A fabulação no processo de construção da História dos Armênios de Moises Khorenatsi Diego Araújo Costa Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP/SP Objetivos Resultados Assim como outros povos antigos, os armênios também possuem um mito fundador, que chegou até nós através de narrativas orais, chamadas de Cantos de Goghten, por serem mais comuns na região de Goghten, na Armênia. Para registrar a história dos armênios, Khorenatsi se valeu desta narrativa oral, que contém traços fortemente históricos. Há também outras histórias que fazem parte do imaginário armênio e estão presentes em Khorenatsi. Esta pesquisa teve como objetivo identificar as principais fábulas presentes em Khorenatsi e que foram importantes para a construção da história do povo armênio e de que forma as narrativas podem ser consideradas fábulas nos termos de Aristóteles. Para tanto, foi feita uma leitura minuciosa de História dos Armênios confrontando com a história armênia conhecida através de leitura específica sobre história e mitologia armênia. O confrontamento foi feito de forma a identificar quais narrativas existentes em Khorenatsi fazem parte do imaginário armênio e, a partir disto, analisar uma a uma de forma a provar que são fábulas. Foram analisadas quatro narrativas nesta pesquisa, percorrendo parte significativa da História dos Armênios. A partir da análise de cada narrativa, foi possível identificar as partes que compõem a fábula e como Moises Khorenatsi utilizou destes artifícios para criar uma história de cunho verídico com elementos lendários. Em cada uma das narrativas, constatei a existência de peripécia e reconhecimento; a catástrofe, entretanto, não foi encontrada em todas as narrativas analisadas. Estes três elementos são, segundo Aristóteles, fundamentais para a construção de uma narrativa fabular. As histórias de Hayk, Ara e Shamiram, Tigran e Trdat foram as narrativas selecionadas de História dos Armênios para comporem esta pesquisa. A primeira narrativa, conta a história do herói epônimo Hayk e como ele originou o povo armênio. A segunda conta a história da rainha Shamiram e como ela se apaixonou por Ara e acabou por matá-lo. A terceira conta a história do Rei Tigran, homem sábio que expandiu os territórios armênios. Por fim, a quarta história conta-nos sobre o rei Trdat e como a Armênia adotou o cristianismo como religião oficial. Métodos/Procedimentos A obra História dos Armênios fornece uma extensa galeria de narrativas que contribuem para o conhecimento do surgimento do povo armênio e de suas conquistas e extensões territoriais e foi usada como base para a seleção das histórias/fábulas estudadas, enquanto a Poética de Aristóteles fornece base para o entendimento da construção fabular em todos os seus formatos. Aristóteles discorre sobre a fábula no sentido de trama, de enredo, e afirma que há diferenças significativas no resultado final de acordo com as escolhas do autor. Foram realizadas leitura e fichamento dos textos e a seleção de quatro narrativas dentro da obra de Moises Khorenatsi. A seleção foi feita baseando-se na importância de cada uma dentro do imaginário cultural armênio, observando a credibilidade que cada uma tem para a história armênia. A participação nas aulas de Cultura Armênia I e II e de Literatura Armênia I foi imprescindível para a execução desta pesquisa, uma vez que as aulas oferecem um panorama histórico e cultural da Armênia e também observam a obra de Khorenatsi do ponto de vista literário. Conclusões A análise das narrativas à luz de Aristóteles permitiu ver as nuances que a fábula pode apresentar em cada narrativa dentro da mesma obra, sem que isto indique que História dos Armênios seja uma obra mista, pelo contrário, foi possível notar a unidade da obra, mesmo diante da divisão que o próprio autor propõe. Foi possível ainda notar a forma como Khorenatsi escreveu cada uma das narrativas, de forma a proporcionar em todas elas peripécia e reconhecimento. A catástrofe não foi vista em todas as narrativas, entretanto, não a descartamos de algumas das narrativas presentes na obra. Referências Bibliográficas ARISTÓTELES. Poética. Trad. Baby Abrão. São Paulo: Nova Cultural, 1999. KHORENATSI, Moises. História dos Armênios. Trad. Deize Crespim Pereira. São Paulo:Humanitas, 2012.