medicamentos de venda livre e o uso racional

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FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS E O ATENDIMENTO AOS
CASOS DE GRIPE:
medicamentos de venda livre e o uso racional
Natália Vasconcelos Silva de Brito*
Elias Borges do Nascimento Júnior**
RESUMO: A gripe e o resfriado são infecções respiratórias agudas. Doenças de origem viral que acometem principalmente as vias aéreas superiores, podendo
causar cefaléia, mialgia e febre. São diagnosticadas pelo quadro clínico e tratadas, basicamente, com medicamentos de venda livre. Os medicamentos de
venda livre podem ser propagandeados para a população leiga por vários meios de comunicação, o que produz um aumento no consumo desses medicamentos e consequentemente o aumento do número de intoxicações por fármacos. O objetivo deste trabalho é mostrar a importância do papel do farmacêutico na
orientação aos pacientes que fazem uso de medicamentos de venda livre para favorecer o uso racional desses fármacos, e também, a importância de propiciar
treinamento adequado aos funcionários, para que estes também sejam fonte de informações corretas.
PALAVRAS-CHAVE: Gripe; resfriado; medicamento de venda livre; uso racional de medicamentos; propaganda de medicamentos, indicação farmacêutica.
INTRODUÇÃO
espirros e coriza (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003;
As causas mais frequentes de infecções das vias aéreas
MASSUNARI, et al., 2004).
estão relacionadas à gripe e ao resfriado. Essas doenças têm
A gripe e o resfriado são diferenciados pelo quadro clínico. As
distribuição global, elevada transmissibilidade e possuem mar-
manifestações sistêmicas são mais intensas na gripe, tornando
cada sazonalidade. Podem ser causados por vários agentes
os sintomas de vias aéreas, sintomas que mais incomodam no
virais, por exemplo: Influenza, rinovírus, coronavirus, adeno-
resfriado, problemas secundários (PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
vírus, entre outros (CASTRO, 2008; CAMPAGNA, et al., 2009;
MASSUNARI, et al., 2009).
Essas doenças têm curso benigno, todavia, os idosos,
crianças, indivíduos imunocomprometidos e portadores de do-
Segundo o Centers for Disease Control and Prevention
enças crônicas podem desenvolver complicações como pneu-
(CDC) 60 milhões de pessoas ficam gripadas ou resfriadas por
monias virais e bacterianas, além de descompensação de do-
ano nos Estados Unidos, e dessas, 25 milhões procuram aten-
enças pré-existentes que necessitem de internação hospitalar
dimento médico. Estima-se que, anualmente, cerca de 10% da
(CASTRO, 2008).
população mundial apresenta um episódio de Influenza (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
A gripe causa 25 milhões de consultas médicas anuais,
centenas de milhares de internações e vários dias de trabalho
O principal agente etiológico da gripe é o vírus Influenza.
perdidos, o que gera um grande impacto econômico estimado
Esses vírus sofrem mutações sazonais facilmente, o que gera
em 12 bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos (MASSU-
ausência de imunidade duradoura. O resfriado comum é cau-
NARI, et al., 2004).
sado principalmente pelo rinovírus (30 a 50%), que também
O tratamento da gripe e do resfriado consiste em minimizar
sofre mutações com facilidade. A existência de mais de 100
os sintomas, pois como é uma doença autolimitada, o próprio
sorotipos de rinovírus também dificulta a produção de vacinas
corpo pode destruir o vírus. Os medicamentos indicados nesse
eficazes (CASTRO, 2008; MASSUNARI, et al., 2004; FORLEO-
tratamento são chamados “medicamentos para o tratamento
NETO, et al., 2003).
sintomático da gripe”, já que o termo “antigripal” é utilizado
O quadro de sintomas mais frequente da gripe é febre,
para denominar medicamentos antivirais, que interferem na
calafrios, cefaleia, tosse seca, dor de garganta, congestão na-
multiplicação dos vírus como, por exemplo, os inibidores da
sal ou coriza, mialgia, anorexia e fadiga. Em adultos e crianças
neuraminidase, ou métodos de imunização, como as vacinas
saudáveis, a doença pode durar de uma a duas semanas. O
(MASSUNARI, et al., 2004).
resfriado causa dor e desconforto faríngeo, congestão nasal,
Existe uma grande variedade de medicamentos cuja pro-
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posta é aliviar os sintomas dessas doenças. As classes mais
DESENVOLVIMENTO
utilizadas são: descongestionantes de uso tópico ou sistêmico;
A GRIPE E O RESFRIADO
expectorantes/mucolíticos; antitussígenos; antipiréticos; medicamentos para cefaleia; vitaminas e outros (BRICKS, 1995).
A gripe e o resfriado fazem parte do grupo de Infecções
Respiratórias Agudas (IRA) que são as principais causas de
Por ser uma doença comum na população, algumas pesso-
morbidade e mortalidade no mundo. A Organização Mundial de
as não procuram ajuda médica e instituem seu próprio tratamen-
Saúde (OMS) estima que as IRA causem quatro milhões de óbi-
to. Tratamentos estes feitos à base de medicamentos para alívio
tos por ano no mundo (FARHAT, et al., 2002).
dos sintomas. De fácil acesso, eles despertam nos pacientes/
Ambas apresentam curso benigno, na maioria das vezes.
clientes a falsa crença de que são totalmente seguros e não tra-
O próprio corpo é capaz de eliminar o vírus entre 3 e 10 dias. A
zem malefícios à saúde (BRICKS, 1995).
gripe tem duração média de uma a duas semanas, os resfriados
Por esse motivo, é necessário que o farmacêutico esteja
preparado para intervir e orientar pacientes que procurem por
esses medicamentos nas farmácias. O farmacêutico
de 7 a 10 dias, quando não há complicações (CASTRO, 2008;
FORLEO-NETO et al., 2003).
deve
realizar ações que favoreçam a utilização correta do fármaco.
grande número de pessoas infectadas causa várias consultas
Existe a dificuldade de o farmacêutico atender a todos os
mento e hospitalização em casos mais complicados, e indiretos
pacientes que chegam à farmácia, portanto ele deve contemplar
Mesmo sendo doenças comuns e de bom prognóstico, o
médicas e um grande consumo de recursos diretos, com o tratacomo faltas no trabalho e na escola (CASTRO, 2008).
informações pertinentes aos casos de medicamentos de venda
Um entre dez adultos apresenta a infecção por ano. A inci-
livre nos treinamentos dos seus funcionários, sempre chamando
dência, relatada por clínicas, é de mais de 30% da população
sua atenção para que nos casos mais complicados procurem
pediátrica atendida, contudo a maior taxa de mortalidade ocorre
seu auxilio. Assim o farmacêutico estará, de fato, atuando em
em idosos, 10.000 a 40.000 óbitos nos EUA, em cada época
busca do uso racional destes medicamentos.
sazonal da doença (MASSUNARI, et al., 2004).
O objetivo deste trabalho é esclarecer a importância da inte-
Os grupos mais susceptíveis a complicações causadas por
ração e intervenção do farmacêutico com o paciente na farmácia
gripes e resfriados que levam a hospitalização e até óbito, são
comunitária, visando promover o uso racional dos medicamen-
idosos, portadores de doenças cardiopulmonares, indivíduos
tos indicados para tratamento sintomático da gripe como estra-
imunossuprimidos, gestantes, portadores de doenças metabóli-
tégia para minimizar intoxicações e efeitos adversos causados
cas e crianças de até um ano (FARHAT, et al., 2002).
Esses grupos de risco são os que mais necessitam de in-
por esses fármacos.
ternação, sendo eles os que contam mais no número de óbitos
MÉTODO
por gripes e resfriados no mundo, esses grupos de risco são
Pesquisa bibliográfica não sistemática utilizando a Bibliote-
os mais propensos a contrair infecções bacterianas, pneumonia
viral e/ou bacteriana além do risco de descompensação de do-
ca Virtual em Saúde e o portal Capes.
Os descritores utilizados na busca foram: gripe, resfriado
enças pré-existentes. Essas populações são normalmente alvo
comum, gripe humana, infecção respiratória aguda, tratamento
de políticas pró-imunização e de prevenção (CASTRO, 2008;
da gripe, medicamentos para gripe, prevenção da gripe, me-
FORLEO-NETO et al., 2003).
dicamentos de venda livre, transtorno menor, automedicação,
propaganda de medicamentos, uso racional de medicamentos,
indicação farmacêutica e prescrição farmacêutica.
INFLUENZA – O AGENTE CAUSADOR DA GRIPE
O principal causador da gripe é o vírus Influenza. Ele per-
O critério de inclusão dos artigos foi: a disponibilidade do
tence à família Orthomyxoviridae. São vírus que possuem como
texto na íntegra, o tema principal (gripe e resfriado comum) e
material genético uma fita simples de RNA e são envelopados
os artigos que priorizavam discussões acerca do tratamento e
(CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
prevenção de gripes e resfriados. Foram excluídos os artigos
que abordavam as gripes suína e aviária como tema principal.
Não houve critério de exclusão referente à utilização de
apenas artigos científicos. Alguns textos de opinião e editoriais
também foram selecionados para análise. Foram excluídos os
artigos com conflito de interesse declarado.
Existem três sorotipos do vírus Influenza: A, B e C, sendo
que apenas os sorotipos A e B causam doenças em humanos.
Os vírus do sorotipo A também infectam outros animais, como
porcos e aves (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
O principal causador de epidemias e pandemias em humanos é o vírus do sorotipo A. Os vírus deste sorotipo apre-
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sentam maior variação que os outros sorotipos e são dividi-
1), a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). No total, foram iden-
dos em subgrupos, essa divisão é realizada com base nas
tificados 15 hemaglutininas e 9 neuraminidases em várias espécies
diferenças das glicoproteínas da membrana viral (CASTRO,
animais, apenas três hemaglutininas (H1, H2 e H3) e duas neurami-
2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
nidases (N1 e N2) foram identificadas em vírus infectando humanos
Existem duas glicoproteínas marcadoras desse sorotipo (FIG.
(CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
A imunidade contra esses vírus é gerada pela produção
RNA, assim inicia-se o processo de replicação do RNA viral e
de anticorpos específicos para essas proteínas de membra-
produção de proteínas virais (ALMEIDA, et al., 2009).
nas. O vírus Influenza tem alta capacidade de adaptação e
Após a replicação de RNA e a produção de novas proteí-
durante a fase de replicação podem ocorrer mutações nas
nas acontece a germinação dos novos vírus e a sua liberação,
principais proteínas de membrana H e N (FORLEO-NETO, et
intermeada pela proteína Neuraminidase que rompe a ligação
al., 2003).
entre os vírions recém-formados e o ácido siálico (ALMEIDA,
O vírus Influenza penetra nas células epiteliais colunares
et al., 2009).
que revestem o trato respiratório através da interação entre
O processo de reprodução dura de 1 a 4 dias (FIG. 2).
Hemaglutinina e o ácido siálico, receptor presente na célula
Após este período de incubação, os vírus se misturam no
hospedeira. Após a entrada do vírus o canal iônico M2 permi-
muco e estão prontos para serem espalhados (FORLEO-NE-
te a acidificação do núcleo viral para que haja a liberação do
TO et al., 2003).
As epidemias de Influenza são geradas pela ocorrência des-
nova epidemia de Influenza, principalmente durante o inverno,
sas pequenas mutações que produzem mudanças pontuais em
quando o ar está mais seco e o tempo frio faz com que as pes-
aminoácidos das glicoproteínas, principalmente na hemaglutini-
soas fiquem mais próximas e com o ambiente mais fechado,
na, essas pequenas mutações chamadas drifts tornam o vírus
o que facilita a disseminação e infecção pelo vírus (FORLEO-
resistente aos anticorpos produzidos por infecções prévias e/ou
NETO, et al., 2003).
vacinação (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
Foi observado que a cada período de 1 a 3 anos surge uma
Existem mutações onde há uma maior variação no material genético dos vírus como, por exemplo, a substituição de um
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segmento completo do genoma viral que produz uma nova proteína de membrana, essas mutações são chamadas shifts e são
sintomas é de dois a três dias (CASTRO, 2008).
Transmissão, contágio e sintomas de gripes e resfriados.
as causadoras das pandemias. Casos de pandemias são mais
A maneira como os vírus causadores de resfriados e gri-
irregulares, estima-se que elas ocorram a cada 30 ou 40 anos
pes contaminam as pessoas é basicamente a mesma. O doente
(FORLEO-NETO, et al., 2003).
transmite o vírus por aerossóis produzidos por espirros, tosses
Essas variações são geradas pela recombinação do mate-
e até pela fala. O potencial de transmissão é aumentado quan-
rial genético de vírus que infectam humanos e vírus que infectam
to mais fechado for o ambiente em que o doente se encontra.
outros animais, nesses casos um vírus que causaria doenças
(FORLEO-NETO et al., 2003; CASTRO, 2008; PITREZ, P.; PI-
apenas em animais torna-se capaz de infectar os humanos
TREZ, J., 2003).
(FORLEO-NETO, et al., 2003).
Outra forma de transmissão é o contato direto do indivíduo
Nos casos de grandes mutações, a maioria da população
sadio com secreções ou objetos contaminados, em que ocorre
não tem imunidade nenhuma contra esses novos vírus então, a
a auto-inoculação do vírus, ao levar a mão à boca ou coçar os
doença é disseminada rapidamente e dependendo da virulên-
olhos (CASTRO, 2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
cia da cepa pode causar milhões de mortes (CASTRO, 2008;
FORLEO-NETO, et al., 2003).
O auge da capacidade de transmissão do vírus está compreendido entre 24 horas antes do início dos sintomas e até dois
A maior pandemia de gripe que se tem notícia ocorreu em
dias após o início do período sintomático.
Existe uma
1918 e foi chamada Gripe espanhola. A letalidade da doença foi
preocupação maior com a população de crianças doentes, pois
atribuída principalmente às infecções bacterianas que se insta-
já foi observado que elas transmitem o vírus por mais tempo que
laram na população já debilitada pela fome e pelas condições
os adultos (CASTRO, 2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
insalubres de vida (GÉRVAS, 2009).
Os sintomas de gripes e resfriados são parecidos. Os qua-
Outros casos recentes são a gripe aviária de 2005 e a gripe
dros sem complicações apresentam sinais e sintomas caracte-
suína de 2009 que causaram pânico na população mundial. A
rísticos, como, cefaleia, tosse seca, dor de garganta, conges-
previsão da OMS era que sete milhões de pessoas morreriam
tão nasal ou coriza, mialgia, anorexia e fadiga (CASTRO, 2008;
em decorrência da pandemia de gripe aviária, no entanto o nú-
FORLEO-NETO et al., 2003).
mero de óbitos foi bem menor, 262 (GÉRVAS, 2009).
A febre alta (entre 38 a 40ºC, com duração de um a três
Observando isso conclui-se que não se deve alarmar a po-
dias, pico nas primeiras 24 horas) é característica da gripe, já o
pulação com informações iniciais e tratar a gripe corretamente
resfriado pode apresentar um estado febril, ainda assim muito
com boa alimentação, repouso, reposição hídrica, boa higiene
menos intenso (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO et al., 2003).
e, no caso de sintomas mais graves, buscar ajuda médica (GÉRVAS, 2009).
O resfriado tem quadros nasofaríngeos muito relevantes
como: dor e desconforto faríngeo, congestão nasal, espirros
e coriza, onde a secreção nasal pode se tornar espessa e até
RINOVÍRUS – PRINCIPAL CAUSADOR DOS RESFRIADOS
Existem vários vírus capazes de causar o resfriado comum.
purulenta, o que não significa necessariamente contaminação
bacteriana (CASTRO, 2008).
O parainfluenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus e entero-
Esse quadro é causado principalmente pelas alterações in-
vírus são agentes causadores de resfriado comum. Juntos eles
flamatórias que a entrada dos vírus causa. Primeiramente esse
respondem por cerca de 20% dos casos de resfriados. Contudo,
processo inflamatório aumenta a permeabilidade dos vasos e
os quadros gerados por esses vírus têm uma variedade maior
isso gera a congestão nasal e a coriza, que no início tem aspecto
de sintomas e gravidade (CASTRO, 2008).
aquoso (CASTRO, 2008).
Os rinovírus pertencem à família Picornaviridae e são do
A reação inflamatória também compromete o funcionamen-
gênero Enterovírus. São os maiores causadores de resfriado
to do aparelho mucociliar gerando um acúmulo de muco nos
comum, respondem sozinhos por 30 a 50% dos casos. Existem
seios da face o que aumenta a viscosidade da coriza, podendo
três espécies de rinovírus que infectam humanos, HRV-A, HRV-B
ela adquirir aspecto purulento, sendo até confundida com sinu-
e HRV-C, e mais de 100 sorotipos foram identificados (CASTRO,
site bacteriana (CASTRO, 2008).
2008; FRY et al., 2011).
O acúmulo do muco nos seios da face e o comprometi-
O quadro de sintomas gerado pela infecção por rinovírus é
mento do aparelho mucociliar, que também compromete a tuba
geralmente o mesmo, baixa intensidade e restritos ao trato res-
auditiva, cria uma condição ideal para o aparecimento de infec-
piratório superior, o tempo de incubação até o aparecimento dos
ções bacterianas, sinusite e otite média aguda (CASTRO, 2008).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 249
DIAGNÓSTICO DE GRIPES E RESFRIADOS
sam ser modificadas, pois o vírus da gripe sofre mutações que
A identificação do vírus só é necessária em situações de
precisam ser atualizadas para que a vacina seja eficaz. Ela é
epidemias, pois as autoridades sanitárias podem utilizar infor-
composta basicamente por três cepas, duas do sorotipo A
mações sobre a área de aparecimento do vírus para melhor con-
(H1N1 e H3N2) e uma do sorotipo B (FARHAT et al., 2002; AL-
trole ou prevenção da epidemia. As técnicas de detecção são:
MEIDA et al., 2009).
cultura de swab com secreção nasal, testes imunoenzimáticos
A vacinação deve ocorrer sempre na época que precede
e a pesquisa do vírus com técnicas de biologia molecular (CAS-
o inverno. É aprovada para indivíduos acima de seis meses
TRO, 2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
de vida e no Brasil ela é gratuitamente distribuída para idosos,
Na prática, o diagnóstico da gripe é feito apenas com base
crianças, grávidas, portadores de doenças crônicas, indivíduos
no quadro clínico, porém, existe certa dificuldade em relação a
imunocomprometidos e profissionais da área da saúde (ALMEI-
esse diagnóstico. Os sintomas apresentados não são totalmen-
DA et al., 2009).
te específicos e a gripe e o resfriado podem ser confundidos
Alguns autores acreditam que a eficiência da vacina é ques-
com doenças bacterianas como, por exemplo, sinusite ou farin-
tionável, pois a proteção conferida por ela é bem limitada. Em
goamigdalite, essa dificuldade acaba gerando um excesso de
crianças e adolescentes sua efetividade é de apenas 33% e inútil
prescrições de antimicrobianos (PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
em menores de dois anos e a eficácia em adultos e idosos não
A própria diferenciação entre gripe e resfriado é complicada.
é comprovada (GERVÁS, 2009; RIERA, 2009)
O que ajuda a distinguir uma doença da outra é a intensidade
Outra medida de prevenção é a higiene adequada. Lavar
de alguns sinais e sintomas. A mialgia, febre, e a prostração são
as mãos com água e sabão sempre que usar o banheiro, quan-
muito mais intensas na gripe. No resfriado, a coriza, dor de gar-
do chegar da rua e antes de se alimentar, ou usar álcool gel.
ganta e congestão nasal incomodam mais o doente (CASTRO,
Evitar levar as mãos ao nariz ou coçar os olhos, quando tossir,
2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
cobrir a boca (de preferencia com um lenço descartável), evitar
Algumas informações como a situação da circulação do ví-
contato próximo com doentes, e quando doente usar mascara
rus da gripe nas comunidades e informes sobre epidemias de
cirúrgica simples e evitar o contato com pessoas sadias para
gripe podem ajudar no diagnóstico (FORLEO-NETO et al., 2003).
não contaminá-las (CDC, 2011; ALMEIDA et al., 2009; RIERA,
2009, GERVÁS, 2009).
PREVENÇÃO E TERAPIA NÃO FARMACOLÓGICA PARA GRIPE E RESFRIADO
O CDC ainda recomenda que quando o indivíduo contrair
gripe deve procurar o médico para ver a possibilidade de utilizar
O farmacêutico é parte importante da equipe multidisciplinar
um medicamento antiviral. Esse método, seja para tratamento
de atendimento a saúde, seu papel nesta equipe é informar o
ou prevenção, é duvidoso e não apresenta boa relação risco/
paciente e esclarecer qualquer dúvida que ele tenha quanto a
beneficio, pois reduz pouco os dias de doenças e frequente-
sua terapia que não é composta apenas de fármacos, medidas
mente causam efeitos adversos como vômitos e até alterações
não farmacológicas e de prevenção também fazem parte do tra-
neuropsiquiátricas (CDC, 2011; GERVÁS, 2009).
tamento para buscar e manter a saúde (GALATO, et al., 2009).
Os medicamentos utilizados neste caso são de dois tipos,
Pensando em um possível atendimento o farmacêutico
um bloqueador de canal iônico M2 (impede a liberação do RNA
deve ter o conhecimento das medidas não farmacológicas e de
viral), no entanto estes fármacos não são boa escolha, pois o
prevenção de gripes e resfriados para que possa orientar ade-
desenvolvimento de resistência a ele é comum, até um terço da
quadamente o paciente.
população tratada. Outro medicamento é o inibidor da neurami-
As maneiras de prevenção da gripe são simples. Segundo
nidase (necessária para liberação dos novos vírus) que podem
o CDC, a primeira providência é a vacinação. A vacina é uma
diminuir o tempo de doença, e consequentemente evitar com-
maneira de adquirir imunidade contra o vírus, assim quando o
plicações. Esses medicamentos são opções no tratamento de
organismo entra em contato ele já tem anticorpos para combater
pessoas com grande risco de complicações, porém, só podem
a doença (CDC, 2011).
ser usados se prescritos por um médico (CDC, 2011; ALMEIDA
No Brasil a vacinação é o principal método de profilaxia da
et al., 2009).
gripe e está relacionada com a diminuição dos casos de com-
As medidas não farmacológicas indicadas em casos de gripes
plicações como infecções bacterianas e pneumonias, principal-
e resfriados são: reposição hídrica, repouso e boa alimentação. Es-
mente em idosos (FARHAT, et al., 2002; ALMEIDA, et al.).
sas medidas ajudam no fortalecimento do corpo e do sistema imu-
Um inconveniente das vacinas é que todo ano elas preci-
nológico, que poderá destruir o vírus (CDC, 2011; GERVÁS, 2009).
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A febre pode ser combatida, juntamente com o tratamento
farmacológico, utilizando compressas de água fria ou banhos
frios, que favorece o aumento da velocidade de redução de temperatura corporal (WANNMACHER; FERREIRA, 2004)
acetilsalicílico relacionado a síndrome de Reye em crianças (USPDI, 2006; BRICKS, 2000).
O trabalho do farmacêutico é realizar uma anamnese que
possa identificar os casos que necessitem de atenção especia-
O farmacêutico deve sempre orientar sobre essas medidas
lizada. Para os casos que podem ser atendidos na farmácia ele
não farmacológicas, pois elas ajudam no fortalecimento do corpo
deve indicar o tratamento e orientar o paciente, para que este faça
e na recuperação, para que a doença seja menos grave e dure
o uso correto da medicação e também das medidas não farma-
menos tempo.
cológicas.
TRATAMENTO DE GRIPES E RESFRIADOS
for Responsible Self-medication (TESEMED), criado na Europa,
Através do programa Telematics in Community Pharmacies
O que se trata da gripe são os sintomas, entretanto nem to-
foram publicados vários protocolos para atendimento de trans-
dos os indivíduos que apresentem sintomas da gripe podem ser
tornos menores, entre eles o de gripes e resfriados (FIG. 3). O
tratados sem antes se consultar com um médico. Alguns casos
protocolo original foi modificado para melhor entendimento das
são complicados e necessitam de atenção médica, principalmen-
informações.
te os idosos e as crianças.
Neste protocolo estão informações importantes que o farma-
Os medicamentos de venda livre (paracetamol, ácido ace-
cêutico deve conseguir durante a anamnese quando um indivíduo
tilsalicílico, ibuprofeno, entre outros) são seguros se utilizados
procura a farmácia para tratar da gripe ou resfriado. São detalhes
da maneira correta, contudo, a maioria deles não foi submetida
que podem garantir a utilização segura dos medicamentos sem
a estudos que comprovem sua eficácia e segurança em certas
maiores complicações.
populações, por exemplo, crianças (BRICKS, 1995).
Se o quadro clínico do indivíduo for considerado um mal me-
Muitos indivíduos necessitam de ajustes de doses, como ido-
nor, caracterizado com auxílio do protocolo, o farmacêutico deve
sos, crianças e portadores de doenças hepáticas ou renais ou o
indicar o tratamento necessário para melhorar os sintomas do in-
próprio medicamento pode ser capaz de causar efeitos indeseja-
divíduo. Cada caso é particular e merece atenção diferenciada.
dos, como a dipirona suspeita de causar agranulocitose e o ácido
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 251
Tratamento farmacológico dos sintomas de gripes e resfriados –
associações de fármacos e medicamentos de venda livre
no Brasil é a RDC nº 138 de 2003. Nesta resolução estão descritos todos os grupos de indicações terapêuticas que podem
O tratamento farmacológico da gripe consiste no uso de
ser vendidos sem prescrição, entre eles os anti-histamínicos,
medicamentos que diminuem os sintomas (febre, coriza, mial-
analgésicos, antipiréticos, e descongestionantes nasais, xa-
gia, cefaleia, entre outros). Existe uma classe de medicamen-
ropes mucolíticos, expectorantes e antissépticos bucais, que
tos para este fim que, normalmente, são associações entre fár-
são empregados no tratamento sintomático da gripe (ANVISA,
macos com atividades distintas, onde cada um age sobre um
2003b).
sintoma. Essas associações são reguladas pela RDC nº 40 de
Conhecer as características farmacológicas desses medi-
2003. As principais regras desta RDC estão resumidas em uma
camentos é importante para saber quais riscos os pacientes
tabela no Anexo A.
estão expostos quando utilizam o medicamento. Contra indica-
Também podem ser utilizados medicamentos contendo
ções, interações, reações adversas, dose e duração do trata-
um único fármaco, normalmente são analgésicos e antipiréti-
mento são informações básicas que devem ser informadas ao
cos cuja segurança foi considerada satisfatória. Esses medi-
paciente no momento da dispensação.
camentos são comercializados sem a obrigação da prescrição
médica, ou seja, são de venda livre (BRICKS, 1995).
Alguns exemplos de riscos com medicamentos comumente
utilizados para sintomas de gripes estão resumidos na Tabela 1.
A legislação que controla os medicamentos de venda livre
O paracetamol, fármaco considerado seguro, pode ser al-
causar riscos à saúde do usuário, contudo são seguros se usa-
tamente tóxico quando tomado em superdose (4 gramas ou 8
dos corretamente. O objetivo de existir medicamentos de venda
comprimidos de 500mg), concomitante ao uso de bebidas al-
livre parte do princípio que cada pessoa exerce um autocuidado
coólicas e inibidores enzimáticos ou em indivíduos com função
(International Pharmaceutical Federation – FIP, 1996).
hepática comprometida (SWEETMAN, 2007; USP-DI, 2006).
A automedicação é reconhecida pela OMS como parte do
A dipirona, largamente utilizada no Brasil, foi proibida em
autocuidado e quando realizada de maneira correta pode be-
vários países da Europa e nos EUA, pois nesses países eles
neficiar a saúde do individuo e reduzir custos para o governo
consideram que os efeitos adversos causados pela substância
(GALATO, et al., 2009).
(agranulocitose e outros) superam os seus benefícios (SWEETMAN, 2007; USP-DI, 2006).
O processo de autocuidado e a automedicação
No Brasil a dipirona ainda não foi retirada do comércio,
O autocuidado não se resume apenas a automedicação,
possivelmente porque não se constatou número relevante de
ações pró-saúde como a prática de exercícios físicos, a boa ali-
agranulocitose em nossa população que justifique a retirada de
mentação, o consumo moderado de álcool e o não consumo de
um medicamento de comprovada eficácia. Entretanto como a
cigarros e drogas ilícitas, também são partes do autocuidado e
agranulocitose é uma doença rara, mas perigosa o seu uso é
são incentivadas pelos governos, pois gera uma redução nos
desaconselhável em pacientes com dor moderada e que podem
custos de atendimento médico para a população (FIP, 1996).
fazer uso de outros medicamentos com efeitos adversos mais
previsíveis e evitáveis (WANNMACHER, 2005).
Concluímos que os medicamentos de venda livre podem
Com o passar dos anos as populações têm estado cada vez
mais informadas, contudo, às vezes, não o suficiente para realizar a automedicação sem nenhuma orientação, é neste contex-
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to que entra o conceito de automedicação responsável. Segundo
A resolução que trata do controle da propaganda no Brasil
a Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA)
é a RDC nº 96 de 2008 da ANVISA, que substitui a antiga RDC
cerca de 80 milhões de brasileiros já eram adeptos da automedica-
nº 102 de 2000, que era considerada uma tentativa frustrada
ção na década de 90 (BORTOLON et al., 2007).
de regular a propaganda de medicamentos. Alguns aspectos
Uma pesquisa sobre o perfil da automedicação no Brasil realizada no ano de 1997 revelou que 17,3% dos medica-
podem ter melhorado, contudo a nova regra ainda apresenta
algumas falhas (NASCIMENTO, 2007).
mentos utilizados em automedicação são analgésicos, 7,1%
Inicialmente a frase obrigatória na RDC nº 102/00 para to-
descongestionantes nasais, 5,6% antiinflamatórios, 3,8% pre-
das as peças, “ao persistirem os sintomas o médico deverá
parados para tosse e resfriado e 4,0% anti-histamínicos de uso
ser consultado”, foi substituída por: “Esta substância é um me-
sistêmico (ARRAIS, et al., 1997).
dicamento. Seu uso pode trazer riscos. Procure o médico e o
Todos esses fármacos podem ser utilizados no tratamento
farmacêutico, leia a bula” (ANVISA, 2008).
sintomático da gripe e neste estudo representaram um total de
A frase da RDC 102/00 levava a entender que o médico era
37,8% de todos os medicamentos utilizados sem prescrição
uma parte supérflua no processo de medicação e incentivava o
médica na pesquisa.
consumo do medicamento (NASCIMENTO, 2007).
Do total de casos de intoxicação no Brasil 28% são into-
A frase da RDC 96/08 traz o alerta de que o uso do produto
xicações medicamentosas. Os campeões de eventos de in-
traz riscos, mesmo sendo de venda liberada, e inclui também a
toxicação são: benzodiazepínicos, antidepressivos, antiinfla-
figura do farmacêutico, como profissional apto a informar, além
matórios e os medicamentos para alívio sintomático da gripe.
de incentivar a leitura da bula.
Segundo a ANVISA o uso incorreto de medicamentos leva um
Uma obrigação importante que foi adicionada à nova legis-
paciente ao hospital com quadro de intoxicação a cada 20 se-
lação, referente aos medicamentos de venda isenta de prescri-
gundos (BORTOLON et al., 2007).
ção, obriga que algumas substâncias tenham uma advertência
O farmacêutico é o profissional apto a informar e orientar
a automedicação para que ela seja de fato responsável, com o
específica vinculada a propaganda. Alguns exemplos podem
ser observados na tabela do Anexo B (ANVISA, 2008).
medicamento certo, na dose certa, horário certo, pela via cer-
Outras regras para a propaganda de medicamentos em
ta, inclusive orientar o paciente a consultar um médico quando
geral e os de venda livre da RDC nº 96/08 estão resumidas
necessário (FIP, 1996).
na tabela do Anexo C, sendo que o artigo 26 trata apenas de
A propaganda como inimiga da automedicação responsável
medicamentos de venda livre.
Existe uma lacuna na relação entre farmacêutico e pacien-
Uma pesquisa analisou 100 peças publicitárias de medi-
te. Por várias vezes o farmacêutico não está disponível para
camentos quando a RDC nº 102/00 foi publicada. Dentre as
cumprir o papel de orientar e a população sequer requisita sua
peças, 12 eram de analgésicos, 12 medicamentos para gripe, 9
presença para sanar suas dúvidas e, além disso, existe um ini-
expectorantes ou antitussígenos, 6 antipiréticos, 3 desconges-
migo silencioso que compete contra a automedicação respon-
tionantes e 3 antiinflamatórios. Somando são 45 peças sobre
sável: as propagandas de medicamentos.
medicamentos que podem ser utilizados no tratamento dos
Os especialistas em marketing dizem que o objetivo da pro-
sintomas da gripe (NASCIMENTO, 2007).
paganda é aumentar o lucro da empresa. Pensando nesta ótica
O resultado da pesquisa mostra que todas as peças ana-
concluímos que o objetivo do marketing vai de encontro ao uso
lisadas apresentaram alguma irregularidade, fato este que
racional dos medicamentos (NASCIMENTO, 2007; 2010).
mostra o total desprezo das companhias farmacêuticas e das
O ponto crítico nesta situação é que um bem de saúde,
empresas de marketing pelas leis do país.
o medicamento, é reduzido a um bem de consumo, e o risco
Após a RDC 96/08 não foi realizada nenhuma pesquisa
existente está no fato de que as peças publicitárias enaltecem
deste tipo, e esse não é um dos objetivos deste trabalho, po-
os benefícios dos medicamentos e não citam os riscos e os
rém, podemos observar que algumas propagandas que estão
efeitos adversos que o medicamento pode causar. E ainda um
na mídia atualmente tem certa soberba e dão a entender que o
risco pela desinformação (SOYAMA, 2006).
medicamento é quase “mágico”. Alguns exemplos são (FIG. 4):
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As propagandas representadas na figura 4 (a) e (e) tra-
representam uma grande penalidade para as indústrias, compara-
zem como personagens de suas campanhas artistas de te-
do com os valores investidos nas campanhas. Foi constatado que
levisão, o que infringe o artigo 26, inciso III, da RDC nº96/08,
em um ano e meio de fiscalização pela ANVISA o valor das multas
que proíbe a utilização da figura de celebridades nas peças.
aplicadas não chegou nem ao valor de duas peças veiculadas na
A frase da antiga RDC 102/00 também não foi adaptada à
televisão em horário nobre (NASCIMENTO, 2007; 2010).
nova exigência.
A RDC 96/08 não especifica as multas que serão aplicadas,
A peça representada na figura 4 (d) mostra claramente a
mas tem que se levar em conta que a indústria farmacêutica investe
soberba das peças dizendo que o medicamento é santo. A pro-
de 15% a 20% do faturamento total com propaganda. Entre propa-
paganda da figura 4 (b) disfarçadamente sugere diagnóstico ao
gandas para o grande público e para profissionais que trabalham
perguntar se “é gripe”. Também em sua peça veiculada na tele-
com os medicamentos se gasta duas ou três vezes mais do que o
visão os atores espirram e tossem, ou seja, mostram sintomas
valor investido em pesquisa e inovações (SOYAMA, 2006).
de gripe e indicam seu medicamento para tratá-los.
Em todos os países existem uma ingênua e demasiada
A peça representada na figura 4 (c) traz a sugestão de diag-
crença da população no poder dos medicamentos e as empre-
nóstico e também emprega palavras, como, “tomou”, que mes-
sas de propaganda utilizam isso para estimular o consumo sem
mo não estando no imperativo, sugere que o medicamento é in-
orientação, e quanto maior esse consumo maior é o risco de
falível contra gripes e resfriados, indo contra o artigo 8, inciso VII.
intoxicações (ARRAIS, et al. 1997; LESSA; BOCHNER, 2008).
É possível observar também que nenhuma das peças in-
Segundo a OMS, 50% dos medicamentos são indicados, dis-
forma os efeitos adversos e contraindicações principais, logo,
pensados ou utilizados de maneira inadequada e esse fato pode
subentende-se que o medicamento não traz riscos.
gerar intoxicações e internações. De 15% a 20% do orçamento dos
As propagandas não têm o objetivo de informar, pois a
população desinformada é mais facilmente manipulada com
a ilusão de que a saúde pode ser comprada na farmácia
(NASCIMENTO, 2007).
Um problema remanescente da RDC 102/00 é que as peças
publicitárias só são avaliadas após a veiculação para a grande
hospitais são gastos no tratamento de indivíduos que usaram produtos farmacêuticos de maneira incorreta (SOYAMA, 2006).
Observamos então que a propaganda de medicamentos é
um grande problema a ser superado, principalmente no caso
dos medicamentos de venda livre, que inclui os medicamentos
para alívio sintomático da gripe.
massa. No caso de informações erradas ou incompletas é com-
O interesse das indústrias farmacêuticas, empresas de
plicado modificar a visão da população que já foi exposta ao
marketing, varejistas, donos de farmácias e de distribuidoras,
anúncio. A RDC 96/08 já prevê que sejam criadas mensagens
atualmente, é, somente, a acumulação de capital. Este interes-
retificadoras dos anúncios que descumprirem as regras, porém
se não deveria nunca sobrepor os interesses da saúde pública
esta é uma medida paliativa (ANVISA, 2000; 2008).
(NASCIMENTO, 2010).
Durante a vigência da RDC 102/00 as multas aplicadas nos
O farmacêutico deve ser mais atuante para corrigir informa-
casos de desobediência às regras eram valores ínfimos que não
ções dos clientes que sejam erradas ou incompletas e garantir
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o uso correto dos medicamentos, utilizando a educação como
Devido à dificuldade de se consultar pelo serviço público de
instrumento, fornecendo treinamentos e reciclagens periódicas
saúde (filas enormes), o tempo de espera para conseguir uma
aos seus funcionários, para que eles também sejam fontes de
consulta (pode chegar até meses), e a falta de recurso da maio-
informações corretas, e sempre que necessário estar disponível
ria da população, que dificulta pagar uma consulta particular, é
para esclarecer qualquer dúvida.
mais fácil e barato o individuo se automedicar que procurar por
um médico (AQUINO, 2008).
A consulta pública 01/10 do Conselho Federal de Farmácia (CFF)
Alguns países desenvolvidos já permitem que farmacêu-
O CFF, na busca de promover o uso racional dessas es-
ticos e até outros profissionais da saúde prescrevam medica-
pecialidades farmacêuticas de venda livre, lançou uma consulta
mentos, como é o caso do Reino Unido, desde 2003, Canadá,
pública em 2010. A consulta pública 01/10, que defende, princi-
Estados Unidos e Austrália (BONFIM, 2010).
palmente, que esses medicamentos passassem a ser vendidos
somente se “prescritos” por farmacêuticos (CFF, 2010).
O que deve ser feito é uma discussão mais prolongada sobre o assunto e a iniciativa de lançar uma consulta pública é
A consulta pública propõe que o farmacêutico indique os
justamente para colher opiniões e assim melhorar a ideia inicial.
medicamentos para tratar transtornos menores e essa indica-
A consulta pública 01/10 foi encerrada em abril de 2010 e
ção fica condicionada a análise do quadro clínico do paciente e
até hoje não houve novidades sobre o assunto. As propostas
exclusão de possíveis doenças mais graves, pois estas neces-
dos que participaram e enviaram suas opiniões ainda devem es-
sitam de assistência médica. A indicação de medicamentos de
tar sendo avaliadas.
tarja vermelha, que exigem prescrição médica, continua vedada
ao farmacêutico (CFF, 2010).
Em 2007 houve a criação do Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamentos, por recomendação
Toda a farmácia que prestar este serviço deverá criar os
da OMS, cujo objetivo era desenvolver ações que propiciassem
Procedimentos Operacionais Padrão (POPS) para o atendimen-
esse uso racional. Entre as medidas propostas está a de ampliar
to e adicioná-lo ao manual de boas práticas da drogaria. Outra
o acesso da população à assistência farmacêutica, educar a po-
proposição é que esta atividade seja restrita ao farmacêutico,
pulação, aumentar o controle da venda dos medicamentos com
sendo vedada a sua prática por balconistas (CFF, 2010).
e sem prescrição, incentivar a terapia não medicamentosa, entre
O farmacêutico também deve registrar e guardar todos os
outras atividades (AQUINO, 2008).
dados do paciente e do medicamento indicado em um docu-
Podemos pensar, então, que as propostas apresentadas na
mento que será chamado Declaração de Serviço Farmacêutico
consulta pública 01/10 vêm a corroborar com os objetivos do Co-
(DSF). Este documento deverá ser disponibilizado também para
mitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamen-
o paciente atendido (CFF, 2010).
tos e seria um avanço rumo ao uso racional de medicamentos.
É inviável armazenar todas as DSF em formato físico, seria
O maior controle sobre a venda de medicamentos isentos
necessário criar um sistema computadorizado que permitisse
de prescrição levaria o paciente a procurar pelo farmacêutico, e
esse armazenamento. Contudo programas de gerenciamento
quando procurado ele pode orientar a terapia não farmacológica
de dados tem um custo, que provavelmente os proprietários das
e medidas de prevenção de doenças, tornando o atendimento
farmácias preferem não ter.
um processo de educação. Se a utilização do medicamento for
Esta proposta privilegia a criação de serviços de atenção
farmacêutica nas drogarias, pois ajudaria a estreitar os laços entre farmacêutico e paciente, e o banco de dados gerados pelas
DSF ajudaria na confecção dos prontuários dos pacientes.
Uma dificuldade seria a fiscalização do serviço. Existem
necessária o farmacêutico fornecerá todos os detalhes da terapia
farmacológica minimizando os riscos para a saúde do paciente.
O uso irracional de medicamentos não acontece somente
com fármacos de venda livre. Existem outros pontos importantes
a serem observados.
poucos fiscais e a grande maioria de colaboradores em droga-
Os profissionais da área médica que já detêm o poder de
rias são balconistas, e não farmacêuticos. Assim seria compli-
prescrever, às vezes, instituem terapias medicamentosas sem
cado garantir que somente o farmacêutico, prestasse o serviço.
necessidade. Existem também casos de medicamentos pres-
É complicado afirmar o que aconteceria, teoricamente, se o
critos para fins errados, com esquema posológico inadequado,
serviço funcionasse como descrito na proposta seria um grande
além de prescrições de medicamentos mais caros.
passo rumo ao uso racional de medicamentos e uma grande
Essas atitudes têm origem na falta de informação, de re-
ajuda no sistema de atenção básica, pois nem todos os cida-
ferências confiáveis e na falta de ética, através do lobby feito
dãos têm acesso fácil a um médico.
pelas indústrias farmacêuticas, que oferecem amostras grátis,
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financiam congressos e cursos para os profissionais que prescreverem seus medicamentos (SOYAMA, 2006).
A falta de informação de profissionais, deficiências técnicas
para prescrever, questões relacionadas à educação da população e problemas relacionados à ética profissional merecem
atenção em estudos e discussões para buscar o uso racional de
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medicamentos no nosso país, estes tópicos não serão profundamente discutidos, pois não entram no escopo deste trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gripe e o resfriado são doenças comuns que afetam milhares de pessoas e mesmo sendo autolimitadas são capazes
de causar várias complicações e óbitos todos os anos. Por esta
razão não podem ser negligenciadas.
Essas doenças necessitam de atenção extra do farmacêutico por serem tratadas, principalmente, com medicamentos de
venda livre. Esses medicamentos são promovidos em vários
meios de comunicação para incentivar o consumo, mas quanto
maior o consumo de medicamentos maior será o número de
intoxicações causadas por eles.
Qualquer setor onde o farmacêutico está inserido o objetivo
do seu trabalho é garantir a saúde da população. Nas farmácias
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comunitárias o farmacêutico tem que assumir a tarefa de orientar
o paciente para colaborar com a diminuição dos casos de intoxicações por medicamentos, com o uso racional e com a busca
pela saúde.
Para assumir esta responsabilidade é necessário ter conhecimento científico sobre as doenças que ele venha a atender e
ter compromisso com a reciclagem e o aprendizado, pois no
campo da saúde surgem novidades todos os dias.
Todo medicamento vendido na farmácia é de responsabilidade do farmacêutico e qualquer problema que esse medicamento vir a causar, por falta de informação, irá gerar penas e
sanções ao responsável técnico.
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NOTAS DE RODAPÉ
*Aluna do curso de Farmácia do Centro Universitário
Newton Paiva
**Professor do curso de Farmácia do Centro Universitário
Newton Paiva
ANEXOS
ANEXO A: Tabela com as principais regras da RDC nº 40
gundo RDC nº 96
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ANEXO C: Tabela com as novas regras de propaganda para
medicamentos no Brasil
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