XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 Avaliação do Risco de Perda Auditiva em Músicos João Candido Fernandes (UNESP) [email protected] Carla Soleman (USP) [email protected] Elizabeth Emi Watanabe (USP) [email protected] Fabiana Cristina Carlino (USP) [email protected] Fabiane Kayamori (USP) [email protected] Fernanda Batista Ferreira (USP) [email protected] Gessyka Gomes Marcandal (USP) [email protected] Giovanna Castilho Davatz (USP) [email protected] Paula Roberta Rocha Dellisa (USP) [email protected] Resumo O objetivo desta pesquisa foi avaliar o nível de intensidade de som a que estão submetidos os músicos de orquestras e o tempo de exposição a este som, para verificar se existe risco de perda auditiva. Mediu-se o nível de som próximo ao ouvido dos músicos de duas orquestras (ou bandas) da cidade de Bauru. Os resultados foram comparados com os níveis de conforto estipulados pela norma NBR 10152 da ABNT e com os limites de exposição fixados pela Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho. O níveis de som acusaram uma média de 90 dB(A), com picos que atingiram 110 dB(A). A análise dos dados indicaram um ambiente de grande desconforto acústico com risco de perda auditiva dos músicos. Palavras chave: Ruído, Músico, Orquestra, Banda, Conforto Acústico, Perda de Audição. 1. Introdução Dentre as inúmeras profissões e funções exercidas pelo homem em seu trabalho estão os músicos, que também sofrem com os efeitos da exposição aos altos níveis de intensidade sonora. Embora o som gerado por seus instrumentos não se caracterize como ruído, a exposição a ele causa a perda auditiva e outras alterações importantes que interferem na sua qualidade de vida. A incapacidade auditiva se refere aos problemas auditivos sentidos pelo indivíduo com relação à percepção da fala em ambientes ruidosos, e as outras alterações relacionam-se às conseqüências não auditivas da perda, influenciada por fatores psicossociais e ambientais, tais como estresse e ansiedade. Ward (2003) afirma que os músicos de orquestras devem ser treinados para proteger seus ouvidos do barulho de seus próprios instrumentos e de outros músicos. O nível sonoro de exposição permitido é de 90dB; mas o nível medido em uma apresentação de uma peça clássica tocada em triplo forte foi de 98dB. Uma pesquisa da Associação de Orquestras Britânicas mostrou que assim como a surdez, músicos podem apresentar danos na discriminação de freqüência, e zumbido nos ouvidos. Toppila e Laitinen (2004) afirmam que a diferença entre trabalhadores industriais e músicos está no número de fatores de risco. Assim, este estudo sugere que a baixa perda auditiva observada nos músicos é devido ao menor número de fatores de risco e não pelo fato de a música ser menos perigosa para o ouvido que o barulho nas indústrias. Strauss (1996) pesquisa a audição de músicos afirma que “enquanto a moderna mitologia tem demonizado a ensurdecedora natureza do rock’n’roll, pesquisas sugerem que membros de XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 orquestras podem terminar com mais problemas auditivos que seus irmãos roqueiros pesadamente amplificados”. Currie e Kennedy (2002) afirmam que os músicos não se dão conta que danos irreversíveis foram causados em seus ouvidos, pois este tipo de lesão é invisível e cumulativa. Audição musical é naturalmente vital à performance profissional. Assim, muitos músicos preferem correr os riscos de danos auditivos a comprometer a qualidade de sua música usando protetores auditivos. Vinson (2004) afirma que os músicos estão sob grandes riscos de perda auditiva porque eles normalmente começam com poucos anos de idade e estão expostos ao longo de suas carreiras. Se eles não se conscientizarem desde cedo que estão propensos a ter perda auditiva, eles podem acabar tendo mais danos quando ficarem mais velhos. 2. Material e Métodos 2.1. Avaliações Foram realizadas medições de nível sonoro em duas orquestras (bandas) da cidade de Bauru: - Orquestra Véritas da Universidade do Sagrado Coração de Bauru – orquestra com 25 componentes sob a coordenação do Maestro Fernando Pascoal, que executa sucessos populares, principalmente o som das Big Bands. A Figura 1 apresenta a posição dos músicos da orquestra. - Banda da Polícia Militar de Bauru – formada por 27 músicos, executa músicas populares e militares. Figura 1 – Posição dos instrumentos da Orquestra Véritas XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 2.2. Materiais e equipamentos Foram utilizados os seguintes materiais e equipamentos: - um medidor de nível sonoro marca ENTELBRA, modelo ETB 142A, devidamente calibrado, usado na curva A, resposta slow; - um calibrador marca ENTELBRA modelo 130B; - Ficha de coleta de dados (figura 2). Figura 2 - Ficha de coleta de dados 2.3. Método Durante as medições, o medidor de ruídos foi posicionado próximo ao pavilhão auricular dos músicos, mostrando o nível de ruído ao qual está exposto. Também foi feita medição em vários pontos do local onde estava sendo realizado o ensaio. Essa medição possibilitou perceber quais músicos recebem maior quantidade de som, e quais teriam maior probabilidade de adquirir um problema de audição. 3. Resultados e Discussão 3.1 Resultados das medições de som da Orquestra Véritas Os níveis de som medidos na Orquestra Véritas estão apresentados na Tabela 1. XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 Níveis de som [dB(A)] Mínimo Máximo 90 102 100 110 104 106 85 90 90 100 90 106 96 98 90 100 Tabela 1 – Níveis de som da Orquestra Véritas Instrumentos Saxofone Trompete Trombone Clarinete Guitarra Bateria Percussão Teclado Durante a afinação dos instrumentos a variação foi de 87 a 94 dB(A). Quando todos os instrumentos foram tocados juntos, essa variação subiu para 89 a 100 decibels. Também foi medido o nível sonoro nos seguintes pontos: - na frente de todos os músicos: 92 dB(A); - onde se posiciona o maestro: 96 dB(A); - e em frente aos trombones: 106 dB(A). Comparando com os valores permitidos, considerando que o tempo de ensaio é de 2horas, duas vezes por semana e no último domingo do mês, pela norma NR-15, foi observado que os músicos correm o risco de perderem a audição, uma vez que os valores adquiridos estão muito acima dos limites permitidos pela norma. 3.1 Resultados das medições de som da Banda da Polícia Militar Durante a afinação dos instrumentos o nível de ruído foi de 106 dB. Com a orquestra toda tocando harmoniosamente houve uma variação de 100 a 110 dB. Os pontos medidos foram os seguintes: - em frente à banda: 98 a 110 dB(A); - em frente aos trombones: 102 a 110 dB(A); - em frente aos trompetes: 108 a 110 dB(A). Comparando com os valores permitidos pela norma NR-15 e considerando que o período de ensaio é diário e com duração de 3 horas diárias, foi observado que segundo esta norma, os músicos correm o risco de perderem a audição. 4. Conclusões Em vista das medições efetuadas nas duas orquestras concluiu-se que: - Os níveis de intensidade sonora média medidos na Orquestra Véritas são muito elevados (entre 85 e 110 dB(A)), estando acima do limite permitido pela NR-15, sugerindo que os profissionais correm risco grave e iminente de adquirirem a Perda de Audição Induzida por Ruído. - Quanto a Banda da Polícia Militar, os valores de nível de intensidade sonora medidos também foram muito altos (entre 98 e 110 dB(A)), indicando que os seus músicos também podem ter PAIR. - Quanto ao conforto auditivo dos músicos, os altos níveis de ruído apresentaram valores muito acima do estipulado pela NBR 10152. Esta situação pode causar diversas alterações na saúde e no bem-estar das pessoas, como estresse, diminuição do rendimento, XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 falta de atenção, desconcentração, irritação etc. Após o trabalho, os músicos podem sentir zumbido nos ouvidos, sensação de oclusão nos ouvidos, dificuldade em dormirm dificuldade em relaxar etc. Referências Bibliográficas WARD, D. Orchestral musicians to be protected from decibels. The Guardian, sábado 23 de augusto, 2003. Disponível em: <http://www.guardian.co.uk/arts/news/story/ 0%2C11711%2C102 8088%2C00.html>. Acesso em: 18 abr. 2004 SHERMAN, B.D. Losing your ears to music: the hearing loss epidemic and musicians. In: EARLY music Americ, spring 2000. Disponível em: <http://homepages.kdsi.net/ ~sherman/hearingloss.html>. Acesso em: 18 abr. 2004 STRAUSS, S. Piccolo peril. In: ARTICLE from the globe mail. Toronto, sábado 18 de maio, 1996. Disponível em: <http://www.larrykrantz.com/hearing.htm>. Acesso em: 08 maio, 2004 VINSON, J.K. A proposed study: the hearing effects of playing in a high school marching band. Stephen F. Austin State University. Disponível em: <http://hubel.sfasu.edu/courseinfo/SL02/ jv2hearingloss.htm>. Acesso em: 09 maio, 2004 CURRIE, Q; KENNEDY, J. Musicians and the risk of noise induced hearing loss. The measure online. Celebrating CBC issue. Music industry association of Newfoundland & Labrador, agosto, 2002. Disponível em: <http://www.mia.nf.ca/themeasure.php?aid=126>. Acesso em: 08 maio, 2004. TOPPILA, E.; LAITINEN, H., Finnish institute of occupational health e KUISMA, K., Finnish National Opera. Hearing loss among classical music players. Podium 109.Helsinki, Finlândia. Risk assessment and management. P. 56-65. Disponível em: <http://www.aiha.org/abs04/ po109.htm>. Acesso em: 03 maio, 2004.