ANÁLISE COMPARATIVA DAS DERIVAÇÕES ANTROPOGÊNICAS

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Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014
Aracaju, Brasil, 18-21 novembro 2014
ANÁLISE COMPARATIVA DAS DERIVAÇÕES ANTROPOGÊNICAS EM ÁREAS DE
MANGUEZAIS EM ARACAJU-SE.
Geisedrielly Castro dos Santos¹
1
Mestra e Doutoranda em Geografia , UFS, Aracaju-SE, [email protected].
RESUMO: Os manguezais são ambientes de extrema importância para a manutenção da biodiversidade e
estabilização das linhas de costa. Contudo, sofreram com o processo de ocupação da zona costeira brasileira,
o que promoveu sua intensa degradação. Nesse sentido, é necessário compreender como as ações humanas
contribuem para a evolução desses ambientes biofísicos levando-se em consideração o crescimento das
cidades, a exemplo do município de Aracaju-SE. O objetivo deste trabalho é analisar como as derivações
antropogênicas, foram determinantes para a evolução dos manguezais existentes no município de AracajuSE. Adotou-se como principais procedimentos metodológicos: consulta a bibliografia existente sobre a
temática; análise e mapeamento de fotografias aéreas e imagens de satélite; quantificação das áreas
mapeadas e integração e interpretação dos dados obtidos. A partir da análise empreendida foi possível
verificar que toda a área de manguezal preexistente na Coroa do Meio foi destruída em cerca de 50%, na
contrapartida devido ao processo de ocupação na área ocorreu o crescimento de uma planície de maré e
posterior colonização pelo mangue entre os bairros 13 de Julho e Jardins. A partir dos resultados foi possível
perceber que o homem é capaz de impactar ambientes de forma direta e indireta causando sua degradação
e/ou promovendo seu desenvolvimento.
PALAVRAS-CHAVE: paisagem, planície de maré, ações humanas
INTRODUÇÃO:
Os manguezais constituem áreas de manutenção da biodiversidade na interface continental e marinha, um
ótimo indicador para as alterações do nível do mar e fornece proteção à linha de costa contra a ação direta
das ondas e correntes costeiras, promovendo sua estabilização (SHAEFFER-NOVELLI, 2000). Além dos
benefícios citados podem ser enumerados muitos outros, porém mesmo em face de todos esses pontos
positivos a opção por destruir esses ambientes tornou-se uma constante no território brasileiro. Diegues
(2001) apontou que desde a década de 1950 os manguezais brasileiros têm sofrido com a degradação
provocada pela urbanização da zona costeira causando também o empobrecimento das comunidades
tradicionais que dependem desse ambiente. Monteiro (2001) conceitua as alterações ambientais promovidas
pelo homem na visão geossistêmica como Derivações antropogênicas, afirmando que as ações antrópicas
podem derivar (ou alterar) os ambientes de forma direta ou indireta. A noção de manguezal adotada neste
trabalho leva em consideração a associação da vegetação (mangue) com a área de sedimentação recente de
influência flúviomarinha (Planície de maré), por isso em muitos trechos desse texto será trabalhado apenas o
termo Planície de maré. Esse ambiente é composto principalmente de sedimentos argilo/siltosos e matéria
orgânica (ANGULO, 1990). O objetivo principal é analisar como as derivações antropogênicas, foram
determinantes para a evolução dos manguezais existentes no município de Aracaju-SE, mais especificamente
nas áreas existentes nos bairros: Coroa do Meio, 13 de Julho e Jardins.
MATERIAL E MÉTODOS:
A área de estudo está inserida na paisagem costeira do município de Aracaju - SE, e corresponde aos
manguezais localizados nos bairros: Coroa do Meio, 13 de Julho e Jardins (Figura 1). A figura 2 mostra o
processo de formação da Coroa do Meio, que está associada à junção de duas coroas arenosas existentes na
desembocadura do rio Sergipe que após receberem sedimentação de origem flúviomarinha sofreram
coalescência e uniram-se a um pontal arenoso atualmente conhecido como bairro Atalaia (MONTEIRO,
1963).
Os principais procedimentos metodológicos da pesquisa foram divididos em: Levantamento bibliográfico
sobre a temática e sobre a dinâmica da paisagem da área de estudo; Levantamento de acervo aerofotográfico
que constam de fotografias aéreas dos anos de 1965 e 1978 e imagens do satélite Quickbird do ano de 2008
(com informações relativas às escalas e resoluções apresentadas na Tabela 1); Mapeamento das áreas de
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planícies de maré (colonizadas ou não por mangue) para os anos de 1965, 1978 e 2008 (realizado com
auxílio do software ArcGis versão 9.3) e Quantificação das áreas mapeadas: etapa realizada também no
software ArcGis 9.3 com auxílio da ferramenta measure.
Figura 1 – Localização da área de estudo. Bairros: Coroa do Meio, 13 de Julho e Jardins em Aracaju-SE.
Fonte: Ortofotocartas de 2008 cedidas pela Secretaria de Patrimônio da União.
Elaboração da autora.
Figura 2 – Formação da Coroa do Meio a partir da junção das coroas arenosas.
Fonte: Modificado das cartas náuticas da Diretoria de Hidrografia e navegação (1894, 1914, 1927 e 1946).
Elaboração da autora.
Tabela 1 – Dados das Fotografias aéreas e Imagens de satélite dos anos de 1965, 1978 e 2008.
ANO
TIPO
1965
1978
2008
Fotografias aéreas
Fotografias aéreas
Imagens de Satélite Quickbird
ESCALA (*) /
RESOLUÇÃO (**)
*1: 60.000
* 1: 15.000
**0,6m
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ÓRGÃO EXECUTOR
SACS/PETROBRÁS
SEPLAG/SE
EMURB
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RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir do mapeamento multitemporal foi possível identificar as principais alterações (ou derivações)
nos manguezais nos anos de 1965, 1978 e 2008. A figura 3 representa o mapeamento temático
realizado para o ano de 1965. Em A, é possível visualizar toda a área de manguezal correspondente ao
bairro Coroa do Meio e em B a área recente de planície de maré entre os bairros 13 de Julho e Jardins.
Nota-se que as áreas correspondentes a Ocupação humana (em vermelho) estão localizadas
externamente aos manguezais da Coroa do Meio e nesse momento não constituíam um fator para a
redução da área de manguezais. Como foi descrito em Santos (2012), ao analisar a dinâmica da
paisagem no local. A colonização pelo mangue ocupava quase toda área da planície de maré na Coroa
do Meio e ainda não havia ocupado a área de planície de maré entre os bairros 13 de Julho e Jardins
(Figura 3 A e B). A Tabela 1 apresenta os valores de área para a Planície de maré colonizada e
desprovida de mangue.
B
A
Figura 3 – Manguezal da Coroa do Meio, 13 de Julho e Jardins em 1965.
Fonte: Fotografias aéreas de 1965 fornecidas pela PETROBRÀS.
Elaboração da autora.
Tabela 2 – Quantificação das áreas de manguezais da Coroa do Meio, 13 de Julho e Jardins nos anos
de 1965, 1978 e 2008.
COROA DO MEIO
13 DE JULHO E JARDINS
Planície de maré em km²
Planície de maré em km²
Colonizada
Desprovida
Colonizada
Desprovida
ANO
por mangue
de mangue
por mangue
de mangue
2,2
1,4
0,23
1965
2,44
1,48
0,72
1978
1,17
0,6
0,25
0,62
2008
As principais derivações antropogênicas na área de estudo começaram a ser observadas a partir da
análise feita no acervo aerofotográfico de 1978. Na figura 4 é possível visualizar em A que toda área
correspondente ao manguezal da Coroa do Meio sofreu aumento em sua área total, como é possível
visualizar nos dados apresentados na tabela 1. Contudo, é necessário destacar que mesmo em face do
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aumento registrado na área de manguezal, a ocupação humana também se expandiu, e principalmente
foi verificado aumento nas áreas próximas a praia. Todo esse aumento da ocupação humana promoveu
a proteção da área de planície de maré localizada entre os bairros 13 de Julho e Jardins o que permitiu
o aumento da área da planície de maré (Figura 4 – B e Tabela 2). Santos (2014) apresentou uma
análise sobre a evolução do manguezal entre os bairros 13 de Julho e Jardins. De acordo com a autora
as principais alterações que foram promovidas na área adjacente, Coroa do Meio, nesse período foram
às construções de vias de acesso do centro da cidade para o recém-criado bairro e as obras de
urbanização do local que seriam concluídas na década de 1980.
A
B
Figura 4 – Manguezal da Coroa do Meio, 13 de Julho e Jardins em 1965.
Fonte: Fotografias aéreas de 1965 fornecidas pela PETROBRÀS.
Elaboração da autora.
Na análise de 2008 já se verifica ampla redução na área de manguezal existente na Coroa do Meio
(Figura 5-A e Tabela 1). A área total de manguezal que se expandia por 3,6 km² em 1965 passa para
aproximadamente 1,8 km², uma redução de 50%. A ocupação humana responsável por toda essa
degradação no manguezal da Coroa do Meio foi descrita por Santos (2012) como sendo representada
pelas casas e condomínios oriundos do projeto de urbanização do bairro; ocupações irregulares
situadas na área interna do manguezal (conhecida por Maré do Apicum); rodovia de acesso às praias
do litoral sul de Aracaju; aparatos de turismo e lazer existentes na orla da praia de Atalaia e obras de
contenção e estabilização da margem direita da desembocadura do rio Sergipe. Todas essas derivações
antropogênicas diretas sobre a Coroa do Meio resultaram no aumento da área da planície de maré dos
bairros 13 de Julho e Jardins e sua colonização pelo mangue (Figura 5-B e Tabela 2), que passaram de
0,23 km² de planície de maré desprovida de mangue, em 1965, para aproximadamente 1 km² de
manguezal em 2008. A colonização pelo mangue torna-se um dos principais indícios que a área da
planície de maré estava protegida da ação direta das ondas e correntes costeiras e pela análise que foi
feita essa proteção foi promovida indiretamente pela ocupação humana na Coroa do Meio. Santos
(2014) atribuiu às obras de estabilização da margem direita da desembocadura do rio Sergipe papel
fundamental para o crescimento do manguezal entre os bairros 13 de Julho e Jardins, pois promoveu o
crescimento de um pontal arenoso paralelo a esse manguezal, isolando a área da ação direta dos
agentes fluviais e marinhos.
Comparando a análise realizada neste estudo com as proposições feitas por Monteiro (2001), pode-se
descrever que a paisagem estudada foi modelada por derivações antropogênicas de cunho direto e
indireto. As intervenções diretas foram representadas pela ocupação humana em toda área da Coroa do
Meio, nessa situação elas foram determinantes para a redução do manguezal localizado neste local.
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Indiretamente a ocupação humana permitiu a proteção e o desenvolvimento da planície de maré entre
os bairros13 de Julho e Jardins, área com iguais condições de desenvolver um manguezal tal qual o
que existia na Coroa do Meio.
B
A
Figura 5 – Manguezal da Coroa do Meio, 13 de Julho e Jardins em 1965.
Fonte: Fotografias aéreas de 1965 fornecidas pela PETROBRÀS.
Elaboração da autora.
CONCLUSÕES: O uso das geotecnologias, em especial o geoprocessamento, possibilita a análise
funcional do ponto de vista vertical das paisagens, sendo indispensável para quaisquer estudos que
objetivem a análise espacial. Trabalhos realizados na perspectiva multitemporal, que busquem a
análise das principais causas para a redução ou desenvolvimento de manguezais em áreas urbanas
promovem o melhor conhecimento sobre esses ambientes de extrema importância para a
biodiversidade e estabilização de áreas costeiras, tema de extrema relevância em tempos de mudanças
climáticas globais. Esta pesquisa serve como subsídio para criação de instrumentos pelo poder público
que visem à conservação e manejo dos manguezais em Aracaju e como perspectiva para projetos
semelhantes em outras áreas.
REFERÊNCIAS:
ANGULO, R. J. O manguezal como unidade dos mapas geológicos. In: Simpósio de ecossistemas
da costa sul e sudeste brasileira, 2, 1990, Águas de Lindóia. Resumos expandidos. São Paulo:
ACIESP, 1990. v. 2, p.54-62.
DIEGUES, A.C. Comunidades litorâneas e os Manguezais do Brasil. In: Ecologia Humana e
Planejamento Costeiro, editado por Antônio C. Diegues. São Paulo: NUPAUB, 2001.p. 185-216.
MONTEIRO, C. A. F.. Derivações antropogenéticas dos Geossistemas terrestres no Brasil e
alterações climáticas. RA’EGA. 2001. 1(8): 197-231.
MONTEIRO, M. da G. A restinga da Atalaia: Uma contribuição ao estudo do litoral sergipano.
1963. 50 f. Tese (Concurso a cátedra de Geografia) - Colégio Estadual de Sergipe, Aracaju, SE, 1963.
SANTOS, G. C. Dinâmica da paisagem costeira da Coroa do Meio e Atalaia – Aracaju/SE. São
Cristóvão, SE: UFS, 2012,152 p.
SANTOS, G. C. Derivações antropogênicas e Evolução do manguezal nos bairros 13 de julho e
Jardins em Aracaju-SE. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 7, p. 278-290, 2014.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Grupo de ecossistemas: manguezal, marisma e apicum. São Paulo,
2000.
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