17 Julho O ÔNIBUS E EU POSTADO POR ADMIN ÀS 09:38 Por Sérgio Roxo da Fonseca* Ônibus é um vocábulo que, sem dar muita cambalhota, veio para o português quase diretamente do latim. E na antiga Roma não havia ônibus, com acento. Originariamente é uma das formas da palavra omnis, que pode significar todo. Conheci uma loja batizada com o nome de Omni palavra que pode ser traduzida como de tudo, o que faz supor que ali os fregueses encontravam de tudo um pouco. Omni está no genitivo. Mas o que é genitivo? O romano usava pouquíssimas preposições, portanto, sua língua era mais sintética do que o português. Se quisesse falar da Rosa como sujeito da frase, diria Rosa. Ao contrário, se Rosa fosse o objeto direto, como Amo a Rosa, os romanos diriam Amo Rosam. Se um objeto era da Rosa, usavam o genitivo, como ao falar que a mesa era da Rosa, então era pronunciado Mensa est Rosae. O latim era uma língua sintética e extremadamente lógica. O português é um dos seus filhos porém mais analítico e muitas vezes distante da lógica aristotélica. E o ônibus com isso? Omnibus, sem acento, é o ablativo plural de omnis. Portanto, se omnis significa todo, omnibus, sem acento, significa para todos. Calculem se um usuário tivesse que entender uma língua morta para tomar um ônibus, com acento e, muitas vezes, sem assento! Seria difícil. Muito difícil! Muitas vezes subo no ônibus, com acento e assento, sem saber o que ele significa e se está me levando para o céu ou para o inferno. Mas no passado exigia-se principalmente dos juristas e dos médicos algum conhecimento da língua latina. Qual a razão? Nós frequentemente usamos uma língua natural, viva e incerta. Os juristas e os médicos, principalmente, ate hoje se valem também de uma linguagem artificial que confere precisão ao seu conhecimento. Os médicos falam em vírus, suponho para designar uma das várias espécies dos micro-organismos. Por sua vez, os juristas romanos afirmavam que pater is est quem justae nuptiae demonstrant para dizer que o pai é incerto porque é identificado pelo casamento: pai é o marido da mãe do filho. Ao contrário, mater semper certa est, ou seja, a mãe é sempre certa. Para o direito antigo era. Para o direito de hoje, nem sempre. Tem o DNA palavra adotada de outra linguagem tão ou mais difícil do que o latim e o português. Roma deixou de ser o centro do mundo. Ele passou a ser administrado por Nova York, a nova Roma. Daí o latim estar sendo substituído pelo inglês. Nestes dias, testemunhei a celebração de um casamento numa igreja católica. As músicas tocadas e cantadas, algumas delas exigindo alguns belíssimos requebros dos presentes, eram norte-americanas. Nada do cantochão de antigamente. Se o latim já era uma língua morta, agora está sendo enterrado sem choro e sem velas. Será possível? Não será possível. A estrutura do latim sobrevive na linguagem dos computadores que são máquinas lógicas ou melhor tautológicas. Mas, para que saber isso? Sei eu lá. * Sergio Roxo é Procurador de Justiça e professor da Unesp (aposentado)