CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MARIA DE SOUSA NORONHA A REDE DE ATENÇÃO AO USUÁRIO DE CRACK E OUTRAS DROGAS: A IMPORTÂNCIA DA ASSESSORIA ESPECIAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS NA INTEGRAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNÍCIPIO DE EUSÉBIO FORTALEZA 2012 MARIA DE SOUSA NORONHA A REDE DE ATENÇÃO AO USUÁRIO DE CRACK E OUTRAS DROGAS: A IMPORTÂNCIA DA ASSESSORIA ESPECIAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS NA INTEGRAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNÍCIPIO DE EUSÉBIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Cearense, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de bacharel em Serviço Social. Fortaleza 2012 2 N852r Noronha, Maria de Sousa. A rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas: a importância da assessoria especial de políticas sobre drogas na integração da política de saúde e assistência social no município de Eusébio / Maria de Sousa Noronha. – 2012. 80 f. ; il. Orientador: Prof. Esp. Igor Monteiro Silva. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2012. Bibliotecária Maria Albaniza de Oliveira CRB-3/867 1. Drogas. 2. Políticas públicas. 3. Políticas de saúde e assistência. I. Silva, Igor Monteiro. II. Título. CDU 364.692:615.2:615.015.6 CDU 338.48(813.1) CDU 364.634-055.2-053.9 3 MARIA DE SOUSA NORONHA A REDE DE ATENÇÃO AO USUÁRIO DE CRACK E OUTRAS DROGAS: A IMPORTÂNCIA DA ASSESSORIA ESPECIAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS NA INTEGRAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNÍCIPIO DE EUSÉBIO Trabalho de Conclusão de Curso como pré-requisito, para obtenção do título de bacharel em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: 15/01/2013 BANCA EXAMINADORA Professor Ms. Mário Henrique Castro Benevides Professora Esp. Lídia Cunha Costa 4 Algumas pessoas marcam a nossa vida para sempre, umas porque nos vão ajudando na construção, outras porque nos apresentam projeto de sonho e outras ainda porque nos desafiam a construí-los. Quando nos damos conta, já é tarde para lhes agradecer, por isso dedico esta conquista, primeiramente a Deus, que me concede todos os dias o Dom da Vida, que cuja sabedoria e conhecimento ultrapassam a nossa própria compreensão. Aos meus pais, Vagna e Gilvan, pelo amor, dedicação compreensão que fizeram de mim quem sou. e Aos meus irmãos Gilvanderson e Gildervan (In Memorian)... 5 AGRADECIMENTOS “Como agradecer tanto bem que Deus tem feito a mim?” Esta certamente é a parte mais emocionante deste trabalho. Lembrar dos momentos hoje sentidos como vitoriosos e agradecer a todos que, com tanto carinho confiaram, torceram, trabalharam, compreenderam, me entenderam e, por vezes, não me entenderam, sentiram a minha falta e agora compartilham a minha felicidade com esta conquista tão significativa em minha vida. Eu não arriscaria tanto nem abraçaria os desafios que escolhi para mim, se não fosse à presença amorosa daqueles que têm comigo participado desta complexa e deliciosa aventura que é a vida. Nessa oportunidade, todo afeto e gratidão... Á minha querida Mãe, que sempre me apoiou nos meus estudos e nas minhas decisões. Sem ela não teria chegado aqui. O MEU ETERNO OBRIGADO! Ao meu pai, pelo apoio e compreensão, a minha gratidão; Ao meu irmão Gilvanderson pela compreensão... Ao meu irmão Gildervan, que mesmo na ausência da carne, senti sua presença e proteção, meu amor eterno e minha gratidão; Ao meu orientador, Igor Monteiro, pela oportunidade de orientação, muita paciência, compreensão, apoio e, por não desistir de mim, minha gratidão; À Micheline Said, meu especial agradecimento pela imensa colaboração na pesquisa de campo, no compartilhamento das experiências profissionais cotidianas e pela compreensão da minha ausência no trabalho, o meu enorme e sinceros agradecimentos; À banca examinadora, Mário Henrique Benevides e Lídia Cunha por aceitarem o desafio de participar desta banca de defesa e pela enorme contribuição na minha formação acadêmica; Aos professores que estiveram presentes em minha vida acadêmica em que tiveram participação fundamental no meu rendimento, em especial a Mônica Duarte, Joelma Freitas, Eveline Alves e Letycia Peixoto. O meu muito obrigado por ampliarem meus conhecimentos; Aos meus amigos do colegial, Rôsany Nascimento e Cleudivan Noronha, por fazerem parte da minha vida desde a infância, pelo apoio, carinho e dedicação; A Rafael que no momento final de construção da monografia, contribuiu de maneira indiscutível... O meu muito obrigado!!! 6 Aos amigos de todo o sempre embelezaram os múltiplos territórios e caminhos da vida; Á todos que estiveram presentes na minha trajetória acadêmica, em especial a Rimênia Manuelly, Marleide Nogueira, Regina Lúcia, Tamires Bandeira, Grace Kelly, Jacqueline Moura, Cláudio Henrique, a qual compartilhamos muitos momentos especiais, angustiosos e alegres; À querida Eliane Zaranza pelo exemplo de vida e superação, que pela adversidade da vida não concluiu esta etapa, mas que pelo seu trabalho e dedicação, o Criador tornou-a uma guerreira, exemplo de amor e solidariedade para com os outros; Enfim, a todos que contribuíram direta e indiretamente, cujos nomes não foram citados. O MEU MUITO OBRIGADO! “As vozes de milhões de anjos não poderiam expressar a gratidão do meu pequeno ser...” Agradeço ao meu Deus amado, que não só tornou isso possível, mas que principalmente, me carregou por todas as dificuldades até completar essa etapa. Sei que minhas fontes estão em Ti, e não há outro que mereça toda a glória e honra. A ti meu amor, meus títulos, meu nome, minha vida, meu tudo! 7 “É preciso a certeza de que tudo vai mudar; É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós: onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração; Pois a vida está nos olhos de quem sabe ver... Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver folhas, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção da semente”. Henfil 8 RESUMO A crescente disseminação do uso de drogas com suas dramáticas conseqüências sociais e à saúde, vem expressando-se de forma alarmante, requerendo novas formas de atenção à questão. Com isso, o objetivo desta pesquisa, é analisar a rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas, e a construção da Rede de Atenção Psicossocial a estes usuários no município de Eusébio, enfatizando a integração da política de saúde e assistência social a partir da articulação realizada pela Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas – ASSEPOD. O procedimento metodológico foi realizado através da pesquisa de campo quantitativa e, da pesquisa bibliográfica e documental. A presente pesquisa está dividida em três capítulos. No primeiro, será abordado à dependência de substâncias psicoativas, em particular o crack, fazendo relação com o perfil dos usuários de substâncias psicoativas do município. No capitulo dois, há uma recuperação da trajetória dos marcos normativo e legal das Políticas Públicas destinadas ao trato da questão. Por fim, serão abordadas as dificuldades para a construção de uma rede de serviços e os desafios da articulação entre os setores das políticas públicas de saúde e assistência social para pactuar a integralidade da assistência destinada aos usuários, considerando os desafios e dificuldades a serem superados. Ao fim da pesquisa, conclui-se que são pertinentes os desafios e dificuldades na construção e articulação da rede de atenção psicossocial. Contudo, há um grande avanço das políticas públicas nessa construção, pois a dependência química vem sendo tratada como uma questão que perpassa o processo saúde/doença, entendendo-se a necessidade de articulação dos diversos setores das políticas públicas, principalmente a de saúde e assistência social. Palavras Chaves: Crack. Política de saúde. Política de Assistência Social. Integração. Intersetorialidade. 9 ABSTRACT The increasing use of drugs and its bad social consequencies and the danger to the health has been spreading in a wide average and that requires a special attention in order to avoid the level of damage to society. The focus of this research is to analyse the complete process of treating the users of "crack" and other drugs and also to improve the construction of the "Rede de Atenção Psicosocial" (the Bureau for Psycosocial Care) to care about Eusebio's drug users. The Rede de Atenção Psicosocial aims the integration between the health and social politicies promoted by the articulation of the ASSEPOD (Assessoria Especial de Politicas Sobre Drogas). The methodological process was developed through a quantitative and also trough a bibliograph and documental research. The research is divided in three chapters. Along the first chapter it will be discussed the dependency of psycoactive drugs, in particular the crack, stablishing the relationship with the the characteristics of Eusebio's psycoactive substances users. In the second chapter there is a recuperation of the trajetory of the legal and normative Public policies statements directed to the solutions of the specific purpouse. At last, it will be discussed the difficulties to build up the "Rede de Atenção Psicosocial" and the difficulties to stablish the articulation between the Health and Social Care Public Policies Secretaries in order to assure the integrity of the planned assistancy to the drug adicts, considering the chalanges and dificulties in articulating and building up the "Rede de Atenção Psicosocial". Neverthless, there is a great progress according to the public policies in this construction for the chemical dependency has been treated as a problem that overcomes the process of health/desease, thus motivating the necessity of articulation of the different sections of the Public Policies mainly those of Health and Social Care. Palavras Chaves: Crack. Politicies Healt. Politicies Social Care. Integration. Intersectoriality. 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ASSEPOD - Assessoria Especial de Políticas sobre Drogas CAPS - Centro de Atenção Psicossocial CAPS AD - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas CID - Classificação Internacional das Doenças CNM – Confederação Nacional dos Municípios COMAD – Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas CRAS - Centro de Referência de Assistência Social CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social CT - Comunidade Terapêutica DIPRE – Divisão de Proteção ao Estudante HMDAS – Hospital Municipal Dr. Amadeu Sá OBID – Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas OMS – Organização Mundial de Saúde PNAD – Política Nacional sobre Drogas PNAS – Política Nacional de Assistência Social SENAD – Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas SNC- Sistema Nervoso Central SPAs – Substâncias Psicoativas 11 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................12 CAPÍTULO I 2. A QUESTÃO DAS DROGAS..................................................................................18 2.1 Compreendendo o Crack e outras drogas: surgimento e evolução.....................20 2.2 Uso nocivo e dependência de crack e outras drogas: da curiosidade à doença........................................................................................................................26 2.2.1 A dependência de substâncias psicoativas: uma questão de doença.............. 27 2.3 Conseqüências do consumo de drogas...............................................................28 2.4 Dados específicos: Perfil dos usuários de substâncias psicoativas no município de Eusébio .................................................................................................................29 CAPÍTULO II 3. AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS......................................................40 3.1 A rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio especificamente a rede de saúde e assistência social...............................................44 3.2 Uma construção de rede local de atenção integral ao usuário de crack e outras drogas: a política de saúde e assistência social na promoção do tratamento e reinserção social.........................................................................................................53 3.3 Juntando as pontas na ponta: a importância da integração das políticas de saúde e assistência social no trato da questão.....................................................................55 CAPÍTULO III 4. O PAPEL DA ASSESSORIA ESPECIAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS: dialogando a intersetorialidade...................................................................................57 4.1 Os desafios na articulação das políticas públicas política de saúde e assistência social realizados pela ASSEPOD com ênfase no tratamento e reinserção social..........................................................................................................................64 4.2 Portaria N° 3.088, de 23 de dezembro de 2011: desafios na construção da Rede de Atenção Psicossocial a usuários de drogas no município de Eusébio.................65 CONCLUSÃO............................................................................................................68 REFERÊNCIAS..........................................................................................................71 ANEXOS....................................................................................................................75 12 1. INTRODUÇÃO O interesse pela temática surgiu devido à crescente demanda espontânea por tratamento de dependência de substâncias psicoativas no Centro de Referência Assistência Social - CRAS Mangabeira – Eusébio, no qual realizei estágio não obrigatório no período de julho de 2010 a fevereiro de 2012. A aproximação com o assunto ocorreu na realização do Estágio Supervisionado II, realizado na Assessoria Especial de Políticas sobre Drogas de Eusébio – ASSEPOD. Já o estágio supervisionado III, realizei no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de Eusébio – CAPS AD. Em um primeiro momento no campo de estágio supervisionado II, o meu questionamento surgiu após observar a dificuldade encontrada na interlocução com outras instituições, já que a assistência a esse público necessita de articulação entre as diversas políticas públicas, visto que a atenção a esse sujeito tem que ser realizado de forma intersetorial, no sentido de que além do tratamento devido ao consumo de substâncias psicoativas, outras demandas apresentadas do usuário e de sua família possam ser atendidas, buscando a superar a prática usual e histórica das políticas públicas, de critérios seletivos e de exclusão, que levam em conta apenas um problema. A hipótese inicial do estudo é de que a rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas mostra-se frágil e/ou escassa. No entanto a suposição também é de que ela está em construção recente, devido ao amparo recente do Poder Público para a questão, pois somente no ano de 2003 que o Ministério da Saúde publicou “A política do Ministério da Saúde para a atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas” 1. Partindo das indagações supracitadas, o objetivo da pesquisa é analisar rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio, com foco na integração das políticas de saúde e assistência social, a partir da articulação realizada pela Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas. Em seguida, objetiva analisar a construção da Rede de Atenção Psicossocial ao usuário de crack e outras drogas 2 no município de Eusébio, 1 Dados disponíveis no site do Ministério da Saúde: www.saúde.gov.br, acessado em 15/08/2012 às 10h24min. Ressalta-se que essa nomenclatura passou a ser utilizada no ano de 2010, com a instituição do Decreto Nº 7.179, que institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas. Anteriormente utilizava-se a nomenclatura, usuário de álcool e outras drogas. 2 13 observando as dificuldades e as implicações na constituição de uma rede de fato e os desafios na articulação entre os setores das políticas públicas para pactuar a integralidade na assistência destinada aos dependentes de substâncias psicoativas. A crescente disseminação do uso de drogas licitas e ilícitas e suas dramáticas conseqüências socioeconômicas tem sido preocupação de muitos governos em todas as partes do mundo. Na atualidade observamos que o uso de drogas passou a ser um problema de saúde pública e social, não mais somente uma questão cultural ou ritualística. O município de Eusébio a qual delimito a pesquisa de campo, localiza-se na porção nordeste do Estado do Ceará, na macrorregião de Fortaleza ocupando uma extensão de 79.008km² - tendo historicamente sido desmembrado do município de Aquiraz no ano de 1989, a primeira capital do estado do Ceará. O município é considerado completamente urbano, sem áreas rurais, nos quais residem 46.033 habitantes, segundo dados do IBEGE censo 20103, sendo que além destes temos uma razoável número de pessoas que transitam pelo município todos os dias, já que o mesmo encontra-se em um famoso corredor turístico que leva as praias da costa leste. Outro dado relevante é o crescimento populacional anual que gira em torno de 4,94% que é o triplo vivenciado pela população cearense que é de 1,73%. A cidade de Eusébio apresenta bons índices de desenvolvimento no que tange a educação, o atendimento de saúde e de assistência social, esporte, cultura, emprego e renda. Entretanto, mesmo com estes índices temos uma parte considerável da população que vivencia situação de vulnerabilidade, pois não possui um acesso satisfatório às políticas publicas existentes. A falta de acesso as políticas publicas é um dos graves motivos que levam ao envolvimento com um mundo das drogas ilícitas, sendo que este envolvimento trás consigo serias problemáticas que perpassam desde o aumento da violência intrafamiliar a evasão escolar, até chegarmos à agudização dos homicídios juvenis. Apesar desses índices, a rede do Sistema Único de Assistência Social SUAS do município de Eusébio é composta por: três Centros de Referência da Assistência Social - CRAS, sendo que a estes equipamentos estão ligados sete 3 Dados disponíveis em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 acessado em 13 de setembro de 2012 às 10h40min horas. 14 Centros de Convivência de Idosos, quatro Pólos de Atendimento e diversos coletivos do Projovem; um Centro de Referência Especializado em Assistência Social – CREAS, que tem como área de abrangência todo o território municipal. Já o Sistema Único de Saúde – SUS é composto por: dezesseis Estratégias de Saúde da Família; dois Núcleos de Apoio a Saúde na Família – NASF; dois Centros de Atendimento Psicossocial – CAPS sendo um Geral e um Álcool e Drogas; uma Policlínica que presta serviços de atendimento médico especializado; e, por fim, um núcleo hospitalar de atendimento secundário. Segundo dados da Confederação Nacional dos Municípios4, o município de Eusébio localizado na região metropolitana de Fortaleza, encontra-se com um alto nível de consumo de crack. No período de 2008 a 2012, segundo dados do DATASUS 5 , foram realizadas 310 internações em hospitais psiquiátricos de residentes do município de Eusébio, sendo que destes 35 por transtornos mentais e comportamental devido o uso de álcool, e 81 em decorrência de transtornos mentais e comportamentais devido o uso de outras substâncias psicoativas, sendo o sexo masculino com maior incidência, 33 e 70 internações respectivamente. Especificamente, no que tange a um equipamento que realize serviços voltados a atenção aos usuários de drogas, do ponto de vista legal, tem-se no município, criada por meio da lei municipal 824 de 01 de junho de 2009, a Assessoria Especial de Políticas sobre Drogas – ASSEPOD, equipamento este, pioneiro no trato da questão, tendo como função assessorar, coordenar e articular as ações de prevenção do uso indevido de drogas, à atenção e a reinserção social de usuários de crack e outras drogas, buscando a efetivação da Política Nacional de Políticas sobre Drogas – PNAD. Suas principais atividades são: encaminhamentos diversos e acompanhamentos nas comunidades terapêuticas; visitas domiciliares e institucionais; estudo de caso; promoção de capacitações dos profissionais de rede municipal; realização de campanhas educativo-preventiva; e palestras nas escolas. Atualmente, a equipe é composta pela Assessora, educadoras sociais e auxiliares administrativos. 4 Dados da Confederação Nacional dos Municípios, disponível em http://www.cnm.org.br/crack/, acessado em 24 de abril de 2012, às 09h00min. 5 Dados disponíveis em http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php, acessado no dia 11 de setembro de 212, às 15h30min. 15 No mais, os serviços realizados pela rede municipal no trato da questão são realizados pelas diversas secretarias. A Secretaria de Trabalho e Ação Social por meio dos equipamentos CRAS e CREAS, desenvolvem atividades preventivas, como as palestras e grupo de fortalecimentos de vínculos familiares. Desenvolve também, especificamente o CRAS em parceria com a ASSEPOD, a reinserção social por meio do grupo de reinserção, promovendo o acompanhamento do usuário conforme lei municipal 993 de 13 de abril de 2011 que institui o Programa Municipal de Reinserção Social, com o intuito de promover a Reinserção Social de dependentes químicos em tratamento, incentivando a reabilitação social, por meio da prestação de serviços nos equipamentos da rede municipal. Já a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Cidadania – SSPC, desenvolve ações de repressão e prevenção ao tráfico e ao uso de drogas, nas escolas e equipamentos públicos, através do Núcleo de Proteção ao Estudante – NUPRE e o Programa Ronda Escolar, sendo que este último realiza palestras educativas de prevenção a violência e ao uso indevido de drogas. Atualmente, a Secretaria Municipal de Educação é composta por trinta e cinco escolas, sendo que 80% destas estão em tempo integral. As unidades de ensino realizam atividades de prevenção em parceria com o NUPRE e o Ronda Escolar, Departamento de Apoio ao Estudante – DAE, Centro de Apoio ao Jovem Estudante – CAJE, entre outras. A Secretaria Municipal de Saúde, através de seus equipamentos buscam a promoção da intersetorialidade, por meio de acordos e encaminhamentos, proporcionando a integralidade na atenção ao usuário de drogas. Através de acordo realizado entre a ASSEPOD e os equipamentos de saúde, cabe aos mesmos o atendimento prioritário ao usuário e o encaminhamento ao serviço especializado (CAPS AD). Especificamente, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS AD presta serviço especializado de média complexidade, desenvolvendo atividades de redução de danos, oficinas terapêuticas, videoterapia, grupo de tabagismo e atividades na piscina em parceria com o NASF. A relevância do estudo do tema se mostra fundamental para ampliar a analise crítica da problemática das drogas, e a partir do momento em que o consumo indevido de drogas tem aumentado na sociedade, a busca de um debate amplo sobre a área revela-se necessário, principalmente sobre as formas de 16 enfrentamento da questão, tendo em vista que os resultados da pesquisa poderão nortear para a melhoria e/ou ampliação dos serviços ofertados aos usuários de crack e outras drogas. O procedimento metodológico realizado no estudo do objeto no presente trabalho foi através da pesquisa quantitativa, pois esta propiciou uma compreensão de dados estatísticos da realidade social epidemiológica dos usuários de drogas no município. Para a construção da pesquisa, realizei a pesquisa bibliográfica com maior aprofundamento nos materiais já elaborado, como livros, artigos científicos e legislações vigentes. Também utilizei da pesquisa documental que, assemelha-se com a anterior, mas se difere pela natureza das fontes e, não exige contato direto com os sujeitos da pesquisa constituindo numa fonte rica e estável de dados. (GIL, 2002) A minha investigação foi realizada numa instituição pública municipal de Eusébio. A instituição delimitada para tal pesquisa é a Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas – ASSEPOD, com sede interna ao Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS AD, localizada na Avenida Brasília, 487, Parque Havaí – Eusébio. Para realizar o levantamento do perfil dos usuários de SPAs do município, utilizei o formulário, que me propiciou traçar o perfil dos usuários em dados quantitativos. Para tal, realizei analise dos prontuários de atendimento, que no período de 2010 a junho de 2012 foram realizados pela ASSEPOD e, que a partir da implantação do CAPS AD em junho de 2012 passaram a ser realizados por esta instituição. Vale ressaltar, que foram analisados todos os prontuários de atendimento existentes no período da pesquisa, que totalizavam 400 prontuários. Este levantamento ocorreu no período de setembro a novembro de 2012. Para um maior aprofundamento do estudo enfatizando a realidade pesquisada a fim de vislumbrar a realidade do município no trato da questão, realizei uma entrevista semi-estruturada, “que combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistador tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada” (MINAYO, 2012, p. 64), com a Assessora de Políticas sobre Drogas, com vistas a coletar dados suficientes para a realização da analise da rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas no município de 17 Eusébio, com enfoque na integração da política de saúde e assistência social no trato da questão. O presente trabalho está dividido em três capítulos, a fim de analisar rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio. No primeiro capitulo será abordado à dependência de substâncias psicoativas, em particular o crack, surgimento e evolução, uso e dependência, conseqüências na contemporaneidade, fazendo relação com o perfil dos usuários de drogas do município. No capitulo dois há uma recuperação da trajetória dos marcos normativo e legal das Políticas Públicas recentes destinadas ao trato da questão, levando em consideração as legislações existentes no âmbito municipal, bem como a rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas, especificamente, a rede de saúde e assistência social. No terceiro capitulo serão abordadas as dificuldades para a construção de uma rede de serviços e os desafios da articulação entre os setores das políticas públicas de saúde e assistência social para pactuar a integralidade da assistência destinada aos sujeitos que fazem o uso indevido de substâncias psicoativas e os desafios e dificuldade a serem superados a partir da Assessoria Especial de Políticas sobre Drogas. 18 CAPÍTULO I 2. A QUESTÃO DAS DROGAS Entende-se por drogas ilícitas aquelas em que o comércio e a venda são proibidos legalmente. Nesta pesquisa a ênfase é dada ao crack, cocaína e maconha, sendo estas drogas ilícitas. Já as drogas lícitas constituem-se, ao contrário da anterior, por serem de uso e livre comércio, a qual a ênfase é dada ao álcool e o tabaco. Atualmente, entende-se que estas drogas supracitadas, constituem-se nas principais drogas consumidas, com isso aumenta as múltiplas conseqüências, principalmente nas políticas públicas de atenção aos usuários de SPAs. A idéia de que o consumo de drogas é um fenômeno recente demonstra ser um equívoco. Sua presença revelou-se de múltiplas formas em diferentes sociedades ao longo da história da humanidade. O uso de drogas é uma constante ao longo da história dos homens. As primeiras populações sedentárias de que temos noticias já se valiam do consumo de bebidas fortes misturadas a elementos naturais que deixava quem a consumisse fora de seu estado mental normal. O uso de plantas alucinógenas sempre esteve relacionado à vida do homem. Na sociedade, os sujeitos têm uma idéia do significado da palavra droga. “Em uma linguagem comum droga tem um significado de coisa ruim, sem qualidade. Já em linguagem médica, droga é quase um sinônimo de medicamento” (BARROSO, 2006, p. 37). Para Amora (1999, p. 238) em seu minidicionário, droga é a substância que se usa em farmácia; substância alucinógena; coisa de pouco valor. Existe uma gama de variações de definições que englobam a temática “drogas” e “confundem a população leiga, acarretando um agravamento dos preconceitos e dificultando a implantação de medidas preventivas” (CAZENAVE, 2010, p.40). Sendo assim, drogas ou substâncias psicoativas são aquelas capazes de alterarem e/ou modificam o estado de consciência de quem as consome. A palavra droga traz consigo, segundo Seibel, várias origens. Assim sendo: “A palavra droga, de etimologia controversa, poderia ter vindo do persa droa, que significa odor aromático, do hebraico rakab, ou do holandês droog, substância ou folha seca. Toda substância psicoativa utilizada de forma abusiva pode levar a manifestações de dependência” (2010, p. 04). 19 Drogas ou substâncias psicoativas “são aquelas que modificam o estado de consciência do usuário” (SEIBEL, 2010, p. 03). Os efeitos dessas substâncias podem vim a serem causados desde uma estimulação suave ocasionada por uma simples xícara de café até os aos efeitos modificadores produzidos por alucinógenos. “As substâncias psicoativas constituem o conjunto dos produtos capazes de modificar o curso do pensamento ou estados de consciência” (SEIBEL, 2010, p. 06), sendo que estas modificações variam de acordo com a substância usada. Os modificadores da atividade psíquica são classificados em cinco grupos: os calmantes da vida psíquica (primeiro grupo); agentes alucinógenos (segundo grupo); substâncias embriagantes (terceiro grupo); agentes do sono (quarto grupo); e estimulantes psíquicos (quinto grupo). Já as substâncias psicoativas modificadoras classificam-se em: psicolépticos 6 , a exemplo o álcool e os ansiolíticos; os psicoanalépticos7, como o tabaco e a cafeína; os psicodislépticos8, como a maconha e o LSD. Para Santos (1997) existem várias classificações das drogas, sendo que, a forma mais simples de classificá-las é segundo seus efeitos. Neste aspecto “elas são classificadas em três grandes grupos: estimulantes, depressoras e alucinógenas. Estimulantes são aquelas que elevam ou aceleram a atividade mental, como por exemplo, as anfetaminas; depressoras são as drogas que diminuem ou relaxam a atividade mental, como por exemplo, o ópio e, drogas alucinógenas são as que distorcem ou alteram a atividade mental, como por exemplo, o LSD” (SANTOS, 1997, p.29). As substâncias psicoativas trazem consigo aspectos antropológicos, de cunho social, cultural e ritualístico. Na atualidade “é comum se dizer que uma abordagem exclusivamente farmacológica da questão da droga não é suficiente e que os efeitos tanto individuais e subjetivos quanto sociais do uso de substâncias psicoativas só podem ser entendidos a partir de uma perspectiva biopsicossocial” (MACRAE, 2010, p. 27). A partir dessa afirmativa, faz-se necessário a compreensão de interpretação que o individuo dá a suas experiências, principalmente na motivação 6 São drogas que causam depressão ou relaxação da atividade mental. Substância que tem ação estimulante ou excitante sobre as funções psíquicas. 8 São os conhecidos alucinógenos. São drogas que perturbam o sistema nervoso central, provocando alucinações e delírios. 7 20 do consumo continuo da droga. Assim sendo, torna-se de suma relevância levar em consideração as motivações de cunho social, cultural, afetivo e cognitivo. Segundo o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas9 (OBID), 19,4% da população pesquisada já fizeram uso na vida de drogas, exceto tabaco e álcool, o que corresponde a uma população de 9.109.000 pessoas. Atualmente, as pesquisas relacionadas à questão das drogas vão crescendo consideravelmente, devido o crescente consumo das SPAs. Os avanços científicos na área da drogadição permitem afirmar que, “assim como a ação do uso prolongado de substâncias com potencial de abuso no cérebro, aspectos sociais, culturais, educacionais e comportamentais têm papel central no desenvolvimento da síndrome da dependência” (ALMEIDA, 2011, p. 35). 2.1 Compreendendo o Crack e outras drogas: surgimento e evolução Enfatiza-se que o movimento hippie10 se colocou como a expressão mais conhecida desses valores, divididos em vários grupos e linhas e que o pacifismo era uma de suas bandeiras, reagindo contra a guerra do Vietnã. E o uso de drogas como a marijuana, haxixe, maconha e derivados constituiu-se como marca da relação deles com o mundo. O LSD, cogumelos e outros tipos de alucinógenos também eram usados, mas não de forma tão generalizada. Têm a capacidade de interferir na percepção da realidade alterando a consciência, trazendo perturbações intelectuais e psicossensoriais. Desde a Antiguidade o homem utiliza substâncias extraídas da natureza com diversos objetivos: medicamento, veneno ou como forma de modificar seu estado de ânimo e percepção, pois as substâncias que não são produzidas pelo organismo que causam modificações ao seu funcionamento são denominadas drogas. Para o autor MacRae, o uso de drogas na história tem seu inicio 9 Dados disponíveis em http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados_Estatisticos/populacao_brasileira/I_le vantamento_nacional/327591.pdf acessado no dia 19 de setembro de 2012, às 17h30min. 10 Conhecido também como movimento de contracultura dos anos 60. Foi um movimento em que os adeptos adotavam um modo de vida comunitário ou estilo de vida nômade, negavam o nacionalismo e a Guerra do Vietnã, abraçavam aspectos de religiões como o budismo, hinduismo, e/ou as religiões das culturas nativas norte-americanas e estavam em desacordo com valores tradicionais da classe média americana. 21 “Desde a pré-história os membros das diferentes culturas humanas têm sabido utilizar plantas e algumas substâncias de origem animal para provocar alterações de consciência com os mais variados fins”. Assim, tábuas sumérias do terceiro milênio a.C., cilindros babilônicos, imagens da cultura cretense-micênica e hieróglifos egípcios já mencionaram os usos medicinais do ópio e o próprio Homero o menciona na Odisséia como algo que „faz esquecer qualquer sofrimento‟ (MACRAE, 2010, p. 28). Apesar de não haver cientificamente provas, acredita-se que as primeiras experiências do consumo de drogas ocorreram acidentalmente, através do consumo de plantas que continham substâncias capazes de modificar e/ou alterarem o sistema nervoso central. “As drogas encontradas na natureza sempre estiveram associadas às práticas religiosas de diversos povos da Antiguidade. Também se atribuía seu uso à prática de atos delituosos” (BARROSO, 2006, p. 40). Segundo Carneiro o uso de drogas iniciou-se “(...) nos períodos anteriores ao neolítico, entretanto, a humanidade aprendeu a selecionar os produtos da flora e a descobrir os que podiam ser úteis como alimentos, e assim descobriram-se também as substâncias de múltiplos usos que hoje são chamadas de drogas e que abrangem embriagantes, remédios, estimulantes, sedativos e alucinógenos de usos de drogas” (CARNEIRO, 2010, p. 11). Para o historiador Brian Inglis as plantas psicoativas teriam sido utilizadas desde a pré-história, sendo estas substâncias o ópio, a coca, a efedra, o chá e a rauwolfia. De acordo com Carneiro (2010), as drogas sintetizadas em laboratórios e o surgimento da indústria farmacêutica a partir do século XIX, iniciaram após “a teorização médica sobre a natureza dos efeitos e do uso das drogas foi acompanhada do isolamento químico de drogas puras (morfina, 1805; codeína, 1832; atropina, 1833; cafeína, 1860; heroína, 1874; mescalina, 1888), o que permitiu precisão de dosificação, facilitando a atividade experimental controlada” (CARNEIRO, 2010, p. 23). Essas substâncias propiciaram avanços nas indústrias químicas, pois “algumas dessas substâncias foram elementos centrais na constituição de importantes indústrias químicas, como a Bayer (com a aspirina) e a Merck (com a cocaína e a morfina)” (CARNEIRO, 2010, p. 23). Após o surgimento da indústria farmacêutica e com a evolução das mais variadas formas de exploração dos produtos da natureza, diversas drogas vão surgindo, como a heroína, o ecstasy, a cocaína, o crack entre outras. 22 O crack é uma droga oriunda da cocaína, sendo a diferença entre ambas a forma de processamento. Estas drogas derivam-se da pasta da Erythroxylum coca, sendo que a cocaína é processada e consumida em forma de pó, enquanto o crack é consumido em forma de pedra. Referindo-se a coca, encontram-se duas espécies. A primeira é a Erithroxilum coca, nos países Peru e Bolívia, e a Erithoxilum novogranatense, no país da Colômbia. Assim como a maconha, a coca também tem um histórico de uso, pois “há evidências de um uso anterior a 2500 a.C. nos Andes” (CARNEIRO, 2010, p. 19). A palavra originou-se do aymara coca, significando “árvore” ou “arbusto” em geral. Atualmente, as folhas de coca são processadas nos países supracitados, sendo que o produto final, logo em seguida é levado a outros países da região, que detêm dos produtos para transformação, tecnologia para a realização da segunda fase de processamento e construção final da cocaína, que após esses processos são enviados ao resto do mundo. A coca ou cocaína foi estudada por renomeados filósofos, sociólogos e até pelo grande psicanalista Freud, sendo este “um dos entusiastas mais conhecidos da cocaína, preconizando-a para diversos fins, empregando-a ele próprio e escrevendo, entre 1884 e 1887, cinco estudos sobre diferentes aspectos da sua ação sobre o organismo” (CARNEIRO, 2010, p. 19). A coca-cola é uma versão popular cocainizada do final do século XIX, “que misturou o principal excitante dos Andes com o estimulante da África equatorial e obteve tal sucesso, que na Segunda Guerra Mundial, chegou a ser o emblema maior do American way of life” (CARNEIRO, 2010, p. 19). No século XIX foi isolada a cocaína, alcalóide obtido da folha da coca. Considerada euforizante, a cocaína foi utilizada como antídoto dos depressores do sistema nervoso e no tratamento do alcoolismo e da morfinomania. Nessa mesma época foi utilizada como anestésico local em cirurgia oftalmológica. A cocaína pode ser usada de várias maneiras: mascada (forma comum na cultura dos povos andinos), aspiração nasal (sendo absorvida diretamente na mucosa nasal) em injeções endovenosas e na forma cristalizada, fumada como cigarros, o chamado “crack”. 23 A cocaína e o crack tiveram as primeiras manifestações de uso nos países do Peru, Bolívia, Equador e Colômbia, há mais de 2.000 anos. No século passado, tais drogas se difundiram pela sociedade. Segundo Cordeiro, “na década de 1980, o consumo da cocaína aumentou muito e várias razões contribuíram para isso: aumento da oferta, a redução de custo e a diversificação nas vias de administração (além de aspirada, a cocaína passou a ser injetada e fumada)” (CORDEIRO, 2010, p. 78). O crack é uma droga poderosa, capaz de mudar completamente o comportamento do sujeito, aumentando o índice de mortalidade, especialmente nos primeiros anos de consumo. “Os estudos apontam que o uso crônico de crack deteriora o individuo cognitivamente, com um índice de funcionamento mental muito baixo, contribuindo para o seu isolamento e abandono por parte da família” (LARANJEIRA, 2010, p. 21-22). A cocaína e o crack por serem estimulantes do Sistema Nervoso Central, são causadores dos seguintes efeitos físicos: “vasoconstrição (contração dos vasos sanguíneos), aumento da pressão arterial, entorpecimento das sensações (como anestésica), taquicardia (aumento da freqüência dos batimentos do coração), dilatação das pupilas, insônia (...), formigamento e dores musculares” (SANTOS, 1996, p. 36-37). Para Bordin (2010) as conseqüências do uso de tais substâncias, perpassam os efeitos físicos, como o infarto do miocárdio e cerebral, convulsões, hemorragia cerebral, tosse crônica, ocasionando conseqüências no social, como a evasão escolar, a exclusão do processo de produção e reprodução social, entre outras. Inicialmente, as pessoas usavam as SPAs para reduzir a inibição social e promover a comunicação interpessoal, porém, o uso contínuo de tais substâncias, provoca paranóia. Segundo o autor, são várias as conseqüências sociais do uso de crack ou cocaína, sendo elas: “menor participação social; menor capacidade de julgamento, resultando em dificuldades profissionais, familiares, sociais e comportamentais de risco; prejuízo da capacidade para o trabalho; comportamento violento – é a principal causa de morte entre os usuários. As principais mortes são decorrentes de acidentes, suicídios e homicídios; atividade criminosa – roubo para manutenção do uso; prostituição, como moeda de troca pela droga (...); rompimento de vínculos familiares; custos econômicos: internações, tratamento do usuário e seus familiares” (BORDIN, 2010, p. 87). 24 Sendo assim, o uso contínuo das substâncias supracitadas, ultrapassam a sensação de “prazer” proposto nos primeiros usos das drogas, acarretando complicações físicas, psíquicas e sociais. No que concerne a maconha, esta surgiu, segundo “o pai da botânica moderna, o sueco Lineu, em 1753, a partir do termo indiano, propôs o nome científico de Cannabis sativa para a maconha” (CARNEIRO, 2010, p. 18). Nos anos de 1930, essa planta foi proibida nos Estados Unidos e em 1948, foi classificada na primeira categoria de drogas ilícitas que fora estabelecida pelas Organizações das Nações Unidas (ONU). A cannabis é utilizada nas seguintes formas: resina (haxixe), no estado natural, onde as folhas são colhidas, secadas e trituradas e então fumadas (maconha) e o haxixe líquido (destilado oleoso bastante concentrado) que pode ser sorvido e, até injetado por via venosa. “A maconha está entre as plantas mais antigas cultivadas pelo homem, com indicações arqueológicas e históricas do cultivo para obtenção de fibras desde há 6 mil anos, na China” (ZUARDI, 2011, p. 161). Em meados do século XIX e inicio do XX, estratos dessa droga, foram comercializados por conceituados laboratórios farmacêuticos, que a indicação de sedativo, hipnótico, analgésico e outros. Segundo Zanelatto, esta substância ainda “figura como a droga ilícita mais produzida e traficada. Atualmente cerca de 162 milhões (4% da população mundial) de pessoas consomem maconha, e dados indicam que esse número continua aumentando” (2007, p. 114). O consumo da maconha acompanha a história do homem. “Existem referenciais sobre seu uso há mais de 12.000 anos” (KARNIOL, 2010, p. 235). A utilização dessa droga é variada de acordo com a época, em que era utilizada pelos seus efeitos psicológicos e com fins medicinais mais diversos. Ao pensar em drogas, logo temos a concepção que esta é apenas às drogas ilícitas. Ao contrário, as drogas licitas são as que trazem maior repercussão no que tange as conseqüências no social, pessoal, econômica e, principalmente a saúde. O álcool e o tabaco são os tipos de drogas licitas mais consumida no mundo. Nos estudos desenvolvidos no Brasil que englobavam tanto as drogas licitas quanto as ilícitas, as primeiras lideram como sendo as mais consumidas. “As 25 prevalências de uso freqüente e uso pesado de álcool e tabaco são, ainda, bastante superiores às observadas para as substâncias de uso ilícito” (MEDINA, 2010, p. 74). “O uso de bebida alcoólica é estimulado na maioria dos países do mundo. No Brasil, a ausência de políticas publica reguladoras do consumo torna-o extremamente disponível, com fácil acesso e baixo custo. Soma-se a esses fatores o estimulo ao uso através da mídia, que associa o álcool às situações prazerosas, omitindo possíveis danos que possa causar à saúde. Essa facilidade de conseguir bebidas alcoólicas promove o encontro de um numero cada vez maior de pessoas, principalmente de adolescentes com a bebida” (SILVA, 2010, p. 32). Vale ressaltar, que a produção do álcool até o século XVIII era de forma artesanal, predominando a fabricação de bebidas fermentadas. Com a Revolução Industrial Inglesa11, essa produção passou a ser incrementada com a tecnologia, proporcionando produzir em grandes quantidades, ocasionando na diminuição do seu custo no mercado, passando a ser cada vez mais acessível aos consumidores, apreciadores e curiosos. “Além disso, desenvolveu-se o processo de destilação dos fermentados, técnica capaz de aumentar muito as concentrações alcoólicas” (SANTOS, 2010, p. 31). Assim como o cigarro, o álcool é um grave problema de saúde pública, relacionado a uma série de problemas psiquiátricos e doenças clínicas, além de ser co-responsável por grande parte dos acidentes e mortes violentas. O álcool atualmente causa praticamente tantos danos à saúde e mortes quanto o cigarro. Se somarmos a isso as conseqüências sociais relacionadas ao álcool, como problemas familiares e dias de ausência no trabalho é possível que o álcool seja um problema de saúde pública maior do que o cigarro. Estima-se que um terço da população mundial adulta, a qual corresponde a um bilhão de duzentos milhões de pessoas, sejam fumantes. “O tabaco é uma das principais causas evitáveis de mortes prematuras em todo mundo” (FERREIRA, 2010, p. 187). Segundo dados do OBID, A estimativa de dependentes de álcool foi de 11,2% e de tabaco 9,0%, o que corresponde a populações de 5.283.000 e 4.214.000 pessoas, respectivamente. 11 Teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção, em que buscou alternativas para melhorar a produção de mercadorias. 26 O álcool classifica-se como sendo uma substância depressora do sistema nervoso central. Já o tabaco, integra o grupo dos estimulantes do sistema nervoso central. As questões abordadas anteriormente propiciaram um maior entendimento das substâncias psicoativas. A ênfase foi dada as drogas com maiores problemáticas. No grupo das ilícitas, está o crack, a cocaína e a maconha. Já o grupo das licitas, é composto pelo álcool e o tabaco. Após esta compreensão, será abordado posteriormente o uso nocivo e a dependência de tais substâncias. 2.2 Uso e dependência de crack e outras drogas: da curiosidade à doença No contato com os usuários de SPAs nos últimos campos de estágio, segundo relatos de muitos dependentes de SPAs, seu relacionamento com as drogas, iniciou-se exatamente, no lugar onde supunha que estariam mais seguros, dentro de casa. A realidade vivenciada cotidianamente influencia a experimentação, principalmente se pensarmos a questão da “curiosidade”. O principal motivo que leva a experimentação do uso é à curiosidade. Em seguida, a influência de amigos que usam drogas, pois, na adolescência, o grupo é muito importante e, querendo ou não, fazem coisas semelhantes para se identificarem. Não há um limite preciso entre o uso, o abuso e a dependência de SPAs. O uso nocivo é “caracterizado por um padrão de consumo que causa um dano á saúde, que pode ser de natureza física ou mental” (MORAES, 2007, p.14). Segundo Bordin, “poderíamos definir o uso como qualquer consumo de substâncias, seja para experimentar, seja esporádico ou episódico; abuso ou uso nocivo como o consumo de substâncias já associado a algum tipo de prejuízo (biológico, psicológico, ou social); e, por fim, dependência como o consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário” (2010, p. 05). “Esse processo passa pelo uso experimental, uso de baixo risco, uso nocivo, dependência leve, dependência moderada e dependência grave” (SANTOS, 2007, p. 37), porém é muito difícil estabelecer no decorrer desse processo um ponto que determine a passagem de um para o outro. Sendo assim, nem todo o consumo de SPAs é devido à dependência. 27 Vale ressaltar, que a droga é um dos fatores que leva à dependência, pois segundo Fonseca existe uma tríade de fatores, composta pela droga, “o individuo e a sociedade, na qual droga e individuo se encontram” (2011, p. 26). A dependência de SPAs “deve ser entendida como uma doença de caráter biopsicossocial que se instala através de um processo que decorre ao longo de um continuum” uso de tais substâncias. (SILVA, 2010, p. 37) Sendo assim, as principais características da dependência são: “a perda de controle sobre o consumo de álcool ou drogas; a negação; o uso continuado, a despeito de conseqüências negativas; e um padrão de recaída” (BORDIN, 2010, p. 04). 2.2.1. A dependência de substâncias psicoativas: uma questão de doença Com o passar dos anos, o que era produzido e consumido apenas pela busca da abstração do real ou em forma de medicamentos, tornou-se uma dependência, o que Laranjeira (2010, p. 15) define como sendo “uma doença crônica e recidivamente do cérebro, na qual o uso continuado de substâncias psicoativas provoca mudanças na estrutura e no funcionamento desse órgão”. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) entende-se que a dependência química ou de SPAs é uma doença, ganhando ênfase nas abordagens de tratamento a partir dos anos de 1970. Bordin, “entende a dependência como um transtorno primário e independente de outras condições: uma herdada suscetibilidade biológica aos efeitos do álcool ou das drogas” (BORDIN, 2010, p. 03). Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento normal do individuo, que lhe seja prejudicial. No caso da dependência de SPAs, esta é uma doença progressiva e, sem o tratamento adequado tende a piorar cada vez mais. Portanto, a pode-se afirmar que a dependência química é a dependência de qualquer substância psicoativa, ou seja, qualquer droga que modifique o comportamento e que possa causar dependência. Em outras palavras, a dependência é uma síndrome caracterizada pela perda do controle do uso de determinada SPA. 28 2.3 Conseqüências do consumo de drogas “As substâncias psicoativas estão atualmente na „ordem do dia‟, e seu uso tem sido considerado em grande medida um „perigo‟ que ameaça a estrutura da sociedade” (SEIBEL, 2010, p. 03), sendo que é tida como o principal fator responsável pela crescente violência. “A cocaína, hoje, no Brasil, é um motivo de inquietação por duas razões: primeiro porque o consumo desta droga está disseminado em todas as camadas sociais e nas diferentes faixas etárias, isto é, universalizou-se; segundo porque o país tornou-se um grande corredor de exportação, concentrando no território pátrio a atenção internacional do crime organizado” (SANTOS, 1996, p. 34). “Os anos 80 marcaram o período epidêmico da cocaína, quadriplicando, logo no inicio da década, o número de usuários e aumentando na mesma proporção as ocorrências médicas, mortes por overdoses e por acidentes de trânsito, além de incrementar os índices da criminalidade, principalmente furto, roubo e prostituição” (SANTOS, 1996, p. 35). As alterações ocasionadas pelo uso ou dependência de crack e/ou outras drogas são por vezes reversíveis, apesar do processo de reparação ser prolongado e lento. Vale ressaltar que esse processo é natural e freqüentemente ameaçado por recaídas e retornos ao consumo das drogas. “É interessante notar que a mesma substância que pode ser utilizada com segurança por meio de um uso moderado é a mesma substância que acarreta inúmeros malefícios nas vidas familiar, social, profissional e na saúde de adultos, adolescentes e crianças. É inegável que o uso nocivo de bebidas alcoólicas atinge a todos independentemente de sexo, raça ou classe social” (FIGLIE, 2007, p. 02). Entendendo a dependência de SPAs como uma doença, tem-se que esta traz consigo uma conseqüência alarmante e por vezes irreversível: a família adoece juntamente com o adoecido. A família “adoecida” é o que muitos autores denominam codependentes. Para Sudbrack, “no interior dos sistemas adictivos percebe-se o quanto a codependência afetiva é um vinculo duradouro e estável no tempo”, entre duas ou mais pessoas. (SUDBRACK, 2010, 932) Atualmente, considera-se que a questão das drogas trata-se de um grave e complexo problema de ordem social, afetando de sobremaneira a saúde pública e 29 interferindo não só na vida de usuários e familiares, mas no cotidiano de toda a população. Com o passar dos anos, as SPAs infiltrou-se nos meios mais vulneráveis da sociedade, ocasionando o que hoje percebemos como uma epidemia do seu uso e que leva ao caos os serviços de saúde devido ao fato de ser um fenômeno relativamente novo e complexo. O abuso e dependência das drogas é um problema de saúde pública que afeta muitas pessoas e tem uma grande variedade de conseqüências sociais e na saúde dos indivíduos. Pesquisas científicas recentes têm demonstrado que as drogas não somente interferem no funcionamento cerebral normal, criando sensações de prazer, mas também tem efeitos a longo-prazo no metabolismo e na atividade cerebral, e num determinado momento, as mudanças que ocorrem no cérebro podem transformar o abuso em dependência. Sendo assim, as principais conseqüências do uso e/ou abuso de substâncias psicoativas são: agravamento de problemas físicos e psíquicos; coodependência; problemas financeiros e no trabalho; aumento da violência e criminalidade; evasão escolar e baixa escolaridade. 2.4 Dados específicos: Perfil dos usuários de substâncias psicoativas do município de Eusébio De acordo com a pesquisa de campo realizada no CAPS AD de Eusébio, no período de setembro a novembro de 2012, a qual foram analisados 400 prontuários de atendimentos, que no período de janeiro 2010 a junho de 2012 foram realizados pela ASSEPOD e, que a partir da implantação do CAPS AD em junho de 2012 passaram a ser realizados por esta instituição. Analisei os prontuários utilizando o formulário como instrumental de coleta de dados. Este levantamento teve como a finalidade traçar o perfil social e epidemiológico dos usuários de SPAs do município em questão. Esta pesquisa revelou o período de atendimento, idade dos usuários, sexo, primeira droga experimentada, idade que experimentou, motivos que influenciaram o uso, drogas de abuso e experimentadas, bairro que reside, nível de escolaridade e, dados relevantes ao tratamento. 30 ATENDIMENTOS REALIZADOS ASSEPOD E CAPS AD 166 41% 99 25% 2010 2011 2012 135 34% No ano de 2010 em que os atendimentos eram realizados pela ASSEPOD, foram atendidos 99 usuários. Já no ano seguinte, foram atendidos pela mesma instituição 135 usuários, acarretando um aumento de 9% se comparado ao ano anterior. Em 2012, em que os atendimentos até o mês de junho foram realizados pela ASSEPOD e, a partir desse mês foram realizados pelo CAPS AD, 166 atendimentos, ocasionando um aumento de 7% em comparação ao ano de 2011 e, 16% ao ano de 2010. 31 SEXO 64 16% SEXO MASCULINO SEXO FEMININO 336 84% Entre os atendimentos realizados por ambas as instituições, há um predomínio nos usuários do sexo masculino, que entre os 400 atendimentos, 336 eram do sexo masculino. O sexo feminino contabiliza apenas 64 atendimentos. Vale ressaltar que no serviço prestado por estas instituições, não nenhuma atividade focando o público feminino ou masculino, as oficinas e grupos são feitos com a integração dos dois sexos. 32 4 NÃO RESPONDEU/SEM RESPOSTA 8 OUTROS 20 SANTO ANTÔNIO 25 GUARIBAS 5 AMADOR 34 TAMATANDUBA 3 COITÉ 18 URUCUNEMA 12 AUTÓDROMO 25 LAGOINHA PARQUE HAVAÍ 66 23 CENTRO JABUTI BAIRRO 40 SANTA CLARA 2 PIRES FAÇANHA 1 17 NOVO PORTUGAL 0 MARINGÁ COAÇU 28 11 OLHO D'ÁGUA 19 TIMBÚ 5 ENCANTADA MANGABEIRA 26 7 PRECABURA 1 CARARÚ 0 10 20 30 40 50 60 70 33 No ranking dos bairros com os maiores índices de usuários de SPAs, está o Parque Havaí, liderando com 17%. Segue o Jabuti com 10% e Tamatanduba com 9%. Vale ressaltar que os bairros Centro, Lagoinha e Urucunema, juntos somam 17% e estes bairros localizam-se em extremidade com o bairro líder, o Parque Havaí. Já os bairros Precabura, Mangabeira, Encantada e Timbú que localizam-se em extremidades, juntos contabilizam 15%. O bairro Guaribas e Coaçu que fazem fronteira totalizam 13%. O os bairros que não foram citados, juntos totalizam 20%. IDADE 100 90 80 86 80 70 61 60 45 50 40 30 30 20 10 10 15 35 22 1 8 7 IDADE 0 A pesquisa revelou que entre os 400 usuários, 22% têm idade entre 31 e 40 anos de idade. Em seguida, a idade predominante está entre 25 e 30 anos, totalizando 20%. Os adolescentes entre 15 e 18 anos, contabilizam 9%. Já os pré – adolescentes e crianças, somam 2%. 34 PRIMEIRA DROGA EXPERIMENTADA Não respondeu/sem resposta 112 Outras 1 Inalantes/Solventes 5 Cocaína 3 Crack 1 PRIMEIRA DROGA EXPERIMENTADA Maconha 31 Tabaco 29 Álcool 217 0 50 100 150 200 250 Dentre a as drogas lícitas como o álcool e o tabaco e as drogas ilícitas como a maconha e o crack, a primeira droga experimentada de preferência dos usuários é o álcool, ultrapassando os 50%, contabilizando 217 ou 55% usuários. Em segundo lugar, há uma prevalência pela droga ilícita, a maconha, totalizando 8%. Não respondeu ou sem resposta, somam 28%. IDADE QUE EXPERIMENTOU 42 0 1 6 15 9 7 23 Não respondeu/Sem resposta Acima de 60 41 a 59 31 a 40 25 a 30 23 e 24 21 e 22 19 e 20 17 e 18 15 e 16 11 a 14 Até 10 anos IDADE QUE EXPERIMENTOU 61 92 119 25 0 50 100 150 35 Já com relação à idade de experimentação, têm-se predominância entre 11 e 14 anos de idade, ultrapassando 100 usuários, totalizando 30%. Isso revela que o inicio do uso de SPAs ocorre ainda na infância e pré-adolescência. Na adolescência, entre 15 e 16 anos de idade, 23% dos usuários iniciaram o uso. Neste tópico, têm-se a atenção voltada aos 6% ou 25 usuários que iniciaram o uso até os 10 anos, pois se faz necessário planejar e implantar políticas preventivas voltadas a este público vulnerável, para que cada vez mais crianças não iniciem o uso de SPAs na vida infantil. MOTIVOS QUE INFLUENCIARAM O USO 89; 22% Amigos Família 266; 67% 15; 4% Curiosidade 18; 4% Outros Não respondeu/Sem resposta 12; 3% A pesquisa revelou anteriormente a idade em que os usuários experimentaram qualquer SPA. Em seguida, têm-se os motivos que influenciaram esta experimentação. 22% dos usuários apontam a influência dos amigos como fator principal. Em segundo lugar, tem-se como fator a curiosidade, totalizando 18 usuários. 4% dos usuários atribuem a influência da família como motivadora no inicio do uso de SPA, pois muitas vezes os pais, irmãos e outros familiares são usuários. 18 usuários atribuem outros motivos na influência do uso. Vale ressaltar que o alto índice do tópico não respondeu/sem resposta, deve-se ao fato de que o tópico “motivos que influenciaram o uso” apenas compôs ao prontuário de atendimento no ano de 2012, onde o mesmo foi atualizado. 36 DROGAS DE ABUSO 1 0% 97 17% 1 10 0% 2% Álcool 114 20% Tabaco 48 8% Maconha Crack Cocaína 71 13% 227 40% Inalantes/Solventes Outras Não respondeu/Sem resposta Com relação à droga de abuso e/ou dependência, a pesquisa revelou que mais de 25% dos usuários de SPAs são usuários de duas ou mais substâncias. Liderando este ranking, está o crack, com 227 usuários, totalizando 40%. Em seguida, com 205 dos usuários, está o álcool. Com 17%, ocupando a terceira posição, está a cocaína. A maconha, o tabaco, inalantes/solventes e outras (“lolo”, aranha, rivotril, LSD) juntas somam 21%. DROGAS EXPERIMENTADAS 7 Não respondeu/sem resposta 37 71 Outras Inalantes/Solventes Cocaína 214 260 236 Crack Maconha DROGAS EXPERIMENTADAS 145 Tabaco Álcool 276 0 100 200 300 37 No topo das drogas experimentadas permanece a droga licita: o álcool. Esta lidera com 22%. Já a droga ilícita, o crack ocupa a segunda posição, contabilizando 21%. Segue na terceira posição, a maconha com 19%. Na ordem, segue a cocaína (17%), o tabaco (12%) e os inalantes/solventes (6%). Vale ressaltar que a pesquisa revelou que mais de 25% dos usuários já experimentaram mais de uma SPA. ESCOLARIDADE 225 250 200 150 100 50 0 20 70 20 35 3 1 26 ESCOLARIDADE ESCOLARIDADE Outro dado pertinente ao perfil dos usuários de SPA do município é a escolaridade. A pesquisa mostrou que mais da metade dos usuários não possui nem o ensino fundamental completo. Entre os 400 usuários, 225 têm como escolaridade o ensino fundamental incompleto, o que contabiliza 56%. Logo em seguida, ocupando o segundo lugar, está o ensino médio incompleto, totalizando 17%. Não alfabetizado, contabiliza 5%. Sendo assim, conclui-se que há uma predominância entre os usuários de SPAs como sendo de baixa escolaridade. 38 REALIZOU TRATAMENTO EM COMUNIDADE TERAPÊUTICA 215 210 205 200 195 190 185 180 175 211 189 REALIZOU TRATAMENTO REALIZOU TRATAMENTO EM COMUNIDADE TERAPÊUTICA NÃO REALIZOU TRATAMENTO Entre os prontuários analisados, 47% dos usuários já realizaram tratamento em comunidade terapêutica, ou seja, 189 usuários. O restante dos usuários, que somam 53%, não realizou tratamento. QUANTIDADE DE INTERNAÇÕES 140 120 100 80 60 40 20 0 123 42 23 QUANTIDADE DE… QUANTIDADE DE INTERNAÇÕES 39 Em relação à quantidade de internamentos em CT, 66% dos 189 usuários que realizaram o tratamento, estiveram internados apenas uma vez. Dos 189 usuários, 22% realizaram duas internações e, 12% realizaram três ou mais internações. CONCLUIU TRATAMENTO 100 100 80 60 40 20 0 25 21 CONCLUIU TRATAMENTO CONCLUIU TRATAMENTO Por fim, têm-se dados pertinentes a conclusão ou realização do tratamento. Dos 189 usuários que realizaram tratamento em CT, 100 (69%) não concluíram. Já 25 (17%) concluíram o tratamento e, 21 (14%) estão em tratamento, ou seja, internos em comunidades terapêuticas. Com a realização da pesquisa de campo quantitativa, revela-se o perfil social e epidemiológico dos usuários de SPAs no município. Conclui-se o perfil: maior procura pelo atendimento no ano de 2012; público alvo predominante do sexo masculino; Parque Havaí lidera como o bairro com maior incidência de usuários; a idade média está entre 31 e 40 anos; o álcool foi a primeira droga experimentada; a idade que experimentou está entre 11 a 14 anos; a influência dos amigos é tida como fator motivador na experimentação de SPA; o crack é a droga de abuso de preferência; o álcool lidera o tópico de drogas experimentadas; o ensino fundamental incompleto é o nível escolar de mais da metade dos usuários; 189 usuários já estiveram interno em CT e, 17% concluíram o tratamento. 40 CAPÍTULO II 3. AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS As políticas públicas relacionados ao trato da questão das drogas visam diminuir os problemas que as SPAs trazem ou ao menos amenizar seus efeitos sobre a saúde e segurança pública. (ROMANO, 2010) No que concerne à política pública em âmbito nacional, até o ano de 1998 não havia no Brasil uma política especifica relacionada à temática. Somente no ano de 2002 frente à pressão popular nacional e internacional mediante o agravamento da situação foi desenvolvida a Política Nacional Antidrogas sendo que, somente em 2005 é aprovada a Política Nacional Sobre Drogas e criado o Conselho Nacional Antidrogas – CONAD, extinto Conselho Federal de Entorpecentes – COFEN. No mesmo período, foi criada a extinta Secretaria Nacional Antidrogas – SENAD, que atualmente é a Secretaria Nacional Sobre Drogas – SENAD, diretamente vinculada à, então, Casa Militar da Presidência da República, tendo como missão, coordenar a Política Nacional Sobre Drogas, por meio da articulação e integração entre governo e sociedade. No decorrer dos anos de existência da extinta Política Nacional Antidrogas, a temática “drogas” esteve em pauta juntamente com a necessidade de um aprofundamento no assunto. Em seguida, houve uma reavaliação e atualização dos fundamentos da PNAD, levando em consideração as profundas transformações políticas, sociais e econômicas vivenciadas na época pelo país. Porém, somente no ano de 2004 foi realizado o processo de realinhamento e atualização desta política. Esse processo ocorreu através da realização de um Seminário Internacional de Políticas Públicas sobre Drogas, seis fóruns regionais e um Fórum Nacional sobre Drogas. Vale ressaltar, que todo esse empenho resultou em enormes e fundamentais conquistas, refletindo as mudanças históricas na abordagem relacionada à questão. Outros avanços históricos relacionados ao trato da questão são: RESOLUÇÃO N° 3/GSIPR/CH/CONAD, de 27 de Outubro de 2005, em que aprova a Política Nacional Sobre Drogas; LEI N° 11.343, de 23 de Agosto de 2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas – SISNAD, em que prescreve 41 medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social 12 de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências; DECRETO N° 6.117, de 22 de Maio de 2007, em que é aprovado a Política Nacional sobre o Álcool, dispondo sobre medidas para redução do uso indevido de álcool e sua associação com a violência e criminalidade; DECRETO Nº 7.179, de 20 de Maio de 2010, que institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas; PORTARIA N° 3.088, de 23 de Dezembro de 2011, que institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde; Cria o Programa “Crack, é possível vencer”, em dezembro de 2011; e recentemente, a PORTARIA N° 148, de 31 de Janeiro de 2012, que define as normas de funcionamento e habilitação do Serviço Hospitalar de Referência para a atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidade de saúde decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas, do Componente Hospitalar de Rede de Atenção Psicossocial, e institui incentivos financeiros de investimentos e de custeio. Dentre os avanços legais supracitados no trato da questão das drogas, focalizarei no DECRETO Nº 7.179, na PORTARIA N° 3.088 e no Programa “Crack, é possível vencer”, tendo em vista que estes possibilitem subsídios para a compreensão e análise da rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas no âmbito da política de saúde e assistência social. No DECRETO Nº 7.179, de 20 de Maio de 2010, que institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, cria o seu Comitê Gestor, e dá outras providências, ficam instituído medidas com vistas à prevenção, tratamento, reinserção social de usuários e ao enfrentamento do tráfico de crack e outras drogas ilícitas. São objetivos do plano, entre outros, “I – estruturar, integrar, articular e ampliar as ações voltadas à prevenção do uso, tratamento e reinserção social de usuários de crack e outras drogas, contemplando a participação dos familiares e a atenção aos públicos vulneráveis, entre outros, crianças, adolescentes e população em situação de rua; II – estruturar, ampliar e fortalecer as redes de atenção à saúde e de 12 A reinserção social é um processo que procede ao tratamento, caracterizado como um retorno ao meio social e familiar. Trata-se do reinicio das relações no âmbito da família, do trabalho e da sociedade. 42 assistência social para usuários de crack e outras drogas, por meio da articulação das ações do Sistema único de Saúde – SUS com as ações do Sistema único de Assistência Social – SUAS;” (DECRETO N° 7.179, de 20 de maio de 2010). Uma das ações estruturantes desse plano é a ampliação da rede de atenção à saúde e assistência social para o tratamento e reinserção social de usuários de crack e outras drogas. Vale ressaltar que este decreto foi fruto da articulação entre vários órgãos governamentais. A PORTARIA N° 3.088, de 23 de Dezembro de 2011, institui a rede de atenção psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS, tendo como principais diretrizes: respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas; promoção da equidade; combate a estigmas e preconceitos; atenção humanizada; e, organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado. Já os objetivos dessa portaria, destaco um dos objetivos específicos, sendo este o de “promover a reabilitação e a reinserção social das pessoas com transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas na sociedade, por meio do acesso ao trabalho, renda e moradia solidária” (BRASIL. Ministério da Saúde, 2011). O Art. 7° da referida portaria, dispõe sobre o componente de reabilitação psicossocial, composto por iniciativas de geração de trabalho e renda, entre outras. Segue em seu parágrafo único: “As ações de caráter intersetorial destinadas à reabilitação psicossocial, por meio da inclusão produtiva, formação e qualificação para o trabalho de pessoas com transtorno mental ou com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas em iniciativas de geração de trabalho e renda/empreendimentos solidários/ cooperativas sociais. Tais iniciativas devem articular sistematicamente as redes de saúde e de economia solidária com os recursos disponíveis no território para garantir a melhoria das condições concretas da vida, ampliação da autonomia, contratualidade e inclusão de usuários da rede e seus familiares” (BRASIL. Ministério da Saúde, 2011). Sendo assim, para a promoção da reabilitação psicossocial destes usuários, é necessária a integração das políticas de saúde e assistência social, tendo em vista, que esta ultima, presta serviços de proteção básica que inclui serviço de proteção e atendimento integral á família (PAIF), realizando ações de inclusão social e produtiva, formação e qualificação para o trabalho. 43 Já o Programa “Crack, é possível vencer”, propõe ações relacionadas à prevenção, que inclui a educação, informação e capacitação; ao cuidado, que inclui o aumento da oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários e; a autoridade, incluindo ações de enfrentamento ao tráfico de drogas e às organizações criminosas. Este programa foi construído para o quadriênio 2011 – 2014. Este programa propõe a rede de atendimento ao usuário e à família, incluindo a integração das políticas saúde e assistência social, visando à integralidade na atenção. Na ilustração a seguir, têm-se a composição da Rede de atendimento ao usuário e à família proposto pelo programa. (PROGRAMA “CRACK É POSSIVEL VENCER”, 2001, p. 17). No que concerne especificamente à realidade do município de Eusébio temos que, no ano de 2009, por meio da lei 824 de 01 de junho que cria a Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas. Esta instituição tem como função: 44 assessorar, coordenar, e articular as ações de prevenção do uso indevido de drogas, à atenção e a reinserção social de usuários de crack e outras drogas. Esta assessoria é vinculada administrativa e financeira ao Gabinete do Prefeito, conforme art. 8º da referida Lei (EUSÉBIO, 2009). Logo após, alinhado a política nacional sobre drogas, o município cria o conselho municipal de políticas sobre drogas – COMAD, pela lei 832 de 02 de julho de 2009 com o intuito de integrar ações conjuntas e articuladas com todos os órgãos de níveis federal, estadual e municipal que compõem o Sistema Nacional Antidrogas. Em seguida, o município institui o Fundo Municipal de Política Sobre Drogas a partir da Lei 835 de 01 de julho de 2009 que tem por objetivo captar e aplicar recursos com a finalidade de proporcionar programas e atividades de prevenção da disseminação do tráfico e uso indevido e abuso de drogas. Já por meio da Lei 993 de 13 de abril de 2011 temos a instituição do Programa Municipal de Reinserção Social com o intuito de promover a Reinserção Social de dependentes químicos em processo de reabilitação, incentivando-os a reabilitação social, por meio da prestação de serviços nos equipamentos da rede municipal (EUSÉBIO, 2011). Por fim, temos o Projeto de indicação n° 003/2011 de 17 de junho de 2011 que propõe a inserção no currículo escolar da rede municipal de ensino a disciplina “Prevenção às Drogas”. 3.1 A rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio especificamente a rede de saúde e assistência social O Sistema Único de Saúde – SUS, criado pela Constituição Federal de 1988, tem como sustentáculo o pacto federativo brasileiro fundado na integração entre a União, Estados e Municípios. O SUS é, provavelmente, a política pública de Estado mais inclusiva após a revolução de 1964. Tendo como princípios a universalidade, a equidade, a integralidade e a participação da comunidade o SUS é orientado por diretrizes de descentralização e regionalização, que devem estar consonantes com as necessidades locais. Se a base do SUS é local o planejamento deve ser ascendente, portanto deve abarcar todos os problemas de saúde que afetam o tecido social. Nesse contexto, considerando acrescente expansão do consumo de álcool e outras drogas, é imperativa a construção de uma rede de serviços que 45 permita acolher, cuidar e tratar as pessoas que necessitam de atenção. Em face a elevada prevalência do consumo de drogas não dá mais para condicionar a implantação de serviços a grandes município e/ou regiões, pois o problema afeta gravemente todos os municípios, independente do porte. A agenda da saúde mental para os usuários de álcool e outras drogas inicia-se no ano de 1986, em que há um marco histórico na saúde mental brasileira. Nesse ano é realizado a I Conferência Nacional de Saúde Mental, para afirmar a garantia de direitos dos que sofrem com o transtorno mental. Porém, no relatório final, não há nenhuma proposta específica para o tratamento de usuários de álcool e outras drogas. É proposto somente que se retire da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) o alcoolismo como motivo de demissão, junto com qualquer outra dependência. Em 1992, com a realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, é proposto que no trato da questão do álcool e outras drogas fosse mudado o foco punitivo para os usuários, incentivando os cuidados em centros de tratamento especializados e, que a lei coercitiva agisse em combate dos produtores e traficantes de drogas. Na oportunidade, é sugerido que tenha um debate com os profissionais de comunicação sobre a questão de drogas para que se possa fazer uma diminuição do impacto que causam as notícias com o caráter nocivo sobre o tema. Porém, mesmo com a proposta de cuidados em centros de tratamento especializado, a idéia de tratamento ainda não é observada na perspectiva da saúde mental. Contudo, é a partir desta Conferência que há a indicação de que a internação de alcoolistas não se dê mais nos hospitais psiquiátricos, mas, quando necessário, em hospital geral, centros especializados em alcoolismo e propõe como alternativa, o tratamento em grupos de auto-ajuda, que visam à abstinência total do usuário. Porém, somente na III Conferência Nacional de Saúde Mental, ocorrida em 2001, foi ressaltada a necessidade de aprofundar diversas temáticas, como as pessoas com abuso ou dependência de substâncias psicoativas, mostrando assim, a preocupação em aprofundar o debate sobre a temática do álcool e outras drogas no campo da saúde mental. Nesta conferência foi indicado a revisão da lei de criminalização dos usuários de álcool e outras drogas, buscando a superação do modelo repressivo e afirmando a necessidade da implementação de uma rede de 46 serviços que pudessem assistir os usuários que faziam o uso abusivo de drogas, garantindo assim o direito de terem acesso a saúde pública. Até meados da década de 1980 a assistência pública destinada aos usuários de álcool e outras drogas era realizada quase exclusivamente nos hospitais psiquiátricos. Em virtude da escassez de incentivos e ações públicos para área por parte do Estado, fez com que surgissem como resposta, iniciativas privadas e voluntárias, como serviços de comunidades terapêuticas e grupos de mútua ajuda, que apesar da relevância dessas instituições, não descartadas até hoje, a necessidade de ações públicas persistia. Contudo, somente em 2003, que o Ministério da Saúde estabeleceu uma nova política para área, destinando para os usuários com problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas, através da criação do Centro de Atenção Psicossocial de álcool e outras drogas (CAPS AD), por meio da Portaria GM/MS nº 816, de 30 de abril de 2002, em que era reconhecida a necessidade de ampliar a assistência ao usuário de SPAs, visando à sua (re) inserção social. A partir desse contexto, inicia-se a construção de uma rede de serviços externos aos hospitais para a atenção à saúde mental e aos indivíduos que fazem o consumo de SPA. Essa rede tem os CAPS AD como elemento primordial e articulador, porém inclui outros dispositivos da rede básica como as Estratégias de Saúde da Família, CAPS gerais, emergências, hospitais psiquiátricos e gerais. As pessoas com problemas relacionados ao uso SPA podem receber atendimento em qualquer serviço da rede, ficando o atendimento nos CAPS ad destinado aos casos graves ou que necessitam de uma maior atenção. Vale ressaltar que, com a criação dos CAPS AD não significa a desresponsabilização das demais instituições que compõem a rede de saúde. É necessário apenas, que haja uma capacitação sobre a temática, para que facilitem o atendimento e o manejo na prestação de serviços a estes usuários e, uma desmistificação do medo que permeia os profissionais em relação aos usuários de SPAs. O município de Eusébio tem na Estratégia de Saúde da Família o eixo estratégico de organização do sistema local de Saúde. A partir da atenção básica o município vem implantando uma rede de serviços especializados de média complexidade para atender os sujeitos e famílias de forma integral. 47 O município de Eusébio tem uma população de 46.033 (IBGE 2010), constituindo-se da Microrregião de Saúde 1 – Fortaleza. Com a edição da NOAS 2002 o município foi enquadrado na condição de sede de módulo assistencial e está habilitado no PACTO PELA SAÚDE 2006. O Sistema Único de Saúde – SUS do município é composto por dezesseis Estratégias de Saúde da Família, que prestam serviços de atenção primária, buscando a promoção de saúde; dois Núcleos de Apoio a Saúde na Família – NASF que realizam serviços especializados de suporte à atenção primária; dois Centros de Atendimento Psicossocial – CAPS sendo um Geral e um Álcool e Drogas, sendo que o primeiro desenvolve atividades preventivas por meio de palestras nas escolas e empresas, projetos de ocupação e geração de renda, através da horta, oficinas de reciclagem e participação de feiras de artesanato promovida pela Secretaria de Cultura do município. Já o segundo, realiza serviços acolhimento e atendimento social, atendimento psiquiátrico e clinica médica, grupo de redução de danos, motivacional, arte terapia e grupo tabagismo, tratamento ambulatorial, semi-intensivo e intensivo; uma Policlínica que presta serviços de atendimento médico especializado, incluindo os serviços de diagnósticos e de tratamento ambulatorial, sem a necessidade de internamento; e, por fim, um núcleo hospitalar de atendimento secundário que realiza serviços de assistência integral ao cuidado dos pacientes em todos os níveis de atuação, pronto atendimento, assistência materno-fetal, acompanhamento nos internamentos clínico e pediátrico. Contudo, persiste o desafio para a assistência em saúde mental, principalmente na área de saúde mental decorrentes do uso/abuso de crack e outras drogas, pois, mesmo com as mudanças efetivas no cenário da atenção, é necessária a ampliação dos direitos dos sujeitos que sofrem com transtornos mentais, sendo que, para isso é necessária a articulação das diferentes políticas sociais. No ano de 2010, foi realizada a IV Conferência de Saúde MentalIntersetorial, que focalizou em estratégias para convocar os outros setores para a ampliação da rede. A proposta de intersetorialidade foi ampliar as discussões da Saúde Mental para além das fronteiras até então estabelecidas, agregar parceiros diversos na luta pelo direito à saúde e à atenção integral do usuário. O tema “Saúde Mental, direito e compromisso de todos: consolidar avanços e enfrentar desafios” traz esse convite para mobilizar os diferentes atores para criar alternativas para 48 modificar esse ainda precário cenário. No campo dos usuários de crack e outras drogas, a IV Conferência tem como objetivo avaliar a implementação da Política do Ministério Saúde destinada aos usuários de drogas e analisar os desafios e implicações da assistência a esse público. Para a atenção integral aos usuários de SPAs na área da saúde e assistência social, devem-se focalizar ações voltadas para a integração de ambas as políticas, pressupondo o caráter intersetorial e assim requerendo uma assistência integral que não reduza a atenção apenas ao sistema de saúde. Sendo assim, “Torna-se imperativa a necessidade de estruturação e fortalecimento de uma rede de assistência centrada na atenção comunitária associada à rede de serviços de saúde e sociais, que tenha ênfase na reabilitação e reinserção social dos seus usuários, sempre considerando que a oferta de cuidados a pessoas que apresentem problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas deve ser baseada em dispositivos extra-hospitalares de atenção psicossocial especializada, devidamente articulados à rede assistencial em saúde mental e ao restante da rede de saúde. Tais dispositivos devem fazer uso deliberado e eficaz dos conceitos de território e rede, bem como da lógica ampliada de redução de danos, realizando uma procura ativa e sistemática das necessidades a serem atendidas, de forma integrada ao meio cultural e à comunidade em que estão inseridos, e de acordo com os princípios da Reforma Psiquiátrica” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p. 06). Para a promoção desta intersetorialidade e integralidade na assistência destinada aos usuários de crack e outras drogas, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) do município de Eusébio conta com; três Centros de Referência de Assistência Social - CRAS, sendo que a estes equipamentos estão ligados sete Centros de Convivência de Idosos, quatro Pólos de Atendimento e diversos coletivos do Projovem. Os serviços ofertados por estes equipamentos estão diretamente ligados ao fortalecimento de vínculos familiares e a garantir o acesso dos usuários às outras políticas públicas, bem como a concessão de benefícios socioassitenciais; um Centro de Referência Especializado em Assistência Social – CREAS que tem como área de abrangência todo o território municipal. Suas principais atividades são: Atendimento psicossocial às famílias em situação de violência; Atendimento aos adolescentes em conflito com a Lei; Acompanhamento das famílias- em grupo e individual- PAEFI; Orientações sócio-jurídicas; Busca ativa de casos por meio de visitas domiciliares e institucionais; e atendimento às demandas do Judiciário. A Assistência Social é política pública componente da Seguridade Social prevista pela Constituição Federal de 1988 (art. 194, 203 e 204) e regulamentada 49 pela Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS (Lei nº 8.742, de 1993), que é alterada no ano de 2005 e 2011. Para a operacionalização desta política, encontram-se mecanismos definidos na Política Nacional de Assistência Social – PNAS (BRASIL, 2005). Esta política publica voltada à garantia de direitos sociais e de cidadania, operando serviços, programas, projetos e benefícios, que deve-se realizar de forma integrada às demais políticas públicas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e acesso aos direitos sociais. Nos últimos anos com a intensificação e expansão do consumo de drogas no Brasil e as novas configurações das SPAs no país e no mundo, como o uso do crack, que vem sendo denunciado pela mídia junto com a sua devastação na população, principalmente em situação de rua, e assim mostrando ser uma expressão da questão social cada vez mais presente e agudizante na realidade dos municípios. Tal fato que apesar de manifestar-se em todas as classes sociais, no entanto, as camadas populares sofrem mais com esse consumo o que, conseqüentemente, aumenta a vulnerabilidade desta população e a expõem a outras situações de risco social. Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009), a assistência social se divide em três níveis de serviços: serviços de proteção social básica, que presta serviços de proteção e atendimento integral à família (PAIF), serviço de convivência e fortalecimento de vínculos e, serviço de proteção social básica no domicilio para pessoas com deficiência e idosas; serviços de proteção especial de média complexidade, que contempla serviço de proteção e atendimento especializado à família (PAEF), serviço especializado em abordagem social, serviço de proteção social a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida (LA) e de prestação de serviços à comunidade (PSC), serviço de proteção social especial para pessoas com deficiência, idosas e suas famílias, serviço especializado para pessoas em situação de rua; e, serviços de proteção especial de alta complexidade, que presta serviço de acolhimento institucional e em república, serviço de acolhimento em família acolhedora, e serviço de proteção em situações de calamidades públicas e de emergências. 50 Os serviços de proteção social básica são ofertados exclusivamente pelo Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, sendo este, “uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência social” (BRASIL, 2009, p.09), caracterizando-se como a principal porta de entrada do SUAS. Esta por vez tem por objetivo atuar na prevenção de ocorrência de situação de vulnerabilidades e risco social no seu território de abrangência, promovendo e ofertando serviços que contribua no desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, ampliando o acesso aos direitos de cidadania. Dentre outras funções, o CRAS tem como função a gestão territorial, que compreende “a articulação da rede socioassistencial de proteção social básica referenciada ao CRAS; a promoção da articulação intersetorial e a busca ativa, todas realizadas no território de abrangência dos CRAS” (BRASIL, 2009, p. 19). A articulação caracteriza-se como sendo um processo pelo qual se cria e manténs interligados as diferentes organizações, seja pública ou de iniciativa privada. A ilustração a seguir, mostra a articulação da rede de proteção social básica referenciada a um CRAS. Centro de Juventude Entidade Comunitária Entidade Filantrópica CRAS Centro de Convivência de Crianças e Adolescentes Centro de Convivência de Idosos Centro de Geração de Renda 51 Contudo, a articulação da rede socioassistencial de proteção social básica, requer uma ligação do CRAS a um Centro de Referência de Assistência Social – CREAS, buscando a promoção da referência e contrarreferência do CRAS, fortalecendo assim, o SUAS. Porém, “para o exercício da referência e contrarrferência, é necessário que o gestor municipal defina os fluxos e procedimentos de encaminhamentos entre a proteção básica e a especial” (BRASIL, 2009, p. 25), ficando a cargo do coordenador do CRAS a garantia da funcionalidade desse fluxo. CRAS CREAS Segundo o manual de orientações técnicas do CRAS (2009), que dispõe orientações de referência, “a função de referência se materializa quando a equipe processa, no âmbito do SUAS, as demandas oriundas das situações de vulnerabilidade e risco social detectadas no território, de forma a garantir ao usuário o acesso à renda, serviços, programas e projetos, conforme a complexidade da demanda. O acesso pode se dar pela inserção do usuário em serviço ofertado no CRAS ou na rede socioassistencial a ele referenciada, ou por meio do encaminhamento do usuário ao CREAS” (p. 10). CRAS CREAS 52 Com relação à contrarreferência, esta se materializa quando a “equipe do CRAS recebe encaminhamento do nível de maior complexidade (proteção social especial) e garante a proteção básica” (BRASIL, 2009, p. 10), buscando inserir o sujeito em algum serviço, programa, beneficio e/ou projeto de proteção básica. Os serviços de proteção social especial de média e alta complexidade são ofertados pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS. Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, (BRASIL, 2009), os serviços ofertados pelo CREAS se diferenciam pela sua complexidade, e diferenciam-se dos serviços de proteção social básica pela questão da violação dos direitos, que se expressam principalmente, através do rompimento dos vínculos familiares e comunitários, enquanto no CRAS os atendimentos são destinados aos usuários que estão com os vínculos familiares e comunitários fragilizados. Sendo assim, o CREAS caracteriza-se por ser uma unidade pública e estatal, de abrangência municipal ou regional que tem como papel constituir-se em lócus de referência, nos territórios, ofertando serviços especializados e continuados às famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos. As competências do CREAS, portanto, compreendem: ofertar e referenciar serviços especializados de caráter continuado para famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos, conforme dispõe a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009) e; a gestão dos processos de trabalho na Unidade, incluindo a coordenação técnica e administrativa, da equipe, o planejamento, monitoramento e avaliação das ações, a organização e execução direta do trabalho social no âmbito dos serviços ofertados, o relacionamento cotidiano com a rede e o registro de informações, sem prejuízo das competências do órgão gestor de assistência social em relação à Unidade. As principais ações e atividades que constituem o trabalho social essencial ao serviço, e que devem ser realizadas pelos profissionais do CREAS são: Acolhida; escuta; estudo social; diagnóstico socioeconômico; orientação e encaminhamentos para a rede de serviços locais; orientação sócio-familiar; atendimento psicossocial; orientação jurídico-social; referência e contra-referência; informação, comunicação e defesa de direitos; apoio à família na sua função protetiva; articulação da rede de serviços socioassistenciais; articulação com os serviços de outras políticas públicas setoriais; trabalho interdisciplinar; 53 cadastramento das organizações e dos serviços socioassistenciais; mobilização e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio; dentre outros. Vale ressaltar que as normativas do SUAS fundamentam-se, dentre outras, as seguintes: Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, 1993; Política Nacional de Assistência Social – PNAS, 2004; Norma Operacional Básica – NOB/SUAS, 2005; Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social – NOB-RH/SUAS, 2006; Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), 2009; Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, 2009 e ; Portaria nº 843, de 28 de dezembro de 2010. Portanto, o SUAS através dos seus serviços ofertados, possibilita às famílias e sujeitos, o direito à convivência familiar e comunitária, (re) inserção social, inclusão produtiva e, principalmente, o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. 3.2 Uma construção de rede local de atenção integral ao usuário de crack e outras drogas: a política de saúde e assistência social na promoção do tratamento e reinserção social A constituição dos Centros de Atenção Psicossocial insere-se nas políticas públicas atuais em saúde mental que privilegiam a transição do modelo atual, designado como “hospitalocêntrico”, para um novo modelo dirigido para a assistência a partir de cuidados em âmbito extra-hospitalar e redução do número de leitos nos hospitais psiquiátricos. Vale ressaltar, que os CAPS são os instrumentos centrais na proposta de reforma da assistência psiquiátrica no Brasil. A sua regulamentação foi realizada a partir da Portaria 336/GM de 10 de fevereiro de 2002 que dispõe sobre o papel estratégico dos CAPS na nova organização, além de definir tipos diversos de CAPS. Foram assim regulamentados os CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS ad II e CAPS i II, sendo que a lógica da divisão reside na alocação de níveis de complexidade de acordo com o tamanho da população dos municípios assistidos e as modalidades de atendimento geral, especializado em álcool e drogas ou especializado em cuidados à crianças ou adolescentes (PORTARIA, 336/GM, 2002). 54 Os CAPS II AD, objeto de estudo desta pesquisa e foco na assistência ao tratamento dos usuários de crack e outras drogas, são entendidos como parte fundamental de uma rede assistencial que inclui ainda serviços ambulatoriais e leitos psiquiátricos em hospitais gerais. A designação dos CAPS II AD realiza-se em congruência com a percepção da necessidade da especificação dos cuidados em saúde mental às particularidades da população de pacientes portadores de transtornos relacionados ao uso de substâncias. As modalidades de tratamento desenvolvidas pelo CAPS AD de Eusébio realizam-se da seguinte maneira: atendimento individual, que inclui assistência psiquiátrica, psicológica, assistência clínica e social e, é indicada para usuários que necessitam de uma escuta instrumentalizada e individual. Em seguida, tem-se o atendimento em grupos, que inclui a psicoterapia em grupo, grupos terapêuticos e oficinas terapêuticas. Existem casos específicos de usuários de crack e outras drogas da demanda do CAPS AD, em que há a necessidade de internação para a realização do tratamento, que pode vim a ser no Hospital Mental de Messejana para a desintoxicação, ou em comunidade terapêutica. Vale ressaltar, que o plano de tratamento é realizado pela psiquiatria. Após a conclusão do tratamento na CT, que varia entre seis a nove meses, dependendo do projeto terapêutico de cada instituição, inicia-se o processo de reinserção social. Em decorrência, ao término do tratamento, que geralmente tem duração entre seis a nove meses, o sujeito em processo de reabilitação, se vê mediante a outro desafio: o retorno ao meio familiar e social. Trata-se do reinicio das relações no âmbito da família, das atividades laborais, da escola, o que é decisivo para o seu retorno ou não ao uso de SPAs. Isso dependerá de como essa reinserção é trabalhada, enfrentada e assumida por todos os atores envolvidos neste processo. Neste sentido, o processo de reinserção social do egresso dos usuários encaminhados pelo CAPS AD as comunidades terapêuticas, enfatizou ao estudo sobre o processo de tratamento e reinserção social no âmbito das políticas de saúde e assistência social. No que concerne a política municipal relacionado ao processo de reinserção social, têm-se a Lei n° 993/2011, que dispõe sobre a criação do 55 Programa Municipal Bolsa de Reinserção Social, com o intuído de promover reinserção social de dependentes químicos. Em seu art. 1°, fica instituído: “no âmbito do município de Eusébio, o Programa Municipal Bolsa de Reinserção Social, com o intuído de promover reinserção social de dependentes químicos, mediante a concessão de 10 (dez) bolsas no valor de R$ 465,00 (quatrocentos e sessenta e cinco reais) cada, a titulo de incentivo de reabilitação, em contrapartida o bolsista deverá prestar serviço em um dos órgãos componentes do Poder Executivo Municipal, conforme a conveniência e oportunidade da Administração Pública” (EUSÉBIO, 2011). Sendo assim, em contrapartida para o desenvolvimento do processo de reinserção social, tem-se a instituição desse programa, que será desenvolvido e acompanhado pela Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas (Eusébio, 2011). A assessoria na promoção da intersetorialidade, com vistas na integralidade no tratamento e reinserção social dos usuários de crack e outras drogas, realizou articulação com o SUAS para a realização de prestação de serviços em conjunto. Para o acompanhamento dos usuários do programa da bolsa de reinserção social, é realizada uma terapia de grupo, denominado “Grupo de Reinserção Social”, promovido por esta assessoria e realizado em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social. 3.3 Juntando as pontas na ponta: a importância da integração das políticas de saúde e assistência social no trato da questão Com vistas no processo de tratamento e reinserção social, focalizei nas políticas de saúde e assistência social, mas também relevando a importância das demais políticas na promoção destes processos. Tendo como norte o Decreto n° 7.179, em que este dispõe em seu Art. 1°, §1°, em que as ações deverão ser executadas de forma descentralizada e integrada, por meio da conjugação de esforços entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, observadas a intersetorialidade, a interdisciplinaridade, a integralidade, a participação da sociedade civil e o controle social, tem-se a proposta de integralidade das políticas públicas com vistas na atenção integral aos sujeitos. Segue em seu § 2° os fundamentos das ações deste plano, sendo estes: a integração e a articulação permanente entre as políticas e ações de saúde, 56 assistência social, segurança pública, educação, desporto, cultura, direitos humanos, juventude, entre outras, observando os pressupostos, diretrizes e objetivos da Política Nacional sobre Drogas – PNAS. Na busca pela promoção efetivação dos processos de tratamento e reinserção social de usuários de crack e outras drogas, é de suma importância a integração de ambas as políticas, pois a questão da dependência química é indissociável da questão do social, uma vez que estes usuários vivenciam questões de vulnerabilidade e/ou risco social, perpassando a questão de saúde/doença. Sendo assim, entende-se a suma importância dessa integração na promoção da atenção integral ao usuário, com vistas na efetivação do processo de reabilitação, pois a política de saúde por si só não contempla as demandas dos usuários de SPAs, nem tampouco, somente a política de assistência social, ambas atuando em sua especificidade e articulando-as promovendo uma integração dessas políticas, aumentam as possibilidades de efetivação do processo supracitado. 57 CAPÍTULO III 4. O PAPEL DA ASSESSORIA ESPECIAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS: dialogando a intersetorialidade Para realizar a analise da integração das políticas de saúde e assistência social, a partir da articulação realizada pela Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas e analisar a construção da Rede de Atenção Psicossocial ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio, observando as dificuldades e as implicações na constituição de uma rede de fato e os desafios na articulação entre os setores das políticas públicas para pactuar a integralidade na assistência destinada aos dependentes de substâncias psicoativas, foi realizada entrevista semiestruturada em dezembro de 2012, com a assessora de políticas sobre droga de Eusébio. Esta entrevistada foi escolhida devido à observação ao longo do período de estágio II e II, em que foi observado a atuação, conhecimento e experiência da mesma na área da assistência aos usuários de crack e outras drogas, contribuindo diariamente na assistência a esses usuários, sendo estes subsídios importantes para o estudo. A entrevistada, (como supracitado) é a assessora especial de políticas sobre drogas, que por vez, é a presidenta do COMAD pelo segundo mandato e coordenadora do CAPS AD. Esta é graduada em Serviço Social pela Universidade do Ceará – UECE/2000; Pós graduada em Administração Pública pela Faculdade Ateneu e, Pós Graduanda em Dependência Química pela Faculdade Christus. Como já abordado no capítulo anterior, a Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas, é um instituição pública, municipal, que tem como função assessorar, coordenar e implementar as políticas públicas relacionadas no trato da questão, fortalecer e articular as ações de prevenção do uso indevido de drogas, à atenção e a reinserção social de usuários de crack e outras drogas. A intersetorialidade das políticas públicas passou a ser discutida e valorizada à proporção que observava-se a não eficiência, efetividade e a eficácia esperadas com a implementação das políticas setoriais. Sendo assim, a intersetorialidade passou a ser um dos requisitos para a implementação das políticas setoriais, com vistas na sua maior probabilidade de efetividade por meio da articulação entre instituições governamentais e a sociedade civil. Com a implantação 58 da intersetorialidade nas políticas públicas, possibilitou a articulação de saberes técnicos, pois os gestores das mais variadas políticas passaram a integrar agendas coletivas e compartilhar objetivos comuns. Nesta perspectiva, a intersetorialidade pode trazer ganhos para a população, mas ao mesmo tempo, abrem-se novos problemas e desafios relacionados à superação da fragmentação e à articulação das políticas públicas, sobretudo se considerarmos a cultura clientelista que ainda permeia na administração pública. Diante dessas perspectivas, trazemos para o campo de debate a discussão da articulação promovida pela ASSEPOD, entre as políticas de saúde e assistência social do município. Desde já, observa-se que há uma preocupação com a interdisciplinariedade quando se busca discutir a temática em questão, como verifica-se nos decretos, programas, projetos e ações relacionados ao trato da drogadição, a preocupação com a intersetorialidade. A intersetorialidade ou articulação entre as políticas públicas, na gestão pública significa adotar uma decisão racional no processo de gestão, cuja aplicação pode ser positiva ou não. Ela não pode ser considerada substitutiva da setorialidade, mas complementar, em outras palavras, deve-se realizar uma combinação entre política setorial com intersetorial, e não confrontá-las no processo de gestão (Sposati, 2006). Esta pode ser uma alternativa para a política pública, a fim de articular as políticas sociais e econômicas de forma a atuarem no mesmo território. Segundo Koga (2003), a intersetorialidade torna-se um aspecto facilitador e necessário ao processo de intervenção dos programas e projetos, em que as equipes técnicas são convidadas a dialogarem sobre as ações articuladoras com a perspectiva da integralidade na atenção destinada aos usuários. Sendo assim, há de se fazer presente a participação da sociedade civil, enquanto sujeitos do processo da continuidade da proposta. Para Junqueira (2009), a intersetorialidade constitui-se numa concepção que deve informar uma nova maneira de planejar, executar e controlar a ofeta de serviços, com vistas a garantia de um acesso igual dos desiguais, significando uma alteração na forma de articulação das diversas políticas públicas da organização governamental. Sendo assim, a implantação integrada das várias políticas sociais não depende apenas da vontade política de quem tem o poder ou os recursos disponíveis, pois cada política setorial tem seus interesses e práticas. 59 Desta forma, para realizar um projeto articulado das políticas públicas de saúde e assistência social com vistas na atenção integral ao usuário de crack e outras drogas, demanda-se uma mudança de práticas, padrões, valores, enfim, da cultura organizacional das instituições públicas gestoras das políticas públicas. Segundo Inojosa, a intersetorialidade pode ser definida “como a articulação de saberes e experiências para o planejamento, a realização de avaliação de políticas, programas e projetos, cujo fim é alcançar resultados cooperativos em situações complexas” (2001, p. 04). Desta forma, uma perspectiva de trabalho intersetorial implica mais do que justapor ou compor projetos que continuem sendo formulados e realizados setorialmente. De fato, a intersetorialidade traz um conjunto de implicações para a ação do Estado. A intersetorialidade pode ser combinada a modelos descendentes ou ascedentes de gestão. Entendendo-se por esta última, como sendo o princípio da intersetorialidade aplicado na base da gestão institucional com setorialidade no modelo de gestão dos órgãos, ou seja, a intersetorialidade realizará a medida que diferentes representações da gestão municipal se articulam e se integrarem a fim de atingir uma meta comum e; o primeiro modelo realiza a perspectiva contrária, levando em consideração a atuação de diferentes sujeitos e técnicos de organizações públicas e/ou da sociedade civil na formulação de propostas para atendimento comum de uma meta. (Sposati, 2006). A intersetorialidade contribui para a criação e reconhecimento de saberes resultante da integração entre as diversas políticas setoriais. Sposati vê a intersetorialidade “não só como um campo de aprendizagem dos agentes institucionais, mas também como caminho ou processo estruturador da construção de novas respostas, novas demandas para cada uma das políticas públicas” (2006, p. 140). Sendo assim, abre as possibilidades de construção da integralidade da assistência destinada aos usuários de crack e outras drogas. Com vistas na atenção integral ao usuário de crack e outras drogas, há uma extrema importância na intersetorialidade, como foco na integração das políticas de saúde e assistência social. As políticas de saúde e assistência social compõem o tripé da Seguridade Social no Brasil em que se conjugam com a Previdência Social. Com isso há uma importância política e de democratização no que se refere ao atendimento das 60 demandas, universalização e garantia de acesso ainda que cada uma delas tenha ações setoriais e necessariamente precisem se articular entre si. A partir de 2003, a assistência social no Brasil é estruturada administrativamente e passa a ser regida pelo SUAS - Sistema Único de Assistência Social -, que tem como referência a Lei Orgânica da Assistência Social, as NOBs Norma Operacional Básicas e a Constituição Federal de 1988. A gestão proposta para essa política é o pacto federativo, e a forma de enfrentar as múltiplas expressões da questão social foi à descentralização, levando em consideração as desigualdades territoriais, as especificidades dos municípios e a participação social. A intersetorialidade passa a ser alvo das discussões no processo de implementação da política de assistência social, que por vezes é expressa através de palavras com sentido similares, como, por exemplo, a interface, a conexão, em que "os serviços de proteção social têm estreita interface com o sistema de garantia de direito, exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada" (MDS, 2004, p. 31). Segundo a Política Nacional de Assistência Social, no que se refere à inter-relação, "o Plano de Assistência Social expressa à política e suas inter-relações com as demais políticas setoriais e com a rede socioassistencial" (MDS, 2004, p. 37). A mesma política, em outro ponto, define a intersetorialidade como sinônimo de integração, ou seja, "a Política Pública de Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais" (MDS, 2004, p. 27). A perspectiva de intersetorialidade para a política de saúde não é tão expressiva quanto na assistência social, porém na Lei n° 8.080/90 pode-se verificar alguns pontos que legalmente podem apontar o processo intersetorial entre as políticas de saúde e as de meio ambiente e saneamento básico. O debate sobre a saúde para todos, enquanto direito, remonta às lutas da reforma sanitária no Brasil, o processo de democratização da saúde e a conquista do SUS. Por mais que haja considerações acerca do avanço e do modelo adotado por esta política, tido como o mais avançado, ainda há aspectos a ser enfrentados. Contudo, a proposta de sistema do SUS é passada para outras políticas setoriais, como a própria assistência social. Neste aspecto, as expressões que apontam para uma atuação intersetorial utilizadas na lei que regulamenta a política de saúde dá outro sentido à 61 intersetorialidade, o que poderia ser explicado pelo fato de que a Lei n° 8.080/1990 foi formulada quando o debate da intersetorialidade não tinha tanta expressão, ganhando visibilidade após esse período. Neste caso, a palavra articulação pode ser um dos sentidos da intersetorialidade quando a Lei n. 8.080/90, no seu art. 2º, § 1º, menciona que é dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. As diretrizes e os princípios da política de saúde presentes no art. 7º apontam para a intersetorialidade. Entre os itens mais expressivos, o décimo menciona como já citado, que deve haver "a integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico". Já com relação à saúde no âmbito da saúde mental aos usuários de crack e outras drogas, têm-se no Decreto N° 3.088/2011, em seu art. 2° que constitui nas diretrizes para o funcionamento da rede de atenção psicossocial, inciso X: a “organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado”. Realizando uma comparação entre as políticas de assistência social e saúde, considera-se que ambas se complementam e se completam para a integralidade na atenção ao usuário, mesmo que ainda a saúde não faça menção à política de assistência social. As expressões utilizadas para apontar uma atuação integrada também aparecem em ambas às políticas, dando a entender que existe uma intenção à atuação intersetorial. Sendo assim, a proposta é ampliar o debate entre as políticas, quebrando os limites e referências postas no plano da execução e implementação das políticas em questão. Segundo Sposati (2006) é de suma importância a intersetorialidade, mas sem anular a setorialidade. Na lei que implanta o SUS foi observado que não havia planos, mas mencionavam-se comissões intersetoriais que podem expressar a intersetorialidade, já que a própria política de saúde traz no corpo da lei a relação com a política de meio ambiente e saneamento básico. Mas em seguida, o decreto que dispõe sobre a rede de atenção psicossocial aos usuários de crack e outras drogas, enfoca 62 claramente para a atenção integral ao cuidado, faz-se necessário a articulação das políticas de saúde e assistência social. É importante observar, que atualmente a organização administrativa do SUS modificou-se no que se refere à participação de outras políticas setoriais no processo de discussão de política de saúde, já que ela é datada de 1990, decorridos, portanto, vinte e dois anos da sua formulação. No campo dos instrumentos, vale ressaltar que a política de assistência social expressa, na PNAS, a importância de que a intersetorialidade deve-se estruturar-se no âmbito local por meio do Plano Municipal de Assistência Social, mas na política de saúde não se encontra a concretização operacional da intersetorialidade, mas fica-se subentendido a tal importância. Por isso, verifica-se a importância de produzir planos locais, não só para expressar a intersetorialidade, mas organizar e planejar as ações de cada política. O Plano Diretor também pode vim a ser um instrumento em que poderia se apresentar a intersetorialidade, principalmente nas políticas supracitadas especificamente no trato da questão das drogas. Considera-se importante que haja um planejamento setorial e intersetorial, e, sobretudo, considerando a cidade (município) como local privilegiado de execução das políticas públicas e da intersetorialidade, bem como da participação e do controle social. O saber de determinada política setorial é importante, mas também expõe a necessidade de troca a fim de possibilitar a construção de novos saberes. Neste caso, a interdisciplinaridade ganha força quando os saberes técnicos conseguem sair da sua pasta de origem e cunhar possibilidades de construção de uma política inclusiva e articulada às reais necessidades da população. Vale ressaltar, que é por meio da realidade cotidiana que se pode conseguir vislumbrar as possibilidades e limites para a promoção da intersetorialidade, pois o processo reflexivo é anterior à prática, mas se articula o tempo todo para a construção de novas visões e interações. Tanto a política de saúde quanto a de assistência social, trazem em seu bojo algumas perspectivas de ações intersetoriais, que favorecem a atenção integral dos usuários de crack e outras drogas, podendo fortalecer as atuações das instituições no trato da questão. 63 Trazendo essas questões abordadas anteriormente para o cotidiano da atuação da ASSEPOD, na primeira etapa da entrevista, foi pontuado sobre a avaliação da articulação realizada pela instituição, na promoção da integração das políticas públicas de saúde e assistência social no trata da questão. Segundo a entrevistada, esta instituição tem a função de articular com as demais secretarias para a atenção integral ao usuário de crack e outras drogas no município. Para ela, avaliam-se as políticas públicas do município para o trato da questão, de forma positiva, e que isso acontece em virtude da atuação de um órgão especializado para pensar a política pública sobre drogas no município. Entendendo que esta questão perpassa todos os setores, necessita-se para sua efetivação, uma articulação entre todas as secretarias, deixando de lado o trabalho pontual realizado por cada instituição. Com a integração e articulação das secretarias, dialoga-se desde a prevenção do uso indevido de drogas à reinserção social à nível da assistência social, ao tratamento e reabilitação social, a nível da saúde, a secretaria de segurança do município e estado no enfrentamento do tráfico ao crack e outras drogas. A entrevistada avalia esta integração também, pelo excelente funcionamento do COMAD, que traz para a sociedade a responsabilidade de gerir juntamente com o município, sendo esta a forma participativa de gestão, discutindo a política pública sobre drogas no município. Destacou também, o Grupo de Gestão Integrada do Município - GGIM, que discute a nível municipal, a questão da segurança, especificamente a repressão ao tráfico de drogas, e este é composto por membros do Poder Executivo e Judiciário, Gestor Municipal, Polícia Militar e Polícia Civil, Secretaria de Segurança Pública e Cidadania, ASSEPOD e outras assessorias. Por fim, com relação à articulação entre a política de saúde e assistência social realizada pela ASSEPOD, a entrevistada, relata que os trabalhos têm sido desenvolvidos de forma segura e entrelaçada, mas ressalta que o processo de reabilitação acontece em articulação com todas as secretarias. Assim, buscou-se mostrar o papel da Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas, especificamente, na articulação das políticas públicas de saúde e assistência social, promovendo a então, discutida anteriormente, intersetorialidade, buscando a integralidade na atenção destinada aos usuários de crack e outras 64 drogas, ressaltando também, a importância na articulação com as demais políticas públicas existentes no município, uma vez que a questão das drogas ultrapassa a saúde e assistência social. 4.1 Os desafios na articulação das políticas públicas política de saúde e assistência social realizados pela ASSEPOD com ênfase no tratamento e reinserção social As articulações interinstitucionais a partir do território permitem integrar horizontalmente programas públicos com foco na realidade territorial e, paulatinamente, rearticulá-los e recriá-los a partir de novos arranjos institucionais, (fóruns, comitês, conselhos, consórcios, comissões e acordos relacionados ao trato da questão das drogas), com autonomia, representatividade e legitimidade. Esse segmento também permite uma verticalização de baixo para cima, rompendo as visões normalmente predominantes nas políticas públicas, que tendem a desconsiderar as diversidades locais e regionais. Resulta deste processo um conjunto de institucionalidades que representam uma nova concepção de desenvolvimento descentralizado, diversificado e sustentável. Na segunda etapa da entrevista, é pontuado as dificuldades pertinentes a efetivação da política de saúde e assistência social no municipio com foco na promoção do tratamento e reiserção social dos usuários de crack e outras drogas. Segundo a entrevistada, a maior dificuldade na efetivação da articulação com vistas na atenção integral, são os estigmas, o desconhecimento da questão, que consequentemente gera o preconceito, por parte dos profissionais que integram a rede de atenção no municipio. Para a mesma, o que ocorre com isso é um afastamento por parte dos profissionais e instituições de ponta, como o CRAS e os Programas de Saúde da Família e, há uma ausência do trabalho na atenção básica com vistas na promoção da atenção ao usuário. Em seguida, a mesma aponta como um dos maiores aspectos dificultosos na efetivação da rede de atenção integral aos usuários de crack e outras drogas, o entendimento dos gestores da política pública local, sobre a questão das drogas em sua complexidade, pois esta é uma questão que perpassa todas as secretarias, e não de uma isolada secretaria. Tem-se que rompor com o entendimento de que a questão das drogas é uma questão apenas de saúde e segurança pública, pois isso dificulta a integralidade na assistência destinadas aos usuários de SPAs. Em 65 consequência, ocorre a desresponsabilização das instituições para o trato da questão das drogas. A mesma pontua também, a ausência de um Plano Municipal de Atenção ao Usuário de Crack e outras drogas, que para sua construção é necessário uma integração entre as organizações públicas, família e usuários, com vistas na construção da rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas pontuando a Prevenção e Mobilização Social; Tratamento e Reainserção Social, que para tal, fazse necessário que este plano seja construído a partir da visão e comprometimento das instiruições provedores dos processos supracitados. Contudo, a articulação de políticas públicas é, portanto, um desafio a ser vencido pela proposta de efetivação da rede de atenção integral ao usuário de crack e outras drogas, pois ela se mostra necessária em todos os níveis de poder, sendo que, para alguns, as articulações podem significar mudanças importantes na correlação de forças e nas dinâmicas tradicionais dos espaços de poder. 4.2 Portaria N° 3.088, de 23 de dezembro de 2011: desafios na construção da Rede de Atenção Psicossocial a usuários de drogas no município de Eusébio Como supracitado anteriormente, a PORTARIA N° 3.088, de 23 de Dezembro de 2011, institui a rede de atenção psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS. Dentre outros objetivos, destaco um dos objetivos específicos que relaciona com o recorte do presente estudo, sendo este o de: “promover a reabilitação e a reinserção social das pessoas com transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas na sociedade, por meio do acesso ao trabalho, renda e moradia solidária” (BRASIL. Ministério da Saúde, 2011). Em seguida, o Art. 7° desta portaria, dispõe sobre o componente de reabilitação psicossocial, composto por iniciativas de geração de trabalho e renda, entre outras. Segue em seu parágrafo único: “As ações de caráter intersetorial destinadas à reabilitação psicossocial, por meio da inclusão produtiva, formação e qualificação para o trabalho de pessoas com transtorno mental ou com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas em iniciativas de geração de trabalho e renda/empreendimentos solidários/ cooperativas sociais. Tais iniciativas devem articular sistematicamente as redes de saúde e de economia 66 solidária com os recursos disponíveis no território para garantir a melhoria das condições concretas da vida, ampliação da autonomia, contratualidade e inclusão de usuários da rede e seus familiares” (BRASIL. Ministério da Saúde, 2011). Sendo assim, para a promoção da reabilitação psicossocial destes usuários, é necessária a articulação para a integração das políticas de saúde e assistência social, tendo em vista, que esta ultima, presta serviços de proteção básica que inclui serviço de proteção e atendimento integral á família (PAIF), realizando ações de inclusão social e produtiva, formação e qualificação para o trabalho. Na etapa final da entrevista, pontuou-se a análise na construção da Rede de Atenção Psicossocial ao usuário de crack e outras drogas no município em questão, com vistas nas implicações na constituição de uma rede e os desafios na articulação entre os setores da política pública para pactuar a assistência integral ao usuário de crack e outras drogas. Segundo a entrevistada, os desafios na construção da rede de saúde mental já foram ultrapassados, uma vez que no município já foram implantados um CAPS Geral, um CAPS AD, e um CAPS infantil em processo de implantação. Porém, ressalta que estes não funcionam sozinhos, é necessário o matriciamento13, enfatizando a importância da articulação e parceria com os demais órgãos que compõem as secretarias do município. Sendo assim, pontua como desafio, fazer com que toda a rede efetive o matriciamento, que este propiciará uma articulação entre os setores das políticas públicas com vistas a pactuarem a assistência integral aos usuários de crack e outras drogas. Em seguida, pontua como implicação na constituição de uma rede de fato, a mudança de gestão, pois para ela, a política pública sobre drogas, perpassa a gestão, ou seja, a gestão municipal muda e as instituições executoras dessa política permanecem. Integrado ao aspecto pontuado anteriormente, pontua-se as implicações das relações contratuais de trabalho dos profissionais que compõem a rede, pois na maioria das vezes, os mesmos não servidores efetivos (concursados) e 13 Matriciamento ou apoio matricial pode ser entendido como um novo modelo de produzir saúde, em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógica-terapêutica. 67 comprometem a efetivação dessa política. Em decorrência, quando há a transição de gestão, há uma recomposição da equipe multiprofissional dos diversos setores, o que para a mesma, ocasiona malefícios para os usuários da rede, devido ao fato de que os profissionais têm que se adequar a dinâmica institucional e da rede local. Ela apresenta a dificuldade de ter profissionais com o perfil demandado, com a sensibilidade no trato da questão. Relata também, que essa instabilidade dos profissionais, acarreta perca de investimentos no município, uma vez que este investe em cursos e capacitações. Contudo, a mesma conclui que com todas as dificuldades, muitos desafios já foram superados na construção e articulação da rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas. Para ela, com todos os aspectos apontados anteriormente com relação à articulação das políticas de saúde e assistência social no trato da questão, enfatizando a reabilitação dos usuários, o resultado da superação dos processos de tratamento e reinserção social, é muito significante e representa a eficácia e eficiência nas ações relacionadas à questão. 68 CONCLUSÃO Com a construção e análise do trabalho, tentei realizar uma avaliação da integração das políticas de saúde e assistência social, a partir da articulação realizada pela Assessoria Especial de Políticas Sobre Drogas, e analisar a construção da Rede de Atenção Psicossocial ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio, observando as dificuldades e as implicações na constituição de uma rede de fato, pontuando os desafios na articulação entre os setores das políticas públicas para pactuar a integralidade na assistência destinada aos usuários de crack e outras drogas. Intencionei mostrar que, a partir dos anos 1980, com o amadurecimento crítico da sociedade e os movimentos em luta da democracia e pelos direitos sociais, foram fundamentais para o surgimento das políticas públicas destinadas aos usuários de álcool e outras drogas. Entretanto, enfrentando os obstáculos impostos pelos problemas diários no município de Eusébio, como a escassez de recursos financeiros alocados na saúde mental, a instabilidade dos profissionais e o não entendimento dos gestores da política pública local, sobre a questão das drogas em sua complexidade, que implica na integralidade, sendo este um princípio que se mostra um desafio para a própria saúde. A partir de 2003, tem-se um enorme avanço no trato da questão, com a formulação da Política do Ministério da saúde destinada aos usuários de álcool de outras drogas, em que há o alinhamento da Política Nacional Sobre Drogas. Posteriormente, novos decretos representam um avanço incontestável para o enfretamento da questão, entretanto a implementação das mesmas ainda não são suficientes para atender de forma integral os usuários que buscam o espaço público para o tratamento da dependência de crack e outras drogas. Isso indica que é primordial a criação de mecanismos novos para efetivar a diversidade da questão, com ênfase na integralidade na atenção destinada aos usuários. A escassez de rede de assistência para os usuários de drogas deve ser apreendida também como uma expressão da natureza contraditória das políticas sociais, que incorporam demandas sociais, mas a circundam por limites estruturais da própria acumulação capitalista. No caso do tema do usuário das drogas, concorre para o agravamento da incipiência dessa política a tradicional cultura de lidar com a questão das drogas, a partir da concepção moralista, focando apenas na abstinência 69 dos sujeitos, não tratando a questão como uma questão do social que perpassa a questão saúde/doença. Como pode ser observada no estudo do tema, a grande lacuna sempre deixada pelo poder público para a problemática das drogas, hoje enfrenta profundas conseqüências por tamanho aumento dos problemas sociais que estão ligados ao consumo e mercado de drogas e das diversas ações que requer para encarar a questão. Então a pesquisa mostrou que há uma fragilidade e uma tensão entre a recente política pública conquistada para a área e as reais possibilidades de enfrentamento do problema no município de Eusébio, no que se refere às responsabilidades da saúde, em particular, da saúde mental. E que as futuras ações não podem ser direcionadas ao imediatismo e com estratégias emergenciais para enfrentar a questão, que necessita de um amplo cuidado e a construção de uma direção social para as iniciativas fragmentadas do próprio poder público. Parece que temos produzido políticas públicas para a área, por vezes, concorrentes entre si, o que debilita a possibilidade de uma atenção integral ao usuário de drogas. Uma proposta otimista para a área de drogas foi o lançamento do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas através do Decreto nº 7.179 de 20 de maio de 2010, pelo governo federal em que prevê investimentos para ações no campo da saúde, assistência e repressão ao tráfico, e recentemente com a proposta do Programa “Crack é Possível Vencer”, do Governo Federal, que dispõe de propostas e financiamentos na área da prevenção, que inclui a educação, informação e capacitação; o Cuidado, que compreende o aumento da oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários e; a Autoridade, que dispõe de ações de enfrentamento ao tráfico de drogas e às organizações criminosas. Vale ressaltar, que tanto o plano quanto o decreto, visam além do fortalecimento e ampliação da rede de assistência aos usuários de drogas, a capacitação e qualificação dos profissionais que atuam na rede. “II - estruturar, ampliar e fortalecer as redes de atenção à saúde e de assistência social para usuários de crack e outras drogas, por meio da articulação das ações do Sistema Único de Saúde - SUS com as ações do Sistema Único de Assistência Social – SUAS” (Decreto nº 7.179). No entanto, como referiu à entrevistada, o principal desafio para a efetivação de uma rede de atenção integral ao usuário de crack e outras drogas tem 70 sido a não efetivação do matriciamento, que este propiciará uma articulação entre os setores das políticas públicas com vistas a pactuarem a assistência integral aos usuários de crack e outras drogas e, a mudança de gestão, pois para ela, a política pública sobre drogas, perpassa a gestão, ou seja, a gestão municipal muda e as instituições executoras dessa política permanecem. A implantação e efetividade de dessa rede de atenção ao usuário de crack e outras drogas, posteriormente, requererão avaliação e monitoramento para que possa se verificado a sua efetividade. Portanto ainda é preciso muita luta para se efetivar os direitos garantidos em lei e assim firmar uma assistência mais igualitária e justa. Cabem aos profissionais, usuários, familiares e os movimentos organizados pela sociedade civil incorporarem essa luta diária para que esses desafios sejam enfrentados e superados na sociedade brasileira. É necessário buscar na participação social, através dos Conselhos (como citado à importante atuação na integração das políticas) propondo uma discussão e reflexão sobre o rumo das políticas publica e reivindicar assim a assistência integral com foco na reabilitação dos usuários, tornando essa assistência mais ampla e democrática. As análises sobre a intersetorialidade expressa nas políticas em questão possibilitaram a visibilidade da importância desta, uma vez que a questão das drogas não se trata de um fator isolado, e sim, de uma questão complexa que necessita de uma maior atenção. Por fim, conclui-se a extrema importância pontuada pela entrevistada no que se refere à efetividade do processo de tratamento e reinserção social, com vistas na integração da saúde e assistência social, que para tal, é necessária a articulação das políticas em questão. Contudo, ressalta-se que é necessária a articulação com todas as políticas públicas, uma vez, que a questão das drogas não é somente uma questão de saúde, nem tampouco de assistência social. 71 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Priscila Previato de; BRESSAN, Rodrigo Affonseca; LACERDA, Acioly Luiz Tavares de. Neurobiologia e neuroimagem dos comportamentos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. In: DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel Cruz; LARANJEIRA, Ronaldo (Colaboradores). Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011. AMORA, Antônio Soares. Minidicionário Soares Amora da língua portuguesa. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. 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Porto Alegre: Artmed, 2011. . 75 ANEXO INSTRUMENTAL DE COLETA DE DADOS DA PESQUISA DE CAMPO QUANTITATIVA PARA O LEVANTAMENTO DO PERFIL DOS USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS DE EUSÉBIO FORMULÁRIO N° DE ATENDIMENTO:___________ DATA DO ATENDIMENTO:____/____/______ IDADE:__________ SEXO: ( )M ( )F PRIMEIRA DROGA EXPERIMENTADA:_______________ IDADE QUE EXPERIMENTOU:_________________ MOTIVOS QUE INFLUENCIARAM O USO:_______________________________________________________ DROGA(S) DE ABUSO:________________________________________ DROGAS EXPERIMENTADAS: ( ( )TABACO ( ) CRACK ) COCAÍNA ( ( ) OUTRAS: _________________________ ) LSD ( ) ÁLCOOL ( ( ) MACONHA ) INALANTES/SOLVENTES BAIRRO:________________________ ESCOLARIDADE:__________________________________________________ REALIZOU TRATAMENTO EM COMUNIDADE TERAPÊUTICA: ( ) N° DE INTERNAÇÕES:_________ CONCLUIU TRATAMENTO: ( EM TRATAMENTO: ( ) SIM ) SIM ( ( ) NÃO ) NÃO 76 INSTRUMENTAL DE LEVANTAMENTO QUANTITATIVO DOS USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS DO MUNICIPIO DE EUSÉBIO 1. PERÍODO DE ATENDIMENTO 2010:___________________________________________________________ 2011:___________________________________________________________ 2012:___________________________________________________________ 2. IDADE: Até 10 anos:_____________________________________________________ 11 a 14:_________________________________________________________ 15 e 16:_________________________________________________________ 17 e 18:_________________________________________________________ 19 e 20:_________________________________________________________ 21 e 22:_________________________________________________________ 23 e 24:_________________________________________________________ 25 a 30:_________________________________________________________ 31 a 40:_________________________________________________________ 41 a 59:_________________________________________________________ Acima de 60:_____________________________________________________ Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 3. SEXO Masculino:_______________________________________________________ Feminino:_______________________________________________________ 4. PRIMEIRA DROGA EXPERIMENTADA Álcool:__________________________________________________________ Tabaco:_________________________________________________________ Maconha:_______________________________________________________ Crack:__________________________________________________________ Cocaína:________________________________________________________ Inalantes/Solventes:_______________________________________________ Outras:_________________________________________________________ 77 Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 5. IDADE QUE EXPERIMENTOU Até 10 anos:_____________________________________________________ 11 a 14:_________________________________________________________ 15 e 16:_________________________________________________________ 17 e 18:_________________________________________________________ 19 e 20:_________________________________________________________ 21 e 22:_________________________________________________________ 23 e 24:_________________________________________________________ 25 a 30:_________________________________________________________ 31 a 40:_________________________________________________________ 41 a 59:_________________________________________________________ Acima de 60:_____________________________________________________ Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 6. MOTIVOS QUE INFLUENCIARAM O USO Amigos:_________________________________________________________ Família:_________________________________________________________ Curiosidade:_____________________________________________________ Outros:_________________________________________________________ Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 7. DROGA(S) DE ABUSO Álcool:__________________________________________________________ Tabaco:_________________________________________________________ Maconha:_______________________________________________________ Crack:__________________________________________________________ Cocaína:________________________________________________________ Inalantes/Solventes:_______________________________________________ Outras:_________________________________________________________ Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 78 8. DROGAS EXPERIMENTADAS Álcool:__________________________________________________________ Tabaco:_________________________________________________________ Maconha:_______________________________________________________ Crack:__________________________________________________________ Cocaína:________________________________________________________ Inalantes/Solventes:_______________________________________________ Outras:_________________________________________________________ Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 9. BAIRRO Cararú:_________________________________________________________ Precabura:______________________________________________________ Mangabeira:_____________________________________________________ Encantada:______________________________________________________ Timbú:__________________________________________________________ Olho D‟Água:_____________________________________________________ Coaçu:__________________________________________________________ Maringá:________________________________________________________ Novo Portugal:___________________________________________________ Pires Façanha:___________________________________________________ Santa Clara:_____________________________________________________ Jabuti:__________________________________________________________ Centro:_________________________________________________________ Parque Havaí:____________________________________________________ Lagoinha:_______________________________________________________ Autódromo:______________________________________________________ Urucunema:_____________________________________________________ Coité:___________________________________________________________ Tamatanduba:____________________________________________________ Amador:________________________________________________________ Guaribas:_______________________________________________________ 79 Santo Antônio:___________________________________________________ Outros:_________________________________________________________ Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 10. ESCOLARIDADE Analfabeto:______________________________________________________ Fundamental incompleto:___________________________________________ Fundamental completo:____________________________________________ Ensino médio incompleto:___________________________________________ Ensino médio completo:____________________________________________ Ensino superior incompleto:_________________________________________ Ensino superior completo:_________________________________________ Não respondeu/sem resposta:_______________________________________ 11. REALIZOU TRATAMENTO EM COMUNIDADE TERAPEUTICA SIM:____________________________________________________________ NÃO: ___________________________________________________________ 12. QUANTIDADE DE INTERNAÇÕES Uma internação:__________________________________________________ Duas internações:_________________________________________________ Três ou mais:____________________________________________________ 13. CONCLUIU TRATAMENTO Sim:____________________________________________________________ Não:___________________________________________________________ 14. EM TRATAMENTO Sim:____________________________________________________________ Não:___________________________________________________________ 80 INSTRUMENTAL DE COLETA DE DADOS DA PESQUISA DE CAMPO QUALITATIVA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 1. Formação e experiências profissionais. 2. A ASSEPOD dentre outras funções, tem como uma das funções a articulação das políticas públicas de atenção ao usuário de crack e outras drogas. Como é avaliada a integração das políticas públicas e especificamente de saúde e assistência social no município a partir desta articulação realizada pela instituição? 3. Tendo em vista a construção de fato da rede local de atenção integral ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio, especificamente a política de saúde e assistência social com foco na promoção do tratamento e reinserção social, quais as dificuldades pertinentes a efetivação destas políticas no trato da questão? 4. Tendo como norte a Portaria N° 3.088, de 23 de dezembro de 2011, como analisar a construção da Rede de Atenção Psicossocial ao usuário de crack e outras drogas no município de Eusébio, observando as dificuldades e as implicações na constituição de uma rede de fato e os desafios na articulação entre os setores das políticas públicas para pactuar a integralidade na assistência destinada aos dependentes de substâncias psicoativas? 81