Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página I Orientação para o Professor – História – 9.o Ano do Ensino Fundamental – 3.o Bimestre ORIENTANDO O TRABALHO EM CLASSE EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES Nesse bimestre nos concentraremos no estudo das relações políticas internacionais e da política brasileira após 1930. Quanto à política internacional, enfocaremos a construção da hegemonia americana na Europa, América, Ásia e África; a experiência socialista chinesa; a Guerra Fria e suas repercussões junto aos movimentos de emancipação na Ásia e na África. Quanto à política brasileira, nos concentraremos tanto no jogo político presente na sucessão de governos quanto nos projetos econômicos e sociais de cada um dos governos. O pano de fundo do cenário político apresentado é a indústria cultural e o desenvolvimento das possibilidades de comunicação anteriormente inexistente, como o rádio, por exemplo, que transformaram o cotidiano de populações e, também, as possibilidades de propaganda política. – A discussão realizada em classe sobre os diferentes aspectos da cultura de massa é o subsídio para o aluno elaborar uma redação. – O aluno deverá realizar minipesquisas sobre as tentativas de integração político-econômica na América Latina. A classe deverá ser incentivada a consultar o professor de Geografia. – Trabalho de análise e interpretação de texto, a partir de uma matéria jornalística acerca da atual situação da população cubana. CAPÍTULO 12 – Nesse capítulo, salientaremos: • O retorno de Getúlio Vargas à presidência. • O modelo desenvolvimentista do governo JK. • O breve governo de Jânio Quadros. • A renúncia e a instalação de uma grave crise política. • João Goulart e as Reformas de Base. • O fortalecimento das oposições e o caminho ao golpe Militar. – A partir de uma discussão sobre a importância do rádio como veículo de comunicação, desde a década de 1930, e sob a orientação do professor, a classe deverá recriar um programa de rádio. CAPÍTULO 10 – As relações políticas internacionais, após a Segunda Guerra Mundial, são temas em destaque neste capítulo. As Guerras da Coreia e do Vietnã e as tensões decorrentes da Guerra Fria colocam-se como grandes desdobramentos desse período histórico. – Nesse capítulo, salientaremos: • A implantação da via socialista chinesa e os desdobramentos da política maoísta. • A discussão do conceito de descolonização. • os movimentos de libertação nacional. • A presença dos Estados Unidos e da União Soviética nas lutas de independência. • A atual situação das antigas colônias. • O projeto político de Gandhi para a emancipação da Índia. • A descolonização da África e a fragmentação do Império Português. • O poderio norte-americano no pós-guerra e suas relações hegemônicas com a América Latina. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES – O aluno deverá realizar uma minipesquisa sobre a Bossa Nova e analisar a música “Presidente Bossa Nova” de autoria de Juca Chaves, respondendo as questões propostas. – Atividade em que o aluno irá fixar os principais conceitos trabalhados nesse capítulo. GABARITO EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES CAPÍTULO 10 – O MUNDO NO PÓS-GUERRA – Atividade em que o aluno irá trabalhar o desenvolvimento dos processos revolucionários da Coreia e do Vietnã, a partir dos conceitos desenvolvidos em aula. – Trabalho de análise e interpretação de texto cujo pano de fundo é a Revolução Chinesa. – Ao escrever frases com sentido histórico, a partir de expressões propostas no exercício, o aluno estará fixando conceitos trabalhados em aula. – O aluno deverá realizar uma pequena pesquisa sobre a Revolução Portuguesa de 1974 e, em seguida, interpretar um texto jornalístico. – O aluno irá trabalhar com um texto jornalístico, sobre o sequestro de crianças em Angola, pela Unita, em 2001. 1. O antagonismo entre as potências Você é o historiador 1. Qual o regime político defendido pelo presidente dos Estados Unidos no documento? Democracia, regime político fundamentado na soberania popular, na liberdade eleitoral, na divisão de poderes e no controle da autoridade. 2. De que forma o presidente americano em seu discurso justifica a intervenção de seu país na política de outras nações? CAPÍTULO 11 – Sob a mediação do professor, a classe deverá discutir a indústria cultural e seus desdobramentos na sociedade brasileira. – A presença norte-americana na América Latina e o surgimento de regimes populistas a partir da década de 1930 poderão ser contextualizados pelo professor. – A análise de processos revolucionários e as revoluções em Cuba e na Nicarágua serão discutidos em classe sob a mediação do professor. Como forma de garantir a liberdade e a soberania das nações ante as pressões do bloco socialista. 3. Como o líder soviético Stálin caracteriza no documento 2 a política norte-americana? Uma política direcionada ao fortalecimento do imperialismo e a anulação da democracia. I Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página II Verificando se você aprendeu 4. Discuta o uso do conceito de democracia pelos líderes dos dois países nos documentos mencionados, enfocando: a) o significado apresentado para o conceito por cada um deles. 1. Grife nos dois documentos contidos neste item frases que representem a argumentação usada pela ONU e pelos países participantes de Bandung para defender a descolonização. O líder norte-americano defende a democracia como vontade da maioria de seu povo e o líder soviético se diz defensor da democracia por combater o imperialismo, embora o stalinismo fosse um governo autoritário. Resposta pessoal. 2. Houve diferenças no processo de independência das nações colonizadas. Sobre isso, responda: a) Por que os países colonizadores buscavam a “via pacífica” para a libertação de suas colônias? b) o objetivo político de cada um ao usar esse conceito. Os dois líderes se apropriam do conceito de democracia como forma de combater seu opositor, embora isso não correspondesse à realidade da URSS. Grande parte dos países colonizadores, no quadro do pósguerra, preferiu conceder a indepedência formal e conservar o controle de setores importantes da economia de suas antigas colônias. 2. A Revolução Chinesa Verificando se você aprendeu b) Em que contexto surgiram as lutas de libertação colonial? 1. Mao Tsé-Tung, no ano de 1966, estabeleceu as bases da Revolução Cultural na China. Caracterize-a. Nas décadas de 1950 e 1960, no quadro da tese de autodeterminação dos povos, defendida pelo bloco socialista, das tensões da Guerra Fria e do surgimento de movimentos de libertação nacional nas áreas colonizadas. A Revolução Cultural, iniciada por Mao Tsé-Tung, objetivava retirar dos cargos políticos todos aqueles que se opunham a ele. Para isso foi criada a Guarda Vermelha, constituída de jovens que obedeciam rigorosamente aos preceitos maoístas. 3. Discuta os efeitos da descolonização para os países então libertados e escreva sua conclusão. 2. Como pode ser caracterizada a Longa Marcha empreendida por Mao Tsé-Tung? O aluno poderá considerar em sua discussão que, apesar da liberdade conquistada, as décadas de dominação e espoliação deixaram profundas marcas nesses países. A miséria e conflitos étnicos perduram até hoje, em muitas regiões. O líder nacionalista chinês, Chiang Kai-Shek, com o apoio político de ingleses e norte-americanos, passou a atacar violentamente os membros do Partido Comunista. Mao e seus seguidores decidem deixar o sul do país e percorrem 9600 km em direção às províncias do norte. Durante a Marcha o grupo foi organizando os camponeses, preparando-os para a Revolução Socialista. 4. Em busca da autodeterminação Verificando se você aprendeu 1. Como pode ser caracterizado o princípio da desobediência civil proposto por Gandhi? 3. A via socialista chinesa, de inspiração maoísta, realizou importantes reformas nas áreas da educação e dos direitos da mulher. Justifique a afirmação, exemplificando-a. Gandhi convenceu o povo indiano a pôr em prática a tática da não cooperação, isto é, boicotar escolas, roupas e tribunais ingleses. A desobediência civil aliada à não violência acabaram por colocar o Império Britânico em situação de impasse no território indiano. Ao assumir o poder, Mao Tsé-Tung iniciou um movimento da educação popular, alfabetizando inclusive os adultos chineses. A poligamia e os casamentos forçados pelos pais foram proibidos. As mulheres foram incorporadas ao mundo do trabalho. 2. Escreva sobre a questão religiosa que se instaurou na Índia após o processo de independência. O temor de uma guerra civil envolvendo grupos religiosos hindu e muçulmanos levou à divisão da Índia em dois países. O Paquistão, com Estado muçulmano, e a União Indiana, que, inicialmente sob a influência de Gandhi, propunha a convivência pacífica com os muçulmanos. 3. A descolonização da Ásia e da África Texto Complementar A ideia de “descolonizar” as regiões que estiveram sob o domínio dos países colonialistas europeus no século XIX é produto de uma visão eurocêntrica da História. Discuta o conceito de “descolonização”, tomando como referência o texto complementar da página. 3. Em que medida a Revolução dos Cravos se relaciona com o processo de descolonização da África? A classe deverá discutir o conceito de “descolonização” sob a perspectiva do texto complementar, do qual se depreende que os movimentos de libertação nacional sobre os colonialistas forçaram o processo das independências, que resultaram das pressões dos povos oprimidos. A Revolução Portuguesa de 1974 colocou fim aos últimos traços do salazarismo no país, reconhecendo a independência das colônias africanas o que, por conseguinte, acarretou o término do Império Colonial Português. II Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página III 5. Os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial Vamos diferenciar os conceitos? vietnamitas no combate à guerrilha comunista. Os Estados Unidos foram derrotados e deixaram o país, que, em 1976, foi reunificado sob o regime socialista. Preconceito racial: ideia pré-concebida sobre uma deter- C. Como pode ser entendida a participação dos Estados Unidos nesse conflito? minada raça. Opinião adotada sem exame, somente imposta pelo meio, pela educação, ou formada a partir da aparência. Resposta Pessoal do Aluno. 2. Trabalhando com texto Discriminação racial: tratamento diferenciado, para pior, dado a pessoas de outra raça. A. Sublinhe as palavras desconhecidas e registre o seu significado. Segregação racial: discriminação racial acompanhada de separação espacial. B. Qual foi o significado histórico do “Grande Salto para a Frente”? Trabalhando com texto Projeto idealizado por Mao Tsé-Tung para acelerar o desenvolvimento da China, através da industrialização e da implementação tecnológica, não atingiu, entretanto, os resultados previstos, especialmente após o rompimento da China com a União Soviética. 1. Você estudou anteriormente a Doutrina Monroe. Explique o momento histórico de sua criação. Criada em 1823 pelo presidente norte-americano James Monroe, proibia os países europeus de estabelecerem novas colônias na América e de intervirem diretamente nos assuntos internos do continente americano. A Doutrina Monroe foi sintetizada no slogan: “A América para os Americanos”. C. Discuta a frase que dá título ao texto: “A mulher capaz pode preparar uma refeição sem alimentos”. O aluno poderá considerar em sua discussão aspectos ideológicos do Grande Salto para a Frente e do malogrado projeto maoísta de desenvolver a China no espaço de uma década. 2. Que relação histórica pode ser estabelecida entre a Doutrina Monroe, a “big stick policy” e a “good neighbour policy”? A Doutrina Monroe também estabeleceu as bases para a posterior dominação dos Estados Unidos em áreas latinoamericanas, principalmente no México e países centroamericanos. Em 1904, o presidente Roosevelt ampliou essa ideia com a criação do “big stick”, política que justificava a intervenção armada dos Estados Unidos em alguns países da América, em nome da manutenção da ordem democrática e do estabelecimento de uma política de “boa vizinhança”. 3. Verificando se você aprendeu Forme frases, com sentido histórico, utilizando as seguintes palavras ou expressões. Conferência de Bandung: Realizada em 1955 na Indonésia, estabeleceu o princípio da autodeterminação, que consiste no direito dos povos e das nações de disporem de si próprios. Também definiu o princípio da igualdade entre os seres humanos, no direito de se verem livres da segregação e discriminação racial. 3. Qual a base ideológica que definiu a criação da Aliança para o Progresso, em 1961? A política externa do presidente John F. Kennedy, denominada Nova Fronteira, orientada no sentido de conter a União Soviética através do aumento do potencial militar norteamericano e da ajuda técnica econômica aos países aliados. Essa Aliança estabeleceu uma cota de ajuda de dois bilhões de dólares anuais por um período de dez anos. Império Colonial Português: Formado a partir do expansionismo marítimo português nos séculos XV e XVI, refere-se, na primeira metade do século XX, às colônias portuguesas na África. Terceiro Mundo: Bloco de países que, originariamente, não estariam alinhados à ideologia capitalista ou socialista. O conceito ampliou-se ao longo do tempo, passando a designar países pobres do mundo. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES AMPLIANDO A DISCUSSÃO Lutas de Libertação Nacional: Movimentos nacionalistas, muitas vezes apoiados pela União Soviética, que lutaram pela emancipação dos territórios controlados pelas potências europeias. A. Faça um levantamento das palavras desconhecidas e registre seu significado. Resposta Pessoal do Aluno. 4. Desafio Histórico – Minipesquisa. B. Relacione a Guerra do Vietnna ao contexto da Guerra Fria. 1. Por que razão o movimento revolucionário de 25 de abril de 1974, em Portugal, recebeu o nome de Revolução dos Cravos? Conflito travado entre 1961 e 1975, no contexto da Guerra Fria. No Vietnã do Sul, surgiu a Frente de Libertação Nacional, de tendência comunista, cujo braço armado, o exército vietcongue, pretendia reunificar o país. O exército dos Estados Unidos apoiou as tropas sul- Abril é o mês dos cravos em Portugal. Quando a rádio de Lisboa tocou a música “Grandola, terra morena”, senha para III Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página IV Considere em sua discussão: a) Influência estrangeira. b) Os papel dos meios de comunicação (rádio, TV, cinema) c) O caráter de “crítica” ou “alienação” dos produtos culturais. d) A adequação social das mensagens veiculadas (erotização, incentivo ao consumo, valores etc). o início da Revolução, as floristas lisboetas, em um gesto de solidariedade, distribuíram cravos aos revolucionários. Os homens usavam-no na lapela do paletó e as mulheres atiravam cravos nas armas dos soldados do ditador Marcelo Caetano. 5. Ampliando a Discussão Trabalho de pesquisa feito pelo aluno. Resposta pessoal. CAPÍTULO 11 – BUSCANDO NOVAS ALTERNATIVAS AMPLIANDO A DISCUSSÃO 1. Discutindo a História: A indústria cultural Vamos discutir esse assunto? 1. De acordo com o texto a mundialização do capital produziu efeitos na indústria cultural tradicional. Que exemplos ele aponta? Indústria cultural: representada pelos meios de comuni- O autor exemplifica com o processo de fusão dos estúdios tradicionais de cinema de Hollywood que foram comprados por grupos predominantemente japoneses e com relação ao cinema e a TV a cabo. cação de massa – rádio, cinema e televisão –, que servem de suporte à crescente industrialização e à absorção de seus produtos, cuja característica principal é a tecnologia. Sociedade de consumo: é o efeito resultante do novo padrão de vida imposto pela industrialização, através da indústria cultural. É a mudança de hábitos sociais refletidos na necessidade de adquirir bens que traduzam esses novos valores. 2. Lê-se no texto: “a consolidação dos Estados Unidos como o grande produtor mundial e todos os outros países majoritamente como meros consumidores dessa produção”. Você concorda com a frase? Cite exemplos para justificar sua opinião. Cultura de massa: é a expansão do fenômeno da comunicação dentro da sociedade. Os novos meios propagam uma padronização de hábitos, que acaba por neutralizar as manifestações culturais espontâneas. Reificação: é a redução à qualidade de coisa, que no homem leva à mecanização do cotidiano e sua identificação crescente com os produtos da indústria cultural. O aluno pode citar os filmes e séries norte-americanos de grande penetração no Brasil seja pelo cinema ou pela TV. Pode também ressaltar algum exemplo de produção local reutilizando a afirmação. 3. Vivemos atualmente a convivência de vários mídias: TV, Internet, cinema, rádio, jornais e revistas. Do seu ponto de vista, qual o papel desses meios de comunicação na produção e difusão de produtos culturais? Alienação: é a perda de senso crítico frente aos apelos da comunicação de massa. 2. De acordo com o texto: a) A industrialização teria trazido a reificação do homem e sua alienação. Discuta essa ideia e escreva sua conclusão. Resposta pessoal do aluno. 2. Os caminhos políticos da América Latina Verificando se você aprendeu Seria como que a perda da identidade cultural, formada no próprio interior da sociedade. 1. Relacione o crescimento das cidades com o surgimento do populismo na América Latina. b) Que características são assumidas pela cultura na sociedade industrial? A partir de 1930 surgiram, na América Latina, regimes populistas com líderes carismáticos, autoritários e com grande apoio popular. Essa nova força política apresentou-se como alternativa para o controle das massas urbanas que se fortaleceram a partir do desenvolvimento industrial e urbano. Estar vinculada à propaganda, que representa a grande estratégia da indústria para escoar sua grande produção, gerando até falsas necessidades. 2. Aponte pontos em comum entre o governo de Vargas no Brasil e o de Perón na Argentina, no contexto do populismo latino-americano. c) Por que os traços da cultura de massa das sociedades industrializadas podem servir para discutir também a cultura do Terceiro Mundo? Criação de uma política de conciliação entre as classes sociais, adoção de uma legislação trabalhista e apoio entre as camadas populares. Perón foi a figura protetora dos “descamisados” e Vargas personificou o “pai dos pobres”. Embora no Terceiro Mundo o “consumo” seria ainda um valor a ser alcançado plenamente, orienta a organização da sociedade que se espelha no Primeiro Mundo. 3. Discuta a política de Perón em relação aos “descamisados” argentinos. 3. Para discutir com seus colegas: Como se apresenta a cultura de massa no Brasil hoje? O aluno deverá discutir a política paternalista de Juan Perón IV Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página V 3. Aponte vantagens e desvantagens do modelo econômico brasileiro assumido a partir do governo JK. em relação às massas populares da Argentina e à atuação da primeira-dama como “porta-voz dos humildes e descamisados”, no quadro do populismo argentino. Pode ser entendida como um desenvolvimentismo associado. O governo visava à obtenção de investimentos estrangeiros e, nesse período, diversas empresas multinacionais instalaramse no Brasil. Ao mesmo tempo o governo adotava medidas protecionistas a favor das empresas nacionais e apresentava projetos de criação de novas empresas estatais. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 1. Ampliando a discussão Você participou de uma atividade em classe - sob a orientação do professor - na qual vários aspectos da cultura de massa foram abordados: – influência estrangeira. – o papel dos meios de comunicação. – o caráter de “crítica” ou “alienação” dos produtos culturais. – adequação social das mensagens veiculadas. Escolha um desses itens e elabore uma redação, ampliando o trabalho de sala de aula. O nacionalismo econômico em face da globalização. O aluno poderá considerar os seguintes pontos: • O surgimento de uma Nova Ordem Mundial, a globalização, no início da década de 1990, caracterizada pela expansão do capitalismo e pela intensificação do comércio internacional. • A tecnologia que diminuiu as fronteiras e possibilitou a comunicação entre pessoas de diferentes países. • Alguns estudiosos afirmam que a aceleração desse processo poderia levar à perda da soberania nacional. Essa posição, no entanto, é polêmica, pois o Estado continua sendo responsável pela regulamentação de inúmeras esferas da sociedade. A leitura do texto complementar – a Indústria Cultural – e as discussões feitas em sala de aula serão importantes subsídios para o aluno escrever um pequeno texto sobre um determinado aspecto da cultura de massa. 2. A caminho do golpe 2. Trabalhando com o texto Essa foto é um registro histórico de uma grande manifestação política ocorrida seis dias após o Comício da Central do Brasil. Observe os slogans das faixas que os manifestantes carregavam, e a partir das colocações de seu professor e das discussões em classe, avalie o significado político dessa Marcha da Família com Deus pela Liberdade. 1. Justifique com exemplos do texto, a afirmação: “blogueira cubana relata cotidiano inacessível a estrangeiros.” Resposta pessoal do aluno. 2. Encontre um artigo de jornal ou revista que traga uma notícia sobre Cuba, cole-a no espaço reservado e escreva um comentário sobre o assunto. Organizada pela União Cívica Feminina e pela Campanha da Mulher pela Democracia – com o apoio do governo de São Paulo – a Marcha da Família reuniu aproximadamente 500 mil pessoas, que ao chegarem em caminhada à Praça da Sé (SP) rezaram uma missa em nome da democracia e da saída de Jango da presidência. Muitos historiadores afirmam que essa gigantesca manifestação foi o “aval civil para o golpe militar”. Trabalho de pesquisa em periódicos e analise do aluno. CAPÍTULO 12 – ENQUANTO ISSO, NO BRASIL… 1. O Brasil do pós-guerra Vamos entender melhor? 3. Atividade: A era do rádio Vamos reproduzir um programa de auditório? 1. Comente a perspectiva nacionalista de desenvolvimento econômico. • Os defensores de uma postura nacionalista delegavam ao Estado o controle sobre a indústria de base, transportes, comunicações e energia, enquanto os outros setores da atividade econômica ficariam nas mãos de empresas privadas nacionais. • • 2. Explique a proposta nacional-desenvolvimentista de Juscelino. • Pode ser entendida como um desenvolvimentismo associado. O governo visava à obtenção de investimentos estrangeiros e, nesse período, diversas empresas multinacionais instalaramse no Brasil. Ao mesmo tempo o governo adotava medidas protecionistas a favor das empresas nacionais e apresentava projetos de criação de novas empresas estatais. Faça uma pesquisa sobre a música, os cantores, os programas de rádio da década de 1950. Pesquise também sobre as roupas usadas, os penteados, e outros componentes do visual das pessoas na época. Procure descobrir gírias e expressões usadas naquele tempo junto a pessoas mais velhas de sua família, assim como hábitos, comportamento e valores da época. Defina personagens e funções para os elementos de seu grupo. Finalmente, monte uma apresentação de um programa de rádio. Você pode escolher entre programas de auditório (musicais ou humorísticos), rádio-novelas e noticiário. Trabalho do aluno. V Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página VI 4. Revisão V K P O P U L I S M O D O S K E N N D E S O G U E R P A N G U E V J I D O I E T S C A V G R C A H N D E E J U S T E T A N C H N G U E O R T O R S S T V I L R I C O G M I N T N I K N E I R O I N T E R N C R A V O S E D Y B E D I Ê N C I A R A F R I A M U N J O N A R A L U T H E R I N G V A S S O U R A M O L U M I N O S N G I T P U O M A C A R T H I S I C I A L I S M O S E N D E R O X A N G A O T A N C I A L A 1 E M V O K I K R U S C H E V K U O M I N T A A R S O V I A VI C O I V I L Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página VII EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 4. Reescreva, com suas palavras, o significado do Golpe de 64 quanto às mudanças sociais e econômicas em curso. (Recorra ao texto complementar O significado do Golpe como subsídio para sua resposta.) 1. Trabalhando com texto Minipesquisa 1. O que foi a Bossa Nova? As discussões feitas em sala de aula, as explicações do professor e a leitura do texto complementar serão o suporte necessário para o aluno produzir um pequeno texto sobre o assunto proposto. Criada na zona sul do Rio de Janeiro, no final da década de 1950, por jovens músicos de classe média, a bossa nova surgiu como uma nova maneira de tratar o samba. Era uma nova cadência, que nasceu sob a influência do jazz, presente no violão de João Gilberto e no piano de Tom Jobim. A bossa nova era a integração de melodia e ritmo com poesias de tema intimista e do cotidiano. 3. Resolução de testes A. Resposta: B 2. Por que razão Juscelino Kubitschek é chamado presidente bossa-nova? B. Resposta: D Juscelino contagiou o país com seu arrojado projeto desenvolvimentista. O presidente, mesmo que sob influência populista, acenava com a modernização. A música de Juca Chaves fala-nos de um presidente que tomava aulas de violão com um grande músico, Dilermando Reis. C. Resposta: E D. Resposta: E E. Resposta: D 3. Que críticas a música faz ao presidente bossa-nova? F. Resposta: E As viagens feitas pelo presidente e a política clientelista, segundo a qual era válido, por exemplo, “mandar parente a jato para o dentista”. G. Resposta: E H. Resposta: C 2. Vamos entender melhor? I. 1. Comente a renúncia de Jânio Quadros, enfocando: a) razões alegadas pelo presidente. Resposta: A J. Resposta: E Em seu documento de renúncia o presidente citou “forças terríveis” e a vitória de uma “reação”. Em nenhum momento ele explicitou esses termos. b) efeitos políticos. A renúncia abriu espaço para uma grave crise política, pois uma grande parcela do Congresso Nacional queria inviabilizar a posse do vice-presidente João Goulart. 2. Discuta as razões que levaram à instalação do parlamentarismo no início do governo de João Goulart. Diminuir os poderes políticos do presidente, tentando neutralizar aquilo que a oposição a Jango chamava de “atitudes esquerdizantes”. 3. Leia o texto complementar O comício da Central do Brasil e discuta o impacto político do anúncio de reformas feito por João Goulart. O anúncio das Reformas de Base e a política de nacionalização de algumas empresas aumentou a tensão nos setores mais conservadores da sociedade nacional. Os Estados Unidos temiam que a experiência cubana se repetisse no Brasil. VII Gab_C3_9o_Hist_SOME_DANIEL 28/04/11 16:29 Página VIII VIII C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 53 CAPÍTULO 10 O mundo no pós-guerra 1. O antagonismo entre as potências capitalista, ameaçada em sua hegemonia apenas pela União Soviética. Sob a influência desses países, formaram-se dois blocos ideologicamente diferenciados e antagônicos, que marcaram o período conhecido como Guerra Fria. De um lado, o mundo capitalista, vivendo sob a liderança dos Estados Unidos, que exerceu forte influência na América Latina. De outro, as nações comunistas. Ao redor da União Soviética, gravitavam países do Leste Europeu, que depois da Segunda Guerra passaram a viver sob governos socialistas, aliados de Moscou. As duas posições eram inconciliáveis. O advento do comunismo pressupunha a destruição do capitalismo. Na década de 1950, depois da Revolução Chinesa (1949) que implantou o regime comunista naquele país, e após a Revolução Cubana (1959), as ideias socialistas firmaram-se no panorama político, sendo temidas como uma ameaça real aos governos capitalistas. De um lado e do outro foram celebradas alianças político-militares visando demonstrar o poder ofensivo de cada bloco e assegurar sua defesa. Em 1949 foi criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), formada por Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha, entre outros países capitalistas. Em contrapartida, os países comunistas formaram o Pacto de Varsóvia, do qual participavam a União Soviética, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Polônia, Romênia e Alemanha Oriental. Durante a Guerra Fria, os países líderes, URSS e Estados Unidos, lançaram-se em uma corrida armamentista que incluía a formação de exércitos numerosos, equipamentos bélicos, desenvolvimento de técnicas militares e a posse de poderosas armas nucleares. O arsenal reunido pelos dois países e seus satélites seriam capazes de destruir toda a humanidade caso se confrontassem diretamente em uma guerra. O mundo viveu sob a ameaça da deflagração de um conflito entre aqueles países. Imaginava-se que apenas o aperto de um “botão vermelho” daria início a um ataque nuclear cujo poder de devastação seria fatal para a humanidade. Durante aproximadamente as cinco décadas que se seguiram ao término da Segunda Guerra Mundial (19391945), viveu-se em um contexto de Guerra Fria, no qual houve a formação de dois blocos políticos: um, liderado pelos Estados Unidos, e outro, pela URSS, países que se firmaram como as duas potências mundiais da época. Do ponto de vista econômico, assistiu-se ao isolamento dos países comunistas e à proliferação das empresas multinacionais, intensificando a internacionalização do capital. Nesse período, o Brasil viveu um intenso processo político. Logo após a guerra vivemos uma normalização das instituições democráticas com a elaboração de uma nova Constituição e assistimos ao surgimento de governos eleitos diretamente pela população. Começava a fase das democracias populistas em nosso país. No jogo de forças internacionais, estivemos alinhados ideologicamente ao capitalismo e sob forte influência econômica e política dos Estados Unidos. A ameaça de uma guerra impossível Após o conflito mundial, os Estados Unidos transformaram-se na mais rica e poderosa nação do mundo A OTAN e o Pacto de Varsóvia 53 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 54 Você sabia? Trabalho de fotojornalismo de Huynn Cong Ut mostrando menina atingida por bomba de napalm devido a um erro cometido durante a Guerra do Vietnã Guerra da Coreia • • TEXTO COMPLEMENTAR • ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A dança no gelo “Durante os tempos da guerra fria, o planeta era encarado como uma espécie de enorme tabuleiro de xadrez. A partida era disputada por dois jogadores, Estados Unidos e União Soviética, empenhados em manter as posições que já haviam conquistado — suas áreas de influência política, consolidadas depois da Segunda Guerra Mundial — e, tanto quanto possível, tomar novas áreas ao adversário. Nenhum país ou região do globo era considerado fora dos limites do jogo: cada casa do tabuleiro estaria, forçosamente, sob domínio de um ou de outro competidor. Tratava-se, porém, de um partida com características muito especiais. Ao contrário do xadrez comum, era inimaginável um ataque direto ao núcleo das forças adversárias. O confronto aberto entre as superpotências, como já vimos, provavelmente faria voar pelos ares todas as peças e o próprio tabuleiro. Essa curiosa partida devia ser jogada com decisão, mas também com certa cautela. A estratégia a ser adotada recomendava limitar o jogo às regiões em disputa. Pacientemente, ano a ano, norteamericanos e soviéticos moviam seus peões em diversas partes do globo, atacando ou defendendo governos nacionais e grupos em disputa pelo poder local. Submetido à mera condição de cenário dessa disputa, o mundo assistia aos lances de um jogo que parecia interminável — e que se arrastaria angustiosamente por décadas.” • • • • A Conferência de Yalta (1945) oficializou a divisão do território coreano: Coreia do Norte (socialista) e Coreia do Sul (capitalista). Na região da linha que dividia as duas Coreias – paralelo 38° N –, eram constantes os conflitos armados. A vitória de Mao Tsé-Tung à frente da Revolução Socialista Chinesa (1949) encorajou os norte-coreanos a avançarem militarmente para o sul. A ONU considerou a Coreia do Norte agressora e em 1950 eclode um perigoso conflito armado. As tropas da ONU e o exército norte-americano, comandados pelo general Joseph MacCarthy, avançam em direção à China. O general MacCarthy queria fazer uso do arsenal nuclear para destruir a Coreia do Norte e atingir a China. Porém, desde 1949 a União Soviética já dispunha da bomba atômica. Em 27 de junho de 1953, os líderes das duas grandes potências mundiais assinaram o Armistício de Pan Munjon, que decretou o cessar-fogo e manteve a divisão anterior da Coreia. Guerra do Vietnã • • • • • DIAS Jr., José Augusto e ROUBICEK, Rafael. Guerra Fria. A era do medo. São Paulo, Ática, 1996, p. 37. • Lutando de forma indireta • Ainda que não tivessem chegado a se defrontar, Estados Unidos e URSS se opuseram de forma indireta, através do apoio dado a grupos diferentes, em guerras como a da Coreia (1950-1953) ou a do Vietnã (19591975) e em movimentos de libertação colonial. Tais conflitos acabaram assumido um caráter de confronto ideológico, entre o capitalismo e o comunismo. • • • 54 Durante a Segunda Guerra Mundial, a Indochina – região de domínio francês, formada pelo Vietnã, Laos e Camboja – foi ocupada pelos japoneses, que isolaram a administração francesa. 1941: o Viet-Minh (Liga para a Independência do Vietnã), órgão ligado ao Partido Comunista local, lidera movimento de resistência antifrancês e antijaponês. Em 1945, na Conferência de Postdam, o Vietnã é dividido. em 1954, na Conferência de Genebra, é reconhecida a Independência do Vietnã, que foi dividido temporariamente pelo Paralelo 17, linha fronteiriça, não militarizada: Vietnã do Norte – República Democrática do Vietnã (pró-soviética) e Vietnã do Sul – República do Vietnã (pró-Ocidente). 1960: criação da Frente de Libertação Nacional, no Vietnã do Sul, de tendência comunista e cujo braço armado era o exército vietcongue. Em 1961 o presidente John Kennedy (EUA) autoriza o envio da primeira leva de militares norte-americanos ao Vietnã do Sul. 1964: início dos bombardeiros norte-americanos ao Vietnã do Norte. 1973: acordo de paz, assinado em Paris. Os norte-americanos deixam o Vietnã. 1975: avanço dos exércitos norte-vietnamitas e vietcongues sobre o Vietnã do Sul. Guerrilheiros comunistas tomam o poder no Laos e no Camboja. Saigon (Sul) é dominada pelas tropas comunistas. Fim da Guerra do Vietnã. 1976: O Vietnã é oficialmente unificado sob domínio comunista. C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 55 De uma forma mais ampla, é possível considerar que se confrontavam duas visões de mundo, duas propostas de felicidade coletiva a partir da escolha política entre socialismo e capitalismo. A busca da hegemonia mundial levava as duas potências à tentativa de se suplantarem nos mais diversos campos, incluindo a corrida espacial e os esportes. Jogos de xadrez e medalhas olímpicas eram disputados como forma de demonstrar a superioridade de um país sobre o outro! A Apolo 11 e a chegada do homem à Lua Yuri Gagárin, astronauta soviético que foi o primeiro ser humano no espaço Você sabia? Nikita Kruschev – da União Soviética – e John Kennedy – dos Estados Unidos –, conscientes do perigo que uma guerra nuclear representava, depois de uma série de encontros, combinaram a instalação do “TELEFONE VERMELHO”, em agosto de 1963. Obviamente não se tratava de uma linha telefônica, mas sim de um teleprocessamento via satélite que permitia a troca de textos e gráficos. Sabe-se que foi instalado em Washington e em Moscou, e ao que parece o local permanece até hoje em segredo. Prisioneiros na Guerra do Vietnã Novos rumos para a disputa Em meados da década de 1950, percebe-se uma alteração no discurso político. Em 1959, Nikita Kruschev, o novo líder soviético após a morte de Stálin (1953), defende publicamente a ideia da necessidade do estabelecimento de uma “coexistência pacífica”, frente ao poderio bélico dos dois países. Começava uma ênfase na competição econômica e tecnológica entre eles. Os antagonismos políticos não foram afastados totalmente. Houve a ocorrência de crises que por pouco não levaram ao confronto direto entre aqueles países. As duas potências intervieram também na vida política de outras nações apoiando grupos revolucionários, no caso da URSS, ou governos conservadores, por parte dos Estados Unidos. A espionagem internacional assumiu grande importância nesse contexto, celebrizando a KGB (iniciais em russo de Comitê para Segurança do Estado) dos soviéticos e a CIA (iniciais em inglês de Agência Central de Inteligência) norte-americana. Cronologia da Guerra Fria 1945 – Conferência de Yalta. Lançamento da bomba atômica em Hiroshima. Conferência de Postdam. Discurso do presidente norte-americano iniciando a Doutrina Truman. 1949 – URSS declara ter a bomba atômica. Divisão da Alemanha em Ocidental e Oriental. Criação da OTAN. 1950 – Início da Guerra da Coreia. 1952 – Estados Unidos lançam a primeira bomba de hidrogênio. 1955 – Criação do Pacto de Varsóvia. 1957 – Lançamento do Sputnik 1 pelos soviéticos, primeiro satélite artificial. 1959 – Início da Guerra do Vietnã. 1961 – Lançamento do Vostok pelos soviéticos, primeira nave espacial pilotada por um ser humano, Yúri Gagárin. 1969 – Chegada da nave americana Apolo 11 à Lua. 1972 – Assinatura do Salt-1, acordo de limitação de armas nucleares firmado pelos EUA e URSS. 1989 – Queda do Muro de Berlim. 1991 – Guerra do Golfo. 1991 – Dissolução da URSS e criação da CEI – Comunidade dos Estados Independentes. 55 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 56 TEXTO COMPLEMENTAR DOCUMENTO 2 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– ––––––––––– ––––––––––– “Dois campos opostos se formaram: de um lado a política da União Soviética e dos países democráticos direcionada a anular o imperialismo e fortalecer a democracia; do outro lado a política dos Estados Unidos e da Inglaterra, direcionada ao fortalecimento do imperialismo e anulação da democracia.” Disputa de superpotências leva a conflitos regionais “Na metade do século 20, o mundo viu-se às voltas com os conflitos ideológicos. Frutos da guerra fria, as disputas bélicas deslocaram-se para países-chave no complicado jogo da geopolítica internacional. Eram capitalistas contra comunistas e vice-versa. Envolviam, direta ou indiretamente, as superpotências Estados Unidos e União Soviética. A Coreia, depois da 2.ª Guerra Mundial, viu-se dividida em duas partes. Ao norte do paralelo 38, ficaram os coreanos protegidos por soviéticos e chineses. Ao sul, os coreanos que eram defendidos pelos americanos. Em 1950, o lado comunista invadiu o capitalista e as hostilidades perduraram por três anos, matando cerca de 4 milhões de pessoas. A guerra, oficialmente, não terminou. Até hoje eles continuam separados por uma cerca da arame e ódio. O lado do Norte passa fome e o do Sul vive em meio à prosperidade. No Vietnã, a guerra começou em 1959. Dois anos depois, os Estados Unidos decidem apoiar o governo do Vietnã do Sul contra a guerrilha dos vietcongues, estes apoiados pelo lado do Norte. Apesar de enviar tropas e pesado equipamento bélico, os soldados americanos viram-se obrigados a abandonar o país em 1975 e os vietcongues assumiram o poder, instituindo um regime comunista. Cerca de 50 mil americanos e 2 milhões de vietnamitas morreram no sangrento combate. Com o declínio do comunismo, os conflitos ganharam outros contornos. Em 1991, na Guerra do Golfo, os americanos mostraram o seu potencial armamentista em apenas três meses de combate, mas cada manobra militar em território iraquiano era custeada por dólares enviados por países aliados. Apesar da superioridade bélica, o Primeiro Mundo descobriu que não poderia mais controlar facilmente os países do Terceiro. O ditador Saddam Hussein continua dono do Iraque. Mas sua expulsão do Kuwait não impediu que os preços do petróleo disparassem no fim da década, lembrando o choque dos anos 70.” Discurso do líder soviético Joseph Stálin – citado em: FENELON, Déa R. op. cit., p. 90. Os dois documentos acima representam fragmentos de discurso dos líderes dos dois países que se rivalizavam durante a Guerra Fria, nos quais cada um deles critica o regime político do bloco ao qual se opunha. Vamos analisá-los? 1. Qual o regime político defendido pelo presidente dos Estados Unidos no documento? 2. De que forma o presidente americano em seu discurso justifica a intervenção de seu país na política de outras nações? 3. Como o líder soviético Stálin caracteriza no documento 2 a política norte-americana? 4. Discuta o uso do conceito de democracia pelos líderes dos dois países nos documentos mencionados, enfocando: a) o significado apresentado para o conceito por cada um deles. Notícias do século, edição especial de O Estado de São Paulo, 31/12/2000. b) o objetivo político de cada um ao usar esse conceito. Você é o historiador DOCUMENTO 1 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– “Uma maneira de viver é baseada na vontade da maioria e distingue-se pela existência de instituições livres, governo representativo, eleições livres, garantias de liberdade individual, liberdade de opinião e de religião e ausência de opressão política. O segundo modo de vida baseia-se na vontade de uma minoria imposta pela força a uma maioria. Ele repousa no terror e na opressão, no controle da imprensa e do rádio, em eleições fraudadas e na supressão das liberdades pessoais. Acredito que deva ser a política dos Estados Unidos apoiar os povos livres que estão resistindo à tentativa de subjugação por minorias armadas ou por pressões externas.” No Portal Objetivo Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST9F301 e HIST9F302 Discurso do presidente norte-americano Harry Truman – citado em: FENELON, Déa R. A guerra fria. São Paulo, Ed. Brasiliense, p. 87. 56 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 57 2. A Revolução Chinesa A longa marcha Introdução Após o Massacre de Xangai, os comunistas refugiaram-se nas montanhas de Kwangsi, onde fundaram em 1931 a República Soviética da China, e Mao Tsé-Tung deu início a um processo de desapropriação de latifúndios, organizando grupos guerrilheiros e ligas camponesas. Com a retomada da campanha de libertação, reacendia-se o espírito de guerra civil contra os nacionalistas. Chiang Kai-Shek passou a contar com o apoio dos governos da Inglaterra e Estados Unidos, e a organizar novas ofensivas contra os comunistas. Estes, para evitar o cerco das tropas nacionalistas, empreenderam a Longa Marcha. Atravessando desertos e montanhas, cerca de cem mil comunistas, sob o comando de Mao Tsé-Tung, denominado o Grande Timoneiro, percorreram 9600 quilômetros em direção ao extremo norte da China. Os nacionalistas do Kuomintang foram derrotados em 1949 a partir de ofensivas bem estruturadas do exército maoista. Chiang Kai-Shek fugiu para a ilha de Taiwan (Formosa), onde criou a República Nacionalista da China. Enquanto isso, em primeiro de outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamava a República Popular da China. O médico Sun Yat-Sen fundou em 1905 o Kuomintang – Partido Nacionalista – com um programa político de reformas econômicas, e incitou a expulsão de todos os estrangeiros do território chinês. À frente de um processo revolucionário, o Kuomintang proclamou a República chinesa em 1912, levando à abdicação de Pu-Yi, o último imperador da dinastia Manchu. Era o fim de um grande império que havia sido retalhado pelo imperialismo europeu. O Partido Comunista Chinês (PCC) foi fundado em 1921 e, seguindo as instruções do Komintern, faria uma aliança com o Kuomintang na luta por reformas democráticas. Após a morte de Sun Yat-Sen, em 1925, o comandante militar das tropas nacionalistas, Chiang Kai-Shek, assumiu a liderança das províncias do sul. Em um processo de lutas que durou dois anos, as províncias do norte foram conquistadas e Chiang Kai-Shek teve em suas mãos o território chinês unificado. As relações entre o Kuomintang e o Partido Comunista ficaram comprometidas em função do apoio financeiro que Chiang Kai-Shek recebia da burguesia. Em 1927 ele ordenou o Massacre de Xangai, no qual milhares de pessoas ligadas ao Partido Comunista foram mortas pelos soldados do Kuomintang. Uma nova onda revolucionária iria assolar o território chinês. Você sabia? Após a chegada de Mao Tsé-Tung ao poder, a ONU reconheceu o governo de Chiang Kai-Shek, em Formosa, como o único representante do povo chinês. Foi somente em 1971, com a aproximação diplomática entre a China e os Estados Unidos, que a ONU reconheceu oficialmente e admitiu a China no quadro de seus países membros. 57 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 58 Os caminhos do socialismo chinês Mao Tsé-Tung Ao criar as bases da República Popular da China, Mao Tsé-Tung ignorou as determinações de Moscou que vetavam a ascensão dos comunistas chineses ao poder. Stálin, líder soviético, temia um enfrentamento com o bloco ocidental. Para você conhecer o processo de construção do socialismo chinês, leia atentamente o quadro: Nasceu em 1893, filho de um rico proprietário de terras. Foi um dedicado estudante dos pensadores ocidentais e da história da China. Durante algum tempo, Mao foi professor, profissão que valorizava muito, chegando a escrever que “um professor vale por cem guerrilheiros”. Em 1921, após um detalhado estudo das obras de Marx e Lênin, aderiu ao Partido Comunista. Sua primeira mulher e seu filho foram assassinados pelo Kuomintang de Chiang Kai-Shek. Mao foi poeta e escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Destacou-se como militar e chefe de Estado, vindo a falecer em 1976. 1949-1952 1953-1957 1958-1962 • Reforma Agrária, a partir de propriedades rurais confiscadas pelo Estado. • Estado controla todas as empresas, bancos e indústrias. • “Grande Salto para a Frente”, projeto de desenvolver a China em uma década. • Movimento de educação popular, alfabetização de adultos. • China adotou o modelo socialista soviético, com apoio total à indústria pesada e a • Poligamia e casa- economia dirigida mentos forçados por Planos Quinpelos pais foram quenais. proibidos. • A União Sovié• Mulheres deixa- tica passou a auxiram de ser tratadas liar a China atracomo “servas do- vés da remessa de mésticas” e foram dinheiro, tecnoincorporadas ao logia e profissiomundo do trabalho. nais de diferentes setores. Mao Tsé-Tung quando jovem • Camponeses organizados em grandes cooperativas chamadas comunas rurais. • Não havia recursos suficientes para que as comunas rurais desenvolvessem todos os seus projetos. • Grandes enchentes destruíram plantações e provocaram fome. • A fome dizimou milhares de pessoas. O Grande Salto para a Frente revelou-se um grande fracasso. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– As mudanças na China Comunista “Três grandes reformas foram promovidas [na China] em 1950. A Reforma Agrária, que confiscou a terra dos grandes proprietários, dividindo-a entre os camponeses; a Reforma dos Casamentos, que proibiu os casamentos contratados pelos pais sem a vontade dos noivos; a Reforma Sindical urbana, que regulamentou a participação dos trabalhadores na gestão das empresas e o seguro-desemprego, assegurando ao mesmo tempo os direitos dos capitalistas na organização do trabalho e na auferição dos seus lucros. Seguindo o modelo soviético, os chineses elaboraram seu Plano Quinquenal para 1953-1957. Em 1956, produziram-se algumas greves operárias, reclamações camponesas e críticas de intelectuais. Esse, aliás, foi um ano particularmente inquietante no mundo comunista. No XX Congresso do PC da URSS, Kruschev apresentou seu relatório denunciando as ‘violações da legalidade socialista’ cometidas por Stalin. […] Na Hungria, um levante popular ameaçou o regime.” O jovem Mao explicando ao povo os motivos para a luta comunista A Revolução Cultural A década de 1960 trouxe para o governo maoista a derrocada do Grande Salto para a Frente e o rompimento das relações diplomáticas com a União Soviética. Nikita Kruschev, líder soviético e sucessor de Stálin, defendia a distensão mundial, enquanto a China pregava a permanência da Guerra Fria e o apoio incondicional à internacionalização da revolução socialista. SADER, Eder. Mao Tse-Tung. São Paulo, Ática, 1982. p. 21-2. 58 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 59 Nesse contexto de crise política, Mao decidiu mobilizar a juventude a seu favor. Em 1966 teve início a Revolução Cultural, na qual os jovens chineses foram estimulados a participar das mudanças revolucionárias. Grandes cartazes murais denominados “dazibaos” abriram espaço para que o povo expressasse seu pensamento e suas críticas. Velhos administradores foram substituídos por jovens. Universitários eram enviados ao campo para unir o trabalho intelectual ao manual. Porém, aconteceram desvios e exageros. Obras de arte, livros e músicas foram proibidos sob o título de “cultura burguesa”. Cientistas interromperam suas pesquisas e foram obrigados a trabalhar no campo. Mao organizou a Guarda Vermelha, formada por jovens comunistas que perseguiam e humilhavam as pessoas que não seguiam integralmente a ideologia expressa no Livro Vermelho. A morte de Mao, em 1976, determinou o fim da Revolução Cultural. Seu sucessor, Deng Xiaoping, afastou do poder os políticos maoistas mais radicais, denominados de “Camarilha dos Quatro”, entre os quais estava Jiang Qing, esposa de Mao. O novo governo apresentou como prioridades a modernização do país e a ampliação das relações político-econômicas com os países capitalistas. Fotografia de Mao Tsé-Tung em cartaz de rua na China Jovem em frente a tanques em Pequim. Maio de 1989 VOC ABU L ÁR I O Auferição = obtenção. Comunas rurais = fazendas coletivas, onde milhares de famílias camponesas trabalhavam em regime de cooperação. Distensão mundial = política de afrouxamento das relações entre os blocos capitalista e socialista, a partir da década de 1970. Dizimou = acabou, extinguiu. Komintern = denominação da Terceira Internacional Comunista, fundada em Moscou em 1919, com o objetivo de coordenar a luta dos comunistas no mundo inteiro, a partir do apoio da União Soviética. Livro Vermelho = escrito por Mao Tsé-Tung, constituía-se em uma síntese do pensamento político do autor e lançava as bases para a Revolução Cultural. Planos Quinquenais = o planejamento econômico era feito para um espaço de cinco anos. O primeiro plano quinquenal chinês dava prioridade à reforma agrária. Timoneiro = guia, líder; aquele que governa o timão das embarcações. Gravura de 1951 mostrando os chineses aprendendo a manejar um trator Você sabia? Em maio de 1989, um grupo de estudantes chineses iniciou uma série de manifestações na Praça da Paz Celestial, reivindicando o fim da corrupção do governo e dos privilégios dos altos funcionários do Partido Comunista Chinês. Os jovens clamavam por maior liberdade política. O governo chinês agiu com grande violência, reprimindo as manifestações com tropas do Exército. Várias prisões foram efetuadas e muitas pessoas morreram em um triste episódio que passou para a História com o nome de Primavera de Pequim. V Í D E O O último imperador, 1987 (direção de Bernardo Bertolucci) No Portal Objetivo Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST9F303 59 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 60 Verificando se você aprendeu comunismo. A tensão entre os dois blocos, o comunista e o capitalista, alcança os continentes africano e asiático, que se tornam alvo estratégico de disputa. Para os países colonizados, a luta pelo direito à autodeterminação significou também um esforço no sentido de se tornarem sujeitos de sua própria história, depois de permanecerem por séculos submetidos ao domínio europeu. Entretanto, a colonização teve efeitos profundos sobre os povos colonizados, em múltiplos aspectos. Afetou a cultura dos povos submetidos e estabeleceu elos de dependência econômica que persistiram após a descolonização. O imperialismo colonial chegou ao fim na década de 1980, mas permanece ainda a questão: isso trouxe efetivamente o fim da dominação dos países “ricos” sobre as nações pobres dos continentes asiático e africano? 1. Mao Tsé-Tung, no ano de 1966, estabeleceu as bases da Revolução Cultural na China. Caracterize-a. 2. Como pode ser caracterizada a Longa Marcha empreendida por Mao Tsé-Tung? Os caminhos da descolonização A libertação das colônias africanas e asiáticas resultou de uma conjugação de fatores externos, já apontados, e de condições internas particulares de cada país. Configuramse, dessa forma, diferenças no processo de conquista da independência. Alguns países, de acordo com condições específicas, viram-se obrigados a conceder uma autonomia políticoadministrativa progressiva para suas colônias, de forma a orientar o processo e garantir o controle econômico do país independente. Foi o caso, por exemplo, de algumas colônias francesas, como o Marrocos e a Tunísia, que obtiveram de sua metrópole a independência em 1956. A ONU oferecia seu apoio a essas iniciativas, pressionando os países colonizadores para que concedessem autonomia a suas colônias. Em outros casos, como o dos países pertencentes ao Império Colonial Português, o processo de libertação resultou em lutas de independência cujos desdobramentos podem ser sentidos até hoje. Nesses países, o grande temor dos países capitalistas se concretizou. A conquista da autonomia se fez a partir de movimentos revolucionários inspirados nas ideias comunistas, na esfera de influência de Moscou. Em 1955, foi realizada na Indonésia, sob a liderança do presidente Ahmed Sukarno, a Conferência de Bandung, nome de importante cidade daquele país recém-libertado. Da reunião participaram os também independentes Índia, Pasquistão, Ceilão e Birmânia, além de mais 29 países da África e da Ásia. Nessa ocasião, defendeu-se a soberania de cada país participante em suas questões internas. Selava-se, também, um compromisso de ajuda mútua dos países envolvidos no processo de descolonização. A Conferência dos Povos da África, realizada em Acra, capital de Gana, em 1958, reforçou as solidariedades nacionalistas e contribuiu para acelerar o movimento de libertação colonial. 3. A via socialista chinesa, de inspiração maoista, realizou importantes reformas nas áreas da educação e dos direitos da mulher. Justifique a afirmação, exemplificando-a. 3. A descolonização da Ásia e da África Nos anos que se seguiram ao segundo conflito mundial, chegou ao fim o longo processo de dominação colonial europeia na Ásia e na África. Nas décadas de 1950 e 1960, assistimos à ocorrência de uma grande onda descolonizadora nesses continentes. Somente na década de 1960, dezessete colônias que haviam pertencido à Inglaterra e à França conseguiram sua independência. Alguns fatores contribuíram para isso. Durante o conflito mundial, os países colonizados foram chamados a lutar ao lado de suas metrópoles, recebendo promessas de autonomia como recompensa. Ao final da guerra, com a Europa enfraquecida, movimentos nacionalistas que visavam à libertação do jugo colonial se fortaleceram. Concorreram também para a força dos movimentos nacionalistas e de libertação: a difusão da doutrina socialista que pregava a autodeterminação dos povos, o clima de Guerra Fria entre as potências mundiais e sentimentos de solidariedade entre os países colonizados. Manter a dominação colonial poderia significar um risco para o capitalismo mundial caso os países africanos e asiáticos, como forma de conquistar a independência, viessem engrossar o número de nações que aderiam ao 60 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 61 TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Esperanças e frustrações “Ora por meios pacíficos, ora por intermédio de longas e cruéis lutas internas, por vezes até mesmo com o caráter de guerras civis, como foi o caso no Congo Belga e em Angola, por exemplo, os velhos impérios coloniais chegaram ao fim. Na Ásia, na África, nas Antilhas e nas Guianas, nas ilhas do Pacífico, onde quer que se tivesse estabelecido o poder do império, criado e multiplicado a partir da Europa, foi profunda e devastadora a dominação para as culturas locais e seus sistemas sociais. Por onde o homem branco passou, ficaram suas marcas como um rastro indelével, e de tal forma que quando foi embora quase nada restava a ser conservado nem desenvolvido pelos que foram vítimas da sua dominação. Restaram, na maioria, povos amedrontados, arriscados a perder até a própria memória impressa, quase imperceptivelmente, no que lhe restava como identidade. (…) A descolonização foi uma conquista dos povos dominados, resultado de uma resistência longa e nem sempre de aparência espetacular, por vezes silenciosa. Foi o que aconteceu na Ásia, no Norte da África, no Sul da África, em qualquer parte por onde a Europa e, mais tarde, os Estados Unidos passaram, exibindo a sua superioridade de civilizados e as suas convincentes armas de fogo. Se, por um lado, o imperialismo ampliou seu raio de influência, por outro, cresceu a capacidade do ser humano de resistir à dominação. Na Índia, no Egito, na Argélia, em Gana, e assim por diante, a instalação do dominador se fez com violência e igualmente violenta foi a resistência local. O ato final de independência foi sempre precedido de prolongados distúrbios, quando não de longas e cruentas guerras de libertação (na Indochina-Vietnã, a guerra contra a França durou de 1946 a 1954; na Argélia, além da grande resistência armada ao estabelecimento da França, no século XIX, a guerra final de libertação durou seis anos, de 1954 a 1962). (…) Conquistada a independência, alguns desses novos Estados entraram no reino das guerras civis fratricidas e sem retorno. Restalhes agora encontrar o seu próprio caminho e construí-lo, grão por grão, pedra por pedra.” LINHARES, Maria Yedda Leite. “Descolonização e lutas de libertação nacional” in: O século XX. Rio Janeiro, Civilização Brasileira, 2000, p. 61-63. TEXTO 1 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Descolonização “A tomada de consciência dos povos colonizados em relação aos processos de expropriação, de negação e de desumanização que lhes foram impostos pela força desencadeou os movimentos de revolta e finalmente de ruptura com o sistema colonial. Essa ruptura, coroada pelas independências, é o que se chama de descolonização, termo equivocado que merece aqui alguns esclarecimentos. Na visão de algumas pessoas, houve uma vontade deliberada das potências coloniais de abrir mão de seus direitos adquiridos, ou seja, de desfazer-se de seus impérios coloniais por livre iniciativa. O que significaria que as independências africanas e asiáticas não foram conquistadas, mas sim concedidas. No entanto, a história de lutas, às vezes violentas e trágicas, das antigas colônias desmente essa visão eurocêntrica da descolonização, substituindo-a por uma visão africana e asiática, mais fiel aos acontecimentos históricos. Desse ponto de vista, a descolonização é produto dos movimentos nacionais que encurralaram o colonialismo, obrigando-o pela força a abrir mão daquilo que tinha tomado pela força. Mesmo nos países onde não houve guerras de libertação, os colonialistas foram obrigados a ceder pelas negociações políticas resultantes da pressão dos povos oprimidos. É nesse último sentido que utilizamos o conceito de descolonização.” SERRANO, Carlos e MUNANGA, Kabengele. A Revolta dos Colonizados. São Paulo, Atual Editora, p. 10. A ideia de “descolonizar” as regiões que estiveram sob o domínio dos países colonialistas europeus no século XIX é produto de uma visão eurocêntrica da História. Discuta o conceito de “descolonização”, tomando como referência o texto complementar ao lado. 61 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 62 DOCUMENTO 1 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A Resolução 1514 da ONU 1. A sujeição dos povos à dominação e à exploração estrangeira constitui uma negação dos direitos fundamentais do homem, e contrário à Carta das Nações Unidas, compromete a causa da paz e da cooperação mundial. 2. A falta de preparação nos domínios político, econômico e social ou educativo não deve jamais ser tomada como pretexto para retardar a independência. 3. Todos os povos têm direito à livre determinação; em virtude desse direito, eles determinam livremente o seu estatuto político e buscam livremente o seu desenvolvimento econômico, social e cultural. 4. Será posto fim a todas as ações armadas e a todas as medidas de repressão, de qualquer tipo, que sejam dirigidas contra os povos dependentes, para permitir à sua população exercer pacífica e livremente o direito à independência completa e o respeito à integridade do seu território. 5. Serão tomadas medidas imediatamente nos territórios sob tutela, nos territórios não autônomos e em todos os outros territórios que ainda não tiveram acesso à independência, para transferir todo o poder aos povos desses territórios, sem nenhuma condição ou reserva, conforme sua vontade e seu voto livremente expresso, sem nenhum distinção de raça, de crença ou de cor, a fim de permitir-lhes o gozo de uma independência ou liberdade completas. 6. Toda tentativa visando destruir parcial ou totalmente a unidade nacional e a integridade territorial de um país é incompatível com as metas e os princípios da Carta das Nações Unidas. Todos os Estados devem observar fiel e estritamente as disposições da Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a presente Declaração sobre a base da igualdade, da não ingerência nos assuntos internos dos Estados e do respeito aos direitos soberanos e à integridade territorial a todos os povos. 62 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 63 Cronologia da descolonização na África Ano A África durante o neocolonialismo dos séculos XIX-XX Países 1951 Líbia 1956 Marrocos, Sudão e Tunísia 1957 Gana (ex-Costa do Ouro) 1958 Guiné 1960 Burkina Fasso (ex-Alto Volta), Benin (exDaomé), Camarões, Chade, Congo (exCongo Francês), Costa do Marfim, Gabão, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, República Centro-Africana, República Malgaxe (exMadagascar), Senegal, Somália, Togo e Rep. Dem. do Congo (ex-Zaire e ex-Congo Belga) 196 Tanzânia e Serra Leoa 1962 Argélia, Burundi, Ruanda e Uganda 1963 Quênia 1964 Zâmbia (ex-Rodésia do Norte) e Malavi (ex-Niassalândia) 1965 Gâmbia 1966 Botsuana (ex-Bechuanalândia) e Lesoto (ex-Basutolândia) 1968 Guiné Equatorial (ex-Guiné Espanhola), Ilhas Maurício e Suazilândia 1973 Guiné-Bissau 1975 Angola e Moçambique 1977 Djibuti (ex-Somália Francesa) 1980 Zimbábue (ex-Rodésia do Sul) A África independente DOCUMENTO 2 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A Declaração de Bandung A Conferência Afro-Asiática discutiu os problemas dos povos dependentes, do colonialismo e dos males resultantes da submissão dos povos ao jugo do estrangeiro, à sua dominação e à sua exploração por este último. A Conferência está de acordo: 1) Em declarar que o colonialismo, em todas as suas manifestações, é um mal a que deve ser posto fim imediatamente; 2) Em declarar que a questão dos povos submetidos ao jugo do estrangeiro, ao seu domínio e à sua exploração constitui uma negação dos direitos fundamentais do homem, é contrário à Carta das Nações Unidas e impede favorecer a paz e a cooperação mundiais; 3) Em declarar que apoia a causa da libertação e independência desses povos; 4) Em apelar para as potências interessadas para que elas concedam a liberdade e a independência a esses povos… (Declaração de Bandung) In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos da história. v. III. Lisboa, Plátano, 1976, p. 348 63 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 64 Surge o “terceiro mundo” nações que disputavam a hegemonia mundial – Estados Unidos e União Soviética –, como em Angola. Em seu conjunto, foram processos complexos, de acordo com as características de cada país, inseridos no contexto mais amplo da descolonização, analisado na aula anterior. Nesta aula estudaremos dois casos: o processo peculiar de emancipação indiana e as lutas de libertação colonial na África, com especial atenção para o desmoronamento do Império Colonial Português. Na Conferência de Bandung, as nações ali reunidas pronunciaram-se a favor do socialismo e da neutralidade, manifestando seu distanciamento tanto da União Soviética quanto dos Estados Unidos. Estava cunhada a expressão “terceiro mundo”, como uma alternativa aos dois blocos políticos hegemônicos. Ainda que esse “espírito de Bandung” anunciasse uma esperança para um futuro construído em bases democráticas e positivas para esses países, a realidade que se seguiu foi diferente. Os países africanos e asiáticos que haviam pertencido aos impérios coloniais europeus enfrentaram uma sequência de lutas internas e governos ditatoriais. Apesar de independentes politicamente, continuaram sob uma situação de dependência econômica. Com o passar do tempo, a noção de “terceiro mundo” se ampliou. No contexto internacional, passou a designar os países pobres do mundo, considerados “subdesenvolvidos”, aos quais se juntaram as nações latino-americanas. A emancipação da Índia Desde a Revolta dos Cipaios (1858), a Índia passou a fazer parte do Império Colonial inglês, tendo sagrado a rainha Vitória como sua imperatriz. A dominação britânica na Índia apregoava a missão civilizadora do homem branco. A Inglaterra era então grande potência marítima, detentora de imenso império colonial. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), seu extraordinário império englobava 1/4 do planeta, com cerca de 500 milhões de habitantes. Dessa população, 80% era composta de negros, indianos e orientais. O cenário se altera após a Segunda Guerra (19391945). A situação econômica da Inglaterra foi afetada no conflito e seu poder, diminuído, repercutindo em sua política colonial. Em 1947, logo após o final da guerra, o primeiro-ministro britânico, Clement Attlee, anunciou que a Inglaterra concederia a independência à Índia até junho de 1948. Tratava-se, na verdade, de uma resposta ao forte movimento de reivindicação liderado pelas elites locais. Na década de 1920, havia começado um movimento de independência, que cresceu nos anos seguintes, liderado por Jawaharlal Nehru e Mahatma Gandhi, a partir do Partido do Congresso, que tinha o apoio da burguesia local. Gandhi destacou-se na liderança do movimento propondo a desobediência civil como caminho de recusa à situação colonial, de acordo com um princípio de não violência. Suas ideias encontraram ampla repercussão na opinião pública de seu país e também internacionalmente, contribuindo para o avanço do processo de descolonização. A Índia compreendia dois grupos religiosos diferentes: hindus e muçulmanos. Com a independência, foram criados dois países: o Paquistão, de maioria muçulmana, incluindo territórios distantes entre si cerca de 2 mil quilômetros, e a União Indiana, hindu. A divisão levou a conflitos entre os dois grupos. Gandhi, coerente com suas ideias de não violência, defendia a paz com os muçulmanos. O grande líder pacifista acabou de maneira trágica, assassinado a tiros em Nova Délhi (1948) por um fanático hindu que não aceitava a convivência com os muçulmanos. A Índia teve Nehru como primeiro-ministro, que empreendeu reformas sociais, como a nacionalização dos bancos e a reforma agrária e incentivou a indústria do país. O Paquistão Oriental separou-se do Ocidental em 1971, dando origem à República de Bangladesh. Verificando se você aprendeu 1. Grife nos dois documentos contidos neste item frases que representem a argumentação usada pela ONU e pelos países participantes de Bandung para defender a descolonização. 2. Houve diferenças no processo de independência das nações colonizadas. Sobre isso, responda: a) Por que os países colonizadores buscavam a “via pacífica” para a libertação de suas colônias? b) Em que contexto surgiram as lutas de libertação colonial? 3. Discuta os efeitos da descolonização para os países então libertados e escreva sua conclusão. 4. Em busca da autodeterminação A conquista da independência das nações afro-asiáticas percorreu vários caminhos, de acordo com a situação específica de cada colônia e suas relações com a metrópole. Deu origem a guerras de ampla repercussão, como a do Vietnã e da Argélia. Levou a lutas internas de emancipação com interferência direta das Cartaz conclamando as colônias britânicas a auxiliarem a Inglaterra na Segunda Guerra Mundial 64 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 65 DOCUMENTO “(…) A primeira coisa, portanto, é dizer-vos a vós mesmos: não aceitarei mais o papel de escravo. Não obedecerei às ordens só porque são a lei, pois desobedecerei sempre que estiverem em conflito com minha consciência. O vosso opressor poderá até vos dar uma surra para forçar-vos a servi-lo. Direis a ele: Não obedecerei nem por dinheiro nem por ameaça. Isso poderá trazer sofrimentos. Mas vossa coragem em sofrer acenderá a tocha da liberdade que não poderá mais ser apagada.” Gandhi lutava pela independência da Índia seguindo o princípio da não violência Mahatma Gandhi DOCUMENTO Gandhi, o líder da independência da Índia “Nascido na Índia Ocidental no ano de 1869, Gandhi formou-se advogado na Inglaterra no final do primeiro semestre de 1891. Regressando à Índia, tentou sem sucesso advogar em vários tribunais, sobretudo na cidade de Bombaim. Desiludido, buscou nova oportunidade na África do Sul, para onde embarcou em abril de 1893. Gandhi previa uma viagem de curta duração, de alguns meses, mas sua permanência na África do Sul estendeu-se por 22 anos. Em 1896 esteve na Índia para buscar a esposa e os filhos, logo depois retornando à África. Envolvendo-se cada vez mais em movimentos de desobediência civil contra a desigualdade e contra outras formas de violência impostas aos indianos que viviam naquela região, Gandhi só voltou definitivamente para a Índia em 1915. Através da não violência, ele auxiliou os indianos da África do Sul na eliminação quase total da injustiça exercida contra eles. Ao desembarcar em Bombaim, lugar onde fracassara como advogado, Gandhi encontrou o reconhecimento popular por suas atividades de desobediência desarmada, em favor da dignidade humana dos indianos na África.” Gandhi e Nehru VIERA, Evaldo. O que é desobediência civil. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1983, p. 49-50. Você sabia? O governo inglês proibia que os indianos produzissem sal. Eles tinham que comprar dos comerciantes britânicos. Em 1930 Gandhi organizou a célebre Marcha do Sal, na qual ele e seus seguidores caminharam 400 quilômetros até o mar para obter sal. Quando os militares ingleses chegaram, Gandhi e os membros da marcha se entregaram pacificamente. “O punho que encerrou esse sal poderá ser cortado, mas não largará o sal”, teria dito Gandhi pouco antes de ser preso. 65 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 66 A África procura a liberdade Foi longo e doloroso o processo de libertação do continente africano, coroando uma história marcada pela violência. A África foi submetida a séculos de domínio europeu e à violência da escravidão, que deslocou grandes contingentes de africanos de suas terras para a América. Enfrentou governos ditatoriais e lutas relacionadas ao processo de descolonização. Nesse processo, vidas foram exterminadas e a cultura local atingida. Algumas regiões do continente ainda vivem os efeitos de sua história, mergulhado na mais profunda miséria e na desorganização social. No início do século XX, mais de 90% do continente africano se encontrava sob o domínio colonial europeu. Eram livres apenas a África do Sul, a Libéria e a Etiópia. Entre 1957 e 1962, mais 29 países africanos tornaram-se livres! Após 1945 toma corpo um movimento nacionalista africano que pretendia romper com a dependência colonial. As diversas nações seguiram caminhos diferentes, de acordo com dois modelos principais. Um era o modelo soviético com apoio da Internacional Comunista às lutas de emancipação dos povos dominados. O outro, oferecido pelas elites coloniais, geralmente educadas na Europa, propunha reagrupamento político das diferentes etnias, arbitrariamente divididas durante a partilha da África pelas potências coloniais. O Império Colonial Português foi o último a se dissolver. Formado a partir da Expansão Marítima do século XV, havia diminuído bastante a partir do século XVII, perdendo suas colônias para espanhóis, holandeses e ingleses, além de o Brasil ter-se tornado independente. Conservava apenas Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e os arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Na década de 1950, grupos nacionalistas e guerrilheiros levaram adiante um movimento de libertação colonial que contou com o apoio dos países comunistas. A miséria na África resultado de séculos de dominação colonial Angolanos com retrato de Agostinho Neto Você sabia? Localizado nas proximidades da Indonésia, o Timor Leste foi colonizado por Portugal no século XVI. Em 1975 os portugueses retiraram-se da região, deixando uma sociedade mergulhada na miséria e na guerra civil. Entre 1975 e 1999 o Timor viveu sob uma ditadura indonésia, que tentou impor seu idioma e a religião muçulmana a uma população de maioria católica. Em 1999 o Timor Leste tornou-se um território autônomo administrado pela ONU, sob a chefia do brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Em agosto desse mesmo ano a maioria dos timorenses votou pela separação da Indonésia. A independência do Timor efetivou-se em 20 de maio de 2002, e atualmente o país está passando por um processo de reconstrução com apoio da comunidade internacional. Em 1974 ocorreu em Portugal a Revolução dos Cravos, que pôs fim ao governo autoritário de Marcelo Caetano, que havia sucedido o ditador Oliveira Salazar, morto alguns anos antes. O novo governo reconheceu a independência das colônias africanas, pondo fim ao Império Colonial Português. 66 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 67 Principais zonas de conflito no processo de descolonização da África Conflito Revolta dos Mau-Mau Período 1952-1960 Regiões envolvidas Consequências Membros da Tribo Kikuyu, os Mau-Mau 1960: as tropas inglesas deixam o Quênia. do Quênia contra a Inglaterra. 1963: independência do Quênia. Guerra de Independência Grupos nacionalistas tunisianos contra a 1952-1955 1956: independência da Tunísia. da Tunísia França. Guerra de Independência Grupos nacionalistas marroquinos contra a 1953-1956 1956: independência do Marrocos. do Marrocos França. Crise de Suez 1956 Egito contra a Inglarerra e França. O Canal de Suez é nacionalizado pelo Egito e, a partir da intervenção norte-americana, as tropas anglo-francesas deixam a região. 1957: Batalha de Argel, um dos mais violentos conflitos Guerra de Independência Grupos nacionalistas argelinos contra a entre o exército francês e a guerrilha argelina. 1954-1962 da Argélia França. 1963: independência da Argélia, após a retirada francesa da região. Guerra do Congo (Congo Belga, atual Rep. Dem. do 1960-1967 Lutas entre facções nacionalistas. Congo) 1960: Bélgica concede a independência ao Congo, após um violento processo de lutas tribais e regionais. 1967: golpe militar do general Mobutu põe fim ao conflito. Biafra, província nigeriana rica em petróleo, é atingida por Guerra civil na Nigéria a partir de lutas um bloqueio imposto pelo governo da Nigéria. Guerra de Independência 1967-1970 pela independência da província de 1970: impedida de receber alimentos e remédios do exterior, de Biafra a população de Biafra se rendeu, colocando fim à guerra Biafra. civil. Guerra de Independência Grupos nacionalistas angolanos, apoia1961-1975 1975: independência de Angola. de Angola dos pela URSS e China, contra Portugal. Guerra de Independência Portugal contra grupos nacionalistas 1964-1975 1975: independência de Moçambique. de Moçambique apoiados pela União Soviética e China. Guerra Civil de Angola MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) lutou contra O MPLA, movimento com reconhecimento político da ONU, 1975-2002 FNLA (Frente Nacional de Libertação de enfrentou a Guerrilha da UNITA, apoiada pela África do Sul Angola) e UNITA (União Nacional para e Estados Unidos. a Independência Total de Angola). TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-–––––––– O fim do Império Colonial Português “Na década de 1960, os últimos da Guerra Fria, verificaram-se alterações e mudanças importantes no estatuto político de Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e o Arquipélago do Cabo Verde, que vêem sua independência reconhecida, após vinte anos de guerras coloniais (sob a liderança de suas respectivas organizações nacionalistas) e a ocorrência da revolução democrática portuguesa em 1974. Até então, Portugal fazia figura de último baluarte do colonialismo, tal qual fora concebido e praticado – ultracolonialista, assim intitulado, na época, por autores radicais, expoente do colonialismo dependente e subdesenvolvido, na medida em que jamais aceitara fazer qualquer concessão ou mesmo sentar à mesa de reunião com os líderes nacionalistas autênticos. Entre os mais notáveis, distinguiram-se Agostinho Neto, Mario de Andrade e Viriato Cruz do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), Amilcar Cabral, PAIGC (Partido Africano pela Independência da Guiné e de Cabo Verde). Nesse período, a condenação a Portugal vinha de todas as partes. Na ONU, restavam-lhe raros aliados, a Espanha (então franquista) e, obviamente, a África do Sul, tristemente notabilizada pelo cruel regime de dominação, baseado no racismo e na separação absoluta entre brancos (minoria) e negros (grande maioria), o apartheid; este somente foi abolido em 1992, em plebiscito, graças à política de Frederik de Klerk, seguido da eleição de Nelson Mandela como presidente da República da África do Sul (1994). Apesar da reprovação geral, Portugal continuava a receber suprimentos em armas pela OTAN, que eram enviadas aos seus exércitos sediados na África. (…) Finalmente, em 25 de abril de 1974, jovens oficiais das Forças Armadas de Portugal derrubam a ditadura, apoiados no povo, cujas armas eram os cravos que levavam e a alegria estampada nos rostos. Era a democracia em marcha e a decretação do fim do colonialismo. O exército colonial fora derrotado e voltava-se contra a metrópole, em nome da liberdade. 67 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 68 Economicamente, as colônias eram importantes para Portugal, sobretudo o potencial de Angola — petróleo de Cabinda, minérios e recursos agrícolas. Daí serem muitos os interesses em jogo, durante a dominação portuguesa e as duas décadas seguintes à declaração de independência. A nova era, no entanto, não foi de paz. A intransigência do colonialismo português teve como sucessores os participantes da guerra civil que, mais uma vez, trará o caos ao país, agora transformado em mais um cenário da competição internacional, manipulando rivalidades intertribais. A própria divisão do movimento anticolonialista — os três grupos que lideravam a libertação — torna-se crucial após 1974, que marca o fim da dominação portuguesa: o MPLA, multirracial e marxista (URSS), com o predomínio da nação quibundo; a Frente de Libertação Nacional de Angola, anticomunista, apoiada pelos Estados Unidos e pelo ex-Zaire (Congo), no norte do país; a União Nacional pela Independência Total de Angola, inicialmente maoista e que, mais tarde, recebe o apoio da África do Sul, tornando-se anticomunista e mantendo como base de atuação a região centro-sul. Alastra-se a guerra civil, a partir de 1975, com as diferentes facções em luta recebendo apoio de potências estrangeiras. Daí por diante, predomina o caos. A maioria maciça de brancos angolanos (350 mil) emigra, uma parte chega ao Brasil. Tropas sul-africanas invadem Angola, dando suporte ao UNITA no ataque a Luanda. Cuba passa a apoiar militarmente o MPLA. Com a retirada de Portugal, Agostinho Neto, líder do MPLA, é proclamado presidente da República Popular de Angola, cujo regime foi reconhecido como sendo socialista. Com sua morte, em 1979, a presidência passou a seu sucessor, José Eduardo dos Santos, sem vislumbre de paz para a região nem a satisfação dos interesses em jogo.” LINHARES, Maria Yedda Leite.“Descolonização e lutas de libertação nacional” in: O século XX. Rio Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. Verificando se você aprendeu 1. Como pode ser caracterizado o princípio da desobediência civil proposto por Gandhi? 2. Escreva sobre a questão religiosa que se instaurou na Índia após o processo de independência. 3. Em que medida a Revolução dos Cravos se relaciona com o processo de descolonização da África? VO C A B U L Á R I O Apartheid = política de segregação racial, adotada pela República Sul-Africana, de 1948 a 1995, entre seus habitantes, a qual objetivava o predomínio pleno dos brancos sobre negros, mestiços e minorias de origem asiática. Baluarte = bastião, poderoso líder de ideias ou ação. Franquista = relativo ao período da ditadura do General Francisco Franco na Espanha (1939-1975). Nova York, o monumento do poder dos EUA Também contribuíram para essa prosperidade um conjunto de medidas econômicas implantadas internamente que visavam eliminar problemas de desemprego ocasionados pela volta de milhares de soldados norte-americanos que retornavam da guerra para a vida civil. Foram também tomadas medidas para fazer a reconversão da poderosa indústria bélica para a de bens de consumo. A partir da ajuda financeira para a reconstrução europeia — Plano Marshall —, os mercados europeus puderam exportar produtos norte-americanos. Ao mesmo tempo em que o padrão de vida das camadas médias elevava-se, crescia dentro da sociedade norte-americana um forte sentimento anticomunista que foi reforçado após a Revolução Chinesa e a explosão da primeira bomba atômica soviética em 1949. 5. Os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial A prosperidade econômica dos Estados Unidos cresceu após a Segunda Guerra Mundial. Este país haviase beneficiado do fato de não ter que enfrentar combates em seu próprio território, apesar de ter-se envolvido no conflito. O declínio europeu levou a uma desorganização dos mercados internacionais, o que ampliou as possibilidades de negócios para os Estados Unidos. Da mesma forma, o processo de libertação das antigas colônias europeias abriu novos mercados. A América Latina também se firmou como importante área de atuação econômica para os americanos do norte. A Guerra Fria contribuiu para abrir espaço para o imperialismo norte-americano. Com tudo isso, os Estados Unidos tomaram a dianteira, figurando como a principal potência econômica, política e militar do mundo capitalista. No Portal Objetivo Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST9F304 68 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 69 país envolvendo negros e brancos. Em 1954 foram promulgadas leis para integrar os negros na sociedade americana, proibindo, entre outras coisas, a segregação nas escolas. Isso não serviu para acalmar os ânimos, mesmo porque o Congresso americano recusou, na mesma época, um projeto de lei para estender o direito de voto aos negros. Isso ensejou a criação da Comissão dos Direitos Civis que investigaria as violações ao direito de voto baseadas na cor, raça, religião e nacionalidade. Você sabia? Ethel e Julius Rosemberg, um casal de cientistas norte-americanos, foram acusados de revelar segredos da bomba atômica para os soviéticos. Apesar de provas inconsistentes, ambos foram julgados culpados e executados na cadeira elétrica em 1953. Até hoje, seus dois filhos lutam pela sua reabilitação e pelo reconhecimento de um erro judicial por parte do governo dos Estados Unidos. Vamos diferenciar os conceitos? O "macarthismo" Preconceito racial: __________________________ Na década de 1950, no auge da Guerra Fria, os Estados Unidos são atingidos por uma violenta onda anti-comunista notadamente após a criação do Comitê de Atividades Americanas, sob a inspiração do senador republicano Joseph MacCarthy, que desencadeou uma verdadeira “caça às bruxas”. O macarthismo ocasionou intensa perseguição aos intelectuais, artistas e funcionários do governo, e sua prisão, a partir da acusação de serem simpatizantes do movimento comunista. O macarthismo foi neutralizado quando figuras de destaque do exército norte-americano foram acusadas de envolvimento com atividades comunistas. O Senado, em dezembro de 1954, censurou publicamente seu membro Joseph MacCarthy, que renunciou à vida pública. ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ Discriminação racial: ________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ Você sabia? Os escritores Dashiel Hammet e Henry Miller eram alguns dos artistas perseguidos pelo macarthismo. Assim como Charles Chaplin, que chegou a ser impedido de desembarcar nos Estados Unidos após uma viagem à Europa. A perseguição também atingiu os cientistas, como Oppenheimer, criador da primeira bomba atômica. Segregação racial: ___________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ A questão racial A segregação racial nos Estados Unidos vinha desde o final da Guerra de Secessão (1861-1865), depois da qual foram promulgadas leis que restringiam a participação dos negros na sociedade norte-americana. Pelas chamadas Leis Jim Crow, negros no sul do país não podiam frequentar as mesmas escolas que os brancos, viajar nos mesmos ônibus ou utilizar os mesmos locais públicos. A segregação se expandiu por outros setores chegando até mesmo às Forças Armadas. Durante o governo do presidente norte-americano Dwight Eisenhower (1953-1961), do Partido Republicano, houve a eclosão de violentos conflitos raciais no O presidente democrata John F. Kennedy (19611963) apoiou a organização do Movimento pelos Direitos Civis dos Negros, que lutava contra a segregação racial nos Estados Unidos. Conseguiu aprovar no Congresso a Lei dos Direitos Civis, sancionada no governo de Lyndon Johnson (1964-1968). Com isso assegurou-se, entre outras medidas, que os negros tivessem a mesma condição que os brancos para votar e não fossem alvo de restrições de locomoção em transporte coletivo. 69 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 70 anexação da zona do canal do Panamá em 1903. As pretensões imperialistas dos Estados Unidos com relação à América Latina, que vinham desde os fins do século XIX, intensificaram-se após o conflito mundial no contexto da Guerra Fria. Combinavam-se interesses econômicos relativos ao importante mercado que a região significava para os produtos americanos e interesses políticos relativos ao temor norte-americano de que o comunismo se alastrasse pelo continente. Os Estados Unidos intervieram diversas vezes, direta e indiretamente, na política interna dos países latino-americanos. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos – o Pentágono – criou em 1949, em Fort Gulick, na zona do Canal do Panamá, uma escola militar destinada a formar especialistas em assuntos latino-americanos. A “Escola das Américas”, como ficou conhecida, ensinava aos militares técnicas de contraguerrilha, combates na selva e luta contra a subversão. Uma grande parte da elite militar latinoamericana formou-se segundo os princípios dessa instituição. MARTIN LUTHER KING Nasceu em Atlanta no ano de 1929, filho de um pastor protestante. Chegou à universidade, onde se tornou doutor em 1955. O Dr. King foi o grande líder do movimento dos negros pelos direitos civis. Admirador de Gandhi, ele defendia ações pacíficas contra a discriminação racial. Em 1963, após uma gigantesca manifestação em Washington contra o racismo, Martin Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Ele colocou-se contra a Guerra do Vietnã e incitou o povo norte-americano a pressionar os congressistas pelo fim do conflito. Violentamente perseguido, o Dr. Martin Luther King foi assassinado em 1968. Você sabia? Você sabia? Em setembro de 1957 o governador do estado de Arkansas, Orval Faubus, não acatou a legislação que visava à integração racial e mandou tropas estaduais para impedir que estudantes negros da cidade de Little Rock entrassem em uma escola de brancos. Seguiu-se intensa onda de conflitos raciais. Mesmo sob ordem judicial, grupos de brancos, que chegavam a cerca de 1500 pessoas, tentavam impedir que negros entrassem no estabelecimento. Foi preciso haver intervenção federal e que tropas fossem enviadas de Washington para garantir a entrada dos negros na escola! Na “Escola das Américas” surgiu a Doutrina da Segurança Nacional, que propunha o combate ao comunismo através de uma guerra total: econômica, militar, política, social e psicológica. A política externa do presidente John F. Kennedy, denominada Nova Fronteira, era orientada no sentido de conter a União Soviética por meio do aumento do arsenal bélico norte-americano e do fortalecimento dos laços com países aliados. Nesse contexto, a criação da Aliança para o Progresso, em 1961, representou a tentativa norte-americana de fortalecer os laços capitalistas na América Latina, impedindo que a ideologia comunista se alastrasse nessa região. Em seu governo, ocorreu o episódio da Baía dos Porcos, no qual exilados cubanos treinados nos Estados Unidos tentaram derrubar o governo de Fidel Castro em Cuba. A interferência na vida política interna dos países latino-americanos continuou para além da década de 1960. A participação dos norte-americanos foi feita pelos meios diplomáticos, mas também de outras maneiras. As forças armadas de diferentes países latino-americanos, por exemplo, contaram com o auxílio norte-americano para o treinamento militar e também é sabido que a CIA contribuiu para a instalação de ditaduras no continente, As relações com a América Latina Após a ocupação da porção territorial do Oeste, os Estados Unidos voltaram-se para a América Latina, apossando-se, em 1848, da metade do território mexicano. No final do século XIX, a América Central passa por sucessivas intervenções militares, culminando com a Guerra Hispano-Americana, que colocou Cuba e Porto Rico sob o domínio de Washington. A presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909) definiu a política do Big Stick (grande porrete), também conhecida como a “diplomacia do dólar”, que proclamava os Estados Unidos como o “guardião do continente americano”. Nesse contexto podemos entender a 70 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 71 TEXTO 1 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A hegemonia dos EUA “Em terceiro lugar, por fim, à medida que as “fronteiras” econômicas e políticas dos Estados Unidos se estendiam para o sul (desde a anexação do Texas, em 1845, separado do território do México), tanto as economias como os sistemas políticos latino-americanos comprometeram-se cada vez mais com a hegemonia norte-americana. Assim, sempre que a primazia dos Estados Unidos se armava ou expandia, reduzia-se ou eliminava-se a presença inglesa (e, em menor escala, a presença alemã e francesa) na América Latina. Paulatinamente, a Doutrina Monroe foi imposta ou assimilada pelos grupos dirigentes dos países latino-americanos, seja por intermédio da big stick policy, seja por meio da good neighbour policy. Em síntese, a concretização da primazia absoluta dos Estados Unidos sobre as nações da América Latina desenrolou-se ao longo de cerca de pouco mais de cem anos (desde a anexação do Texas, em 1845, até a deposição de Perón, em 1955). É claro que a supremacia crescente dos Estados Unidos na América Latina e em outros continentes se beneficiou bastante da posição geográfica privilegiada daquele país, em face dos centros mais críticos do próprio sistema capitalista mundial. Nas duas guerras mundiais, países latino-americanos, sem sentido dominante daquele país beneficiaria tanto dos resultados da "economia de guerra" como dos "despojos" de guerra. É óbvio que esse processo de "conquista" da América Latina não se desenrolou sem contratempos, para os Estados Unidos. Exigiu manobras políticas, lutas armadas, compromissos econômicos, refinamentos diplomáticos, sofisticação intelectual etc. Exigiu tanto o estímulo à adoção de processos políticos eleitorais (de estilo democrático) como o incentivo ou a preparação de golpes de Estado. Além disso, a "conquista" da América Latina sofreu contratempos ainda mais graves. À medida que se instaurava, geravam-se reações locais, ou acentuavam-se contradições preexistentes. Nesse contexto, por exemplo, surgiu a vitória do socialismo em Cuba. E nesse contexto, também, Porto Rico vem sendo paulatinamente incorporado pelos Estados Unidos. Aliás, talvez o destino dos povos dessas duas ilhas simbolizem os limites das possibilidades históricas reservadas aos povos da América Latina. É nesses termos, em síntese, que as estruturas de dependência que caracterizam as sociedades latinoamericanas foram instauradas e desenvolveram-se. Por esses motivos é que se pode afirmar que essas sociedades se defrontam com a dependência enquanto um processo histórico, constitutivo, como algo que lhes define a essência. É claro que essas sociedades são capitalistas, antes de mais nada. Mas este é o John Kennedy, o criador da Aliança seu caráter geral. O que lhes é particular é a dependência estrutural, que revela a feição específica do para o Progresso, em 1961, um procapitalismo na América Latina.” grama voltado para a América Latina IANNI, Octavio, Imperialismo na América Latina, Rio de Janeiro, 1974. Trabalhando com texto A partir da leitura do texto “A Hegemonia dos Estados Unidos”, responda às questões: 1. Você estudou anteriormente a Doutrina Monroe. Explique o momento histórico de sua criação. ______________________________________________________________________________________________ 2. Que relação histórica pode ser estabelecida entre a Doutrina Monroe, a “big stick policy” e a “good neighbour policy”? ______________________________________________________________________________________________ 3. Qual a base ideológica que definiu a criação da Aliança para o Progresso, em 1961? ______________________________________________________________________________________________ VO C A B U L Á R I O americanos. Hegemonia = dominação. Paulatinamente = lentamente, vagarosamente. Primazia = prioridade, aquilo ou aquele que ocupa o primeiro lugar. “Good neighbour policy” = política da boa vizinhança. Expressão utilizada para designar a relação de dominação e dependência entre os Estados Unidos e os países latino- No Portal Objetivo Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST9F305 71 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 72 EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 1. Ampliando a Discussão O grande poder de fogo das Forças Armadas norte-americanas sobre um território exíguo como o do Vietnã criava problemas novos. A estratégia revolucionária teria de ser diferente da empregada pelos chineses, adaptada pelos próprios vietnamitas contra os franceses, que, apesar da superioridade numérica e material sobre o Viet Minh, estava longe da assimetria do poder norte-americano contra a FNL. Além disso, o espaço de luta era menor, abarcando de início apenas o Sul e parte do Laos, zonas pouco povoadas, ao contrário da guerra franco-indochinesa, teve seu principal teatro de operações no Norte, mas que abarcava toda a Indochina. Além disso, houve um fenômeno de urbanização forçada no Sul, em virtude da expulsão, dos bombardeios ou do próprio combate nas zonas rurais. A cidade de Saigon passou de 500 mil habitantes no início da intervenção americana para 4 milhões na época da unificação. A cidade das cem mil prostitutas era assim caracterizada pelo Time: A melhor maneira de ganharmos esta guerra seria convidar Ho Chi Minh para visitar a cidade. Depois de uma rápida olhada e cheirada, ele declararia: ‘Nós não queremos nenhum pedaço disto!’. Em contrapartida, os constantes bombardeios às indústrias e aos transportes no Norte obrigaram a RDV a descentralizar as fábricas, enviar parte da população das cidades (sobretudo velhos e crianças) para o campo, distribuir armas para a população reagir aos ataques aéreos e organizar uma economia de guerra. Vo Nguyen Giap e os outros membros do comando estratégico revolucionário decidiram desencadear a guerra total do povo inteiro, mobilizando toda a população no esforço militar e produtivo. Mas Giap sabia que isso não era suficiente, pois precisava de uma organização técnico-científica (segundo Giap, parafraseando Marx, isso correspondia à passagem do artesanato à mecanização no combate). Formaram-se tropas de elite fortes, com preparo técnico e organização moderna (os “capacetes duros” já mencionados). A modernização das tropas foi possível graças ao auxílio dos países socialistas. Em 1961, a FNL ainda contava com armamento antiquado. Os guerrilheiros tiveram de aprender a técnica do inimigo e adaptá-la à guerra popular, para tornar eficaz o uso das armas modernas soviéticas, chinesas e tchecoslovacas que passaram a receber: fuzis AK-47, lançafoguetes portáteis de 109, 122 e 140 milímetros (com precisão de 9 a 14 quilômetros) e os tanques PT76 e T34. A tática de guerra popular concentrava-se nos ataques à retaguarda inimiga, fazendo com que a frente de combate se encontrasse em todos os lugares, nas montanhas, nos deltas e nas cidades. Pequenas unidades móveis com morteiros e foguetes, além de armas leves, atacavam os postos do inimigo incessantemente. Só assim era possível empregar “poucos contra muitos”, isto é, ataques com efetivos limitados a pontos estratégicos. Tratava-se de uma guerra prolongada com economia máxima de forças, apoiando-se nas “três retaguardas”: as montanhas no Sul, a RDV no Norte e os países socialistas. Na verdade, a estratégia baseava-se no desgaste psicológico das tropas do adversário: a Infantaria norte-americana já havia mostrado suas limitações na Segunda Guerra Mundial1. A longa “guerra suja” destruiria o moral e a combatividade do Exército norte-americano. Saiba mais sobre a Guerra do Vietnã lendo o texto abaixo e respondendo às questões. A Guerra de Libertação Nacional (1965-1975) A escalada norte-americana altera as bases da guerra. A maior potência militar, econômica e tecnológica do planeta confronta-se diretamente com o povo de um pequeno país subdesenvolvido (ainda que apoiado pelos países socialistas). Uma década de grandes transformações no mundo, uma década de violência total contra a população vietnamita, década de uma guerra desigual, mas que terminará com a derrota do mais forte. Uma guerra revolucionária, com profundas repercussões políticas, e um evento que simboliza a nova realidade internacional. Uma guerra com um significado tão importante que, mal terminada, começa a ser abafada pelo silêncio ou, quando tal não é possível, deturpada pela astúcia de políticos, historiadores, jornalistas, romancistas e cineastas. A ESTRATÉGIA DA CONTRA-INSURGÊNCIA (1965-1968) Os norte-americanos jogaram no Vietnã meios de destruição poderosíssimos. Os GIs (soldados norte-americanos), que em 1965 somavam 25 mil no país, atingiram 600 mil em 1968. A 1.a Divisão de Cavalaria Aerotransportada tinha 15 mil soldados de elite e quinhentos helicópteros ultramodernos. Para ela, foi construido o maior heliporto do mundo, An Khe, com 5 quilômetros de largura por 7 quilômetros de extensão. Os superbombardeiros B-52 foram instalados em várias bases do Vietnã do Sul e da Tailândia, além de outros tipos de aparelhos no porta-aviões da 7.a frota e no Laos. Além disso, o Exército e as milícias do governo de Saigon atingiram um milhão de efetivos bem armados pelos Estados Unidos. (...) O objetivo norte-americano é o de uma guerra clássica geograficamente limitada (como as do século XVIII); embora devesse ser rápida e intensa, não poderia ameaçar o equilíbrio internacional nem causar problemas internos. Além dos objetivos geopolíticos de Washington na Ásia e do “combate ao comunismo”, a guerra visava a neutralizar as revoluções do Terceiro Mundo, reforçar a hegemonia norte-americana sobre seus próprios aliados (que começavam a se preocupar mais com os negócios que com a Guerra Fria), além de dar vazão à indústria armamentista e estimular a economia dos Estados Unidos. O uso de grandes meios para a consecução de objetivos limitados contrastava com a política francesa da Primeira Guerra da Indochina, em que se dispunham de meios limitados para um objetivo mais amplo. Apesar das vantagens norte-americanas, a situação produzia seus próprios limites. A presença norte-americana desmoralizava o governo de Saigon, tal como o de Bao Dai o fora pelos franceses. Além disso, o prolongamento da guerra obrigava os Estados Unidos a um envolvimento cada vez mais arriscado. Em contrapartida, o fato de não haver soldados soviéticos ou chineses auxiliando a RDV reforçava a legitimidade internacional de Hanói como nação agredida, além de reforçar a causa nacional no plano doméstico. VISENTINI, Paulo Fagundes. A Revolução Vietnamita. SP, Editora UNESP, 2007, pp. 71-74. 72 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 73 1 O Exército terrestre dos Estados Unidos, burocrático e integrado especialmente por minorias étnicas (“buchas de canhão”), sempre dependeu de apoio aéreo e superioridade de meios para lutar de modo satisfatório. Revelando desempenho limitado, ao contrário da Marinha e da Força Aérea. 2. Trabalhando com texto O texto a seguir foi extraído do livro autobiográfico de Jung Chang, Cisnes Selvagens. Nele você pode encontrar a história vivida pela autora e sua família na China, à época da instalação do comunismo, em um relato carregado de emoção. Após ler o texto, responda às questões propostas. 1. Faça um levantamento das palavras desconhecidas e registre seu significado. “A mulher capaz consegue preparar uma refeição sem alimentos” “No outono de 1958, quando eu tinha seis anos, comecei a estudar numa escola primária que ficava a uns vinte minutos a pé de minha casa, passando sobretudo por becos lamacentos calçados de pedra. Todo dia, na ida e na volta da escola, eu apurava os olhos sobre cada centímetro do chão, em busca de pregos quebrados, parafusos enferrujados e quaisquer outros objetos de metal enfiados na lama entre as pedras. Destinavam-se a alimentar os altos-fornos para produzir aço, que era minha grande ocupação. É, aos seis anos, eu estava metida na produção de aço, e tinha de concorrer com os colegas de escola para ver quem entregava mais ferro-velho. Em toda minha volta, música edificante estrondava dos alto-falantes, e havia faixas, cartazes e imensos slogans pintados nas paredes proclamando: “Viva o Grande o Salto para a Frente!” e “Vocês Todos, Produzam Aço!”. Embora eu não entendesse inteiramente o motivo, sabia que o presidente Mao tinha ordenado ao país que produzisse muito aço. Em minha escola, tachos parecendo cadinhos haviam substituído alguns de nossos woks sobre os gigantescos fogões da cozinha. Despejávamos neles todo o nosso ferro-velho, incluindo os velhos woks, que haviam sido despedaçados. Os fogões eram mantidos sempre acesos – até o ferro derreter. Nossos professores se revezavam para alimentá-los vinte e quatro horas por dia, mexendo os pedaços de ferro nos tachos com uma colher enorme. Não tínhamos muitas aulas, pois os professores preocupavam-se apenas com os tachos. E também as crianças maiores, adolescentes. As outras eram organizadas para fazer a faxina nos apartamentos dos professores e servir de babá para os filhos deles. Lembro-me de que certa vez fui a um hospital com outras crianças, para visitar uma de nossas professoras, que se queimara seriamente quando o ferro derretido salpicara em seus braços. Médicos e enfermeiros de bata branca corriam frenéticos de um lado para outro. Havia um forno nas instalações no hospital, e eles tinham de pôr achas de lenha o tempo todo, mesmo quando realizavam operações, e pela noite adentro. (…) Foi nessa época que Mao deu plena expressão ao seu sonho meio cru de transformar a China numa potência moderna de primeira classe. Chamava o aço de “marechal” da indústria, e ordenou que a produção duplicasse em um ano — passando de 5,35 milhões de toneladas em 1957 para 10,7 milhões em 1958. Mas em vez de tentar expandir a indústria siderúrgica propriamente dita com trabalhadores qualificados, decidiu fazer toda a população participar. Havia uma cota de aço para toda unidade, e durante meses as pessoas paralisaram suas atividades normais para preenchê-la. O desenvolvimento econômico do país foi reduzido à questão simplista de quantas toneladas de aço se podia produzir, e todo o país foi lançado 2. Relacione a Guerra do Vietnã ao contexto da Guerra Fria. 3. Como pode ser entendida a participação dos Estados Unidos nesse conflito? 73 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 74 nesse ato único. Estimou-se oficialmente que quase 100 milhões de camponeses foram retirados do trabalho agrícola para a produção de aço. Eram a força de trabalho que produzia grande parte dos alimentos do país. (…) Essa situação absurda refletiu não apenas a ignorância de Mao quanto ao funcionamento da economia, mas também uma desconsideração quase metafísica pela realidade, o que embora pudesse ser interessante num poeta, num líder político com poder absoluto era trágico. Um de seus principais componentes era um enraizado desprezo pela vida humana. Não muito antes disso, ele dissera ao embaixador finlandês: “Mesmo que os Estados Unidos tivessem bombas atômicas mais potentes e as lançassem sobre a China, abrissem um buraco na terra ou a fizessem em pedaços, embora isso pudesse ser muito importante para o sistema solar, ainda seria algo insignificante para o universo como um todo”. O voluntarismo de Mao fora alimentado por sua recente experiência na Rússia. Cada vez mais desiludido com Kruchev após a denúncia que este fizera de Stalin em 1956, Mao foi a Moscou em fins de 1957 participar de uma conferência de cúpula comunista. Voltou convencido de que a Rússia e seus aliados estavam abandonando o socialismo e tornando-se “revisionistas”. Via a China como o único bastião autêntico. Tinha de abrir a fogo um novo caminho. Megalomania e voluntarismo fundiam-se facilmente na cabeça de Mao. A fixação dele com o aço, em grande parte, não foi questionada, como não o foram suas outras obsessões. Tomouse de antipatia pelos pardais — eles devoram os grãos. Por isso, toda família foi mobilizada. Nós ficávamos sentados batendo furiosamente em qualquer objeto de metal, de címbalos a frigideiras, a fim de espantar os pardais das árvores, de modo que acabassem morrendo de exaustão. Até hoje posso ouvir com nitidez a barulheira feita por meus irmãos e por mim, e também por autoridades do governo, sentados debaixo de uma gigantesca árvore em nosso pátio. Havia também metas econômicas fantásticas. Mao dizia que a produção industrial da China poderia ultrapassar a dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha dentro de quinze anos. Para os chineses, esses países representavam o mundo capitalista. Superá-los seria visto como um triunfo contra seus inimigos. Evocou-se, assim, o orgulho das pessoas, inflando-se enormemente o entusiasmo delas. Elas haviam se sentindo humilhadas com a recusa dos Estados Unidos e de outros grandes países do Ocidente a conceder reconhecimento diplomático, e estavam tão ávidas para mostrar ao mundo que podiam vencer sozinhas que não hesitavam em acreditar em milagres. Mao deu a inspiração. A energia da população estava ávida para encontrar uma saída. E ela estava ali. O espiríto de vamos-lá superou a cautela, assim como a ignorância triunfou sobre a razão. No início de 1958, pouco depois de voltar de Moscou, Mao visitou Chengdu por cerca de um mês. Estava aceso com a ideia de que a China podia fazer qualquer coisa, sobretudo tomar dos russos a liderança do socialismo. Foi em Chengdu que ele esboçou seu Grande Salto para a Frente. A cidade organizou um grande desfile para ele, mas os participantes não tinham a menor ideia de que Mao estava ali. Ele ficou escondido. Nesse desfile, criou-se um slogan: “A mulher capaz pode preparar uma refeição sem alimentos”, uma inversão de um antigo e pragmático ditado chinês: “Por mais capaz que seja, uma mulher não pode preparar uma refeição sem alimentos”. A retórica exagerada transformara-se em exigências concretas. Esperava-se que fantasias impossíveis se tornassem realidade.” CHANG, Jung. Cisnes Selvagens. São Paulo, Companhia das Letras, 1994, pp. 203-205. A. Sublinhe as palavras desconhecidas e registre o seu significado. B. Qual foi o significado histórico do “Grande Salto para a Frente”? C. Discuta a frase que dá título ao texto: “A mulher capaz pode preparar uma refeição sem alimentos”. 3. Verificando se você aprendeu Forme frases, com sentido histórico, utilizando as seguintes palavras ou expressões. Conferência de Bandung: ______________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ Império Colonial Português: ____________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ Terceiro Mundo: _____________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ Lutas de Libertação Nacional: ___________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ 74 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 75 4. Desafio Histórico – Minipesquisa. 1. Por que razão o movimento revolucionário de 25 de abril de 1974, em Portugal, recebeu o nome de Revolução dos Cravos? 5. Ampliando a Discussão Vamos entender melhor o processo de reconstrução e de relações internacionais das antigas colônias portuguesas em África! Utilize diferentes fontes de pesquisa, inclusive a página oficial dos seguintes países na Internet: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe. Escolha um país para pesquisar, compartilhe suas descobertas em sala de aula. 75 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 76 CAPÍTULO 11 Buscando Novas Alternativas Vamos discutir esse assunto? Leia o texto abaixo sobre a indústria cultural e siga o roteiro proposto. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A indústria cultural “(…) A indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura surgem como funções do fenômeno da industrialização. É esta, através das alterações que produz no modo de produção e na forma do trabalho humano, que determina um tipo particular de indústria (a cultural) e de cultura (a de massa), implantando numa e noutra os mesmo princípios em vigor na produção econômica em geral: o uso crescente da máquina e a submissão do ritmo humano de trabalho ao ritmo da máquina; a exploração do trabalhador; a divisão do trabalho. Estes são alguns dos traços marcantes da sociedade capitalista liberal, onde é nítida a oposição de classes e em cujo interior começa a surgir a cultura de massa. Dois desses traços merecem uma atenção especial: a reificação (ou transformação em coisa: a coisificação) e a alienação. Para essa sociedade, o padrão maior (ou único) de avaliação tende a ser a coisa, o bem, o produto, a propriedade: tudo é julgado como coisa, portanto tudo se transforma em coisa — inclusive o homem. E esse homem reificado só pode ser um homem alienado; alienado de seu trabalho, trocado por um valor em moeda inferior às forças por ele gastas; alienado do produto de seu trabalho, que ele mesmo não pode comprar, pois seu trabalho não é remunerado à altura do produzido; alienado de seus projetos, da vida do país, de sua própria vida, uma vez que não dispõe de tempo livre, nem de instrumentos teóricos capazes de permitir-lhe a crítica de si mesmo e da sociedade. Nesse quadro, também a cultura — feita em série, industrialmente, para o grande número — passa a ser vista não como instrumento de crítica e conhecimento, mas como produto trocável por dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer outra coisa. E produto feito de acordo com as normas gerais em vigor: produto padronizado, como uma espécie de kit para montar, um tipo de pré-confecção feito para atender necessidades e gostos médios de um público que não tem tempo de questionar o que consome. Uma cultura perecível, como qualquer peça de vestuário. Uma cultura que não vale mais como algo a ser usado pelo indivíduo ou grupo que a produziu e que funciona, quase exclusivamente, como valor de troca (por dinheiro) para quem a produz. Esse é o quadro caracterizador da indústria cultural: revolução industrial, capitalismo liberal, economia de mercado, sociedade de consumo. É esse o momento histórico do aparecimento de uma cultura de massa — ou, pelo menos, o momento préhistórico. É que, de um lado, surgem como grandes instantes históricos dessa cultura os períodos marcados pela Era da Eletricidade (fim do século XIX) e pela Era da Eletrônica (a partir da terceira década do século XX) — quando o poder de penetração dos meios de comunicação se torna praticamente irrefreável. E, por outro lado, na medida em que a cultura de massa está ligada ao fenômeno do consumo, o momento de A televisão altera a vida das famílias, que se reúnem ao seu redor na sala de visitas 1. Discutindo a História: A indústria cultural O surgimento da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa, como o rádio, o cinema e a televisão, constitui-se num dos mais importantes fenômenos característicos do século XX. Relaciona-se à expansão do capitalismo industrial que levou à consolidação da sociedade de consumo em que vivemos. A cultura de massa, daí advinda, tornou-se um bem de consumo, condicionada pelas regras de mercado e sujeita à dinâmica do capitalismo. Em meados daquele século esse fenômeno já estava consolidado. O cinema popularizou-se em escala mundial nos anos de 1940. O rádio, bastante difundido mesmo antes, tornou-se o meio mais acessível para as populações mais pobres. A televisão chegou um pouco depois em partes mais distantes do planeta, mas já na década de 1950 alterava os hábitos cotidianos da população urbana dos países desenvolvidos. Jornais, revistas e livros, embora já fossem produtos culturais mais antigos, conheceram uma expansão inédita devido aos novos meios de reprodução e às possibilidades de distribuição que os levaram a pontos antes inatingíveis. É certo que nem todas as pessoas têm as mesmas oportunidades de acesso a esses bens culturais, devido às desigualdades sociais que limitam as chances de obtêlos. Entretanto, não há como negar, os meios de comunicação de massas e a indústria cultural produziram transformações profundas nas formas de viver das sociedades humanas em seu conjunto. 76 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2014 27/03/14 15:20 Page 77 instalação definitiva dessa cultura seria mesmo o século XX, onde o capitalismo não mais dito liberal mas, agora, um capitalismo de organização (ou monopolista) criará as condições para uma efetiva sociedade de consumo cimentada, em ampla medida, por veículos como a TV. Está claro que essa sociedade de consumo se realiza mais no Primeiro Mundo (EUA, Alemanha, Japão, Inglaterra etc.) do que no Segundo (os países socialistas) e no Terceiro Mundo (os subdesenvolvidos). Nestes dois últimos, o consumo existe antes como valor ainda a alcançar, como meta ainda irrealizada; mesmo assim, ele orienta a organização da sociedade, tendendo a fazê-lo segundo os moldes das sociedades do Primeiro Mundo — razão pela qual todos esses traços típicos da indústria cultural (e seu produto, a cultura de massa) nos países desenvolvidos acabam por ser válidos, em linhas gerais, na análise do mesmo fenômeno nas demais regiões.” Alienação: _________________________________ _ ___________________________________________ ___________________________________________ 2. De acordo com o texto: a) A industrialização teria trazido a reificação do homem e sua alienação. Discuta essa ideia e escreva sua conclusão. COELHO, Teixeira – O que é indústria cultural. S. Paulo, Brasiliense, 1985, p. 10-13. 1. O texto que você leu apresenta conceitos importantes que você precisa conhecer. Com o auxílio de seu professor, complete os quadros abaixo: b) Que características são assumidas pela cultura na sociedade industrial? Indústria cultural: __________________________ ___________________________________________ c) Por que os traços da cultura de massa das sociedades industrializadas podem servir para discutir também a cultura do Terceiro Mundo? ___________________________________________ ___________________________________________ Sociedade de consumo: ______________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ 3. Para discutir com seus colegas: Como se apresenta a cultura de massa no Brasil hoje? Considere em sua discussão: a) Influência estrangeira. b) Os papel dos meios de comunicação (rádio, TV, cinema) c) O caráter de “crítica” ou “alienação” dos produtos culturais. d) A adequação social das mensagens veiculadas (erotização, incentivo ao consumo, valores etc). ___________________________________________ Cultura de massa: __________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ VO C A B U L Á R I O Reificação: _________________________________ ___________________________________________ Irrefreável = que não pode ser contido, irreprimível. Mensagens veiculadas = transmitidas, propagadas. Os meios de comunicação são também conhecidos como veículos de comunicação. Perecível = que pode ser extinto, destruído ou esgotado. ___________________________________________ ___________________________________________ 77 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2016 12/05/16 11:23 Página 78 Ampliando a discussão Bell Atlantic (atualmente Verizon Communications) foi, a partir de 1995, uma das primeiras empresas norteamericanas de telefonia a atuar no mercado de TV a cabo (1994, elas eram proibidas de atuar nesse ramo, sob a alegação de que isso facilitaria a formação de monopólios. Nesse ano foi aprovada nos EUA uma lei que revogou o impedimento legal). Além das aquisições de alguns antigos estúdios de Hollywood por firmas de hardware (eletrônicos e campanhias telefônicas), há também a compra de outros deles por empresas de comunicação que haviam rapidamente se adaptado ao mercado da comunicação globalizada: a supramencionada Time-Life adquiriu, em 1989, a Warner e em 2001 encerrou o processo de fusão com a AOL – provedor mundial de internet –, criando o maior conglomerado licenciador de direitos de produtos audiovisuais do mundo e havia comprado a MTV da Warner em 1985, criando, logo após, o canal infantil Nickelodeon, comprou em 1994 o legendário estúdio Paramount. Leia o texto abaixo que trata do panorama mais recente na indústria cultural e responda às questões prospostas. A indústria cultural hoje Uma das constatações mais evidentes no tocante à comparação entre a indústria cultural de hoje e a de setenta anos atrás é que a nova mundialização do capitalismo internacional, iniciada a partir da virada dos anos 1980 para os 1990 e consolidada após o fim do bloco soviético. No entanto, essa globalização dos meios de comunicação não se dá em termos recíprocos entre os participantes do mercado mundial de comunicações, já que representa, na verdade, um reforço na “estadunização” da cultura de massa em todo o planeta, o que pode ser demonstrado por fatos como os que se seguem: em 1991, 30% da transmissão televisiva na Europa eram de produtos estadunidenses; na Alemanha o índice chegava a 67%. Por outro lado, a esmagadora maioria de toda produção européia de televisão dessa época – cerca de 90% – nunca deixou seus países de origem, não havendo, no presente, dados que desmintam esse quadro do início da globalização. Se a situação é essa em relação a países ricos, como os mais desenvolvidos da Europa, pode-se imaginar o que ocorre no resto do mundo: a consolidação dos Estados Unidos como o grande produtor mundial e todos os outros países majoritariamente como meros consumidores dessa produção. Mesmo considerando o grande crescimento da produção cinematográfica de vários países asiáticos ou mesmo da América Latina, o quadro permanece de inquestionável hegemonia norte-americana. Outro fenômeno (...) é a tendência, desde o início da globalização, ao predomínio de oligopólios de hardware (muitos deles de origem japonesa) na aquisição dos antigos estúdios, que se estabeleceram em Hollywood, no início da década de 1910, e se tornaram, ao lado do século XX, megaprodutores do cinema. A Sony, por exemplo, que já em 1988 comprara a CBS, adquiriu, no início da década de 1990, a Columbia Pictures e possui, desde 1996, o seu próprio canal de televisão (Sony Television). A Matsushita, proprietária de marcas como a Panasonic e a JVC assumiu à mesma época o controle da MCA Universal. A Toshiba se associou em meados da década de 1990 à Time Warner (...) para desenvolverem conjuntamente o hoje tão popular DVD. Além desses conglomerados de indústria eletrônica, destaca-se o papel que companhias telefônicas norteamericanas tiveram no surgimento da “indústria cultural global, como, por exemplo, a AT&T, que desenvolveu videogames juntamente com a Silicon Graphics – autora dos efeitos especiais de O Parque dos Dinossauros. A DURÃO, Fábio A., ZUIN, Antônio e VAZ, Alexandre F. A indústria cultural hoje. São Paulo, Boitempo Editorial, 2008. 1. De acordo com o texto a mundialização do capital produziu efeitos na indústria cultural tradicional. Que exemplos ele aponta? 2. Lê-se no texto: “a consolidação dos Estados Unidos como o grande produtor mundial e todos os outros países majoritamente como meros consumidores dessa produção”. Você concorda com a frase? Cite exemplos para justificar sua opinião. 3. Vivemos atualmente a convivência de várias mídias: TV, Internet, cinema, rádio, jornais e revistas. Do seu ponto de vista, qual o papel desses meios de comunicação na produção e difusão de produtos culturais? 78 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 79 2. Os caminhos políticos da América Latina lização. No século XX esse processo se intensificou, sobretudo nos períodos das duas guerras mundiais. Deve-se ressaltar que a industrialização alcançou mais alguns países que outros e ficou restrita a algumas regiões. Após a Segunda Guerra os Estados Unidos voltam-se para a América Latina como investidores, exportadores de capitais e de tecnologia, agindo na estimulação das atividades industriais. Nesse processo, a industrialização latino-americana acentuou a dependência econômica, ao contar com uma intensa participação do capital estrangeiro sem que houvesse transferência de tecnologia. Vale lembrar que as iniciativas de industrialização ocorreram, em grande medida, em modelos econômicos estatizantes. A industrialização foi acompanhada do crescimento das cidades. Houve um aumento dos setores sociais urbanos. As classes médias e o operariado passaram a significar uma força política de peso. Nesse contexto, surge o populismo na América Latina, que se apresenta como uma forma de absorver e controlar a força política das massas urbanas. A divisão histórico – cultural e social das Américas Para entender melhor… Introdução “Teoria da Dependência: esta teoria explica o subdesenvolvimento como resultado de forças externas. Ou seja, da dominação dos países ricos que extraem excedentes dos países pobres, na área capitalista. A apropriação desse excedente (produto, na era colonial; remessa de lucros, atualmente) gera, por sua vez, o desenvolvimento dos países ricos. Entre seus pensadores mais destacados estão Paul Baran e André Gunder Frank. Essa teoria tem sido criticada por minimizar, em sua explicação do subdesenvolvimento, tanto as análises do modo e das relações de produção quanto os conflitos de classe; uma vez que entende a exploração não como uma exploração de classe, mas dos países ricos sobre os pobres.” O continente americano não se define apenas pelas fronteiras e pela divisão política. O Rio Grande, entre os Estados Unidos e o México, é um marco divisor entre a América Anglo-Saxônica e a América Latina. Cenário de três séculos de dominação colonial, os países latino-americanos desenvolveram-se, historicamente, dentro de um processo de dependência dos grandes polos econômicos mundiais. Ao imperialismo britânico seguiu-se, no início do século XX, a dominação norte-americana na América Latina. A presença norte-americana Os países latino-americanos figuram no mercado mundial, de acordo com a divisão internacional do trabalho, como tradicionais produtores de matériasprimas e consumidores de bens industrializados importados. Entretanto, desde o final do século XIX a América Latina já vinha encaminhando um processo de industria- PAES, Maria Helena – A década de 60. São Paulo, Ática, 1992, p. 91. 79 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 80 O populismo na América Latina Desde a década de 1930 surgiram na América Latina regimes populistas. Getúlio Vargas no Brasil (19301945), Juan Domingo Perón na Argentina (1946-1955) e Lázaro Cárdenas no México (1934-1940) foram seus principais representares políticos. O populismo foi um sistema de dominação política latino-americana, típico da passagem de uma sociedade rural para a urbanoindustrial. Os líderes populistas conquistavam ou mantinham seu poder manipulando o eleitorado e as massas populares urbanas. O Estado populista criou uma política de conciliação de classes sociais e defendia reformas sociais limitadas, para manter o apoio popular. O populismo foi responsável por reformas importantes, como a legislação trabalhista no Brasil. Lázaro Cárdenas – presidente mexicano (1934 a 1940) Lázaro Cárdenas foi eleito presidente do México em 1934, dando início a um processo de nacionalização e distribuição de milhões de hectares de terras aos camponeses, retomando o projeto de reforma agrária do ejido, da época da Revolução Mexicana, e de apoio financeiro aos camponeses. As greves operárias deixaram de ser reprimidas, e várias leis ampliando os direitos sociais foram aprovadas. Em 1938 o governo Cárdenas criou a Pemex – Petróleo Mexicano – que oficilizava o monopólio estatal sobre a extração e distribuição de petróleo. O governo Cárdenas colocou-se na ótica do populismo, na medida em que atrelou os movimentos populares ao Estado, neutralizando-os politicamente. Empreendendo reformas importantes, esse governo, todavia, fortaleceu a burguesia mexicana, que se tornou parceira e aliada dos Estados Unidos. O governo de Lázaro Cárdenas O populismo de Perón Em junho de 1943, o argentino Ramón Castillo foi deposto da presidência por um golpe militar, articulado por jovens oficiais portenhos de ideias próximas ao nazi-fascismo. Com Castillo foram afastados do poder políticos ligados aos grandes proprietários de terra, que mantinham a economia atrelada ao capital estrangeiro. Um desses oficiais era Juan Domingo Perón – filho de um dos mais importantes criadores de gado da Argentina – que de 1939 a 1941 atuou junto ao exército italiano, conhecendo os princípios ideológicos do fascismo. Participando do novo governo, Perón tornou-se uma espécie de eminência parda, acumulando os cargos de Vice-Presidente, Secretário do Trabalho e Bem-Estar Social e Ministro da Guerra. Em seus discursos pregava o fim da luta de classes e a conciliação entre patrões e empregados. Criou uma Confederação Geral do Trabalho (CGT), neutralizou a participação de grupos socialistas e comunistas nos sindicatos e passou a reprimir violentamente toda e qualquer oposição política. O governo peronista foi consolidado junto a uma sólida base de apoio na classe operária, através da implantação da legislação trabalhista e previdenciária: pensão para os aposentados, férias remuneradas, aumentos salariais. “A Trincheira” – referência à Revolução Mexicana – tela do mexicano José Clemente Orozco Você sabia? A Revolução Mexicana, considerada como a primeira revolução camponesa da América, teve início em 1910 sob a liderança de Francisco Madero que, refugiado no Texas, pregava a devolução de terras aos camponeses e reformas eleitorais. O movimento ganha adesão dos líderes camponeses Emiliano Zapata e Pancho Villa. Os Estados Unidos pressionavam o país, ameaçando-o com possíveis intervenções armadas. A década de 1920 marcou, no México, um período de paralisação das lutas sociais. Zapata foi morto em uma emboscada em 1919 e Pancho Villa foi assassinado em 1923. 80 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 81 A morte de Evita, em 1952, aprofundou a crise argentina, agravada por denúncias de corrupção e pelo rompimento do governo com a Igreja, acusada de intervir nos assuntos de Estado. A aliança de forças políticas de oposição desencadeou um golpe militar que, em setembro de 1955, retirou Juan Domingo Perón da presidência. Perón exilou-se no Paraguai e depois na Espanha. Perón retornou do exílio em 1973, elegendo-se presidente da Argentina. Com idade bastante avançada, veio a falecer em 1974. Sua mulher, Isabel de Perón – Isabelita –, assumiu a função de chefe de Estado. O país vivia uma violenta crise político-econômica e, em 1976, o general Jorge Videla assumiu a presidência por um golpe militar. Após a guerra das Malvinas (1982), travada com a Inglaterra, começou o processo de transferência de poder aos civis. Nas eleições presidenciais de 1946, a vitória peronista definiu o início de um novo período na história da Argentina, o Justicialismo, que se apresentava como alternativa entre o socialismo e o capitalismo. Através de leis sociais, o Estado Justicialista promoveria a justiça e atenderia tanto a patrões quanto a empregados. Juan Domingo Perón nacionalizou os serviços públicos e estabeleceu as bases da intervenção do Estado na economia, sindicatos e meios de comunicação. Sua esposa, Eva Perón, tornou-se uma poderosa aliada em sua política paternalista, e esteve associada à imagem de porta-voz das reivindicações operárias. Você sabia? “Em todas as casas simples da Argentina havia um retrato de Perón, considerado ‘alma e defensor do povo argentino’. Era a mitificação do líder para encobrir a necessidade de luta popular. O homem que modernizava o capitalismo argentino apresentava-se como o maior defensor dos trabalhadores”. Eva Perón Eva Duarte, filha de rico estancieiro argentino, ex-atriz radiofônica, casou-se com Perón em 1945. Era uma mulher sofisticada e muito bonita, que assumiu o papel de Evita, a “mãe dos descamisados”. Ela adorava distribuir brinquedos e doces para as crianças pobres, que a chamavam de “Senhora da Esperança”. Sua popularidade não parou de crescer, rivalizando mesmo com a de Perón. Em decorrência de um câncer, Evita faleceu em 1952. CÁCERES, Florival – História da América – SP, Ed. Moderna, 1992, p. 286. VO C A B U L Á R I O Atrelou = ligou ou uniu por vínculos muitos fortes, dominou, subordinou. Descamisados = denominação dada às massas populares, aos despossuídos argentinos à época do peronismo. Ejido = (pronuncia-se “Errído”) – originalmente eram as comunidades rurais indígenas mexicanas. Após a Reforma Agrária, designava as terras distribuídas a pessoas que só poderiam utilizá-las enquanto fossem membros de uma coletividade. Eminência parda = conselheiro íntimo que, nos bastidores, manobra uma autoridade, um governante ou um partido político. Estancieiro = proprietário de estância ou fazenda. Odisseia póstuma = a grande viagem após a morte, no texto referese ao “exílio” do corpo de Evita que acompanhou Perón na Espanha. Portenho = relativo a ou natural de Buenos Aires, capital da República Argentina. Uma grave crise econômica assolou a Argentina em 1951. A adoção de medidas austeras, como congelamento de salários e aumento de preços, aliadas a negociações do governo em contratos de exploração de petróleo e gás com empresas norte-americanas, afetaram as bases do peronismo. No Portal Objetivo Evita e Juan Perón – o primeirocasal argentino Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST9F306 O Justicialismo, base da política peronista 81 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 82 TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A morte de Eva Perón “A morte prematura sacralizou o mito Eva e conduziu-o à santidade. Na fase terminal de sua doença, recebeu o título, dado pelo Congresso, de “Chefe espiritual da Nação”. Seu confessor, padre Hernam Benitez, em discurso público, proclamou-a mártir dos descamisados e exemplo de autossacrifício. O episódio da morte de Eva representou um dos fenômenos de massa mais importantes da época contemporânea. Faleceu em 26 de julho de 1952, às 22h25. Desde então, os noticiários noturnos tinham início com a seguinte frase: “São 22h25, hora em que Eva entrou para a imortalidade.” Pedro Ara, famoso embalsamador espanhol, preparou o cadáver para a exposição pública que durou até meados de agosto. Com a procissão que acompanhou o corpo do Ministério do Trabalho, teve início a odisseia póstuma de Eva, que só terminou com a volta do cadáver à Argentina, nos anos 70. Isabelita, a segunda mulher de Perón e presidente da Argentina após a morte do líder, providenciou o translado do corpo em 1968. O grande funeral de 1952 deixou marcas profundas na memória argentina em virtude das pompas extremas do luto público imposto oficialmente e das manifestações espontâneas. Numerosa massa, em constante circulação, manteve vigília junto ao corpo de Eva. Fora do edifício, filas quilométricas formavam-se entre paredes de flores. O número de pessoas aumentava dia a dia, obrigando os serviços de Saúde Pública, a Fundação Eva Perón e o Exército a providenciar mantas, alimentos e serviços de higiene. Por toda a Argentina foram celebradas missas e realizadas cerimônias fúnebres. Com o intuito de manter viva a lembrança da líder, o governo construiu caixas postais para que fossem depositadas cartas a Eva morta. Logo após sua morte, um sindicato de trabalhadores enviou telegrama ao Papa pedindo sua beatificação. Meses depois, trabalhadores latino-americanos sindicalizados repetiram o pedido,sugerindo que Eva se tornasse a santa de todos os trabalhadores americanos.” CAPELATO, Maria Helena R. – Multidões em Cena – Propaganda Política no Varguismo e no Peronismo, São Paulo. Fapesp / Papirus, 1998, p. 272 Verificando se você aprendeu 1. Relacione o crescimento das cidades com o surgimento do populismo na América Latina. 2. Aponte pontos em comum entre o governo de Vargas no Brasil e o de Perón na Argentina, no contexto do populismo latino-americano. 3. Discuta a política de Perón em relação aos “descamisados” argentinos. 3. Análise de processos revolucionários A América Latina atravessou o século XX como parceira menor do mundo capitalista, situando-se na área de influência econômica dos Estados Unidos. Os laços capitalistas pressupunham um alinhamento político ao lado daquele país no contexto da Guerra Fria. Essa foi a posição assumida preponderantemente pelos governos latinoamericanos. Entretanto, as ideias comunistas alcançaram diferentes países a partir de setores sociais insatisfeitos com a forte presença no continente dos interesses econômicos vinculados ao capitalismo internacional. Somava-se o fato de que a situação dependente da economia latino-americana passava a ser apontada por diferentes teóricos como a principal responsável pela pobreza e pelas desigualdades sociais existentes. O capitalismo e o imperialismo norte-americanos tornam-se os principais alvos das críticas formuladas por grupos políticos de esquerda. Essas ideias se concretizavam em ações políticas que visavam levar os comunistas ou partidários de outras ideologias de esquerda ao poder. A forte repressão aos grupos de esquerda no período, em diferentes países da América Latina, acabou originando movimentos que passaram a utilizar guerrilhas como estratégia revolucionária. 82 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 83 A experiência cubana A revolução socialista chega por essa forma a Cuba. Grupos guerrilheiros atuaram também, sem alcançar o mesmo sucesso, em outros países latino-americanos. Em El Salvador, por exemplo, diferentes grupos revolucionários deram origem à Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, que realizou uma tentativa fracassada de golpe em 1980 naquele país. Na Nicarágua foi instalado o governo constitucional sandinista, pró-socialista. Os grupos de esquerda foram, no seu conjunto, alvos de grande repressão pelos governos latino-americanos, com o apoio dos Estados Unidos. A CIA – Agência Central de Informações – teve atuação direta no combate ao comunismo no continente e na instalação de governos favoráveis aos interesses norte-americanos. A “ameaça comunista”, em muitos casos mais ilusória que real, serviu como justificativa para o crescimento do número de ditaduras no período. A última colônia latino-americana a conquistar sua independência foi Cuba, em 1898, no contexto de uma guerra entre Espanha e Estados Unidos, dando início a um intervencionismo norte-americano que se prolongou pelo século XX. A ingerência norte-americana foi institucionalizada pela Emenda Platt, que garantia legalmente sua intervenção no país. Não apenas na política a influência norte-americana se fazia sentir. Na economia cubana a participação do capital estrangeiro, especialmente dos Estados Unidos, era gigantesca. Atividades fundamentais como transportes, energia e serviços públicos eram controladas por empresas estrangeiras. Da mesma forma a vigorosa indústria de tabaco. No campo, onde se desenvolvia a produção açucareira, principal atividade econômica do país, a situação não era diferente. A posse da terra estava concentrada nas mãos de poucos, na sua maioria estrangeiros, e dentre esses, muitos norte-americanos. A cidade de Havana era conhecida internacionalmente pelos seus cassinos, casas noturnas e de prostituição explorados por empresários norte-americanos. Em 1934 chegou ao poder Fulgêncio Batista, que se tornou ditador sangrento, líder de um governo corrupto, responsável por permitir que seu país se transformasse em um verdadeiro bordel de luxo. Contra ele, forças oposicionistas organizaram-se e algumas se encaminharam para a ação armada. Fidel Castro surge como líder revolucionário nesse momento. Nascido em 1926 na Província de Mayari, estudou direito em Havana e atuou na política estudantil. Em julho de 1953 Fidel Castro, seu irmão Raul e mais de uma centena de pessoas atacaram o quartel de Moncada como tentativa frustrada de derrubar o governo de Fulgêncio Batista. Foram mortos 65 dos participantes do ataque, depois do qual Fidel foi preso. Beneficiário de uma anistia em 1955, exilou-se no México, deixando a frase que usara em sua própria defesa, depois tornada título de panfleto: “a história me absolverá”. Guerrilheiro em El Salvador preparando-se para a luta Você sabia? O grupo guerrilheiro Sendero Luminoso foi fundado no Peru em 1970, por facções dissidentes do partido comunista peruano (Bandeira Vermelha) e praticou uma intensa ação armada, principalmente, nas décadas de 1980 e 1990. Um grupo de guerrilheiros, dentre os quais o médico Che Guevara, Camilo Cienfuegos e José Antonio Echeverria, além de Fidel Castro, foi treinado para desembarcar em Cuba. Entendendo que a sociedade cubana estava preparada para uma revolução, desembarcaram, em um grupo de 81 pessoas, mas foram reprimidos, indo refugiarse em Sierra Maestra. Dali, saíam colunas guerrilheiras para desestabilizar o governo de Batista. 83 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 84 O apoio aos guerrilheiros cubanos contou com grupos radicais na cidade e com a aproximação de setores da burguesia açucareira descontentes com a ditadura de Batista. Em 1958 uma forte ofensiva foi preparada: dois grupos de guerrilheiros, comandados por Che Guevara e Cienfuegos, dirigiram-se à capital. Fidel liderou outro grupo para Santiago. O exército em vários locais se recusou a lutar e Fulgêncio Batista, isolado, fugiu para a República Dominicana. Em janeiro de 1959, Havana estava tomada pelos revolucionários cubanos. Fidel Castro chegava ao comando do país. A Revolução de Cuba 1902 – Emenda Platt - inserida na Constituição de Cuba, permitia aos Estados Unidos intervir militarmente nesse país para garantir sua independência política. 1933 – Movimento popular coloca no poder Ramón Grou de San Martin, que revogou a Emenda Platt, concedeu direito de voto às mulheres e fez reformas trabalhistas. 1934 – Início do governo de Fulgêncio Batista, ditador, governo favorável aos Estados Unidos. 1953 – Manifestações de estudantes contra Fulgêncio Batista. Fidel Castro lidera tentativa frustrada de derrubar Fulgêncio Batista em ataque ao quartel de Moncada, sendo preso em seguida. 1957 – Invasão frustrada de Cuba por guerrilheiros, com a presença de Fidel Castro e Che Guevara. 1958 – Assinatura do Manifesto de Sierra Maestra, contra o governo de Fulgêncio Batista, com apoio da burguesia açucareira. 1959 – Final da “Marcha sobre Havana”, que é tomada pelos revolucionários, assim como outras cidades, dando-se início a um governo nacionalista de esquerda. 1961 – Fidel Castro declara seu regime socialista, Cuba sofre tentativa de invasão na Baía dos Porcos, comandada pela CIA, e as relações com os Estados Unidos são rompidas. 1962 – Crise dos Mísseis e alinhamento de Cuba com os soviéticos, início do bloqueio econômico norteamericano sobre a ilha. 1963 – Criado o Partido Unido da Revolução Socialista, substituído em 1965 pelo Partido Comunista Cubano. Cuba é socialista O governo de Fidel Castro a princípio não se caracterizava como socialista. Entretanto, as reformas e nacionalizações realizadas apontavam nessa direção. Em 1961 houve a declaração formal do líder cubano de que se instalava em Cuba um governo socialista. A presença do socialismo em área de influência norte-americana preocupou severamente Washington, que passou a apoiar a contrarrevolução. Em abril de 1961 a CIA organizou uma invasão à Baía dos Porcos em Cuba, que se revelou um fiasco do ponto de vista estratégico. Fidel saía fortalecido do episódio. Em 1962, após a Crise dos Mísseis, Cuba foi expulsa da OEA – Organização dos Estados Americanos – e os Estados Unidos deram início ao bloqueio naval e econômico contra Cuba. A reorganização da economia cubana, sob o socialismo, levou à coletivização e à nacionalização de empresas estrangeiras. O Estado assumiu o controle da economia planificada pela Junta Central de Planificação. Cassinos e bordéis foram fechados e os hotéis, abertos à população. Especial atenção foi dedicada à medicina e à educação. Grupos de jovens foram espalhados por toda a ilha numa gigantesca campanha da alfabetização. Em tempo recorde foi extinto o analfabetismo no país, causa de orgulho nacional para os cubanos até hoje. A Revolução Cubana teve grande repercussão política por toda a América Latina, contribuindo para aumentar a adesão aos ideais socialistas especialmente entre as camadas médias urbanas. Criava-se um novo modelo revolucionário. O modelo cubano destacava a importância do camponês como classe revolucionária e a tática de guerrilhas móveis como estratégia de luta. Com essa tática os focos revolucionários seriam multiplicados, não havendo a necessidade de se esperar que as condições estivessem “maduras” na sociedade para dar início à luta, como vinha sendo habitualmente defendido pelos movimentos revolucionários. A existência de uma “vanguarda revolucionária” para encaminhar a luta armada passou a ser defendida como uma necessidade para assegurar o êxito de movimentos revolucionários. Fidel Castro, comandante maior da Revolução Cubana – Veja. Che Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana – Folha de S. Paulo. Revolucionários entrando em cidade cubana 84 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 85 Em 1917, o general Emiliano Chamorro Vargas, presidente nicaraguense, concedeu aos Estados Unidos o direito de construir o canal. Washington pagaria à Nicarágua a quantia de três milhões de doláres, e apesar de o Canal do Panamá estar concluído desde 1914, o governo norte-americano pretendia obter mais uma ligação entre os dois oceanos. Um movimento de resistência ao intervencionismo norte-americano despontou no país em 1927. Atuando principalmente nas montanhas, com tática de guerrilha, o grupo liderado por Augusto César Sandino propunha a ação armada dos camponeses contra o tratado de concessão do canal assinado pelo presidente Chamorro. Após um processo de lutas, os Estados Unidos abandonaram o país em 1933, levando consigo a certeza de que não construiriam o canal interoceânico. Em 1934, Anastácio Somoza Garcia assumiu a presidência por um golpe de Estado. Uma de suas primeiras deliberações foi planejar o assassínio de Sandino, que a partir de então teve seu nome ligado aos movimentos de luta pela emancipação da Nicarágua. Você sabia? Ernesto Guevara de la Sierna, mais conhecido como Che Guevara, nasceu na Argentina e não em Cuba, como se poderia pensar. Formou-se médico em sua terra natal e, usando uma bicicleta adaptada com um motor de moto, invenção sua, viajou por toda a América do Sul, sempre lutando contra uma asma brônquica, enfermidade crônica que o obrigava a tomar injeções constantemente. Conheceu Fidel Castro na Guatemala, incorporando-se à Revolução Cubana, na qual tornou-se figura fundamental. Foi assassinado em 8 de outubro de 1967 na Bolívia, quando tentava expandir a revolução comunista para toda a América do Sul. Foi executado por um general boliviano, embriagado, em cilada provavelmente organizada pela CIA. Che Guevara tornou-se um ícone revolucionário ainda hoje celebrado em camisetas, bandeiras e em frases famosas como: “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás...”. O processo revolucionário nicaraguense DOCUMENTO ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Augusto César Sandino “Os grandes dirão que sou muito pequeno para a obra que empreendi. Mas minha insignificância é superada pela altivez de meu coração de patriota, e assim juro perante a pátria e perante a história que minha espada defenderá a honra nacional e que será redenção para os oprimidos. Aceito o convite à luta e eu mesmo a provoco, e ao desafio do invasor covarde e dos traidores da pátria, respondo com meu grito de combate, e meu peito e os dos meus soldados formarão muralhas onde as legiões dos inimigos da Nicarágua serão derrotados. Poderá morrer o último dos meus soldados, que são os soldados da liberdade da Nicarágua, mas antes, mais de um batalhão dos vossos, invasor loiro, terá mordido o pó das minhas agrestes montanhas. Não serei Madalena, implorando de joelhos o perdão de meus inimigos, que são os inimigos da Nicarágua, porque creio que ninguém tem o direito de ser um semideus na terra. Quero convencer os nicaraguenses frios, os centro-americanos indiferentes e a raça indo-hispana, que numa ladeira da cordilheira andina, há um grupo de patriotas que saberão lutar e morrer como homens. País da América Central, banhado pelos oceanos Pacífico e Atlântico, a Nicaraguá teve seu nome associado ao povo Nicarao, uma civilização pré-colombiana que recebeu influência dos Astecas, e que se localizava na região do lago de Manágua. Em função de uma estratégica localização geográfica, o país tornou-se alvo de dispustas pela construção de um canal interoceânico. Incialmente a Espanha, depois Inglaterra e Estados Unidos disputavam o controle sobre essa empreitada. SELSER, Gregório – Sandino, o general dos homens livres – SP, Global Editora, 1979, p. 59. Anastácio Somoza deu início a uma era de tirania e arbitrariedades que atingiu o povo nicaraguense por quarenta e cinco anos. Para você enteder melhor esse período histórico, leia atentamente o quadro abaixo: Você sabia? William Walker foi um pirata norte-americano que desembarcou na Nicarágua em 1855, a serviço do Partido Liberal. À frente de um exército mercenário, tirou Fruto Chamorro da presidência e proclamou-se líder político dos nicaraguenses, restabelecendo a escravidão no país. Em 1857 foi expulso e reembarcado para os Estados Unidos, onde foi recebido como herói nacional. Após outras tentativas de conquistas, acabou sendo fuzilado em 1860 pelo governo de Honduras. 1956 – Somoza é assassinado e o poder é dividido entre seus filhos, Luís Somoza Debayle e Anastácio Somoza Debayle. 1961 – Fundação da Frente Sandinista de Libertação Nacional, que inicia a guerrilha contra os somozistas. 85 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 86 mesmo assim, as taxas de inflação e desemprego diminuíram significativamente. Durante a realização da primeira eleição livre, após a era somozista, os sandinistas, liderados por Daniel Ortega, foram vitoriosos. O governo cubano passou a dar apoio técnico, científico e financeiro ao governo sandinista. A esse auxílio seguiu-se um bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos à Nicarágua. 1967 – Anastácio Somoza Debayle é eleito presidente. 1971 – O presidente dissolve o Congresso, suspende a Constituição e, com o apoio da Guarda Nacional, inicia violenta perseguição à oposição política. 1978 – Pedro Joaquim Chamorro, diretor do jornal “La Prensa”, que fazia oposição ao governo, foi assassinado. 1979 – A FSLN entra em Manágua, vencendo os últimos redutos da Guarda Nacional somozista. Anastácio Somoza refugia-se na Paraguai, onde morre, vítima de um atentado, em 1980. A participação das mulheres na guerrilha nicaraguense O governo norte-americano passou a incentivar e patrocinar a ação dos “contra”, que passaram a solapar o governo de Reconstrução Nacional. Os “contra” eram políticos da Nicarágua que fugiram para Miami, onde organizaram grupos guerrilheiros de direita, que ao promover ataques a escolas, cooperativas agrícolas e centrais elétricas, tentaram impedir a recuperação econômica de seu país. A pressão norte-americana, que chegou até a minar portos nicaraguenses, fez com que Daniel Ortega convocasse eleições para fevereiro de 1990, em troca da desmobilização dos “contra” por noventa dias. O líder sandinista concorreu com a empresária Violeta Chamorro, que vitoriosa, tornou-se presidente da Nicarágua. Os Estados Unidos acabaram com o embargo econômico, na certeza de que a experiência revolucionária de Cuba não se havia repetido. Anastácio, o último Somoza no poder na Nicarágua Em junho de 1979 instalou-se no país um Governo de Reconstrução Nacional, com a participação de representantes de diversas correntes oposicionistas, entre eles a empresária Violeta Chamorro, viúva do jornalista assassinado em 1978. A junta de governo era chefiada por Daniel Ortega, líder sandinista. Um dos primeiros decretos do novo governo foi a expropriação dos bens da família Somoza, que representavam 40% da economia nacional. Na década de 1980, mais da metade do orçamento nicaraguense foi canalizado para o setor de defesa, e Você sabia? Em 1970, Salvador Allende foi eleito presidente do Chile pela Unidade Popular, uma aliança de partidos políticos de esquerda. Ao assumir o poder, o presidente nacionalizou as minas de cobre e as telecomunicações, que até então eram exploradas por grandes empresas norte-americanas, e intensificou a reforma agrária. Empresários nacionais e estrangeiros, sentindo-se prejudicados, começaram a reduzir seus investimentos no Chile. O governo dos EUA passou a apoiar financeiramente os movimentos de oposição ao governo. No dia 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas chilenas sob o comando do general Augusto Pinochet deram um golpe de Estado, instaurando uma ditadura militar que se estendeu até 1988. 86 VO C A B U L Á R I O Arenga = discurso. Guerrilha = luta armada realizada por meio de pequenos grupos constituídos irregularmente, sem obediência às normas estabelecidas nas convenções internacionais. Ingerência = influência, intervenção. C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 87 TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Solidariedade revolucionária “Fidel Castro conseguiu, ao ocupar a tribuna da Praça da Revolução, que as seiscentas mil pessoas presentes — quase toda Manágua — fizessem completo silêncio. Queriam ouvir o mais importante convidado às comemorações do primeiro aniversário da Revolução sandinista. O uniforme verde-oliva do primeiro-ministro de Cuba colava-se à sua pele que transpirava sob o forte calor da manhã. Seu rosto, emoldurado pela barba de fios crespos, aparecia a todos como o mais conhecido símbolo da ilha socialista do Caribe. Faltava-lhe apenas o charuto. — Talvez alguns pensem que vou pronunciar um longo discurso. Outros imaginam que minhas palavras serão polêmicas. E não faltará quem considere a possibilidade de que eu pronuncie aqui uma arenga incendiária e revolucionária. Porém, nem serei longo, nem trarei polêmicas a esta cerimônia, nem pronunciarei arengas incendiárias. A voz rouca e suave de Fidel contrapunha-se à sua corpulência. Não falava à multidão que naquele sábado, 19 de julho de 1980, comemorava alegre seu primeiro ano de liberdade. Falava confidencialmente a cada um dos nicaraguenses. Ritmava suas expressões alternando gestos pausados e contundentes. Mantinha os olhos miúdos fixos em seus ouvintes e discursava de improviso. Não tinha pressa. Parecia arrumar as ideias em frases antes de pronunciá-las. E ele próprio constatou o efeito de sua oratória ao exprimir sua admiração ‘pelo silêncio impressionante desta praça, onde nem sequer se escuta o zumbido de um mosquito’. Era um silêncio de gratidão, de admiração, mas também de temor. Cuba não mede esforços para colaborar na reconstrução da Nicarágua: enviou ao país mais de mil médicos que já atenderam um milhão de consultas. Os alfabetizadores cubanos embrenharam-se por regiões montanhosas que os próprios nicaraguenses não se arriscaram a penetrar. Como mostra o filme El Brigadista – em exibição nos cinemas de Manágua durante as festas do triunfo -os cubanos ensinam às brigadas de alfabetização da Nicarágua uma lição tão simples quanto difícil: ao povo, só se ensina a ler depois de aprender com ele. Por que razão teriam os lenhadores de Sierra Madre, entre Estelí e Matagalpa, interesse em aprender a ler? Sabem manejar o machado e o serrote e isso lhes basta. Daí a desconfiança e até mesmo a repulsa com que recebem o jovem alfabetizador que chega às montanhas como alguém que vai ensinar latim a um grupo de camponeses. El Brigadista mostra o jovem aprendendo com os lenhadores antes de convidá-los às primeiras lições da cartilha. Conquistada a confiança pela prática comum, surge nos lenhadores o interesse em aprender a ler e escrever. — Muitos tinham e ainda têm receios quanto à Revolução sandinista . As palavras de Fidel constrangiam a burguesia nicaraguense e as delegações dos países imperialistas. Elas esperavam que, após a queda de Somoza, pudessem implantar no país um regime liberal-burguês, de exploração da mão de obra assalariada. Sessenta por cento do setor industrial nicaraguense está sob controle da iniciativa privada, bem como 80% do setor agropecuário. No entanto, o poder concentra-se na FSLN e alguns de seus comandantes não escondem sua visão marxista da história. Querem tornar realidade no país esta expressão que o povo repete em suas reuniões: poder popular. Um poder capaz de erradicar do país o antagonismo de classes e de realizar uma política administrativa voltada para os interesses coletivos. BETTO, Frei. Nicarágua Livre: o primeiro passo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, p. 20-22. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 1. Ampliando a discussão 2. Trabalhando com o texto Você participou de uma atividade em classe - sob a orientação do professor - na qual vários aspectos da cultura de massa foram abordados: – influência estrangeira. – o papel dos meios de comunicação. – o caráter de “crítica” ou “alienação” dos produtos culturais. – adequação social das mensagens veiculadas. A cubana Yoani Sánchez é autora de um dos blogs mais lidos do mundo, o “Generación Y”. A Internet é a ferrramenta utilizada pela autora para denunciar os desmandos do regime cubano, posto que a livre manifestação de idéias e opiniões ainda é cerceada ali. Uma coletânea dos posts de Yoani Sánchez resultou no livro De Cuba Com Carinho. Vamos conhecê-lo? Leia o post, reflita sobre as discussões em sala de aula e responda às questões. Escolha um desses itens e elabore uma redação, ampliando o trabalho de sala de aula. A anatomia de uma “Y” Foi a partir de hotéis onde eu não podia entrar legalmente que coloquei meus primeiros textos na rede. 87 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 88 Minha pele branquela – herdada de dois avôs espanhóis – me permitiu burlar os seguranças, que pensavam que eu era estrangeira. Se por acaso me perguntavam aonde eu ia, eu respondia com um germânico “Entschuldigung, ich spreche keinen Spanish” (desculpe, eu não falo espanhol). Levava o pen-drive com os últimos posts e o relógio me alertava que dali a quinze minutos não poderia mais pagar o alto preço da conexão à internet. Seria uma facada no bolso, caso eu demorasse demais entre um clique e outro. Tantos atropelos para infiltrar-me nos segregados enclaves turísticos, e alguns meses depois o governo de Raúl Castro anunciaria que terminava o Apartheid. Teríamos permissão para comprar computadores e hospedar-nos em hotéis, mas não ficou claro com que salário pagaríamos os preços excessivos desses serviços em moeda conversível. Apesar dessa flexibilização, nós cubanos continuamos a ser internautas sem documentos, já que nossas incursões no terreno da internet estão marcadas pela ilegalidade. As transgressões acontecem quando alguém compra uma senha no mercado negro para acessar a rede, ou usa uma conexão oficial para entrar em páginas bloqueadas. Se em vez disso pagamos o preço exorbitante da conexão num hotel, automaticamente delatamos a fonte ilegal de nossos recursos materiais. Eu pertenço a esse último grupelho de criminosos, pois há dez anos me dedico a ganhar a vida como professora de espanhol e guia turística, sem ter licença para isso. Quando ainda não era permitida a venda de computadores, eu já havia tido que afirmar diante de dezenas de jornalistas que possuía um laptop. Todos sabiam que eu não poderia tê-lo adquirido legalmente nas lojas de meu país e esse era um risco que pressagiava confiscos. Não obstante, minhas declarações exibicionistas pareciam proteger-me em vez de comprometer-me. Compreendi então que o fenômeno blogger era novo também para os censores; não sabiam ainda como lidar com ele. Cada tentativa de silenciar meus escritos, geraria mais e mais hits no servidor onde estava hospedado meu blog. Os tempos tinham mudado e os métodos de coação não tinham conseguido se adaptar à velocidade que a tecnologia tinha imposto. Por outro lado, o mecanismo de uma antiga máquina de lavar soviética sustenta cada post que consigo publicar. O processo de disponibilizar textos no mundo virtual é esquisito demais para ser compreendido por qualquer um que não viva em Cuba. Nada de imediatez ou de pretender ser informativa: meu acesso à rede só me permite apelar à reflexão ou à crônica que não envelhecem rapidamente. O estilo de meus textos e seu enfoque estão condicionados pela indigência informática que os cerca e pela evasiva internet, tão escassa aqui como a tolerância. Para aumentar as dificuldades, em março de 2008 o governo cubano instalou um filtro tecnológico para impedir meu blog de chegar ao interior de Cuba. Por sorte, a própria comunidade de leitores que havia sido criada impediu que se colocasse uma placa de “fechado” na minha página web. Mãos virtuais e amigas me ajudaram a manter meu espaço, apesar de eu ter me convertido numa blogueira às cegas. Um texto de Andrew Sullivan intitulado “Por que blogo?” caiu em minhas mãos quando Generación Y estava há meses na rede e já haviam me outorgado o prêmio Ortega y Gasset de jornalismo. Ao lê-lo, acabei entendendo que meu espaço não cabia no conceito de um blog. Para mim era impossível atualizar todo dia, ou narrar a imediatez do que acontecia na outra esquina. Tampouco podia tomar parte nos comentários que cada texto gerava ou responder as perguntas que os leitores faziam. Entretanto, as carências tecnológicas foram compensadas pelo surgimento de outros inventores de criaturas peculiares como a minha. Já não estava tão sozinha na blogosfera da Ilha, pois surgiram sites como Octavo Cerco, de Claudia Cadelo, Desde Aquí, mantido por Reinaldo Escobar, Habanemia, da jovem Lía Villares, e Sin Evasión, que Miriam Celaya administra com agudeza. Foi rara a semana em que não tomei conhecimento da aparição de um novo espaço virtual e pessoal, feito em Cuba e marcado pelas mesmas dificuldades tecnológicas que eu tinha. A proximidade de temáticas e a necessidade de transmitir experiências uns aos outros fizeram com que nos encontrássemos frequentemente, naquilo que batizamos de “jornada blogueira”. Criamos cópias de nossos blogs para leitores que nunca poderiam conectar-se à grande teia de aranha mundial. Em shows, exposições e praças públicas distribuímos nossos textos, sabendo que essa pequena difusão tem como contrapartida um desejo oficial de nos silenciar. Cada cópia entregue é como a inoculação de um vírus de consequências imprevisíveis: o bacilo da opinião livre, a infecção que contraem uns ao ver outros se expressando sem máscaras. SÁNCHEZ, Yoani. De Cuba Com Carinho. SP, Editora Contexto, 2009, pp. 26-28. 1. Justifique com exemplos do texto, a afirmação: “blogueira cubana relata cotidiano inacessível a estrangeiros.” ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ 2. Encontre um artigo de jornal ou revista que traga uma notícia sobre Cuba, cole-a no espaço reservado e escreva um comentário sobre o assunto. ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ 88 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 89 CAPÍTULO 12 Enquanto isso, no Brasil… 1. O Brasil do pós-guerra Getúlio volta ao poder nos braços do povo ... De 1945, ano da saída de Getúlio Vargas da presidência, ao início da ditadura militar em 1964, vivemos um período de normalidade democrática. Ainda que com limites, é certo que desfrutamos de um clima de liberdade política contrastante com as duas ditaduras entre as quais esse momento está compreendido. Em 1946 foi promulgada a nova Constituição, elaborada a partir de uma Assembleia Nacional Constituinte, que restaurou a normalidade e possibilitou a reorganização das forças políticas em partidos. Até mesmo ao Partido Comunista, tão perseguido até aquele momento, foi permitido ter existência legal ainda que por um breve período. Os partidos políticos assumiram caráter nacional, com destaque para o PSD – Partido Social Democrático; o PTB – Partido Trabalhista Brasileiro; e a UDN – União Democrática Nacional. No contexto da guerra fria o Brasil definiu-se pelo mundo capitalista e rompeu as relações diplomáticas com a União Soviética em 1947. A perseguição aos comunistas havia-se reiniciado, seus deputados foram cassados e os comunistas novamente relegados à clandestinidade. Afastado temporariamente da política, Getúlio Vargas retornou à presidência através de eleições diretas. Seu retorno ao poder firmou o populismo na política brasileira como forma de governo das massas. A política econômica do período oscilou entre as propostas nacionalistas de Getúlio e as pressões pela abertura ao capital internacional. Com o governo de Juscelino Kubitschek a abertura da economia tomou a dianteira. Desde então, a entrada maciça de empresas multinacionais combinou-se a uma forte presença do Estado na economia, caracterizando um modelo econômico que se prolongou pelo governo militar. Getúlio na campanha presidencial de 1950 O retrato do velho Bota o retrato do velho outra vez, Bota no mesmo lugar. O sorriso do velhinho Faz a gente trabalhar, oi! Eu já botei o meu E tu não vais botar? Já enfeitei o meu E tu vais enfeitar? (bis) O sorriso do velhinho Faz a gente se animar, oi! Durante o período em que esteve afastado da presidência, Getúlio Vargas preparou o seu retorno. A partir de uma coligação do PTB como PSP, venceu as eleições de 1950 com maioria absoluta: 48% dos votos. Cumpria-se a promessa do presidente de retornar “nos braços do povo”. O segundo governo de Getúlio fundamentou-se em um nacionalismo populista que se dirigiu para o incremento da industrialização através da criação de estatais como a Eletrobrás, o BNDE -Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e a Petrobrás. Para a criação desta última, houve forte campanha nacionalista, que envolveu amplos setores sociais, cujo lema era: “o petróleo é nosso”. Presidentes do Brasil Você sabia? Eurico Gaspar Dutra (1946-1950) “O Estado Novo determinou que as repartições públicas pendurassem um retrato do presidente da República na parede. Em 1945, Getúlio Vargas foi deposto, e seus retratos foram retirados. Quando ele foi eleito em 1950, os retratos voltaram. Isso inspirou uma música de muito sucesso em 1951. “Retrato do velho”, de Haroldo Lobo e Marino Pinto, foi interpretada pelo cantor Francisco Alves.” Getúlio Vargas (1951-1954) Café Filho (1954-1955) Juscelino Kubitschek (1956-1961) Jânio Quadros (1961) João Goulart (1961-1964) DUARTE, Marcelo – O guia dos curiosos. Brasil. São Paulo, Cia das Letras, 1999, pp.142-143. 89 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 90 TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A criação da Petrobrás “Entre a data da primeira tentativa de exploração de petróleo em solo brasileiro – isto é, em 1858 – e a formação da Petrobrás, em 1953, transcorre quase um século de duros combates pela preservação de uma das maiores riquezas naturais do País. A rigor, a luta pelo estabelecimento do monopólio estatal do Petróleo ganhava corpo na mesma proporção em que o produto se apresentava como fonte básica de energia no processo de industrialização. Nessa ótica, a primeira metade do século XX (em particular as décadas de 40 e 50) é marcada pelos debates travados em torno da questão petrolífera, mormente na imprensa e no parlamento. São. sem exagero algum, as décadas do petróleo. Dois grandes grupos se formam então. De um lado, se situam os partidários do monopólio estatal, os nacionalistas: de outro, alinham-se os defensores da participação do capital privado, das grandes companhias transnacionais na pesquisa, lavra e refino do produto. Esses eram quase sempre denominados entreguistas por seus adversários. Os embates pela criação da Petrobrás adquiriram, nesse contexto, foros de uma autêntica questão nacional, da mesma forma que a causa abolicionista ou o engajamento do país na guerra contra as forças do Eixo em um passado não muito distante. Praticamente todas as instituições de peso na vida da Nação – Congresso, Imprensa, Sindicatos de patrões e trabalhadores, Forças Armadas –, assim como o povo nas ruas e praças públicas, foram mobilizadas pela campanha de O Petróleo é nosso. Intelectuais, artistas, jornalistas e figuras públicas como Oscar Niemeyer, Monteiro Lobato, Henrique Teixeira Lott, Horta Barbosa, Eusébio Rocha, Felicíssimo Cardoso, Matos Pimenta, Barbosa Lima Sobrinho, Nelson Werneck Sodré, entre muitos outros, tiveram destacada participação nesse processo. Assim, apesar de toda a repressão que utilizou contra os segmentos mais combativos do movimento nacionalista e das ambiguidades de seu posicionamento político – dezenas de pessoas foram assassinadas pela polícia de seu Governo e por aquele de seu antecessor, Eurico Gaspar Dutra, nos quatro cantos do país –, Getúlio Vargas finalmente cria a Petrobrás, modificando assim os seus propósitos iniciais, provavelmente sob a pressão da sociedade organizada.” ALVES, Fº., Ivan – Brasil, 500 anos em documentos. RJ, Mauad, 1998, p. 511. A intenção do presidente seria atrair capitais estrangeiros para associá-lo ao nacional, como forma de impulsionar a industrialização. Impunha condições para essa associação, de forma a não comprometer o que via como interesses nacionais. Acabou perdendo o apoio de setores da burguesia, especialmente após o movimento operário mostrar-se organizado e ativo na “greve dos 300 mil”, realizada em 1953 em São Paulo. Buscando o equilíbrio da sociedade, chamou João Goulart para o Ministério do Trabalho, o que acabou descontentando os setores mais conservadores que consideraram isso uma guinada à esquerda do presidente. Com isso perdeu também o apoio das forças armadas. enterro foi acompanhado por milhares de pessoas que queriam dar seu último adeus ao presidente. Antes de morrer, Getúlio havia escrito uma cartatestamento, na qual ressaltava que seu ato deveria ser entendido como seu sacrifício final em prol do povo brasileiro. O inesperado suicídio de Getúlio Vargas reforçou o mito construído durante o Estado Novo e contribuiu para apagar da memória nacional as lembranças da ditadura. Com tal gesto perpetuou-se a imagem do presidente que alcançou a imortalidade pretendida, desejo manifesto nas palavras finais de sua carta-testamento: “saio da vida para entrar na história”. Getúlio Vargas com Gregório Fortunato à esquerda e João Goulart à direita ...e sai da vida para entrar na História Seguiu-se uma intensa campanha difamatória sobre o presidente a partir de jornais oposicionistas, com forte participação de Carlos Lacerda, da UDN, dono do jornal Tribuna da Imprensa. As acusações de corrupção somavam-se às de cunho político, que acusavam o presidente, desde “entreguismo”, até de ser esquerdista! Getúlio estava completamente isolado. No início de agosto de 1954 ocorreu um atentado que foi depois atribuído a Gregório Fortunato, o “anjo negro”, chefe da guarda presidencial. No “atentado da rua Toneleros” morreu o major da aeronáutica Rubens Florentino Vaz, ficando ferido também Carlos Lacerda. A crise tornava-se insustentável. O exército pedia a renúncia de Getúlio. Numa atitude inesperada, Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no coração, em 24 de agosto de 1954. A morte trágica do presidente comoveu a população, que ganhou as ruas em manifestações espontâneas em diversas cidades e capitais do país. Seu Carlos Lacerda sendo carregado por amigos após o atentado da rua Toneleros 90 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 91 O “presidente bossa-nova” DOCUMENTO ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Carta-Testamento de Vargas “...Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais revoltados contra o regime de garantia de trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constantes de mais de 100 milhões de dó1ares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para lutar por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício fica para sempre em sua alma e meu sangue seja preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo a caminho da eternidade, e saio da vida para entrar na história.” Juscelino e a nova capital Ao suicídio de Getúlio Vargas seguiu-se um período de transição política que terminou nas eleições presidenciais de janeiro de 1956. Através da aliança PSDPTB, Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961) e seu vice, João Goulart, chegaram ao poder. O pleito aconteceu em meio a tensões e supostos preparativos de golpe militar. O general Henrique Teixeira Lott, Ministro da Guerra, fez uma intervenção garantindo a continuidade democrática e a posse dos eleitos. Juscelino Kubitscheck, ou simplesmente JK, figura na memória popular como um político dinâmico, empreendedor, responsável por um estilo de governar marcadamente conciliatório. Seu governo transcorreu em meio a amplas liberdades públicas. Contagiou o país com uma onda de otimismo, afirmando que em seu governo o Brasil cresceria “50 anos em 5”. Carinhosamente chamado de “Nonô” por seus conterrâneos mineiros, entrou para a história como o “presidente bossa-nova”. O programa do governo JK definia um conjunto de estratégias para o desenvolvimento nacional denominado Plano de Metas, que privilegiaria os seguintes setores: • Energia; • Transporte; • Indústria de base; • Alimentação • Educação. O Plano de Metas foi o instrumento do governo para estimular e coordenar a iniciativa dos empresários brasileiros e atrair capitais e tecnologia estrangeiros, dentro de uma política desenvolvimentista. Duas realizações do governo JK destacaram-se entre as outras: a implantação da indústria automobilística e a construção de Brasília, apontada no discurso político de Juscelino como a “síntese de todas as metas”. Por meio de um conjunto de incentivos fiscais, atraíram-se montadoras para o país, e empresas como a Ford e a General Motors, que estavam no Brasil desde o início do século XX, tornaram-se mais competitivas e passaram a fabricar veículos utilitários. Na região do ABC paulista formou-se um enorme parque industrial automobilístico. A ênfase na indústria automobilística e nos transportes rodoviários levou à construção de estradas de rodagem, marca registrada do nosso sistema de transportes até hoje. (Getúlio Vargas – 24 de agosto de 1954) 91 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 92 Linha de montagem do “fusca” em 1958, na cidade do ABC paulista de São Bernardo do Campo Você sabia? Projeto de Brasília. JK com os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer O ano de 1959 marcou o lançamento do primeiro fusca montado no Brasil pela empresa alemã Volkswagen. No mesmo ano foi lançado o Simca Chambord, um dos carros de maior sucesso da empresa francesa Simca, o qual se tornou um emblema do governo JK. Estima-se que, entre 1957 e 1961, mais de 320 mil veículos foram produzidos no país. A política desenvolvimentista trouxe resultados significativos, contribuindo para consolidar o processo de industrialização brasileiro. Seus frutos garantiram uma alta popularidade para o presidente. De 1955 a 1961, quando JK deixou a presidência, o valor da produção industrial crescera 80%, descontando-se a inflação, com maior intensidade nos setores do aço, da indústria mecânica, transportes, eletricidade e comunicações. O custo social desse avanço, no entanto, não tardou a aparecer sob a forma do endividamento externo e da alta da inflação. A abertura ao capital internacional, embora tenha levado à industrialização, aumentou os mecanismos de dependência econômica do país. Após a saída de Juscelino do governo, diferentes setores da sociedade passaram a expressar-se contra as consequências dessa opção, por meio de manifestações operárias, estudantis e sindicais. A crise política que se seguiu culminou na instalação de uma ditadura militar, como veremos na próxima aula. Brasília, símbolo do desenvolvimentismo do governo J.K O crescimento das cidades e a vida moderna Brasília, a nova capital O arquiteto Oscar Niemeyer e o urbanista Lúcio Costa foram encarregados de projetar uma nova cidade no planalto central do país. Para justificar tão ousado projeto, apontava-se a necessidade de levar o desenvolvimento para o interior; fazer da Região CentroOeste uma porta de entrada para a Amazônia; ampliar a fronteira agrícola, abrindo novas estradas, e gerar empregos. A construção da nova capital, Brasília, teve início em fevereiro de 1957. Um ano depois, já havia cerca de 12 mil pessoas morando e trabalhando nas obras, dentre eles os candangos, nome dado aos operários que trabalhavam na construção da “novacap”. Inaugurada em 21 de abril de 1960, tornou-se símbolo da arquitetura moderna de alto nível realizada no país e passou a desfrutar de prestígio internacional. Em 1987 o conjunto arquitetônico de Brasília obteve reconhecimento de seu valor como patrimônio cultural da humanidade ao ser tombado pela UNESCO, sendo o único monumento com menos de cem anos a conseguir tal distinção. Migrantes nordestinos recém-chegados a São Paulo, em meados dos anos 40, quando tem início intenso movimento migratório para o Sudeste A intensificação do processo de industrialização dos anos da década de 1950 foi acompanhada de um crescimento significativo das cidades e do modo de vida urbano. Se no começo daquela década 36% das pessoas viviam nas cidades, em 1960 já atingíamos o índice de 45% de população urbana. As cidades cresceram especialmente na Região Sudeste, onde se concentrou a industrialização. Os maiores centros urbanos, São Paulo e Rio de Janeiro, “incharam” em decorrência do grande afluxo de migrantes que vinham do campo em busca de melhores 92 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2014 27/03/14 15:20 Page 93 condições de vida e de trabalho. Nordestinos que fugiam da seca dirigiram-se em massa para a região. O crescimento desordenado das cidades trouxe inúmeros problemas que se têm agravado desde então, como o surgimento de favelas, a falta de infraestrutura urbana e a carência de moradias. Tabela – Distribuição da população brasileira, em % 1950 1960 1991 2000 2010 Pop. Rural 63,84 55,32 24,53 18,77 15,65 Pop. Urbana 36,15 44,67 75,46 81,23 84,35 Fonte: IBGE Os meios de comunicação de massas – rádio, imprensa, cinema e televisão – tiveram uma expansão extraordinária, contribuindo para difundir o modo de vida urbano. Os hábitos de consumo estimulados pela propaganda tornaram indispensáveis eletrodomésticos como geladeiras, aspiradores de pó e liquidificadores, transformados em símbolos da vida moderna. Os automóveis, um pouco mais acessíveis para a classe média, já que produzidos no país, tornaram-se ícones destacados e símbolos de ascensão social. Entretanto, estes padrões de consumo e comportamento não deixavam de ter alcance limitado pelas diferenças regionais e sociais existentes no país. Jogadores da Seleção Brasileira de Futebol de 1958. Em pé: da esquerda para a direita: Vicente Feola (Técnico), Djalma Santos, Zito, Belline, Nilton Santos, Orlando, Gilmar (goleiro). Agachados: da esquerda para a direita: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo, Paulo Amaral (preparador físico). Discutindo a História Nem sempre há concordância entre todos os grupos sociais e econômicos do país quanto às formas de se alcançar o desenvolvimento econômico. Neste item você tomou contato com as alternativas propostas por dois governos diferentes com esse objetivo. Você sabia? Vamos entender melhor? A cidade de São Paulo assumiu nos anos 1950 a posição de “maior parque industrial da América Latina”. Viviam na cidade 2,2 milhões de pessoas, sendo que mais da metade era composta de migrantes mineiros e nordestinos. A eles somavam-se cerca de 1 milhão de estrangeiros e seus descendentes que viviam na cidade, contribuindo para torná-la um verdadeiro mosaico de culturas. Leia o texto abaixo e responda às questões propostas: TEXTO 1 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Os rumos da política econômica “Os pressupostos do Programa de Metas mostram que, no governo JK, ocorreu uma definição nacional-desenvolvimentista de política econômica. O que queremos dizer com essa expressão? Como distinguir entre “nacionalismo” e “nacional-desenvolvimentismo”? Para responder a essa pergunta, precisamos retroceder um pouco no tempo. Vimos como o processo de substituição de importações ocorreu no governo Dutra após a mudança de rumos da política econômica. De uma forma deliberada, Getúlio Vargas acentuou esse processo. A ampliação da receita das exportações em consequência da Guerra da Coreia permitiu ao governo, através do mecanismo do confisco cambial, concentrar em suas mãos recursos que foram destinados a incentivar a industrialização. Com frequência, a política de substituição de importações estava associada a uma postura nacionalista. Seus defensores viam nela um instrumento essencial para que o Brasil superasse o subdesenvolvimento e se tornasse uma potência autônoma. Os nacionalistas sustentavam a necessidade de controle pelo Estado da infraestrutura (transportes, comunicações, energia) e da indústria básica, ficando as outras áreas da atividade econômica nas mãos da empresa privada nacional. Sem chegar a recusar em princípio o capital estrangeiro, insistiam na necessidade de só aceitá-lo com muitas restrições, seja quanto à área dos investimentos, seja quanto aos limites à remessa de lucros para o exterior. O governo JK promoveu uma ampla atividade do Estado, tanto RODRIGUES, Marly – A década de 50, São Paulo, Ática, 1992. Propaganda de enceradeira, na revista O Cruzeiro de 11 de julho de 1959 93 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 94 no setor de infraestrutura como no incentivo direto à industrialização, mas assumiu também abertamente a necessidade de atrair capitais estrangeiros, concedendo-lhes inclusive grandes facilidades. Assim, o governo permitiu uma larga utilização da Instrução 113 da Sumoc, baixada no governo Café Filho. Essa instrução autorizava as empresas a importar equipamentos estrangeiros sem cobertura cambial, ou seja, sem depositar moeda estrangeira para pagamento dessas importações. A condição para gozar da regalia era possuir, no exterior, os equipamentos a serem transferidos para o Brasil ou recursos para pagá-los. As empresas estrangeiras, que podiam preencher esses requisitos com facilidade, ficaram em condições vantajosas para transferir equipamentos de suas matrizes e integrá-los a seu capital no Brasil. A Instrução 113 facilitou os investimentos estrangeiros em áreas consideradas prioritárias pelo governo: indústria automobilística, transportes aéreos e estradas de ferro, eletricidade e aço. A expressão nacional-desenvolvimentismo, em vez de nacionalismo, sintetiza pois uma política econômica que tratava de combinar o Estado, a empresa privada nacional e o capital estrangeiro para promover o desenvolvimento, com ênfase na industrialização. Sob esse aspecto, o governo JK prenunciou os rumos da política econômica realizada, em outro contexto, pelos governos militares após 1964.” FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo, EDUSP/FDE, 1997, p. 426-427. 1. Comente a perspectiva nacionalista de desenvolvimento econômico. 2. Explique a proposta nacional-desenvolvimentista de Juscelino. 3. Aponte vantagens e desvantagens do modelo econômico brasileiro assumido a partir do governo JK. De acordo com o que você já estudou, leu ou ouviu sobre o assunto, tente defender uma posição sobre ele escrevendo um ou mais parágrafos nos quais discuta as alternativas de desenvolvimento econômico no contexto atual, usado o título a seguir: O nacionalismo econômico em face da globalização. VO C A B U L Á R I O No Portal Objetivo Ambiguidade = característica do que pode ser tomado em mais de um sentido. Conciliatório = em política, atitude de fazer alianças com vistas e garantir a ordem. Difamatória = causa difamação, abala a reputação de alguém, desacreditando-o publicamente. Embates = resistências, oposições, choques. Entreguista = atitude de entregar a exploração dos recursos naturais a capitais estrangeiros. Espoliação = ação de despojar, privar, roubar. Obstaculada = que recebeu ou sofreu impedimento. Retroceder = recuar, voltar para trás. Sumoc = Superintendência da Moeda e do Crédito. Vilipendiarem = desprezarem, repelirem, tratarem como vil. Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST9F307 de 1960. Porém, a inflação crescente e o saldo da dívida externa, frutos da política desenvolvimentista e do Plano de Metas, levaram à ascensão política de uma das figuras mais controversas da vida pública nacional, o governador do estado de São Paulo, Jânio da Silva Quadros. “Varre, varre vassourinha” Jânio Quadros, uma imagem popular 2. A caminho do golpe A composição da candidatura de Jânio foi feita em torno de vários partidos políticos, tendo à frente Carlos Lacerda, o influente líder da União Democrática Nacional (UDN). Apresentando-se como o “homem do tostão contra o A experiência democrática começada em 1945 teria breve duração no país. Após o governo de Juscelino Kubitschek vivemos uma sucessão de crises políticas e econômicas que abriram caminho para a instalação de uma ditadura militar a partir de 1964. Na tentativa de estabelecer um sucessor político, Juscelino Kubitschek decidiu apoiar a candidatura do general Henrique Teixeira Lott para as eleições de outubro 94 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 95 milhão, que iria sanear a nação”, Jânio Quadros venceu o candidato de JK com 48% dos votos. Com o apoio de setores militares, recebeu a faixa presidencial de Juscelino em 1961. As medidas de austeridade e moralismo adotadas pelo governo janista em nada influenciaram a espiral inflacionária do país. Carlos Lacerda e a UDN colocaramse em oposição ao governo, posto que o presidente não ouvia as bases udenistas em suas decisões políticas. A condecoração dada pelo presidente do Brasil ao guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara acelerou uma crise política em andamento, colocando também o país em rota de colisão com os Estados Unidos. Em 24 de agosto de 1961, em um discurso radiofônico, Carlos Lacerda denunciou uma suposta tentativa de golpe de Estado articulada pelo presidente. No dia seguinte, Jânio Quadros surpreendeu a nação e o mundo ao anunciar sua renúncia apenas sete meses após assumir o cargo. O presidente citou “forças terríveis” e muito se falou em “forças ocultas”. Cogitou-se em blefe e jogada política do presidente. Na verdade, a renúncia abriu espaço para uma grave crise que atingiria o país. Jânio e a vassoura, símbolo de sua campanha Você sabia? A imagem que se formou em torno do político Jânio Quadros era a de um homem vestido com simplicidade, tendo o cabelo sempre desalinhado. Fazendo promessas de “renovação social”, era hábil em ouvir as reclamações da população carente, esperto ao alimentar-se de sanduíches de mortadela em meio aos seus comícios políticos. A vassoura foi o emblema do combate à “bandalheira” nacional. TEXTO 1 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A Renúncia “Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente sem prevenções nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria progresso efetivo e a justiça social a que tem direito o seu generoso povo. Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando neste sonho a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade ora quebradas e indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio, mesmo, não manteria a própria paz pública. Encerro assim com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes e para os operários, para a grande família do país, esta página de minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia. Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo, e de forma especial às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos, de todos, para cada um. Somente assim seremos dignos da nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos juntos. Há muitas formas de servir nossa pátria. Brasília, 25 de agosto de 1961. Jânio Quadros.” Jânio em comício na Vila Maria Durante seu governo, Jânio Quadros estabeleceu uma política de combate à corrupção e, no plano externo, de não alinhamento aos Estados Unidos. Proibiu a propaganda em cinemas e a participação de crianças em programas de rádio e televisão. Estabeleceu normas para os jogos de cartas em clubes e associações. Utilizou-se dos famosos “bilhetinhos” para comunicar-se com ministros e assessores políticos. Jânio e “Che” Guevara. Surpreendendo a opinião pública Folha de S. Paulo, 25/8/1961. 95 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 96 João Goulart – o herdeiro político de Getúlio um pleno poder político a João Goulart. Ao fortalecimento político do presidente seguiu-se a execução do Plano Trienal, um arrojado programa econômico de autoria do Ministro do Planejamento e Coordenação Econômica, Celso Furtado. Elaborado para vigorar entre 1963 e 1965, apresentava em sua pauta: • o combate à inflação. • a continuidade do desenvolvimento econômico. • o incentivo à industrialização. • a renegociação da dívida externa. • o início de um processo de reforma agrária. As medidas anti-inflacionárias adotadas pelo governo – restrições ao crédito e contenção salarial – não se mostraram eficientes, e tanto empresários quanto sindicalistas passaram a fazer oposição a Jango. O governo passou a defender a ideia de que a saída para a crise inflacionária passava necessariamente pela modernização das relações econômicas de produção, na extensão de benefícios aos setores de baixa renda, na política de geração de empregos. João Goulart sinalizava a adoção de uma política externa independente dos Estados Unidos e da instauração das “reformas de base”. A reforma agrária, que promoveria uma distribuição mais justa das terras e da renda agrícola; a progressiva nacionalização das indústrias; a extensão do direito ao voto ao analfabeto e o controle do envio de lucros ao exterior compunham o conjunto de medidas políticosociais que João Goulart pretendia implantar no país sob a denominação de “reformas de base”. Um novo processo de crise política instaurou-se no país após a renúncia de Jânio Quadros. Enquanto a nação, ainda aturdida, ansiava por respostas, o vice-presidente João Goulart encontrava-se em viagem oficial à China Comunista. Jango, como era também chamado, não tinha livre trânsito entre os políticos brasileiros. Por muitos era visto como um “comunista travestido de democrata”. Carlos Lacerda, governador do antigo estado da Guanabara, em conjunto com facções políticas ligadas à UDN e setores militares, tentaram impedir a posse de João Goulart, temerosos de que ele adotasse uma política “antiamericana” e “esquerdista”. A resposta a esse movimento veio do Rio Grande do Sul. Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, casado com a irmã de João Goulart e articulista da campanha de Vargas à presidência, tornou-se o grande líder nacional em defesa da posse de Jango. Em Porto Alegre surgiu a Rede pela Legalidade que passou a atuar na defesa da posse de João Goulart. Várias rádios foram ocupadas pelos brizolistas que veiculavam apenas notícias sobre a volta de Jango ao Brasil. Você sabia? “No Nordeste do Brasil organizaram-se Ligas Camponesas, que exigiam do governo uma reforma agrária. No início dos anos 60, Robert Kennedy – irmão do presidente dos Estados Unidos – veio ao Brasil e esteve no Nordeste. Os Estados Unidos estavam preocupados com o surgimento de uma nova Cuba, que fez uma revolução socialista em 1959”. João Goulart e Leonel Brizola, em 1961 A iminência de uma guerra civil levou o grupo de Carlos Lacerda a recuar. A posse oficial do presidente João Goulart deu-se em 7 de setembro de 1961. Porém, o mandato presidencial foi condicionado a um Ato Adicional à Constituição de 1946, o qual estabelecia o parlamentarismo no país. O objetivo era muito claro: limitar o poder do presidente Goulart e ampliar os poderes do Congresso. Ao iniciar seu mandato presidencial, João Goulart buscou apoio político em diferentes segmentos sociais, chegando mesmo a nomear ministros ligados à UDN, sua grande e tradicional opositora. Em abril de 1962 realizou uma viagem oficial aos Estados Unidos, onde foi recebido pelo presidente John Kennedy. A consolidação de alianças políticas, o apoio do Congresso e de organizações trabalhistas permitiram a vitória do presidente em um plebiscito, realizado em 6 de janeiro de 1963. O fim da experiência parlamentarista e o retorno do presidencialismo asseguraram o exercício de adaptado de: MOTA, Carlos Guilherme – História e Civilização – SP, Ed. Ática, 1995, p. 144. O agravamento das tensões O crescimento de setores de oposição ao governo João Goulart era bastante evidente desde fins de 1963. Sem base de apoio no Congresso e enfrentando críticas constantes na imprensa, o presidente passou a priorizar a questão da reforma agrária, no quadro das reformas de base. Seus discursos sobre a questão da terra acabaram por colocá-lo em um situação política insustentável. Em comício realizado no dia 13 de março de 1964 na estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro, dezenas de milhares de pessoas ouviram-no discursar em tom desafiador. O presidente assumia o compromisso público de realizar as reformas de base e anunciar a 96 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 97 revisão da Constituição, com o objetivo de conferir maiores poderes ao Executivo. Essa inflamada manifestação desencadeou a reação imediata de setores que faziam oposição ao governo. A grande imprensa veiculava notícias sobre a “cubanização” do regime político brasileiro e alertava para a instauração de um “estado de ilegalidade”, contrário às regras constitucionais. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– O comício da Central do Brasil “Na história da chamada “democracia populista” brasileira, poucos atos públicos tiveram tanto impacto e repercussão política quanto o comício daquela sexta-feira 13. Com amplo apoio oficial e sob a proteção dum rigoroso esquema de segurança montado pelo I Exército, cerca de 200 mil pessoas demonstraram de forma muito significativa o elevado grau de politização que começava a atingir diferentes setores da sociedade brasileira. No extenso mar de cartazes e de faixas empunhados pela massa popular, liam-se alguns slogans que inquietariam as classes dominantes e atemorizariam as classes médias: “Reformas ou Revolução”; “Forca para os gorilas!”; “Yankee, go home”; “Defenderemos as Reformas a bala!”; “Legalidade para o PCB”; “Reeleição de Jango!”. No palanque, ministros de Estado, militares, governadores de Estado, deputados, dirigentes sindicais, líderes estudantis comprimiam-se ao lado do presidente da República. Após 3 horas de inflamados discursos, Goulart encerrou o ato anunciando a promulgação de dois decretos: o da nacionalização das refinarias particulares de petró1eo e o da desapropriação das propriedades de terras (com mais de 100 Maria Teresa e João Goulart no comício da Central do Brasil. hectares) que ladeavam as rodovias e ferrovias federais e os açudes públicos federais. Prometeu também enviar ao Congresso outros projetos de reforma (agrária, eleitoral, universitária e constitucional); anunciou ainda que nos próximos dias decretaria algumas medidas urgentes “em defesa do povo e das classes populares” (tabelamento de aluguéis, controle dos preços, etc.). No seu discurso, Goulart atacou a “democracia dos monopó1ios nacionais e internacionais”, as “associações de classes conservadoras”, a “mistificação do anticomunismo”, a campanha dos “rosários da fé contra o povo”, os “privilégios das minorias proprietárias de terras”, etc. De fato, 13 de março de 1964 pode ser considerado um marco decisivo na recente história política brasileira. Para grande decepção das esquerdas, o dia 13 significaria não a emergência de um governo nacionalista, democrático e popular, mas, sim, o último ato da chamada “democracia populista”. A partir do dia 13 de março — enquanto as esquerdas se dividiam em discussões acerca da composição da frente ampla —, a direita passava inteiramente à ofensiva do movimento social.” ‘ TOLEDO, Caio Navarro de – O governo Goulart e o golpe de 64. São Paulo, Brasiliense, 1984, p. 94-99. O Golpe de 1964 O agravamento das tensões sociais possibilitou um golpe de Estado em 31 de março de 1964. O general Mourão Filho partiu de Minas Gerais com o apoio de amplos setores das Forças Armadas e dos governadores de São Paulo, Minas Gerais e Guanabara. O destino era a Capital Federal e também salvaguardar a soberania nacional. João Goulart não reagiu ao golpe e buscou asilo político no Uruguai. O comando revolucionário cassou deputados, senadores, governadores, prefeitos, militares, desembargadores, embaixadores e outros ocupantes de funções públicas. Ranieri Mazzilli, líder da Câmara dos Deputados, ocupou a presidência até a posse do general Humberto de Alencar Castelo Branco, eleito pelo Congresso Nacional em 11 de abril de 1964. O golpe havia colocado fim ao regime constitucional brasileiro. Os militares assumiam o poder. 97 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2014 27/03/14 15:20 Page 98 TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– O significado do Golpe “No final de março de 1964, o governo constitucional de João Goulart estava espremido entre a mobilização golpista, que reunia a maior parte da cúpula militar unida aos setores mais conservadores da sociedade, e o crescente movimento de massas que exigia a implantação de reformas estruturais. Em si mesmas, as chamadas “reformas de base” não tinham propriamente caráter revolucionário e muito menos socialista. O desenvolvimento econômico nacional necessitava urgentemente de um conjunto de medidas capazes de reprogramar o país, permitindo o enfrentamento de questões sérias como a inflação, a distribuição de renda e a propriedade rural. O problema para as elites conservadoras, entretanto, era o caráter nacionalista e mais abrangente das reivindicações sociais, que ameaçavam a perda de parte de alguns lucros mais fabulosos e explicitavam a possibilidade de alargamento dos direitos de cidadania restritos a uma pequena parte da população. A alternativa dos golpistas para as reformas sociais era uma modernização conservadora, que afastasse a pressão das massas e permitisse a expansão da economia associada a maiores liberdades para o capital externo e para a grande propriedade em geral. Como definiu um líder político perseguido após 64, a ideia dos conspiradores, influenciados pelo programa norte-americano da “Aliança para o Progresso”, era a de que “a senzala seria caiada, teria o seu play-ground, e os negrinhos receberiam mais comida. Mas permaneceria senzala”.” BARROS, Edgard Luiz – Os governos militares. São Paulo, Contexto, 1994, p. 17. Trabalhando com imagem Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Essa foto é um registro histórico de uma grande manifestação política ocorrida seis dias após o Comício da Central do Brasil. Observe os slogans das faixas que os manifestantes carregavam, e a partir das discussões em classe, avalie o significado político dessa Marcha da Família com Deus pela Liberdade. VO C A B U L Á R I O Afrontar = colocar-se contra, enfrentar. Baldar = frustrar. Caiada = de cor branca, pintada com tinta à base de cal, água e cola. Congraçamento = reunião harmônica, reconciliação, reatar relação de amizade. Modernização conservadora = conjunto de medidas que buscam o desenvolvimento econômico, sem alteração na ordem social. 98 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2016 12/05/16 11:23 Página 99 3. Atividade: A era do rádio O rádio e o cinema foram as mais importantes manifestações da indústria cultural na década de 1950 no Brasil. O fenômeno da urbanização intensificava o desenvolvimento de uma cultura urbana. O cinema, especialmente a partir das companhias Cinédia e Atlântida, assumiu um caráter bastante popular. As “chanchadas”, comédias musicais que tinham no carnaval uma temática constante, marcaram época. Consagraram-se, através do cinema, personagens simples e muitas vezes ingênuos, vividos por atores em sua maioria vindos do teatro de revista. Foi a época em que brilharam Oscarito, Dercy Gonçalves, Mazzaropi, Grande Otelo, entre outros. Câmera da antiga TV Tupi, primeira emissora de televisão brasileira, fundada em setembro de 1950 As chanchadas da Atlântida. Cartaz do filme: Massagista de Madame O rádio atingia um público ainda maior, pois estava em praticamente todos os lares! Esse meio de comunicação vinha-se firmando como fenômeno de massas desde a década de 1930. Começou um pouco sisudo, veículo de mensagens oficiais e transmissor de notícias, mas foi, ao longo do tempo, firmando-se como o principal recurso da cultura popular urbana da época. A década de 1950 foi, sobretudo, a Era do rádio no Brasil. A programação radiofônica era bastante variada. Além de noticiários, havia rádionovelas, uma intensa programação humorística e musical. Os programas de auditório, especialmente os produzidos pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a maior emissora então existente, foram a marca registrada do período. Toda uma cultura popular desenvolveu-se em torno do rádio. A música popular brasileira teve ali um extraordinário meio de divulgação, dando origem à organização de numerosos fãs-clubes de cantores, como os de Ângela Maria e Cauby Peixoto. As eleições da “Rainha do Rádio” causavam disputas acaloradas. Emilinha Borba e Marlene protagonizaram as mais célebres, numa rivalidade que continuou por mais de uma eleição, mobilizando seus grandes e apaixonados fãs-clubes. A participação ruidosa das fãs, oriundas sobretudo das camadas populares, deu origem à preconceituosa denominação de “macacas de auditório” para designá-las. 99 Ângela Maria e Emilinha Borba na capa da Revista do Rádio C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 100 Vamos reproduzir um programa de auditório? Para isso é necessário que sejam seguidos alguns passos: • Faça uma pesquisa sobre a música, os cantores, os programas de rádio da década de 1950. • Pesquise também sobre as roupas usadas, os penteados, e outros componentes do visual das pessoas na época. • Procure descobrir gírias e expressões usadas naquele tempo junto a pessoas mais velhas de sua família, assim como hábitos, comportamento e valores da época. • Defina personagens e funções para os elementos de seu grupo. Finalmente, monte uma apresentação de um programa de rádio. Você pode escolher entre programas de auditório (musicais ou humorísticos), rádionovelas e noticiário. Atenção: quanto maior for a quantidade de informações reunidas pelo seu grupo, melhor será sua apresentação. Bom trabalho! 100 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2014 27/03/14 15:21 Page 101 4. Revisão P O P U L I S M O D E S E N V O L V I M E N T I S M O 1. Líder camponês e figura de grande destaque na Revolução Mexicana de 1910. 2. Braço armado da Frente de Libertação Nacional, de tendência comunista, no Vietnã do Sul. 3. País centro-americano que passou para o domínio dos EUA após a guerra Hispano-Americana. 4. Sigla da principal nação do bloco socialista. 5. Acordo de limitação de armas nucleares firmado entre EUA e URSS. 6. Denominação dada à Liga para a Independência do Vietnã. 101 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 102 7. primeiro satélite artificial, lançado pelos soviéticos. 8. denominação atribuída ao grande líder chinês Mao Tsé-Tung. 9. denominação da Terceira Internacional Comunista, fundada em Moscou em 1919. 10. Revolução portuguesa de 1974 que colocou fim ao governo autoritário de Marcelo Caetano. 11. presidente norte-americano que autorizou o envio da primeira leva de militares ao Vietnã. 12. denominação dada ao princípio da não violência proposto por Mahatma Gandhi. 13. conflito ideológico entre Estados Unidos e União Soviética, iniciado após a Segunda Guerra Mundial. 14. armistício que determinou o fim da guerra da Coreia, mantendo porém a divisão do país. 15. um dos líderes da Revolução Cubana, nascido na Argentina e assassinado na Bolívia em 1967. 16. em sua origem designavam as comunidades rurais indígenas do México. 17. grande líder norte-americano do movimento dos negros pelos direitos civis, assassinado em 1968. 18. tornou-se um emblema do programa político de Jânio Quadros, pautado no combate à corrupção e à “bandalheira nacional”. 19. violenta onda anticomunista que atingiu os EUA na década de 1950. 20. definiu as bases de um novo período histórico na Argentina, com a ascensão de Perón à presidência em 1946. 21. grupo guerrilheiro peruano fundado na década de 1970. 22. massacre ordenado por Chiang Kai-Shek, no qual milhares de pessoas ligadas ao Partido Comunista foram mortas. 23. sigla da Organização do Tratado do Atlântico Norte. 24. iniciais da Agência Central de Inteligência norte-americana. 25. sucessor político de Stálin, na União Soviética. 26. Partido Nacionalista Chinês, que proclamou a República em 1912. 27. pacto formado pelos países do bloco socialista em contrapartida à criação da OTAN. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES Valsinhas, dançam como debutantes Interessante. Mandar parente a jato pro dentista Almoçar com o tenista campeão Também pode ser um bom artista Exclusiva Tomando, com Dilermando, umas aulinhas de violão. Isso é viver como se aprova É ser um presidente bossa-nova Bossa-nova Muito nova Nova mesmo Ultra nova.” 1. Trabalhando com texto Juca Chaves é um compositor brasileiro cujo trabalho é marcado por um tom de sátira e irreverência à vida política nacional. Você irá conhecer uma de suas músicas e responder às questões. Presidente Bossa-Nova “Bossa-nova mesmo é ser presidente Desta terra descoberta por Cabral Para tanto basta ser tão simplesmente Simpático, risonho, original. Depois, desfrutar da maravilha De ser o Presidente do Brasil Voar da “velhacap” [Rio de Janeiro] pra Brasília Ver a alvorada e voar de volta ao Rio. Voar, voar, voar Voar, voar pra bem distante Até Versalhes, onde duas mineirinhas (Fonte: CHAVES, Juca. “Presidente bossa-nova”. In: História da música popular brasileira. São Paulo, Abril Cultural, fascículo e LP n° 41. citado em – Del Priore, Mary (org.) – Documentos de História do Brasil, de Cabral aos anos 90 – SP, Ed. Scipione, 1997, pp. 99-100. 102 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 103 Minipesquisa 4. Reescreva, com suas palavras, o significado do Golpe de 64 quanto às mudanças sociais e econômicas em curso. (Recorra ao texto complementar O significado do Golpe como subsídio para sua resposta.) ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 1. O que foi a Bossa-Nova? ________________________________________ ________________________________________ 2. Por que razão Juscelino Kubitschek é chamado Presidente Bossa-Nova? ________________________________________ ________________________________________ 3. Resolução de testes 3. Que críticas a música faz ao presidente bossanova? A. Denominação atribuída aos trabalhadores da construção civil, à época da fundação de Brasília: a) simca b) candangos c) pedreiros d) obreiros e) vietcongues ________________________________________ ________________________________________ 2. Vamos entender melhor? De acordo com o que você estudou neste capítulo, responda às questões: B. Representam as principais forças políticas nacionais que se aglutinaram em torno da candidatura de Jânio Quadros à presidência: a) o político Carlos Lacerda. b) o presidente Juscelino Kubitschek. c) as lideranças da União Democrática Nacional (UDN). d) alternativas A e C estão corretas. e) alternativas A e B estão corretas. 1. Comente a renúncia de Jânio Quadros, enfocando: a) razões alegadas pelo presidente. ______________________________________ ______________________________________ b) efeitos políticos. ______________________________________ ______________________________________ C. A posse do vice-presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros, foi viabilizada pela: a) atuação política de Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul. b) criação da Rede pela Legalidade. c) apoio de Carlos Lacerda e da UDN a Jango. d) alternativas B e C estão corretas. e) alternativas A e B estão corretas. 2. Discuta as razões que levaram à instalação do parlamentarismo no início do governo de João Goulart. ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ D. Sobre a instalação do governo de Reconstrução Nacional na Nicarágua, após a vitória sandinista, pode-se afirmar que: a) contou com a participação de diversas correntes oposicionistas. b) era chefiado por Daniel Ortega, líder sandinista. c) a empresária Violeta Chamorro integrava esse governo. d) os bens da família Somoza foram expropriados. e) todas as alternativas estão corretas. 3. Leia o texto complementar O comício da Central do Brasil e discuta o impacto político do anúncio de reformas feito por João Goulart. ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 103 C3_9o Ano_Historia_SOME_Tony_2012 21/06/12 09:26 Page 104 E. Em abril de 1961 a CIA organizou uma invasão à ilha de Cuba. Sobre esse fato histórico, é correto afirmar que: a) a invasão à Baía dos Porcos foi um fiasco do ponto de vista estratégico. b) a invasão à Baía dos Porcos foi uma grande vitória do governo norte-americano. c) O líder cubano Fidel Castro saiu fortalecido desse episódio. d) alternativas A e C estão corretas. e) alternativas B e C estão corretas. F. O programa do governo JK definiu um conjunto de estratégias para o desenvolvimento nacional denominado Plano de Metas. Sobre ele, pode-se afirmar que: a) privilegiava apenas a indústria de base. b) privilegiava os setores de energia, alimentação, transporte, educação e indústria de base. c) foi o instrumento governamental que coordenou a iniciativa de empresários brasileiros e capitais e tecnologia estrangeiros. d) alternativas A e C estão corretas. e) alternativas B e C estão corretas. c) foi inaugurada em 21 de abril de 1960. d) em 1987 foi tombada como patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO. e) todas as alternativas estão corretas. H. Símbolo utilizado pelo político Jânio Quadros para combater a corrupção e a “bandalheira nacional”. a) foice e martelo b) caça aos corruptos c) vassoura d) operação limpeza e) liga anticorrupção I. Governador do estado da Guanabara, líder da UDN e grande opositor de João Goulart. a) Carlos Lacerda b) Ademar de Barros c) Mourão Filho d) Henrique Teixeira Lott e) Magalhães Pinto J. Grande manifestação popular, na qual milhares de pessoas exigiam o fim do governo Goulart e expressavam o temor de uma possível via socialista no Brasil. Referimo-nos a/ao: a) Plano Trienal. b) Comício da Central do Brasil. c) Reformas de Base. d) Comício dos Cem Mil. e) Marcha da Família com Deus pela Liberdade. G. Sobre a construção de Brasília, a nova capital federal, pode-se afirmar que: a) Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foram os responsáveis pelo projeto arquitetônico e urbanístico da novacap. b) os operários da construção civil da novacap eram chamados de candangos. Sugestões Bibliográficas Para uso do aluno: ALVES, Rubem – Gandhi, política dos gestos poéticos. São Paulo, FTD, 1994. DIAS Jr., José Augusto Dias e ROUBICEK, Rafael – Guerra Fria: a era do medo. São Paulo, Ática, 1996. DORATIOTO, Francisco F. DANTAS F., José – De Getúlio a Getúlio. São Paulo, Atual, 1991. POMAR, Wladimir – China. O dragão do século XXI. São Paulo, Ática, 1996. SÁNCHEZ, Yoani. De Cuba Com Carinho. São Paulo, Editora Contexto, 2009. Para uso do professor: ARBEX Jr., José – Guerra Fria: Terror de Estado, política e cultura. São Paulo, Moderna, 1997. BARROS, Edgard Luiz de – Os governos militares. São Paulo, Contexto, 1994. CAPELATO, Maria Helena – Multidões em cena: Propaganda política no varguismo e no peronismo. Campinas / SP, FAPESP/Papirus, 1998. DURÃO, Fábio A., ZUIN, Antonio e VAZ, Alexandre F. A indústria cultural hoje. São Paulo, Boitempo Editorial, 2008. REIS F., Daniel Aarão, FERREIRA, Jorge e ZENHA, Celeste (org.) – O século XX. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000, vol. 3 – Do declínio das utopias à globalização. RODRIGUES, Marly – A década de 50: populismo e desenvolvimentismo. São Paulo, Ática, 1992. VISENTINI, Paulo Fagundes. A Revolução Vietnamita. São Paulo, Editora UNESP, 2007. 104