ROGÉRIO PECCHINI O IMPACTO DO VÍRUS PARAINFLUENZA COMO ETIOLOGIA DE INFECÇÃO RESPIRATÓRIA AGUDA EM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS Tese apresentada ao Curso de PósGraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do titulo de Doutor em Medicina. SÃO PAULO 2011 ROGÉRIO PECCHINI O IMPACTO DO VÍRUS PARAINFLUENZA COMO ETIOLOGIA DE INFECÇÃO RESPIRATÓRIA AGUDA EM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS Tese apresentada ao Curso de PósGraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do titulo de Doutor em Medicina. Área De Concentração: Ciências Da Saúde Orientador: Prof. Dr. Eitan Naaman Berezin SÃO PAULO 2011 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Pecchini, Rogério O impacto do vírus parainfluenza como etiologia de infecção respiratória aguda em crianças hospitalizadas./ Rogério Pecchini. São Paulo, 2011. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Eitan Naaman Berezin 1. Doenças respiratórias 2. Infecções respiratórias 3. Infecções por paramyxoviridae/ etiologia 4. Hospitalização 5. Criança hospitalizada BC-FCMSCSP/75-11 DEDICATÓRIA Dedico esta tese a meus pais, João Pecchini e Maria Aparecida Silva Pecchini, que são inesgotáveis fontes de amor, compreensão e educação, e não mediram esforço para prover meus estudos, permitindo que eu trilhasse o caminho até aqui percorrido. Dedicatória AGRADECIMENTOS À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, responsável pela formação de grandes médicos e responsável pela minha formação. Agradeço à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, por permitir que eu desenvolva-me como médico, de maneira ética e digna, acolhendome como membro de seu corpo clínico. Agradeço à minha avó, Tereza Vicente, que fez despertar em mim, o amor por esta Instituição. Agradeço ao Prof. Dr. Eitan N. Berezin, que com seu conhecimento e brilhantismo, me guiou na elaboração desta Tese. Agradeço à Profa. Dra. Maria Lucia Bastos Passarelli, que me incentivou a trilhar um caminho profissional diferente, incentivou a elaboração deste trabalho e tornou-se uma grande amiga. Agradeço à Profa. Dra. Ligia Mathias, que me incentivou ao longo deste caminho, e colaborou de maneira marcante. Agradeço ao Prof. Dr. Saulo D. Passos, que iniciou este estudo, confiou sua continuidade a mim, e continua me transmitindo entusiasmo e ensinamento. Aos colegas da Enfermaria de Retaguarda do PSI do Departamento de Pediatria, em especial à Dra. Maria Carolina C. Felicio. Agradeço a Maria Cândida Oliveira de Souza e Lourdes Rehder Vaz de Lima, assim como toda a equipe VGDN/FAPESP – Grupo Instituto Adolfo Lutz por todo suporte laboratorial e ensinamentos para a condução deste estudo. Agradeço a Cristiane Pecchini, minha irmã, pelo incentivo na realização de meus sonhos e objetivos. Agradecimentos Agradeço ao meu amigo, Ricardo Luiz Pereira Barretto, por ter permanecido ao meu lado nos momentos de difíceis e incentivado a realização deste trabalho. Agradeço aos familiares e amigos pela compreensão. Às Crianças e responsáveis participantes deste estudo, que fazem com que o esforço empreendido valha à pena. Agradecimentos 1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………..... 1.1. Parainfluenza ………………………………………………………………….... 1.1.1. Classificação e estrutura viral………………………………………….. 1.1.1.1. Patogênese……………………………………………………........... 1.1.1.2. Síndromes clínicas…………………………………………….......... 1.1.1.2.1. Crupe (lagingotraqueobronquite aguda)…………….......... 1.1.1.2.2. Bronquiolite……………………………………………........... 1.1.1.2.3. Pneumonia………………………………………………........ 1.1.1.2.4. Traqueobronquite………………………………………........ 1.1.1.2.5. Doenças do trato respiratório superior .............................. 1.1.1.2.6. Doenças neurológicas…………………………………........ 1.1.1.2.7. Outras síndromes………………………………………........ 1.1.1.3. Sazonalidade……………………………………………………..... 1.1.1.4. Epidemiologia…………………………………………………........ 1.1.1.5. Modos de Transmissão e Infecção Nosocomial......................... 2. OBJETIVOS………………………………………………………………….......….. 3. CASUÍSTICA E MÉTODO ………………………………………………………..... 3.1. Seleção de pacientes.................................................................................. 3.2. Procedimentos............................................................................................ 3.3. Obtenção das amostras.............................................................................. 3.4. Processamento das amostras..................................................................... 3.5. Variáveis analisadas................................................................................... 3.6. Divisão dos pacientes em grupos............................................................... 3.7. Análise estatística....................................................................................... 4. RESULTADOS …………………………………………………………………….. 4.1. Fase 1......................................................................................................... 4.1.1. Dados demográficos............................................................................ 4.1.2. Tempo de internação........................................................................... 4.1.3. Sinais e sintomas de DATRI, diagnósticos de DATRI e prodromos de IVAS............................................................................................... 4.1.4. Antecedentes pessoais e familiares.................................................... 4.1.5. Resultado da imunofluorescência indireta........................................... 4.1.6. Destino e evolução............................................................................. 4.2. Fase 2 - Comparação dos grupos quanto ao resultado da IFI.................... 4.2.1.Dados demográficos............................................................................. 4.2.2. Tempo de internação........................................................................... 4.2.3. Sinais e sintomas de DATRI................................................................ 4.2.4. Diagnósticos de DATRI nos grupos .................................................... 4.2.5. Antecedentes pessoais........................................................................ 4.2.6. Antecedentes familiares....................................................................... 4.2.7. Evolução.............................................................................................. 4.2.8. Sazonalidade....................................................................................... 5. DISCUSSÃO ……………………………………………………………………….... 6. CONCLUSÕES …………………………………………………………………….... 7. ANEXOS …………………………………………………………………………....... 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………………….... RESUMO …………………………………………………………………………...... ABSTRACT ………………………………………………………………………...... 1 3 5 7 8 8 9 9 10 10 10 11 11 12 20 21 23 25 25 27 27 29 30 31 32 33 33 34 34 36 36 37 38 38 40 40 41 42 42 43 43 45 59 61 65 73 75 Sumário 1. INTRODUÇÃO 2 As infecções do trato respiratório são responsáveis por um grande número de visitas ambulatoriais e hospitalizações em todo o mundo, sendo os vírus os agentes etiológicos da maior parte destas infecções[1-4]. Os dados da Organização Mundial da Saúde apontam a pneumonia como a doença que isoladamente é responsável pela morte de dois milhões de crianças anualmente em todo o mundo, sobretudo na idade de até cinco anos, faixa etária na qual é responsável por 19% das mortes. Estas mortes ocorrem principalmente em regiões em desenvolvimento no mundo, incluindo Ásia, África e América Latina[5]. Outras estimativas apontam para a ocorrência de 1,9 milhões de óbitos por infecção respiratória aguda na mesma faixa etária, sendo 70% das mortes ocorrendo no sudoeste da Ásia e na África[6]. Os dados do Ministério da Saúde do Brasil apontam que no ano de 2010 houve 1.244.206 internações em crianças menores de quatro anos de idade, sendo que 485.073 (cerca de 40%) foram devido à doença respiratória[7]. Estima-se que 25% de todo o atendimento médico pediátrico ambulatorial e hospitalar seja relacionado às infecções virais[8]. As doenças respiratórias sempre estiveram presentes entre as crianças, mas a descoberta da importância dos vírus na sua etiologia é recente. Uma abordagem histórica mostra uma rápida aquisição de conhecimento do papel dos vírus na etiologia de infecções respiratórias. Os três vírus influenza (FLU) foram os primeiros a serem descobertos, seguidos do Adenovírus e do Parainfluenza. O grupo de vírus descobertos em 1958 por Chanock et al* nos Estados Unidos e Beale et al** no Canadá foi inicialmente chamado de vírus da hemadsorção. Talvez a mais importante descoberta de todas tenha sido a * Chanock et al (1958) APUD Gardner PS. Virus infections and respiratory disease of childhood. Arch Dis Child. 1968; 43:629-45[9]. ** Beale apud APUD Gardner PS. Virus infections and respiratory disease of childhood. Arch Dis Child. 1968; 43:629-45[9]. Introdução 3 identificação e associação do vírus sincicial respiratório (VSR) com doenças respiratórias graves na infância, novamente por Chanock et al***, em 1961[9]. Os principais vírus envolvidos na etiologia das infecções respiratórias agudas na infância são: vírus sincicial respiratório (VSR), vírus influenza A (FLU A), vírus influenza B (FLU B), vírus parainfluenza humano (hPIV), adenovírus humano (ADV) e rinovírus humano (RNV). Mais recentemente, com o advento das técnicas moleculares e introdução destes métodos na prática clínica laboratorial, novos vírus respiratórios, como o metapneumovírus humano (hMPV) e bocavírus humano (hBoV), foram identificados no trato respiratório de pacientes com sintomatologia de doença respiratória[10-14]. As técnicas moleculares também vêm demonstrando a correlação entre o Rinovírus, mais comumente apontado como causador de resfriado comum, com doenças graves de trato respiratório inferior[13,15]. O VSR é o principal agente de infecções respiratórias de trato inferior em lactentes e crianças jovens[16], tem distribuição mundial e padrão sazonal característico, circulando principalmente nos meses de inverno[8]. 1.1. Parainfluenza Os vírus parainfluenza humano (hPIV) são constituídos por um grupo de quatro sorotipos (hPIV1 a hPIV4), descobertos entre 1956 e 1960. hPIV1, 2 e 3 foram inicialmente isolados de lactentes e crianças com doença do trato respiratório inferior e hPIV4 foi recuperado de crianças e adultos jovens com doença respiratória leve de trato respiratório superior[17-19]. Os hPIV são divididos em tipos 1 a 4, baseando-se na fixação de complemento e nos antígenos hemaglutinadores[20]. Mais *** Chanock et al (1961) APUD Gardner PS. Virus infections and respiratory disease of childhood. Arch Dis Child. 1968; 43:629-45.[9] Introdução 4 subtipos principais de hPIV4 (A e B) e subgrupos/genótipos de hPIV1 e hPIV3 têm sido descritos[19]. Os hPIV são agentes comuns de pneumonias adquiridas da comunidade, sem limites étnicos, socioeconômicos, de gênero, de idade, ou geográficos. Muitos fatores têm sido apontados como predisponentes para este tipo de infecção, incluindo desnutrição, aglomeração, deficiência de vitamina A, falta de aleitamento materno, além de tabaco e toxinas no ambiente [19] . Sabe-se que este agente é um patógeno ameaçador à saúde de animais e humanos, causando várias doenças em humanos, especialmente infecções do trato respiratório inferior, envolvendo lactentes e crianças jovens, sendo causa de morbidade e mortalidade[18]. Em estudos longitudinais de etiologia de infecções virais de trato respiratório inferior, as viroses da subfamília paramyxoviridae são a segunda causa de doença respiratória e internação após o VSR[21,22]. Esta família de vírus respiratórios cresce pobremente em ovos embrionários e compartilha poucos sítios antigênicos com o vírus influenza[19]. O hPIV3 é o sorotipo mais prevalente, com 90 a 100% das crianças apresentando anticorpos na idade de cinco anos. Em contraste, infecções por hPIV1 e hPIV2 são menos frequentes, com somente 74 e 50% das crianças da idade de cinco anos apresentando anticorpos, respectivamente[19]. Cerca de metade das crianças com seis anos de idade e 70 a 90% de adultos jovens apresentam anticorpos contra o hPIV4, apesar de as infecções serem poucas vezes reconhecidas[23,24]. Os hPIV1 e hPIV2 são associados com crupe em crianças, enquanto que o hPIV3 está associado à pneumonia e bronquiolite. O hPIV4 tipicamente causa infecção de trato respiratório superior leve em crianças e adultos, mas pneumonia e bronquiolite têm sido descritas em lactentes e crianças com certas Introdução 5 condições[24, 25]. Os hPIV têm sido ignorados apesar de sua importância como causa de doença de trato respiratório inferior na infância[22,26]. 1.1.1. Classificação e estrutura viral Os hPIV pertencem à ordem Mononegavirales, família Paramyxoviridae, subfamília Paramyxovirinae. Há dois gêneros de hPIV: Respirovirus (hPIV1 e hPIV3) e Rubulavirus (hPIV2 e hPIV4). Ambos os gêneros (paramixovírus) podem ser separados morfologicamente do vírus influenza (mixovírus) por seus nucleocapsídeos não-segmentados espessos (17 nm versus 9 nm). Outros gêneros de Paramyxoviridae podem ser fisicamente distintos do hPIV pela ausência de neuraminidase (morbiloviroses, por exemplo, vírus do sarampo e da cinomose) ou um nucleocapsídeo fino (pneumovirus, por exemplo, vírus sincicial respiratório e metapneumovírus)[19]. A Tabela 1 e a Figura 1 apresentam esta classificação. Figura 1 – Classificação dos membros da família Paramyxoviridae[27]. Introdução 6 Tabela 1- Classificação dos tipos de hPIV dentro da família Paramyxoviridae. Subfamília Espécies e gênero Humano Animal Paramyxovirinae Respirovirus hPIV1, hPIV3 Sendai (PIV1 do rato), PIV3 bovino, PIV10 símio Rubulavírus hPIV2, hPIV4A, hPIV4B, NDV(1), vírus Yucaipa (2), vírus Kunitachi (5), Vírus da Caxumba aviária PIV-3, aviária PIV-5, aviária PIV 6 a 9 vírus La-piedad-Michoacan suíno do México, símio PIV-5 e PIV-41 Morbilivirus Vírus do Sarampo Vírus da enfermidade canina,Vírus da peste bovina, vírus da pest-des-petits-ruminante, vírus da enfermidade do golfinho Megamyxovirus Hendra, Nipah HeV (equino, morcego?), NIV (suíno, morcego?) Pneumovírus VSR VSR bovino, vírus da pneumonia do rato Metapneumovírus HMPV Pneumovírus aviário Pneumovirinae VSR: Vírus Sincicial Respiratório; hPIV: Vírus Parainfluenza Humano; Adaptada de Henrickson[19]. Pela microscopia eletrônica, os vírus hPIV são envelopados e pleomórficos. Seus envelopes são derivados das células do hospedeiro. Esta família de vírus é de tamanho médio, medindo entre 150 e 250 nm. As partículas virais geralmente contêm uma única fita de RNA de polaridade negativa, com 15.000 nucleotídeos, que codificam ao menos seis proteínas estruturais comuns (Fig. 2)[17-19]. Figura 2- Microscopia Eletrônica do HIPV-3. Superfície de glicoproteínas é facilmente visualizada. Ampliação de 275.000 X[19]. Introdução 7 A fosfoproteína P é a única que difere quanto ao peso molecular, sendo este maior nos hPIV1 e hPIV3, e menor no hPIV2 e hPIV4. A proteína L é a maior do nucleocapsídeo, seguido pela proteína P. Estas duas proteínas e a proteína do nucleocapsídeo (N) são fortemente associadas ao RNA viral[19]. Duas glicoproteínas de superfície são encontradas em todos hPIV: a hemaglutinina-neuraminidade (HN) e a proteína de fusão (F)[19]. As proteínas HN e F se projetam através do envelope lipídico e formam o maior sítio antigênico para ação dos anticorpos neutralizantes[28]. Suas caudas hidrofóbicas projetam-se dentro da unidade viral, onde interagem com a proteína M para ajudar na montagem do vírus [29] . A proteína HN está envolvida na ligação do vírus na célula hospedeira por interações com resíduos de ácido siálico da superfície celular. Esta interação permite à proteína F a mediação da fusão das membranas vírus-célula, que é necessária para a entrada do nucleocapsídeo e infecção da célula do hospedeiro. A porção neuraminidase da proteína HN media o brotamento da unidade viral da superfície da célula infectada [30,31]. Finalmente, há a proteína de matriz (M), que é fortemente associada à membrana do vírus e fica abaixo desta, sendo a mais abundante proteína de unidade viral[17,19]. 1.1.1.1. Patogênese Os hPIV infectam inicialmente as células epiteliais do nariz e orofaringe e propagam-se distalmente para as vias aéreas de pequeno e grande calibre. Altas taxas de replicação viral são observadas nos pulmões e nariz 24 horas após a infecção, com replicação viral atingindo seu pico em dois a cinco dias [32,33]. Antígenos virais podem ser detectados na porção apical das células epiteliais Introdução 8 respiratórias do primeiro ao sexto dia após a infecção, com decréscimo após o sétimo dia[34]. A extensão da infecção é bem correlacionada com a doença: infecções leves de trato respiratório superior são limitadas ao acometimento de nasofaringe, enquanto doenças mais severas envolvem a propagação da infecção para as vias aérea de grande e pequeno calibre [35] . hPIV1 e hPIV2, que estão mais associados à crupe, tendem a infectar a laringe e a traqueia proximal, enquanto o hPIV3, que é associado à bronquiolite e pneumonia, infecta as vias aéreas mais distais[33]. A avaliação de tecido infectado por hPIV em modelos animais sugere um mínimo dano pela ação viral direta, sendo a ação da resposta inflamatória do hospedeiro mais importante na patogênese destas infecções[33]. Tem sido estudado o papel da Imunoglobulina E, a resposta dos linfócitos T citotóxicos, e da liberação de citocinas. O aumento na reatividade das vias aéreas que frequentemente é observado na infecção pelo hPIV3 (e outras infecções virais respiratórias, como pelo VSR) pode ser resultado de aumento da produção de Inter leucina 11 e reforçado pela liberação de acetilcolina[36,37]. 1.1.1.2. Síndromes clínicas O hPIV está associado com todo tipo de doença do trato respiratório superior e inferior. No entanto, existe forte relação entre hPIV1, hPIV2, e hPIV3 com síndromes clínicas, idade das crianças e época do ano[19]. 1.1.1.2.1. Crupe (lagingotraqueobronquite aguda) O hPIV é responsável por 56 a 74% dos casos de crupe[38], com o hPIV1 sendo o mais frequente subgrupo envolvido. hPIV2 e hPIV3 respondem por cerca Introdução 9 de 10% cada como agente etiológico. Dados norte-americanos sugerem que ocorrem entre 27.000 e 66.000 hospitalizações por ano, por crupe. Nos anos em que o hPIV-1 não é epidêmico, hPIV2 tem sido apontado como responsável pela ocorrência de surtos de crupe[19]. Os casos de crupe determinados por este vírus geralmente são mais leves que os causados pelo hPIV1[39]. 1.1.1.2.2. Bronquiolite Todos os tipos de hPIV podem causar bronquiolite, mas hPIV1 e hPIV3 têm sido reportados mais comumente. Ambos os hPIV causam cerca de 10 a 15% das bronquiolites em crianças não hospitalizadas. No entanto, em crianças hospitalizadas, o hPIV3 é apontado como etiologia de bronquiolite três ou quatro vezes mais hPIV1, sendo a principal causa de bronquiolite e pneumonia após o VSR[19,40]. 1.1.1.2.3. Pneumonia hPIV-1 e hPIV-3 respondem cada um por cerca de 10% das etiologias de pneumonia nas crianças em tratamento ambulatorial, mas como nos casos de bronquiolite, o hPIV-3 é mais isolado em crianças hospitalizadas. hPIV2 e hPIV4 também podem causar pneumonia, mas a incidência destes ainda não está bem descrita[41]. Embora muitas infecções pelo hPIV são leves, complicações sérias podem ocorrer, particularmente em pacientes imunocomprometidos. Crianças e adultos com comprometimento imunológico podem evoluir de uma infecção leve do trato respiratório superior para uma pneumonia severa, com replicação viral prolongada e disseminação[39]. Introdução 10 1.1.1.2.4. Traqueobronquite Paciente com sinais e sintomas de doença do trato respiratório que não se enquadram bem nas síndromes acima descritas comumente recebem o diagnóstico de traqueobronquite. Os sintomas mais comuns incluem tosse, sibilos e roncos na ausculta pulmonar, mas os pacientes podem apresentar também febre e sintomas de trato respiratório superior. Cerca de 20 a 30% das crianças com doença do trato respiratório inferior recebem este diagnóstico. A incidência é baixa em menores de cinco anos de idade, mas traqueobronquite é diagnosticada tanto na idade escolar quanto na adolescência. Os agentes virais são a etiologia mais comum na infância. Mais que 25% dos agentes identificados como causadores desta síndrome são hPIV, sendo o hPIV3 o mais frequente entre eles[19]. 1.1.1.2.5. Doenças do trato respiratório superior Otite média aguda (OMA) está associada com infecções virais em 30 a 60% dos casos. Os vírus podem agir sinergicamente a bactérias para iniciar uma OMA ou prolongar os sintomas e ocasionalmente são encontrados como único agente etiológico. hPIV3 é o subtipo mais frequentemente apontado como etiologia de OMA[19]. hPIV também está envolvido na etiologia de sinusites, como causa isolada ou conjuntamente a agentes bacterianos[39]. 1.1.1.2.6. Doenças neurológicas Por muitas décadas, os hPIV têm sido associados com doenças neurológicas agudas e crônicas. Crianças hospitalizadas por hPIV podem apresentar crises Introdução 11 convulsivas febris, sendo que o hPIV4b aparece mais associado a este problema, seguido por hPIV3 e hPIV1. Há relatos de hPIV associados à esclerose múltipla, panencefalite subesclerosante aguda e Síndrome de Guillain-Barré. Ocasionalmente os hPIV podem ser causas de meningite e encefalite em crianças e adultos. Estes dados sugerem que os hPIV podem apresentar tropismo pelo sistema nervoso central em alguns hospedeiros, porém mais estudos precisam ser realizados para explicar o papel destes vírus nestas doenças[19]. 1.1.1.2.7. Outras síndromes Há relatos de recém nascidos a termo e prematuros que apresentaram apnéia e bradicardia durante a infecção pelo hPIV[19]. Em uma epidemia por hPIV3 ocorrida em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal em Singapura sete crianças foram afetadas, sendo que três apresentaram estes sintomas[42]. Existem relatos de ocorrência de parotidite, síndrome da angústia respiratória[43], exacerbação de síndrome nefrótica[44], pericardite, miocardite[45] e síndrome de Reiter[46] relacionados à infecção por hPIV. Outros relatos demonstram ocorrência de mialgia e rabdomiólise relacionadas à infecção pelo hPIV-3. 1.1.1.3. Sazonalidade Os padrões sazonais de hPIV1, hPIV2 e hPIV3 são curiosamente interativos nos países do hemisfério norte. hPIV1 causa os maiores e mais bem definidos surtos, marcados por picos bianuais que acompanham o aumento de casos de crupe em outonos e invernos de anos ímpares. hPIV2 tem sido descrito como causador de surtos bianuais com o hPIV1, ou em anos alternados, ou tardiamente a este. Já a Introdução 12 sazonalidade do hPIV3 demonstra surtos anuais, principalmente na primavera e verão, e duram mais que os surtos dos hPIV1 e hPIV2[19, 26, 47] . Nos anos em que não há circulação de hPIV1, há um aumento da atividade do hPIV3[39]. hPIV4 é pouco isolado, relativamente pouco conhecido e pouco caracterizado[19,26,47]. Há poucas publicações sobre a incidência e sazonalidade de hPIV em países tropicais[48-50]. Em estudo conduzido no Rio de Janeiro, com crianças de idade inferior a cinco anos de idade, em que foi investigada etiologia viral de infecções respiratórias agudas entre os anos de 1982 e 1985, os surtos de hPIV-3 foram observados no final do inverno ou na primavera[51]. Em Porto Alegre, no sul do Brasil, estudo que avaliou a prevalência de infecções virais em crianças menores de cinco anos de idade entre 1990 e 1992, mostrou surtos de hPIV-3 no mês de outubro em 1991[52]. Já em Fortaleza, em estudo conduzido sobre infecções por hPIV, os autores encontraram surtos ocorrendo na estação mais seca do ano, um padrão sazonal que não havia sido descrito em outros estudos no nordeste do Brasil ou em outros países tropicais[48]. A prevalência sazonal de hPIV3 é diferente de um país para outro. Os surtos ocorrem no verão e no início do outono no Reino Unido, ou durante o inverno na Noruega e na Dinamarca[51]. 1.1.1.4. Epidemiologia A maior parte das doenças sintomáticas por hPIV é causada por hPIV1 e hPIV3, com menos casos de hPIV2. hPIV4 parece causar infecções mais raras e menos sintomáticas. Estudo conduzido com grande coorte de pacientes nos Estados Unidos entre 1970 e 1990 apontou as infecções por hPIV como sendo responsáveis Introdução 13 por cerca de 65% dos casos de crupe, 20 a 40% das infecções de trato respiratório inferior e 20% da infecções de trato respiratório superior, com taxas de necessidade de atenção médica por crupe tão altas como 3/1000 por ano em crianças da idade pré-escolar. A Rede de Vigilância de Novas Vacinas, um estudo populacional, documentou hospitalizações relacionadas à hPIV em crianças menores que cinco anos de idade em frequência igual ou maior que as por FLU, de 1/1000 crianças por ano[26]. hPIV é mais comumente isolado em infecções de trato respiratório superior em crianças menores de cinco anos de idade. Estudos sorológicos têm demonstrado que ao menos 50% das crianças apresentaram infecção por hPIV-3 até completarem um ano de idade, enquanto que hPIV1 e hPIV2 mais frequentemente afetam crianças até a idade de três a cinco anos. Outros estudos demonstram que infecções por PIV determinam de 20 a 40% das infecções do trato respiratório inferior das quais um vírus é isolado, e 2,8/1000 crianças com tal infecção requerem hospitalização. Um estudo baseado nas altas hospitalares em todos os Estados Unidos de 1994 a 1997 estimou taxas de hospitalização por hPIV1 a 3 variando de 1,9 a 12/1000 crianças menores de um ano de idade, e de 0,5 a 2/1000 crianças entre um e quatro anos de idade. A maior parte das hospitalizações são devido à infecção pelo hPIV3, com taxas estimadas entre 0,48 e 2,6/1000 crianças[39]. Estudo prospectivo de vigilância populacional conduzido em duas áreas urbanas dos Estados Unidos, entre outubro de 2000 e setembro de 2001, incluindo crianças hospitalizadas por infecção respiratória aguda, menores de cinco anos de idade, selecionou 592 pacientes. Foram coletadas amostras de secreção de nasofaringe submetidas à reação de cadeia de polimerase (PCR) e cultura viral. Um terço da população incluída no estudo foi positivo para um vírus, sendo o VSR o Introdução 14 mais prevalente (20%), seguido pelo hPIV (7%) e pelo FLU (3%)[53,54]. Hospitalizações por VSR e FLU apresentaram distribuição sazonal característica, com picos em janeiro e fevereiro de 2011, já as internações por hPIV distribuíram-se de maneira homogênea ao longo do ano. As taxas de hospitalização em pacientes com vírus isolado por 1000 foram de 3,5 para VSR, 1,2 para hPIV e 0,6 para FLU. Dos vírus identificados, 94% dos VSR, 80% dos FLU e 85% dos HPIV ocorreram em crianças menores de dois anos de idade. A necessidade de utilização de oxigênio suplementar foi significativamente maior nos pacientes VSR positivos, quando comparados com os casos de HPIV ou FLU (61% x 27% x 30% respectivamente, p<0,001). A média de tempo de internação foi de dois dias para todos os vírus, não diferindo entre os grupos. Na alta hospitalar, 25% dos pacientes com HPIV isolados tiveram diagnóstico de bronquiolite e 10% de pneumonia, sendo as taxas respectivamente de 79% e 27% quando o vírus foi o VSR[53]. Outro estudo norte-americano, realizado em Salt Lake City, com o objetivo de demonstrar a correlação entre doenças respiratórias virais e doença invasiva por pneumococo, foi conduzido de maneira retrospectiva. Este estudo incluiu os pacientes internados com diagnóstico de doença invasiva pelo S. pneumoniae durante seis estações sazonais de vírus (2001-2007), e utilizou os dados do Primary Children’s Medical Center (PCMC), que faz vigilância para vírus utilizando Imunofluorescência Direta e cultura viral, e caracteriza-se por ser um serviço de atenção à saúde da criança que atende a cidade de Salt Lake e cinco outros estados. Os resultados demonstraram correlação das infecções por VSR e FLU com doença invasiva por pneumococo. No entanto, cabe ressaltar que foram coletadas 33.633 amostras de pacientes menores de 18 anos de idade durante o período do estudo, com positividade para algum vírus em 34%. As amostras positivas incluíam Introdução 15 6963 VSR (61,3%) 1860 FLU (16,4%), 1459 hPIV (12,8%) e 818 AdV (7,2%)[55]. Calvo et al, 2011, realizaram estudo prospectivo com a finalidade de descrever o impacto clínico dos diferentes tipos de hPIV detectados em crianças hospitalizadas por doença de trato respiratório na Espanha. O estudo foi conduzido entre setembro de 2008 e agosto de 2010, em hospital público em região da cidade de Madrid, incluindo crianças com menos de 14 anos de idade. Foram incluídos 916 pacientes, sendo que hPIV foi detectado em 82 (8,9% de toda população incluída e 11,8% dos pacientes com vírus positivo). A idade média destes pacientes foi de 522+586 dias, e o tempo de internação foi de 3,7+ 1,2 dias. Os diagnósticos em ordem de frequência foram chiado recorrente ou asma (45%), bronquiolite (26%), pneumonia (14%) e laringite (5%). hPIV3 e hPIV4 foram os tipos mais frequentemente encontrados (57,3% e 18,3%, respectivamente), seguidos de hPIV1 (14,6%) e hPIV2 (9,8%). Dois destes pacientes foram admitidos em Unidade de Terapia Intensiva com pneumonia e derrame pleural. Os autores observaram aumento nos casos de infecção por hPIV com o passar do tempo do estudo, sendo que 55% dos casos foram encontrados no último ano. Houve positividade para VSR em 18,5% dos casos incluídos, e os seus dados foram comparados com os pacientes com infecção por hPIV. Foi observado que os pacientes com positividade para VSR apresentaram maior frequência de hipoxemia que os com hPIV (73% x 50%, p=0,01), e por mais dias (2,9 x 1,95, p=0,003). Bronquiolite foi mais frequente no grupo VSR positivo (58% x 28%, p=0,001) e as crianças com VSR eram mais jovens que as com hPIV (348 +447 x 626+725 dias, p= 0,05). Pneumonia foi mais frequente no grupo positivo para hPIV (p=0,02) e prematuridade foi mais frequente no grupo em que hPIV foi isolado[56]. Cabello et al, 2006, realizaram estudo prospectivo em localidade no sudoeste Introdução 16 da Cidade do México, com seguimento de 290 crianças randomizadas, pelo período de um ano, com coleta de amostras de secreção de nasofaringe, que foram submetidas à imunofluorescência indireta para VSR, FLU A e B, AdV, e hPIV1 a 3. As coletas ocorreram nas crianças, sempre que houve sinais e sintomas de infecção do trato respiratório aguda, sendo identificados 543 episódios de infecção respiratória aguda. O VSR foi o vírus mais isolado, seguido pelo FLU e hPIV. Nesta localidade de clima temperado com temperaturas variando de zero a 30ºC, ocorreram dois picos de incidência de hPIV, um no verão e outro no inverno[57]. Em outro estudo mexicano, conduzido no Estado de São Luís Potosi, utilizando os dados epidemiológicos fornecidos pelo Departamento de Epidemiologia dos serviços de saúde daquela localidade e os registros do Laboratório de Virologia da Faculdade de Medicina da Universidade Autônoma de São Luís Potosi, foi analisada a prevalência e sazonalidade dos vírus respiratórios em crianças menores de cinco anos de idade com infecção respiratória aguda. A pesquisa viral foi realizada com secreção de nasofaringe submetida à Imunofluorescência Indireta. O estudo foi conduzido de julho de 2003 a junho de 2004. Foram reportados, neste período 236.597 casos de infecção respiratória aguda e 2350 pneumonias, com 657 amostras testadas no laboratório de virologia, sendo que 180 foram positivas para algum vírus (134 para VSR, 15 hPIV1, 18 HPIV-3 e 13 FLU). Foi encontrada sazonalidade bem marcada para o VSR (picos entre os meses de novembro e fevereiro), coincidindo com aumento do número de admissões hospitalares por pneumonia. Com relação ao hPIV, houve pico de incidência para hPIV1 no mês de outubro e picos de hPIV3 no final do período sazonal de VSR. Os casos de infecção respiratória aguda que acompanharam os picos de hPIV1 e três foram semelhantes aos que acompanharam os picos de FLU. Já para pneumonia houve aumento do Introdução 17 número de casos relacionados à VSR, seguido por hPIV3 e FLU[1]. Cabe citar estudo publicado em 2010, por Teo, et al, que relataram surto da hPIV3 em unidade neonatal de prematuros, ocorrido em 2005 em hospital de Singapura. Este estudo demonstra morbidade por este agente em recém-nascidos (RNs), que habitualmente não são relatados como população suscetível, devido à passagem de anticorpos neutralizantes maternos, além de demonstrar a gravidade destas infecções e a rápida disseminação intra-hospitalar. Sete crianças foram acometidas pelo hPIV3, sendo que apneia e bradicardia foram sintomas importantes em três delas, insuficiência respiratória ocorreu em cinco e duas apresentaram sintomas gripais. Apesar de todas as medidas implementadas para controle de transmissão intra-hospitalar e da identificação precoce da infecção pelo hPIV3, os autores relatam duração de 24 dias deste surto[21]. Entre fevereiro de 2005 e setembro de 2006, 455 casos de doença respiratória aguda em crianças menores de cinco anos de idade foram incluídos em estudo prospectivo que avaliou a incidência e as características clínicas de pacientes internados com infecção pelo VSR, em hospital terciário na cidade de São Paulo, Brasil. Este estudo foi conduzido por nosso grupo e publicado em 2008, tendo sido estudado também a prevalência de outros vírus, incluindo o hPIV, através da coleta de secreção nasal, submetida à Imunofluorescência Indireta. Os resultados mostraram o hPIV como segundo agente viral isolado, atrás somente do VSR e na mesma frequência do FLU[58]. Outro estudo sobre prevalência de vírus respiratório, realizado em Salvador, Bahia, com crianças de até cinco anos de idade, atendidas no setor de urgência e também as internadas por infecção respiratória aguda, utilizou a Imunofluorescência Indireta de secreção de nasofaringe. Este estudo foi conduzido por um ano (janeiro a Introdução 18 dezembro de 1998) e incluiu 482 crianças. Houve positividade para pelo menos um vírus em 31,9% dos pacientes, sendo que das amostras positivas, 54,5% foram positivas para VSR, 17,5% para FLU A, 16,2% para hPIV3, 7,2% para AdV, 3,8% para FLU B e 0,6% para hPIV1. A ocorrência de hPIV deu-se durante oito meses do ano, sem pico característico de ocorrência, diferente do VSR que apresentou pico de positividade relacionado à estação chuvosa do ano[59]. Com o objetivo de estudar a prevalência de oito vírus respiratórios mais comuns, foi conduzida vigilância em todas as crianças internadas por infecção respiratória aguda, entre 1º de janeiro e 20 de dezembro de 2003, no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. Foram coletadas amostras de secreção de nasofaringe e realizado real time PCR. Os resultados demonstraram que 55,6% das amostras foram positivas para ao menos um vírus. A maior incidência foi de VSR (24,1%), seguido de hMPV (17,8%), HPIV-3 (8,3%), AdV (6,8%), FLU A (5%), e hPIV-1 (0,6%). Não houve associação entre sintomas físicos e diagnósticos clínicos com o tipo de vírus. A maior incidência de HPIV-3 ocorreu no final do inverno, coincidindo com a queda de incidência de VSR[60]. Na cidade do Rio de Janeiro, foi realizado estudo longitudinal para identificar os agentes virais em infecções respiratórias agudas, também em crianças menores de cinco anos de idade. O período de estudo foi de janeiro de 1982 a abril de 1984, com a inclusão de 2109 crianças, atendidas em todos os níveis de atenção à saúde. A secreção nasal foi submetida à Imunofluorescência Indireta. Houve isolamento de algum vírus em 31% dos casos, sendo novamente o VSR o vírus mais prevalente. A incidência de hPIV foi de 5,6% dos casos positivos, havendo acometimento principalmente da população atendida em ambulatórios, com picos de incidência do hPIV-3 no final do inverno e primavera[51]. Introdução 19 No período de janeiro de 2000 a dezembro de 2006, na cidade de Fortaleza, no nordeste do Brasil, Fé et al, 2008, conduziram estudo para avaliar aspectos clínicos e epidemiológicos do hPIV em uma cidade tropical. Foram coletadas 3070 amostras de pacientes de zero a 16 anos, com sintomas de febre (>37,5ºC), tosse, coriza, rouquidão, dor de ouvido, dificuldade respiratória, chiado e/ou sibilância com duração de até sete dias, sendo submetidas à Imunofluorescência Indireta. Algum vírus respiratório foi detectado em 31,8% dos casos, sendo a positividade para hPIV de 3,81%. O hPIV-3 foi encontrado em 83,76% dos casos positivos para este vírus, seguido de hPIV-1 (11,96%) e hPIV-2 (4,27%). O vírus mais frequentemente isolado neste estudo foi o VSR, em 58,7% dos casos positivos, seguido do FLU em 20%, hPIV-3 em10% e AdV em 5,8%. A maior incidência de hPIV ocorreu entre setembro e novembro, não havendo relação com a estação chuvosa, ao contrário de VSR e FLU. Entre as crianças infectadas por hPIV, o quadro clínico foi mais brando, quando comparado aos relacionados à VSR e FLU[48]. Com a atenção dos pais e médicos voltada para os surtos anuais de VSR e influenza, infecções por hPIV podem ser negligenciadas[61]. No entanto, hPIV são a segunda causa de infecção do trato respiratório inferior e superior em crianças abaixo de cinco anos de idade nos Estados Unidos, atrás do VSR[18,26,62]. Baseado nos dados de isolamento de vírus e detecção de antígeno, hPIV têm sido demonstrado como o agente isolado mais importante de laringite, predominantemente no final do outono e início da primavera[63]. Poucos trabalhos têm sido publicados nos últimos anos avaliando a prevalência, características clínicas e sazonalidade do hPIV em países tropicais. Assim, foi desenhado um estudo prospectivo de avaliação da etiologia viral de infecções respiratórias na infância, com o objetivo de avaliar o impacto do hPIV nas crianças menores que Introdução 20 cinco anos de idade internadas por doença respiratória aguda. 1.1.1.5. Modos de Transmissão e Infecção Nosocomial Os modos de transmissão dos hPIV foram estudados em poucos trabalhos, sendo postulado que os mecanismos são semelhantes aos dos VSR. Foi demonstrado que o hPIV1, hPIV2 e hPIV3 sobrevivem em superfícies não porosas por até 10 horas e em superfícies porosas, por até quatro horas, sendo facilmente removido destas superfícies com detergentes comuns, desinfetantes e agentes antissépticos. No entanto, sabe-se que este vírus perde até 90% de sua infectvidade em mãos nos primeiros 10 minutos, sendo improvável a transmissão de pessoa a pessoa[19]. Crianças infectadas pelo hPIV transmitem o vírus para um mínimo de 20% de crianças internadas em uma mesma enfermaria. Cerca de um terço destas crianças desenvolverão doença leve, mas uma parte pode apresentar doença grave das vias aéreas inferiores, com sequelas e aumento do tempo de internação. Sabe-se que crianças jovens, os imunocomprometidos e os adultos idosos são de risco para infecção pelo hPIV[19]. Medidas de controle nos hospitais incluem lavagem de mãos, isolamento de contato, separação de pacientes com sintomatologia respiratória em mesma enfermaria, e restrição de exposição de crianças internadas a visitantes ou membro da equipe multiprofissional com sintomatologia respiratória[19,64]. Introdução 21 2. OBJETIVOS 22 Este estudo prospectivo realizado na Santa Casa de São Paulo visa avaliar: 1. A prevalência dos tipos de Vírus Parainfluenza em crianças internadas com doença respiratória aguda; 2. Comparar as características clínicas das infecções pelos Vírus Parainfluenza e Sincicial Respiratório nestas crianças; 3. Determinar os diagnósticos mais frequentemente associados aos pacientes com infecção pelos vírus Parainfluenza na população estudada; 4. Comparar os desfechos dos pacientes com infecções pelos vírus Parainfluenza e Sincicial Respiratório; 5. A existência de padrão de sazonalidade nas infecções pelo vírus Parainfluenza e Vírus Sincicial Respiratório nesta população e comparar com a literatura. Objetivos 23 3. CASUÍSTICA E MÉTODO 24 O trabalho “Estudo dos agentes virais na etiologia das infecções do trato respiratório em crianças menores de cinco anos de idade assistidas num Hospital de Referência na Cidade de São Paulo: Santa Casa de São Paulo” foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (I.S.C.M.S.P.) em 2004 (Anexo I). Tal estudo foi conduzido no Departamento de Pediatria e Puericultura do Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, incluindo crianças menores de cinco anos de idade internadas por doença respiratória aguda no período de fevereiro de 2005 a maio de 2007. Foi gerado banco de dados que foi utilizado para o estudo de prevalência dos vírus Parainfluenza e suas características clínicas. O Hospital Central da Santa Casa de São Paulo é localizado na região central da cidade de São Paulo, sendo referência terciária para a região central e zona norte. O Departamento de Pediatria e Puericultura possui 129 leitos de internação, conta com Unidade de Terapia Intensiva, e Pronto Socorro com atendimento de demanda espontânea. São realizados cerca de 60.000 atendimentos de urgência e outros 60.000 atendimentos de urgência/emergência ao ano, em crianças de zero a 14 anos, tanto em pacientes sem doença de base, como em pacientes que necessitam de atendimento especializado. No período em que foi conduzido o estudo, houve 9514 saídas hospitalares, sendo 1709 pacientes com doença aguda do trato respiratório inferior (DATRI). Toda a análise laboratorial foi realizada no Instituto Adolfo Lutz, como parte da integração da Santa Casa de São Paulo à rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN, sigla para Viral Genetic Diversity Network). Todo o material utilizado para coleta de secreções assim como os custos com laboratório teve apoio financeiro externo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Casuística e Método 25 3.1. Seleção de pacientes Foram incluídos no presente estudo pacientes internados na Enfermaria de Retaguarda do Pronto Socorro Infantil do Departamento de Pediatria e Puericultura da I.S.C.M.S.P. após um período não maior que 24 h, de domingo à sexta-feira, exceto feriados****, com: Idade inferior a 60 meses no momento da internação; Doença aguda do trato respiratório inferior (DATRI), definida pela presença de dois ou mais sinais de comprometimento de vias aéreas inferiores (com disfunção respiratória caracterizada por cansaço, e/ou taquipneia, e/ou sibilos, e/ou crepitação ao exame físico e/ou febre ao exame físico); Prodrómo de IVAS (coriza, espirros e/ou obstrução nasal); Pacientes com período máximo de doença de cinco dias, pela história clínica relatada pela mãe ou responsável. Critério de exclusão: Resultado da Imunofluorescência Indireta (IFI) inconclusivo (laudo fornecido pelo Instituto Adolfo Lutz). 3.2. Procedimentos O pesquisador responsável sempre participou da seleção de pacientes, às vezes auxiliado por outro médico pertencente ao grupo da Enfermaria de Retaguarda do Pronto Socorro Infantil. Após internação do paciente na Enfermaria de Retaguarda do Pronto Socorro Infantil do Departamento de Pediatria, feito o diagnóstico de DATRI pelo Médico ****Os pacientes foram incluídos sempre nas manhãs de segunda à sexta-feira, com exceção de feriados, com o objetivo de proporcionar a chegada e processamento do material coletado ao laboratório no mesmo dia da coleta. Casuística e Método 26 Assistente do Departamento de Pediatria e confirmado pelo pesquisador, foi realizada avaliação inicial das crianças de acordo com os critérios de inclusão e exclusão já explicitados anteriormente. Após a seleção dos pacientes, foi feito contato direto com os responsáveis legais, informando aos mesmos os objetivos da pesquisa e solicitada a adesão dos mesmos. Para aqueles que concordaram, foi requerida a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II). A partir desde momento estas crianças foram incluídas na pesquisa. Foi então preenchido um protocolo (ANEXO III) com as seguintes informações: Data da Internação; Características demográficas: data de nascimento, idade e gênero; Dados da história clínica: tosse, coriza, espirros, febre, falta de ar, apnéia e obstrução nasal; Dados do exame físico: sibilos, dispnéia, cianose, tiragens e batimento de asa nasal; Diagnóstico clínico do tipo de DATRI; Antecedentes pessoais: cardiopatia, prematuridade, bronco displasia, doença do refluxo gastresofágico, ou outras doenças; Antecedentes familiares: tabagismo e sintomas sugestivos de atopia (asma, dermatite e rinite). Casuística e Método 27 3.3. Obtenção das amostras Após o preenchimento do protocolo, foi coletado material através da aspiração de secreção de nasofaringe. Instilou-se cerca de um mililitro (ml) de solução de Ringer na narina do paciente. Com sonda uretral número seis acoplada e equipo de soro cortado e conectado a vácuo, foi aspirada quantidade de secreção suficiente para preencher parte do equipo cortado. Da outra narina foi colhida secreção em coturete, que foi imediatamente transferido para frasco contendo um ml de solução de Ringer. O material colhido foi acondicionado em gelo e transportado para o Instituto Adolfo Lutz – setor de virologia. A obtenção da amostra foi realizada pelo pesquisador, que foi treinado pela equipe do laboratório, ou outro médico assistente do Departamento de Pediatria, também devidamente treinado. Durante toda a condução do estudo houve contato frequente com o laboratório para avaliação da qualidade dos espécimes coletados. As amostras foram enviadas ao laboratório do Instituto Adolfo Lutz sempre no mesmo dia da coleta para processamento em até quatro horas após a coleta. Qualquer material que não foi processado no prazo acima citado foi descartado, sendo realizada nova coleta na manhã seguinte 3.4. Processamento das amostras O aspirado e o meio contendo o coturete foram misturados, homogeneizados e tratados com 1000 U.ml-1 de penicilina e 1000 µ.ml-1 de estreptomicina. Após 30 minutos e a quatro graus Celsius, as amostras com três ml foram separadas em quatro alíquotas: 900 µL para inoculação em cultura de células; 1500 µL para IFI, Casuística e Método 28 250 µL para reação de cadeia de polimerase. O restante foi congelado a menos 70 graus Celsius após adição em meio de congelamento. As alíquotas destinadas a IFI foram incialmente centrifugadas a 450 x g por 10 minutos e lavadas duas vezes com PBS 0,01 M, pH de 7,2, retirando-se o excesso de muco durante as lavagens. O sedimento foi ressuspenso em 250 a 300 µL de PBS e aplicado em orifícios de lâminas de Imunofluorescência, de forma a obter, com um aumento de 100 vezes, 20 células por campo. Para cada amostra, tanto de material para Imunofluorescência quanto para cultura, foram separadas lâminas de triagem a fim de detectar a presença de vírus. Em casos positivos foram coradas para identificar diferentes vírus respiratórios (painéis de sete vírus), com anticorpos monoclonais específicos para VSR, FLU A/B, hPIV 1,2 e 3 e AdV, segundo as técnicas pré-estabelecidas (kit comercial ChemiconInternational®). Em casos positivos para VSR, foi corada uma lâmina com seis orifícios destinados à tipagem, sendo dois para o grupo A, dois para o grupo B e dois para controle negativo. Este estudo somente considerou os resultados da IFI que foram disponibilizados pela equipe do laboratório no mesmo dia da coleta. Constaram ainda das informações do protocolo, que foram preenchidas durante o período de internação do paciente: Destino do paciente: manutenção em enfermaria ou internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI); Evolução: alta ou óbito; Resultado da Imunofluorescência Indireta; Tempo de Internação. Casuística e Método 29 Todas as crianças foram submetidas a tratamento e seguimento de acordo com o padrão do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo. 3.5. Variáveis analisadas Características demográficas: data de nascimento, idade, faixa etária, gênero; o As idades dos pacientes foram agrupadas em faixas etárias, a saber: Faixa Etária A = 0 a 11 meses e 29 dias; Faixa Etária 29 dias; Faixa Etária D C B = 12 meses a 23 meses e = 24 meses a 35 meses e 29 dias; Faixa Etária = 36 meses a 47 meses e 29 dias; Faixa Etária E = 48 meses a 60 meses; o A Faixa Etária A foi subdividida de três em três meses; Sazonalidade (nº casos. mês-1); Tempo de Internação; Resultado da Imunofluorescência Indireta para VSR, HPIV e outros vírus (incluindo FLU A e B, e AdV); Sinais e Sintomas de DATRI: o Tosse relatada na anamnese, febre (temperatura axilar acima de 37,8ºC verificada), sibilos e roncos na ausculta pulmonar, dispneia observada pelo médico assistente, presença de cianose e apneia detectada durante a internação; Diagnóstico clínico do tipo de DATRI; Pródromos de IVAS o Presença de história de coriza, obstrução nasal ou espirro; Antecedentes Pessoais: lactente sibilante, cardiopatia, asma, prematuridade, broncodisplasia, doença do refluxo gastresofágico, outras doenças; Casuística e Método 30 Antecedentes familiares de tabagismo e de atopia; Destino do paciente: manutenção na enfermaria ou internação em Unidade de Terapia Intensiva; Evolução: alta ou óbito. 3.6. Divisão dos pacientes em grupos Os pacientes foram considerados em grupos específicos, dependendo da variável a ser estudada. Assim foram divididos de acordo com: Faixa Etária; Resultado da IFI para VSR, HPIV e Outros vírus: GVSR+, GPIV+ e GOUTROS; Presença de antecedentes pessoais que caracterizam populações de risco para doença grave por VSR e HPIV. Assim, pacientes com um ou mais antecedentes pessoais específicos descritos a seguir, foram considerados como sendo do grupo de risco: o Prematuridade (relatado na história, sem diferenciação quanto à Idade Gestacional, e com idade inferior a dois anos no momento da inclusão neste estudo); o Doença Pulmonar Crônica (prematuros que apresentavam quadros pulmonares de repetição e pacientes submetidos a longos períodos de ventilação pulmonar mecânica com sequela pulmonar, apresentando chiados recorrentes e necessitando de tratamento medicamentoso nos últimos seis meses); o Cardiopatia Congênita com hiperfluxo pulmonar; o Quadros de Imunidade comprometida. Casuística e Método 31 3.7. Análise estatística A análise estatística constou de duas fases: Fase 1 – análise da amostra como um todo, de acordo com as variáveis estudadas; Fase 2 – divisão da amostra de acordo com o critério resultado da IFI para PIV e VSR, ou negativos/positivos para outros vírus. Os dados foram codificados e enviados ao banco eletrônico de dados do programa Sigma Stat, versão 3.5, as distribuições de frequências foram feitas utilizando-se o programa EpiInfo. Para a elaboração de gráficos foi utilizado o Microsoft Excel 2007. As variáveis quantitativas foram analisadas pelo estudo das medianas aplicando o teste de Mann-Whitney. As variáveis qualitativas foram analisadas comparando as proporções nos dois grupos usando o Teste do Qui-Quadrado ou Teste exato de Fisher quando necessário. Foi considerada diferença estatisticamente significante quando p<0,05. Casuística e Método 32 4. RESULTADOS 33 Durante o período de fevereiro de 2005 a maio de 2007 foram incluídos 585 pacientes no estudo. 4.1. Fase 1 4.1.1. Dados demográficos Da casuística de 585 pacientes, 264 (45,13%) eram do gênero feminino. A idade média da população incluída neste estudo foi de 12,39 meses, mediana de 7,90 meses. O número total de pacientes nas diferentes faixas etárias em que a população foi dividida (Faixa etária A a E) pode ser visto na Tabela 2, assim como as respectivas porcentagens. Tabela 2- Número total de casos e porcentagem em cada faixa etária (Santa Casa de São Paulo, 2011). Nº de Pacientes % Faixa Etária A 392 67,01 Faixa Etária B 105 17,95 Faixa Etária C 44 7,52 Faixa Etária D 25 4,27 Faixa Etária E 19 3,25 585 100,00 Total Faixa Etária A = 0 a 11 meses e 29 dias; Faixa Etária B = 12 meses a 23 meses e 29 dias; Faixa Etária C = 24 meses a 35 meses e 29 dias; Faixa Etária D = 36 meses a 47 meses e 29 dias; Faixa Etária E = 48 meses a 60 meses. A Faixa Etária A, composta por pacientes entre 0 e 11 meses e 29 dias apresenta 392 casos, assim, apresentamos a distribuição desta Faixa Etária dividida em intervalos de três meses no Gráfico 1. Resultados 34 Faixa Etária (meses) Gráfico 1- Distribuição dos pacientes da Faixa Etária A (0 a 11 meses e 29 dias) a cada três meses (Santa Casa de São Paulo, 2011). 4.1.2. Tempo de internação Os dados referentes ao tempo de internação dos pacientes incluídos neste estudo encontram-se na Tabela 3. Tabela 3- Valores de Média, Mediana, Desvio Padrão, Máximo e Mínimo de tempo de internação dos pacientes incluídos (Santa Casa de São Paulo, 2011). Dias de Internação Mediana Valor Mínimo Valor Máximo 6 1 150 4.1.3. Sinais e sintomas de DATRI, diagnósticos de DATRI e prodromos de IVAS As tabelas 4, 5 e 6 apresentam, respectivamente, os números totais e porcentagens dos sinais e sintomas da DATRI nos pacientes estudados, dos Resultados 35 pródromos de IVAS e dos tipos de diagnósticos de DATRI encontrados. Tabela 4- Número total e porcentagem dos sinais e sintomas de DATRI nos pacientes estudados (Santa Casa de São Paulo, 2011). Total Presente % Tosse 585 531 90,77 Febre 585 373 63,76 Sibilos 585 326 55,73 Roncos 585 299 51,11 Dispneia 585 339 57,95 Cianose 585 47 8,03 Apneia 585 23 3,93 Tabela 5- Número total e porcentagem de pródromos de IVAS nos pacientes estudados (Santa Casa de São Paulo, 2011). Total Presente % Coriza 585 311 53,16 Obstrução Nasal 585 143 24,44 Espirros 585 78 13,33 Tabela 6- Número total dos seis diagnósticos mais frequentes de DATRI nos pacientes estudados (Santa Casa de São Paulo, 2011). Diagnósticos mais frequentes Nº Total Bronquite Aguda 272 Pneumonia não alveolar 210 Bronquiolite 140 Pneumonia alveolar 47 Síndrome Coqueluxóide 9 Laringite 6 BCP = Broncopneumonia Resultados 36 4.1.4. Antecedentes pessoais e familiares A Tabela 7 apresenta o número total e a porcentagem de antecedentes mórbidos pessoais na população estudada. Tabela 7- Número total e porcentagem dos antecedentes mórbidos pessoais dos pacientes estudados (Santa Casa de São Paulo, 2011). Antecedentes Mórbidos nº Total % Bebe Chiador 78 13,33 Cardiopatia Congênita 47 8,03 Asma 33 5,64 Prematuridade 29 4,96 Broncodisplasia 12 2,05 DRGE 10 1,71 Outros 57 9,74 Nenhum 319 54,53 585 100 Total DRGE = Doença do Refluxo Gastroesofágico O número total e a porcentagem dos pacientes com história familiar de tabagismo e de atopia pode ser visto na Tabela 8. Tabela 8- Número total e porcentagem dos antecedentes familiares de atopia e tabagismo na população estudada (Santa Casa de São Paulo, 2011). Antecedentes Familiares nº Total Presente % Atopia 585 193 32,99 Tabagismo 585 110 18,80 4.1.5. Resultado da imunofluorescência indireta Dos 585 pacientes incluídos neste estudo, 226 (38,63%) apresentaram IFI Resultados 37 positiva para ao menos um dos sete tipos de vírus estudados, sendo 45 (7,69%) positivos para HPIV e 155 (26,50%) para VSR. A Tabela 9 apresenta o resultado da IFI de secreção de nasofaringe de todos os pacientes estudados. Tabela 9- Número total e porcentagem dos resultados da Imunofluorescência Indireta em todos os pacientes estudados (Santa Casa de São Paulo, 2011). Resultado da IFI N % Negativo 359 61,37 Vírus Sincicial Respiratório 155 26,50 Vírus Parainfluenza 1,2 e 3 45 7,69 Influenza 20 3,42 Adenovírus 6 1,03 585 100,00 Total IFI = Imunofluorescência Indireta Dos HPIV encontrados, o mais frequente foi o HPIV-3 (84,4%) seguido do HPIV-2 e HPIV-1, com positividade em 8,89% e 6,67% , respectivamente (Tab. 10). Tabela 10- Número Total e Porcentagem do Resultado da Imunofluorescência Indireta quanto aos tipos de vírus Parainfluenza nos pacientes estudados (Santa Casa de São Paulo, 2011). Tipo de Vírus Parainfluenza N % Parainfluenza 1 3 6,67 Parainfluenza 2 4 8,89 Parainfluenza 3 38 84,44 Total 45 100,00 4.1.6. Destino e evolução De toda a população estudada, 54 (9,23%) necessitaram internação em Unidade de Terapia Intensiva. Destes pacientes 17 evoluíram a óbito (31,5%), Resultados 38 representando 2,91% de toda população estudada. O restante dos pacientes (97,1%) teve alta hospitalar. 4.2. Fase 2 - Comparação dos grupos quanto ao resultado da IFI 4.2.1. Dados demográficos Foi realizada a comparação entre os GVSR+ e GhPIV+ quanto à variável gênero, não sendo encontrada diferença estatística significante (Tab. 11). Tabela 11- Distribuição dos pacientes com IFI positiva para hPIV e positiva para VSR em relação ao gênero e resultado do teste estatístico empregado (Santa Casa de São Paulo, 2011). GhPIV+ (n=45) GVSR+ (n=155) n % n % Gênero Feminino 20 44,44 68 43,87 Gênero Masculino 25 55,56 87 56,13 p= 0,918 (Teste de Qui-Quadrado); GhPIV+=Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+=Grupo VSR Positivo. A comparação das medianas de idade em meses dos grupos GhPIV+ e GVSR+ não mostrou diferença estatística significante quando aplicado o teste de MannWhitney. Os resultados podem ser vistos na Tabela 12. Tabela 12- Valores mínimo, máximo e mediana da idade em meses dos pacientes dos grupos GhPIV+ e GVSR+ e resultado do teste estatístico empregado (Santa Casa de São Paulo, 2011) Mediana (meses) Valor Mínimo Valor Máximo GhPIV+ 6,83 0,83 50,26 GVSR+ 7,13 0,03 50,93 p=0,291 (Teste de Mann-Whitney); GhPIV+=Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+=Grupo VSR Positivo. Resultados 39 O grupo de pacientes com idade entre 0 e 11 meses e 29 dias de vida foi dividido em intervalo de três meses, sendo comparado o GhPIV+ com o GVSR+ por meio da aplicação do Teste de Qui-Quadrado, na sendo encontradas diferenças estatisticamente significantes. A divisão dos grupos pode ser vista na Tabela 13 e no Gráfico 2. Tabela 13- Distribuição de três em três meses dos pacientes GhPIV+ e GVSR+ da faixa etária de 0 a 11 meses e 29 dias, resultado do teste estatístico empregado, Risco Relativo e Intervalo de Confiança de 95% (Santa Casa de São Paulo, 2011). GhPIV+ GVSR+ P χ2 Risco Relativo nº total % nº total % 0–3m 15 44,12 42 38,18 0,675 1,20 (0,67-2,17) 3–6m 7 20,59 31 28,18 0,512 0,72 (0,34-1,52) 6–9m 7 20,59 15 13,64 0,476 1,44 (0,72-2,88) 9 – 12 m 5 14,71 22 20,00 0,660 0,75 (0,32-1,75) % de Casos Positivos GhPIV+ = Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+ = Grupo VSR Positivo Gráfico 2- Proporção de pacientes dos Grupos GhPIV+ e GVSR+ de acordo com faixa etária de três em três meses (Santa Casa de São Paulo, 2011). Resultados 40 4.2.2. Tempo de internação A mediana do tempo de internação foi de seis dias nos grupos GhPIV+ e GVSR+, não havendo diferença estatística significante (Teste de Mann-Whitney – p = 0,766). Os dados podem ser vistos na Tabela 14. Tabela 14- Mediana, valores mínimo e máximo do tempo de internação (dias) dos pacientes do GhPIV+ e GVSR+ e resultado do teste estatístico empregado (Santa Casa de São Paulo, 2011). Mediana Valor Mínimo Valor Máximo GhPIV+ 6 1 54 GVSR+ 6 1 114 p=0,766 (Teste de Mann-Whitney); GhPIV+= Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+=Grupo VSR Positivo. 4.2.3. Sinais e sintomas de DATRI Foram comparadas as frequências e proporções dos sinais e sintomas de DATRI nos grupos GVSR+ e GhPIV+ e aplicado o teste estatístico do Qui-Quadrado, comparando-se cada um dos sinais e sintomas de DATRI, entre os grupos. Foram encontrados resultados estatisticamente significantes para os sinais/sintomas tosse e febre, com maior frequência no grupo GVSR+ em relação ao GhPIV+ para ambos (p=0,0037 e p=0,0058). Os números totais, as proporções e o resultado do teste estatístico significativo, com Risco Relativo e Intervalo de Confiança 95%, estão apresentados na Tabela 15. Resultados 41 Tabela 15- Número total e porcentagem dos sinais e sintomas de DATRI nos pacientes dos grupos GhPIV+, GVSR+ e resultado do teste estatístico empregado (Santa Casa de São Paulo, 2011). GhPIV+ (n=45) GVSR+ (n=155) P χ2 Risco Relativo Presente % Presente % Tosse 37 82,22 149 96,13 0,0037 0,35 (0,2 – 0,6) Febre 22 48,89 112 72,26 0,0058 0,47 (0,28 -0,78) Falta de ar 28 62,22 115 74,19 0,168 0,166 (0,39- 1,10) Sibilos 30 66,67 85 54,84 0,214 1,48 (0,78 – 3,51) Roncos 21 46,67 93 60,00 0,155 0,66 (0,39 – 1,10) Dispnéia 27 60,00 96 61,94 0,951 0,954 (0,56 -1,59) Cianose 4 8,89 4 2,58 0,077 2,34 (1,11 -4,93) GhPIV+ = Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+ = Grupo VSR Positivo 4.2.4. Diagnósticos de DATRI nos grupos Foram avaliados os diagnósticos de DATRI mais frequentes nos grupos GPIV+ e GVSR+, não sendo observada diferença estatisticamente significante entre os grupos (Tab. 16). Tabela 16- Número total e porcentagem dos diagnósticos de DATRI mais frequentes nos pacientes dos grupos GhPIV+ e GVSR+ e resultados no teste estatístico empregado (Santa Casa de São Paulo, 2011). GhPIV+ (n=45) GVSR+(n=155) % % Presente Presente Presente Presente Pneumonia não alveolar p(*) Risco Relativo 12 26,67 42 27,10 0,893 0,98(0,55-1,76) Sibilância aguda 13 28,89 23 14,84 0,052 1,85(1,08-3,16) Bronquiolite 10 22,22 55 35,48 0,135 0,59(0,31-1,12) Outros 10 22,22 35 22,58 0,879 0,98(0,53-1,83) + sibilância aguda Bcp = broncopneumonia; (*) Teste de Qui-Quadrado; GhPIV+ = Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+ = Grupo VSR Positivo Resultados 42 4.2.5. Antecedentes pessoais Foram avaliadas as frequências dos antecedentes pessoais de prematuridade, cardiopatia congênita e Doença do Refluxo Gastroesofágico nos grupos GhPIV+ e GVSR+, não sendo encontrada diferença estatisticamente significante. As frequências, proporções, resultado do teste estatístico empregado e o Risco Relativo, com Intervalo de Confiança de 95% são apresentados na Tabela 17. Tabela 17- Número total e porcentagem dos antecedentes pessoais, resultado do teste estatístico empregado e Risco Relativo no IC de 95% (Santa Casa de São Paulo, 2011). GhPIV+ (n=45) GVSR+ (n=155) P χ2 Risco Relativo Presente % Presente % Prematuridade 6 13,33 13 8,39 0,385 1,47 (0,71 - 3,0) Cardiopatia Congênita 4 8,89 8 5,16 0,473 1,53 (0,66 - 3,56) DRGE 5 11,11 11 7,10 0,362 1,44 (0,66 - 3,13) GhPIV+ = Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+ = Grupo VSR Positivo; DRGE = Doença do Refluxo Gastro-Esofágico 4.2.6. Antecedentes familiares A frequência de antecedentes familiares de atopia e de tabagismo nos pacientes dos GhPIV+ e GVSR+ foram comparadas, não sendo encontrada diferença estatisticamente significante. As frequências, proporções, resultado do teste estatístico empregado, e o Risco Relativo com Intervalo de Confiança de 95% são apresentados na Tabela 18. Resultados 43 Tabela 18- Número total e porcentagem dos antecedentes familiares de atopia e tabagismo, resultado do teste estatístico empregado e Risco Relativo no Intervalo de Confiança de 95% (Santa Casa de São Paulo, 2011). GhPIV+ (n=45) GVSR+ (n=155) P χ2 Risco Relativo Presente % Presente % Atopia 20 44,44 56 36,13 0,402 0,92 (0,79 - 1,08) Tabagismo 6 13,33 20 12,90 0,86 0,99 (0,79 - 1,24) GhPIV+ = Grupo Parainfluenza Positivo; GVSR+ = Grupo VSR Positivo 4.2.7. Evolução Na população estudada houve necessidade de internação e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em 24 pacientes. No GhPIV+ sete pacientes foram internados em UTI (15,55%), já no GVSR+ 17 (10,96%) pacientes necessitaram de cuidados intensivos. Ao compararmos as frequências e proporções de internações em UTI nos dois grupos, não encontramos diferença estatisticamente significante (p=0,565 – Teste do Qui-Quadrado). O Risco Relativo foi de 1,35 com Intervalo de Confiança de 95% de 0,68 a 2,68. Encontramos seis óbitos ocorridos nos grupos GhPIV+ e GVSR+. No GhPIV+ ocorreram quatro óbitos (8,89%), e no GVSR+ a frequência foi de dois óbitos (1,29%). Houve diferença estatisticamente significante quando comparamos estas frequências nos dois grupos (p=0,024 – Teste Exato de Fisher). O Risco Relativo foi de 3,15 com Intervalo de Confiança de 95%, de 1,68 a 5,91. 4.2.8. Sazonalidade O pico de incidência do hPIV e do VSR ocorreu no outono e inverno dos anos em que o trabalho foi conduzido. Para VSR a maior incidência ocorreu nos meses Resultados 44 de junho em julho de 2005, abril e maio de 2006 e março de 2007. A maior incidência de hPIV ocorreu em junho de 2005, em março de 2006 e no ano de 2007 a distribuição foi uniforme no período compreendido entre fevereiro e maio de 2007. O Gráfico 3 apresenta a distribuição sazonal dos GPIV+ e GVSR+ ao longo da inclusão de dados. Gráfico 3- Distribuição do número de casos de pacientes com IFI positivas para hPIV e VSR em cada mês (Santa Casa de São Paulo, 2011). Resultados 45 5. DISCUSSÃO 46 O estudo de etiologia de infecção viral aguda em crianças hospitalizadas menores de cinco anos de idade foi conduzido no Departamento de Pediatria e Puericultura da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo entre fevereiro de 2005 e maio de 2007, incluindo um total de 585 pacientes. Além da coleta de secreção de nasofaringe para realização de Imunofluorescência Indireta, foram coletados dados clínicos por meio do preenchimento de questionário e houve acompanhamento dos pacientes durante o período de internação para avaliar o desfecho final (alta hospitalar ou óbito), assim como diagnóstico clínico e outras características. Definimos como critério de inclusão a presença de DATRI, caracterizada pela presença de ao menos dois sinais/sintomas de acometimento de vias aéreas inferiores (disfunção respiratória caracterizada por cansaço, e/ou taquipneia, e/ou sibilos e/ou crepitação ao exame físico) e acometimento de vias aéreas superiores, já que o hPIV inicia sua patogênese acometendo células epiteliais de nariz e orofaringe, progredindo para as vias aéreas inferiores. Altas taxas de replicação viral são observadas nas primeiras 24 horas após infecção, com pico em dois a cinco dias[32,33], o que nos levou a limitar o tempo de doença em cinco dias. Ao delimitarmos a população estudada àquela internada por DATRI, com idade entre zero e cinco anos de idade, utilizamos critério empregado por diversos autores que estudaram a etiologia de infecções respiratórias agudas na infância[1,21,51,53,57,59,60,65-67]. Outros autores estudaram faixas etárias diferentes, como Antunes et al, que ao investigar especificamente a etiologia de bronquiolite incluiu somente pacientes com idade de até dois anos[68]. Alguns estudos que avaliaram a prevalência de hPIV incluíram populações de faixas etárias maiores, como El Feghaly et al, 2010, que avaliaram crianças de dois meses a 12 anos de idade[69], Fe et al, com população de zero a 16 anos de Discussão 47 idade[48], ou Calvo et al, que incluíram pacientes de até 14 anos de idade[56]. Os dados clínicos e desfechos das populações GhPIV+ e GVSR+ foram comparados entre si com o objetivo de detectar características específicas da infecção pelo hPIV, pois este é apontado por vários autores como a segunda maior causa de infecção respiratória aguda em crianças desta faixa etária, atrás do VSR[26,70]. Utilizamos a Imunofluorescência Indireta (IFI) como método laboratorial de detecção viral em secreção de nasofaringe (aspirado de nasofaringe associado à swab coletados concomitantemente). A nasofaringe e a orofaringe são os locais primários de replicação do hPIV, com excreção viral ocorrendo em altos títulos no início da infecção e declinando rapidamente. As crianças excretam o vírus três a quatro dias antes do início da sintomatologia clínica e até 10 dias após. No entanto, há descrições de excreção de hPIV3 de seis dias antes até seis semanas após o início dos sintomas. Swab de orofaringe, lavado e aspirado nasal têm sido utilizado com sucesso no isolamento do vírus[71]. A utilização de cultura para detectar este vírus é o padrão ouro para o diagnóstico, mas requer tempo e consome recursos altos, sendo reservado para fins de pesquisa[19]. A utilização de métodos de fluorescência tem sido aplicada por mais de vinte anos na detecção do hPIV com sensibilidade que varia de 50 a 75% para hPIV tipo 3 por exemplo, mas com especificidade excelente[19,72]. Para o VSR, a IFI e IFD apresentam sensibilidade de 80% e especificidade de 90%[73]. Mais recentemente, métodos moleculares de reação de cadeia de polimerase (PCR) e real-time PCR têm sido aplicados na prática clínica com melhora significativa da sensibilidade e especificidade, mas limitado ainda pelo alto custo [17]. Estudo conduzido por Griffin et al, 2004[54], demonstra que para o HPIV, o real-time Discussão 48 PCR melhora a identificação viral em até 50% quando comparado com a cultura [54]. Outros autores apontam um aumento da detecção de HPIV através do PCR em 10 a 20% quando comparado a métodos de fluorescência e cultura[74-76]. O método utilizado neste estudo, a IFI, nos parece bem aceitável para detecção dos hPIV e a coleta de secreção de nasofaringe por aspirado, apesar de incômoda é segura e inócua ao paciente. Em nosso estudo, 38,63% dos pacientes apresentaram positividade para algum vírus. Outros estudos com desenhos de investigação semelhantes apresentaram positividade para algum vírus que variou de 27,4% até 80,8%[1,48,5658,77] . A positividade de 80,8% para algum vírus foi observada em investigação realizada por Calvo, et al, 2011 que inclui pacientes até 14 anos de idade e utilizou o real-time PCR para 16 vírus[56]. O hPIV foi isolado em 7,69% de todos os casos incluídos no estudo (Tabela 9), e 19,91% de todos os casos positivos, sendo o segundo vírus isolado, atrás do VSR com positividade de 26,5% em todos os incluídos e 68,50% dos casos. Na literatura, a prevalência de hPIV como etiologia de DATRI varia de 3,1 a 29,09%[1,48,51,53,56-60,63,67,78,79]. As variações de prevalência encontradas na literatura ocorrem por diferenças no desenho de cada investigação. Assim, estudos como o de Fé et al, 2008, conduzido com população de crianças de zero a 16 anos de idade, com sintomas respiratórios agudos, atendidos na emergência, em ambulatórios e enfermarias, em um período de seis anos, incluiu 3070 pacientes e encontrou prevalência de hPIV de 3,81%, com isolamento viral por IFI[48]. No nosso estudo, a população estudada foi somente de pacientes internados com DATRI e na faixa etária que compreendia entre zero e cinco anos de idade. Discussão 49 Estudo conduzido em cidade mexicana, por Noyola, Arteaga-Dominguez, 2005, incluindo crianças atendidas nos serviços de saúde, com diagnóstico de pneumonia, com idade de zero a quatro anos de idade, mostrou prevalência de 5% de hPIV, também utilizando IFI[1]. Nesta casuística, a população não correspondia a pacientes internados por DATRI e sim pacientes atendidos nos serviços de saúde pública e reportados ao Departamento de Epidemiologia dos Serviços de Saúde naquela localidade. Nossa prevalência (7,69%) foi maior e somente incluiu pacientes admitidos ao hospital. Já prevalências maiores de hPIV foram encontradas em estudos que utilizaram o PCR para isolamento viral, como o trabalho de Calvo et al, 2011, que incluiu pacientes de zero a 14 anos de idade, com hPIV positivo em 8,9% da população[56]. A sensibilidade do PCR para hPIV é maior que a da IFI, e neste trabalho foi realizada a identificação também do hPIV tipo 4 que não foi pesquisado em nossa casuística. Outro estudo que encontrou prevalência maior de hPIV foi o conduzido por Mathisen et al, 2010, que estudou a incidência deste vírus em trabalho casocontrole, comparando pacientes com pneumonia e sem pneumonia, na faixa etária compreendida entre 2 e 35 meses de idade. Neste trabalho, a prevalência de hPIV foi de 11,17% em todos os incluídos (pacientes com pneumonia, sem pneumonia, com e sem sintomas respiratórios) e 19,1% nos pacientes com pneumonia. A pesquisa do vírus foi realizada com PCR[67]. Sabemos que o PCR aumenta a sensibilidade para hPIV em relação à IFI. Iwane et al, 2004, conduziram trabalho de vigilância em crianças até cinco anos de idade, hospitalizadas por febre ou doença respiratória aguda em dois hospitais nos Estados Unidos. Coletaram material de nasofaringe, sendo submetidos Discussão 50 à cultura viral e PCR, pesquisando VSR, FLU e hPIV. A prevalência de PIV nesta população foi de 7%[53], semelhante à encontrada em nosso estudo. No período compreendido entre outubro de 2003 e setembro de 2004, Rihkanen et al, 2008, conduziram estudo caso-controle em crianças, buscando identificar a frequência de vírus em pacientes com crupe e pacientes com sibilância, através de PCR. A prevalência total de hPIV foi de 29,09%, sendo destas, 41,8% no grupo com crupe e 5,26% no grupo com sibilância[63]. A prevalência de hPIV foi alta neste estudo, talvez pela inclusão especificamente de pacientes com crupe, doença muito relacionada ao hPIV. Em nosso trabalho incluímos pacientes com DATRI e não houve diagnóstico de crupe ou laringite. No Chile, Vega-Briceño et al, 2007, realizaram estudo com o objetivo de avaliar as características clínicas e epidemiológicas de crianças internadas devido à infecção por hPIV. Durante 48 meses foram incluídos neste estudo 3043 pacientes com doença respiratória aguda, dos quais 1585 tiveram IFD coletada. A positividade para hPIV foi de 4,03%[77]. Em nosso estudo, a população incluída foi mais bem definida (crianças de zero a cinco anos) e a prevalência encontrada foi maior, utilizando critérios semelhantes. Outro estudo de prevalência, conduzido nos Estados Unidos, por Knott et al, 1994, incluiu crianças que foram atendidas por médicos pediatras sempre em um mesmo dia da semana, ao longo de 16 anos (1976-1992), avaliou 5998 pacientes com diagnósticos de crupe, pneumonia, traqueobronquite e doença febril sem sinal localizatório. A frequência de positividade para hPIV na população estudada foi de 16,6%, sendo a cultura viral o método laboratorial utilizado e a população incluída formada por pacientes não hospitalizados[78]. A prevalência de hPIV foi alta, mas não há delimitação quanto à faixa etária incluída e o método laboratorial utilizado por Discussão 51 estes autores foi a cultura, considerada o padrão ouro para diagnóstico de hPIV, enquanto nosso grupo utilizou a IFI. Ainda com relação às diferentes prevalências de hPIV encontradas na literatura na dependência do desenho do estudo, cabe citar estudo prospectivo conduzido nos Estados Unidos, por Fairchok et al, 2011, que acompanhou em dois períodos diferentes (fevereiro de 2006 a abril de 2008, e outubro de 2008 a junho de 2009), crianças até dois anos de idade, que frequentavam creches, por pelo menos 20 horas semanais. Foram incluídas 225 crianças e detectados 523 episódios de doença respiratória aguda, sendo que em cada episódio foi coletado aspirado de nasofaringe e swab nasal, que foi submetido a PCR. Foi encontrado positividade para HPIV em 17% dos episódios[79]. O desenho de investigação deste estudo é bem diferente do conduzido em nosso trabalho de prevalência de infecção viral em crianças internadas, sugerindo que talvez pacientes não internados tenham prevalência maior de hPIV. No presente estudo o hPIV correspondeu ao segundo agente mais encontrado, ficando atrás somente do VSR (7,69 e 26,5%, respectivamente). A literatura aponta o hPIV como a segunda causa mais frequente de infecções respiratórias agudas na infância[22,26,65,66]. Na dependência do desenho do estudo, encontramos diferentes resultados. A idade dos pacientes incluídos, o local de coleta (se pacientes hospitalizados ou atendidos na emergência) e o tipo de exame utilizado para identificação do vírus (IF ou PCR) parecem influenciar de maneira direta na prevalência do agente viral estudado. Trabalho conduzido por Iwane et al, 2004, nos Estados Unidos, que coletou material de nasofaringe de 592 crianças internadas por doença respiratória aguda e submeteu o material ao PCR, encontrou o hPIV como segundo agente viral mais prevalente[53]. Já Calvo et al, 2011, incluíram Discussão 52 pacientes menores de 14 anos de idade na Espanha, também hospitalizados e utilizaram o PCR como método de investigação viral, sendo o hPIV o quarto vírus mais prevalente, atrás do VSR, Rinovírus e Adenovírus[56]. Estudo conduzido no nordeste do Brasil, por Moura et al, 2003, incluindo também crianças menores de cinco anos de idade, mas tanto hospitalizadas, quanto internadas por doença respiratória aguda, utilizando a IFI como método de detecção viral aponta o hPIV como o terceiro vírus mais prevalente, atrás do VSR e do FLU A[59]. Já NascimentoCarvalho et al, 2008, em estudo para identificar etiologia de pneumonia adquirida na comunidade conduzido também no Nordeste do Brasil, utilizando o PCR, demonstram o Rinovírus como agente viral mais isolado, seguido de hPIV e VSR[66]. Rihkanen et al, 2008, realizaram no Hospital da Universidade de Helsinque um estudo caso-controle, sendo caso os pacientes com crupe e controle os pacientes com sibilância, utilizando o PCR e verificando o hPIV como principal agente causador de crupe em crianças atendidas na emergência, mas no grupo controle (sibilância), o VSR foi o vírus mais prevalente[63]. Na cidade de São Paulo, Thomazelli et al, 2007, analisaram oito vírus respiratórios em crianças internadas por doença respiratória aguda, por meio do PCR, e o hPIV foi o terceiro vírus mais prevalente, atrás do VSR e do hMPV[60]. Em crianças internadas com doença respiratória aguda, o hPIV tipo 3 parece ser o mais encontrado[48,56,59,60,80, 81]. Na dependência do tipo de doença respiratória aguda estudada, há variações como o trabalho de Rihkanen et al, 2008, que estudaram crupe e demonstraram ser o HPIV tipo 1 o tipo mais prevalente[63]. Já Vega-Briceño et al, 2007, em estudo conduzido no Chile, apontaram o hPIV tipo 2 como o mais prevalente[77]. Nosso estudo avaliou doenças respiratórias agudas na infância, e o hPIV tipo 3 foi o mais prevalente, sendo isolado em 84,4% dos Discussão 53 pacientes que foram hPIV positivos. Em nosso estudo, comparamos as manifestações clínicas das crianças com infecção pelo hPIV e com infecção pelo VSR. Os resultados obtidos das idades médias dos grupos GPIV+ e GVSR+ não demonstraram diferença estatisticamente significante, assim como quando foi comparado o tempo de internação em dias. Calvo et al, 2011, realizaram comparação semelhante, com população incluída de crianças até 14 anos de idade e foi demonstrado que o grupo de pacientes VSR positivos era mais jovem que o grupo hPIV positivo (348 ± 447vs 626 ± 725 dias, p = 0,05), mas o tempo de internação entre os grupos não foi diferente[56]. Este resultado diferente entre os dois estudos deve-se provavelmente à inclusão de crianças mais velhas, incluindo faixas etárias em que a incidência de VSR é mais baixa, ou sua manifestação clínica é menor. Estudo conduzido no Brasil por Fé et al, 2008, comparando dados clínicos de infecção pelo hPIV e VSR, demonstrou que os pacientes infectados por este último vírus eram mais jovens que os infectados pelo hPIV (15 meses vs 20 meses, p=0,0215). Este trabalho incluiu pacientes de até 16 anos de idade, hospitalizados ou não[48]. Quanto aos sinais e sintomas de DATRI, quando comparamos nos grupos GPIV+GVSR+, a presença de história clínica de tosse, febre, falta de ar, roncos e sibilos na ausculta pulmonar e presença de dispneia e cianose no exame físico de entrada, encontramos maior proporção de tosse e febre no GVSR+ (p=0,0037 e 0,0058, respectivamente). Estes sintomas clínicos são inespecíficos e comuns a várias infecções respiratórias virais e bacterianas. Vega-Briceño et al, 2007, descrevem como sinais e sintomas mais comumente encontrados nos pacientes infectados por hPIV, febre e dificuldade respiratória, seguidas de hipoxemia, taquicardia, retração subcostal, crepitações, sibilância e estridor inspiratório, no entanto, discutem que Discussão 54 estes sinais e sintomas, embora descritos como associados à infecção por VSR, são inespecíficos[77]. Os diagnósticos clínicos mais comumente associados à infecção por HPIV foram pneumonia não alveolar + sibilância aguda (26,7%), sibilância aguda (28,9%) e bronquiolite (22,2%). Já os diagnósticos clínicos encontrados mais frequentemente nos pacientes com infecção por VSR foram bronquiolite (35,5%), pneumonia não alveolar + sibilância aguda (27,1%) e sibilância aguda (14,5%). Comparamos as frequências destes diagnósticos nos GhPIV+ e GVSR+ e não encontramos diferenças estatisticamente significantes. A literatura disponível sobre infecções pelo hPIV aponta diversos diagnósticos associados a este vírus. Em estudos com crianças menores de quatro anos de idade, os diagnósticos de bronquiolite, crupe, pneumonia alveolar e pneumonia não alveolar, são os mais frequentemente encontrados[65]. A crupe ou laringite é apontada como sendo o diagnóstico mais frequentemente associado às infecções pelo hPIV, sobretudo ao tipo 1[19]. Uma observação importante é que em nosso estudo, nenhum caso de crupe foi encontrado, talvez pelo número de casos positivos ser pequeno. Outro fator que poderia explicar a não ocorrência de crupe ou laringite é que este estudo restringiuse a pacientes internados e talvez os casos atendidos fossem leves e não necessitaram de internação. Outro dado relevante é que o hPIV tipo 1 é o mais implicado em casos de laringite e no presente estudo, a prevalência deste subtipo do vírus foi baixa[39]. Outros estudos, como o de Counihan et al, 2001, também relacionam aumento de hospitalizações por crupe a hPIV tipos 1 e 2[65]. Rihkanen et al, 2008, demonstram em estudo que 41,8% dos pacientes com crupe apresentavam pesquisa viral positiva para hPIV, mas o desenho de investigação utilizado (casoDiscussão 55 controle) incluía pacientes com este diagnóstico clínico, e não eram necessariamente pacientes hospitalizados[63]. Como a prevalência de hPIV tipo 3 foi a mais alta neste estudo (84,4%), quando comparada com a prevalência de outros tipos de hPIV, os diagnósticos de pneumonia não alveolar, associados a sibilância aguda ou não, e bronquiolite foram tão importantes. Sabe-se que o hPIV tipo 3 é o subtipo mais associado a estes diagnósticos. Estudo conduzido no Brasil, por Fé et al, 2008, encontrou as infecções de vias aéreas superiores, pneumonia e bronquiolite como os diagnósticos mais frequentemente associados à infecção pelo hPIV, sendo a crupe encontrada somente em 1,7% dos casos estudados[48]. Já Calvo et al, 2011, mostram que os diagnósticos mais associados à infecção pelo hPIV foram chiado recorrente e asma, bronquiolite e pneumonia, sendo a proporção de crupe de somente 4,2% dos pacientes estudados[56]. Assim, os dados encontrados na literatura em outros estudos com desenho de investigação semelhante a este, mostram resultados semelhantes aos nossos. Não houve no presente estudo frequência maior de antecedentes de prematuridade, cardiopatia congênita ou DRGE nos dois grupos estudados, assim como também não houve diferença quando a variável avaliada foi antecedente familiar de atopia ou tabagismo. As crianças com antecedentes de prematuridade, doença pulmonar crônica, e cardiopatia congênita com hiperfluxo pulmonar constituem grupo de risco para ocorrência de doença mais grave por VSR[82]. Na nossa investigação procuramos se existia incidência maior destes antecedentes nos grupos VSR+ e hPIV+, o que não foi encontrado. Quando avaliamos a necessidade de internação em UTI nos dois grupos estudados, não encontramos diferença estatisticamente significante. No estudo de Discussão 56 Calvo et al, 2011, avaliando todas as características clínicas estudadas, os autores concluem que a infecção pelo hPIV é menos grave que a infecção pelo VSR, mas discutem que a proporção de pacientes que necessitaram de internação em UTI foi semelhante nos dois grupos[56]. Fé et al, 2008, reforçam que as infecções por hPIV são mais leves que as causadas por VSR, havendo maior envolvimento do trato respiratório inferior nas infecções por este último vírus, embora considerem que a infecção pelo hPIV, sobretudo o tipo 3, ocorreu em pacientes mais velhos (este estudo incluiu pacientes de até 16 anos de idade)[48]. Nos estudos sobre prevalência de infecção pelo hPIV não encontramos mortes relacionadas a este agente. Nas infecções pelo VSR, a mortalidade é relatada como sendo muito baixa, ocorrendo, sobretudo em pacientes com antecedentes pessoais específicos (prematuridade, pneumopatia crônica, cardiopatia com hiperfluxo pulmonar). Mesmo em relatos de surtos de infecção de hPIV em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal com acometimento de recémnascidos prematuros, não houve ocorrência de óbitos[21]. Em nossa coorte de crianças, houve quatro óbitos em pacientes que apresentaram infecção pelo hPIV (8,89%) e dois em pacientes com infecção pelo VSR (1,29%). Na comparação das frequências entre os dois grupos houve significativamente mais óbitos em pacientes em que o hPIV foi isolado. Os óbitos ocorreram em crianças fora da faixa etária de maior risco de desenvolver doença grave (menores de três meses), mas todos os pacientes apresentavam antecedente mórbido pessoal, sendo dois com antecedente de prematuridade, um chiador recorrente com doença do refluxo gastroesofágico, e outro com atraso do desenvolvimento neuro-psicomotor devido a anóxia neonatal e sibilância recorrente. Os óbitos no GVSR+ ocorreram em um paciente com antecedente de cardiopatia congênita de hiperfluxo pulmonar, e em criança sem Discussão 57 antecedente mórbido algum, mas as duas crianças tinham idade inferior a três meses de idade. Assim, a mortalidade ocorrida nos GhPIV+ não foi esperada e não apresenta paralelo na literatura corrente, diferente do ocorrido do GVSR+, em que os óbitos ocorreram em crianças de maior risco de desenvolvimento de doença grave. A ocorrência sazonal do hPIV nos países do hemisfério norte apresenta picos interativos interessantes. Por razões desconhecidas, o hPIV tem apresentado padrões epidemiológicos diferentes nas últimas décadas. O hPIV1 tem apresentado picos no inverno de anos ímpares. O hPIV2 mudou seu comportamento e nos últimos anos seu isolamento tem sido esporádico no final da sazonalidade do hPIV tipo 1[78]. Já o hPIV tipo 3 tem apresentado picos mais sustentáveis na primavera e verão, continuando ao longo do inverno, nos anos em que o hPIV tipo 1 e 2 estão ausentes. Este padrão vem sendo observado por vários autores ao longo dos anos[78,83]. Cabe ressaltar trabalho conduzido por Marx et al, 1997, que estudaram hospitalizações por crupe e sua correlação com hPIV nos Estados Unidos, entre os anos de 1979 e 1993, incluindo população de crianças até 15 anos de idade. Foram observados picos de hospitalização, inferindo aumento da circulação de hPIV1, em dois meses do ano: mês de outubro e um pico menor em fevereiro[84]. No estudo já citado antes, de Calvo et al, 2011, a circulação de hPIV foi máxima em março[56]. Estudos conduzidos em países tropicais, como o de VegaBriceño et al, 2007, mostram picos de incidência de hPIV no outono e inverno de cada ano do período em que o estudo foi conduzido[77]. Já Fé et al, 2008, mostram pico de circulação de hPIV tipo 3 entre setembro e novembro (primavera) no nordeste do Brasil, contrastando com o período epidêmico do VSR e do vírus influenza, cuja maior circulação foi na estação chuvosa (inverno)[48]. Discussão 58 Em nosso estudo, a maior incidência foi de hPIV tipo 3 que correspondeu a 84,4% dos hPIV isolados. Os picos de incidência no presente estudo ocorreram ao longo dos meses de março, abril e junho, correspondendo ao final do verão e início do outono, havendo coincidência com os picos de VSR. O número de hPIV tipo 1 e tipo 2 isolados foram pequenos, não permitindo qualquer conclusão quanto à sua sazonalidade. A vigilância dos vírus respiratórios conhecidos e as medidas de controle, profilaxia e tratamento são extremamente importantes para minimizar o impacto na comunidade. A vigilância aprimorada e o diagnóstico das doenças respiratórias têm o potencial de reduzir os custos com os cuidados à saúde de maneira significativa, mas ainda há enormes lacunas a serem preenchidas neste conhecimento acerca dos patógenos que causam infecção respiratória viral, com muitos casos não diagnosticados. A detecção de vírus e o diagnóstico são complexos, pois a gama de vírus que cursam com sintomas clínicos semelhantes é muito grande[85]. Nosso estudo contribui no conhecimento da epidemiologia de um agente viral descrito há várias décadas, mas que pode ser negligenciado, pois a atenção da comunidade científica é voltada para o isolamento de novos vírus, e a atenção do médico volta-se a vírus como o VSR e o FLU. O prosseguimento de estudos de prevalência de vírus deve ser incentivado, pois sempre haverá dúvidas com relação ao melhor diagnóstico e tratamento destes pacientes com infecções. Detentores do conhecimento do impacto das infecções respiratórias na morbidade e mortalidade na infância, e da importância das infecções virais, o médico é preparado para prestar uma assistência mais racionalizada a esta população. Discussão 59 6. CONCLUSÕES 60 1. A prevalência de hPIV na população estudada foi de 7,69%, sendo o segundo vírus mais frequente, atrás do VSR. O hPIV mais isolado nesta população foi o hPIV3, correspondendo a 84,4% dos hPIV, seguido pelo hPIV-2 e hPIV-1, respectivamente com 8,89 e 6,67%. 2. As características clínicas dos GVSR+ e GhPIV+ foram comparadas não havendo diferenças entre os dois grupos quando as variáveis analisadas foram: gênero, idade, tempo de internação, antecedentes pessoais e antecedentes familiares; ao compararmos sinais e sintomas de DATRI verificamos maior incidência de tosse e febre no GVSR+. 3. Os diagnósticos mais frequentemente associados à infecção pelo HPIV foram Bronquite aguda, em 28,89% dos casos, Pneumonia não-alveolar + Bronquite aguda em 26,67% dos casos e Bronquiolite em 22,22%. 4. Não houve diferença entre os dois grupos estudados quando a variável foi internação em UTI. Houve mais óbitos nos pacientes do GPIV+ na população estudada. 5. Houve um padrão sazonal característico nesta população. Nos dois primeiros anos do estudo, 2005 e 2006, ocorreu maior incidência de HPIV no final do verão e início do outono. Conclusões 61 7. ANEXOS 62 ANEXO I APROVAÇÃO COMITÊ DE ÉTICA SANTA CASA DE SÃO PAULO Anexos 63 ANEXO II TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Anexos 64 ANEXO III PROTOCOLO Anexos 65 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 66 1. Noyola DE, Arteaga-Dominguez G. Contribution of respiratory syncytial virus, influenza and parainfluenza viruses to acute respiratory infections in San Luis Potosi, Mexico. Pediatr Infect Dis J. 2005; 24:1049-52. 2. Lee MS, Walker RE, Mendelman PM. Medical burden of respiratory syncytial virus and parainfluenza virus type 3 infection among US children. Implications for design of vaccine trials. Hum Vaccin. 2005; 1:6-11. 3. Kim C, Ahmed JA, Eidex RB, Nyoka R, Waiboci LW, Erdman D, et al. Comparison of nasopharyngeal and oropharyngeal swabs for the diagnosis of eight respiratory viruses by real-time reverse transcription-pcr assays. PloS One. 2011; 6:e21610. 4. Lessler J, Reich NG, Brookmeyer R, Perl TM, Nelson KE, Cummings DA. 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Os vírus Parainfluenza (hPIV), grupo de vírus da família paramyxoviridae são responsáveis por um significante número de doenças respiratórias agudas de trato respiratório inferior (DATRI) na infância. Objetivos: Avaliar a prevalência de hPIV em crianças menores de cinco anos de idade hospitalizadas por DATRI; avaliar características clínicas destas infecções e comparar com as das infecções pelo vírus sincicial respiratório (VSR); avaliar os diagnósticos mais frequentes associados à infecção pelo hPIV; avaliar os desfechos destes pacientes; determinar se há padrão de sazonalidade. Métodos: Estudo prospectivo, incluindo crianças até cinco anos de idade hospitalizadas por DATRI no período de fevereiro de 2005 a maio de 2007 no Departamento de Pediatria e Puericultura da Santa Casa de São Paulo. Diagnóstico de DATRI foi definido por acometimento de vias aéreas inferiores (caracterizado por cansaço, e/ou taquipneia, e/ou sibilos, e/ou crepitação e/ou febre ao exame físico), com duração de até cinco dias, e associado a pródromos de infecção de vias aéreas superiores. Coletado secreção de nasofaringe que foi submetida à imunofluorescência indireta (IFI) para sete vírus: VSR, hPIV tipos 1, 2 e 3, Influenza A e B, e Adenovírus. Avaliadas as características demográficas, clínicas, evolução dos grupos hPIV e VSR positivos. Foram realizados registros de incidência de hPIV+ e VSR+ em cada mês do estudo. Resultados: Durante os 28 meses do estudo foram incluídos 585 pacientes, com positividade de IFI para algum vírus de 38,6%. A prevalência de hPIV foi de 7,7%, sendo o segundo vírus isolado. Em 84,4% dos pacientes hPIV+ foi isolado hPIV3. Não houve diferença entre os grupos hPIV+ e VSR+ quando a variável analisada foi gênero, idade em meses ou tempo de internação em dias. Houve maior proporção de tosse e febre no grupo VSR+ (p<0,05). Os diagnósticos mais encontrados nos pacientes com hPIV+ foram sibilância aguda em 28,9%, pneumonia não alveolar associado a sibilância aguda em 26,7% e bronquiolite em 22,2% dos casos. Não houve diferença entre os grupos quanto a antecedentes mórbidos pessoais e familiares, ou internação em Unidade de Terapia Intensiva. Ocorreram mais óbitos no grupo hPIV+ (p<0,05). O hPIV foi mais isolado no início do outono nos dois primeiro anos do estudo. Conclusões: O hPIV demonstrou ser uma infecção importante e causa de óbito em crianças e lactentes com DATRI. Palavras-chave: 1. Doenças respiratórias 2. Infecções Respiratória 3. Infecções por paramyxoviridae/ etiologia 4. Hospitalização 5. Criança hospitalizada Resumo 75 ABSTRACT 76 Pecchini R. The impact of parainfluenza vírus as etiology of acute respiratory infections in hospitalized children. Doctor Thesis; 2011. Parainfluenza viruses (hPIV), a group or virus from paramyxoviridae family, are responsible for a significant number of acute disease of lower respiratory tract (ADLRT) in childhood. Objectives: To evaluate the prevalence of hPIV in hospitalized children under five years old hospitalized due to ADLRT, clinical features of these infections and to compare with infections by respiratory syncytial virus (RSV),evaluate the most commons clinical diagnosis associated to hPIV, and clinical outcome of these patients; to determine whether there are seasonal pattern. Methods: A prospective study was conducted from February 2005 to May 2007, with hospitalized children under five years old by ADLRT at Department of Pediatrics at Hospital Santa Casa in São Paulo. ADLRT was defined by lower airways involvement (characterized by fatigue, and/or wheezing, and/or crackles, and/or fever at physical examination), lasting up to five days, and associated to upper respiratory infection. Nasopharyngeal aspirate samples was collected and submitted do indirect immunofluorescence assay (IFA) for RSV, hPIV type 1,2 and 3, Influenza A and B, and Adenovirus. It was analyzed the demographic and clinical features, the evolution in the groups hPIV+ and RSV+. We performed records of incidence of hPIV+ and RSV+ in each month of this study. Results: During the study period we included 585 patients. A positive result was obtained for any virus in 38,6% of samples. hPIV was detected in 7,7% of samples, and it was the second more isolated virus. There was no significant difference between hPIV+ and VSR+ when the when the variable analyzed was gender, age in months or length of stay in days. Patients with RSV infections had cough and fever more frequently. The more common diagnosis associated to hPIV infections were acute wheezing in 28,9 %, non-alveolar pneumonia associated to acute wheezing in 26,7% and bronchiolitis in 22,2% of patients. There was no significant difference when we analyzed the past medical history of child or of his family, or the need of intensive care unit. There were more deaths in hPIV+ group. The hPIV were isolated in early fall at the two first years of the study. Conclusions: hPIV is an important cause of children`s hospitalization and is associated with an important mortality. Key words: 1. Acute respiratory disease 2. Lower respiratory 3.Paramyxoviridae/etiology 4. Hospitalization 5. Hospitalized child disease Abstract