FOURIER E WAVELET: ANÁLISE ESPECTRAL DO SINAL EMG DO MÚSCULO VASTO LATERAL DURANTE EXERCÍCIO MÁXIMO EM CICLOERGÔMETRO Lucas Adriano Pereira (PIBIC/CNPq - UEL), Marcelo Vitor da Costa, Ricardo S. Oliveira, Rafael E. Pedro, Thiago V. Camata, Leandro Ricardo Altimari (Orientador) e-mail: [email protected] Grupo de Estudo e Pesquisa em Sistema Neuromuscular e Exercício, DEF/CEFE. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Palavras-chave: eletromiografia, fourier, wavelet, fadiga muscular. Resumo O propósito do estudo foi comparar a Transformada de Fourier de Tempo Curto (STFT) e a Transformada Contínua de Wavelet (CWT) na avaliação da fadiga do músculo Vasto Lateral (VL) em exercício dinâmico máximo de carga constante (100% Wmax) em cicloergômetro. Dezoito sujeitos (26,0 ± 3,3 anos; 80,1 ± 7,4 kg; 180,2 ± 5,1 cm) participaram deste estudo sendo submetidos a um teste máximo de carga constante até a exaustão. A análise EMG no domínio da frequência do músculo VL foi realizada por meio da STFT e da CWT para obtenção dos parâmetros de fadiga. Os resultados deste estudo indicam que as análises CWT e STFT proporcionam estimativas similares do estado de fadiga muscular (slope da frequência mediana) em exercício dinâmico máximo de carga constante em cicloergômetro (P>0,05). A variância também não diferiu entre as análises. Dessa forma, podemos assumir que a estacionariedade do sinal pode não ser o fator responsável por afetar as estimativas baseadas na transformada de Fourier. Introdução A eletromiografia de superfície (EMG) é uma ferramenta não invasiva para o estudo do movimento humano e mecanismos neurofisiolólicos da fadiga. Isto é realizado a partir da determinação do nível de ativação muscular através da atividade elétrica das membranas miofibrilares que são excitadas. A fadiga pode ser definida como um decrécimo na produção de força muscular. O sinal EMG pode servir como um indicador do recrutamento das fibras musculares e também ta velocidade de condução dos potenciais de ação através da excitabilidade da membrana, proporcionando informações relacionadas ao processo de fadiga muscular. O sinal EMG processado no domínio da frequência proporciona variáveis como a frequência mediana (FM), e medidas de dispersão, incluindo variância e desvio padrão (DP), o slope ou a taxa de decrécimo da frequência mediana. Um decrécimo no sinal EMG observado a partir da FM geralmente caracteriza o início do processo de fadiga muscular. A análise do sinal EMG no domínio da frequência é usualmente realizado através da análise espectral do sinal muscular durante um exercício fatigante, através do uso de algoritimos matemáticos tais como a Tranformada Rápida de Fourier (FFT). Este método pode não ser o mais adequado para analisar o sinal EMG em exercícios dinâmicos, já que para o uso da FFT a recomendação é que o sinal seja estacionário. Dadas as limitações impostas pela FFT em exercício dinâmico, a Transformada de Wavelet (WT), em sua versão discreta ou contínua (DWT e CWT, respectivamente), têm sido sugeridas como alternativas para decompor o sinal EMG neste tipo de contração, por apresentar medidas mais acuradas e precisas. Esta técnica consiste em mapear o sinal na frequência e tempo em uma série de funções base que podem ser designadas dependendo da necessidade da análise e são construídas baseadas em uma wavelet ‘mãe’, formando um sinal base ortogonal. Podendo este ser um método adequado para a avaliação da fadiga muscular em exercícios dinâmicos. Desse modo, o propósito do estudo foi comparar as técnicas de análise STFT e CWT na avaliação da fadiga do músculo vasto lateral (VL) em exercício dinâmico máximo de carga constante. Procedimentos Experimentais Dezoito sujeitos saudáveis e não treinados (26,0 ± 3,3 anos; 80,1 ± 7,4 kg; 180,2 ± 5,1 cm) participaram deste estudo. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (parecer n○ 032/07; CAAE n○ 0034.0.268.000-07). Um teste dinâmico máximo de carga constante foi realizado em um cicloergômetro (Corival 400™, Quinton® Inc, USA) com uma carga correspondente a 100% da carga obtida em um teste incremental máximo para avaliar a potência máxima (WMAX). Para coleta dos sinais EMG adotou-se a padronização da Sociedade Internacional de Eletrofisiologia e Cinesiologia, utilizado-se eletrodos bipolares ativos (TSD 150™, Biopac System®, USA), os quais foram colocados no músculo vasto lateral (VL) de acordo com SENIAM. Para a análise espectral, os valores de FM foram obtidos aplicando as técnicas STFT e CWT (Daubechies: db4). A STFT foi obtida aplicando recursivamente (sobre 0,5s de tempo janelado do sinal) em 1024-pontos FFT (Transformada Rápida de Fourier) com o algoritmo de processamento retangular janelado, disponível em MatLab® v.7.7. Enquanto a CWT foi realizada aplicando o algoritmo de CWT (sobre o sinal EMG completo), disponível em Wavelet Toolbox™ of MatLab® v.7.7. Através destas técnicas os seguintes 2 parâmetros foram obtidos: FM, Variância ( σ mdf ) e Slope da FM (slopeFM) que foi determinado pela regressão linear entre a MDF e a duração do exercício. Os parâmetros foram analisados para cada período de 30s correspondendo a 0, 30, 60% da duração total do exercício e no momento da exaustão no teste dinâmico máximo de carga constante. A distribuição dos dados foi verificada pelo teste Shapiro-Wilk’s e após os dados se confirmarem normais, a comparação dos dados foram realizadas por meio do Teste t de Student para amostras independentes. A significância adotada foi de 5%. Resultados e Discussão A média dos valores de FM para os períodos correspondentes a 0, 30, 60% da duração total do exercício e momento da exaustão obtidos pela STFT e CWT para o músculo VL foram 69,68 ± 4,77 Hz vs 73,96 ± 5,0 Hz, respectivamente. A tabela 1 mostra os valores da Variância da FM do sinal EMG para os períodos correspondentes a 0, 30, 60% da duração total do exercício e momento da exaustão para o músculo VL, no teste dinâmico máximo de carga constante, obtido através da STFT e CWT. Embora os valores de Variância tenham sido menores na CWT do que na STFT nenhuma diferença significante foi encontrada. Tabela 1. Valores de Variância (Hz2) da FM do sinal EMG para o músculo VL durante exercício dinâmico máximo de carga constante. Parâmetro STFT CWT t de Student P VL 0% 197,73 ± 76,48 174,15 ± 68,83 0,945 0,352 30% 195,57 ± 103,02 173,33 ± 91,10 0,667 0,510 60% 197,13 ± 101,65 175,76 ± 75,94 0,694 0,493 Exaustão 168,01 ± 85,14 151,44 ± 74,42 0,604 0,550 Não houve diferenças estatisticamente significantes no slopeFM do músculo VL para os diferentes períodos, nem mesmo quando foi considerado o valor médio dos slopes obtidos durante o exercício em todos os períodos de tempo (Fig. 1) (P>0,05). Fig.1 Média e desvio padrão dos valores de slope da FM para os quatro períodos de tempo no músculo VL obtidos pela STFT e CWT. Diferentes estudos compararam as tranformadas de Fourier e Wavelet baseadas em diferentes protocolos experimentais. Isto mostra que ambas as técnicas proporcionam a mesma infromação com respeito a fadiga muscular, quando os índices de fadiga EMG são analisados em exercício controlando sistematicamente a velocidade do movimento, ângulo e força. Embora nosso protocolo envolveu uma atividade esportiva (ciclismo) sem o controle dessas variáveis, nossos resultados sugerem que ambos STFT e CWT podem ser usados para analisar a fadiga muscular unsando os índices de fadiga EMG em exercício dinâmico máximo e de carga constante. Esses achados corroboram com muitos estudos que mostram que ambas as técnicas proporcionam informações similares sobre a fadiga muscular, tanto em condições dinâmicas, quanto isométricas. Dessa forma, podemos assumir que a estacionariedade do sinal pode não ser o fator responsável por afetar as estimativas baseadas na transformada de Fourier. Conclusão Considerando que não foram encontradas diferenças nos parâmetros espectrais do sinal EMG calculados através STFT e CWT para avaliação da fadiga muscular, recomenda-se o uso de ambos os métodos quando o alvo é quantificar a fadiga muscular com os indicadores espectrais EMG em exercício dinâmico máximo de carga constante no cicloergômetro. Referências Abbiss, C.R. ; Laursen, P.B. Models to explain fatigue during prolonged endurance cycling. Sports Med. 2005, 35, 865. Allen, D.G.; Lamb, G.D.; Westerblad, H. Skeletal muscle fatigue: cellular mechanisms. Physiol Rev. 2008, 88, 287. De Luca, C.J. The use of surface electromyography in biomechanics. J Appl Biomech.1997, 13, 135. De Luca, C.J.; Adam, A.; Wotiz, R.; L. D. Gilmore, L.D.; Nawab, S.H. Decomposition of surface EMG signals. J Neurophysiol. 2006, 96, 1646. Gandevia, S.C. Spinal and supraspinal factors in human muscle fatigue. Physiol Rev. 2001, 81, 1725. Sparto, P.J. ; Parnianpour, M.; Barria, E.A. ; Jagadeesh, J.M. Wavelet analysis of electromyography for back muscle fatigue detection during isokinetic constant-torque exertions. Spine (Phila Pa 1976). 1999, 24, 1791.