Tuberculose Autores 1 Edimar Pedrosa Gomes 2 Erich Vidal Carvalho 3 Júlio César Abreu de Oliveira Publicação: Set-2000 Revisão: Nov-2005 1 - Qual o impacto epidemiológico da tuberculose? A Organização Mundial de Saúde, em publicação de 1995, estimou a presença de oito milhões de casos novos de tuberculose ativa no mundo, somente no ano de 1990, com aproximadamente 2,6 milhões de mortes naquele ano. Atualmente, no mundo, existem aproximadamente dois bilhões de indivíduos infectados, a grande maioria em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Os países de maior incidência da tuberculose são a Índia, China, Indonésia, Bangladesh, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Congo, Rússia e o Brasil. A condição sócio-econômica do Brasil, com grandes bolsões de pobreza nas cidades mais populosas, a emergência da AIDS e a presença de um sistema de saúde deficiente no sentido de promoção e cuidados básicos da saúde estão entre os fatores responsáveis por tamanha incidência. Veja alguns números da tuberculose no Brasil e no mundo: Número de casos novos de tuberculose por ano Alguns países entre os de maior incidência de tuberculose 1985 1990 1995 1996 Índia 1.168.804 1.519.182 1.214.876 1.300.935 China 226.899 375.481 357.829 469.358 Filipinas 151.028 317.008 235.496 276.295 Rússia 64.644 50.641 84.980 111.075 Brasil 84.310 84.990 91.013 85.860 Alguns países para comparação com o Brasil 1985 1990 1995 1996 Argentina 15.987 12.309 13.433 13.397 México 15.017 14.437 11.329 10.852 Cuba 680 546 1.607 1.579 Eua 22.201 25.701 22.860 21.337 Reino Unido 6.666 5.908 6.176 6.238 Itália 4.133 4.246 5.627 4.155 Esses números não representam a total realidade, em função da subnotificação dos doentes diagnosticados, das dificuldades diagnósticas de alguns doentes e da presença de enfermos que não chegam aos serviços de saúde. Atualmente, o Ministério da Saúde estima a presença de 50 milhões de infectados, com o surgimento de 110.000 casos novos e a ocorrência de 6.000 óbitos por ano. Apesar do alcance do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, com a notificação de 70% dos casos estimados e cura de 75% dos doentes, a situação da doença continuou estável na década de noventa, sendo mais grave do que em outros países latino-americanos. 2 - Quais são as principais características microbiológicas do bacilo da tuberculose? O bacilo da tuberculose é o Mycobacterium tuberculosis, conhecido como bacilo de Koch (BK), em homenagem ao cientista que o isolou pela primeira vez em 1882. O termo Mycobacterium, derivado do grego (myces = fungo) deve-se a sua característica de espalhar-se difusamente em seu crescimento nos meios de cultura, de forma semelhante a um fungo. 1 Médico do Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário da UFJF Pneumologista do Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário da UFJF; Especialista em Pneumologia, titulado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia 3 Chefe da Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de Juiz de Fora; Doutor em Pneumologia pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina. 2 www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X O bacilo da tuberculose é aeróbio estrito, tem crescimento e duplicação lentos, não forma esporos e não produz toxina. Ele é capaz de sobreviver e multiplicar-se no interior de fagócitos (intracelular facultativo). Sua principal característica é a presença de um envelope celular composto de macromoléculas (peptideoglicanas, arabinogalactana e ácido micólico), lipopolissacárides e lipoarabinomannan. O ácido micólico, o principal componente deste envelope, é o responsável pela característica de álcool e ácido resistência do bacilo durante sua coloração pelo Ziehl-Neelsen. A cultura do M. tuberculosis é lenta, levando de 3 a 6 semanas para o crescimento do bacilo. Os meios de cultura mais comumente usados são o de Lowenstein-Jensen, à base de albumina e ágar, e o de Middlebrook 7H-11, à base de ovo e batata. Outros meios de cultura têm sido desenvolvidos na tentativa de isolamento mais rápido do bacilo, como, por exemplo, o sistema BACTEC, capaz de isolar o BK entre 5 e 10 dias. Os altos custos dos equipamentos necessários limitam a utilização dessas novas técnicas no Brasil. 3 - Como se transmite a tuberculose? A transmissão da tuberculose dá-se pela inalação do bacilo, eliminado em gotículas respiratórias (gotículas de Flügge). As partículas maiores depositam-se no chão, enquanto as menores sofrem uma rápida evaporação, dando origem a um núcleo seco, núcleo de Wells, que contém de um a três bacilos, que depois de inalados poderão chegar até os alvéolos. A contagiosidade da tuberculose depende: • da extensão da doença (por exemplo, as formas extensas, com cavidades, têm maior potencial de transmissão em função da maior população de bacilos e maior eliminação dos mesmos); • da presença de eventos que favoreçam a eliminação de secreções respiratórias (ex: espirro, tosse, fala, canto); • de condições ambientais (ambientes bem ventilados e a luz ultra-violeta diminuem a permanência do bacilo e sua viabilidade); • do tempo de exposição entre o doente e o contactante (ex: o maior risco de infecção ocorre nos prolongados contatos intra-domiciliares). Outras formas mais raras de transmissão da tuberculose já foram descritas, tais como a transmissão através de broncoscópios contaminados, através de contatos com lesões cutâneas ou de partes moles (abscessos) e através de tecidos contaminados durante necropsias. 4 - Como se dá o desenvolvimento do BK no organismo após sua transmissão? Após a transmissão do BK pela via inalatória, quatro situações podem ocorrer: a eliminação do BK pelas defesas do hospedeiro, o desenvolvimento de uma infecção latente (primo-infecção ou infecção tuberculosa), o desenvolvimento progressivo da tuberculose (tuberculose primária), a ativação da doença vários anos depois (reativação endógena ou tuberculose pós-primária). Eliminação do bacilo Em algumas circunstâncias, o bacilo inalado pode ser fagocitado e destruído por macrófagos alveolares, antes de se multiplicar e causar qualquer inflamação ou mesmo resposta imunológica do hospedeiro. Essa eliminação do BK depende de sua virulência e de sua viabilidade ao chegar ao alvéolo, da capacidade dos macrófagos, a qual é determinada por fatores genéticos e estímulos inespecíficos que chegaram ao alvéolo em condições prévias (ex: outros germes). Infecção latente Quando os bacilos não são eliminados, eles se proliferam no interior dos macrófagos, os quais liberam citocinas e atraem outras células inflamatórias (macrófagos, monócitos e neutrófilos). Essa reação inflamatória local forma o granuloma e coincide com o surgimento da imunidade celular, caracterizada pela positividade ao teste tuberculínico (PPD). Esse granuloma no pulmão é chamado de foco de Ghon. Persistindo a replicação dos bacilos, eles podem alcançar a drenagem linfática e o gânglio satélite. O conjunto formado pelo foco de Ghon, a linfangite e a adenopatia satélite é chamado de complexo de Ranke. Ainda nesse período, os bacilos podem alcançar a circulação sangüínea e se alojarem em diferentes órgãos. Os bacilos podem alcançar a circulação por via linfática, até o duto torácico, que drena para a subclávia, ou por invasão direta de capilares a partir do foco pulmonar, ou por retorno à circulação de células inflamatórias contendo BK no seu interior. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Em função da imunidade celular adquirida, esses bacilos têm sua proliferação controlada, impedindo a progressão para a tuberculose doença em 95% dos pacientes. Nessa situação ocorreu uma disseminação hematogênica ou bacilemia assintomática. Tuberculose primária Em 5% dos pacientes, a resposta imunológica não é suficiente para impedir a proliferação do BK e a tuberculose primária, também conhecida como da criança, pode se desenvolver. Conceitualmente, considera-se tuberculose primária aquela que se desenvolve nos primeiros cinco anos após a primo-infecção ou infecção tuberculosa. Mais comumente, a tuberculose primária acomete os pulmões e gânglios satélites dos hilos, mediastino ou peribrônquicos, podendo levar a oclusão dos mesmos, constituindo a epituberculose (ver pergunta sobre tuberculose primária). As formas extrapulmonares da tuberculose ocorrem após a disseminação hematogênica do foco primário e são, na maioria das vezes, formas de tuberculose primária (ver pergunta sobre tuberculose extrapulmonar). Quando a disseminação hematogênica é maciça, e sintomática, o que ocorre com maior freqüência em crianças e adultos imunossuprimidos, tem-se a tuberculose miliar, um quadro grave, caracterizado por lesões micronodulares disseminadas pelos pulmões, podendo ainda acometer outros órgãos. Reativação endógena Resulta da reativação lenta e progressiva de bacilos que se encontravam quiescentes. Condições de imunossupressão do hospedeiro podem determinar essa reativação endógena, como a infecção pelo HIV, insuficiência renal ou hepática, diabetes, linfoma, corticoterapia, idade avançada etc. Às vezes, pode ocorrer de uma reinfecção exógena, que é muito difícil de ser diferenciada da reativação endógena, mas que do ponto de vista prático não altera a conduta. A reativação ocorre predominantemente nos pulmões, resultando na tuberculose pulmonar, na sua forma pós-primária ou do adulto (ver perguntas sobre tuberculose pulmonar do adulto). 5 - Quais são os fatores de risco para tuberculose pulmonar? Os fatores de risco podem ser divididos em algumas categorias: Fatores externos que facilitam a infecção pelo bacilo: • residência em regiões de maior prevalência da doença; • residência em asilos, presídios, hospitais psiquiátricos ou de doentes crônicos; • profissionais da área da saúde. Fatores de intrínsecos que favorecem a infecção: • predisposição genética para resistência ou suscetibilidade ao bacilo; • raça: a raça negra parece ser mais susceptível à infecção pelo bK. Fatores intrínsecos que favorecem a reativação endógena: • predisposição genética para resistência ou suscetibilidade ao bacilo; • pacientes que após a infecção primária permanecem com infiltrado retículo-nodular em ápice, talvez sugerindo que houve um inóculo maior ou uma resposta imunológica menor, que resultou em um quadro subclínico da doença, mais passível de reativação; • características fenotípicas: indivíduos magros, altos e astênicos parecem ser mais susceptíveis, sem que haja, até o momento, uma explicação para tal fato; • idade: os idosos são mais propensos, provavelmente por queda da imunidade celular; • condições clínicas associadas a maior risco de tuberculose: o AIDS; o diabetes mellitus; o insuficiência renal crônica; o silicose; o corticoterapia; o desnutrição; o gastrectomia (alguns autores creditam o risco aumentado à desnutrição); o alcoolismo e uso de drogas ilícitas; o neoplasias; o transplantes; o tabagismo: risco discutível, em função do grande número de variáveis que causam confusão, como o alcoolismo, drogas ilícitas, fatores sócioeconômicos. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Fatores sócio-econômicos: • condições de estresse aumentam as chances de reativação endógena da tuberculose. Algumas vezes, essas condições estão associadas simultaneamente à reinfecção exógena, como pessoas sem-teto, presidiários, imigrantes, períodos de guerra. 6 - Qual a apresentação clínica da tuberculose pulmonar do adulto? Na maior parte das vezes, a tuberculose pulmonar do adulto dá-se a partir da reativação endógena de um foco latente, habitualmente nas zonas superiores (lobos superiores ou segmentos apicais dos lobos inferiores). O quadro clínico dessa condição é discutido a seguir. O principal sintoma é a tosse, que pode ser seca inicialmente, mas tende a tornar-se produtiva com a evolução da doença, com expectoração purulenta, acompanhada ou não de hemoptóicos. A dor torácica é menos freqüente e a presença de dispnéia vai depender da extensão do comprometimento pulmonar. A febre está presente em mais de 50% dos pacientes com tuberculose pulmonar, sendo muitas vezes acompanhada de sudorese noturna. Outros sintomas constitucionais são referidos com freqüência, como a adinamia, anorexia, fraqueza. Muitas vezes o início dos sintomas, principalmente da tosse e dos sintomas constitucionais, é insidioso, chegando o paciente com história de mais de um mês de evolução. A maior parte dos pacientes, quando chega ao atendimento médico, já apresenta perda de peso. Em pacientes infectados pelo HIV, com nível sérico de CD4 inferior a 200cel/mm³ ou linfócitos inferior a 1000cel/mm³, deve-se ficar atendo para o diagnóstico de tuberculose na presença de qualquer sintoma respiratório e quadros de febre de origem indeterminada. A alta freqüência de manifestações atípicas da tuberculose justifica esta conduta de busca ativa. As alterações ao exame físico não são extensas, geralmente restringindo-se à presença de ruídos adventícios (estertores e, às vezes, roncos) nas regiões acometidas. Pode ocorrer ainda a presença de sopro cavitário. 7 - Quais são as alterações radiográficas mais comuns na tuberculose pulmonar do adulto? Os segmentos mais freqüentemente acometidos são o apical e/ou posterior do lobo superior direito, apicoposterior do lobo superior esquerdo e os superiores dos lobos inferiores. As principais alterações encontradas são as imagens alveolares com variáveis coalescências, raramente formando uma imagem de consolidação, às vezes com cavitações, sendo as cavidades bem definidas, com paredes espessas, geralmente sem níveis hidroaéreos. Os segmentos envolvidos muitas vezes apresentam redução volumétrica. O envolvimento inicial tende a ser unilateral, mas com a progressão da doença o pulmão contra-lateral pode ser envolvido, assim como as regiões inferiores dos pulmões. Apresentações radiográficas atípicas são descritas em torno de 30% dos casos em diferentes séries. São elas: • imagens alveolares em lobos inferiores; • derrame pleural; • nódulo solitário de pulmão; • massas; • linfadenopatia hilar, paratraqueal ou mediastinal; • atelectasias (às vezes associadas à linfadenopatia); • pneumotórax; • padrão miliar (micronódulos com distribuição difusa em ambos os pulmões). 8 - Qual a apresentação clínica da tuberculose pulmonar da criança? O quadro clínico da tuberculose pulmonar da criança é, muitas vezes, inespecífico. A criança pode apresentar-se com irritabilidade, anorexia, adinamia, febre, sudorese noturna, com emagrecimento ou sem ganhar peso. A tosse é o sintoma respiratório mais comum, podendo ser seca ou produtiva. A hemoptise pode ocorrer em escolares e adolescentes. A dispnéia ocorre nas formas mais graves e a dor torácica é menos comum. Uma apresentação relativamente freqüente é a de uma criança com quadros pneumônicos de repetição, ou com pneumonia que não melhora, ou melhora parcialmente, com antibióticos. O exame físico é freqüentemente normal ou com discretas alterações, como estertores ou sibilos localizados. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Mais raramente, a tuberculose pulmonar da criança pode cursar com o alargamento intenso de linfonodos peribrônquicos, os quais podem determinar hiperinsuflação ou atelectasia distais, ou sofrerem erosão para dentro da luz brônquica, originando uma extensa pneumonia tuberculosa. Alguns sintomas e sinais não respiratórios podem estar presentes e auxiliam no diagnóstico. Os principais são os relacionados com as manifestações de hipersensibilidade (eritema nodoso, conjuntivite flictenular e dores articulares), hepatomegalia, esplenomegalia e sinais de irritação meníngea. Algumas vezes, a tuberculose pulmonar da criança é assintomática, sendo diagnosticada pela busca ativa da doença em contactantes intradomiciliares de pacientes bacilíferos, por meio de radiografia de tórax. A história de contato com paciente com tuberculose, sobretudo dentro de casa, é muito importante para o diagnóstico de tuberculose da criança. 9 - Quais são as alterações radiográficas mais comuns na tuberculose pulmonar da criança? Como o quadro clínico da tuberculose pulmonar da criança é inespecífico, as alterações na radiografia de tórax são muito importantes para a suspeita diagnóstica. As adenomegalias hilares, mediastinais ou paratraqueais são alterações freqüentes e muito sugestivas no diagnóstico de tuberculose da criança. Imagens alveolares também podem ocorrer, podendo confundir com quadros pneumônicos inespecíficos. Geralmente as imagens alveolares não cursam com áreas de cavitação. Também podem ser encontradas imagens de atelectasia, decorrentes de compressões extrínsecas de brônquios por adenomegalias, ou de derrame pleural. A presença do padrão miliar (imagens micronodulares distribuídas bilateralmente) sugere fortemente o diagnóstico, mas ocorre somente nas formas mais graves, de disseminação hematogênica maciça. 10 - Como é feito o diagnóstico microbiológico da tuberculose? Análise do escarro A tentativa do diagnóstico microbiológico inicia-se com a pesquisa de BAAR (bacilos álcoolácido resistentes) no escarro pela coloração de Ziehl-Neelsen. Devem ser estudadas inicialmente três amostras, colhidas preferencialmente pela manhã e em dias consecutivos. Amostras adicionais podem ser necessárias. Os pacientes com formas cavitárias têm maior positividade. O Ministério da Saúde indica que a coleta de escarro deve ser feita em todos os pacientes com queixas de tosse e expectoração há mais de três semanas e pacientes com alterações radiográficas pulmonares. A cultura do escarro não é realizada de rotina em todos os pacientes. Naqueles onde há maior probabilidade de tuberculose multirresistente (por exemplo, pacientes HIV-positivos, pacientes que abandonaram o tratamento ou o fizeram de forma incorreta), a cultura e o antibiograma são recomendados. Nos pacientes com pesquisa de BAAR negativa nas primeiras três amostras, a cultura também deve ser realizada na tentativa de aumentar a possibilidade diagnóstica. Em casos de suspeita de resistência bacteriana, a cultura deve ser realizada, seguida do teste de sensibilidade do bacilo às drogas. Escarro induzido Em pacientes com tosse sem expectoração, deve-se tentar induzir a eliminação de secreção através da nebulização com solução de NaCl a 3%. Muitas vezes o escarro obtido não se mostra purulento, mas mesmo assim deve ser analisado. Nesses procedimentos, habitualmente o paciente apresenta tosse intensa, com risco de contágio importante. Sendo assim, a nebulização deve ser realizada em ambientes isolados e bem ventilados e as pessoas em contato com o paciente durante o procedimento devem usar máscaras eficientes. Aspirado gástrico A análise do aspirado gástrico, colhido pela manhã, após 8 a 10 horas de jejum, é uma prática pouco utilizada, mas recomendada quando os métodos acima são ineficazes. Pela disponibilidade crescente da broncoscopia e sua maior positividade, o estudo do lavado gástrico diminuiu em importância, mas deve ser lembrado como uma alternativa para o diagnóstico microbiológico da tuberculose. Material colhido por broncoscopia A broncoscopia deve ser realizada quando os procedimentos acima foram ineficazes para o diagnóstico de um indivíduo com suspeita clínica e radiográfica de tuberculose pulmonar. Por meio dela podem ser realizados o lavado broncoalveolar, o escovado brônquico (pouco usado www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X em nosso meio) e a biópsia transbrônquica. Em todas as condições, o material deve ser encaminhado para pesquisa de BAAR e para cultura de BK. Nas biópsias transbrônquicas, a presença de granuloma com necrose caseosa, mesmo sem a identificação do bacilo, é fortemente sugestiva de tuberculose e autoriza o tratamento. Nesses casos deve ser certificada a ausência de fungos através de colorações específicas para esses agentes. Após o procedimento, deve ser feita a esterilização química do aparelho, pela possibilidade de transmissão do bacilo. É comum a intensificação da tosse após a broncoscopia. Sendo assim, na manhã seguinte ao exame, deve-se repetir a pesquisa de BAAR e a cultura de BK no escarro. Biópsia pulmonar (a céu aberto ou por videotoracoscopia) A realização de biópsia pulmonar para o diagnóstico de tuberculose é uma conduta de exceção. Isso ocorre em função das possibilidades diagnósticas menos invasivas descritas acima e pela possibilidade do tratamento de prova (ou prova terapêutica), que pode ser indicado em situações específicas, desde que de forma muito criteriosa (ver pergunta sobre tratamento de prova da tuberculose pulmonar). O diagnóstico de tuberculose pela biópsia pulmonar pode ocorrer em situações clínicas onde ele não era o mais provável (ex: em quadros pulmonares agudos alveolares difusos), ou durante a investigação de um nódulo pulmonar solitário, ou durante as investigações de quadros clínicos onde a hipótese de câncer de pulmão também estava presente. 11 - Quais são os outros métodos disponíveis para o diagnóstico microbiológico da tuberculose? PCR (reação em cadeia da polimerase) A PCR pode ser realizada para o diagnóstico de tuberculose em pacientes com suspeita clínica e/ou radiológica, com baciloscopia do escarro e/ou do lavado brônquico negativa. Nesses casos, os estudos mostram uma sensibilidade de 40 a 75%, com especificidade de 95%, nas amostras de escarro. Em nosso meio, onde a prevalência da tuberculose é alta, o resultado de PCR positivo para a tuberculose, na vigência de um quadro clínico e radiológico compatíveis, é suficiente para que se inicie o tratamento de tuberculose. O exame pode manter-se positivo meses após o término do tratamento e cura do paciente, não servindo, portanto, para acompanhamento do tratamento. Existem dois "kits" comerciais aprovados pelo FDA para o diagnóstico de tuberculose por PCR: Amplified Mycobacterium Tuberculosis Direct Test (GenProbe Inc., EUA) e AMPLICOR Mycobacterium Tuberculosis Test (Roche, EUA). Testes sorológicos Os testes sorológicos mais comumente usados no diagnóstico da tuberculose utilizam a técnica de ELISA. Eles não apresentam, ainda, sensibilidade e especificidade suficientes para serem recomendados na prática clínica. Hemocultura: Está indicada nos casos de portadores de HIV ou com AIDS em que se suspeita de doença micobacteriana disseminada. Teste de detecção da produção de CO2 Método radiométrico ou por sensores ópticos que detectam a presença de CO2 isotopicamente marcado e presente no meio de cultura aonde se inoculou o espécime a ser pesquisado. O método permite maior rapidez no diagnóstico por meio de cultura, assim como maior facilidade de testes de sensibilidade a drogas antituberculose. Teste de detecção do consumo de O2 - Mycobacteria Growth Indicator Tube (MGIT) Este método utiliza tubos de ensaio com meios líquidos de cultura, onde existe uma base de silicone impregnada com rutênio, metal que emite luminescências na ausência de O2. Se há crescimento bacteriano, há também consumo de O2 e o rutênio emitirá luminescências possíveis de serem detectadas com luz ultravioleta. O resultado é obtido num tempo mais curto que a cultura convencional, e pode-se também realizar teste de sensibilidade. Marcadores biológicos: • Adenosinadeaminase (ADA): consiste em um método colorimétrico realizado com espectrofotômetro, onde se detecta o aumento da atividade da enzima adenosinadeaminase, presente em várias células, particularmente no linfócito ativado, como observado na tuberculose. A determinação do aumento da atividade da ADA no líquido pleural, associado a outras características do líquido é indicadora de pleurite tuberculosa, podendo autorizar o início do tratamento para suspeita de tuberculose pleural, onde não seja possível a biópsia. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X • Ácido tubérculo-esteárico, um metabólito do bacilo, cuja taxa aumentada, no líquor, indica a presença de meningoencefalite por tuberculose. Sua importância em outros fluidos ainda está sendo estudada. O inconveniente para sua utilização rotineira é o alto custo do equipamento necessário para sua determinação. 12 - Qual a diferença entre tuberculose pulmonar positiva e negativa? O que é tuberculose extrapulmonar? Tuberculose pulmonar positiva Quando o paciente apresenta: • duas baciloscopias do escarro positivas; • uma baciloscopia direta positiva e cultura positiva; • uma baciloscopia direta positiva e imagem radiológica sugestiva de tuberculose; • duas ou mais baciloscopias diretas negativas e cultura positiva; Tuberculose pulmonar negativa Quando o paciente apresenta: • duas baciloscopias negativas, com imagem radiológica sugestiva e achados clínicos ou outros exames complementares que permitam ao médico efetuar o diagnóstico de tuberculose Tuberculose extrapulmonar São os casos em que se pode diagnosticar a doença em outros locais, após reativação endógena. Os termos se referem à confirmação bacteriológica ou não da tuberculose. No entanto, análise criteriosa deve ser adotada ao se definir o quadro de tuberculose pulmonar negativa ou de probabilidade, afastando os quadros agudos, principalmente se apresentarem febre. Em determinadas situações, é aconselhável iniciar o tratamento com antibioticoterapia inespecífica com avaliação clínica e radiológica em 7 a 15 dias, para então confirmar o diagnóstico de tuberculose negativa. Nos quadros crônicos, afastar a possibilidade de DPOC, câncer de pulmão, micoses pulmonares e outras pneumopatias crônicas. 13 - O que é o PPD? O PPD é um teste cutâneo realizado com a injeção da tuberculina, extraída de culturas do bacilo da tuberculose, após filtragem e esterilização por calor. O termo PPD é derivado de "Purified Protein Derivative"of tuberculin. O teste é realizado com a injeção intradérmica da tuberculina (técnica de Mantoux) no terço médio do antebraço esquerdo, em sua face anterior. A tuberculina usada no Brasil é a RT-23, na dose de 0,1ml (= 2 UT – unidade de tuberculina). o Quando conservada em temperatura entre 4 e 8 C, a tuberculina mantém-se ativa por seis meses. Não deve, entretanto, ser congelada ou exposta à luz solar direta. A leitura do teste é realizada após 72 a 96 horas da aplicação, medindo-se o maior diâmetro do endurado, formado pela reação de hipersensibilidade celular retardada. A classificação da resposta ao PPD é a seguinte: • Não reator (0 – 4 mm): indivíduo não infectado pelo BK ou outra micobactéria semelhante, não vacinado com BCG, ou em fase de viragem tuberculínica, ou com condição clínica imunossupressora que impede a resposta celular. • Reator fraco (5 – 9 mm): indivíduo vacinado com BCG nos últimos dois anos ou infectado pelo BK ou outras bactérias, principalmente se a infecção não for recente. • Reator forte (> 10mm): indivíduo vacinado recentemente com o BCG, indivíduo infectado pelo BK (sobretudo se recentemente), doente ou não. 14 - Como interpretar os resultados do PPD? Em nosso meio, a interpretação dos resultados do PPD é prejudicada pela vacinação em massa com o BCG e pela possibilidade de contatos repetidos com o bacilo ao longo da vida, o que pode levar a uma resposta positiva à tuberculina, sem que haja necessariamente infecção recente e/ou doença ativa. Em algumas condições onde o risco de infecção é alto, o PPD pode auxiliar na indicação de quimioprofilaxia ou de vacinação com BCG e deve, portanto, ser realizado. Os principais exemplos são: • crianças não vacinadas com BCG, contactantes de bacilíferos – caso sejam nãoreatores, deverão ser vacinadas, caso sejam reatores (> 5mm) deverão receber www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X quimioprofilaxia (quando não há dados que sugiram doença) ou tratamento para tuberculose (na presença de quadro clínico e/ou radiológico sugestivo). É questionada a realização dessa investigação em contactantes adultos, pois a resposta à tuberculina pode indicar uma infecção passada, e os benefícios da quimioprofilaxia nesses casos não estão totalmente definidos. • Profissionais da saúde não vacinados que estarão em contato freqüente com pacientes com tuberculose e/ou AIDS - se estes forem não-reatores, indica-se a vacinação com BCG. Recomenda-se a prova tuberculínica como parte do exame médico a todos os profissionais dos serviços de saúde, no momento da admissão. • Pacientes com sorologia positiva para HIV – se forem reatores (>5 mm), deverão receber quimioprofilaxia. Pacientes inicialmente não reatores deverão ter o teste repetido após melhora clínica com o uso de anti-retrovirais. O PPD pode ser realizado na tentativa de auxiliar o diagnóstico de tuberculose em condições onde a investigação microbiológica foi negativa, o que pode ocorrer nas formas extrapulmonares e, menos freqüentemente, nas formas pulmonares. O valor dessa investigação é muito pequeno em nosso meio em função de uma série de fatores: o PPD indica infecção pelo bacilo, a qual pode ter permanecido latente, sem evoluir para doença; o PPD pode manter-se positivo por longos períodos após a vacinação com BCG, amplamente difundida no Brasil; contatos repetidos com o bacilo podem manter grande positividade ao teste (reator forte); ao contrário, o PPD pode ser negativo em determinadas condições, mesmo na vigência de tuberculose ativa. As principais condições que determinam um resultado negativo ao PPD na vigência de tuberculose ativa são: • doenças imunossupressoras: sarcoidose, doenças linfoproliferativas (sobretudo doença de Hodgkin), neoplasias; • desnutrição grave; • sarampo; • vacinação com vírus vivo; • gravidez; • uso de corticóides ou imunossupressores; • idosos (acima de 65 anos). 15 - Quais são as orientações básicas para o tratamento da tuberculose? O tratamento da tuberculose é padronizado no Brasil, sendo as drogas distribuídas pelo sistema de saúde. O Ministério da Saúde, ao revisar o Plano Nacional de Controle da Tuberculose, refere que o tratamento deva ser desenvolvido preferencialmente em regime ambulatorial, supervisionado, com pelo menos três observações semanais da tomada dos medicamentos nos primeiros dois meses e uma observação semanal até o seu final. Somente os casos extrapulmonares (exceto meningite) e formas pulmonares negativas não necessitariam de supervisão. Caberia ao agente comunitário de saúde realizar esta supervisão. A hospitalização é admitida somente em casos especiais e de acordo com as seguintes prioridades: • meningoencefalite; • indicações cirúrgicas em decorrência da tuberculose; • complicações graves da tuberculose; • intolerância medicamentosa incontrolável em ambulatório; • intercorrências clínicas e/ou cirúrgicas graves; • estado geral que não permita tratamento em ambulatório; • em casos sociais, como ausência de residência fixa ou grupos com maior possibilidade de abandono, especialmente se for um caso de retratamento ou falência. O período de internação deve ser reduzido ao mínimo possível, tempo suficiente para atender às razões da internação. Em todos os esquemas deve-se dar preferência por uma única tomada diária, no período da manhã. Em crianças menores de 5 anos, que podem ter dificuldade de ingerir comprimidos, o tratamento deve ser disponibilizado na forma de suspensão ou xarope. No caso das mulheres em uso de anticoncepção oral, orientação deve ser dada para utilizar outros métodos, já que a rifampicina interfere no metabolismo dos anticoncepcionais orais. São considerados grupos de alto risco para toxicidade e que devem ter uma atenção especial: www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X • • • • • • pessoas com mais de 60 anos de idade; pessoas desnutridas; alcoólatras; infectados pelo HIV; pessoas em uso concomitante de drogas anticonvulsivantes; pessoas com alterações hepáticas. 16 - Quais são os esquemas de tratamento e as suas indicações? Os esquemas adotados para cada situação estão descritos abaixo: Situação Esquema Indicado Esquema 1: Primeira fase (2 meses): Rifampicina + Sem tratamento anterior ou virgem de Isoniazida + Pirazinamida. tratamento Segunda fase (4 meses): Rifampicina + Isoniazida. Esquema 1R (Reforçado): Primeira fase (2 meses): Rifampicina + Recidiva após cura com o Esquema 1 ou Isoniazida + Pirazinamida + Etambutol. Retorno após abandono do Esquema 1 Segunda fase (4 meses): Rifampicina + Isoniazida + Etambutol. Esquema 2: Primeira fase (2 meses): Rifampicina + Tuberculose meningoencefálica Isoniazida + Pirazinamida. Segunda fase (7 meses): Rifampicina + Isoniazida. Esquema 3: Primeira fase (3 meses): Estreptomicina + Falência dos Esquemas 1 ou 1R Etionamida + Etambutol + Pirazinamida. Segunda fase (9 meses): Etionamida + Etambutol. Segundo o Ministério da Saúde, pacientes que receberam tratamento para tuberculose antes de 1979, quando não se utilizava a rifampicina, devem ser tratados também com o esquema 1. 17 - Quais são as definições de virgem de tratamento, retratamento, recidiva, abandono e falência do tratamento? • Virgem de tratamento: todos os pacientes que nunca receberam qualquer tratamento para tuberculose ou que receberam medicação por menos de trinta dias. • Retratamento: prescrição de um esquema de drogas para o doente já tratado por mais de 30 dias, que venha a necessitar de nova terapia por recidiva após cura, retorno após abandono ou por falência dos esquemas I ou esquema IR. • Recidiva: Qualquer paciente que após ter sido considerado curado volta, a qualquer tempo depois da cura, a apresentar sinais clínicos, radiográficos e baciloscopia positiva para tuberculose. • Abandono de tratamento: Todos os pacientes que receberam qualquer tratamento para tuberculose por mais de 30 dias e suspenderam a medicação sem serem considerados curados. • Falência de tratamento: São classificados como falência casos que mantêm positividade no escarro no fim do tratamento, pacientes que no início do tratamento são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm esta baciloscopia com 4 meses de tratamento, pacientes que, após 4 meses de tratamento, voltam a ter baciloscopia o positiva, após os exames do 2 mês terem mostrado resultados negativos. Duas situações clínicas são importantes no seguimento de um paciente com tuberculose: o o • Aparecimento de poucos bacilos isolados no 5 ou 6 mês, com melhora clínica e radiológica, merece seguimento bacteriológico nos meses seguintes ao tratamento antes de considerar como falência. O tratamento, se necessário, pode ser prolongado por mais três meses. • Em pacientes com escarro negativo e evolução clínico-radiológica insatisfatória, o prolongamento do tratamento por mais três meses pode ser necessário antes de www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X considerar novos esquemas terapêuticos. Consultar uma unidade de referência antes de decidir o prolongamento. 18 - Quando e como é feito o tratamento com o esquema 1? O esquema 1 é o tratamento inicial de escolha para a tuberculose pulmonar, em indivíduos considerados virgens de tratamento. Inclui três drogas (esquema tríplice): isoniazida, rifampicina e pirazinamida. Ele é dividido em duas fases e ajustado de acordo com o peso do paciente: Peso do doente Mais de 20 kg Mais de 35 kg e Mais de 45 Fases do Até 20 kg e até 35 kg até 45 kg kg Drogas tratamento mg/kg/dia mg/dia mg/dia mg/dia R 10 300 450 600 a 1 fase H 10 200 300 400 (2 meses – RHZ) Z 35 1000 1500 2000 a R 10 300 450 600 2 fase (4 meses – RH) H 10 200 300 400 R = Rifampicina H = Isoniazida Z = Pirazinamida Geralmente utilizam-se as apresentações de drágeas com associação 200 mg de isoniazida e 300 mg de rifampicina (2 drágeas) e comprimidos com 500 mg de pirazinamida (4 comprimidos). Todos os medicamentos são tomados preferencialmente pela manhã, em jejum, ou, em caso de intolerância digestiva, junto com as refeições. Nas formas extrapulmonares o tratamento também deverá durar seis meses (exceção à forma meningoencefálica). Em casos especiais, em que a evolução clínica não for favorável, o especialista poderá prolongar a segunda fase por mais 3 meses (2RHZ/7RH). Nos casos de tuberculose associada ao HIV, o tratamento será de 6 meses, independente da fase da evolução viral da doença. Quando utilizado corretamente, sem abandono, a eficácia do esquema 1 é de 98%. Os 2% de falha correspondem a falência microbiológica (1,5%) e a necessidade de troca do esquema devido a efeitos colaterais (0,5%). 19 - Quando e como é feito o tratamento com o esquema 1R? O esquema 1R está indicado para os pacientes que apresentam recidiva da tuberculose após a cura com o esquema 1 e para aqueles que retornam após abandono do esquema 1. Esse esquema está ilustrado no quadro abaixo: Esquema 1R – Para o retratamento de recidivantes após cura com esquema 1 ou retorno após abandono do esquema 1 Peso Fase Drogas <20kg 20-35kg 35-45kg >45kg (mg/kg/dia) (mg/dia) (mg/dia) (mg/dia) Isoniazida 10 200 300 400 Primeira Rifampicina 10 300 450 600 (2 meses) Pirazinamida 35 1000 1500 2000 Etambutol 25 600 800 1200 Isoniazida 10 200 300 400 Segunda Rifampicina 10 300 450 600 (4 meses) Etambutol 25 600 800 1200 Apesar de ser a orientação do Ministério da Saúde, o esquema IR sofre críticas de vários especialistas. No II Consenso Brasileiro de Tuberculose (Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004), por exemplo, discute-se que a inclusão do etambutol não teve o respaldo de estudos clínicos prospectivos e nem de estudos de resistência à isoniazida e à rifampicina. Além disso, os pacientes que retornam para tratamento após abandono persistem com altas taxas de abandono, o que poderia gerar resistência ao etambutol. Já os que necessitam de retratamento após cura, que poderiam se beneficiar da inclusão do etambutol, são em menor número e, provavelmente, curariam com retratamento com o esquema 1. Nesse Consenso, recomenda-se que, enquanto se discute a posição das Normas do Ministério da Saúde, o esquema 1R deve ser usado, mas com o maior controle possível da utilização das drogas pelo paciente. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X 20 - Quando e como é feito o tratamento com o esquema 3? O esquema 3 está indicado para o tratamento dos pacientes que apresentam falência terapêutica dos esquemas 1 ou 1R. Nesses casos, o tratamento recomendado pelas Normas do Ministério da Saúde é o esquema 3, composto pelas drogas estreptomicina, etionamida, etambutol e pirazinamida. O esquema 3 está descrito no quadro abaixo: Esquema 3 – para o tratamento nos casos de falência dos esquemas 1 ou 1R PESO FASE DROGAS <20 kg 20-35 kg 35-45 kg >45 kg (mg/kg/dia) (mg/dia) (mg/dia) (mg/dia) Estreptomicina-IM 20 500 1000 1000 Primeira Etionamida 12 250 500 750 (3 meses) Etambutol 25 600 800 1200 Pirazinamida 35 1000 1500 2000 Segunda Etionamida 12 250 500 750 (9 meses) Etambutol 25 600 800 1200 Observações: • A estreptomicina deve ser usada por via intramuscular (IM). Em situações especiais, pode ser utilizada a via endovenosa (EV), diluída em 50 a 100 ml de soro fisiológico e com infusão por no mínimo 30 minutos. Em pacientes idosos, pelo risco de nefrotoxicidade, a estreptomicina deve ser administrada na dose de 500 mg/dia. • O esquema 3 tem uma taxa de cura em torno de 55 a 65%, com uma taxa de óbito de 2 a 8%, de falência de 7 a 25% e de abandono em torno de 18%. Além das drogas serem menos eficazes, a presença de uma droga injetável por três meses, a estreptomicina, e os efeitos colaterais das demais aumentam a taxa de abandono do a esquema 3. O Ministério da Saúde admite o uso da estreptomicina em aplicações de 2 a a 6 feira nos primeiros dois meses e duas vezes por semana por mais 4 meses, para facilitar a aderência e supervisão da administração da medicação. • O esquema 3 deve ser conduzido, sempre que possível, em centros de referência para o tratamento da tuberculose. A cultura do M. tuberculosis e os testes de sensibilidade são recomendados. Em casos excepcionais, em pacientes rebeldes ao tratamento, com abandonos prévios, pode-se optar por esquema supervisionado (um profissional de saúde administra a medicação diariamente) ou até mesmo pela internação do paciente. 21 - Quando e como é feito o tratamento com o esquema 2? O esquema 2 é sugerido como tratamento para os casos de meningite tuberculosa. As doses das medicações são iguais ao esquema 1, com aumento no tempo de administração da segunda fase do tratamento. Veja no quadro abaixo o esquema 2: Esquema 2 Peso do paciente Doses para Fases todas as Mais de 20 kg Mais de 35 Mais de Dose do Drogas idades até 35 kg kg até 45 kg 45 kg máxima tratamento mg/kg/dia mg/dia Mg/dia mg/dia a R 10 a 20 300 450 600 600 1 fase (2meses) H 10 a 20 200 300 400 400 RHZ Z 35 1000 1500 2000 2000 a 2 fase R 10 a 20 300 450 600 600 (7meses) H 10 a 20 200 300 400 400 RH R = Rifampicina H = Isoniazida Z = Pirazinamida Nos casos de concomitância entre tuberculose meningoencefálica e tuberculose em outra localização, é também recomendado o esquema 2. O Ministério da Saúde recomenda o uso de corticosteróides (prednisona, dexametasona ou outros) por um período de 1 a 4 meses, a partir do início do tratamento. Nas crianças, a prednisona é administrada na dose de 1 a 2mg/kg até a dose máxima de 30mg/dia. Se for usado outro corticosteróide, uma dose equivalente à prednisona deve ser calculada. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X 22 - Quando encaminhar um paciente para o tratamento de prova para a tuberculose pulmonar? O tratamento de prova poderá ser feito em casos de forte suspeita clínica e radiográfica de tuberculose (ver perguntas sobre quadro clínico e radiográfico da tuberculose pulmonar no adulto), mas sem diagnóstico bacteriológico mesmo depois de esgotadas as possibilidades diagnósticas (exceto a biópsia pulmonar). Nesses casos, sugere-se a realização do PPD. Se o paciente for não-reator, o tratamento de prova deverá ser desencorajado, exceto se ele apresentar alguma condição clínica que se acompanhe de PPD não-reator (ver pergunta sobre o papel do PPD no diagnóstico da tuberculose). Vale a pena ressaltar que em determinadas localidades, a única possibilidade diagnóstica é a baciloscopia do escarro. O tratamento de prova não deveria ser realizado nessas condições, devendo o paciente ser encaminhado a serviços com melhores recursos, para somente depois de uma investigação mais extensa (de preferência até a broncoscopia) a prova terapêutica ser proposta. Além da disponibilidade de métodos diagnósticos mais sofisticados, os centros de referência dispõem de profissionais mais habituados com apresentações menos típicas da doença e principalmente com outros diagnósticos diferenciais (ex: abscesso pulmonar, câncer de pulmão, micoses pulmonares, granulomatose de Wegener) Entretanto, se o encaminhamento não é possível, em função das conseqüências do não tratamento do paciente com tuberculose, tanto em relação à evolução de sua doença, quanto em relação ao possível contágio de outros indivíduos, a prova terapêutica pode ser instituída. No Brasil, em 1995, 38% das tuberculoses pulmonares foram tratadas sem o diagnóstico bacteriológico, o qual foi negativo em 22% e não realizado em 16% dos casos. 23 - O que é tuberculose multirresistente e qual a conduta nesses casos? Tuberculose multirresistente (TBMR) é a resistência in vitro a pelo menos rifampicina e isoniazida e a mais um ou mais dos medicamentos componentes dos esquemas 1, 1R e 3, ou resistência à rifampicina e isoniazida associada à falência terapêutica do esquema 3. O Ministério da Saúde recomenda que estes pacientes e seus familiares sejam atendidos por equipe multiprofissional especializada e que cumpram as normas de biossegurança. Nesses locais, o paciente receberá um esquema alternativo de drogas disponibilizado pelo SUS, após teste de sensibilidade e, composto da combinação dos medicamentos: amicacina, ofloxacina, terizidona, etambutol e clofazimina. Os estudos apontam para a necessidade do uso de pelo menos quatro medicamentos com sensibilidade in vitro, e pelo menos dois nunca usados, sendo um injetável como aminoglicosídeo ou derivado polipeptídeo e uma quinolona oral, por período de 18 a 24 meses. O tratamento deverá ser supervisionado, de preferência com o paciente hospitalizado na fase inicial. O critério de alta são duas culturas negativas sucessivas para micobactérias com o paciente fazendo uso das drogas por pelo menos 12 meses, cumprindo um tempo total de tratamento igual ou superior a 18 meses. Para acompanhar a tendência e controlar a tuberculose multirresistente, um sistema de Vigilância Epidemiológica, controlado pelo Centro de Referência Prof. Hélio Fraga vem sendo realizado. O controle implica no armazenamento dos medicamentos em uso e sua liberação contra o recebimento da Ficha Individual de Notificação de Caso, oriunda das Secretarias Estaduais de Saúde. Um inquérito de 6000 pacientes ambulatoriais, realizado no Brasil, de 1996 a 1997, mostra que embora as taxas de resistência permaneçam baixas, o problema não é desprezível no que se refere às taxas de resistência adquirida. Veja o quadro abaixo: Inquérito nacional de resistência Brasil, 1998 Droga Resistência primária Resistência adquirida Rifampicina 0,2% 0,8% Isoniazida 3,7% 6,7% Etambutol 0,1% 0,2% Estreptomicina 2,5% 3,9% Multidroga Resistência R+H 0,8% 5,7% R+H+S 0,3% 1,4% Total 9,2% 21,8% Fonte: CRPHF, FUNASA, MS www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X 24 - Como é feito o controle do tratamento da tuberculose? Acompanhar a evolução da doença e supervisionar o uso correto das medicações são medidas importantes no controle do tratamento da tuberculose. O paciente deve estar ciente principalmente sobre a duração do tratamento e dos riscos da interrupção da medicação. A distribuição gratuita dos remédios pode ser um fator adjuvante na adesão do paciente, assim como o atendimento clínico de manifestações adversas, acompanhamento social e psicológico do paciente. Se disponível, o exame radiológico pode ser realizado para acompanhamento evolutivo das lesões, mas não há um consenso sobre a periodicidade destes exames. 25 - Quais são as recomendações para o tratamento da tuberculose na gestante, no nefropata e no diabético? Gestação: Segundo o II Consenso Brasileiro de Tuberculose, o tratamento da tuberculose pulmonar na gestante não deve ser alterado, mantendo-se o esquema 1, com isoniazida, rifampicina e pirazinamida. Nefropatia: É necessário realizar o ajuste das doses de acordo com a depuração da creatinina, veja os ajustes na tabela abaixo: Ajuste das doses das drogas antituberculose na insuficiência renal Depuração da creatinina Suplementação ml/min Droga Método por diálise > 50-90 10-50 < 10 Etambutol Redução da dose 100% 50-100% 25-50% Etionamida Redução da dose 100% 100% 50% Isoniazida Redução da dose 100% 75 – 100% 50% Pirazinamida Aumento do intervalo entre as doses q 24h q 24h Rifampicina Redução da dose 100% 100% Estreptomicina Aumento do intervalo entre as doses q 24h q 24-72h HEMO: desconhecida CAPD: desconhecida CAVH: desconhecida HEMO: desconhecida CAPD: desconhecida CAVH: desconhecida HEMO: dose após diálise CAPD: dose p/ clearence 10-50 CAVH: dose p/ clearence 10-50 HEMO: dose após diálise CAPD: desconhecida q 48 – 72h CAVH: provável remoçãodose p/clearence 10-50 100% HEMO: nada CAPD: nada CAVH: nada HEMO: dose após diálise ½ normal q 72-96h CAPD: dose p/ GFR 10-50 CAVH: dose p/ GFR 10-50 Diabetes: Há três situações previstas para o paciente diabético com tuberculose. • Para o paciente com diabetes não insulino-dependente passível de controle com dieta e hipoglicemiante oral, o tratamento deve ser o Esquema 1. • Nos pacientes em uso de hipoglicemiantes orais (principalmente sulfoniluréias) e rifampicina, apresentando recidiva da tuberculose, recomenda-se o controle do diabetes com insulina durante o tratamento da tuberculose. • O paciente com diabetes em uso de insulina deve ter o esquema 1 prolongado por 9 meses, controle glicêmico rigoroso (glicemia de jejum menor ou igual 160mg/dl). Após o tratamento, manter o acompanhamento por dois anos. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X 26 - Como tratar a tuberculose no paciente com hepatopatia? Talvez a situação que mereça maior destaque no tratamento da tuberculose seja a condição de iniciar tratamento em um paciente que já possua alterações hepáticas. Veja algumas considerações importantes: • A rifampicina é uma droga metabolizada no fígado e excretada principalmente pela via biliar (2/3 da dose). O restante não metabolizado é reabsorvido no intestino, causando o o aumento do nível sérico progressivamente. Ao fim do 14 dia ocorre produção de enzimas que estimulam o metabolismo da própria rifampicina. Nos hepatopatas, a rifampicina deve ser evitada e se usada, a dose deve ser reduzida em 30 a 40%. • A isoniazida também é metabolizada no fígado e eliminada pela urina, cujo efeito hepatotóxico fica mais evidente em pacientes com mais de 50 anos. Nos casos de insuficiência hepática grave, o mais seguro será a redução da dose à metade. • A pirazinamida é hidrolizada no fígado e subseqüentemente excretada por filtração glomerular renal. Paciente com conhecida doença hepática prévia deverá ser submetido a freqüentes testes da função hepática, além de acompanhamento clínico rigoroso e, algumas vezes, de redução da dose para 25 mg/ Kg (dose máxima de 2g). Na avaliação inicial do paciente com tuberculose deve ser questionado o uso de álcool e investigada a existência de hepatopatia prévia. Todos pacientes com ingesta de mais de 80 g/dia de álcool, são considerados alcoólatras e a suspensão da bebida deve ser imediata, seguida da dosagem de TGO/TGP. O algoritmo abaixo sugere uma conduta a ser seguida nos casos de pacientes hepatopatas e com tuberculose. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Recomenda-se que o tempo de tratamento com ofloxacina seja de 12 meses, podendo retirar a estreptomicina após 3 meses, mantendo etambutol e ofloxacina por mais 9 meses. A dose de ofloxacina é de 200 mg de 12/12 h para pacientes com menos de 45 kg e 400 mg pela manhã e 200 mg à noite para paciente com mais de 45 kg. Nos casos de manutenção do quadro hepático ou piora, introduzir a isoniazida 300mg/dia, monitoração clínico laboratorial, mantendo o esquema isoniazida + etambutol + estreptomicina o o + ofloxacina; suspender a estreptomicina no 3 mês, a ofloxacina no 6 mês, mantendo-se isoniazida e etambutol até completar 12 meses. Caso haja piora do quadro hepático após introdução da isoniazida, suspendê-la. 27 - Qual o tratamento para a tuberculose no HIV? O uso de esquemas anti-retrovirais contendo inibidores de proteases e inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos mudou o perfil de ocorrência e prognóstico das doenças oportunistas nos pacientes HIV-positivos. Por outro lado, a associação desses medicamentos com a rifampicina, uma das principais drogas dos esquemas terapêuticos da tuberculose, mostrou redução dos níveis séricos destes anti-retrovirais por interação farmacológica no sistema microssomal hepático, com maior risco de desenvolvimento de resistência ao esquema anti-retroviral proposto. A opção por esquemas alternativos para www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X tuberculose, sem a rifampicina, entretanto, reduz a eficácia do esquema pela baixa adesão, complexidade e tempo mais prolongado de tratamento. Estudos farmacocinéticos recentes mostram que a rifampicina pode ser usada com algumas das drogas anti-retrovirais, como o efavirenz ou ritonavir associado ao saquinavir, ou inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa, sem necessidade de ajustes posológicos. Além disso, o aparecimento de tuberculose na vigência de tratamento anti-retroviral não significa sua falência. O esquema em curso pode ser trocado por um outro que permita o uso da rifampicina, sendo retornado após o fim do tratamento da tuberculose. Diante dessas novas evidências, as Diretrizes Brasileiras para o Tratamento da tuberculose (2004) recomendam as seguintes condutas: Esquema 1 e aguardar estabilidade clínica para realização de contagem de CD4 e carga viral e avaliação da necessidade de tratamento anti-retroviral (TARV). Caso Paciente virgem de tratamento indicada a TARV, iniciar um dos seguintes esquemas: para tuberculose e HIV • 2 inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN) + efavirenz. • 2 ITRN + saquinavir + ritonavir Tratar tuberculose por seis meses com esquema 1. Caso necessário, adequar TARV, substituindo drogas Paciente sob terapia antiincompatíveis com o uso da rifampicina e utilizando um retroviral, porém virgem de dos seguintes esquemas: tratamento para tuberculose • 2 ITRN + efavirenz. • 2 ITRN + saquinavir + ritonavir Tratar tuberculose por nove meses com esquema 2. Iniciar ou substituir a TARV por esquemas compatíveis com o uso Meningoencefalite tuberculosa concomitante de rifampicina: • 2 ITRN + efavirenz. • 2 ITRN + saquinavir + ritonavir Tratar tuberculose por seis meses com esquema 1R. Iniciar ou substituir a TARV por esquemas compatíveis Retratamento para tuberculose com o uso concomitante de rifampicina: • 2 ITRN + efavirenz. • 2 ITRN + saquinavir + ritonavir Tratar a tuberculose por 12 meses com o esquema 3. Falência ao tratamento para Iniciar ou substituir a TARV pelo esquema considerado tuberculose mais adequado do ponto de vista imunológico e virológico. Encaminhar aos serviços de referencia em tuberculose, Tuberculose multirresistente para avaliação de especialista e uso de esquemas especiais. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X 28 - De forma prática, quais são as principais reações adversas com as drogas utilizadas no tratamento da tuberculose? A maioria dos efeitos colaterais ocorre devido a fatores como dose, adesão do paciente, idade, estado nutricional, co-infecção com HIV e alcoolismo. Os efeitos adversos podem ser divididos em efeitos menores e maiores. Os efeitos menores ocorrem em 5 a 20% dos casos e não implicam na modificação imediata do esquema padronizado. Os efeitos maiores implicam em mudança imediata do esquema proposto e ocorrem em 2 a 8% dos casos. A seguir descrevemos os principais efeitos menores e maiores, adaptado das orientações do ministério da saúde: Efeito Irritação gástrica (náusea, vômito), epigastralgia e dor abdominal Artralgia ou Artrite Neuropatia periférica (queimação das extremidades) Cefaléia e mudança de comportamento (euforia, insônia, ansiedade e sonolência) Suor e urina cor de laranja Prurido cutâneo Hiperuricemia (com ou sem sintomas) Febre Efeito Exantemas Hipoacusia Vertigem e nistagmo Psicose, crise convulsiva, encefalopatia tóxica e coma. Neurite ótica Hepatotoxicidade (vômitos, Hepatite, alteração das provas de função hepática) Trombocitopenia, leucopenia, eosinofilia, anemia hemolítica, Agranulocitose, vasculite Nefrite intersticial Efeitos adversos menores Droga Conduta rifampicina Reformular os horários de administração isoniazida da medicação pirazinamida Avaliar a função hepática pirazinamida Medicar com ácido AAS isoniazida isoniazida Medicar com piridoxina (vitamina B6) etambutol isoniazida Orientar rifampicina isoniazida rifampicina pirazinamida etambutol rifampicina isoniazida Orientar Medicar com anti-histamínico Orientação dietética (dieta hipopurínica) Orientar Efeitos adversos maiores Droga Conduta Suspender o tratamento e reintroduzi-lo, estreptomicina droga a droga, após resolução. rifampicina Substituir o esquema nos casos graves ou reincidentes. Suspender a droga e substituí-la pela estreptomicina melhor opção. Suspender a droga e substituí-la pela estreptomicina melhor opção. Substituir por estreptomicina + isoniazida Etambutol. etambutol Substituir. isoniazida todas as drogas Suspender o tratamento 1 temporariamente até resolução. rifampicina isoniazida Dependendo da gravidade, suspender o tratamento e reavaliar o esquema de tratamento. rifampicina principalmente intermitente Suspender o tratamento. Rabdomiólise com mioglobinúria pirazinamida Suspender o tratamento. e insuficiência renal 1 – Hepatotoxicidade: O paciente preferencialmente deve ser acompanhado em um centro de referência e o esquema pode ser seguido conforme o diagrama abaixo. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X 29 - Quais são as principais interações medicamentosas da rifampicina, isoniazida e pirazinamida? Rifampicina A rifampicina é um importante indutor da atividade enzimática do citocromo P450. Em função dessa ação, ela acelera a degradação de uma série de outras drogas, gerando importantes interações medicamentosas: www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Interações medicamentosas com a rifampicina Drogas que, ao inibirem o citocromo Drogas com metabolização e eliminação P450, retardam o metabolismo da aceleradas pela rifampicina rifampicina • Inibidores de proteases, zidovudina, • Inibidores deproteases inibidors da transcriptase reversa • Antifúngicos imidazólicos • Antifúngicos imidazólicos • ciprofloxacino • Costicosteróides • Varfarina • Opióides • Sulfoniluréias • Macrolídeos • Quinolonas • Anticonvulsivantes • Digitoxina, quinidina, betabloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio • Benzodiazepínicos • Barbitúricos • Anticoncepcionais orais • Ciclosporina • Teofilina Isoniazida Os sais contendo alumínio (ex: antiácidos) diminuem os níveis séricos e os efeitos da isoniazida. A isoniazida interfere com os efeitos de várias drogas, conforme ilustrado abaixo: Influência da isoniazida nos efeitos de outros medicamentos Efeitos aumentados Efeitos reduzidos • varfarina • cetoconazol • carbamazepina • fenitoína • meperidina • benzodiazepínicos • cicloserina • enflurano Pirazinamida Não apresenta interações medicamentosas importantes. Ela potencializa o risco de hepatite das demais drogas do esquema 1: isoniazida e rifampicina. 30 - Quais são as formas mais comuns de tuberculose extrapulmonar? A forma mais comum de tuberculose extrapulmonar é a pleural, seguida da ganglionar. Em pacientes com AIDS, a forma ganglionar é mais freqüente que a pleural. O quadro abaixo mostra as freqüências das diferentes localizações extrapulmonares da tuberculose nos EUA, em diferentes períodos. Freqüências das diferentes formas extrapulmonares de tuberculose nos EUA 1969-1973 1990 1997 Pleural 26,5% 24,0% 20,7% Ganglionar 21,3% 30,0% 41,3% Genitourinária 17,9% 8,8% 6,6% Miliar 10,6% 7,8% 7,4% Osteoarticular 8,8% 10,2% 11,2% S. nervoso central 4,7% 6,1% 5,2% Peritoneal 3,8% 3,4% 4,2% Outras 6,4% 9,7% 3,4% Obs: a maior incidência da forma ganglionar em relação à pleural nos EUA deve-se ao fato de que, nesse país, os portadores de AIDS representam uma grande proporção da população dos pacientes com tuberculose. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Outras formas menos comuns de tuberculose extrapulmonar são: cutânea, ocular, laríngea, pericárdica, intestinal, hepatobiliar, adrenais, de partes moles e mamária. 31 - Quais são as principais localizações extrapulmonares da tuberculose da criança? Algumas localizações extrapulmonares são mais freqüentes nas crianças como gânglios periféricos, pleura, ossos e meninges. A tuberculose do aparelho digestivo (peritonite e intestinal), pericardite, gênito-urinária e cutânea são mais raras. A tuberculose ganglionar periférica acomete com freqüência as cadeias cervicais e é geralmente unilateral, com adenomegalias de evolução lenta, superior a três semanas. Os gânglios têm consistência endurecida e podem fistulizar (escrófula ou escrofuloderma). É comum a suspeita de tuberculose em casos de adenomegalia que não responderam ao uso de antibióticos. A meningoencefalite tuberculosa costuma cursar com fase prodrômica de uma a oito semanas, quase sempre com febre, irritabilidade, paralisia de pares cranianos e pode evoluir com sinais clínicos de hipertensão intracraniana, como vômitos, letargia e rigidez de nuca. O líquor é claro, com glicose baixa e predomínio de mononucleares. O teste tuberculínico pode ser não reator, pois a forma é anérgica. A forma ósteo-articular mais encontrada situa-se na coluna vertebral, constituindo-se no Mal de Pott. Cursa com dor no segmento atingido e posição antálgica nas lesões cervicais e torácicas, paraplegias e gibosidade. 32 - Qual a apresentação clínica da tuberculose pleural? A tuberculose pleural apresenta-se, na maioria das vezes, de forma aguda. Mais raramente o paciente pode apresentar sintomas insidiosos, com mais de duas semanas de evolução. Os sintomas mais comuns são a tosse e a dor torácica. A tosse é predominantemente seca, exceto quando há doença significativa do parênquima pulmonar concomitante, fato que não é comum. A dor torácica tem usualmente características pleuríticas, ou seja, é "em pontada", bem localizada, piorando com a respiração e com a tosse. A febre está presente freqüentemente, podendo ser acompanhada de calafrios e sudorese noturna. A dispnéia pode ocorrer em função da extensão do derrame pleural, da presença de doença pulmonar associada ou da presença de doenças cardio-pulmonares prévias. Sintomas gerais, tais como, adinamia, anorexia, perda de peso, também podem estar presentes. Ainda na anamnese, deve ser investigada história de contágio. O exame físico do paciente com tuberculose pleural não é muito rico. Além da hipertermia, na maioria das vezes, os únicos achados são aqueles relativos à presença do derrame pleural, ou seja, diminuição do frêmito tóraco-vocal, macicez à percussão e abolição do murmúrio vesicular no local acometido. Nas fases iniciais, com pouco líquido, pode haver atrito pleural. 33 - Quais são as características laboratoriais do líquido pleural na tuberculose? O líquido pleural na tuberculose tem aspecto serofibrinoso e cor amarelada (eventualmente pode ser mais escuro, nas formas mais crônicas, ou ser sero-hemorrágico, quando há acidente de punção). A análise bioquímica mostra tratar-se de exsudato segundo os critérios de Light, ou seja, apresenta a relação entre proteína do líquido e proteína sérica maior que 0,5 e/ou relação entre desidrogenase láctica do líquido e sérica maior que 0,6. Na prática, a proteína do líquido pleural acima de 3g/dl é indicativa de que o líquido é um exsudato, podendo dispensar a realização das outras dosagens citadas. Os exames laboratoriais mais importantes na investigação do líquido pleural na tuberculose e seus achados mais freqüentes estão ilustrados no quadro abaixo: Exames Características Celularidade 1000-6000 leucócitos (50-90% de linfócitos, menos de 5% de eosinófilos, podendo haver predomínio de neutrófilos nas fases iniciais), presença de poucas células mesoteliais Proteína 5 + 1g/dl Desidrogenase láctica 500-1000ui/l, aumentando com a duração do derrame pH usualmente entre 7,30 e 7,40 Glicose níveis ligeiramente menores que os séricos Adenosina deaminase valores acima de 60ui/l associam-se a sensibilidade e especificidade acima de 90% (maiores detalhes na pergunta www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Pesquisa de BAAR Cultura para BK sobre diagnóstico da tuberculose pleural) 10-25% de positividade descrita na literatura (em nosso meio, positividade ainda menor) 25-75% de positividade descrita na literatura 34 - Como é feito o diagnóstico de tuberculose pleural? O diagnóstico da tuberculose pleural inicia-se a partir da suspeita clínica, conforme já descrito anteriormente (ver pergunta sobre o quadro clínico da tuberculose pleural), e da presença de um derrame pleural à radiografia de tórax. O derrame pleural é quase sempre unilateral, de pequeno a moderado volume (entre 500-1000ml, ocupando menos de um quarto do volume do hemitórax). Imagens radiográficas sugestivas de acometimento parenquimatoso pela tuberculose podem reforçar o diagnóstico, mas ocorrem em apenas 20 a 50% dos casos. A partir desse quadro, a toracocentese e a biópsia pleural com agulha (a mais freqüentemente usada é a de Cope) devem ser realizadas. O diagnóstico bacteriológico da tuberculose deve ser sempre tentado, com a realização de pesquisa de BAAR e cultura para BK, tanto no líquido pleural, quanto no material de biópsia. Entretanto, as baixas positividades desses exames e o longo período necessário para a cultura do BK fazem com que muitas vezes o diagnóstico seja baseado em outros dados. Recomenda-se sempre a pesquisa de bactérias, fungos e células neoplásicas, etiologias que entram no diagnóstico diferencial da tuberculose pleural Na ausência do diagnóstico microbiológico, consideramos tuberculose pleural e assim tratamos, quando a biópsia mostra a presença de granuloma com necrose caseosa. As outras condições com o mesmo aspecto histopatológico raramente levam a derrame pleural. Quando a biópsia pleural é inespecífica (ex: processo inflamatório crônico inespecífico), uma segunda biópsia pleural com agulha deve ser tentada. Após uma segunda biópsia pleural inespecífica com agulha, devem ser ponderados os riscos e benefícios de uma biópsia através de pleuroscopia ou do tratamento empírico para tuberculose. Em pacientes jovens, com quadro clínico e análise laboratorial do líquido pleural sugestiva, o tratamento empírico pode ser realizado, após a tentativa de se afastar clinica e laboratorialmente outras causas de derrame pleural (colagenose, linfoma, neoplasias, derrame parapneumônico, empiema). Em faixas etárias progressivamente maiores (a partir de 40 anos), pelo risco crescente de neoplasia, essa conduta deve ser evitada. Quando o tratamento empírico é realizado, o paciente deve ser acompanhado rigorosamente. A não melhora clínica após trinta dias ou o aparecimento de dados que sugiram outro diagnóstico indicam a suspensão do tratamento e a retomada da investigação. Mais recentemente, alguns exames laboratoriais têm sido utilizados no diagnóstico da tuberculose pleural. Entre eles, a adenosina deaminase (ADA) tem-se destacado. A ADA é uma enzima associada ao linfócito CD4 e seu aumento reflete uma resposta imume celular ativada. Níveis acima de 60ui/L apresentam sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de tuberculose pleural acima de 90%. A utilização do nível de ADA acima de 40ui/l, recomendada por vários autores, aumenta a sensibilidde, mas reduz a especificidade. Outras condições que podem cursar com aumento da ADA são: artrite reumatóide, empiema, mesotelioma, câncer de pulmão, linfomas e neoplasias hematológicas. Sempre que possível, deverá ser realizada, pois aumenta a consistência para o tratamento empírico da tuberculose pleural. Alguns autores recomendam que a associação de quadro clínico bastante sugestivo e ADA alta já seriam suficientes para se iniciar o tratamento, não sendo necessária a biópsia pleural. Outros testes têm sido estudados para o diagnóstico de tuberculose pleural, mas suas utilizações ainda não estão bem estabelecidas. São eles: dosagens de lisozima e interferon gama no líquido pleural, ELISA, técnicas de amplificação de cadeias de ácidos nucléicos (PCR). O PPD não é rotineiramente usado na investigação diagnóstica da tuberculose pleural. Além de suas limitações habituais, os pacientes com tuberculose pleural são não-reatores em uma freqüência que varia de 30 a 40%. 35 - Qual o tratamento da tuberculose pleural? O tratamento quimioterápico da tuberculose pleural é idêntico ao da pulmonar, ou seja, com a utilização da isoniazida, rifampicina e pirazinamida (ver perguntas sobre o tratamento da tuberculose pulmonar). www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Derrames pleurais de maior volume podem ser esvaziados, retirando-se geralmente entre 1 e 1,5 litros. Como é freqüente a necessidade de uma segunda biópsia pleural com agulha, sugerimos que não se esvazie totalmente o derrame pleural no primeiro procedimento. Embora ainda recomendado por alguns autores, o uso de corticóide é desnecessário. 36 - Quais são os critérios de alta no tratamento da tuberculose? O Ministério da Saúde define os seguintes termos de alta: Alta por cura: Pacientes com forma pulmonar e BAAR positivo: a alta por cura será dada quando o paciente completar o tratamento e apresentar duas baciloscopias negativas (cura bacteriológica comprovada) ou não tiver escarro para realizar BAAR, mas apresentar dados clínicos e exames complementares que permitam a alta. Pacientes com forma pulmonar e BAAR negativo: a alta por cura será dada quando o tratamento estiver completo e dados clínicos, radiológicos e outros exames complementares permitirem a alta. Alta por abandono de tratamento Será considerada quando o paciente deixa de comparecer à unidade de saúde por mais de 30 dias consecutivos da data prevista para o retorno. Nos esquemas supervisionados, conta-se a partir da última tomada da droga. Alta por mudança de diagnóstico Nos casos de erros de diagnóstico. Cuidado deve ser tomado nos casos em que se descobre uma doença associada, mas não se pode descartar a tuberculose. Alta por óbito É dada por ocasião da morte do paciente, durante tratamento, independente da causa da morte. Alta por falência Em geral o paciente iniciará um novo esquema devido à falência no tratamento. Alta por transferência A transferência deve ser processada através de documento que informará sobre o diagnóstico e o tratamento realizado até aquele momento. 37 - Existe necessidade de controle após acura do paciente? A maioria dos pacientes é orientada a retornar à unidade de saúde somente se surgirem sintomas semelhantes ao início da doença. Algumas exceções são feitas nos seguintes casos, onde consultas após a cura seriam necessárias: • Portadores de HIV/AIDS ou outras imunodeficiências; • Graves seqüelas anatômicas e funcionais; • Graves efeitos colaterais durante a terapia, sem comprovação bacteriológica da cura. 38 - Qual a conduta em relação aos indivíduos contactantes de pacientes com tuberculose pulmonar? Os indivíduos que coabitam com o paciente com tuberculose pulmonar e apresentam sintomas respiratórios devem ser encaminhados para investigação. Farão parte da propedêutica a baciloscopia do escarro, o exame radiológico e o PPD. Segundo as recomendações da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) e o Centro de Referência Professor Hélio Fraga, as seguintes condutas devem ser tomadas em relação aos contatos: www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X Resultado dos exames Rx de tórax sem alteração PPD não reator Ausência de escarro e/ou BAAR negativo Rx de tórax sem alteração PPD reator Ausência de escarro e/ou BAAR negativo Rx de tórax com alteração PPD reator Ausência de escarro e/ou BAAR negativo Conduta Aplicar vacina BCG em menor de 15 anos não vacinados ou se o indivíduo for de risco para TB*. Orientar sobre o aparecimento de sintomas respiratórios. Indicar quimioprofilaxia se contato for menor que 15 anos e não tiver sido vacinado com BCG. Avaliar a possibilidade de tuberculose passada e possibilidade de ser residual. Considerar a possibilidade de doença e o início de quimioterapia. Buscar o esclarecimento diagnóstico. Rx de tórax com alteração PPD não reator Buscar esclarecimento diagnóstico Ausência de escarro e/ou BAAR negativo Rx de tórax com alteração PPD reator ou não reator Quimioterapia BAAR positivo * Risco de TB: trabalhador de saúde, albergados, asilados. 39 - Quais são as indicações de quimioprofilaxia para tuberculose? A quimioprofilaxia da tuberculose é uma medida terapêutica que consiste no uso de medicamentos para a prevenção da infecção pelo M tuberculosis ou para evitar o desenvolvimento da doença naqueles já infectados. O manual de normas para o controle da tuberculose, publicado em 2002 pelo Ministério da Saúde, define as indicações para a quimioprofilaxia para a tuberculose. São elas: • Comunicantes intradomiciliares de bacilíferos, menores de 15 anos, não vacinados com BCG e reatores ao PPD (> 10mm), sem alterações clínicas ou radiográficas de tuberculose (pois nessas situações seriam tratados); • Crianças vacinadas com BCG, mas com resposta à tuberculina igual ou superior a 15 mm. • Recém-nascidos com contato intradomiciliar com bacilíferos. Nesse caso recomendase a quimioprofilaxia por 3 meses, seguida da realização do PPD. Se a criança for reatora, completa-se 6 meses de quimioprofilaxia, caso contrário ela é suspensa e vacina-se com BCG; • Indivíduos com viragem tuberculínica recente (até doze meses), isto é, que tiveram um aumento na resposta tuberculínica de, no mínimo, 10 mm. • Em populações indígenas, no Brasil, recomenda-se que todo contato de tuberculose bacilífero, reator forte ao PPD, independente da idade e do estado vacinal, após avaliação clínica e afastada a possibilidade de tuberculose doença através de baciloscopia e radiografia de tórax, deve receber terapia preventiva. • Imunossuprimidos (por drogas ou doenças) com contágio intra-domiciliar com bacilíferos, sob decisão médica individualizada. • Reatores fortes à tuberculina, sem sinais de tuberculose ativa, mas com condições clínicas associadas a alto risco de desenvolvê-la, como: o Alcoolismo; o Diabetes insulino-dependente; o Silicose; o Nefropatias graves; o Sarcoidose; o Linfomas; o Pacientes com uso prolongado de corticoesteróides em dose de imunodepressão; o Pacientes submetidos à quimioterapia antineoplásica; o Pacientes submetidos a tratamento com imunodepressores; www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X o Portadores de imagens radiográficas compatíveis com tuberculose inativa sem história de quimioterapia prévia. 40 - Quais são as indicações de quimioprofilaxia para tuberculose no paciente HIV? A quinioprofilaxia da tuberculose no paciente infectado pelo HIV é capaz de reduzir em cerca de 60% a incidência da doença nessa população. Ela é indicada em pacientes sem sinais ou sintomas que sugiram a tuberculose, baseados no PPD (realizado na primeira consulta e anualmente nos indivíduos não reatores) e na radiografia de tórax. • Radiografia de tórax normal: PPD maior ou igual a 5mm e/ou contatos no domicílio de tuberculose bacilífera e/ou PPD não reator (0-4 mm) com história de ser reator no passado sem tratamento ou profilaxia. • Radiografia de tórax anormal: cicatriz radiológica de tuberculose sem tratamento anterior, afastando tuberculose ativa. Independe o resultado do PPD. • Pacientes com PPD > 10 mm, investigar cuidadosamente tuberculose ativa antes de sugerir quimioprofilaxia. Nos pacientes não reatores em uso de antiretrovirais, recomenda-se repetir o PPD a cada 6 meses por possível restauração da imunidade. 41 - Como se faz a quimioprofilaxia para tuberculose? A quimioprofilaxia contra a tuberculose é feita com isoniazida, na dose de 10mg/kg (dose máxima de 300 a 400 mg/dia), em uma única tomada pela manhã, durante 6 meses. Havendo intolerância à izoniazida, pode-se usar a rifampicina, na dose de10mg/kg/dia (dose máxima de 600mg), em uma única tomada pela manhã, durante 3 meses. 42 - O que é BCG e qual o seu mecanismo de ação e sua eficácia? O BCG é vacina disponível contra a tuberculose. O nome BCG é derivado de "Bacilo de Calmette e Guérin", os pesquisadores que desenvolveram essa vacina a partir do M. bovis atenuado. A vacina é aplicada pela via intradérmica, na projeção do músculo deltóide no braço direito, fazendo parte do calendário oficial de vacinação. Atualmente tem sido aplicada nos recém-nascidos, ainda na maternidade, ou nos postos de saúde junto com as demais vacinas obrigatórias. O bacilo atenuado inoculado tem replicação muito lenta e causa uma infecção local, às vezes com uma linfadenite satélite em região axilar. Essa infecção localizada é capaz de estimular uma resposta imunológica celular no indivíduo, que o protegerá em futuras exposições ao bacilo de uma disseminação maciça do mesmo. O BCG tem como sua maior eficácia a proteção de crianças e adultos jovens contra as formas graves de tuberculose primária como a forma miliar e a meníngea, com eficácia entre 75 e 85%. Essa propriedade faz do BCG uma importante arma nos programas de prevenção da tuberculose em países com alta prevalência da doença, onde há um risco alto e constante de infecção pelo bacilo desde a infância, como ocorre no Brasil. Já em relação à tuberculose pulmonar em adultos, a capacidade do BCG em reduzir sua incidência é bastante discutível. Diferentes estudos mostram resultados que vão desde taxas de eficácia de 40 a 80%, até aumentos na incidência de tuberculose pulmonar entre pacientes vacinados em relação aos não vacinados (trabalho isolado, sem justificativa aparente para tal resultado). 43 - Quais são as indicações e contra-indicações do BCG? As indicações para vacinação com o BCG (II Consenso Brasileiro de Tuberculose 2004) são: • Todos os recém-nascidos, com pelo menos 2 Kg de peso e sem intercorrências clínicas, preferencialmente na maternidade. • Recém-nascidos filhos de mães soropositivas ou com AIDS. • Crianças soropositivas para o HIV ou filhos de mães com AIDS, desde que sejam não reatores para o PPD e assintomáticos para a síndrome. • Contatos com doentes com hanseníase, de acordo com as normas estabelecidas pelo programa de controle da hanseníase do Ministério da Saúde. As contra-indicações á vacinação com o BCG são: Relativas ou temporárias: • Recém-nascido com peso inferior a 2 Kg (vacinação é adiada até se atingir esse peso). www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X • Dermatoses generalizadas ou no local de aplicação da vacina. • Uso de medicamentos ou substancias imunossupressoras. Absolutas: • Adultos infectados pelo HIV e crianças sintomáticas para a infecção. • Imunodeficiências congênitas. Em relação à revacinação, o último consenso nacional somente indica tal conduta para os lactentes que foram vacinados ao nascer e não apresentam cicatriz vacinal após seis meses de idade. 44 - Quais são as reações adversas que podem ocorrer com a aplicação do BCG? O BCG provoca uma reação cutânea local, de evolução benigna e que não requer tratamento. Na segunda semana após a vacinação, há a formação de um endurado de 3 a 9mm, seguida da formação de uma crosta, entre a quinta e a oitava semana. A queda da crosta gera uma úlcera pequena, que cicatriza entre a oitava e a décima terceira semana. Essa evolução pode acompanhar-se de adenomegalia axilar não supurada, discreta, que também não requer tratamento. Mais raramente pode haver a formação de abscesso local, úlceras maiores, gânglios flutuantes e com fistulização. Na maioria das vezes essas complicações decorrem da aplicação errônea da técnica, ou com injeção subcutânea ou com utilização de doses maiores. Elas devem ser tratadas com isoniazida, 10mg/kg/dia (dose máxima de 400mg), até a regressão do quadro, geralmente por 45 dias. Outras complicações são extremamente raras e não devem causar receio ao se indicar a vacinação: infecções disseminadas, osteomielite, linfadenopatia difusa, hepatoesplenomegalia, lesões gênito-urinárias; reações de hipersensibilidade: "rash" cutâneo, eritema nodoso, ceratoconjuntivite flictenular, vasculite com pioderma gangrenoso. 45 - Leitura recomendada Boletim de Pneumologia Sanitária/Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, Centro o Nacional de Epidemiologia, Centro de Referência Professor Hélio Fraga. Vol. 10, n 1, 2002 Rio de Janeiro. II Consenso Brasileiro de Tuberculose. Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Jornal Brasileiro de Pneumologia 2004; 30 (Supl 1): S1S56. Controle da Tuberculose, Uma proposta de Integração Ensino-Serviço. Brasil. Ministério da a Saúde. Fundação Nacional de Saúde. 5 edição, Rio de Janeiro 2002. Dolin PJ, Raviglione MR, Kochi A. Global tuberculosis incidence and mortality during 19902000. Bull WHO 1994; 72:213-220. Iseman MD. A clinician’s guide to tuberculosis. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 2000. 460p. Kritski AL, Conde MB, Souza GRM. Tuberculose. Do ambulatório a enfermaria. 2.ed. São Paulo, Atheneu, 2000. 303p. a Plano Nacional de Controle da Tuberculose. Normas técnicas estrutura e operacionalização. 5 edição, Brasília, DF, 2000. Tuberculose, Guia de Vigilância Epidemiológica. Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. Brasília, outubro 2002. Tuberculose – Guia de Vigilância Epidemiológica. Comitê Técnico-Científico de Assessoramento à Tuberculose, Brasília, 2002. Tuberculose e Comitê Assessor para Co-infecção HIV-Tuberculose. – Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 2002. World Health Organization. 1998-Global tuberculosis control. WHO Report 1998. Who/TB?98. www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X FLUIMUCIL FORMA FARMACÊUTICA E APRESENTAÇÃO: Xarope: frascos com 100 e 150 ml com copo medida. Granulado 100 mg: caixas com 16 envelopes. Granulado 200 mg: caixas com 16 envelopes. Granulado D 600mg: caixas com 16 envelopes. Comprimido efervescente com aspartame: caixas com 16 comprimidos. USO ADULTO E PEDIÁTRICO COMPOSIÇÃO: XAROPE N-acetilcisteína 20 mg Excipientes (metilparahidróxibenzoato, benzoato de sódio, edetato de sódio, carboximetilcelulose sódica, sacarina sódica, essência de framboeza, hidróxido de sódio, água destilada) . q.s.p. 1 ml GRANULADO 100 MG N-acetilcisteína 100 mg Excipientes (sacarina sódica, corante amarelo crespúsculo, açúcar refinado, aroma de laranja, granulado laranja) q.s.p. 1 envelope GRANULADO 200 MG N-acetilcisteína 200 mg Excipientes (sacarina sódica, corante amarelo crespúsculo, açúcar refinado, aroma de laranja, granulado laranja) q.s.p.1 envelope GRANULADO D 600 MG N-acetilcisteína 600 mg Excipientes (sacarina sódica, frutose, aroma de laranja, corante amarelo crespúsculo, talco, dióxido de silício coloidal) q.s.p. 1 envelope COMPRIMIDOS EFERVESCENTES N-acetilcisteína 600 mg Excipientes (bicarbonato de sódio, ácido cítrico anidro, aspartame, aroma) q.s.p. 1 comprimido INFORMAÇÃO AO PACIENTE: FLUIMUCIL fluidifica as secreções e favorece a expectoração por não interferir no mecanismo da tosse produtiva. Este efeito fluidificante se manifesta após 3 a 4 horas do início da administração. FLUIMUCIL exerce também ação protetora contra alguns dos danos provocados pelo hábito de fumar. Deixar de fumar é, todavia, a medida mais saudável. O medicamento, por ser derivado de um aminoácido natural, é habitualmente bem tolerado. O medicamento deve ser guardado, antes e após a abertura da embalagem, ao abrigo do calor e da umidade. FLUIMUCIL é válido por 2 anos na forma xarope. Nas demais apresentações é válido por 3 anos. Observar a data de fabricação e o prazo de validade impressos no cartucho. Após abertura do frasco, o xarope tem validade de 14 dias. Não deve ser utilizado além deste prazo. NÃO UTILIZAR O MEDICAMENTO COM O PRAZO DE VALIDADE VENCIDO. INFORME SEU MÉDICO A OCORRÊNCIA DE GRAVIDEZ NA VIGÊNCIA DO TRATAMENTO OU APÓS O SEU TÉRMINO. INFORMAR AO MÉDICO SE ESTIVER AMAMENTANDO. INFORME AO SEU MÉDICO SOBRE O APARECIMENTO DE REAÇÕES DESAGRADÁVEIS DURANTE O TRATAMENTO. INFORME SEU MÉDICO SOBRE QUALQUER MEDICAMENTO QUE ESTEJA USANDO, ANTES DO INÍCIO OU DURANTE O TRATAMENTO. FLUIMUCIL granulado de 100 e 200 mg contém sacarose e, portanto, não deve ser usado por pacientes diabéticos. As demais apresentações de FLUIMUCIL oral podem ser utilizadas por pacientes diabéticos, obesos e hiperlipêmicos. Já os comprimidos efervescentes contém aspartame e não devem ser usados por pacientes fenilcetonúricos. SIGA A ORIENTAÇÃO DO SEU MÉDICO, RESPEITANDO SEMPRE OS HORÁRIOS, AS DOSES E A DURAÇÃO DO TRATAMENTO. NÃO INTERROMPER O TRATAMENTO SEM O CONHECIMENTO DO SEU MÉDICO. TODO MEDICAMENTO DEVE SER MANTIDO FORA DO ALCANCE DAS CRIANÇAS. NÃO TOME REMÉDIO SEM O CONHECIMENTO DO SEU MÉDICO. PODE SER PERIGOSO PARA SUA SAÚDE. INFORMAÇÃO TÉCNICA: A ação mucolítica de FLUIMUCIL, derivado do aminoácido natural cisteína, exerce-se mediante mecanismo de lise físico-química, atribuível à presença na molécula de um grupo sulfidrílico livre que interage com as ligações -S-S das cadeias mucoprotéicas provocando a cisão destas e determinando diminuição da sua viscosidade. Pesquisas desenvolvidas no homem, com N-acetilcisteína marcada, demonstraram a sua boa absorção após administração oral. Os picos plasmáticos são alcançados entre a 2ª-3ª hora, sendo que, após 5 horas da administração, são detectáveis concentrações significativas de N-acetilcisteína no tecido pulmonar. Estudos "in vivo" e "in vitro" atestam que N-acetilcisteína é capaz de proteger as células pulmonares contra o dano provocado por radicais livres oxidantes. A atividade de "varredor de oxidantes" é exercida tanto diretamente como indiretamente, através da manutenção e/ou incremento dos níveis da glutationa, da qual a N-acetilcisteína é precursora. O conjunto destas propriedades confere ao FLUIMUCIL a capacidade de agir positivamente sobre os estímulos tussígenos de tipo irritativo, sem interferir na tosse produtiva. Também tem sido documentado que a glutationa e seus precursores protegem da agressão oxidativa a função fagocitária de macrófagos e neutrófilos, bem.como promovem a ativação, proliferação e diferenciação dos linfócitos T, o que leva a postular que um incremento dos níveis de glutationa possa desenvolver um importante papel nos mecanismos de defesa imunológica. INDICAÇÕES: Tratamento preventivo e curativo de complicações resultantes do resfriado comum e da gripe, tais como rinofaringites, sinusites, otites catarrais etc. Traqueítes, traqueobronquites, bronquites agudas, broncopneumonias, pneumonias e outros processos infecciosos do aparelho respiratório; Bronquite crônica asmática ou tabágica; Prevenção das exacerbações de bronquite crônica; Prevenção e tratamento do enfisema. CONTRA-INDICAÇÕES: Contra-indicado a pacientes com história de hipersensibilidade aos componentes da fórmula. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Foi comprovado que a N-acetilcisteína, quando administrada simultaneamente às penicilinas semi-sintéticas, favorece a obtenção de níveis séricos mais rápidos e mais elevados destas. Entretanto, o contrário foi observado com as cefalosporinas de 1ª geração. REAÇÕES ADVERSAS: Ainda não são conhecidas a intensidade e a freqüência das reações adversas. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: Fenilcetonúricos: evitar a apresentação comprimidos efervescentes por conter aspartame em sua composição. POSOLOGIA E MODO DE USAR: Xarope Crianças: até 3 meses: 1 ml, 3 vezes ao dia; de 3 a 6 meses: 2,5 ml, 2 vezes ao dia; de 6 a 12 meses: 2,5 ml, 3 vezes ao dia; de 1 a 4 anos: 5 ml, 2 a 3 vezes ao dia, ou a critério médico. Acima de 4 anos: 5 ml, 3 vezes ao dia ou a critério médico. Adultos: 10 ml de xarope a cada 8 horas Granulado 100 mg: 1 envelope 2 a 4 vezes ao dia, conforme a idade. Dissolver 1 envelope em meio copo com água. Granulado 200 mg: 1 envelope 2 a 3 vezes ao dia. Dissolver 1 envelope em meio copo com água. Granulado D 600 mg: 1 envelope ao dia, preferivelmente à noite, antes de deitar. Dissolver 1 envelope em meio copo com água. Comprimidos efervescentes: 1 comprimido ao dia, preferivelmente à noite, antes de deitar. Dissolver 1 comprimido efervescente em meio copo com água. A críterio médico, as doses acima podem ser aumentadas até o dobro. SUPERDOSAGEM: Não foram observados sinais ou sintomas especiais, mesmo em pacientes tratados com doses altas de N-acetilcisteína por via oral. Em caso de mobilização intensa de muco e dificuldade de expectoração, recorrer à drenagem postural e/ou à broncoaspiração. PACIENTES IDOSOS: Não há problemas em administrar-se FLUIMUCIL a pacientes idosos desde que sejam seguidas as orientações gerais descritas na bula. Contudo, o tratamento deve ser iniciado com a dose mínima. SIGA CORRETAMENTE O MODO DE USAR. NÃO DESAPARECENDO OS SINTOMAS, PROCURE ORIENTAÇÃO MÉDICA. Nº lote, data de fabricação e validade: vide cartucho M.S. 1.0084.0075 Responsável Técnico: Dra. Maria Del Carmen A. S. Alberti - CRF-SP 14.759 ZAMBON LABORATÓRIOS FARMACÊUTICOS LTDA. RUA DESCAMPADO, 63 - VILA VERA CEP 04296-090 - SÃO PAULO - SP CNPJ. Nº 61.100.004/0001-36 INDÚSTRIA BRASILEIRA ® Marca Registrada FLUIMUCIL comprimidos efervescentes é fabricado por. ZAMBON GROUP S.p.A. Via delIa Chimica, 9 - Vicenza - Itália www.zambon.com.br CÓD. 603700 www.pneumoatual.com.br ISSN 1519-521X