e Ta (Tabela 1 e Figura 10c e 10d). Considerando o comportamento usual desses elementos em am- bientes graníticos, é provável que os valores de MgO representem as concentrações primárias existentes nessas rochas e que o enriquecimento em elementos incompatíveis esteja relacionado à intrusão dos granitos do tipo A. As rochas metavulcânicas ácidas têm, no conjunto, assinatura de magmatismo intraplaca (Figura 12), com ligeiro deslocamento para o domínio de magmatismo sintectônico, devido ao provável enriquecimento secundário em Rb. O padrão de TR é anômalo entre os demais, apresentando, em relação aos granitos, forte empobrecimento em terras raras leves e enriquecimento em terras raras pesadas, resultando em padrão plano ou ascendente, com forte anomalia negativa de Eu. Rochas, cujo padrão de TR é semelhante, foram descritas no Depósito de Gameleira, em Carajás, e os padrões ascendentes foram atribuídos a forte influência de turmalina e fluorita (Lindenmayer et al., 2001). Essa interpretação não se aplica ao Depósito Breves, pois tanto amostras mineralizadas, também ricas em turmalina e fluorita, como FR84-241,53, e amostras preservadas como FR82-250,10 têm o mesmo padrão de terras raras. O enriquecimento em terras raras pesadas apresenta boa correlação com teores elevados de ítrio, sugerindo influência de concentrações de xenotima nessas rochas, observada principalmente em microveios. 355 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás A concentração de elementos mineralizadores no conjunto metavulcânico ácido é muito variável, principalmente em relação a Cu, Au, Mo, Bi e As. Por outro lado, os maiores teores de Sn e W foram verificados nessas rochas, mesmo em amostras mais preservadas da alteração hidrotermal. Existe boa correlação positiva entre Sn e Cu na maioria das amostras, embora existam amostras de granito e encaixantes, em que o aumento de Sn não é acompanhado por Cu (Figura 10g). O mesmo tipo de correlação existe para Sn e Au, embora com maior espalhamento das amostras analisadas (Figura 10h). Rochas Potassificadas A maior parte das rochas potassificadas possui assinatura geoquímica comparável à do biotita granito (Figuras 10a e 10b). Entretanto, algumas amostras são semelhantes às metavulcânicas, e mesmo ao granito subvulcânico, quando observados parâmetros como Ti, Mg, Ta, Nb, e terras raras, cuja concentração e/ou fracionamento não parecem ter sido afetados pela potassificação. Conteúdos menores em terras raras e padrão pouco fracionado, com anomalia negativa de Eu, são indicativos de rochas metavulcânicas, enquanto padrão sem a anomalia de Eu é comparável ao granito subvulcânico (Figuras 11a, 11b e 11c). As rochas potassificadas apresentam leve enriquecimento em elementos mineralizadores como Sn, Cu, Au e W. Os conteúdos mais elevados, que podem chegar a 1% de Cu e 1 ppm de Au, referem-se a concentrações localizadas, sem importância econômica no contexto do depósito. Mudança química importante durante a potassificação é representada pela diminuição do conteúdo de Zr, do granito para o granito potassificado (Figura 13). O empobrecimento em Zr está relacionado a provável desestabilização de zircão, que favorece a metamictização. Como salientado no item sobre petrografia, zircão do granito potassificado é o mais metamíctico. Essa mudança causa alguma confusão entre rochas graníticas alteradas e rochas metavulcânicas, originalmente mais empobrecidas em Zr, indicando que o uso desse elemento como parâmetro de caracterização litológica deve ser visto com cautela. Rochas Mineralizadas A discussão sobre a litogeoquímica das rochas mineralizadas tem como objetivo principal a caracterização dos prováveis protolitos do minério, cuja definição é essencial para uma proposta de modelo do Depósito Breves. Nesse aspecto, deve ser salientado que a amostragem, na maioria das vezes, difere daquela utilizada pela em- Figura 12 Diagrama discriminante de ambiente tectônico de Pearce et al. (1984) para rochas graníticas, aplicado aos conjuntos de rochas pouco hidrotermalizadase mais homogêneas do Depósito Breves. VAG: arco magmático; SYN-COL: sincolisional; WPG: intraplaca; ORG: dorsal oceânica. Figura 13 Diagrama K2O/Na2O x Zr, comparando amostras de biotita granito, sem alteração e potassificadas. presa, cujo objetivo principal é estabelecer o volume de minério e seu teor médio. Assim, algumas amostras utilizadas neste trabalho podem ser mais suscetíveis a efeitos de pepita, embora no caso do minério disseminado tenham sido consideradas apenas amostras sem venulações. Por outro lado, existe também a possibilidade de amostras com teores, principalmente de Cu, abaixo da média do intervalo ao qual pertence. A assinatura geoquímica do minério disseminado mostra algumas peculiaridades, quando analisados os elementos que estão sendo considerados menos móveis, como Ti, Mg, Nb e Ta. A razão MgO/TiO2 não é compatível com aquelas observadas nas rochas hospedeiras pouco 356 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Tabela 2 Análises representativas dos vários tipos de rocha mineralizada do Depósito Breves. (limite de detecção: < mínimo, > máximo; óxidos e S em % peso, Au em ppb; demais elementos em ppm) 357 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás (a) (b) (c) (d) (f) (e) (g) (h) Figura 14 Relações entre elementos maiores e elementos-traço mais importantes na caracterização dos tipos de minério do Depósito Breves. 358 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia ou não alteradas, apresentando distribuição intermediária entre aquelas observadas em biotita granito e nas rochas metavulcânicas ácidas (Figuras 14a e 14b). Por outro lado, as concentrações e relações ente Ta e Nb são comparáveis às do biotita granito. Os padrões de terras raras do minério disseminado são comparáveis aos do biotita granito. Embora algumas amostras de minério mostrem enriquecimento em terras raras, o fracionamento médio continua o mesmo do biotita granito. Vale salientar que, em uma dezena de análises do minério, não foi observado padrão comparável ao espectro de terras raras das rochas metavulcânicas. Os elementos metálicos mostram distribuição heterogênea entre os vários tipos de minério. A correlação positiva entre As e Co é a melhor encontrada e está relacionada à associação de arsenetos, que compreende arsenopirita cobaltífera, glaucodoto e safflorita. A maior concentração de Co, As e Bi foi encontrada nos sistemas de veios localizados tanto no granito potassificado quanto nas encaixantes, nas proximidades do contato entre ambos. Esses veios são também os mais enriquecidos em Au, com teores de até 30 ppm de Au, atestando a relação entre Au, Bi e As. Os veios mineralizados nas proximidades do contato entre granito e encaixantes aparecem como alvo adicional para busca de mineralizações auríferas no Depósito Breves. Neles foram observados a maior concentração e os maiores grãos de ouro em seções polidas (Figura 8c). Deve ser ressaltada a concentração de Co nesses veios, cujos teores estão próximos de 0,5%. O minério disseminado também mostra boa correlação entre Au, Bi e As, bem como entre Au e Cu, mas com concentração de Au menor do que aquela observada nos veios localizados nas proximidades do contato entre granito potassificado e as rochas encaixantes. Os teores de Cu estimados compõem média em torno de 0,8%, inferior àquela divulgada na literatura (1,2 %, Tallarico et al., 2004). Essa diferença é decorrente da amostragem realizada para este trabalho, não adequada para cálculo de teores médios em grandes intervalos dos furos de sonda. A maior parte das concentrações de Mo em todos os tipos de minérios analisados está abaixo da média de 175 ppm, reportada por Tallarico et al. (2004), sendo que o valor máximo encontrado não ultrapassa 1000 ppm. Esse elemento mostra boa correlação com Cu (Figura 14e), mas não tem, por exemplo, a mesma importância encontrada nos depósitos de Cu-Mo pórfiro. Nesse aspecto, vale ressaltar que no Depósito Breves cobalto possui concentração mais expressiva do que a de molibdênio. O estanho também não revelou concentrações excepcionais no Depósito Breves, com teores máximos da ordem de 1000 ppm e média em torno de 100 ppm, considerados todos os tipos de minério (Figura 14f). Embora estanho, entre os elementos mineralizadores do Alvo Bre- ves, seja o de maior afinidade com o tipo de granito aí encontrado, suas maiores concentrações médias são exograníticas e estão associadas às brechas e aos veios na encaixante, onde foi observada a maior quantidade de cassiterita e estanita (Figura 8e e 8f). A distribuição de tungstênio no Depósito Breves está bem correlacionada à distribuição de Sn, apenas no minério disseminado. Mesmo assim, duas amostras, cuja concentração de W está acima de 1%, não mostram enriquecimento correspondente em Sn. Desconsiderando essas duas amostras, o teor médio de W fica próximo do valor de 1200 ppm, reportado por Tallarico et al. (2004). Merecem ainda destaque as elevadas concentrações de W encontradas nos veios e brechas, algumas sem enriquecimento correspondente em Sn, atestando a importância de tungstênio no Depósito Breves (Figura 8d), ao lado de Cu e Au. VII. QUÍMICA MINERAL As principais fases minerais observadas no Alvo Breves foram analisadas por microssonda eletrônica, objetivando sua caracterização química. Foram analisados silicatos, óxidos e sulfetos. Para discussão das composições e sua importância no contexto magmático e metalogenético, os minerais foram divididos em minerais de ganga, em sua maioria silicatos, e em minerais de minério, compreendendo, principalmente, sulfetos e óxidos comumente associados nas rochas mineralizadas. Minerais de Ganga Feldspatos Com exceção do epissienito, feldspatos (ortoclásio e plagioclásio) sempre foram encontrados em rochas com pouca ou nenhuma alteração hidrotermal (biotita granito, granito subvulcânico, rochas metavulcânicas ácidas). Em todos os casos, plagioclásio sempre mostra alguma alteração para muscovita, enquanto ortoclásio apresenta substituição parcial a total por microclínio secundário, localmente mostrando alteração também para muscovita. Em granitos hidrotermalizados e no minério os feldspatos foram completamente substituídos por micas. Foi analisado feldspato potássico encontrado em epissienito, biotita granito, granito subvulcânico e rochas metavulcânicas. O plagioclásio analisado foi encontrado em granito e nas rochas metavulcânicas. Os dados de plagioclásio individualizam-se em dois grupos: o primeiro corresponde àquele encontrado em granito e granito alterado e possui composição variando entre An25 e An31 (oligoclásio/andesina). Algumas análises forneceram composição de albita (An0,8) sugerindo 359 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás albitização de plagioclásio, ainda que incipiente, ou início de descalcificação do mesmo. O segundo grupo corresponde a plagioclásio encontrado nas rochas metavulcânicas, que possui composição de albita pura, com teor de anortita variando entre 0 e 2%. Independentemente do tipo de rocha em que feldspato potássico foi encontrado, os dados químicos se individualizaram em três grupos: um com composição entre Or97 e Or98,5, que engloba a maioria dos dados e representa ortoclásio microclinizado; outro com composição entre Or74 e Or85, que foi atribuída à composição original de ortoclásio, e um terceiro de composição intermediária (Or93 a Or96), que representa ortoclásio parcialmente substituído por microclínio. Os feldspatos analisados praticamente não apresentam SrO, enquanto BaO pode ocorrer em concentrações entre 0 e 0,5% peso em plagioclásio e entre 0 e 2,5% em ortoclásio. Feldspato potássico encontrado nas rochas metavulcânicas tende a ser mais rico em BaO que os demais exemplares analisados. Olivina Olivina foi identificada unicamente no granito subvulcânico, no qual ocorre como cristais de tamanho variado, hábito arredondado, envoltos por halo de magnetita e quartzo finamente intercrescidos, que também se estende ao longo de suas fraturas (Figura 6b). A olivina do Alvo Breves possui composição química de faialita, entre Fa97,93 e Fa98,77. O intercrescimento observado entre quartzo e magnetita é tão fino que análises realizadas nos mesmos forneceram também composição de faialita e pode ser tanto produto de reequilíbrio subsolidus da olivina, a temperaturas elevadas, quanto produto de pequenas variações na fugacidade de oxigênio, mas sempre em condições próximas do tampão FMQ. A textura observada (grãos de faialita envoltos por auréola constituída de magnetita e quartzo finamente intercrescidos) sugere que a cristalização inicial do granito subvulcânico deu-se se a fugacidade de oxigênio controlada pela reação (Frost, 1991): 2Fe3O4 + 3SiO2 ⇔ 3Fe2SiO4 + O2 (1). magnetita + quartzo = faialita Essas condições de fO2 são significativamente mais redutoras do que aquelas observadas, por exemplo, em granitos oxidados, associados aos depósitos de Cu-Au pórfiro, que estão acima do tampão NiNiO (Figura 15). Anfibólio O anfibólio é mineral raro no Alvo Breves, tendo sido identificado unicamente no granito subvulcânico, no qual Figura 15 Condição aproximada de fo2 no início da cristalização do granito subvulcânico com base no tampão FMQ (figura adaptada de Fost 1991). ocorre disseminado ou, mais comumente, envolvendo os aglomerados de faialita, magnetita e quartzo (Figura 6d). Os cristais possuem tamanho variado, hábito anédrico, são poiquilíticos a maciços e apresentam cores de pleocroísmo entre verde escuro e marrom claro. Não mostram evidências de alteração e possuem composição de hastingsita (Figura 16), com elevados conteúdos em K2O (1,53 a 1,83%) e Cl (1,34 a 1,80%) (Tabela 3), que levam sua classificação para hastingsita potássica clorosa. Os conteúdos em TiO2, entre 0,4 e 1,5%, são semelhantes aos de anfibólios de alta temperatura descritos na literatura. Os teores em F são muito variáveis (0 a 0,81%). A razão F/Cl varia entre 0 e 0,4 mostrando que são caracteristicamente mais ricos em Cl do que em F, indicando que o sistema era rico em Cl. A hastingsita caracterizada é quimicamente semelhante ao anfibólio descrito em trabalho anterior sobre Breves (CVRD 2001), em amostras de diques do furo de sonda FR-85. Entretanto, o anfibólio aqui identificado tende a ser mais rico em Cl. Nese trabalho anterior, são citados anfibólios semelhantes, porém ainda mais ricos em Cl e mais pobres em Ti, que ocorrem nas rochas hidrotermais dos depósitos de Sossego e Cristalino em Carajás. O anfibólio do Alvo Breves é rico em Fe, com #mg [100Mg/(Mg+Fe)] entre 4,5 e 6,6. Sua utilização como geotermômetro é inviabilizada pela razão Fetotal/(Fetotal + Mg) elevada, entre 0,96 e 0,98, muito acima do intervalo entre 0,4 e 0,65, estipulado por Anderson (1996) como limite para aplicação do geotermômetro da hornblenda. Não foi possível comparar #mg de anfibólio e biotita que ocorre associada, pois esta última se encontra cloritizada. A hastingsita de Breves é pobre em Fe2O3 e, assim como 360 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Tabela 3 Análises representativas de anfibólio do granito subvulcânico na amostra FR100-543,80. Figura 16 Classificação de anfibólio do granito subvulcânico no diagrama de Leake et al. (1997), com indicação do domínio de camposição de anfibólio analisado em trabalho anterior. indicado pela associação faialita, magnetita e quartzo, sua composição é compatível com cristalização a baixas fugacidades de oxigênio, próximas do tampão FMQ. Turmalina Turmalina foi identificada principalmente em produtos de alteração hidrotermal de granitos e encaixantes ou no minério. Três tipos de turmalina puderam ser identificados oticamente: i) turmalina verde azulada; ii) turmalina zonada em cores azul e marrom avermelhado; iii) turmalina azul. Turmalina verde azulada é a mais comum no Depósito Breves. Possui hábito prismático a arredondado ou mesmo maciço, podendo ocorrer isolada ou constituir aglomerados, substituindo antigos minerais ou constituindo veios. As manchas de cor marrom que ocorrem nessa turmalina foram interpretadas como evidência de antigas porções da rocha ocupadas por biotita, já que em alguns turmalinitos foram identificados restos de biotita magmática associados a manchas de cor marrom no contato com turmalina (Figura 6f). Turmalina zonada foi identificada nos prováveis tufos, caracterizada por apresentar borda de cor azulada e núcleo de cor amarela alaranjada. A zonação ótica reflete zonação química, com o núcleo mais rico em Ti, F e Mn do que a borda. Entretanto, os maiores teores de Ti e F estão relacionados a manchas de cor marrom, que representam locais anteriormente ocupados por biotita (Figura 17). Durante o hidrotermalismo, Ti e F contidos na mica seriam incorporados, pelo menos em parte, pela turmalina neoformada. O terceiro tipo de turmalina foi identificado na amostra FR82-250,10, correspondente a rocha metavulcânica 361 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás ácida, sendo interpretado como provável turmalina ígnea, denominada de turmalina primária. Esse tipo ocorre como raros grãos de cor azul, intersticiais, pequenos (100µm) e anédricos. As turmalinas do Depósito Breves possuem composição de schorlita (Figura 18a). Os dados constituem três conjuntos: o primeiro engloba as turmalinas encontradas nos produtos de alteração do granito, no minério e nos veios encaixados no granito. Suas razões Na/(Na+Ca) e Fe/(Fe+Mg) variam entre 0,98 e 1,00 e entre 0,80 e 0,95, respectivamente. O segundo e terceiro conjuntos englobam turmalinas associadas a rochas metavulcânicas, metavulcanoclásticas e, provavelmente, metassedimentares. São caracterizados pela razão Fe/(Fe+Mg) entre 0,75 e 0,95 e entre 0,47 e 0,65, respectivamente. As turmalinas com essa razão mais baixa chegam a apresentar composição próxima ao limite entre dravita e schorlita. Essa variação composicional deve-se à zonação, principalmente na turmalina do provável tufo, onde a borda mostra composição de schorlita e o núcleo mostra gradação para composição de dravita. De modo geral, as turmalinas estudadas possuem conteúdo em TiO2 inferior a 0,7% (Tabela 4). Entretanto, o núcleo da turmalina do tufo, que possui cor marromavermelhada, apresenta conteúdo em TiO2 entre 1,0 e 1,5%. O conteúdo em F é extremamente variável, tendo sido constatados valores entre 0 e 2% em todas as turmalinas analisadas. Os dados também foram dispostos no diagrama (R1+R2) x R3, em que R1 = Na + Ca; R2 = Fe + Mg + Mn e R3 = Al + 1,33Ti (London et al. 1997), que mostra a posição dos pólos schorlita-dravita e as principais trajetórias de substituição observadas em turmalinas associadas a granitos e pegmatitos (figura 18b). Neste diagrama os dados das turmalinas de Breves se dispõem preferen- Figura 17 Perfil em turmalina zonada do metatufo, mostrando o enriquecimento em Ti e F na zona de cor marrom escuro. cialmente sobre a linha que representa o trend magmático, caracterizado pela substituição dos cátions divalentes por Al, o que é acomodado por oxidação (substituição do OH por O) ou vacâncias nos álcalis. A turmalina das rochas de alteração de biotita granito se localiza mais próxima do pólo de schorlita, enquanto a turmalina das encaixantes apresenta maior variação ao longo do trend magmático. Alguns dados de turmalina tendem a se localizar na porção intermediária entre o trend magmático e o hidrotermal, mas não se constata turmalina com trend claramente Figura 18 Representação de composições de turmalinas do Depósito Breves. (a) classificação de acordo com Hawthorne & Henry (1999); (b) distribuição das análises segundo trajetórias de substituição magmática e hidrotermal. 362 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Tabela 4 Composições médias das turmalinas do Depósito Breves. 1: turmalina primária em metavulcânica ácida; 2-4: minério; 5: biotita granito potassificado; 6-8: veio em biotita granito; 9-14: metatufo; 15: metarriolito; n: número de análises. hidrotermal como aquela reportada em trabalho anterior sobre Breves (CVRD 2001). Essa turmalina, que não foi analisada neste trabalho, ocorre na rocha anteriormente denominada de greisen azul, que é rocha hidrotermal muito rica em turmalina, correspondente a uma zona de alteração fengítica-clorítica estéril. A discussão sobre a origem magmática ou hidrotermal das turmalinas é muito importante. As turmalinas das rochas originadas a partir do biotita granito são seguramente hidrotermais, já que se encontram na alteração fengítica-clorítica ou em veios. Não foi observada turmalina fazendo parte da trama dos minerais 363 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás magmáticos nos granitos. Já algumas turmalinas das encaixantes metavulcânicas e metavulcanoclásticas, como aquela descrita como ígnea na petrografia, ocorrem associadas a rochas em que biotita magmática está preservada. Essa relação e a variação composicional mostrada anteriormente permitem sugerir que essas turmalinas sejam magmáticas, o que poderia ser mais um argumento favorável à idéia de que o magmatismo que deu origem às rochas vulcânicas seja distinto daquele que deu origem ao biotita granito. A caracterização das composições químicas das turmalinas de Breves em diagramas binários permite separação dos tipos propostos anteriormente (Figura 19). Quando comparadas com as composições das turmalinas estudadas anteriormente (CVRD 2001), há grande superposição dos dados, exceto para as análises mais ricas em Mg e Ti, que correspondem aos núcleos das turmalinas das rochas metavulcânicas ou às porções de turmalina desenvolvidas sobre lamelas de biotita (Figura 19a). Nesse aspecto, não foi possível individualizar os dados em domínios referentes às rochas estéreis e ao minério, como proposto no trabalho citado acima, já que a composição da turmalina do minério distribui-se por ambos os domínios (Figuras 19b e 19d). Assim, pode-se concluir que, em Breves, a composição da turmalina depende fortemente do protolito, de derivação granítica ou vulcânica, e influência dos minerais substituídos, principalmente de biotita. Turmalina é mineral comumente utilizado na literatura como referência de tipologia de depósitos minerais, embora, na maioria das vezes, o que se observa é uma grande superposição de domínios composicionais nos diagramas mais conhecidos. No diagrama proposto por Slack (1996), as turmalinas das rochas metavulcânicas e metavulcnoclásticas do Depósito Breves são comparáveis às turmalinas dos depósitos de Sn e Cu da Cornuália. Entretanto, grande parte das turmalinas relacionadas à alteração do granito e os núcleos ricos em Ti das turmalinas zonadas localizam-se fora dos campos propostos pelo autor, não podendo ser correlacionados a qualquer dos depósitos relacionados. Biotita Biotita é encontrada em todos os tipos de rocha identificados no Alvo Breves, exceto no minério disseminado principal. Entretanto, esse mineral está freqüentemente cloritizado, o que dificulta sua utilização como indicador geoquímico ou petrogenético. Assim, foi necessária uma boa triagem dos resultados analíticos, para eliminar todas as análises que indicassem cloritização. Outro reequilíbrio comum em biotita de Breves está relacionado à transformação de biotita primária em secundária. Nesse caso também foi feita separação com base nos parâmetros propostos por Nachit (1986), que levam em conta principalmente o teor de Ti, mais elevado na biotita primária. Figura 19 Composição das turmalinas do Depósito Breves, comparação com dados anteriores para o depósito e distribuição nos domínios do minério e das rochas estéreis proposto em CVRD (2001). 364 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Biotita primária, encontrada em biotita granito, tufo e rochas metavulcânicas ácidas, caracteriza-se por apresentar cor marrom avermelhado intenso (Figuras 6a e 6e). Em biotita granito e nas rochas metavulcânicas mostra substituição parcial por biotita secundária, que forma halos ao redor de biotita primária, preservando-lhe o hábito (Figura 6b). De modo geral, a biotita dos granitos hidrotermalizados está intensamente cloritizada. Entretanto, em um dos veios granito/encaixante, constituído basicamente por quartzo, turmalina e biotita, a biotita está preservada. Nesta rocha a biotita ocorre como lamelas grandes, de cor marrom com as bordas esverdeadas, localmente apresentando evidências de cloritização. De modo geral, seu conteúdo em TiO2 é inferior a 1%, (Tabela 5), mostrando tratar-se de biotita secundária, reequilibrada e/ou Figura 20 Turmalinas do Alvo Breves e sua relação com domínios composicionais de turmalinas de depósitos minerais relacionados a rochas graníticas, no diagrama de Slack (1996). Tabela 5 Composições químicas médias representativas de biotita do Alvo Breves. 1, 3 e 4: biotita primária de biotita granito; 5, 8 e 9: biotita primária de granito preservada, respectivamente, em alteração fengítica-clorítica (Figura 6b), turmalinito (Figura 6f) e granito potassificado; 2: biotita secundária neoformada em microveio (Figura 6c); 6, 7 e 10: biotita secundária que substitui biotita primária (Figura 6b); 11: biotita primária de granito subvulcânico; 12 e 13: respectivamente, biotita primária e biotita secundária de meta-tufo; 14: biotita primária de rocha metavulcânica ácida, levemente cloritizada. n: número de análises. 365 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás neoformada, apesar da cor marrom. Algumas raras análises mostram conteúdo em TiO2­ superior a 2%, o que foi atribuído a prováveis núcleos preservados de biotita primária. A alteração hidrotermal de granito também originou rochas muito ricas em turmalina, nas quais foram observadas inclusões de biotita marrom-avermelhada. Essas inclusões, cujo núcleo é rico em TiO2, representam restos de biotita magmática com parte das bordas reequilibradas e parte substituída por turmalina marrom (Figura 6e). Não foi constatada a presença de biotita no minério principal. Entretanto, é provável que parte da clorita presente no minério seja decorrente de substituição de biotita, como se constata no furo 73, entre 464,60 e 473,78 metros de profundidade, nas proximidades do contato entre minério e granito potassificado, onde ainda se observam bandas de tonalidade marrom nas lamelas de clorita, associadas a aglomerados de rutilo. Apesar da tonalidade marrom, essas bandas já têm composição de clorita. A composição da biotita primária do biotita granito e do granito subvulcânico é comparável à de biotita de granitos alcalinos a subalcalinos com predominância deste último. Dois dados de biotita primária (amostra FR98459,16) do biotita granito, com teores mais elevados de Al, localizaram-se na interface de granitos calci-alcalinos e Al-potássicos, sugerindo tratar-se de efeito de contaminação local do magma granítico pela encaixante. Biotita das encaixantes metavulcânicas tem composição com- parável, no conjunto, à de biotita de séries aluminopotássicas, o que favorece a hipótese de contaminação do magma granítico pela encaixante, para explicar o desvio na composição da biotita primária, comentado anteriormente. Além disso, a amostra analisada possui vários xenólitos nodulares da encaixante. Nos diagramas discriminantes de Abdel-Rahman (1994) (Figuras 21b e 21c) os dados de biotita de granito localizam-se no campo de suítes anorogênicas alcalinas do tipo A, em acordo com a tendência alcalina a sub-alcalina mostrada na Figura 21a, e os dados anômalos de biotita do granito se localizam no campo de suítes peraluminosas, da mesma maneira que a biotita das encaixantes metavulcânicas. O diagrama (AlIV + AlVI) x (Si + Fe)VI (Figura 22a) mostra a substituição de Tschermak e a posição dos pólos trioctaédricos e dioctaédricos. Os dados de biotita primária do granito e do tufo indicam composição entre anita e siderofilita, mais próxima da anita, com ligeiro desvio causado pela substituição di-trioctédrica.. Esse mesmo comportamento foi observado na biotita secundária. A razão F/Cl em biotita primária de granitos é extremamente variável (0 a 2,32), e seus conteúdos em Cl (Figura 22b) são significativos, geralmente entre 1 e 1,5% peso, localmente chegando a 2%. Esses valores são muito elevados, quando considerados dados da literatura, em geral abaixo de 0,5% peso (Foster 1960), e incomuns em biotita de granitos tipo-A, mais ricas em flúor. Normal- Figura 21 Composição de biotita do Alvo Breves, aplicada à classificação das rochas do alvo quanto às principais séries de rochas graníticas. (a) Nachit et al. (1985); (b) e (c): Abdel-Rahman (1994). Figura 22 Principais substituições presentes em biotita do Depósito Breves e relações entre Fe, Mg, F e Cl. 366 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia mente, nos vários ambientes, a concentração de F em biotita é sempre maior do que a de Cl. No caso de Breves, a concentração de F em biotita primária dos granitos pode ser considerada normal, até 0,5%, a medianamente elevada, até 2%. Se o intervalo de variação de Cl e F em biotita é o mesmo (Figuras 22b e 22c), a sugestão é de que as mesmas se formaram em ambiente muito rico em Cl. Biotita secundária do Alvo Breves possui conteúdos em Cl extremamente variáveis (Figura 22b). Chamam a atenção os conteúdos extremamente elevados em Cl, entre 3,0 e 3,5% peso, observados em biotita do granito potassificado (FR73-477,38), com raros similares na literatura consultada (Foster 1960, Coulson et al. 2001, Deer et al. 2003). Biotita com elevadas concentrações de Cl, até 5,6%, talvez as maiores reportadas na literatura, ocorre associada a sistemas hidrotermais ricos em óxido de Ferro, As e Co (Mazdab & Barton 2001). Os conteúdos em F de biotita secundária também são extremamente variáveis, entre 0 e 3,0%, com individualização dos dados em dois conjuntos (Figura 22c): um com teores entre 1,5 e 3 % de F, compreendendo biotita de turmalinito das encaixantes e de veios, e outro com teores abaixo de 1,5%. De modo geral, a biotita secundária é mais rica em F que a biotita primária (Figura 22c), sugerindo que o sistema se enriqueceu em F durante a alteração hidrotermal. Entretanto, os elevados conteúdos em Cl na biotita secundária, semelhantes ou mesmo superiores aos conteúdos em Cl da biotita primária, sugerem que o sistema continuou rico em Cl durante a alteração hidrotermal. Muscovita Muscovita é mineral comum no Alvo Breves, tendo sido encontrada em praticamente todos os tipos de rocha. É sempre secundária, associada às alterações do tipo sericitização e fengítica-clorítica. Em granitos pouco alterados essas alterações são evidenciadas pela presença de muscovita finamente cristalizada sobre o feldspato, principalmente plagioclásio e, mais raramente, pela presença de grãos maiores. Com o prosseguimento da alteração ocorre a substituição total dos feldspatos. Os dados de muscovita foram dispostos no diagrama (AlIV + AlVI) x (Si+Fe+Mg) (a.f.u.), que mostra a substituição de Tschermak ou fengítica (Figura 23a). Composicionalmente, a muscovita de Breves dispõe-se em posição intermediária entre a série fengítica e a série muscovita-annita, evidenciando grande influência de substituição dioctaédrica trioctaédrica. A comparação entre as composições de muscovita do Alvo Breves mostra grande superposição dos dados dos diferentes tipos de rocha. A única diferença marcante está na muscovita do minério, que é mais rica em Cl e Fe que as demais (Figuras 23b e 23c e Tabela 6). Clorita Clorita foi identificada em praticamente todos os tipos de rocha do Alvo Breves, sendo, entretanto mais comum e abundante no minério disseminado. Nos veios e em turmalinito, o mineral ocorre de forma subordinada, como alteração de biotita. Na encaixante provavelmente metassedimentar, clorita tende a formar massa cristalina, geralmente com muscovita associada. Petrograficamente, clorita pode ser individualizada em dois tipos: um que coincide com clorita aparentemente neoformada do minério e outro que corresponde aos pseudomorfos pós-biotita, nos granitos e na encaixante. Embora exista grande variação dos conteúdos de Fe e Mg, todos exemplares estudados têm composição de chamosita (Figura 24a). Entretanto, a clorita encontrada no minério é mais rica em Fe, tendendo para o pólo da chamosita, enquanto aquela que ocorre como pseudomorfos de biotita apresenta maior conteúdo de Mg em solução sólida, aproximando-se do limite entre os campos de chamosita e clinocloro. Nesse aspecto, apenas clorita de minério e de biotita granito tem composição relativamente homogênea no que diz respeito ao teor de Figura 23 Principais substituições presentes em muscovita do Depósito Breves e relações entre Fe, Mg, F e Cl. 367 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Tabela 6 Análises representativas médias de muscovita do Depósito Breves. 1: biotita granito; 2: granito subvulcânico; 34: metarriolito; 5-6: granito intensamente muscovitizado próximo ao contato com o minério; 7-13: minério. Mg. Nas demais rochas, é mais provável que exista grande mistura entre clorita de substituição de biotita e clorita neoformada (Figuras 24b e 24c) Clorita do minério principal tende a ser mais rica em FeO e mais pobre em MgO e MnO que clorita proveniente da alteração de biotita (Figura 24b). Em ambos os grupos há melhor correlação entre FeO e MgO do que entre MgO e MnO, decorrente da substituição mais comum de Fe2+ por Mg2+. Outra variação composicional importante na distinção entre clorita neoformada e clorita de substituição está relacionada ao teor de Mn, nitidamente mais elevado nesta última, confirmando a diferença entre clorita de granito potassificado ou levemente muscovitizado, onde a clorita predominante é de substi- 368 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia tuição, e a clorita neoformada do minério principal (Figura 24c). Ilmenita As análises de ilmenita foram realizadas em grãos mais preservados, encontrados apenas em granito subvulcânico. Os grãos são homogêneos composicionalmente, com conteúdo em FeO variando entre 40,32 e 44,15% e de TiO2 entre 48,96 e 53,05%. FeO predomina sobre Fe2O3, com conteúdo deste último baixo ou nulo, com máximo de 1,42%. Nb2O5 varia entre 0 e 0,85% enquanto MnO varia entre 2,43 e 3,88%, sendo este último o principal elemento traço encontrado. Os baixos teores de Fe2O3 e de MnO atestam o caráter reduzido da ilmenita, compatível com a fO2 sugerida pela paragênese quartzo, magnetita e faialita e pela composição do anfibólio. Rutilo e Anatásio Rutilo e anatásio são os óxidos mais comuns no Depósito Breves, sendo encontrados em praticamente todos os tipos de rocha. Esses polimorfos foram diferenciados ao microscópio petrográfico pela cor e pelo sinal ótico, amarela e positivo, no primeiro caso, azul e negativo, no segundo. De modo geral, esses minerais são subprodutos da cloritização de biotita, sendo comumente encontrados como inclusões ao longo das clivagens de clorita, ou são formados a partir da substituição de biotita primária por biotita secundária, podendo ser encontrados ao longo das clivagens desta última. De modo geral, rutilo é mais rico em Nb, Ta e, principalmente, Fe em relação a anatásio (Figura 25). Rutilo encontrado no minério tende a ser mais rico em Nb, Ta e Fe que o da encaixante enquanto anatásio do granito tende a ser mais pobre em Fe que os demais. Minerais de Minério Os minerais de minério analisados incluem sulfetos e elementos nativos, além de cassiterita, wolframita e scheelita. Muitos sulfetos, como bismutinita e molibdenita, que ocorrem em quantidades importantes, não apresentaram impurezas significativas, nem desvios composicionais e não serão abordados em detalhe. Calcopirita e pirita Calcopirita e pirita são os sulfetos mais comuns encontrados no Depósito Breves, com predomínio da primeira. Em ambos os casos os cristais são homogêneos, não tendo sido constatadas variações composicionais significativas ou zonação dos cristais. As é a principal impureza nesses dois minerais, ocorrendo em concentrações entre 0,15 e 0,5%. Calcopirita pode estar alterada para calcosita, digenita, covelita ou malaquita. Um efeito comum de reequilíbrio da pirita é sua transformação, total ou parcial, em marcassita, com ligeira alteração da composição química, caracterizada pelo enriquecimento em cobalto, que pode atingir até 0,5% na marcassita. Pirrotita No Depósito Breves, pirrotita ocorre como inclusões arredondadas em cristais maiores de calcopirita e, mais raramente, em pirita e arsenopirita. Localmente pode ocorrer como o principal sulfeto da rocha. Neste caso, ocorre como cristais de grande tamanho, subédricos a anédricos, podendo ou não estar parcialmente envoltos por calcopirita e, mais raramente, pirita, em todos os casos indicando tratar-se do sulfeto mais precoce. Embora não seja feição comum, pirrotita pode apresentar auréolas de alteração para limonita. Figura 24 Classificação de clorita do Alvo Breves e relações entre Fe, Mg e Mn. 369 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Tabela 7 Análises representativas médias de clorita do Depósito Breves. 1: biotita granito; 2: metarriolito; 3-5: granito alterado; 6: xenólito; 7: veio no metatufo; 8: -12: minério; 13: epissienito (neoformada); 14-15: epissienito (substituição). Caracteristicamente os grãos são homogêneos composicionalmente e as únicas impurezas constatadas foram arsênio e cobre, que ocorrem em concentrações de até 0,2% e até 0,5%, respectivamente. Arsenopirita Figura 25 Relações entre Fe e Nb em rutilo e anatásio do Alvo Breves. Arsenopirita também é sulfeto comum nas rochas estudadas, embora ocorra de forma subordinada a calcopirita e pirita. Nas amostras em que arsenopirita foi encontrada, a ordem de cristalização observada em lâmina foi: pirrotita arsenopirita pirita calcopirita löllingita. A presença de pirrotita precoce no minério é indicativa de fS2 elevada e as relações texturais indicam que pirrotita e arsenopirita estão em equilíbrio nos raros locais em que aparecem em contato. Assim, arsenopirita pode ser descrita em duas associações, uma com pirrotia e outra com löllingita. Löllingita representa associção de mais baixa temperatura, em condições de mais baixa fS2. 370 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Arsenopirita de Breves apresenta zonação ótica e variação significativa nos conteúdos de As, S, Co e Fe, porém sem relação com o tipo de rocha nas quais o mineral foi encontrado. Arsenopirita do Depósito Breves apresenta teores significativos de Co, entre 0 e 10% (Figura 26a), sendo que, em algumas amostras, a composição já é de glaucodoto (Co, Fe)AsS, com cerca de 15% de Co (Tabela 8). A concentração de Co independe do tipo de rocha hospedeira de arsenopirita, como mostra a Figura 26a. Nos veios mineralizados situados nas proximidades do contato entre granito e encaixante foi observada associa- Figura 26 (a) Relação entre Fe e Co em arsenopirita do Depósito Breves; (b) Composição da arsenopirita em relação à concentração estequiométrica de Fe. Tabela 8 Análises de arsenopirita (1-9), glaucodoto (10), lollingita (11-12) e safflorita (13) do Depósito Breves. Glaucodoto e safflorita ocorrem em veio próximo ao contato granito-encaixante 371 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás ção entre glaucodoto, bismuto nativo e ouro (Figura 8c), que pode ser indicadora das condições, ou de uma das condiçoes, de precipitação de ouro no Depósito Breves, como será discutido mais adiante. Kretschmar e Scott (1976) propuseram diagrama temperatura x concentração atômica de arsênio como geotermômetro para avaliar a temperatura de formação de arsenopirita, desde que sejam satisfeitas as seguintes premissas: a) arsenopirita esteja em equilíbrio com as outras associações sulfetadas encontradas e b) a concentração e elementos traço em arsenopirita seja inferior a 1%. Como cobalto é muito semelhante ao ferro quimicamente, pode-se supor que sua presença em arsenopirita não influencie o geotermômetro. De fato, não há qualquer desvio da estequiometria de arsenopirita, quando se considera a soma Fe + Co, que permanece em torno de 33,3±1 %atômico (Figura 26b), indicando também a boa qualidade das análises. Foi realizada também uma simulação, com cálculo de temperatura para arsenopirita da mesma amostra, cujas análises foram divididas em dois grupos, um com Co < 5% e outro com Co > 5%. Os resultados obtidos, embora com intervalos ligeiramente distintos, indicaram temperaturas médias semelhantes para os dois grupos. Mesmo assim, foram utilizadas apenas as análises de arsenopirita cujo conteúdo de Co está abaixo de 5%. No final, os parâmetros obtidos com esse geotermômetro poderão ser avaliados por comparação com os dados de termometria de inclusões fluidas. A aplicação do geotermômetro de Kretschmar e Scott (1976) indica temperaturas entre 500 e 600 ºC para cristalização de arsenopirita em equilíbrio com pirrotita e entre 450 e 500ºC para cristalização de arsenopirita em equilíbrio com löllingita (Figura 27). Esses resultados estão no mesmo intervalo daqueles apresentados anteriormente sobre o Depósito Breves (CVRD 2001), utilizando a relação entre fS2 avaliada e variação do conteúdo atômico de As. Löllingita Löllingita é relativamente rara no contexto do minério do Depósito Breves, ocorrendo tanto no minério disseminado quanto em veios, sempre associada a arsenopirita. Löllingita apresenta zonação ótica pronunciada, evidenciada sob polarizadores cruzados, e elevados conteúdos em Co, que variam entre 4,5 e 11% em peso. Alguns grãos ou zonas, cujo teor de Co atinge até 15%, possuem composição de saflorita (Co, Fe)As2 (Tabela 8). Ouro A ocorrência de ouro no minério sulfetado do Depósito Breves foi descrita por Tallarico et al. (2004), mos- Figura 27 Concentração atômica de As aplicada como geotermômetro no diagrama de Kretschmar e Scott (1976) para arsenopirita com e sem acompanhamento de löllingita. trando grãos de ouro inclusos em calcopirita, aparentemente em equilíbrio com pirrotita e bismuto nativo. Neste trabalho, a associação entre ouro, pirrotita e calcopirita foi descrita em apenas uma amostra (FR84-241,53), tendo sido verificado que o mais comum é a ocorrência de ouro incluso em arsenopirita cobaltífera, ou mesmo em glaucodoto, como nas amostras do furo 100, no intervalo entre 446 e 450 metros. Deve ser ressaltado que grãos de ouro, em geral menores que 20µm, foram observados em apenas quatro amostras. As análises de ouro na microssonda eletrônica tiveram muita influência do mineral hospedeiro por causa do pequeno tamanho dos grãos, sendo que poucos dados puderam ser aproveitados. O ouro do Depósito Breves apresenta entre 85 e 90% em peso de Au e entre 10 e 15% peso de Ag. Cobre ocorre em teores pouco significativos (< 0,1%), enquanto ferro é encontrado em concentrações de até 1,33%. Vários sulfetos, principalmente pirrotita e arsenopirita, foram analisados na busca de concentrações de ouro invisível, na microssonda e no ICP-MS com ablação a laser. Os resultados não mostraram teores significativos, ficando abaixo dos limites de detecção. Na verdade, o resultado não foi inesperado, já que, na maioria das análises de rocha total em amostras com forte disseminação de sulfetos, ou mesmo com sulfeto maciço, os resultados mostraram baixas concentrações de ouro. 372 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Cassiterita Cassiterita é relativamente rara nas rochas mineralizadas do Alvo Breves, tendo sido encontrada em poucas amostras, sempre associada a sulfetos. A maior concentração foi observada na zona de brecha da encaixante a NE do corpo de minério, associada aos bolsões de sulfeto maciço (Figura 7). Ocorre como cristais pequenos, de cor amarela a marrom avermelhado, localmente zonados (Figura 8e). A cassiterita de Breves é relativamente homogênea, apresentando SnO2 > 95%, com a maioria dos dados acima de 98% (Tabela 9). Seus conteúdos em Nb2O5 e Ta2O5 são baixos, mas com Nb > Ta, com valores máximos de 1,4 e 0,8% respectivamente. Como outras impurezas, a cassiterita analisada apresenta teores apreciáveis de TiO2, até 2,5%, com maioria dos dados abaixo de 1,5%, e WO3, até 2%, com maioria dos dados abaixo de 1,5%. Alguns cristais de cassiterita mostram alteração para estanita (Cu 2 FeSnO 4 ) e, mais raramente, para herzenbergita (SnS), que se dispõem nas bordas e ao longo de fraturas na cassiterita (Figura 8f). Wolframita e scheelita Wolframita é óxido com ampla distribuição nas rochas mineralizadas do Depósito Breves, mas com maior concentração nos veios. É encontrada como cristais grandes, subédricos a euédricos, geralmente precoces em relação aos sulfetos, estando comumente envolvida por pirrotita e/ou arsenopirita. É comum também encontrar calcopirita envolvendo wolframita ou preenchendo suas fraturas. Outra característica da wolframita de Breves é marcada pela associação com scheelita, em relação ainda não bem definida de intercrescimento ou substituição (Figura 8b). Embora os dois minerais possam constituir solução sólida limitada (Grubb 1967), a grande quantidade de scheelita encontrada e as relações texturais permitem sugerir substituição de wolframita com aporte externo de cálcio. A wolframita, do tipo ferberita, apresenta variação composicional, principalmente com relação ao seu conteúdo em MnO, entre 0 e 5%. A scheelita de Breves é praticamente estequiométrica composicionalmente, apresentando aproximadamente 80% WO3 e 20% de CaO (Tabela 9). Na região de Carajás associações com wolframita e sulfetos ocorrem no Depósito de Águas Claras, localizado a aproximadamente 5 km do Granito Central de Carajás, cuja idade e tipologia são as mesmas dos granitos do Depósito Breves. Esses depósitos são ainda semelhantes pela associação entre wolframita e sulfetos e arsenetos ricos em cobalto (Villas et al., 2001). Tabela 9 Composição média de cassiterita (1-2), wolframita (3-5) e scheelita (6) do Alvo Breves. 1: minério principal; 2: brecha na encaixante (Figura 8E); 3-4: minério principal; 56: veio de quartzo no minério principal (Figura 8B). Considerações sobre fs2 Na maioria das amostras estudadas pirrotita é mineral precoce, sempre ocorrendo como inclusões em pirita, calcopirita ou arsenopirita, seguido pela precipitação de arsenopirita, pirita e calcopirita. Mesmo nas amostras em que pirrotita é o principal sulfeto, são encontrados cristas menores deste mineral parcial a totalmente envoltos por calcopirita e, mais raramente, pirita, sugerindo tratar-se de mineral precoce, seguido da precipitação de pirita e calcopirita. A presença de minerais como pirrotita, pirita, ou mesmo calcopirita sugere que fs2 foi elevada no início da cristalização dos sulfetos, diminuindo com a evolução da mineralização, levando à formação de löllingita e Bi nativo. Outra hipótese que pode ser levantada é a atuação de dois eventos hidrotermais, o primeiro com fs2 mais elevada, levou à formação de pirita, pirrotita, arsenopirita, calcopirita e bismutinita, seguido de outro evento, com fs2 mais baixa, com substituição parcial de arsenopirita/ glaucodoto por löllingita/saflorita e precipitação de Bi nativo e ouro. VIII. GEOCRONOLOGIA A disponibilidade, na literatura (Tallarico et al. 2004), de dados geocronológicos de ótima qualidade, com datações por SHRIMP em amostras do Alvo Breves, tanto do granito hospedeiro quanto da mineralização, limitou a investigação sobre geocronologia deste trabalho. Os autores mencionados acima apresentaram idades de 1879±6 Ma para o granito hospedeiro da mineralização e de 1872 ± 7 Ma para veios contendo monazita e xenotima, encaixados no minério disseminado. Como essas datações foram realizadas em rochas muito hidrotermalizadas dos furos 73 e 61 (Figura 3), buscou-se, neste trabalho, datar o biotita granito e o granito subvulcânico fora da área 373 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás mineralizada, analisando zircão das amostras FR98-458,0 e FR100-544,0 (Figura 2). Além disso, foram realizadas tentativas de análises isotópicas de Sm-Nd, mas os resultados estão muito influenciados ou pelo hidrotermalismo ou por fracionamentos, não permitindo sua utilização para cálculo de idades-modelo e εNd. No minério, foram realizadas análises Re-Os em duas amostras de molibdenita, mas os resultados também não foram satisfatórios, devido o baixo conteúdo de Re das amostras. Sugiro mudar a escala de 28b para que se possa ver o intercepto que define a idade A análise da amostra de biotita granito indicou idade de 1879 ± 12 Ma (Figura 28a), praticamente a mesma divulgada na literatura e que define bem a época de cristalização do granito hospedeiro da mineralização do Depósito Breves. Essa idade permite assim sua correlação com os granitos do tipo A de 1.88 Ga, datados, na região de Carajás e nas regiões imediatamente adjacentes, por Machado et al. (1991) e Dall´Agnoll et al. (1994). O granito subvulcânico, com faialita e magnetita, mostra idade de 1853 ± 8.6 Ma (Figura 28b), mais jovem do que a idade do biotita granito. Esse dado vem corroborar a evidência geoquímica de que o biotita granito e o granito subvulcânico têm sua origem a partir de líquidos magmáticos distintos. Outra conclusão importante é de que o granito subvulcânico é mais jovem do que a mineralização do Depósito Breves, estando provavelmente excluído de qualquer papel nos processos mineralizadores. IX. INCLUSÕES FLUIDAS Introdução O estudo de inclusões fluidas no Depósito Breves teve o objetivo de caracterizar os fluidos associados a diferentes áreas mineralizadas e veios estéreis e aos diferentes fácies hidrotermais, tentando-se estabelecer os principais parâmetros físico-químicos do processo de mineralização e do sistema hidrotermal atuante no depósito para auxiliar na proposição de modelo genético para o depósito. O estudo de inclusões fluidas foi realizado em lâminas delgadas espessas bipolidas, consideradas representativas das áreas mineralizadas e de veios estéreis. Aproximadamente 25 lâminas foram confeccionadas para estudo de inclusões fluidas. Dessas, selecionaram-se campos representativos dos diferentes tipos de inclusões fluidas para estudo de detalhe. Foram estudadas inclusões fluidas das seguintes amostras: n Quartzo no Minério Principal FR 73 / 351,70m zona potássica (epissienito) FR 73 / 357,90m zona potássica (epissienito) Figura 28 Diagramas concórdia para as amostras de granito subvulcânico (FR100-544) e biotita granito (FR98458). A localização das amostras encontra-se na Figura 2. FR 73 / 457,75m zona fengítica-clorítica (mineralização disseminada) n Quartzo de rocha metavulcânica ácida FR 82 / 245,30m n Veios de quartzo mineralizados FR 82 / 245,30m vênulas cortando metavulcânica ácida FR 98 / 299,70m; FR 98 / 299,95m veio no minério principal FR 100 / 446,10m; FR 100 / 446,10m veio em rocha constituída de quartzo e filossilicatos (encaixante vulcanoclástica) FR 129 / 193,80m; FR 129 / 194,10m veio no minério principal (zona fengítica-clorítica) n Veios de quartzo e fluorita estéreis FR 136 / 228,50m quartzo veio em metavulcânica ácida FR 136 / 325,20m fluorita veio em rocha metassedimentar encaixante Resultados Catodoluminescência A catodoluminescência não se mostrou adequada para a distinção das diferentes populações de inclusões fluidas 374 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia estudadas. A catodoluminescência de quartzo apresentou coloração avermelhada opaca muito fraca em todos os grãos analisados, não sendo possível sua visualização em fotografia. Fluorita não produziu luminescência. Em alguns grãos havia biotita associada a quartzo que reagiu prontamente ao feixe de elétrons, resultando em catodoluminescência azul muito forte (Figuras 29a e 29b). Petrografia e microtermometria As observações petrográficas permitiram propor classificação preliminar das inclusões fluidas, levando-se em consideração principalmente cor, natureza e proporções relativas das fases existentes à temperatura ambiente, com base em nomenclatura proposta por Weisbrod (1981) e Shepherd et al. (1985). Entretanto, a classificação paragenética das populações de inclusões fluidas com base apenas em petrografia mostrou-se inviável, tendo em vista que inclusões fluidas com características de primárias e de secundárias são morfologicamente semelhantes, ocorrem geralmente associadas e quase sempre possuem as mesmas características microtermométricas. Os dados de inclusões fluidas do Depósito Breves estão apresentados na Tabela 10 e figuras 30 a 37. Os resultados microtermométricos, juntamente com os dados petrográficos, possibilitaram agrupar as inclusões fluidas estudadas em 5 tipos, que compreendem inclusões fluidas bifásicas (L + V) tipos 1 e 2; trifásicas saturadas (L + V + S) tipo 3; trifásicas com líquidos imiscíveis (L + L + V) tipo 4; e monofásicas vapor tipo 5. As inclusões fluidas do tipo 4 são muito raras e foram identificadas apenas na amostra FR 98, de veio de quartzo no contato granito/encaixante. Apenas duas medidas de microtermometria das inclusões fluidas aquo-carbônicas foram obtidas, consideradas estatisticamente não representativas, motivo pelo qual o tipo 4 não será aqui aborda- do. As inclusões fluidas do tipo 5 não apresentaram mudança de fase durante a microtermometria e foram interpretadas como constituídas de H2O vapor. As características dos demais tipos de inclusões fluidas estão detalhadas abaixo e na Tabela 10, em que estão discriminados por furo de sondagem e por tipo de amostra. Tipo 1 É o tipo predominante, tendo sido identificado em todas as amostras estudadas. Compreende inclusões fluidas bifásicas. Foi subdividido em tipos 1a e 1b com base em valores de salinidade (Tabela 10; Figura 30). • Tipo 1a: Compreende inclusões fluidas com temperatura da primeira fusão (Te) variável, porém predominatemente entre -26 e -20°C (Figura 30a), o que permitiu modelá-las pelo sistema H2O NaCl (± KCl, MgCl2, FeCl2) (Crawford, 1981), e com temperatura de fusão do gelo predominantemente entre -6 e 0°C (Figura 30b), resultando em inclusões fluidas pouco salinas, com salinidade entre 0 e 10 % em peso de NaCl eq. (Figura 30c), calculada segundo Bodnar (1993). A temperatura de homogeneização total (TH) para o líquido situa-se predominantemente entre 150 e 200 °C (Figura 30d). • Tipo 1b: Compreende inclusões fluidas com temperatura de fusão do gelo entre -21 e -6°C (Figura 30b) e salinidade intermediária, de 10 a 20 % em peso eq. de NaCl (Figura 30c) (Bodnar, 1993). A temperatura da primeira fusão (Te) é variável, porém predominatemente entre -26 e -20°C (Figura 30a), o que permitiu modelá-las pelo sistema H2O NaCl (± KCl, MgCl2, FeCl2), segundo Crawford (1981). A homogeneização total (TH) ocorre para o líquido em temperatura variável, entre 100 e 300 °C (Figura 30d). (a) (b) Figura 29: Fotos de grão de quartzo (FR 100). (a) Quartzo estudado, associado a biotita na borda do grão. (b) Catodoluminescência da amostra em A, em que biotita é ativada e quartzo não. 375 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Figura 30 Histogramas de freqüência das inclusões fluidas dos tipos 1 e 2. a) Temperatura do eutético (Te); b) temperatura de fusão do gelo (Tfg); c) valores de salinidade; d) valores de temperatura de homogeneização total (TH). Tipo 2 Ocorre apenas em veio de quartzo mineralizado em ouro, na rocha encaixante da mineralização, estudado no furo FR100. Caracteriza-se por inclusões fluidas bifásicas com temperatura do eutético (Te) variável, porém predominatemente entre 53 e 35ºC (Figura 30a). A temperatura de fusão do gelo é variável (-33 a -6oC), implicando salinidade estimada de 12 a 30 % em peso de NaCl eq. (Figura 30b, c). Os valores de Te permitiram modelar as inclusões do tipo 2 pelo sistema H2O NaCl (± MgCl2, FeCl2, CaCl2). A temperatura de homogeneização total para o líquido se situa entre 150 e 200oC (Figura 30d). Tipo 3 Compreende inclusões fluidas de uma mesma população, no sentido proposto por Goldstein & Reynolds (1994), contendo sólido cúbico incolor, sem sinal na espectrometria Raman, interpretado como halita. Predominam em cristais de quartzo de granito hidrotermalizado (FR 73), de riolito ou de vênulas em riolito (FR 82) e de veios de quart- zo mineralizados em granito hidrotermalizado (FR 98 e FR 129). A temperatura de primeira fusão, ou temperetura do eutético (Te), raramente observada, concentra-se entre -27o e -21,5oC, apesar de valores de até -55oC terem sido obtidos. A temperatura de dissolução do sal é variável, porém concentra-se entre 250 e 350oC (Figura 31a). A homogeneização total ocorre pela dissolução do sal, com maior concentração de valores entre 250 e 350oC (Figura 31b). A salinidade, estimada com base na Ts, de acordo com Sterner et al. (1988), situa-se entre 30 % e 50% em peso de NaCl eq. (Figura 32). Características dos tipos de inclusões fluidas nas amostras estudadas Rocha granítica (epissienito) com cavidades preenchidas por quartzo e fluorita Em cavidades preenchidas por quartzo em rocha granítica hidrotermalizada, denominada epissienito (FR-73/ 351,70m e FR-73/357,90m), foram observados os tipos de inclusões fluidas 1 e 3, que apresentam características morfológicas muitos semelhantes, com hábitos arredon- 376 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia (a) (b) Figura 31 Histogramas de freqüência das inclusões fluidas do tipo 3. a) Temperatura de dissolução de halita (Ts); b) valores de temperatura de homogeneização total (TH). dados a cristais negativos e formas irregulares, tamanhos em geral inferiores a 10µm, com média de 6 µm (Figura 33), e Vg médio de 10 a 15%. O tipo 3 apresenta distribuição aleatória, enquanto o tipo 1 tende a ocorrer em trilhas ou em grupos de distribuição aleatória, neste caso em associação com as inclusões fluidas do tipo 3. As inclusões fluidas que ocorrem em trilhas e que são petrograficamente interpretadas como secundárias, e as que ocorrem isoladas, interpretadas como primárias, apresentam características petrográficas e microtermométricas idênticas, motivo pelo qual foram indiscriminadamente incluídas no do tipo 1. Veios de quartzo mineralizados no minério principal Em quartzo de veios mineralizados que cortam rocha granítica afetada por alteração hidrotermal foram encontradas inclusões fluidas dos tipos 1 e 3 (Tabela 10) e inclusões fluidas monofásicas, constituídas exclusivamente de fase vapor. As inclusões fluidas do tipo 1 ocorrem tanto isoladas como ao longo de trilhas, não sendo possível distingui-las por meio de microtermometria. As inclusões fluidas do tipo 1 isoladas têm forma variável e dimensões geralmente inferiores a 8 µm. São freqüentes inclusões fluidas que ocorrem ao longo de trilhas. Possuem Vg de 5 a 20, dimensões entre 5 e15 µm, hábito prismático, ovalado e irregular (Figura 34). Este tipo de inclusão ocorre em trilhas largas, constituindo planos de inclusões alinhadas, possivelmente secundárias. As inclusões fluidas do tipo 3 são representadas por raras inclusões fluidas trifásicas ou multifásicas, com forma irregular, tamanho inferior a 10 µm, contendo sólido incolor cúbico interpretado como halita e, às vezes, outras fases não identificadas ao microscópio, como minerais opacos. Estas inclusões fluidas aparecem de forma isolada e são consideradas primárias. Nesses veios ocorrem muito raramente inclusões fluidas aquo-carbônicas, bifásicas em temperatura ambiente. Figura 32 Diagrama binário Salinidade x temperatura de homogeneização total (TH) das inclusões fluidas do tipo 3. Veios de quartzo + clorita + biotita + turmalina + sulfeto na metavulcânica ácida (FR 82) O estudo petrográfico em quartzo das venulações que cortam o riolito permitiu identificar populações de inclusões fluidas do tipo 5 (vapor), tipo 1, predominante, e tipo 3. As inclusões fluidas do tipo 1 ocorrem principalmente ao longo de trilhas, apesar de inclusões fluidas isoladas ocorrerem associadas (Figura 35) . Possuem forma irregular a ovalada e dimensões entre 5 e 15µm. As inclusões fluidas do tipo 3 possuem sólido incolor cúbico, interpretado como halita, e às vezes outro cúbico arredondado (silvita). Possuem formas irregulares e arredondadas, tamanhos de 5-15 µm. O modo de ocorrência dessas inclusões, em grupos isolados, sugere que sejam primárias (Figura 35). Nos fenocristais de quartzo da rocha riolítica foram encontrados dois tipos de inclusões fluidas muito semelhantes às observadas em quartzo das venulações com clorita, biotita e sulfeto que cortam a rocha riolítica (Figu- 377 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Tabela 10 Dados de inclusões fluidas do Depósito Breves, discriminados por tipo e por amostra nos testemunhos estudados. 378 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia (a) (d) (b) (e) (c) (f) Figura 33 Fotomicrografía dos tipos de inclusões fluidas encontradas em quartzo preenchendo cavidades de epissienito (FR 73 / 357,90). (a) grão de quartzo estudado. (b), (c), (e) inclusões bifásicas primárias e secundárias do tipo 1a. (d) Inclusões fluidas trifásicas (tipo 3) com cubos de sal em associação com IF do tipo 1a. (f) Plano de IF bifásicas do tipo 1. ra 36). As inclusões fluidas dos tipos 1 e 3 apresentam forma irregular a arredondada e tamanhos inferiores a 15 µm e Vg em torno de 10. É comum ocorrerem em trilhas, sendo, neste caso, consideradas secundárias. Veios de quartzo estéreis cortando rocha metassedimentar encaixante (FR-136/228,50m) O estudo petrográfico e microtermométrico de inclusões fluidas em quartzo de veio estéril (FR-136/228,50m) permitiu a caracterização de inclusões fluidas primárias e secundárias. As inclusões fluidas primárias ocorrem isoladas, geralmente no núcleo de cristais, com populações pouco numerosas, que são freqüentemente cortadas por trilhas de inclusões fluidas secundárias. Em virtude de ambas populações apresentarem características morfológicas muito similares, as populações se confundem, sendo sua distinção feita muitas vezes com base em estudos microtermométricos. As inclusões fluidas secundárias, interpretadas como resultantes de fluidos tardios, ocorrem geralmente em populações bastante numerosas, alinhadas segundo microfraturas e em distintos planos de um mesmo cristal. Por vezes, as fraturas não são perceptíveis, o que as torna facilmente confundidas com inclusões fluidas primárias, das quais são distinguidas por meio de análises microtermométricas. As inclusões fluidas interpretadas como primárias são morfologicamente caracterizadas por formas arredondadas, irregulares e de cristal negativo. Possuem tamanhos médios de 6 µm, contudo localmente são observadas in- 379 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás (a) (b) (c) (d) Figura 34 Fotomicrografía dos tipos de inclusões fluidas (IF) encontradas em quartzo de veio na rocha intrusiva afetada pela alteração hidrotermal. (a) Inclusões fluidas bifásicas aquosas tipo 1 isoladas. (b) IF bifásicas aquosas (L+V) em grupos de distribuição aleatória. (c) IF em trilhas largas , constituindo planos de inclusões alinhadas. (d) IF trifásica do tipo 3. (a) (b) (c) (d) Figura 35 Fotomicrografía dos tipos de inclusões fluidas (IF) encontrados nos veios de quartzo (Q) + clorita (Cl) + biotita (Bt) + sulfeto (Py) que cortam o riolito. (a) quartzo estudado. (b e d) IF bifásicas tipo 1. (c) IF do tipo 3. 380 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia (b) (a) (c) Figura 36 Tipos de inclusões fluidas encontradas em fenocritais de quartzo da rocha riolítica. (a) fenocristal estudado, cortado por trilhas de inclusões fluidas (IF). (b) Trilhas de IF trifásicas (tipo 3) e bifásicas (tipo 1). (c) IF dos tipos 1 e 3 isoladas. clusões com até 10µm. Apresentam cor fumê e contorno, geralmente, espesso. Seu Vg médio é 10, mas pode variar entre 5 e 20. Sob condições de temperatura ambiente, a maior parte das inclusões fluidas é bifásica, classificada como do tipo 1, porém também ocorrem inclusões trifásicas, do tipo 3. As inclusões trifásicas contêm sólido cúbico (VS = 5), sem sinal na espectrometria Raman, que foi interpretado como halita. Sólidos anisótropos ocupam até 30% do volume das inclusões e não dissolvem durante o aquecimento, sendo interpretados como aprisionados segundo os critérios de Shepherd et al. (1985). O eutético do sistema situa-se entre 23,8 e 21ºC, característico do sistema H2O-NaCl. Entretanto, a presença de valores mais baixos que -21ºC sugere a possível adição de algum outro sal ao sistema, possivelmente KCl . A fusão do gelo ocorre entre -16 e 0ºC, com salinidade entre 19,5 e 0% em peso de NaCl eq. A homogeneização total ocorre entre 170 e 390ºC, sendo as temperaturas mais elevadas observadas em inclusões arredondas com tamanho médio de 4µm e borda espessa. A homogeneização total de inclusões fluidas trifásicas (tipo 3) ocorre entre 270 e 330º. As inclusões fluidas interpretadas como secundárias são do tipo 1. Possuem hábitos arredondados, por vezes alongados, sendo freqüentemente irregulares. Pos- suem tamanhos médios de 6µm, contudo localmente são observadas inclusões fluidas com até 16µm. Seu Vg médio é 10, mas pode variar entre 3 e 15. A primeira fusão ocorre entre -25,4 e -21,4ºC. A fusão do gelo ocorre entre 8,0 e 0ºC, com salinidade entre 0 e 3,4% em peso de NaCl eq.. A temperatura de homogeneização total situase predominantemente entre 130 e 190ºC. Veio estéril de fluorita (FR-136/325,20 m) A análise petrográfica e microtermométrica de inclusões fluidas de cristais de fluorita em veio estéril na rocha encaixante (amostra FR-136/325,20 m) permitiu a caracterização somente do tipo 1a de inclusão fluida, observado tanto em inclusões fluidas petrograficamente interpretadas como primárias, como também em inclusões fluidas secundárias, uma vez que ambas não apresentam temperaturas de mudança de fase que permitam sua distinção. As inclusões fluidas estudadas têm formas irregulares. Menos freqüentemente são observadas inclusões fluidas em forma de cristal negativo. Possuem tamanho médio de 6¼m, mas localmente podem ter entre 10 e 18 ¼m. O Vg situa-se entre 5 e 10 preferencialmente, po- 381 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás dendo raramente chegar a 30. A temperatura do eutético situa-se entre -21,4 e 20,8oC, característico do sistema H2O-NaCl. A fusão do gelo está entre 2 e 0ºC, implicando salinidade de 0 a 3,4% em peso de NaCl eq. A homogeneização total ocorre freqüentemente entre 130 e 140º C, com poucas inclusões fluidas atingindo temperatura de homogeneização de 180 a 190º C. Veios de quartzo mineralizados em rocha encaixante metavulcanoclástica (FR-100) Contêm inclusões fluidas dos tipos 1, 2 e 3, muitas vezes ocorrendo no mesmo grão. Possuem formas irregulares a arredondadas e Vg entre 10 e 20. Sob catodoluminescência, não houve distinção de diferentes populações de inclusões fluidas (Figura 29). Interpretação dos dados de inclusões fluidas O estudo de inclusões fluidas em quartzo e fluorita de diferentes paragêneses do depósito Breves revelou a existência, de maneira geral, de fluido homogêneo, de composição H2O-NaCl, podendo conter KCl, MgCl2, FeCl2 e, raramente, CaCl2, com predomínio de inclusões fluidas bifásicas sobre as saturadas e com quase ausência de inclusões aquo-carbônicas. Conforme ilustrado na Figura 37, o depósito caracteriza-se por conter associação de inclusões fluidas saturadas (tipo 3) e inclusões fluidas aquosas pouco salinas (tipo 1), com amplo espectro de temperatura de homogeneização e salinidade. Apesar da dificuldade de distinção entre inclusões fluidas primárias e secundárias, o padrão de fluidos nitidamente tardios está evidenciado nos veios de fluorita estéreis. Nas rochas e veios mineralizados, principalmente no minério principal, observa-se variação quase contínua de salinidade e temperatura de homogeneização. Em quartzo do minério principal e em veios mineralizados nessas rochas são comuns inclusões fluidas saturadas e com temperatura de homogeneização total maior que 300oC, o que é coerente com atuação de fluido de origem magmática no depósito. O padrão de inclusões fluidas primárias observado é semelhante ao obtido em outros depósitos de Cu-Au da região de Carajás (Fleck & Lindenmayer 2003; Ronchi et al., 2003) e aponta para a predominância de fluidos hidrotermais mineralizadores resultantes da interação entre fluidos magmáticos e fluidos pouco salinos e de baixa temperatura, provavelmente meteóricos, no Depósito Breves. Processo de resfriamento que compreende reação contínua entre os fluidos e as rochas encaixantes, como proposto por Ronchi et al. (2003) para o Alvo Gameleira, também pode ter contribuído para a formação dos padrões de inclusões fluidas do depósito Breves e precipitação do minério. X. ISÓTOPOS ESTÁVEIS Introdução Amostras monominerálicas representativas de paragêneses hidrotermais e de minério do Depósito Breves foram analisadas para isótopos de oxigênio, hidrogênio e enxofre, num total de 35 análises isotópicas, distribuídas da seguinte maneira: • enxofre em sulfetos (calcopirita, pirrotita, arsenopirita, molibdenita, pirita) 11 análises; Figura 37. Diagramas binários salinidade x temperatura de homogeneização total (TH) das inclusões fluidas estudadas no Depósito Breves. (a) compreende os 3 tipos de inclusões fluidas, com o tipo 1a consolidado; (b) as inclusões fluidas do tipo 1a estão discriminadas por amostra, conforme Tabela 1. 382 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia • oxigênio em wolframita e silicatos (quartzo, biotita, turmalina, clorita) 17 análises; • hidrogênio em biotita, clorita e turmalina 7 análises Resultados Os dados de isótopos estáveis de separados monominerálicos de amostras de minério do Depósito Breves estão apresentados na Tabela 11. Os valores medidos de δ18O são +8,0 a +10,3 (n = 4) em turmalina, +2,8 a +3,7 (n = 6) em biotita e clorita, +9,2 a +11,3 (n = 5) em quartzo e +0,8 e +2,5 (n = 2) em wolframita. Os valores de ´34S em sulfetos da paragênese de minério variam de +0,5 a +2,0 (Figura 38) e os valores de δD determinados em filossilicatos situam-se no intervalo de 73 to 112 (n = 4). Os dados de isótopos estáveis obtidos em pares de minerais da mesma paragênese permitiram estimar as temperaturas de equilíbrio isotópico, apresentadas na Tabela 11, que contém, para fins de comparação, valores de temperatura de homogeneização total de inclusões fluidas aprisionadas em quartzo da paragênese analisada. Os valores de δ18O e δD dos fluidos foram estimados, usando-se as temperaturas de equilíbrio isotópico calculadas. Tabela 11. Dados de isótopos de oxigênio, hidrogênio e enxofre de separados monominerálicos de amostras de minério do depósito Breves. (As composições isotópicas dos fluidos foram calculadas usando as temperaturas de equilíbrio isotópico). TH (oC): temperatura de homogeneização total de inclusões fluidas saturadas estudadas nas mesmas amostras. As composições isotópicas dos fluidos foram calculadas usando as temperaturas de equilíbrio isotópico. 383 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Discussão Os valores de temperatura de equilíbrio isotópico calculados, distribuídos de acordo com as paragêneses hidrotermais em que ocorrem, são: a) Minério disseminado: FR 106/181,56 (calcopirita pirita) = 463oC; FR 106/181,56 (quartzo clorita) = 481oC; R73/461,6 (biotita wolframita) = 395oC e 387oC b) Minério disseminado: FR 129/342,55 (quartzo clorita) = 287oC; FR98/458,40 (quartzo biotita) = 420oC e 389oC; c) Veio de quartzo no minério principal: FR129/194,40 (quartzo wolframita) = 343oC. Os valores de temperatura calculados são coerentes entre si e com os valores obtidos em paragêneses semelhantes de furos distintos. Comparando-se os valores de temperatura de equilíbrio isotópico com os obtidos a partir de inclusões fluidas de amostras coincidentes, não se observa incompatibilidade entre eles, apesar do largo intervalo de valores de temperatura de homogeneização total (Tabela 11). A temperatura mais elevada obtida, 481oC, também está situada no intervalo de temperatura indicado pelo geotermômetro de arsenopirita, entre 450 e 550 ºC, para as paragêneses mais precoces. Os valores de δ34S de sulfetos de amostras do Depósito Breves, próximos de 0, são semelhantes e estão na mesma faixa de valores obtidos em outros depósitos da região de Carajás (Villas et al., 2001), demonstrando tratar-se de sulfetos oriundos provavelmente de uma única fonte. As composições isotópicas do S variam nos materiais naturais. Em geral, os sulfetos das rochas ígneas são isotopicamente similares aos sulfetos dos meteoritos, com valores médios de δ34S próximos de 0, enquanto os sulfatos da água do mar e das rochas sedimentares são enriquecidos no isótopo pesado em 10 a 30, dependendo da idade geológica. Sulfetos sedimentares possuem larga faixa de valores de δ34S, de -70 a +70, mas são tipicamente empobrecidos no isótopo pesado (Ohmoto & Rye, 1979). Segundo Ohmoto & Rye (1979), valores de δ34S próximos de 0 não são diagnósticos da fonte de enxofre, mas são consistentes com uma fonte de enxofre profunda, tendo o fluido se originado da lixiviação de rochas metamórficas ou de intrusões graníticas. Desse modo, os valores de isótopos de enxofre obtidos são compatíveis tanto com origem a partir do próprio granito hospedeiro do depósito quanto a partir de encaixante magmática, sendo esta última hipótese mais provável, considerando os dados e discussões da litogeoquímica e da química mineral, que apontam para aporte externo de elementos, como Cu, Au, Co, As e S. Figura 38 Histograma de freqüência de valores de isótopos de enxofre de amostras de minério do Depósito Breves. As composições isotópicas estimadas de oxigênio e hidrogênio dos fluidos (Tabela 11 e Figuras 39 e 40) sugerem contribuição magmática na geração das paragêneses minerais analisadas, o que é coerente com a proposta de que o granito hospedeiro do depósito tenha desempenhado papel importante na mineralização. Os pontos dispersos no diagrama da Figura 40 sugerem que outros fluidos, possivelmente com composição isotópica próxima à da água do mar ou água meteórica, também devem ter operado na formação do depósito. Esses dados são coerentes com os resultados obtidos com o estudo de inclusões fluidas, que sugerem que houve provável mistura de fluido magmático com fluidos de baixas temperaturas e salinidade ou importante interação entre fluido de origem magmática com rochas encaixantes frias. Desse modo, os dados de inclusões fluidas e de isótopos estáveis do Depósito Breves não são característicos de fluidos preponderantemente de origem magmática, tendo em vista que fluidos com forte contribuição magmática, como nos depósitos do tipo pórfiro, são inicialmente quentes (>500 - 600oC) e dominados por líquido magmático e hipersalino (30-60% em peso de NaCl eq.) que comumente sofre desmistura durante sua ascensão, características inexistentes no Depósito Breves. XI. TIPOLOGIA DO DEPÓSITO E CONCLUSÕES Os trabalhos anteriores sobre o Depósito Breves apontam para dois modelos metalogenéticos: depósito tipo greisen, associado a cúpolas graníticas (Tallarico et al. (2004) e depósito do tipo intrusion-related (Xavier et al. 2004). Na verdade o Depósito Breves possui assinaturas mineralógicas, geoquímicas e isotópicas similares às de depósitos do tipo pórfiro, depósitos tipo IOCG e depósitos de Sn e W associados a cúpulas graníticas (Tabela 12). 384 Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia Entretanto nos depósitos do tipo IOCG e do tipo pórfiro, os fluidos hipersalinos são dominantes, ao contrário do Depósito Breves, em que dominam fluidos aquosos. Outra diferença importante é a condição redutora do magma granítico, incomun em depósitos do tipo pórfiro, e, aparentemente, nos depósitos do tipo IOCG, atestada por dados de química mineral e pela condição do tampão FMQ, observada em amostras do granito subvulcânico tardio, cujo magma possui semelhanças com o magma que gerou o biotita granito. Observações reportadas na literatura especializada bem como dados experimentais (p.ex. Jugo et al. 1999) indicam que a partição de Cu e Au torna-se altamente favorável a fases sólidas, pirrotita por exemplo, com o aumento da fugacidade de enxofre e diminuição da fugacidade de oxigênio. Assim, as condições redutoras dos magmas graníticos representados no Depósito Breves não permitiriam uma concentração importante de cobre, ouro e enxofre numa fase fluida exsolvida do próprio magma. Por outro lado, se um modelamento desse depósito incluir a hipótese de que o magma granítico é responsável diretamente pela fonte dos metais em questão, teria também que mostrar um enriquecimento precoce dos mesmos nas rochas graníticas iniciais, o que não é o caso, como demonstrado na discussão sobre litogeoquímica. Considerando-se, com base em dados petrográficos e relações de campo, que o fluido mineralizador originouse predominatemente no granito, os dados de isótopos estáveis de O e H apontam para fonte do granito enriquecida em deutério (rochas sedimentares marinhas rochas metamórficas) ou contaminação do fluido inicialmente exsolvido do granito com fluidos ou rochas enriquecidas em deutério (metamórficas marinhas). Em estágio posterior houve provável mistura com água meteórica. Embora o fluido mineralizador inicial tenha sua origem no magma granítico e os dados de isótopos de enxofre apontem para fonte magmática, o mais provável é que, juntamente com outros metais, o enxofre tenha sido herdado de rochas encaixantes. Os dados existentes apontam, assim, para um tipo peculiar de depósito reduzido de Cu-Au, resultante de evolução complexa que envolveu provavelmente fluidos mineralizadores de origem magmática reduzidos e fluidos meteóricos, que reagiram com rochas oxidadas preexistentes. Metais como Cu, Au, Mo, As, Co e provavelmente U e ETR, identificados nos depósitos mais antigos da região de Carajás, como Igarapé Bahia, foram possivelmente herdados de rochas mais antigas, não identificadas no trabalho desenvolvido, mas que poderiam estar associadas à mesma seqüência de rochas encaixantes metavulcano-sedimentares descritas no depósito. O biotita granito foi responsável pelo aporte de metais como Sn e W e reconcentração dos outros me- Figura 39 Valores de £18O (2,5 a 6,7 ) calculados para os fluidos em equilíbrio isotópico com paragêneses minerais do Depósito Breves (linha cheia à esquerda do eixo y), em comparação com os valores comuns dos principais reservatórios que são importantes em sistemas hidrotermais (adaptado de Campbell & Larson, 1998). Figura 40 Valores de δ18O e δD calculados para fluidos em equilíbrio com paragêneses hidrotermais do Depósito Breves, em comparação com valores comuns de reservatórios importantes em sistemas hidrotermais (adaptado de Kyser, 1987 e Campbell & Larson, 1998). tais. Assim, o trabalho desenvolvido no Depósito Breves aponta para as seguintes conclusões mais importantes: 1. Granitos do Depósito Breves têm tendência alcalina e assinatura de granito tipo-A intraplaca, considerando os dados químicos de rocha total e a composição química de biotita. Isto está de acordo com as idéias propostas para a granitogênese em torno de 1,88 Ga na região de Carajás. 385 Caracterização Geológica e Metalogenética do Depósito de Cu ± (Au, W, Mo, Sn) Breves, Carajás Tabela 12 Características do Depósito Breves comparadas com depósitos clássicos de Cu e Au associados a rochas graníticas. 2. As rochas encaixantes situadas a profundidades maiores que 200 m não são correlacionáveis à Formação Águas Claras. São dominantemente de natureza vulcânica e/ou vulcanoclástica, possivelmente correlacionáveis à seqüência encontrada, por exemplo, na região de Igarapé Bahia. 3. O depósito está associado a sistema hidrotermal desenvolvido sobre e nas proximidades de biotita granito, com dois tipos de alteração hidrotermal preponderantes, potássica e fengítica-clorítica. 4. As rochas encaixantes hidrotermalizadas mostram sistemas de veios, stockworks e brechas com associações mineralógicas semelhantes àquela do minério endogranítico. Os teores mais elevados de Sn foram encontrados nessas rochas. 5. Os veios enriquecidos em monazita, xenotima, apatita rica em ETR e uraninita podem significar importantes concentrações de U e ETR no Depósito Breves. Contrapondo essa associação comum em granitos de tendência alcalina, aparece o enriquecimento em cobalto na paragênese sulfetada, 386 com formação de glaucodoto e safflorita, incomum em associações graníticas. 6. O Depósito Breves possui algumas assinaturas mineralógicas e geoquímicas similares às de outros depósitos de Cu ± Au associados a granitos. Entretanto, nos aspectos fundamentais, como natureza dos fluidos, mais aquosos e de temperatura média, e condições redutoras, as diferenças são importantes. As temperaturas mais elevadas, indicadas pelo geotermômetro da arsenopirita, pela microtermometria de inclusões fluidas e pelas temperaturas de equilíbrio isotópico estão entre 450 e 600 °C. 7. Os dados obtidos apontam para um tipo peculiar de depósito de Cu ± Au (± Mo, W, Sn e Bi) associado a granito reduzido. Embora o depósito seja rico em F, o sistema é predominantemente rico em boro e cloro, característica não compatível com os sistemas encontrados na granitogênese de 1,88 Ga da Amazônia, que são ricos apenas em F. O depósito resultou de evolução complexa que envolveu Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia provavelmente fluidos mineralizadores de origem magmática e fluidos meteóricos e/ou metamórficos. 8. Metais como Cu, Au, As e Co, identificados nos depósitos mais antigos da região de Carajás, situados próximo ao Alvo Breves, como Igarapé Bahia e Alemão, foram possivelmente herdados de rochas encaixantes, tendo o biotita granito sido responsável pelo aporte de metais como Sn e W e reconcentração dos outros metais. 9. A associação CuAuW-Sn, a presença de arsenopirita rica em Ni e Co e o enriquecimento em terras raras pesadas são indicativos de sistema hibrído. prospectivos, pela possibilidade de gerarem novas mineralizações ou de modificarem os controles de mineralizações mais antigas, adicionando, eventualmente, novos metais, como estanho e tungstênio; c) no modelo de mineralização proposto, os sistemas de veios nas proximidades do contato entre granito e encaixantes aparecem como alvo adicional para busca de mineralizações; d) no Alvo Breves, considerando a disposição geral do corpo mineralizado principal, a área situada a este-nordeste, onde apareceram as seqüências de brechas mineralizadas, como no Furo 149, possui um potencial a ser explorado, já que não se tem idéia da abrangência dessas brechas; e) embora não tenha sido possível o acesso ao planejamento e aos resultados de furos adicionais mais profundos realizados mais recentemente no Alvo Breves, o exame dos perfis geológicos disponibilizados no início do trabalho sugere a possibilidade de continuidade do corpo mineralizado em profundidade, extrapolando inclusive o domínio da rocha granítica hidrotermalizada. XII. SUGESTÕES PARA EXPLORAÇÃO MINERAL REGIONAL E TRABALHOS FUTUROS Considerando o modelo proposto para o Depósito Breves, em que as rochas encaixantes em profundidade, associadas a uma possível seqüência metavulcanosedimentar, teriam um papel preponderante na geração das mineralizações de Cu, Au, Mo, configurando um depósito de natureza híbrida, e que o tipo de granito associado é freqüentemente associado a importantes sistemas hidrotermais, pode-se sugerir as seguintes orientações na exploração mineral regional e para trabalhos futuros no Alvo Breves: a) Os granitos do tipo A de idade em torno de 1,88 Ga, da região de Carajás e de outras regiões da Amazônia, não são, por si só, potenciais para conterem mineralizações de cobre e ouro; b) se forem intrusivos em seqüências associadas a mineralizações mais antigas desses elementos, esses granitos devem ser considerados como alvos Agradecimentos À FINEP, DNPM, ADIMB e CVRD pela oportunidade e pelos recursos financeiros e logísticos para realização desse trabalho. Aos geólogos da CVRD, que forneceram apoio ou sugestões para realização do trabalho de descrição e amostragem dos furos de sonda e coleta de dados anteriores, Carlos Augusto de Medeiros Filho, Jéssica Beatriz Carvalho, Marcos Giovanni, José Luzimar Rego, Carlos Isaías e Vicente Pinheiro Júnior. Ao Prof. Reinhardt A. Fuck da Universidade de Brasília, pela revisão do texto. REFERÊNCIAS Anderson J.L. 1996. Status of thermobarometry in granitic batholiths. Transactions of the Royal Society of Edinburgh: Earth Sciences, 87: 125-138. Baker T., Pollard P.J., Mustard R., Mark G., Graham J.L. 2005. A comparison of granite-related tin, tungsten, and goldbismuth deposits: implications for exploration: Society of Economic Geologists Newsletter, 61(5):10−17. Barros C.E.M. & Barbey P. 1998. A importância da granitogênese tardi-arqueana (2.5 Ga) na evolução tectono-metamórfica da Província Mineral de Carajás O Complexo Granítico Estrela e sua auréola de contato. 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