O MARKETING, O MERCADO E O GERENCIAMENTO EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Osvaldo Luís Gonçalves Quelhas, D. Sc. Universidade Federal Fluminense LATEC - Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente -Caixa Postal 100175 - Niterói - RJ - CEP: 24.001-970 – E-mail: [email protected] Humberto Chiaini de Oliveira Neto, Eng. Civil Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF - Mestrando em Engenharia Civil - UFF Caixa Postal 100175 - Niterói - RJ - CEP 24.001-970 Luiz Perez Zotes, D. Sc. Universidade Federal Fluminense - LATEC - Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente - Caixa Postal 100175 - Niterói - RJ - CEP: 24.001-970 ABSTRACT In globalization times, the companies generally are changing their managerial methods with the objective of maintaining themselves in a competitive market and, if possible, to increase their market share. Some companies feel identified with the new economical order. Others organizations are making adjustments and, in the case of the construction industry, just a few things have been done. The objective of this work is to make a reflection about the use of management mechanisms that are privileging the market, and suggest changes in the planning of the products used by construction industry today. Key words: Quality - Construction - Management – Marketing 1 - Introdução Usualmente se utiliza a palavra marketing, para se referir a atividades de promoção, vendas e propaganda. A utilização do termo geralmente se vincula a segmentos como o de imobiliárias, agências de propaganda, setor de promoção de vendas em indústrias, comércio e outros do gênero. Portanto, é um termo fortemente ligado a questões de vendas de produtos ou serviços em qualquer setor. No entanto, a caracterização correta de marketing, vai muito além do setor de vendas de qualquer empresa. O conceito é associado a satisfação dos consumidores e a união total das tarefas que envolvem o processo de fabricação do produto, que vão desde seu planejamento, percorrendo uma série de atividades intermediárias até a colocação do produto no mercado, ou seja, envolvendo toda a política de trabalho da empresa. Marketing é um conceito que vem em seus aspectos elementares, desde tempos mais recuados. Assim, ARISTÓTELES (filósofo grego, 384-322 a. C.), citado por WOERNER (1997), faz a seguinte colocação: “Há duas coisas nas quais se baseia o sucesso em qualquer lugar: a primeira é que a intenção e a meta da ação devem ser determinadas de forma correta; a segunda é encontrar os meios que levam a essas metas... Assim, temos de dominar ambos nas artes e na ciência: a meta e o caminho para tingir a meta.” Efetivamente, passados mais de dois mil anos, a afirmação do filósofo em seu 7.º livro “POLITIKA”, é atual e se insere perfeitamente no pensamento básico de marketing. É recomendado uma meta e os meios de se chegar a ela, o que só se consegue com a utilização de insumos necessários e dentre eles a utilização de informações para se definir o objetivo (ou meta) e para se utilizar os recursos (ou meios) de atingi-lo. A questão da informação na atualidade, é algo que caracteriza com grande força nossa sociedade. Tal questão, segundo os TOFFLER (1996), assume um caráter importantíssimo, o que se evidencia quando os autores afirmam: “Enquanto terra, trabalho, matérias - primas e capital foram os principais “fatores de produção” na economia da Segunda Onda do passado, o conhecimento - amplamente definido para incluir dados, informações, imagens, símbolos, cultura, ideologia e valores é agora o recurso fundamental da economia da Terceira Onda.” Ainda os mesmo autores confirmam a questão apresentada na seguinte colocação: “Enquanto o valor de uma companhia da Segunda Onda pode ser medido em termos de seus ativos como edifícios, máquinas, ações e estoque, o valor de firmas bem sucedidas da Terceira Onda reside cada vez mais na sua capacidade de adquirir, gerar, distribuir e aplicar conhecimento estratégica e operacionalmente “. Lembraríamos ainda que a razão da existência de um produto qualquer é que ele será comprado por um consumidor (ou usuário), que deseja ver atendidas as suas necessidades diante do valor pago para adquiri-lo e, em se tratando do produto final da construção civil, práticas até hoje tidas como corretas ou infalíveis no momento da definição de projetos, não corresponde mais a realidade do momento econômico. O velho ditado “ Em time que está ganhando não se mexe “, deve ser substituído pela pergunta “Será que existe um time ainda melhor ? “. Ai surge o “marketing”, que envolve uma série de aspectos pertinentes à questão, mostrando caminhos novos na busca da competitividade das empresas de construção civil. Nossa proposta neste trabalho é fazer uma reflexão da necessidade de se estar informado quanto ao mais importante vetor que atua sobre a empresa de construção civil, que é a interface empresa-mercado. 2 - O Marketing Vários autores do assunto, são unânimes em afirmar que existem um sem número de definições para marketing atualmente. No dizer de SILVA (1997), “Um dos pilares básicos de qualquer área de conhecimento, em especial das ciências, é a delimitação clara de suas fronteiras. A multiplicidade de definições torna o conceito de marketing impreciso, pouco científico. Contudo, apesar desta aresta epistemológica por aparar, marketing existe...”. Pode-se deduzir das colocações dos estudiosos do assunto que o foco das atenções segundo os princípios de marketing , é o cliente e, através do gerenciamento correto dos recursos disponíveis, a organização atende aos desejos do mercado (dos clientes). Portanto, marketing é um conjunto de princípios no sentido de se conseguir que os consumidores comprem nossos produtos, o que significa que as chamadas “decisões de marketing” consideram a melhoria do valor adicionado ao produto, com o objetivo de se manter os clientes conquistados e atrair novos. SKACEL (1992) se refere à oportunidade das empresas possuírem seu “Plano de Marketing” , ou seja, um plano de trabalho que persegue uma meta a ser atingida. Ainda SKACEL (1992) coloca a necessidade de se partir de um “ FACT BASE” (conjunto de informações básicas) correto, a partir do qual o planejamento é realizado. Podemos inferir daí que o marketing reforça a necessidade de se ter em mãos levantamentos, dados, que possam balizar a tomada de decisão no momento de planejar o produto. Ainda, através das informações (ou do FACT BASE) corretas, pode-se identificar oportunidades de se criar benefícios de adição de valor ao produto ou procurar novos clientes, mais vendas, mais lucros. Em se tratando de empresas, KOTLER (1992) aponta cinco maneiras clássicas de uma companhia pensar em seu negócio, com ênfase em posturas que refletem o mercado em que se inserem. O quadro a seguir, apresenta um resumo de tais idéias. FOCO DA EMPRESA ÉPOCA QUE SE VERIFICOU NOS EEUU POSTURA DA INDÚSTRIA MERCADO EM QUE ATUAM NA PRODUÇÃO A partir final do Século XIX Demanda maior que a oferta NO PRODUTO A partir das primeiras décadas deste século Alta eficiência na produção e larga distribuição Melhoria permanente dos produtos NA VENDA Mercado do 2.º PósGuerra NO MARKETING Atualmente Esforços concentrados em vender e promover agressivamente Procura determinar as necessidades e os desejos do mercado e Mercado saturado de produtos, passando-se a competir através da melhoria dos mesmos. O consumidor não tem produtos que lhe satisfaça por completo. Maduro, sabendo com maior segurança o que deseja. NO MARKETING SOCIAL satisfazê-los de modo mais efetivo do que os competidores Atualmente/Futuro Idem acima (Foco no Marketing), mas ainda preservando e garantindo o bem-estar do consumidor e da sociedade. Tabela 1 – Posturas da indústria no mercado Altamente crítico. Conforme lembra SILVA (1997), o autor faz suas colocações tendo como cenário a realidade americana, o que nos leva a deduzir que mesmo hoje existem empresas atuando em qualquer um dos focos, dependendo do mercado em que se encontre e no segmento em que atue. Analisando a evolução americana nesta questão, temos oportunidade de refletir na situação brasileira, que, através de fatos recentes, como por exemplo a abertura do mercado ao mundo de certos setores, que muitas indústrias tiveram e terão ainda por algum tempo, sérios problemas em se adaptar à nova ordem mundial. No caso da construção civil, algo semelhante fatalmente irá ocorrer e o quanto antes o empresariado do setor se posicionar na busca de se adaptar às novas condições econômicas do país, melhores chances de permanecer no mercado de forma competitiva ele terá. Conforme coloca SILVA (1997), “O foco no marketing, ou no marketing social, será imprescindível. Quem antes o fizer, obviamente não estará apenas exorcizando o risco de uma morte súbita; estará colhendo todas as vantagens de chegar ao futuro antes de seus competidores”.. É importante ainda lembrar que, as mudanças que estão ocorrendo em todo o meio econômico tanto a nível brasileiro como no contexto mundial é uma realidade e se verifica dentro de um ambiente social movido pela velocidade das informações (em tempo real para quase todo o planeta) e das mudanças rápidas de mercado. Dentro desses aspectos, WOERNER (1997) afirma ser “ a velocidade de reação de uma empresa um fator decisivo para o sucesso na competição entre iguais”, o que confere com a seguinte colocação de JURAN (1992), “Algumas empresas não esperam que as coisas cheguem ao estado de problemas. Elas conduzem levantamentos periódicos da opinião pública, para descobrir as tendências antes que elas se transformem em crises”. 3 - O Mercado O gerenciamento de uma empresa visa exatamente ordenar todos os seus insumos no objetivo de harmonizar as duas grandes vozes envolvidas na questão: a voz do MERCADO e a voz da EMPRESA. Ambas as vozes têm de conviver, pois uma não existe sem outra, embora cada uma delas tenha seu centro de interesses. De um lado o mercado que deseja produtos com as características que lhe atendam às necessidades e do outro a empresa produtiva que deseja obter rendimentos de seu trabalho e do capital empregado. BARABBA e ZALTMAN (1992) apresentam um esquema onde demonstram essas forças: DECISÕES BASEADAS NO MERCADO ATRAÇÃO DO M ERCADO IMPULSO DA EMPRESA Aquilo que o mercado indica que Aquilo que a empresa é capaz e está Requerem a harmonização eficiente e eficaz de todas as diferenças e resultam em um a precisa e está disposto a pagar para obter. disposta a fornecer ao mercado para obter. VOZ DO MERCADO VOZ DA EMPRESA EMPRESA BASEADA NO MERCADO HARMONIZAÇÃO ENTRE A VOZ DO MERCADO E A VOZ DA EMPRESA Fonte : adaptado de BARABBA e ZALTMAN ( 1992 ) Figura 1 – Esquema de forças Além disso, no momento em que a economia está se abrindo à uma concorrência cada vez maior, o empresário deve ficar atento ao seu produto, seja ele de qualquer setor. Mesmo nos segmentos mais competitivos da economia, as marcas que estão hoje na liderança, poderão perder posições. Segundo MOREIRA (1997), “ Em tempos de globalização, os empresários precisam se conscientizar de que os clientes são tão importantes que podem até mesmo ser considerados sócios das empresas, pois eles ditam o comando e o consumo... As empresas têm de estar preparadas em termos de competitividade, produtividade e inseridas em rede de informações para poder pensar globalmente e atuar localmente “. Portanto, a função de pesquisa de mercado é ponto de partida para a definição das características do produto, ou no dizer de SINK e TUTTLE (1993), na definição do “portfólio do produto”. Somando-se a esses pensamentos, WOERNER (1997) apresenta a figura a seguir, onde mostra uma empresa que se baseia no mercado sustentando-se por dois princípios fundamentais onde a pesquisa de mercado é um dos pilares de sustentação. EM PR ESA ESTRATÉGIA TÁTICA Meta Atualização Organização em relação ao mercado Liderança Ações MERCADO AS DUAS COLUNAS DO MARKETING CLÁSSICO Fonte : WOERNER ( 1997 ) Figura 2 – Pilares da empresa 4 – Conclusão Conforme podemos deduzir pelo estudo apresentado, ter uma visão do contexto em que se trabalha, é uma das premissas para o sucesso das organizações inseridas em mercados competitivos. Dentro deste pensamento, a figura do cliente é fundamental, pois vem dele a definição dos requisitos para o produto que, conjugados com o que a empresa é capaz e está disposta a fornecer ao mercado, resulta em um produto com maiores condições de competir. Vimos que para a empresa atender aos seus clientes, é necessário saber quem são e o que eles querem, para harmonizar a voz do mercado à voz da empresa e com tal enfoque, os processos gerenciais têm de modificar posturas ultrapassadas. O setor da construção civil, devido as suas peculiaridades, possui uma certa inércia para mudanças e, embora algumas práticas inovadoras possam ser observadas em um certo número de empresas, no sentido de auscultar o mercado, ainda não são significativas as mudanças no setor neste sentido. No entanto, o foco no “marketing” é o futuro dos negócios, futuro este que se desenha ser a um prazo não muito longo. Nosso objetivo neste trabalho, não incluiu a apresentação e discussão de métodos de pesquisa de mercado mas, tão somente, procurou refletir sobre a necessidade de tal prática. Concluímos portanto, que o setor empresarial da construção civil nacional, tem de se adaptar aos novos tempos da concorrência internacional que vem se instalando no país, sob pena de se ver com problemas sérios de colocação em um mercado mais exigente e mais competitivo. 5 - Bibliografia BARABBA, VINCENT P. e ZALTMAN, GERALD, A Voz do Mercado - A Vantagem Competitiva da Utilização Criativa das Informações do Mercado, TRAD. BARBARA THEOTO LAMBERT, São Paulo, Markron Books, 1992, 314 p. JURAN, J. M., A Qualidade Desde o Projeto, TRAD. NIVALDO MONTINGELLI, São Paulo, Editora Pioneira, 1992, 551 p. KOTLER, PHILIP, Fim do Bloco do Eu Sozinho - O Marketing tem de Trabalhar com o Time, ENTREVISTA À REVISTA EXAME, nº. 12, Ano 30, Junho / 1997, pag.129. LIMA JR, JOÃO DA ROCHA, Planejamento do Produto no Mercado Habitacional, BOLETIM TÉCNICO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA USP, REFERÊNCIA BT/PCC/110, 1993, 26 p. MOREIRA, MÁRCILIO MARQUES, ENTREVISTA À REVISTA TOP OF MIND, ENCARTE DO JORNAL TRIBUNA DE MINAS (JUIZ DE FORA - MG), em 05/10/1997, pag. 12. SILVA, ADRIANO, Que Diabo é Isso ?, São Paulo, REVISTA EXAME, n.º 16, Ano 31, Julho/ 1997, pags. 76 a 84. SINK, D. S. e TUTTLE, T. C., Planejamento e Medição Para a Performance, Rio de Janeiro, Qualitymark Editora, 1993, 343 p. SKACEL, ROBERT K., Plano de Marketing - Como Prepará-lo - O Que Deve Conter, TRAD. CACILDA RAINHO FERRANTE, São Paulo, Editora Nobel, 1992, 82 p. TOFFLER, ALVIN A Terceira Onda - Choque do Futuro, TRAD. JOÃO TÁVORA, Rio de Janeiro, Editora Record, 1997, 491 p. TOFFLER, ALVIN e TOFFLER HEIDI, Criando Uma Nova Civilização - A Política da Terceira Onda, TRAD. ALBERTO LOPES, Rio de Janeiro, Editora Record, 1996, 142 p. WOERNER, JOACHIM, Marketing Para Todos, TRAD. ERIKA E. PATSCH, São Paulo, Editora Summus, 1997, 197 p.