LESÕES NO QUADRIL E COXA DOS ATLETAS Giancarlo Polesello Bruno Gonçalves Schröder e Souza Vanessa Resende O quadril e a coxa dos atletas foram bastante afetados pelo aumento generalizado da atividade física como competição. O quadril, sendo articulação profunda e cercada de grandes músculos, tecidos, nervos e vasos tem grande quantidade de estruturas expostas à lesão. A coxa, local de origem e inserção dos maiores músculos do corpo humano também. A maior parte das lesões nos atletas são extra-articulares e podem ocorrer de forma aguda, crônica ou ser provocada por afecções de outras localidades e que provocam sintomas no quadril e na coxa. Sendo assim, para fins didáticos, dividimos as lesões naquelas do quadril, que podem ser subdivididas em intra e extra-articulares e lesões da coxa, que podem ser subdivididas em lesões agudas e crônicas. Somente os pontos-chave para o conhecimento básico das principais afecções serão destacados. a) LESÕES NA COXA EM ATLETAS • Lesões da coxa em atletas são mais freqüentes que as lesões em torno do quadril. A mais comum é a contusão. • Subdividem-se em agudas ou crônicas. As agudas podem ser: lesões musculares, contusões, avulsões ósseas e lesões apofisárias ou fraturas. • As crônicas mais comuns são: herniações musculares, pubalgia, síndrome compartimental crônica e fratura por estresse. 1- Lesões agudas: 1.1- Lesões musculares • Mais freqüentes em músculos biarticulares durante sua contração excêntrica. • Acometem freqüentemente a junção mio-tendínea, mas podem ocorrer no ventre muscular. • Fortalecimento muscular, sempre considerando a relação apropriada agonistasantagonistas, alongamentos e aquecimento apropriado são importantes componentes da prevenção. Muitas dessas lesões ocorrem precocemente nas temporadas. • Podem ser graduadas em: o Grau I: Estiramento. Apresentam tensão na região posterior da coxa, capacidade para deambulação, entretanto com desconforto. Estiramento passivo do músculo não produzirá muita dor. o Grau II: Ruptura parcial. Episódios súbitos ocasionais de dor durante a atividade, edema visível e equimose, dor à palpação, dor ao estiramento contra resistência podendo limitar a amplitude de movimento das articulações adjacentes. o Grau III: Ruptura Total. Dificuldade para marcha, sendo necessário uso de muletas, dor importante principalmente durante a mobilização do joelho, edema visível importante e equimose, normalmente instantâneos. Presença de defeito palpável e deficiência de força muscular. • Os músculos mais freqüentemente acometidos são os adutores, reto femoral, iliopsoas e isquiotibiais. • Lesões dos isquiotibiais o Os músculos da região posterior da coxa são biarticulares. o Na corrida os isquiotibiais contraem-se rapidamente para desaceleração da tíbia na extensão do joelho (fase excêntrica) em seguida antes do contato com o solo inicia-se a contração concêntrica com alongamento máximo das fibras musculares (fase concêntrica). Nesse momento ocorre a maioria das lesões, principalmente do bíceps femoral. o O ventre muscular é a região mais acometida. Pode haver avulsão na tuberosidade isquiática. o Fatores de risco para essas lesões incluem: maior idade, lesão muscular prévia, radiculopatia L5-S1 (com fraqueza e encurtamento dos isquiotibiais) fadiga muscular e inaptidão física (levando a incoordenação das duas porções do bíceps que possuem inervação distinta). • Lesões do iliopsoas o Dor anterior no quadril. Podem ser acompanhadas de edema considerável. o Paralisia do nervo femoral pode ocorrer. o Comuns em jogadores de futebol quando o movimento do chute é bloqueado com o quadril ainda iniciando o movimento de flexão (flexão ativa contra resistência abrupta). Outro mecanismo de lesão é a hiper-extensão passiva do quadril (sobrecarga excêntrica). o Radiografias da bacia podem diagnosticar avulsão do trocânter menor. • Lesões do reto femoral o Freqüentemente dor localizada 8 a 10 cm. abaixo a espinha ilíaca ântero-superior. o Resulta de movimentos concêntricos em explosão na flexão do quadril, como na largada de uma corrida de curta distância ou na contração excêntrica com o quadril estendido, como em um chute em partida de futebol • Lesões dos adutores: o Frequentes em jogadores de futebol e hockey; o Dor e edema na face medial da coxa podem ser de intensidade variável; o Avaliação objetiva da perda de força pode não ser possível por causa da dor; o Radiografias da bacia são essenciais para descartar avulsões ósseas; o A ressonância magnética ajuda a classificar a lesão e avaliar o prognostico (pior em lesões com área maior que 50% do músculo, na presença de coleções líquidas e em lesões musculares profundas). • Tratamento clínico é o mais indicado. Inicialmente visa o controle da dor e do edema com analgésicos e relaxantes musculares, crioterapia, faixas compressivas e repouso. O uso de AINH deve ser racional. • A reabilitação deve ser precoce visando recuperar a amplitude de movimentos, fortalecimento muscular, reequilibrio muscular, pliometria, treinamento do gesto esportivo e propriocepção. • Retorno ao esporte só deve ser permitido na ausência de dor. Devemos lembrar que a recorrência da lesão pode ser mais grave com tempo de recuperação mais prolongado. • Tratamento cirúrgico pode ser indicado em lesões do grau III com grande separação entre as fibras musculares, em casos selecionados. 1.2 – Contusões • Ocorrem por trauma direto em esportes de contato ou após quedas. • Pode ocorrer hemorragia subcutânea, intra-muscular ou subperiosteal. • Geralmente tem rápida resolução, mas podem evoluir com complicações como limitação da mobilidade, miosite ossificante e síndrome compartimental. • O tratamento precoce visa abreviar o tempo de recuperação e prevenir as complicações. • Tratamento inicial deve incluir crioterapia, repouso, imobilização (em flexão do joelho em casos de contusão anterior na coxa), elevação do membro. • Carga parcial é mantida até o retorno do controle do quadríceps e movimento indolor até 90 graus de flexão do joelho. • Reabilitação funcional e retorno ao esporte é iniciado quando houver capacidade de fletir o joelho mais que 120 graus na ausência de hipotrofia muscular. • Retorno total ao esporte quando a houver força e a amplitude de movimento normais, geralmente após 3 semanas. • Esvaziamento do hematoma pode ser indicado em grandes coleções. 1.3 – Avulsões ósseas e lesões apofisárias: • Avulsões podem ocorrer na tuberosidade isquiática (“Hurdles`s fractures”), espinhas ilíacas anteriores, trocanter menor, trocanter maior e púbis (Cheerleader´s fracture). • São mais comuns em atletas com esqueletos imaturos, nos quais ocorre a avulsão da apófise. • Dor localizada e edema chamam a atenção para o diagnóstico. Mecanismo de trauma geralmente é compatível e o paciente mantém posição antálgica de relaxamento do músculo envolvido. • Ocorrem por contração muscular vigorosa, normalmente excêntrica. • Radiografias são diagnosticas e alto índice de suspeição é necessário em pacientes com fises abertas. A comparação com o lado contra-lateral pode ser útil. • Em pacientes jovens o periósteo espesso geralmente limita graves desvios. • Fragmentos grandes, desviados mais que 2 centímetros são passiveis de tratamento cirúrgico com osteosíntese. • Todos os demais casos devem ser tratados conservadoramente. Posicionamento confortável para controle da dor e uso de muletas são indicados inicialmente. Alongamentos suaves e carga parcial são permitidos quando cessa a dor. Após ganho da mobilidade completa e indolor são iniciados exercícios de fortalecimento. 1.4 – Fraturas: • Podem ocorrer por traumas diretos em esportes de contato, por traumas torsionais em todos os esportes ou por traumas de alta energia no ciclismo, alpinismo, esqui, motociclismo e automobilismo, entre outros. • Devem ser avaliadas por especialista (Ortopedista) que indicará o tratamento adequado. • De maneira geral fraturas articulares, desviadas ou instáveis, demandam tratamento cirúrgico. • O tempo de reabilitação pode variar de 2 a 6 meses em média. 2- Lesões crônicas: 2.1- Hérnias musculares • Mais freqüentes na perna que na coxa. • Podem ocorrer na região de vasos perfurantes ou após trauma com ruptura da fáscia lata. • Quadro clínico de dor e abaulamento localizados. Hérnias maiores podem ser palpáveis. A dor geralmente é pior aos o treinamento pelo edema muscular. • Comum em pacientes que apresentam grande hipertrofia muscular • Medidas para controle do edema devem ser instituídas. • Em casos de dor não localizada deve-se descartar a possibilidade de síndrome compartimental crônica. • Casos com dor bem localizada, herniação evidenciavel por exames de imagem e resistentes ao tratamento conservador, respondem bem ao tratamento cirúrgico com fasciotomia (aberta ou endoscópica). • Não se deve tentar reparar a fáscia, pois o índice de recidiva é alto. 2.2- Síndrome compartimental crônica • Aumento da pressão em um compartimento osteofascial não pouco complacente, levando a comprometimento da circulação microvascular. • É uma entidade distinta da síndrome compartimental aguda, que é geralmente secundária a trauma constituindo emergência médica por ser progressiva e evoluir com necrose tecidual, contraturas, deformidade e risco de amputação do membro. • Ocorre devido ao edema muscular após a atividade física e podem ocorrer aumentos de volume de até 20% (na coxa). • Acomete ambos os sexos e é bilateral em 80 a 95% dos casos. São mais comuns em esportes que exigem resistência muscular. • Pode ocorrer nos três compartimentos da coxa • Dor sobre o compartimento, sintomas neurológicos correspondentes ao nervo que atravessa o compartimento, aumento de volume, câibras e queimação, fraqueza muscular e parestesias são sintomas relatados e geralmente ocorrem após atividade física intensa que melhoram com repouso. • Exame clínico do paciente em repouso pode ser normal. Por isso deve ser repetido após inicio dos sintomas com os exercícios. • Medidas da pressão intracompartimental (Método de Whitesides, Wick Cateter e outros métodos) pré e pós-exercício podem confirmar o diagnóstico. Pressões iniciais maiores que 15mmHg ou diferenças maiores que 30 mmHg após 1 minuto da atividade ou 20 mmHg após 5 minutos confirmam o diagnóstico. • Outros exames complementares são importantes para afastar diagnósticos diferenciais (fraturas por estresse, alterações vasculares, radiculopatia e doenças osteometabólicas). • Tratamento conservador geralmente só é bem sucedido em atletas que modificam suas atividades • Na falha de tratamento conservador está indicada a fasciotomia (aberta ou endoscópica) e em casos de recidiva poderá sem realizada a fasciectomia parcial. 2.3 - Fratura por estresse: • São causadas por carga repetitiva (como em corredores de longa distância e triatletas) • Acomete o sexo feminino com maior freqüência. • Pacientes com a tríade da mulher atleta (amenorréia, desordens alimentares e osteoporose) são mais suscetíveis. • As fraturas por estresse ocorrem no quadril entre 1,25 a 18% dos casos • Geralmente decorrem de treinamento inadequado • O quadro de dor insidiosa em ortostatismo ou durante atividades de salto pode evoluir para dor intensa com incapacidade de treinamento. • Radiografias simples podem não evidenciar a fratura no primeiro momento. • Cintilografia óssea pode localizar a lesão e a tomografia computadorizada ajuda a definir o traço da fratura e os bordos escleróticos da lesão. • Fraturas por estresse da diáfise femoral são raras. • Fratura por estressse do colo femoral podem ser por tensão (face superior) ou compressão (face superior). Fraturas por tensão são instáveis e tendem a evoluir com desvio. • O tratamento de fraturas desviadas ou instáveis é cirúrgico com fixação interna. • Fraturas por compressão podem ser manejadas clinicamente com repouso e retirada da carga até melhora da dor e consolidação radiográfica. Casos que não consolidam devem ser operados. 2.4- Pubalgia • Dor na região púbica com freqüência acomete jogadores de futebol, nadadores e jogadores de hockey. • Suspeita-se que a tensão da musculatura adutora e do reto abdominal esteja implicada. • Diagnóstico diferencial inclui hérnias inguinais, infecção e lesão dos músculos adutores. • Radiografias podem evidenciar reabsorção óssea ou esclerose na sínfise. Cintilografia pode localizar a origem da dor. • Tratamento clínico com AINH, calor úmido e alongamentos está indicado. O tratamento pode durar até 3 meses e recorrência é ocasional. • Alguns casos de difícil resolução podem responder ao tratamento cirúrgico (tenotomia dos adutores, desbridamento, entre outros). b) LESÕES NO QUADRIL EM ATLETAS • Anatomia complexa do quadril pode tornar a o diagnóstico difícil ou confuso • Lesões no quadril são menos freqüentes que em outros segmentos dos membros inferiores; • No entanto, geralmente implicam em longos períodos afastados dos treinos, pois necessitam reabilitação intensiva antes do retorno ao esporte; • História clínica e esportiva bem colhidas e exame clínico direcionado podem levar ao diagnóstico na maioria dos casos; • Exames complementares geralmente são capazes de confirmar ou afastar as hipóteses diagnósticas e definem a extensão e o tipo das lesões; • Devem ser diferenciadas lesões ósseas de lesões em partes moles intraarticulares; • Além disso, podem ser divididas em lesões intra-articulares e peri-articulares. • As lesões intra-articulares mais comuns são a síndrome do impacto femoroacetabular, a lesão do lábio acetabular, a lesão do ligamento redondo e lesões condrais. • As lesões peri-articulares mais comuns são a síndrome do piriforme, a síndrome dolorosa trocantérica, a síndrome do ressalto (Snapping Hip), a síndrome do glúteo médio e o “Hip Pointer”. 1- Lesões intra-articulares: 1.1- Síndrome do impacto fêmoro-acetabular. • Etiologia desconhecida • Responsável pela maioria dos casos de artrose anteriormente classificados como idiopáticos • Predispõe a lesão labial, condral e subseqüente degeneração articular • Deformidades tipo came (no fêmur), pincer (no acetábulo) ou misto. • Dor articular, limitação da flexão, adução e rotação interna, sinal do C, sintomas conforme lesões associadas. • Radiografias são diagnósticas (Sinal do cruzamento, deformidade da cabeça e colo na incidência em perfil de Ducroquet, herniation pit, os acetabulum, sinal da espinha isquiática,...) • Tomografia computadorizada permite avaliar a versão do acetábulo e deformidades ósseas. Reconstrução tridimensional pode auxiliar no planejamento cirúrgico. • Ressonância magnética: identifica lesões associadas. • Artro-ressonância: evidencia melhor as estruturas intra-articulares e permite teste diagnóstico com anestésico. • Tratamento: o Controverso na ausência de sintomas; o Cirúrgico nos pacientes sintomáticos; o Pode ser realizado por via aberta ou artroscópica o Em atletas artroscopia é a técnica de escolha (via aberta implica em via de acesso extensa, osteotomia do trocanter maior, osteosíntese, luxação da cabeça femoral, e recuperação mais prolongada. 1.2- Lesão do lábio acetabular • Indicação mais comum para artroscopia do quadril. • Cinco causas foram implicadas na gênese dessas lesões: trauma, síndrome do impacto femoro-acetabular, frouxidão ligamentar, displasia e degeneração. • Forças axiais e torcionais na prática esportiva podem levar a essas lesões (hockey, futebol, golfe, baseball, tênis, entre outros) • Fraqueza da musculatura adutora do quadril foi observada em atletas com lesão labial • Em uma série de casos de atletas de elite operados artroscopicamente a lesão da região anterior do lábio foi o diagnóstico mais comum (12/14 casos) • Diagnóstico: dor inguinal, sinal do C, teste da flexão adução, dor a flexão ativa resistida, intolerância à posição assentada. • Confirmação diagnóstica: • Artro-ressonância magnética do quadril localiza a lesão (há casos de falsonegativo!) • Teste da Marcaína positivo indica afecção intra-articular. • Tratamento: o Cirúrgico (a lesão é precursora de degeneração articular) o Via artroscópica exibe vantagens quanto à menor morbidade e menor tempo para recuperação o Controvérsia: reparação ou desbridamento. 1.3- Lesão do ligamento redondo • Terceira indicação mais comum para artroscopia em atletas • Causas traumáticas são as mais comuns. • Podem também ocorrer em ligamentos hipertróficos ou com alterações degenerativas • Geralmente estão associadas a trauma de alta energia (luxações do quadril) e foram relatadas em jogadores de hóquei no gelo, futebol americano e praticantes de esqui. • Podem ocorrer após entorses menos graves. • Nenhum tipo específico de mecanismo de trauma foi implicado na gênese da lesão (relatado ruptura após hiperabdução, bem como após flexão + adução + rotação externa, entre outros) • Na maioria dos casos coexiste com outras lesões intra-articulares e são acompanhados de sintomas mecânicos e dor intensa. • Alguns pacientes podem queixar-se apenas de dor inguinal. • Sinais clínicos de acometimento articular estão presentes, mas não há testes específicos • O diagnóstico é difícil e mesmo com auxilio da RNM a lesão muitas vezes só é identificada na cirurgia. • O tratamento cirúrgico artroscópico está relacionado com ótimos resultados e consiste no desbridamento das fibras lesadas. • Retorno as atividades esportivas ocorre após 1 a 3 meses na maioria dos casos 1.4- Lesões condrais • Na maioria dos casos estão associadas a deformidades pré-existentes (impactofemoro acetabular, especialmente a deformidade tipo came da cabeça femoral) • Associadas a lesão do lábio são conhecidas como “watershed lesion” (lesão do divisor-de-águas ou seja, da junção condro-labial do acetábulo) • Em algumas atletas do sexo feminino observamos lesões tipo “watershed” na ausência de deformidades ósseas identificáveis, trauma ou outras causas conhecidas de lesão labial ou condral. • Suspeitamos que essas lesões na região anterior do acetábulo podem ser atribuídas ao impacto do tendão do iliopsoas. • Sintomatologia pode variar conforme a localização da lesão e a formação de corpos livres intra-articulares. • Dor, bloqueio, falseio e ressaltos podem ser relatados • Ressonâncias magnéticas podem não evidenciar a lesão em até 40% dos casos. • O prognóstico depende do tipo da lesão (classificação de Outerbridge), localização (pior na zona de carga do acetábulo e da cabeça femoral) e presença de lesões associadas (corpos livres, lesão de lábio, alterações degenerativas) • A artroscopia consiste na melhor opção pois: o Permite o diagnóstico em casos duvidosos; o Permite a retirada de corpos livres de forma minimamente invasiva; o Permite o desbridamento das lesões e microfraturas,tratamento das causas subjacentes e das lesões associadas. • Terapias de reparação da cartilagem estão em investigação (PRP, etc.) 2- Lesões peri-articulares: 2.1- Síndrome do piriforme • Tríade sintomática: dor na incisura isquiática, sinal de Laségue positivo e melhora com tratamento conservador • Exame físico: Sinal de Freiberg: dor à rotação interna forçada com o quadril em extensão; sinal de Pace: dor e fraqueza na rotação externa resistida com abdução do quadril • Pacientes com neuroma de Morton podem desenvolver a síndrome por alteração na marcha, causando pronação do pé e rotação interna do quadril e do joelho • Causada pela compressão do nervo ciático pelo músculo piriforme na incisura isquiática, pela irritação crônica do músculo ou por alterações anatômicas • Variação anatômica mais comum: a divisão fibular do nervo ciático atravessa o músculo piriforme • O diagnóstico é eminentemente clínico. A ENMG mostrando período de latência longo e ondas F atrasadas, com padrão neuro ou miopático, assim como reflexo H presente na posição em FAIR: flexão, adução e rotação interna.Vale ressaltar que a ENMG deve ser dinâmica, onde o paciente deve provocar a dor. A posição mais freqüente para isso é em FAIR • Atletas podem apresentar com cãibras na nádega com ou sem irradiação • Tratamento: correção de alterações biomecânicas (discrepâncias, obliqüidade pélvica e alterações do pé e tornozelo e/ou postura) 2.2) Síndrome dolorosa trocantérica • Habitualmente atribuída a inflação da bursa trocantérica • Estudos recentes refutam a causa inflamatória e implicam alterações degenerativas do “manguito rotador do quadril” na gênese dessa síndrome. • Mulheres com trocanter proeminente ou pelve larga estão mais suscetíveis a essa síndrome. • Treinamento inadequado pode desencadear a síndrome. • Corridas em planos lateralmente inclinados (como estradas), se realizada sempre no mesmo sentido (por exemplo contra o fluxo de veículos) implica em tensão aumentada na banda iliotibial do membro do lado baixo da via (no exemplo dado sempre o lado esquerdo) provocando o impacto contra os tendões abdutores. • Quadro doloroso localizado sobre o trocanter maior e na inserção do tendão conjunto dos glúteos médio e mínimo. Pode haver irradiação para a face lateral da coxa. • Sinal de Trendelenburg pode estar presentes em casos de tendinose ou ruptura dos abdutores do quadril • Pode haver ressalto externo do quadril associado ao quadro doloroso. • Dor a adução passiva com rotação interna do quadril e à abdução ativa, na ausência de ressalto, confirmam o diagnóstico. • Radiografias podem evidenciar calcificações, mas são mais úteis na exclusão de outros diagnósticos. • Ultra-sonografia pode evidenciar acúmulo de líquido na bursa trocantérica e o resvalo do trato iliotibial • Casos refratários a tratamento clínico devem ser submetidos à RNM para investigação de lesões tendinosas no manguito rotador • Tratamento: o Conservador na maioria dos casos com AINH, gelo local, repouso, ultrassom,, alongamento do trato iliotibial e fortalecimento muscular. o Retorno ao esporte ocorre em 6 a 8 semanas devendo adequar o treinamento o Casos recalcitrantes e resistentes ao tratamento conservador podem melhorar após injeção de corticosteróides locais. o Várias técnicas cirúrgicas (abertas e artroscópicas) estão disponíveis para casos não responsivos, com resultados variáveis: bursectomia, alongamentos e excisão parcial do trato iliotibial, desbridamento ou reparo de lesões tendinosas. 2.3) Síndrome do ressalto (Snapping Hip) • Também conhecido com o coxa saltans, é um sintoma complexo que pode ser audível ou palpável sobre o trocanter maior mas não necessariamente é associado à dor. • Pode ser medial, causado pelo contato do tendão do músculo ílio-psoas na eminência ílio-pectínea ou pelo contato desse tendão contra a cabeça femoral com alteração do tipo “cam” de impacto fêmoro-acetabular. Atletas mais susceptíveis são os atletas que praticam corridas de longa distância, tênis, natação e futebol. No exame físico, o teste de Thomas pode ser positivo e a manobra para identificar o ressalto é o teste da extensão: o quadril é trazido de uma posição de flexãoabdução e rotação externa para extensão. O ressalto pode ser palpável ou audível na região inguinal. • Pode ser lateral, causado pelo atrito da banda ílio-tibial contra o trocânter maior. • Pode ser posterior, com ressalto da cabeça longa do bíceps crural sobre a tuberosidade isquiática • Pode ser intra-articular, causado por corpos livres ou qualquer causa intraarticular. • O mais comum é lateral. O estalo pode ser indolor, mais na maioria das vezes é acompanhada por um ponto doloroso acima do grande trocânter, quando o quadril vem da posição de extensão para flexão em pacientes com bursite causada pelo atrito. • Atletas submetidos à flexão repetitiva do quadril e do joelho estão mais susceptíveis: dançarinos, ciclistas, corredores e surfistas. • Repouso, alongamento da banda iliotibial e medicações antiinflamatórias nãoesteroidais associado a modificações das atividades. Ocasionalmente infiltrações com corticoesteróides na bursa do grande trocanter podem ser utilizadas • Procedimentos cirúrgicos como a excisão de toda ou parte da banda iliotibial, zetaplastia ou fixação da banda iliotibial para o grande trocanter são decritos com sucesso, porém é importante notar, entretanto, que a cirurgia não substitui a fisioterapia motora e que o alongamento pós operatório da banda IT, deve ser agressivo e consistente. • No ressalto medial, alongamento do tendão do ílio-psoas ou mesmo a sua tenotomia, que pode ser por via aberta ou artroscópica 2.4) Síndrome do glúteo médio • Quadro clínico sobreposto ao da síndrome dolorosa trocantérica • Esportes que demandam uso excessivo do mecanismo abdutor podem estar relacionados: artes marciais, ciclismo, aeróbica e dança. • Trauma direto pode desencadear a síndrome. • Quadro doloroso desencadeado pela atividade esportiva, pode ocorrer nas atividades diárias nas fases mais avançadas. • Ressonância magnética pode confirmar o diagnóstico (até 14 de lesõrs tendinosas em pacientes com dor lateral na coxa) • Tratamento essencialmente conservador, semelhante ao da síndrome dolorosa trocantérica. 2.5) “Hip Pointer” • Consiste na contusão da crista ilíaca ou do trocanter maior. • Sintomas variam de moderados a graves • Ocorre com relativa freqüência no futebol, hokey no gelo, baseball ou qualquer esporte que envolva quedas sobre uma superfície dura. • Quadro de dor e equimose (hemorragia subcutânea, subperióstea ou intramuscular) • Hematomas que não regridem devem ser drenados • Dor e inchaço progressivos devem alertar para possível lesão arterial ou síndrome compartimental. • Tratamento inicial: gelo repouso, elevação do membro e compressão. Muletas para alivio da dor. Repouso em posição confortável. • Início gradual de exercícios para ganho de mobilidade e posteriomente ganho de força. • Retorno ao esporte após 2 a 8 semanas, dependendo da gravidade. • Esporte de risco considerar acolchoamento dos uniformes • Possíveis complicações envolvem: paralisia do nervo cutâneo lateral da coxa, fibrose e encurtamento muscular, bursite crônica, miosite ossificante póstraumática. • Tratamento agressivo visa prevenir essas complicações e permitir o retorno precoce ao esporte. Referências Bibliográficas: M.J. Philippon and M.L. Schenker, Arthroscopy for the treatment of femoroacetabular impingement in the athlete. Clin Sports Med 25 (2006), pp. 299– 308. M. Philippon, M. Schenker, K. Briggs and D. Kuppersmith, Femoroacetabular impingement in 45 professional athletes: Associated pathologies and return to sport following arthroscopic decompression. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 15 (2007), pp. 908–914. Joseph C. 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