JC Relations - Jewish

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Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Anderson, Robert | 01.10.2004
Respostas a Jesus:
O "não" judaico e o "sim" cristão
Robert Anderson
O argumento central desse artigo e a convicção firme do seu autor é que tanto o "não" judaico como
o "sim" cristão são respostas válidas à proclamação da Igreja que se centra em Jesus de Nazaré.
Embora tal afirmação possa surpreender alguns e disturbar outros, não há, de fato, nada de novo
nela. Não é nada mais que o resultado lógico de números crescentes de declarações de Igrejas
individuais e ecumênicas que apareceram durante os três ou quatro décadas passadas. Também
não há de novo no que está escrito aqui. O assunto de se a Igreja pode continuar manter
reivindicações exclusivistas tem sido examinado por muitos cientistas cristãos líderes nos anos
recentes.
As publicações nas quais as suas contribuições apareceram não são, na maior parte, prontamente
acessíveis à comunidade geral da Igreja e, em conseqüência disso, havia pouca, se alguma,
discussão da matéria.
É provavelmente também correto dizer que havia relutância na parte de alguns cientistas para
procurar um foro mais público, por causa do investimento pesado que tantos cristãos têm na
reivindicação tradicional de que a redenção é por Jesus Cristo e só por ele. O dito do meio do terceiro
século dC de Cipriano de Cartago de que "fora da Igreja não há salvação" continua borbulhando
justamente por baixo da superfície. Além disso, há recurso fácil a certos textos do Novo Testamento
que parecem oferecer apoio bíblico inequívoco para o ponto de vista exclusivista. Algumas desses
serão tratados um pouco mais tarde nesse artigo. Entrementes, a nossa atenção se deve voltar ao
"não" judaico.
O "Não" Judaico
Não há dúvida nenhuma de que a resposta quase unânime dos judeus durante a nossa história
comum tenha sido um "não" ressoante e enfático a qualquer forma em que foram encarados com
reivindicações cristãs. Que os compatriotas de Jesus respondiam desse modo é algo que a Igreja, em
geral, achou difícil a compreender. De fato, não tem sido somente difícil, tem sido disturbador ao
ponto onde tem encontrado acusações de recalcitrância, obstinação e cegueira judaicas. É possível
que a veemência selvagem de tais líderes eclesiais como João Crisóstomo do século quarto e de
Martinho Lutero do século dezesseis mostra algum senso de inseguridade, alguma pequena dúvida
da sua própria posição? Apesar de toda a convicção das reivindicações cristãs, apesar de todas as
vicissitudes da história judaica, apesar de qualquer pressão sobre eles para se converterem, esse
povo antigo continua expressando a sua identidade e praticando a sua fé. Para os seus oponentes,
isso era sinal claro duma obduração inata, senão rejeição divina. Desde o tempo de Agostinho, a
Igreja se acostumara a interpretar a posição precária e muitas vezes degradada dos judeus dentro
do Cristianismo como retribuição divina pela resposta negativa a Jesus. Até um espírito tão nobre
como Dietrich Bonhoeffer não encontrou nenhuma dificuldade em ligar o sofrimento judaico a sua
rejeição de Cristo. Só a sua conversão poderia os livrar do estado divinamente ordenado.
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O ponto que estou fazendo é, além de tudo, a atitude da Igreja aos judeus e ao Judaísmo não tem
sido divorciada do seu auto-entendimento. Raramente, o Judaísmo foi permitido de ter uma
integridade de si própria. Freqüentemente demais foi visto como o obverso da Cristandade, como o
que a Cristandade não é. Até um papel dessa natureza, com a sua concentração no "não" judaico,
corre o mesmo risco. O que o pode reparar, a certo grau pelo menos, é que seja dado lugar para um
exame ou descrição, embora muito breve, do Judaísmo no seu direito próprio. Mas, no momento,
notamos que, para um cristão, não é possível, como o é para um judeu, quebrar o nexo entre
Cristandade e Judaísmo. Porque isso deve ser assim, não está difícil para sondar. Cede a isso: Jesus
era judeu.
Jesus o Judeu
É lugar comum dos estudos do Novo Testamento modernos enfatizar a judaicidade de Jesus. É
refrescante ser lembrado que nasceu como judeu, viveu com judeu e que morreu como judeu,
embora numa idade muito prematura, pela acusação romana de sedição. A ênfase em qualquer
estudo científico de Jesus está agora posta naqueles aspetos da sua vida que o vêem em
solidariedade com o seu próprio povo, unido a este no culto na sinagoga e no templo, engajando-se
com outros, não por último os fariseus, na argumentação sobre a própria interpretação da Toráh.
Mas não só Jesus era judeu, também os seus discípulos iniciais e os seus seguidores mais antigos o
eram. Aqui havia uma resposta judaica positiva a ele que deve ser permitido para qualificar o que foi
dito no começo desse artigo. Mas quem era Jesus, o quê era Jesus e a quem alguns dos seus cojudeus responderam e quais foram mais tarde preparados para levar uma mensagem sobre ele a
outros, até para além da sua própria pátria?
A confidência e eficácia com que a Igreja Cristã proclamou a sua mensagem de Jesus como Redentor
Universal, Filho de Deus e o Cristo servia para escurecer o fato de que o que não pode ser acertado
são assuntos centrais tais como o auto-entendimento de Jesus, o que ele reivindicou de si mesmo e
o que se pôs a realizar. O que pode ser dito com alguma medida de certeza é que é altamente
improvável que se via como o Salvador do mundo ou Filho de Deus no sentido mais tarde adquirido
ou mesmo como o Messíah de Israel. Todas essas são reivindicações que foram feitas sobre ele por
aqueles que viam na sua crucificação algo mais que a nossa morte ordinária e que sentiam a sua
presença contínua além do evento trágico. Em outras palavras, o Jesus que está sendo e que tem
sido proclamado pela Igreja é, como Paul van Buren o pôs convenientemente, "o Jesus
testemunhado", primeiro pelos seus seguidores mais antigos e então pelos seus sucessores. Mas
uma distinção tem de ser feita entre aqueles dois grupos, isso é os primeiros arautos e os seus
sucessores. Os primeiros fizeram as suas reivindicações sobre ele no contexto do seu próprio
Judaísmo. No livro dos Atos dos Apóstolos estamos sendo informados de que esses primeiros crentes
continuavam venerar no Templo. Embora a sua proclamação de Jesus e as suas reivindicações de
curar neste nome tenha levantado oposição de vez em quando, não há indício de que, num estágio
primitivo, surgiu a espécie de tensão que era para levar eventualmente à divisão dos caminhos. Essa
era uma ruptura que ocorreu por causa dum fator importante, a saber, o de admissão de gentílicos
como membros do movimento Jesus. Quando questões de observância da Toráh, não por último a
prática de circuncisão e das regras de dieta começaram a tomar um estágio central, quaisquer
tensões que existiam foram muito exacerbadas. Quando, no período pós-70, o Judaísmo foi encarado
com a tarefa monumental de reconstrução, o assunto de identidade judaica assumiu uma
importância que não podia tolerar a espécie de compromissos que teriam acomodado a posição
adotada por alguns líderes da Igreja embrionária.
É esse desenvolvimento rumo a essa posição com a sua apologética e polêmica concomitantes, o
qual está refletido nos escritos do Novo Testamento, nem por último nos quatro Evangelhos. Nessas
circunstâncias, é compreensível que o Jesus retratado é feito para servir ao objetivo dos escritores, e
que seria apresentado, menos como um judeu fiel do que um como adversário da sua própria
religião. O que Jesus reclamava para si, como ele entendeu a sua própria missão, seja como líder
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galileu carismático, reformador interno, profeta escatológico ou seja qual for, chega a ser escuro
pelas necessidades e a perspectiva dos escritores e das suas comunidades.
Este "Jesus testemunhado" perde muito da sua judaicidade e muito também de qualquer atração
para seguidores judaicos possíveis. O que tem ainda, é que surge dentro do grupo dissidente, o
grupo que foi forçado para fugir do corpo parente, um padrão de reivindicações e acusações que
chegou a ser associado com a perspectiva e comportamento de movimentos sectários. Quando
houver recurso a certos textos do Novo Testamento que parecem apoiar a posição cristã
exclusivista, esses precisam ser examinados à luz do contexto em que emergiram. Declarações
atribuídas a Jesus como a sua reivindicação de ser "o caminho e a verdade e a vida" sem quem não
há acesso ao Pai (João 14,6) perdem a sua tendência exclusiva quando vistos no contexto em que
surgiram. Um artigo recente do professor Hugh Anderson, anteriormente professor do Novo
Testamento na Universidade de Edinburgh, nos provê com uma douta apresentação àqueles que
invocariam esse texto e outros, por exemplo Atos 4,12, em apoio da posição absolutista.*
O "Sim" Judaico ao Judaísmo
Muito mais significante que o "não" judaico a Jesus é o "sim" judaico ao Judaísmo. Isso é a afirmação
dum cometimento contínuo à aliança histórica e à Toráh do Deus de Israel. A importância deste
último ponto tem sido implicitamente reconhecida, pelo menos, em grande número das declarações
eclesiais recentes. Há um sentido em que uma tal observação tende a ser condescendente, mas é
um passo na direção reta. No entanto, há dois fatores, em particular, que prevêem as igrejas de
reconhecer a significância plena do "sim" judaico continuo e persistente ao Judaísmo. Esses fatores
são:
1. A crença antiqüíssima de que na pessoa de Jesus de Nazaré as promissões (predições?)
dentro das Escrituras Hebraicas (nesse contexto do Antigo Testamento) são cumpridas; e
2. a afirmação de que o Judaísmo serviu como um preliminar para o surgimento da Cristandade;
e de que ele é uma religião truncada que se oferece para o cumprimento além de si.
Os argumentos contra ambas as duas posições são esmagadores mas, necessariamente, podem
aqui ser tratados só brevemente.
Sobre o primeiro ponto, o que poderia ser dito é que os elos, que têm sido feitos entre os dois
testamentos, dentro do próprio Novo Testamento e no ensino e proclamação da Igreja, não resistem
ao teste de escrutínio científico rigoroso. O que encontramos poderia ser posto sucintamente neste
modo:
1. Certos textos ou declarações dentro das Escrituras Hebraicas que est o sendo inteiramente
removidos do seu contexto inicial e prensados num serviço completamente diferente, por
exemplo, o uso de Isaias 7,14 em suporte para o nascimento de virgem.
2. Algumas passagens da Bíblia Hebraica que provêem o tipo de linguagem que serve ao
objetivo do escritor do Novo Testamento, por exemplo, o uso de Isaias, capítulo 53, como
predição do sofrimento de Jesus.
3. Textos da Bíblia Hebraica que est o sendo "exaustos" para assim dizer, como predição de
certos eventos na vida de Jesus, por exemplo, a associação do seu nascimento, não com
Nazaré, mas com Belém (Miquéias 5,2) e o uso de Zacarias 9,9 como pano de fundo para
uma entrada triunfal putativa em Jerusalém.
A lista e os exemplos poderiam continuar e continuar. Tomados individualmente, esses textos de
não-cumprimento carecem de conseqüência, mas tomados cumulativamente nos chamam a mudar
a nossa aproximação teologicamente. Acrescentaria que essa perspectiva teológica alterada provê
nenhuma ameaça qualquer para a verdade fundamental da Cristandade, um ponto ao qual vamos
chegar um pouco mais tarde.
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Sobre o segundo ponto, aquele de significância "temperaria" do Judaísmo dentro do objetivo divino,
o que ofereço aqui não são mais que alguns poucos apontadores que possam ser úteis para leitores
cristãos que ainda não consideraram esses assuntos. As observações breves são:
As categorias duma religião não deveriam ser usadas para qualquer tentativa de entender ou
descrever uma outra. Muitos dos termos comumente usados na Cristandade possam ser
descaminhadores se aplicados ao Judaísmo e, por vezes, a mesma palavra pode ter
conotações diferentes. Um bom exemplo é "salvação".
O Judaísmo não é alguma espécie de observar a partir da Cristandade, isso é: não todas as
coisas que esta não é.
O Judaísmo não é religião de retidão de obras (terminologia cristã) em contraste Cristandade
como religião da graça. Veneramos e servimos ao mesmo Deus, o Deus de Abraão, Sarah e
Jesus de Nazaré.
O Judaísmo não é religião de credo. Não contém dogma ou doutrina, exceto no sentido mais
óbvio de fé num Deus Único, Verdadeiro.
Embora o Judaísmo esteja ligado Bíblia Hebraica, não está ligado, por isso, num sentido de
que nada aconteceu desde os tempos bíblicos
O Judaísmo abraça todos os escritos dos períodos dos Sábios, dos Rábis e dos sucessores
destes. Esse material é encontrado inicialmente na Mishnáh, na Guemaráh (juntas formando
os dois Talmudes) e nos Midrashim.
A Toráh e a sua expansão interpretada não é "meio de salvação" num sentido cristão, mas é
guia na obediência ao Deus da Aliança, isso é que provê "o caminho a andar" (Halakáh).
Central da prática judaica é a santificação do Nome Divino e o tiqún haolám, "o reparo do
mundo". Isso requer resposta ativa.
O Deus do Judaísmo é o Deus do amor, da graça e da justiça. Arrependimento e perd o n o
fazem menos parte do Judaísmo do que fazem da Cristandade. Assim também, a esperança
do Reinado (Regime) de Deus faz parte essencial do Judaísmo.
Outra vez, essa lista pode continuar e continuar. O objetivo principal naquilo que foi escrito é contar
a caricatura nociva do Judaísmo, a qual está sendo apresentada tão freqüentemente aos cristãos e
indicar que todas as coisas que os cristãos estimam estão presentes no Judaísmo, embora
expressadas em modos diferentes, mas servindo ao mesmo objetivo: venerar e servir ao Único,
Verdadeiro Deus. Não há nada faltando. Tivesse o Judaísmo chegado ao fim com o surgimento da
Cristandade, o mundo teria sido imensuravelmente o mais pobre, assim também a Cristandade, pois
o novo relacionamento aumenta o nosso débito antigo. Muito mais poderia ser escrito a esse tópico,
de fato, muito mais poderia ser escrito, mas talvez o suficiente foi dito para justificar a afirmação de
que muito mais significante que o "não" a Jesus é o "sim" continuado judaico ao Judaísmo.
O "Sim" Cristão a Jesus
Por definição, o cristão é pessoa que tem dito "sim" a Jesus como o Cristo de Deus. Queria continuar
dizendo que é o "sim" a Jesus como o Cristo para ele ou ela como cristão ou cristã. É, sobretudo,
uma declaração de fé, sendo que qualquer princípio de verificação que possa ser aplicado deve ser
operado dentro do domínio circunscrito. Além disso, o que o título pretende dizer, o Cristo, não está
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imediatamente reconhecível. É, portanto, assunto teológico importante para a Igreja; mas não um
que possa ou deveria ser atendido independentemente do contexto do que surgiu, tendo esse
contexto dimensões religiosas, políticas e sociais. De fato, qualquer reivindicação sobre Jesus que
não seja para os cristãos, tem de ser examinada dentro daquele contexto multifaciado. Por exemplo,
qual é a importância de que, no tempo da Igreja primitiva, era o costume do imperador romano, sob
ser morto, ser deificado ou que a noção dum Salvador Deus descendo era corredeira na cultura
religiosa greco-romana daquele período, como também o aceito de herói por virgem então e
anterior?
O que, então é a significância da resposta positiva dos cristãos? É esta: que o Deus de Jesus e dos
seus compatriotas de todas as eras chegou a ser o Deus das nações, trazendo a frutificar a
promissão divina a Abraão (Gênesis 12,3). O Deus de Abraão é também o Deus do cristão. Nesse
sentido, há cumprimento da promissão antiga das escrituras Hebraicas naquilo que está
centralmente testemunhado no Novo Testamento. Quando Jesus, como judeu ora assim: "Nosso Pai
no céu...", oramos com ele o que é substancialmente uma oração judaica. Estamos sendo puxados
para dentro dessa experiência, mas chegamos como portadores mais tardios, como tais que
receberam mais do que possam jamais dar. Só por essa razão, missão cristã a judeus é
teologicamente insustentável.
Como Jesus incluiu no seu ministério uma chamada às ovelhas perdidas de Israel, assim essa
chamada está sendo estendida pelos primitivos evangelistas, nem por último por Paulo, às ovelhas
perdidas das nações, aos gentílicos. Está sendo feito em nome de Jesus, sobre quem pode ser
conferido o título, o Cristo, o Ungido de Deus, não no sentido de quem esteja supostamente
pressagiado na Bíblia Hebraica, mas como um através de quem a redenção foi espalhada para as
nações. Esse entendimento não põe em questão o "não" judaico, nem deve jamais ser transpassado
ao "sim" ao Judaísmo. Juntos esperamos e trabalhamos para esse regime messiânico, este que é o
cumprimento do objetivo divino (veja 1Coríntios 15,20-28 para a apresentação poética dessa
esperança).
Conclusão
A fé de pessoa alguma deve jamais ser tida a custo da fé daquela duma outra, mais afirmadamente
não a custo daquela duma outra comunidade de gente.
Se permitirmos às nossas imaginações nos levarem além do mundo bíblico antigo com os seus sinais
e símbolos, se bem que importantes, para além do mundo restringente dum universo de "três
cobertas" com o seu céu e terra e inferno, para além ainda do mundo do Copérnico; se fizermos isso
e refletirmos sobre a natureza do universo como o conhecemos, sobre a magnitude ilimitada
diversidade infinita, então, certamente a nossa resposta comum a Deus seria uma de temor e,
sobretudo, de humildade. Regosijariamo-nos com o salmista:
Oh Senhor, oh Soberano,
como majestático é o Teu Nome em todo a terra!
...........................................................
Quando olho aos Teus céus, a obra dos Teus dedos,
a lua e as estrelas que estabeleceste,
o que são os seres humanos que estejas atento deles,
(meros) mortais que cuides deles? (Salmo 8,1,3,4).
*The Fantasy of Superiority: Rethinking our universalist claims in Overcoming Fear Between Jews and
Christians, editado por James H. Charlesworth, Nova York: Crossroad, 1992, pp. 44-57.
Texto inglês Tradução: Pedro von Werden SJ - C. P. 206 - 78005-970 Cuiabá-MT - BRASIL - [email protected]
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