Dificuldades no tratamento. Ponto de vista do farmacêutico frente ao paciente. A esquizofrenia e o transtorno bipolar são transtornos mentais que atingem juntos aproximadamente 2 milhões de brasileiros, principalmente jovens, limitando diretamente a vida social e profissional destes pacientes. O reconhecimento destes transtornos mentais pelo paciente e por seus familiares e seu diagnóstico pelo psiquiatra permitem o início do tratamento medicamentoso, que tem papel fundamental no controle das duas doenças. Infelizmente, o tratamento medicamentoso apresenta dificuldades principalmente relacionadas à adesão muito baixa decorrente de ausência ou falha no acompanhamento farmacoterapêutico, predispondo o paciente a efeitos adversos, com risco de toxicidade e interações medicamentosas que podem diminuir a eficácia ou a segurança do tratamento. Frequentemente, os pacientes não informam com exatidão sobre o estado de sua doença mental e as variações do humor são imprevisíveis, dificultando a avaliação de uma forma simples e clara da resposta do paciente ao tratamento, início de crise, sintomas residuais etc., de tal forma que a prescrição do medicamento não garantirá o controle pleno do transtorno mental se não for aliada a um seguimento farmacoterapêutico eficaz. O período do tratamento da esquizofrenia e do transtorno bipolar é longo e não podemos deixar de relacionar que, além dos medicamentos específicos para estes transtornos mentais, geralmente o paciente recebe tratamento para outras doenças crônicas, como as cardiovasculares, diabetes, asma, epilepsia etc. e doenças agudas, como resfriados, contusões etc., multiplicando não apenas o número de medicamentos em uso, elevando o custo do tratamento, como potencializando o risco de efeitos adversos e de interações medicamentosas. As interações medicamentosas podem predispor a risco de toxicidade ou diminuição da eficácia do medicamento e consequentemente refletir na qualidade e na adesão do tratamento. Desta forma, ações que envolvem a aproximação dos pacientes e seus familiares aos médicos psiquiatras, farmacêuticos, enfermeiros, psicólogos e o desenvolvimento de projetos de seguimento farmacoterapêutico multidisciplinar, com especial atenção para as expectativas, crenças e preocupações deste grupo de pacientes, poderão contribuir para o uso racional de medicamentos, adesão ao tratamento e controle da doença mental. Vários estudos farmacoepidemiológicos apontam a baixa adesão como a principal dificuldade no tratamento da esquizofrenia e do transtorno bipolar. Embora estes estudos adotem diferentes métodos para mensurar a falta de adesão, taxas de abandono da ordem de 80% após um ano de tratamento e de 50% após um mês são frequentemente relatadas. Chips computadorizados que detectam e registram a abertura da tampa do frasco de comprimido, cartões de anotação de medicamentos, escala de influência de medicações (ROMI), detecção do fármaco na urina e/ou sangue em busca do nível plasmático efetivo, diminuição dos efeitos da doença e efeitos adversos dos medicamentos são alguns dos métodos utilizados nestes estudos. Para a Organização Mundial da Saúde, 50% dos medicamentos são prescritos e/ou dispensados de forma inadequada, ao mesmo tempo que um terço da população mundial não tem acesso aos medicamentos essenciais e 50% dos pacientes utilizam os medicamentos de forma incorreta. A falta de adesão para doenças crônicas, e em específico para a esquizofrenia e transtorno bipolar, é multifatorial e está relacionada ao paciente, ao medicamento, à doença, aos profissionais de saúde e serviços de saúde que os assistem. Assim, o tipo de política pública em saúde mental estabelecida em cada país interfere de maneira decisiva no grau de adesão ao tratamento. Há evidências de que uma fraca relação entre os profissionais de saúde que prescrevem e dispensam os medicamentos e o paciente levam a dúvidas, medos, incertezas quanto ao tratamento, resultando em desestabilização da doença e recaída dos sintomas. Vários autores já descreveram que o aparecimento de resultados negativos associados a medicamentos decorrentes também da falta de adesão originam-se de dois tipos de condutas dos profissionais da saúde: as omissivas, representadas pela ausência de um plano desenhado e consistente que ajude o paciente na obtenção dos objetivos propostos pelo tratamento medicamentoso escolhido e que possa impedir ou minimizar os efeitos adversos e/ou pela falta de algum dado referente à posologia medicamentosa na prescrição médica; e as comissivas, que são os atos errôneos de prescrição, dispensação e administração medicamentosa que podem levar a reações de toxicidade. Existem varias razões para não se utilizar o medicamento prescrito, que vão desde o conhecimento ou experiência prévios sobre os efeitos do fármaco, ausência de sinais e sintomas diretos, desatenção, esquecimento, desinformação, vergonha, até o não reconhecimento da doença pelo paciente. As consequências da falta de adesão repercutem na vida do paciente, de seus familiares, da sociedade e nos serviços de saúde. Os sinais da doença evoluem progressivamente e muitas vezes terminam em internações hospitalares, atendimentos de urgência e emergência, onerando assim o sistema de saúde. A resposta a cada medicação é individual e o controle da doença depende não apenas da escolha de um medicamento seguro e eficaz, mas de um seguimento farmacoterapêutico que permita o encontro da dose ideal com tolerabilidade aceitável, prevenindo interações medicamentosas e proporcionando adesão ao tratamento. Bibliografia Consultada: 1. Lieberman JA, Stroup TS, McEvoy JP, Swartz MS, Rosenheck RA, Perkins DO et al., for the Clinical Antipsychotic Trials of Intervention Effectiveness (CATIE) Investigators. Effectiveness of antipsychotic drugs in patients with chronic schizophrenia. N Engl J Med 2005;353. 2. McDonald HP, Garg AX, Haynes RB. Interventions to Enhance Patient Adherence to Medication Prescriptions. JAMA 2002;288:22. 3. Oliveira IR. Psicofarmacologia Clínica. 1ª ed. SP: médica e científica, 1994, 373 pág. 4. Organização Mundial de Saúde. Adherence to Long Term Therapies- Evidences of Action, 2003. 5. Rosa MA, Elkis H. Adesão em esquizofrenia. Rev Psiq Clín 2007;34(supl 2). 6. Tattan T, Creed F. Negative Symptoms of Schizophrenia and Compliance with Medication. Schizophrenia Bulletin 2001;27(1). 7. Velligan et al. Adherence Problems in Patients with Serious and Persistent Mental Illness. The Journal of Clinical Psychiatry, 2009. ©2011 RTM Ltda. • Tel.: 55 (11) 5507.5735 • Fax: 5507.5734 • e-mail: [email protected] • www.rtmbrasil.com.br. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia por escrito dos editores. ANA 025-11. 1621615 - produzido em agosto/2011