A Nova Gripe Francisco George O termo “pandemia”, como o próprio nome indica, refere-se a uma epidemia com expansão à escala pluricontinental. Mesmo que os sinais actuais representem um processo de ignição de nova pandemia de gripe, não é possível comparar a situação inicialmente identificada no México e nos Estados Unidos da América com outras pandemias que aconteceram no passado. O ano da constituição da Organização Mundial da Saúde, em 1948, sobrepõe-se, no tempo, ao estabelecimento de uma rede laboratorial que estuda a evolução da composição do vírus da gripe. Essa rede é constituída por laboratórios de virologia, altamente especializados, localizados nos dois hemisférios, designadamente em Atlanta, Tóquio, Londres e Melbourne. Estes laboratórios, apoiados pelo centro de veterinária em Memphis, e por uma rede de 90 centros nacionais que inclui o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, asseguram o acompanhamento da evolução da composição genética e antigénica deste vírus que circula, provavelmente desde sempre, alternadamente nos dois hemisférios durante os meses frios. Cada alteração major da composição do vírus, pode corresponder à emergência de um novo subtipo, que poderá ser seguida de uma pandemia. Estas epidemias de grande escala verificam-se tendencialmente a um ritmo variável de 2 a 3 por século. É verdade que as primeiras descrições remontam a 1580, apesar de só em 1933 ter sido estabelecida a origem infecciosa. O agente viral então identificado recebeu a designação de influenza, provavelmente em homenagem à antiga crença, apesar de errada, que eram os astros a influenciar a ocorrência de epidemias de grande escala. Estes elementos devem ser equacionados para compreender que os fenómenos epidemiológicos, no caso de gripe, não são, sublinhe-se, inesperados. Esta situação tem de ser socialmente aceite, para não gerar pânico. Faz por isso todo o sentido apelar à tranquilidade dos cidadãos.