escuta musical e sua importância na educação musical

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ESCUTA MUSICAL E SUA IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO
MUSICAL
Helcio de Lima Maroni *
Ailen Rose Balog de Lima†
Resumo:
Esse texto tem como objetivo discorrer brevemente sobre o que é escuta musical e a sua
importância para a educação musical. Uma vez que não temos controle sobre a audição
é o único sentido que não descansa, esse texto fala quais são os tipos de escuta, baseado
em um artigo das autoras Souza e Torres. Após falar dos tipos de escuta, o texto fala
sobre a escuta musical nos dias atuais, em que a tecnologia digital faz parte do nosso
cotidiano, tendo como referência o texto de Daniel Gohn, bem como o desenvolvimento
da apreciação musical. Conclui-se então que o acesso ao mundo musical, hoje é muito
fácil, porém nem sempre esse acesso é de qualidade, sendo assim é necessário, como
educadores musicais, desenvolver em nossos alunos a escuta musical.
Palavras-chave:
Musicalização.
Educação
Musical;
Apreciação
Musical;
Escuta
Musical;
INTRODUÇÃO
Temos o controle sobre todos os sentidos, exceto a audição. O paladar não é usado
a menos que ingerimos algo na boca; a visão é desativada quando fechamos nossos
olhos; o olfato pode ser interrompido ao taparmos o nariz ou quando prendemos a
respiração; o tato não é usado se não encostarmos em nada. Mas e a audição? Mesmo
se taparmos nossos ouvidos iremos ouvir sons, na melhor das hipóteses ouviremos
zumbidos, mas nunca deixaremos de ouvir, obviamente em condições normais e
saudáveis. De acordo com Souza e Torres (2009) há diversas maneiras de ouvir música,
que serão apresentadas, de forma breve, ao longo desse texto.
De acordo com Popolin (2010), é pressuposto que aprendizagem musical se dá
por meio de vivências musicais. Popolin (2010, apud Swanwick 2003) afirma que a
aprendizagem é fruto da vivência. De acordo com o mesmo educador, a vivência se dá
por meio da apreciação musical, ou seja, a escuta musical.
O autor ainda fala da proposta de ensino musical, desenvolvido por Swanwick
* Aluno do Curso de Licenciatura em Música no Centro Universitário Adventista de São Paulo
(Unasp). E-mail: [email protected]
†Mestre em educação, Centro Católico Salesiano Auxilium, UNISALESIANO, Brasil. Professora do
Centro
Universitário
Adventista
de
São
Paulo
Campus
Engenheiro
Coelho.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7467857120324543. E-mail: [email protected]
MARONI, Helcio de Lima. LIMA, Ailen Rose Balog de. Escuta musical e sua importância na educação
musical. INTEGRATIO, v. 2, n. 2, jul. - dez. 2016, p. 34-38.
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(1979), em que a “Composição”, “Apreciação” e “Performance” são as bases para uma
aprendizagem musical efetiva, sendo essas auxiliadas pela “Literatura” e “Aquisição de
Técnica”. Vale aqui ressaltar mais uma vez que o ponto de apreciação envolve a escuta
musical. Por fim, Popolin concorda com Swanwick ao dizer que a aprendizagem musical
se dá da mesma forma que a linguagem oral, ou seja, primeiro se vivencia ouvindo,
depois de um tempo aprende-se a falar e só depois é ensinado as partes técnicas e
literárias.
Sendo assim, esse texto tem como objetivo mostrar a importância da apreciação
nas aulas de musicalização, seja infantil, jovem ou adulta.
Cabe
aqui
dizer
que
o
termo
usado
nesse
texto
para
se
referir
à
apreciação/percepção musical será a expressão “escuta musical”, pois segundo Popolin
(2010, apud Granja, 2006; Brito, 2003 e Behne, 1997), “sugere uma experiência mais
complexa, apurada, profunda e densa que atinge o corpo como um todo, diferente de ser
simplesmente uma perturbação vibratória no órgão auditivo ou apenas um processo
fisiológico natural. É que além disso, envolve intencionalidade, atenção, concentração
não exprimindo uma ação involuntária de captar sons e/ou contra a vontade”.
1.
Formas de ouvir música
É fato a presença da música em todos os lugares e situações. Podemos dizer até
que a música é uma arte onipresente, seja qual for a comunidade ou status do indivíduo.
Uma vez que existem várias “tribos musicais” e que cada tribo tem a sua música, cada
música será escutada de forma diferente (SOUZA e TORRES, 2009).
As autoras, Souza e Torres (2009) apontam que existe o [1] ouvir motoricamente,
ou seja, o ouvir que desafia ou solicita ao corpo o movimento. As autoras ainda falam
que essas músicas geralmente são de andamentos mais agitados. “Juventude e corpo,
música e dança são temas que estão entrelaçados, pois os jovens têm um corpo, e esse
corpo deve ser colocado ou está em determinados lugares, sendo observado e controlado
bem como realizado diferentes movimentos” (2009). [2] Ouvir música como função
compensatória é a escuta musical em que tem como objetivo “suplantar outro
sentimento, como o de solidão” (idem); [3] Ouvir para relaxar, ou seja, a escuta musical
que tem como objetivo desligar das tensões, provocando um estado de relaxamento; [4]
Ouvir música como “pano de fundo” é quando o indivíduo usa a música como ferramenta
para concentrar-se em outras atividades; [5] Ouvir emocional, “a maioria dos jovens
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necessita da música não apenas como fundo musical, por assim dizer, como elemento
do cotidiano vivido, do qual ele não pode ser distinguido”; [6] Ouvir associativo, é quando
ouvimos uma música e associamos a algum produto, geralmente. Pode ser associativa a
algum lugar, pessoa ou situação; [7] por fim, o ouvir analítico e combinado com outros
sentidos “decorre de uma experiência mais atenta da audição musical em direção a uma
escuta analítica.
2.
Música como água
Hoje o despertador está nos celulares e colocamos como toque uma música que
seja capaz de nos acordar. Para esperarmos o metrô e ônibus colocamos nosso fone de
ouvido para ouvirmos nossa playlist. Essas músicas são compartilhadas com a mesma
facilidade que se a água sai de uma torneira1. Gohn (2007), citando Kusek e Leonhard
(2005) fala sobre pagar o consumo de música da mesma forma que se paga o consumo
de água. Ele explica:
Similarmente, poderemos pagar taxas mensais baixas para ter acesso ao
conteúdo musical que nos interessa, utilizando todos os mecanismos
disponíveis para a individualização da experiência. Ou seja, teremos mais
controle sobre a música que ouvimos, aceitando ou não as recomendações
que recebemos, e o valor cobrado pelo acesso a um enorme repositório de
informações será relativamente pequeno. Eventualmente, poderemos
escolher músicas consideradas ‘especiais’, talvez performances
reservadas a um grupo seleto, ou a mais recente produção de um artista
que admiramos. Neste caso, como se estivéssemos comprando água
Evian, pagaremos mais caro (p.4).
A partir dessa ideia pode-se perceber que o acesso à música não é o problema em
questão, mas sim a qualidade desse acesso. O desenvolvimento de uma escuta analítica
é de vital importância para a aprendizagem musical através da escuta (apreciação)
musical.
3.
Apreciação Musical: como desenvolvê-la?
Começamos essa seção citando França (2002), que diz que “o ouvir permeia toda
experiência musical ativa, sendo um meio essencial para o desenvolvimento musical”
(p.12). Dessa forma não desenvolvimento musical de fato se o ouvir não estiver sendo
educado.
1
Levando em consideração a realidade de abundância e facilidade dos grandes centros.
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Gonh cita um parágrafo de Flowers (2003) muito pertinente ao assunto, sendo
assim será reproduzido originalmente:
Ouvir música é sem dúvida a forma mais comum de engajamento musical,
inescapável em quase todos os aspectos da vida – de insípido a inoportuno
a sublime – incluindo a música de fundo, a música que gera determinado
estado de espírito e a música que demanda nosso completo foco e atenção.
Ouvir é como respirar ou comer: a maioria das pessoas faz sem instruções
diretas. Mas assim como especialistas no corpo humano têm sugestões
para que possa respirar mais eficientemente e nutricionistas têm
princípios sobre como comer bem, também os educadores musicais têm
diretrizes sobre como ouvir mais efetivamente, para tirar o máximo da
música, focando nossa atenção para o maior impacto musical possível
(Gohn apud Flowes, 2003:28).
De acordo com Gohn, a apreciação musical pode ser desenvolvida desde que seja
observado e identificado os comportamentos quando o indivíduo é submetido à
determinada música ou estilo musical. O autor fala que temos pré-disposição para
sermos capazes de ouvir música por mais ou menos tempo. Ele ainda fala que a
diversidade musical que somos expostos varia de acordo com o meio que estamos.
Para que o universo musical do indivíduo seja expandido, o autor sugere três
passos: (1) atribuir gestos corporais à música; (2) manter o foco na cultura e no seu
contexto; (3) construir pontes que ligam peças musicais contrastantes, ou seja,
“encontrar elementos comuns entre peças musicais distintas”.
De acordo com Gohn, “estratégias com estas despertam interesses que
extrapolam a música e podem estender a capacidade de um indivíduo para permanecer
ouvindo música, e para mais facilmente aceitar experiências com conteúdos musicais
desconhecidos” (p. 5).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma vez que a escuta musical (apreciação) amplia os horizontes do universo
musical do indivíduo, esse passa a conhecer novas características musicais, novos
elementos que até então era desconhecido. Sendo assim, é papel do educador musical
manter essa expansão para que assim seja possível ensinar cada vez mais novos
elementos, mais conceitos que antes era “impossível” expor.
A apreciação musical provoca comportamentos diferenciados em cada indivíduo,
sendo assim, a expansão desse universo também será de acordo com cada um. E é papel
do professor respeitar esses limites musicais, sempre almejando sua expansão.
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O professor deve utilizar da facilidade de acesso às músicas para tornar essa
“água” a mais pura possível, a mais livre de “bactérias”, proporcionando assim, uma
experiência, uma vivência musical de qualidade.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Renata Mattos de. Sobre a criação da obra de arte musical e sua escuta:
o que se dá pra ouvir. Cógito, n.9, p. 94 – 99. Outubro, 2008. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cogito/v9/n9a21.pdf>. Acessado em 30/05/2016
FRANÇA, Cecília Cavalieri; Swanwick, Keith. Composição, Apreciação e Performance
na educação musical: teoria, pesquisa e prática. Em Pauta – v.13 – n.21 – dezembro
2002. Disponível em < https://scholar.google.com.br/citations?user=kHek0pUAAAAJ&hl=ptPT&oi=sra > acessado em 31/08/2016
GOHN, Daniel. A apreciação musical na era das tecnologias digitais. Disponível em
<http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/educacao_musical/edmus_DGohn.pdf
>. Acessado em 30/05/2016
POPOLIN, Álisson. O que os jovens do ensino médio aprendem de música através de
suas experiências diárias de escuta: Um estudo de caso. Rio de Janeiro, 2010
SOUZA, Jusamara e TORRES, Maria Cecília de Araújo. Maneiras de ouvir música: uma
questão para a educação musical com jovens. Música na educação básica. Porto Alegre,
v. 1, n. 1, outubro de 2009.
MARONI, Helcio de Lima. LIMA, Ailen Rose Balog de. Escuta musical e sua importância na educação
musical. INTEGRATIO, v. 2, n. 2, jul. - dez. 2016, p. 34-38.
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