Fascículo Física Básica II - Assessoria de Educação a Distância

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FÍSICA GERAL II
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
SECRETARIA ESPECIAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
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VICE-REITOR
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COORDENADOR GERAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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DIRETOR DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
Prof. Dr. Mauro de Lima Santos
COORDENADORA DO CURSO DE FÍSICA À DISTÂNCIA
Profa. Dra. Fátima Nazaré Baraúna Magno
Este material foi gentilmente cedido pela UEM Universidade
Estadual de Maringa, para o uso restrito da Licenciatura em Física
na modalidade a distância sem ônus para a UFPA.
Formação de Professores EM FÍSICA - EAD
Cesar Canesin Colucci
João Mura
Maurício Antonio Custódio de Melo
FÍSICA GERAL II
Maringá
2009
5
Coleção Formação de Professores em Física - EAD
Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese
Normalização e catalogação: Ivani Baptista - CRB 9/331
Revisão Gramatical: Josie Agatha Parrilha da Silva
Edição e Produção Editorial: Carlos Alexandre Venancio
Diagramação: Renato William Tavares
Capas: Arlindo Antonio Savi
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M528f
Melo, Maurício Antonio Custódio de
Física geral II. / Mauricio Antonio de Melo; João Mura; Cesar C. Colucci. -Maringá : Eduem, 2009. 153. il. (Formação de professores em Física – EAD; v.5)
ISBN: 978-85-7628-200-6
1. Física. 2. Gravitação. 3. Termodinâmica. I. Colucci, Cesar C. II. Melo, Maurício
Antonio Custódio de, III. Mura João
CDD 21. ed. 530
Copyright © 2009 para o autor
1ª reimpressão 2010 revisada
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos
reservados desta edição 2009 para Eduem.
Endereço para correspondência:
Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário
87020-900 - Maringá - Paraná
Fone: (0xx44) 3261-4103 / Fax: (0xx44) 3261-1392
http://www.eduem.uem.br / [email protected]
S umário
Sobre os autores ................................................................................... 5
Apresentação da coleção ..................................................................... 7
Apresentação do livro ........................................................................... 9
1 Gravitação .............................................................................................11
2 Equilíbrio Estático ................................................................................ 35
3 Fluidos ................................................................................................. 47
4 oscilações ............................................................................................61
5 ondas Mecânicas ............................................................................... 79
6 temperatura e Calor ........................................................................... 95
7 primeira Lei da termodinâmica ......................................................... 113
8 Segunda Lei da termodinâmica ........................................................133
9 Referências ........................................................................................153
3
FÍSICA GERAL II
4
S obre os autores
CESAR CANESIN COLUCCI
Bacharel em Física pela Universidade Estadual de Campinas. Obteve seu mestrado (1978) sobre
supercondutividade e seu doutorado (1993) trabalhando com materiais magnéticos pela mesma
Universidade. Em 1993 foi pesquisador visitante no Max Plank Institut (Stuttgart-Alemanha).
Desde 1983 é professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá e
atualmente ocupa o cargo de Professor Associado.
JOÃO MURA
Possui graduação em Física (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Estadual de
Campinas (1975) e graduação em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (1983). O
professor Mura obteve sua especialização em Ensino de Física Experimental (1979), mestrado
(2000) e doutorado em Física (2005) pela Universidade Estadual de Maringá. Desde 1976 é
professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá. Atualmente ocupa
o cargo de Professor Associado.
MAURÍCIO ANTONIO CUSTÓDIO DE MELO
Licenciado em Física pela Universidade Estadual de Maringá (1987), mestrado em Físico-Química
pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990), doutorado em Ciências Naturais – Física
pela Technische Universität Braunschweig na Alemanha (1995) e realizou um pós-doutorado
no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (1995-1997). Professor da Universidade Estadual de
Maringá desde 1997, sendo atualmente Professor Associado.
5
A presentação da Coleção
A coleção Formação de Professores – EAD – Física inicia-se com a aprovação do
Curso de Educação à Distância em Física (Licenciatura) pela Secretaria de Educação
a Distância (SEED) do Ministério da Educação (MEC). O curso terá a mesma carga
horária, disciplinas e ementas do curso presencial da Licenciatura em Física da UniversidadeEstadualdeMaringá.
OgrandedesafiodoEAD-Física,alémdocursoemsi,éaoportunidadequeele
oferecenãosomenteaosalunos,mas,sobretudo,aocorpodocentequelhedásustentação.Essecorpodocenteteráahercúleatarefade,aofinaldosquatroanosde
integralizaçãodocurso,escrevermaisdetrintalivrosaseremofertadosgratuitamente
para o corpo discente.
Essaprimeiraedição,jáoreconhecemos,conteráfalhas,masserãoaquelastípicas
deumaatividadepioneira,baseadanumavontadeinequívocadeacertar,deproporcionar um material didático inédito nascido da prática docente de cada um dos autores
eorganizadoresdasobraseditadas.
Atiragemdaprimeiraediçãoserábastantemodesta,contemplandotãosomente
onúmerodediscentesedocentesinscritosnoprograma.Em2008,oitoobrasserão
editadas, uma para cada disciplina do curso. E assim em todos os anos sucessivos até
aintegralizaçãodocursoemfinalde2011.
Aprincípioserãoimpressoscercade200exemplaresdecadatítulo,umavezque
os livros serão utilizados como material didático para os alunos matriculados no Curso
de Física, Modalidade de Educação à Distância, ofertado pela Universidade Estadual de
Maringá,noâmbitodoSistemaUAB.
Cadalivrotrazumavivênciadosdocentesqueajudaramnasuaorganização,sintetizandoebuscandopotencializarosconteúdosquepermeiamcadadisciplina.Buscam
umprocessodereflexão,instigaçãohistóricadaciênciaeummanuseiodosinstrumentosquedefiniramafísicaeamatemáticaquesubjazemaosfenômenosfísicosque
lhederamorigem.
7
FÍSICA GERAL II
Com esse intuito, a presente coleção construiu-se a partir do esforço de uma abnegadaparceladedocentesdoDepartamentodeFísica(e,também,deMatemática,
Química,EducaçãoeInformática)daUniversidadeEstadualdeMaringá(UEM),ede
professoresconvidados,quebuscamasuperaçãodainérciaeducacionalqueproduziu,emmuitasdécadas,umaquantidadeirrisóriadelicenciadosemFísicanopaís.
AgradecemosatodososcolegasdaUEMedemaisIES,alémdaadministraçãocentraldaUEM,que,pormeiodaatuaçãodiretadaReitoriaedediversasPró-Reitorias,
não mediu esforços para que os trabalhos pudessem ser desenvolvidos da melhor
maneirapossível.Demodobastanteespecífico,destacamosaquioesforçodaReitoria
paraqueosrecursosparaofinanciamentodestacoleçãopudessemserliberadosde
acordocomostrâmitesburocráticoseosprazosexíguosestabelecidospeloFundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
NoqueserefereaoMinistériodaEducação,ressaltamosoesforçoempreendido
pela Diretoria da Educação a Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) e pela Secretaria de Educação de Educação a
Distância(SEED/MEC),queemparceriacomasInstituiçõesdeEnsinoSuperior(IES)
conseguiramromperbarreirastemporaiseespaciaisparaqueosconvêniosparaliberaçãodosrecursosfossemassinadoseencaminhadosaosórgãoscompetentespara
aprovação,tendoemvistaaaçãodiretaeeficientedeumnúmeromuitopequenode
pessoasqueintegramaCoordenaçãoGeraldeSupervisãoeFomentoeaCoordenação
Geral de Articulação.
EsperamosqueessaprimeiraediçãodaColeção Formação de Professores – EAD
- Física possa contribuir para a formação dos alunos matriculados no curso de Física
(mesmoaquelepresencial),bemcomodeoutroscursossuperioresàdistânciadetodasasinstituiçõespúblicasdeensinosuperiorqueintegramepossamintegraremum
futuropróximooSistemaUAB.
Marcos Cesar Danhoni Neves
Organizador da Coleção
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A presentação do livro
AFísicaabrangeopequenoeogrande,ovelhoeonovo.Domovimentodeelétronsatéaorbitadosplanetas.Doestudodatermodinâmicaatéoscilaçõesdeuminstrumento musical. Este livro didático de Física Geral II tem como objetivo ampliar um
poucomaisoelencodeaplicaçõesdosconceitosbásicosdamecânicaeabrirnovas
fronteirasdeconhecimento.Ocapítulo1apresentadiscussãobásicasobregravitação,
ondeosconceitosdeforça,energiapotencialeconservaçãodomomentoangularsão
essenciais.Aquiéapresentadoavocês,pelaprimeiravez,oconceitodecampo.Nocapítulo2juntamosaosconceitosdeforçaetorqueparaentenderoestadodeequilíbrio
desistemasmecânicos,chamadosimplesmentedeestática.Paraoestudodosfluidos
nocapitulo3,algunsnovosconhecimentosserãoestudadosutilizandoosconceitos
deforçaeenergia.Noscapítulos4e5estudaremososcilaçõeseondasmecânicas.
Alémderevermosalgunsconhecimentosbásicosdemecânica,esteestudoseráabase
paraentendermosfuturamente,porexemplo,asondaseletromagnéticasecircuitosde
corrente alternada. Uma introdução ao estudo da termodinâmica é apresentada nos
capítulos6,7e8,ondeveremoslimitaçõesdousodosconceitosbásicosdamecânica
paradescreverfenômenosqueenvolvamcalor.Aofinaldolivroespera-sequeasua
visãosejaampliadaequevocêaprendaumasériedenovosconhecimentosimportantes na física, e, também, possa correlacioná-los com os já anteriormente aprendidos.
Cadacapítulotemumasériedeexemplos,quetêmointuitodedesvendaravocê
aaplicaçãodosconhecimentosestudados.Elesfazemparteintegrantedotexto,portanto devem ser refeitos e entendidos.
Aofinaldecadacapítuloagrupa-seumconjuntodeproblemas.Nãooptamos
porumaquantidadeexcessiva,masforamescolhidosdetalformaaconduzi-loaexperiênciadirigidadecompreensãoefixaçãodosconhecimentos.Você,aluno,temcomo
tarefafazerosproblemas.Acompreensãoefixaçãotêmmaiorsucessoquandocada
um enfrenta a tarefa proposta.
OsautoresdedicamestaobraàmemóriadaProfessoraDoutoraMarleteAparecida
Zamprônio.Aela,nossotributodereconhecimentopeloesforço,dedicaçãoe,principalmente, amizade demonstrada por ela em nossos anos de trabalho e convivência
mútua.
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FÍSICA GERAL II
10
1
Gravitação
1.1
Um pouco de história - Mundo ocidental
1.2
Leis de Kepler
1.2.1
primeira Lei de Kepler
1.2.2
Segunda Lei de Kepler
1.2.3
terceira Lei de Kepler
1.3
Lei da Gravitação Universal de newton
1.4
o Campo Gravitacional
1.5
Corpos em Órbita Circular - Satélites
1.6
Energia potencial Gravitacional
11
1 GRAVITAÇÃO
FÍSICA GERAL II
1.1 Um Pouco de História – Mundo Ocidental
12
Este capítulo está relacionado ao movimento de rotação de partículas ou corpos,
em torno de um ponto fixo, de um sistema de referência inercial. Está vinculado à mecânica
de rotação dos corpos quando submetidos à ação de uma força central, principalmente, a
força gravitacional, que é uma das propriedades da matéria. O movimento das estrelas,
da Lua e do Sol pode ter uma explicação relativamente simples, considerando a
rotação da Terra em torno de seu eixo, mas apresenta dificuldades quando analisamos o
problema em sua plenitude, de forma quantitativa, levando em consideração as forças que
os interligam.
Nossos ancestrais, muito provavelmente, ao presenciarem certos fenômenos que
aconteciam à sua volta, devem ter sentido medo e curiosidade, misturando perplexidade
com admiração. Os dias e as noites, o Sol, a Lua e as estrelas, a chuva, os relâmpagos,
os trovões e o arco-íris, o calor e o frio, a água, o fogo e o gelo. Todos os eventos eram
novidades que se repetiam com certa regularidade, influindo diretamente em suas
vidas e pareciam estar ligados entre si. Procurar entender esses eventos era vital para a
sobrevivência humana. É sob esse clima que o homem evoluiu até nossos dias e muitas de
suas indagações ainda continuam sem respostas.
Com o passar do tempo, as observações sistemáticas dos fenômenos deram aos
homens a possibilidade de fazer uso das mesmas para sua orientação e, a regularidade das
ocorrências, permitiu o estabelecimento de calendários e a previsão de eventos. Com tais
conhecimentos, ainda que rudimentares, foi possível criar metodologias que possibilitaram
o surgimento de uma ciência vinculada às necessidades básicas de sobrevivência. A
Astronomia, cujo objetivo, dentre outros, consiste na observação dos astros, estudando
seus movimentos, posições e evolução ao longo de períodos pré-estabelecidos, respondia
à necessidade de uma ciência causalista e previsora.
A Astronomia pré-histórica, atualmente estudada em conjunto por astrônomos
e arqueólogos, já acumulava conhecimentos a respeito dos movimentos do Sol, da Lua,
das estrelas e de grupamentos estelares. Além disso, observada a regularidade com que
o Sol nascia e desaparecia, foi possível estabelecer uma unidade temporal, chamada de
dia. Observando as variações que ocorriam na Lua e que, após certo tempo, retornava à
mesma situação e posição em relação às estrelas, o homem primitivo pôde estabelecer
outra unidade temporal repetitiva, denominada de mês lunar (mês das fases).
Também, foi possível estabelecer a duração do ano ( ainda que impreciso quando
comparado ao atual) e as estações do ano com suas variações climáticas. O caminhar
errante de certas “estrelas” e a existência de estrelas que pareciam estar fixas no céu, mas
que, ao longo de certo período, desapareciam no horizonte de um lado da Terra surgindo
no outro lado, instigavam a contagem do intervalo temporal. Muitas outras observações
encontram-se registradas em pinturas rupestres nas cavernas, em esculturas e em gravações
em blocos de pedras devidamente orientados em relação ao Sol nascente.
Com a invenção da linguagem escrita (escrita cuneiforme) pelos povos que
habitavam a região da Mesopotâmia (atualmente onde encontra-se o Iraque), os registros
dos fatos e fenômenos permitiram que o conhecimento acumulado fosse compartilhado
com outros povos. Além da observação prática, ao utilizar os conhecimentos matemáticos
existentes, os mesopotâmicos estabeleceram um sistema sexagesimal de numeração,
dividindo o círculo em 360 graus, cada grau em 60 minutos e cada minuto em 60
segundos. Observando o movimento aparentemente circular do Sol e das estrelas “fixas”,
estabeleceram a duração do período iluminado (dia) e do período escuro (noite) em doze
partes iguais (horas). Cada hora foi dividida em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos,
tal como utilizamos hoje. Determinaram o ano trópico, o período de lunação (mês das
fases), a inclinação da trajetória anual do Sol por entre as estrelas (eclíptica). Perceberam,
ainda, que a velocidade da Lua não era constante ao rotacionar a Terra; previram eclipses
lunares (período de Saros); estabeleceram o Zodíaco (faixa em torno da eclíptica onde
podem ser encontrados os planetas e as constelações) e a duração da semana, onde cada
dia representava um deus-planeta, cujos ciclos de adoração de sete dias, coincidiam com
o período de tempo das quatro fases lunares. Desenvolveram e utilizaram equipamentos
primitivos, tais como o gnomon, a clepsidra e o pólo, para a compreensão dos fenômenos
do céu.
Os egípcios desenvolveram, também, uma linguagem escrita (hieróglifos)
gravadas em papiro (“primogênito” do nosso papel), onde parte de textos e documentos
se perdeu no tempo pela inexorável deteriorização do material utilizado. Estabeleceram
um calendário anual baseado nas enchentes e secas do rio Nilo, em cujas margens o
império egípcio nasceu e morreu, além de um elaborado calendário lunar. Construíram
grandes pirâmides com as faces voltadas para os quatro pontos cardeais. Desenvolveram
instrumentos específicos como o merkhet, uma espécie de gnomon, aperfeiçoaram a
clepsidra e construíram um relógio de sol, onde a sombra de um eixo (representando o
eixo polar) indicava as horas do dia.
A Grécia Antiga deixou um legado importantíssimo para a Ciência Moderna.
Utilizando-se dos conhecimentos mesopotâmicos e egípcios anteriores, os gregos
desenvolveram a matemática, a astronomia, a poesia e a literatura de forma ímpar.
Historicamente, a astronomia grega originou-se com Thales de Mileto (século VI a.C.),
cujos discípulos previram a curvatura da Terra e o brilho da Lua como reflexo da luz
solar. Pitágoras de Samos admitiu a esfericidade da Terra e contribuiu enormemente com
a matemática da época. É lembrado em nossos dias através de sua imortal contribuição,
batizada de “Teorema de Pitágoras”. A partir de Pitágoras e seus discípulos, a Astronomia
teórica grega teve forte desenvolvimento, principalmente através da construção de
modelos para explicar os movimentos dos planetas (estrelas errantes), da Terra, do Sol e
da Lua.
Aristóteles de Estagira, que viveu no século IV a.C., é considerado um dos
maiores sábios da Antiguidade. Discípulo de Platão, outro gigante da cultura grega,
afirmava que nosso universo era finito e limitado pela esfera das estrelas fixas, além da
qual nada existiria. Propunha uma estrutura hierarquizada do universo, possuindo cinco
elementos primordiais, sendo quatro pertencentes a Terra (terra, água, ar e fogo) e um
elemento divino, o éter, que preencheria os céus e seria o símbolo da perfeição. Acreditava
nas formas perfeitas dos círculos e esferas e que a Terra estava no centro do Universo,
não possuindo movimento de rotação ou de translação (geocentrismo). O pensamento
aristotélico, principalmente aquele que dizia ser a Terra o centro do universo, perdurou
por quase 2 mil anos, até ser enterrado pela proposição do modelo heliocêntrico.
Coube a Aristarco de Samos, que viveu entre os séculos III e II a.C. em Alexandria,
no norte do Egito, a proposição de que o Sol seria o centro do universo (heliocentrismo)
e não a Terra, propondo, inclusive, que esta deveria ter movimento de rotação em torno
de seu eixo polar e translação em torno do Sol. Em decorrência de tais idéias, quase
foi declarado ímpio (herege, infiel), uma punição severíssima para a época. Propôs uma
metodologia para medir a distância Terra-Sol, utilizando a distância Terra-Lua como
unidade. Elaborou, ainda, uma classificação das estrelas quanto ao brilho, admitindo que
as mesmas encontravam-se a distâncias diferentes em relação à Terra. Propôs, também,
o método do eclipse para determinar o tamanho e a distância da Lua. Além de Aristarco,
a Escola de Alexandria teve importantes matemáticos e astrônomos, destacando-se
Eratóstenes, Hiparco e Ptolomeu.
Eratóstenes, além da construção da tábua de números primos (conhecida como
“crivo de Eratóstenes”), construiu, também, um sistema de coordenadas geográficas.
Escreveu vários tratados sobre as posições de estrelas, porém, o trabalho mais
importante foi a determinação das dimensões da Terra, pelo método conhecido como
Gravitação
13
FÍSICA GERAL II
Deferente
de Marte
Lua
Vênus
Terra Mercurio Sol
Marte
Epiciclóide
de Marte
Figura 1.1 - Modelo Geocêntrico de Ptolomeu
(simplificado).
Figura 1.2 - Modelo Heliocêntrico de Copérnico
(simplificado).
“poço de Siene”, quando determinou o comprimento da circunferência terrestre, seu
raio, superfície e volume. Hiparco de Nicéia, considerado um dos maiores astrônomos
da Antiguidade, escreveu vários tratados sobre Astronomia, Geografia, Matemática e
Mecânica, infelizmente, perdidos no tempo, mas lembrado em citações de seus colegas.
Inventou o astrolábio, instrumento para a determinação de distâncias angulares, utilizado,
inclusive, pelos navegantes do século XV e XVI, descobridores do continente americano.
Utilizou a hipótese do movimento circular uniforme para explicar o movimento do
Sol, da Lua e dos planetas conhecidos à época. Era defensor das idéias geocêntricas de
Aristóteles. Confeccionou um catálogo estelar dando nome às estrelas e estabelecendo
suas coordenadas eclípticas. Sistematizou a trigonometria plana e esférica e determinou o
ano trópico com grande precisão. Descobriu o movimento de precessão dos equinócios,
calculando seu período temporal (cerca de 26 mil anos).
Após Hiparco, o último grande astrônomo grego foi Cláudio Ptolomeu, que
viveu já na era cristã (século II d.C.). Em seu livro, Almagesto (em árabe, Hi Magisti
Sintaxe), difundiu ao mundo as idéias geocêntricas de Aristóteles, criando um modelo
complicado de deferentes, epiciclos, excêntricos e equantes, que proporcionou a descrição
dos intricados movimentos dos planetas, do Sol e da Lua. Este modelo ficou conhecido
como “modelo geocêntrico de Ptolomeu”, sendo o universo limitado à esfera das estrelas.
No modelo ptolomaico, a Terra era o centro do Sistema Solar, de tal forma que todos
os planetas conhecidos, inclusive o Sol e a Lua, gravitavam ao seu redor (figura 1.1)1.
O modelo geocêntrico foi aceito por mais de quinze séculos, influindo enormemente na
Filosofia, na Literatura, nas Artes e nas ciências da época. Ptolomeu também descobriu
a refração da luz na atmosfera terrestre e o movimento de evecção da Lua (variação da
excentricidade da órbita lunar).
Após Ptolomeu, a Astronomia não encontra mais sustentação e, praticamente,
desaparece dos interesses da época. O pensamento religioso cristão e a falta de interesse
sobre o assunto pelo Império Romano, atuaram no sentido de minimizar as idéias científicas,
induzindo ao esquecimento todo trabalho desenvolvido até então. O pensamento grego
praticamente desaparece e, somente no século VII d.C., como resultado da invasão da
Europa pelos árabes, é que o pensamento grego começa a ser redescoberto. Os árabes
iniciam a tradução do conhecimento grego para o árabe e, dessa forma, contribuem para
sua conservação e divulgação. A partir do século IX, membros da Igreja Católica começam
a traduzir os textos árabes para o latim, principalmente as idéias aristotélicas, que são
abraçadas, adotadas e tidas como verdadeiras. O pensamento escolástico, decorrente da
fusão do pensamento grego com o cristão, a partir do século XII, propicia o aparecimento
de centros de estudos que reuniam os grandes pensadores da época, surgindo, assim, as
Universidades.
O pensamento aristotélico, ensinado nas Universidades até meados do século
XVI, tornou-se o pensamento oficial. Porém, o renascimento das idéias, das artes, das
ciências foi aos poucos demolindo a conservadora e inquisitorial Idade Média. Em 1543,
ano de sua morte, o monge polonês Nicolau Copérnico apresentou uma nova teoria sobre
o Universo, resgatando velhas idéias gregas do heliocentrismo de Heráclides e Aristarco.
Segundo o modelo de Copérnico, o Universo é constituído por sete esferas concêntricas,
sendo a mais externa, a esfera das estrelas, e a mais interna a esfera de Mercúrio. Todas
as esferas, exceto aquela das estrelas, giravam em torno de um ponto central, onde se
localizava o Sol, daí o modelo ter sido batizado de “modelo Heliocêntrico de Copérnico”.
Nota-se, ainda, que o Universo continuava limitado à esfera das estrelas fixas,
porém, afirmava Copérnico, que a Terra era um planeta e que todos os planetas giravam
ao redor do Sol. Coube a Giordano Bruno, defensor ardoroso das idéias humanistas de
Platão, divulgar o modelo heliocêntrico, propondo, inclusive, a infinitude do Universo. A
1 Na verdade, o universo geocêntrico ptolomaico incluía a idéia de uma Terra ligeiramente descentrada (excêntrico).
14
defesa destas posições custou-lhe a vida em 1600, quando foi queimado vivo em praça
pública por ordem da Santa Inquisição da Igreja Católica.
Outro grande astrônomo do Renascimento foi Tycho Brahe (segunda metade do
século XVI). Apesar de ter ligações com as idéias aristotélicas, teve o grande mérito de
realizar inúmeras observações planetárias e estelares de grande precisão. Utilizando os
preciosos dados coletados pelo seu mestre Tycho Brahe, o astrônomo Johannes Kepler
(1571-1630), principalmente, ao estudar os movimentos de planeta Marte, descobriu
regularidades importantes, levando-o a propor três relações básicas sobre o movimento
planetário, posteriormente batizadas por Newton de “leis de Kepler”. Seu contemporâneo
de pesquisas, Galileu Galilei (1564-1642), introduziu o uso do telescópio nos estudos
astronômicos realizando importantes descobertas com sua luneta refratora. As montanhas
e crateras da Lua, os satélites de Júpiter, as manchas solares, as estrelas difusas da Via
Láctea, além das visíveis a olho nu, as fases de Vênus, dentre outras, foram as descobertas
mais espetaculares da nova astronomia ótica de Galileu. O sábio italiano, ademais, realizou
estudos sobre o plano inclinado, o período pendular, o movimento relativo dos corpos e
a razão matemática de um corpo em queda livre. Por sua contribuição experimental às
ciências, é considerado o pai do método experimental nas ciências físicas. Também sofreu
a ira da Inquisição e quase teve o fim trágico de Giordano Bruno.
“Se eu vi mais longe [do que outros] é porque me encontrava em ombros de
gigantes”, disse o próprio Isaac Newton (1642-1727), que nasceu no ano em que Galileu
morreu. Newton propôs a Lei de força sobre a Gravitação Universal, estabelecendo as
bases da Mecânica Celeste. A Lei da Gravitação Universal foi um marco fundamental
nos estudos astronômicos, pois conseguia explicar os motivos da atração entre os corpos
celestes, estando eles nas vizinhanças da Terra ou nos confins do espaço. Newton inventou,
também, o cálculo diferencial e integral; propôs a teoria corpuscular da luz; realizou
estudos sobre suas cores e seus espectros. Inventou, também, o telescópio refletor e, para
culminar, descobriu as leis da mecânica clássica, batizadas, mais tarde, como as “três leis
de Newton”. A Lei da Gravitação Universal de Newton, as três leis de Kepler e outros
estudos decorrentes, serão tratados neste capítulo.
Gravitação
1.2 Leis de Kepler
A constante controvérsia sobre as teorias geocêntrica e heliocêntrica estimulou os
astrônomos a realizarem medidas cada vez mais precisas dos movimentos planetários. Um
conjunto de medidas obtidas pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, com um grande
sextante e uma bússola ao longo de mais de vinte anos de observação planetária e estelar a
olho nu, permitiu que seu discípulo, o astrônomo alemão Johannes Kepler, estabelecesse
três leis empíricas para o movimento planetário, válidas para todos os planetas do Sistema
Solar conhecidos à época (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno).
Analisando cuidadosamente os dados sobre o movimento dos planetas,
principalmente, do planeta Marte, Kepler percebeu importantes regularidades em seu
movimento em torno do Sol se deixasse de trabalhar com órbitas circulares concêntricas.
Acabou adotando órbitas elípticas com o Sol ocupando um de seus focos. Percebeu, então,
que poderia generalizar seu pensamento para os outros planetas, construindo, assim, as
bases da mecânica celeste. Seu modelo continuaria a ser heliocêntrico, mas as órbitas
não seriam mais círculos perfeitos como propunham os astrônomos gregos e Nicolau
Copérnico. É importante salientar que Kepler não concebia as forças gravitacionais como
causa das regularidades observadas por ele, pois o conceito de força, posteriormente
formulado por Newton, ainda não estava claro para os astrônomos da época. Kepler
acreditava que o que ligava os planetas às suas órbitas ao redor do Sol era uma força de
origem magnética.
Antes de apresentarmos as Leis de Kepler, é importante ressaltar que o modelo
heliocêntrico de Copérnico proporcionou uma troca de referencial importante. No
15
FÍSICA GERAL II
modelo geocêntrico de Ptolomeu, a Terra desempenhava o papel de referencial inercial ao
descrever o movimento das estrelas e dos planetas conhecidos. No modelo geocêntrico,
além da Terra ser classificada como um planeta, o referencial inercial passou a ser o Sol,
muito mais adequado quando se estuda o movimento planetário. O referencial inercial
fixo no Sol, não girante, tem inúmeras vantagens em relação ao referencial fixo na Terra e
girante. Somente quando tratamos de corpos ou partículas próximos à superfície terrestre
é que podemos considerar a Terra como referencial inercial.
1.2.1 Primeira Lei de Kepler
Normalmente, ao tratarmos de corpos (ou partículas) que executam órbitas em
torno de um ponto central, consideramos as órbitas como circulares. A primeira Lei
de Kepler apresenta outra visão das órbitas, não as considerando mais como círculos
perfeitos, mas sim, como elipses. A órbita circular é um caso especial da órbita elíptica. A
lei das órbitas, como é conhecida a primeira lei de Kepler, diz que
“ To d o s o s p l a n e t a s s e m o v e m e m ó r b i t a s e l í p t i c a s ,
estando o Sol em um dos seus focos”.
A lei enunciada não explicita a causa do movimento e nem porque a órbita é elíptica.
É uma lei empírica que descreve somente o movimento dos planetas em torno do Sol, sem
qualquer explicação ou dedução teórica. Coube a Newton, mais de um século depois,
deduzir as leis de Kepler a partir das leis gerais do movimento para sistemas mecânicos e
da Lei da Gravitação Universal, que é uma lei de força aplicável ao movimento planetário,
interagindo à distância. A primeira lei de Kepler é, inclusive, uma consequência direta
da lei de força central (força que varia com o inverso do quadrado da distância entre os
centros dos corpos envolvidos, para o caso gravitacional). Sua dedução, a partir das leis de
movimento e da Lei de Gravitação, não
Planeta
é tão simples, pois depende de equações
diferenciais não estudadas até aqui.
Figura 1.3 - Órbita elíptica de um planeta, com
o Sol ocupando um dos focos. Periélio e Afélio
representam, respectivamente, o ponto mais
próximo do Sol e o ponto mais distante deste
ocupado por um planeta.
Periélio
F1
dmín
Afélio
F2
Sol
dmáx
O ponto da órbita mais próximo do Sol é chamado de periélio e o mais afastado de
afélio. Para um corpo circulando a Terra, o ponto mais distante que este ocupa na órbita é
chamado de apogeu e o mais próximo, de perigeu. O raio médio da órbita do planeta rmédio
é a média aritmética entre as duas distâncias ao centro do Sol (periélio e afélio), ou, o que
é equivale dizer que: o raio médio é o valor do semi-eixo maior da elipse, a.
rmédio =
d min + d max
= a.
2
De acordo com a figura 1.4, a dimensão
maior corresponde ao eixo maior da elipse e a
dimensão menor corresponde ao eixo menor da
A
elipse.
Semi-eixo
menor
Sol
F1
Planeta
Semi-eixo
maior
F2
Centro
Figura 1.4 - Semi-eixos de uma elipse.
16
B
Calculando a distância que une o foco S até o planeta (foco do Sol até o planeta)
e do foco S’ até o planeta (foco vazio até o planeta), veremos que a soma das distâncias
será a mesma para todos os pontos sobre a curva (órbita), independentemente de onde
o planeta se encontra. O Sol ocupa um dos focos e, no outro, não há nada (foco vazio).
Podemos considerar, também, o Sol e os planetas como partículas, pois suas dimensões
são muito menores do que a distância entre eles.
As órbitas dos planetas não são elipses muito alongadas, como sugerem as figuras
1.3 e 1.4. Na realidade, as órbitas planetárias são quase circunferências e o elemento
geométrico que diferencia uma circunferência de uma elipse é um parâmetro denominado
excentricidade, simbolizado pela letra e (figura 1.5). A distância de cada foco da elipse
até seu centro (cruzamento dos eixos) é igual a ea, sendo e um número adimensional
(excentricidade da elipse) com valor positivo entre zero e um (0 ≤ e ≤ 1), e a, o raio médio
da órbita (semi-eixo maior rmédio=a ). Quando e =
0, a elipse transforma-se em uma circunferência
e, para excentricidades maiores que um, obtémse parábolas e hipérboles.
Gravitação
As órbitas planetárias são aproximadamente
circulares, com a excentricidade variando de
0,007 (Vênus) até 0,206 (Mercúrio). A da Terra
corresponde a e= 0,017. A maior excentricidade
corresponde àquela de Plutão, com e=0,25.
Newton demonstrou que, quando uma força
Figura 1.5 - Excentricidade das órbitas.
proporcional a 1/r2 (força central) atua sobre
um corpo (corpo ligado ao centro de força
gravitacional), as únicas órbitas fechadas possíveis são as elipses e as circunferências
(planetas, asteróides, cometas, luas ligadas aos planetas ou ao sol). Para corpos não
ligados, como os meteoróides do espaço longínquo e que passam somente uma vez perto
do Sol, ainda continua válida a lei do inverso do quadrado à distância, mas as órbitas
possíveis são as parábolas e as hipérboles.
1.2.2 Segunda Lei de Kepler
A velocidade que um planeta circula o Sol não é igual em todos os pontos da
órbita, sendo maior quando o planeta está mais próximo do Sol (periélio) e menor quando
está mais distante (afélio), portanto, a velocidade de translação dos planetas é variável. Do
afélio para o periélio, o movimento é acelerado e do periélio para o afélio, o movimento
é retardado. A explicação física para tais variações na velocidade do planeta está baseada
na força de atração gravitacional que o
o
ent
V
vim
Mo lerado
Sol exerce sobre o planeta. Essa força
ace
F
está sempre dirigida para o centro de
F
massa do Sol (força central). Podemos
ver pela figura 1.6 que, do afélio
para o periélio, a força gravitacional
possui uma componente tangencial no Periélio
Afélio
F
sentido da velocidade de translação,
“ajudando” o movimento, enquanto
V
Mov
reta imento
que, do periélio para o afélio, a
rda
F
do
componente da força é contrária à
velocidade de translação, retardando Figura 1.6 - Componentes da força gravitacional no
movimento de translação planetária.
o movimento.
1
t1
1
2
2
t2
17
FÍSICA GERAL II
Na figura 1.7 estão representadas
t
as áreas A1 e A2 varridas pelos vetoresr
posição do planeta. Os intervalos de tempo
são Δt1 e Δt2. Se os intervalos de tempo são ∆t A
iguais, então, as áreas varridas também
r
serão iguais, ou seja, A1 = A2. Tendo
t
descoberto esta relação, Kepler enunciou
sua segunda regra (a primeira e segunda
lei foram publicadas em 1609, no livro Figura 1.7 - Lei das áreas.
Astronomia Nova), também conhecida
como lei das áreas, como sendo:
A
A
1
tD
rD
∆t2
A2
1
rC
tC
B
B
“A reta (raio vetor) que une o Sol a qualquer planeta descreve (varre) áreas iguais
em intervalos de tempos iguais.”
Devido à excentricidade da órbita,
o espaço percorrido (deslocamento escalar)
pelo planeta na região do periélio (ΔS1) é ∆s
∆s
A
A
maior que o espaço percorrido na região
Afélio
do afélio (ΔS2), ou seja, ΔS1 > ΔS2 (figura Periélio
1.8). Em termos de velocidade média de
translação, podemos dizer que ela é maior
Figura 1.8 - Deslocamentos escalares e velocidades.
na região do periélio do que na do afélio.
É possível demonstrar a segunda lei de Kepler através do princípio de conservação
do momento angular, considerando o planeta como sistema e supondo que a massa do Sol
seja muito maior que a do planeta, de tal forma que o Sol permanece em repouso no centro
de força (força central). É importante salientar que a segunda lei de Kepler é válida para
qualquer força central, de atração ou de repulsão.
Quando é inverno no Hemisfério Norte (janeiro), a Terra está mais próxima do Sol
(periélio) do que quando é verão (julho). Para o Hemisfério Sul é o inverso. Em função
da órbita da Terra em torno do Sol ser uma elipse ligeiramente achatada, as durações das
estações não possuem a mesma quantidade de dias. E se a órbita fosse uma circunferência,
como seria a duração das estações?
1
QUESTÃO 1.1
Em seu periélio, o
planeta Mercúrio está a
4,60 x 107 km do Sol.
No seu afélio, encontra-se a 6,99 x 107 km,
e sua velocidade orbital
é de 14,00 x 104 km/h.
Qual será sua velocidade orbital no periélio?
Sugestão: Fazer uso do
princípio de conservação do momento angular como constante do
movimento.
1
2
2
1.2.3 Terceira Lei de Kepler
Aproximadamente 10 anos de dedicação ao estudo pormenorizado das tabelas de
Tycho Brahe, Kepler visualizou uma relação entre o período de revolução e o raio médio
da órbita dos planetas, que ficou conhecida como 3ª lei de Kepler. A terceira lei de Kepler,
também conhecida como lei dos períodos (ou lei harmônica – derivada da harmonia
musical), geralmente é deduzida nos livros textos considerando-se órbitas circulares. A
dedução baseia-se nas leis de força de Newton (Lei da gravitação e 2ª lei da Mecânica).
O raio da órbita é o raio médio r (semi-eixo maior) e o período de revolução (translação)
é o ano sideral do planeta T (TTerra = 1 ano). Com exceção de Mercúrio, Marte e Plutão
(que não é mais considerado planeta, atualmente), todos os outros possuem órbitas quase
circulares (pouco “achatadas”). Mesmo para órbitas elípticas, a terceira lei de Kepler
continua válida. Nestes termos, a terceira lei pode ser enunciada da seguinte forma:
“O quadrado do período de translação (T2) de qualquer planeta é proporcional ao cubo
do semi-eixo maior da órbita elíptica (r3).”
18
Matematicamente temos:
T2
=K.
r3
Gravitação
O valor de K é constante (em torno de 1) para todos os planetas, conforme pode
ser visto na tabela 1. Outras tabelas, que colocam o período de revolução em dias ou em
segundos e a distância média Terra-Sol (semi-eixo maior da elipse) em metros (m) ou
quilômetros (km), dão valores de K diferentes de 1, mas os novos valores obtidos para
todos os planetas são sempre os mesmos (constantes).
Tabela 1.1 A 3ª lei de Kepler – Dados dos planetas.
Note que o período de revolução em torno do Sol e os raios médios de suas órbitas
são diferentes para cada planeta, mas o quociente do quadrado do período pelo cubo
do raio médio resulta numa constante aproximadamente igual à unidade. As pequenas
diferenças são justificadas pelas incertezas nas medidas para os períodos e semi-eixos
maiores das órbitas dos planetas.
É importante observar que o período de revolução não depende da excentricidade
da órbita. Por exemplo, um asteróide movendo-se em uma órbita elíptica achatada
(semi-eixo maior r), terá o mesmo período de revolução que um planeta que descreve
uma órbita circular com o mesmo raio r. A diferença está nas suas velocidades, pois o
asteróide possuirá velocidades variáveis ao longo da órbita elíptica, enquanto o planeta
terá velocidade constante (MCU – movimento circular uniforme).
As três leis de Kepler são leis universais, ou seja, valem para o nosso sistema
solar e também para outros sistemas do Universo onde exista uma grande massa central
atraindo massas menores, inclusive para planetas e seus satélites, naturais ou artificiais
(como a Terra). Vale, inclusive, para grandes estruturas do Cosmos como, por exemplo, a
massa de bilhões de estrelas ao redor do centro galático.
EXEMPLO 1.1
A distância média do sistema Terra-Sol é de 1,50 x 108 km, e o período de revolução da Terra
em torno do Sol é de 1 ano. A distância média do sistema Marte-Sol é de 2,28 x108 km. Qual o
período de revolução de Marte ao redor do Sol?
Solução:
Aplicando a Lei dos períodos, temos:
TM2 TT2
= 3
rM3
rT
Substituindo os valores dados no problema, e sabendo que 1 ano = 365 dias, ficamos com
TM ≈ 682 dias
19
1.3 Lei da Gravitação Universal de Newton
FÍSICA GERAL II
Figura 1.9 - Força gravitacional entre duas partículas.
No ano de 1665, a Inglaterra sofria uma grande epidemia de peste e para escapar da
morte certa, Newton refugiou-se na casa de seus pais, na pequena aldeia de Woolsthorpe,
pois a Universidade de Cambridge fôra fechada. Naquela época, aos 23 anos de idade,
Newton estava preocupado em saber qual a causa que mantinha a Lua girando em torno da
Terra. Usando a fórmula da aceleração centrípeta proposta por Huygens, Newton calculou
sua aceleração centrípeta, supondo ser a órbita da Lua circular. Realizado o cálculo, fez a
si próprio uma pergunta intrigante: qual seria a fonte da força que produz tal aceleração?
A indagação a respeito da causa que mantinha a Lua acelerada foi a linha mestra para
o pensamento de Newton. Consta na história que Newton, ao observar a queda de uma
maçã no pomar, indagou: “será que a força que fez a maçã cair não seria do mesmo tipo
daquela que mantém a Lua girando ao redor da Terra?”. Com base nessa indagação,
o cientista inglês considerou a hipótese de que cada corpo no universo exerce uma força
sobre todos os outros corpos ao seu redor.
A aceleração centrípeta da Lua calculada por ele induziu ao pensamento de que
a causa da rotação da Lua e da queda da maçã seria a mesma. Deveria haver uma força
comum que fosse responsável por tais movimentos. Tal força, denominada de força
gravitacional, é o fundamento da lei de atração entre massas, conhecida por Lei da
Gravitação Universal de Newton. Em conjunto com as três leis de movimento, Newton
publicou, em 1687, a lei da gravitação. Estas leis são os pilares da Mecânica Clássica. A
lei da gravitação de Newton pode ser enunciada como:
“A força entre duas partículas quaisquer, de massas m1 e m2, separadas por uma distância r entre seus centros, é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que as separam”.
Matematicamente, o módulo da força gravitacional é dado por
Fg = G
m1 m2
.
r2
onde G é uma constante universal, calculada experimentalmente pela primeira vez por
Lorde Cavendish, em 1798. Atualmente, seu valor é igual a,
G = 6,673 x 10-11 Nm2/kg2.
EXEMPLO 1.2
Calcule o módulo da força gravitacional entre o Sol e a Terra, sabendo-se que a distância Terra-Sol é de 150 milhões de quilômetros e suas massas são: MS =2 x 1030 kg e MT = 6 x 1024 Kg.
Solução:
Aplicando a Lei da Gravitação Universal de Newton, ficamos com
M .M
Fg = G S 2 T
rST
Substituído os valores, temos que Fg = 3,6 x 1022 N. É uma força atrativa muito grande!
Com relação à Lei da Gravitação Universal devemos destacar alguns aspectos
fundamentais:
1- A força gravitacional entre duas partículas é atrativa e constitui um par açãoreação (3ª Lei de Newton), agindo ao longo da linha que une seus centros.
Assim, as forças possuem o mesmo módulo, mesma direção, mas sentidos
opostos. Matematicamente, em termos vetoriais, temos


F12 = − F21
20
2- A constante universal G não deve ser confundida com a aceleração
gravitacional g, provocada pela atração gravitacional da Terra sobre um corpo
de massa m. Suas dimensões são diferentes, uma vez que a constante G possui
um valor único para todo par de partículas que se atrai em qualquer ponto do
Universo e, além disso, é uma grandeza escalar. A aceleração gravitacional
g é um vetor, não sendo universal e nem constante, uma vez que depende
do ponto onde a partícula (corpo) se encontra em relação à Terra (ou de um
planeta qualquer), tomada como referencial inercial.
3- A Lei da Gravitação Universal de Newton é uma lei de força simples,
considerada uma força fraca quando comparada às forças elétricas,
magnéticas e nucleares, não sendo entendida como uma equação de definição
de nenhuma das grandezas envolvidas nela (força, massa e comprimento). A
lei da gravitação entre partículas relaciona-se somente com as propriedades
mensuráveis das partículas envolvidas, implicando na idéia de que a força
gravitacional entre elas independe da presença de outras partículas e das
propriedades do espaço intermediário.
4- Quando nos referimos aos corpos extensos como, por exemplo, a Terra e o
Sol, a lei continua válida, mas devemos considerar cada corpo como composto
de inúmeras partículas, calculando as interações (forças) entre elas, par a
par, corpo a corpo, através do cálculo integral (também desenvolvido por
Newton). Quando se trata de esferas uniformes é possível considerar a idéia
do centro de massa para o cálculo da força gravitacional. O que se verifica
é que o cálculo da interação entre dois corpos que possuem distribuições de
massa com simetria esférica (esferas maciças ou ocas) é o mesmo da interação
gravitacional entre duas partículas localizadas em seus centros e possuindo
suas massas.
5- Quando tratamos a Terra como um corpo esférico de massa MT, a força
gravitacional (módulo) que ela exerce sobre uma partícula ou sobre um corpo
esférico de massa m, com separação entre seus centros igual a RT, é dada por,
Fg = G
MT m
.
RT2
para o corpo ou partícula situado na parte externa da crosta terrestre. Uma
força de mesmo módulo, atuando na mesma direção, mas de sentido contrário
é feita pelo corpo ou partícula sobre a Terra (lei da ação-reação). Pergunta:
Quando você pula de uma escada, porque é você que cai em direção a Terra
e não é a Terra que sobe até você?
Para pontos situados no interior da Terra (abaixo da superfície externa) o
cálculo é diferente. À medida que caminharmos para o interior da Terra
ou de qualquer corpo esférico, somente a massa que está abaixo é que
exerce força gravitacional sobre nós. As partes que se situam acima do
local onde nos encontramos não têm efeito atrativo. Se chegássemos ao
centro da Terra, por exemplo, a força gravitacional seria nula. Por quê?
Se abríssemos um túnel reto que passasse pelo centro da Terra e saísse do
outro lado e soltássemos um corpo de massa m em uma das aberturas do
túnel, ele executaria um movimento retilíneo uniformemente acelerado até
o centro da Terra (velocidade máxima) e depois seria desacelerado até atingir a superfície oposta da Terra (velocidade nula). O corpo executaria um
movimento harmônico simples, como se fosse um pêndulo simples, com
período constante, desde que desprezadas as forças dissipativas.
Gravitação
m1
m1
R1
Fg
Fg
r
r
Fg
R2
Fg
m2
m2
Figura 1.10 - Força
gravitacional
entre
corpos com simetria
esférica (partículas).
21
6- A força gravitacional varia com o inverso do quadrado da distância entre
o centro dos dois corpos esféricos que se atraem, ou seja, varia com 1/r2. A
variação da força F em função da distância d (d=r) pode ser visualizada na
figura 1.11.
FÍSICA GERAL II
F
F
Obs.: Dois corpos quaisquer sempre se atraem gravitacionalmente,
independentemente do valor de suas massas ou de suas dimensões. Pelo fato da constante
G ser muito pequena, a intensidade (módulo) da força atrativa só se torna apreciável se
uma das massas for muito grande, como, por exemplo, a Terra. É por esse motivo que
duas pessoas próximas não sentem as atrações gravitacionais de uma sobre a outra, mas
as forças atrativas existem! Também, deve ser levada em consideração a distância entre
os corpos.
F/2
F4
F/8
F/16
0
d
2d
3d
4d
Figura 1.11 - Variação
da força em função da
distância d entre os
centros dos corpos
m
d
F = mg
Figura 1.12 - Campo
de força gravitacional
produzido por um corpo de massa M. Atuação sobre outro corpo
de prova (m).
d
1.4 O Campo Gravitacional
Na época de Newton, pensava-se a força gravitacional como se fosse uma interação
direta entre as massas, conhecida como teoria da ação à distância, posteriormente
descartada porque pressupunha que a interação seria instantânea, com velocidade infinita.
O conceito de campo (teoria dos campos) só foi desenvolvido bem depois, por Faraday,
para o estudo do eletromagnetismo e, posteriormente, aplicado à gravitação. O conceito
de campo leva em consideração que uma partícula de massa M provoca uma alteração
no espaço em sua volta, criando um campo gravitacional, que atua sobre qualquer outra
partícula que penetra na região, exercendo sobre a segunda uma força gravitacional
atrativa. Desse ponto de vista, o campo desempenha o papel de intermediário com respeito
às forças entre partículas materiais, ou seja, ele é o “transmissor” das forças gravitacionais
entre corpos.
O campo gravitacional é um campo vetorial onde, a cada ponto do espaço,
podemos associar um vetor, denominado de vetor campo gravitacional. Também é um
campo estacionário, pois seu valor, em cada ponto, não varia com o passar do tempo.
Assim, todo corpo material, por menor que seja, sempre origina um campo gravitacional.
A força gravitacional é uma força decorrente do campo gravitacional, o qual, apesar de
não poder ser visualizado ou tocado, existe, pois podemos sentir sua presença. Nosso peso,
que é a força com que somos atraídos para o centro da Terra, talvez seja o principal efeito
que sentimos. O campo gravitacional é uma das propriedades da matéria, dependendo
diretamente da massa que o produz. O fato importante a respeito do fenômeno da
gravitação é que massas criam campos e, se tivermos duas massas, cada uma exercerá
sobre a outra uma força de atração gravitacional.
Imaginemos agora um corpo de massa M. Em sua volta, ele cria um campo de
forças em decorrência de sua massa. Qualquer outro corpo de massa m (corpo de prova)
que for colocado em sua vizinhança “sentirá” o campo gravitacional, ficando sujeito a
uma força de atração gravitacional. É o que ocorre, por exemplo, com qualquer corpo
que estiver nas proximidades da Terra. Ele será atraído para o centro do planeta devido
ao campo gravitacional terrestre. A força gravitacional é uma força de campo (o campo é
o transmissor da força), existindo por si só, sem a necessidade de que haja contato entre
os corpos.
A figura 1.12 mostra o campo gravitacional produzido por um corpo de massa M
e sua ação sobre o corpo de prova (massa m) na sua vizinhança.
A cada ponto do espaço ao redor do corpo de massa M associamos um vetor,
denominado de vetor campo gravitacional, simbolizado pela letra g, que é a aceleração
que um corpo de massa m fica submetido quando colocado naquele ponto do campo. O
vetor g é definido como sendo a força gravitacional por unidade de massa no ponto
considerado, ou seja,
g=
F
.
m
A força pode ser calculada a partir da intensidade do campo gravitacional,
simplesmente multiplicando o vetor aceleração gravitacional pela massa do corpo de
22
prova colocado no ponto. Como a força é uma entidade vetorial, a força gravitacional
tem direção radial (mesma direção do vetor g) com sentido dirigido do corpo de prova
para o centro da Massa m e módulo igual a mg, comumente denominado de peso. Assim,
quando um corpo de prova de massa m for colocado no ponto, ele ficará sujeito a uma
força gravitacional, a qual, de acordo com a 2ª Lei de Newton, é dada por
por
Gravitação
F = mg .
Sabe-se que o módulo da força de atração gravitacional entre duas massas é dado
Fg = G
Mm
.
r2
Igualando os módulos das duas forças e para pontos externos ao corpo criador do
campo, resulta que
mg = G
Mm
M
⇒ g =G 2
2
r
r
Quando, por exemplo, um corpo de massa m é solto nas proximidades da Terra, ele
“cairá” na direção do centro da Terra realizando um movimento retilíneo uniformemente
variado. No MRUV, a aceleração é sempre constante em módulo, direção e sentido. A
direção do vetor campo gravitacional (aceleração gravitacional) é sempre perpendicular
à superfície acima do ponto onde está o corpo (direção do fio de prumo) e o sentido é
sempre dirigido para o centro do planeta. O módulo da aceleração gravitacional varia de
ponto a ponto, sendo adotado o valor de g = 9,80665 m/s2 ao nível do mar e para a latitude
de 45° N (Meridiano de Greenwich).
Generalizando, podemos dizer que o valor do vetor campo gravitacional, em um
ponto qualquer nas proximidades da massa M, depende somente do ponto considerado e
da massa do corpo que cria o campo, ou seja, é uma característica do local e não da massa
do corpo experimental (corpo de prova).
Para um corpo esférico (raio r) e homogêneo, o módulo do campo gravitacional
tem as seguintes características:
a) para pontos na superfície,
g = g0 = G
M
r2
b) para pontos exteriores ao corpo de massa M (d > r),
g =G
M
d2
c) para pontos no interior do corpo (d < r), o campo gravitacional varia
linearmente com a distância, medida a partir do centro do corpo de massa
M, ou seja, g é diretamente proporcional à distância do ponto considerado ao
centro do corpo (g = Kd), onde K é uma constante.
EXEMPLO 1.3
Considerando o raio médio da Terra igual a 6.400 km, a que distância da superfície terrestre uma pessoa tem seu peso reduzido a 1/5? Dados: MT = 6 x 1024 kg.
Solução:
A massa da pessoa não varia, mas seu peso é reduzido a 1/5 em relação ao da superfície
terrestre. Nesta situação, a aceleração gravitacional no ponto é igual a g= 9,8/5 m/s2, que
corresponde a uma distância d do centro da Terra, dada por
9,8
6.1024
= 6, 67.10−11. 2
5
d
Assim, d = 7,15 x 106 m, ou d = 7.150 km
23
FÍSICA GERAL II
A figura 1.13 mostra a variação do campo gravitacional em função da distância ao
centro do corpo criador do campo.
Figura 1.13 - Variação do campo gravitacional
em função da distância ao centro de forças.
O campo gravitacional também varia em
função da altitude e da latitude sofrendo, ainda,
pequenas variações provocadas pelas distorções
da simetria esférica da Terra e variações locais de
densidade. As tabelas 1.2, 1.3 e 1.4 mostram as
variações com a altitude e latitude e, também, as
acelerações em cada planeta, inclusive na Lua.
Tabela 1.2 - Variação da intensidade do campo
Para a Terra, faremos mais algumas gravitacional terrestre em função da altitude.
considerações. Nosso planeta não é uma esfera
perfeita e, também, não pode ser considerada
como um referencial inercial, pois além de
estar girando em torno de seu eixo de rotação
(aceleração centrípeta), possui movimento de
translação em torno do Sol com aceleração
variada, além de outras acelerações devidas Tabela 1.3 - Variação da aceleração da gravidade
aos movimentos do Sol, da Via Láctea, etc. terrestre em função da latitude.
Devido ao movimento de rotação, o peso
aparente (pap) de um corpo de massa m sobre
a superfície terrestre não é exatamente igual à
força de atração gravitacional que a Terra exerce
sobre o corpo, denominado de peso real (p0) do
corpo. Se utilizássemos um dinamômetro para
medir o peso de um corpo sobre a superfície
terrestre, veríamos que no equador o corpo tem
peso diferente do que nos pólos. No equador, Tabela 1.4 - Intensidade do campo gravitacional
um corpo se move em um círculo de raio RT na superfície do Sol e de seus planetas.
(considerando a Terra como esfera perfeita) e
com velocidade angular ω, havendo, portanto, uma força resultante que “puxa” o corpo
para o centro da Terra (força centrípeta), tal que
pap
= p0 − ω 2 RT
Como a massa do corpo não varia, podemos dividir a equação anterior por m,
obtendo a relação entre o módulo da aceleração gravitacional aparente (gap) no equador e
da aceleração gravitacional real (nos pólos), ou seja,
g ap= g 0 − ω 2 RT (no equador – Latitude 0°)
24
Substituindo os dados da Terra, teremos:
gap = g0 – 0,0339 m/s2 (no equador - Latitude 0°).
Nos pólos, a aceleração centrípeta é nula (distância do corpo ao eixo de rotação é
igual a zero), portanto, o peso aparente é igual ao peso real, ou, dito de outra forma,
gap = g0 (nos pólos – Latitude 90°)
Pelos dados, podemos ver que, considerando a Terra como uma distribuição
esférica de massa, a aceleração da gravidade no equador é 0,0339 m/s2 menor do que a
aceleração gravitacional nos pólos. Este é um dos motivos de serem as bases de lançamento
de satélites próximas do equador.
É comum, nos dias de hoje, vermos astronautas flutuando no espaço ou no interior
de naves espaciais, como se não tivessem “peso” algum (levitação). Como isso é possível?
Para isso, vamos imaginar uma pessoa de massa m, dentro de um elevador que desce com
aceleração a. Nessa situação, existem duas forças atuando no corpo da pessoa, que são:
seu peso P, que é a força de atração gravitacional da Terra, e a reação normal do assoalho
do elevador (N) sobre a pessoa. A intensidade da força normal de compressão (-N) que a
pessoa aplica sobre o piso do elevador é seu peso aparente (Pap), que é a força que seria
lida por um dinamômetro que estivesse colocado entre a pessoa e o piso. A figura 1.14
permite visualizar a situação proposta.
Aplicando a 2ª Lei de Newton para o caso, visto a pessoa e o elevador estarem em
movimento acelerado para baixo (MRUV), em módulo, ficamos com
P − N = ma ⇒ mg − Pap = ma ⇒ Pap = mg − ma
ou seja,
=
Pap m ( g − a ) .
Se o elevador estiver em queda livre, sua aceleração será igual à aceleração da
gravidade, resultando num peso aparente nulo, ou seja, a pessoa levitaria dentro do
elevador, não exercendo qualquer pressão sobre o piso. Tudo se passa como se a aceleração
da gravidade no interior do elevador fosse nula. Essa situação é a mesma que ocorre com
um astronauta em órbita. O peso aparente do astronauta é nulo e ele flutua no interior
da nave numa situação de imponderabilidade. O astronauta, flutuando no espaço ou no
interior da nave, comporta-se como se fosse outro satélite artificial, não exercendo pressão
nas paredes da nave. Provocando pequenos impulsos sobre os corpos, os astronautas
aproveitam os movimentos inerciais dos corpos, locomovendo-os no interior da nave ou
em seu exterior.
Gravitação
QUESTÃO 1.2
O valor da massa de um
corpo sofre variação com
a latitude ou com a altitude? Será que na Lua, onde
a aceleração gravitacional
é, aproximadamente, igual
a 1/6 daquela da Terra, a
massa do corpo variaria? E
seu peso?
a
g
g
a
N
P
1.5 Corpos em Órbita Circular – Satélites
Satélites artificiais em órbita ao redor da Terra são um fato corriqueiro na vida
moderna. Todas as noites, aproximadamente até as 21 horas, e entre as 4 e 6 horas da
manhã, é possível observar satélites executando as mais diversas órbitas, parecendo viajar
por entre as estrelas. É importante estudar os fatores que determinam as propriedades das
órbitas e como os satélites permanecem em órbita, inclusive a Lua, que é nosso satélite
natural. Tais respostas são encontradas na aplicação das Leis de Newton da Mecânica
Clássica e na Lei da Gravitação Universal.
No curso de Mecânica Clássica, quando estudamos o movimento de um corpo
(lançamento na horizontal) vimos que, dependendo do módulo da velocidade de
lançamento vo, o corpo cai cada vez mais longe à medida que a velocidade aumenta.
Galileu já havia percebido que, desprezando as forças de atrito, o corpo iria cada
vez mais longe, inclusive podendo girar em torno da Terra (entrar em órbita). Se você
lançar uma pedra na horizontal, do alto de um morro, e desprezar as forças de atrito que
consomem energia do movimento, a pedra cairá a certa distância de onde você lançou.
Aumentando a velocidade, aumentará a distância de queda. Aumentado cada vez mais a
velocidade, chegará um ponto em que a curvatura da Terra passa a ser um fator importante.
-N
Figura 1.14 - Pessoa dentro de elevador. Forças
atuantes.
25
FÍSICA GERAL II
v
r
a
Fg
v
Fg
a
RT
Fg
a
v
Figura 1.15 - Força gravitacional, aceleração e velocidade tangencial em um
satélite em torno da Terra.
À medida que a pedra avança em sua trajetória, ela continuará “caindo” em torno da Terra,
como se a Terra “encurvasse” embaixo da pedra. Prosseguindo neste raciocínio, a pedra
continuaria a “cair” em torno da Terra, continuamente, retornando ao ponto de lançamento
após certo tempo, ou seja, a pedra entraria em uma órbita circular em torno da Terra e
como desprezamos as forças de atrito, o movimento se daria com velocidade constante.
Portanto, um movimento circular e uniforme (MCU), onde a aceleração gravitacional
seria sua aceleração centrípeta (a força centrípeta na órbita seria igual ao seu peso).
As trajetórias realizadas por satélites artificiais têm excentricidades distintas,
desde trajetórias quase circulares até órbitas abertas, quando não mais retornam ao planeta.
Nosso interesse são as órbitas fechadas (elipses e círculos) onde o corpo retorna ao ponto
inicial de entrada em sua órbita.
A trajetória circular é a mais simples de ser estudada, pois muitos dos satélites
possuem órbitas quase circulares, inclusive, as órbitas dos planetas do sistema solar e da
Lua são quase circulares, possuindo pouca excentricidade, podendo ser tratadas como
circulares, em primeira aproximação. A única força que atua em um satélite artificial
em órbita circular é a atração gravitacional que está orientada para o centro da Terra e,
consequentemente, para o centro da órbita. Nesta situação, o satélite realiza um MCU e
sua velocidade tangencial é constante em módulo. O satélite não cai em direção à Terra,
mas continua “caindo” ao redor dela e sua velocidade tangencial é aquela que ele necessita
para manter constante sua distância ao centro da Terra (fig.1.15)
De acordo com a lei da gravitação, a força resultante que atua sobre o satélite
(módulo da força gravitacional) de massa m, é a atração gravitacional existente entre
o satélite e a Terra (MT). A aceleração está sempre dirigida para o centro da Terra e sua
direção é sempre perpendicular à velocidade tangencial do satélite. Pela 2ª Lei de Newton,
temos que
M T m mv 2
=
= Fc .
Fg G =
r2
r
Da expressão anterior e para órbitas circulares (raio r), isolando a velocidade,
ficamos com
v=
GM T
.
r
A velocidade tangencial do satélite é uma função do raio da órbita, ou seja, para
certa órbita, o satélite terá determinada velocidade em torno da Terra. Note, também, que
a velocidade orbital não depende da massa do satélite.
A última afirmação implica dizer que, se dividíssemos a estação orbital em várias
partes, todas elas continuariam com a mesma velocidade em torno da Terra, constituindo
cada parte em si, um satélite artificial, inclusive, os próprios astronautas também se
comportariam como satélites artificiais. A velocidade e a aceleração dos astronautas são
as mesmas da estação orbital, de tal maneira que não existe nenhuma força empurrandoos contra as paredes da estação ou contra seu piso. Os astronautas estão em estado de
imponderabilidade, no qual seus pesos aparentes são nulos, tal como no caso do elevador
em queda livre. É devido a esse estado de peso aparente nulo que os astronautas ficam
flutuando no interior da nave. Outro dado interessante é que as diversas partes do corpo do
astronauta (braços, fígado, coração, cabeça...) também ficam com peso aparente zero, daí,
ele não sente nenhuma força empurrando seu estômago contra o intestino, nem o peso de
seu braço, nem a pressão da cabeça sobre seus ombros!!!
Esta característica das órbitas circulares (peso aparente nulo) também ocorre para
qualquer tipo de órbita, inclusive as órbitas abertas, desde que a única força atuante sobre
o corpo for a atração gravitacional. Podemos achar o tempo de revolução de um satélite
numa certa órbita de raio r. O satélite demora um certo tempo T (período) para percorrer
o perímetro do circulo com velocidade v, assim,
26
v=
2πr
T
Gravitação
Substituindo a velocidade, anteriormente explicitada, ficamos com
r3
T = 2π
.
GM T
Utilizando a fórmula do período e rearranjando os termos, obtemos
T2
4π 2
=
= K.
r 3 GM T
Esta última expressão é a 3ª Lei de Kepler. Note que a constante planetária K não
depende da massa do satélite que está orbitando, mas somente da massa do corpo central
(centro de força).
Para satélites estacionários, normalmente de telecomunicações, o raio da órbita (a
partir do centro da Terra), está na faixa dos 42 mil quilômetros. A velocidade de translação
(velocidade tangencial) se situa na faixa dos 10,8 mil quilômetros por hora. Assim, o
período de revolução é de 24 horas, o mesmo do período de rotação da Terra, portanto, para
um observador da Terra, o satélite parece estar parado no espaço como uma estrela fixa.
Como os sinais de rádio e TV (ondas eletromagnéticas) se propagam com a velocidade
da luz, o tempo de ida ao satélite e volta à Terra, somados ao tempo de distribuição do
sinal pelo planeta é muito pequeno, imperceptível aos nossos sentidos. Tudo parece estar
acontecendo em tempo real, mas não é assim.
EXEMPLO 1.5
Um satélite, a 1000 km de altura em relação à superfície terrestre, orbita circularmente
com velocidade escalar constante. Calcule sua velocidade escalar.
Solução:
Lembre-se que a velocidade é uma velocidade tangencial e que a altura deve ser somada
ao raio da Terra, ou seja, r = RT + h. Adotando RT = 6,37 x 106 m e MT = 5,98 x 1024 kg,
teremos
v=
GM T
r
Substituindo os valores, ficamos com v = 7,36 x 103 m/s2 ≈ 26.500 k/h. O tempo de
revolução seria em torno de 1 hora e 45 minutos. Você, estudante, deve observar que a
velocidade orbital não depende da massa do satélite.
1.6 Energia Potencial Gravitacional
Quando um planeta gira em torno do Sol, as propriedades orbitais permanecem
constantes ao longo de milhões de anos. Tal fato sugere que a energia mecânica
(cinética + potencial) se conserva no movimento de translação do sistema Sol-planeta. A
conservação da energia mecânica é atribuída ao fato de que os dois corpos (Sol e planeta)
se comportam como sistema isolado e que as únicas forças que atuam no sistema são suas
forças gravitacionais atrativas e conservativas. Como as órbitas são elípticas, a velocidade
tangencial do planeta varia a cada ponto da órbita, sendo maior nas proximidades do Sol
(periélio) e menor no afélio. Assim, cada vez que o planeta circula ao redor do Sol, deve
haver uma troca de energia mecânica nas suas formas cinética e potencial entre o sistema.
27
A energia cinética do sistema planeta-Sol é atribuída, praticamente, somente ao
planeta, pois o Sol, como centro atrator e muito mais “pesado” que o planeta, não se
move. Com relação a qualquer planeta, a força gravitacional solar é a maior das forças
gravitacionais que atua no sistema, constituindo o Sol o centro de forças atrativas que
mantêm os planetas presos a ele e gravitando ao seu redor. Nosso sistema de referência
inercial está centrado no Sol (a massa M está em repouso) e o planeta é o sistema móvel.
O sistema planeta-Sol pode ser tratado como um sistema de dois corpos isolados,
de massas m e M, para M>>m, de tal forma que podemos aplicar o princípio de
conservação da energia mecânica. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a um satélite
orbitando a Terra, ao sistema Terra-Lua, ou mesmo a um cometa passando perto do Sol. A
energia mecânica total E do sistema de dois corpos isolados é a soma da energia cinética
do corpo girante (massa m) somada à energia potencial gravitacional do sistema, ou seja,
FÍSICA GERAL II
E = Ecin + U g = constante .
Já foi visto que a força gravitacional é conservativa, isto é, o trabalho realizado
pela força sobre a partícula só dependo dos pontos inicial e final e não da trajetória
efetivamente percorrida. O teorema do trabalho-energia diz que “o trabalho realizado
pela resultante F das forças que age na partícula, quando esta se desloca de um ponto a
outro da trajetória, é igual à variação de sua energia cinética”, ou seja,
W = ∆Ecin .
Ao atuar somente forças conservativas, introduzimos o conceito de energia de
configuração ou energia potencial U. Neste caso, podemos dizer que, se a energia cinética
K da partícula variar de uma quantidade ΔK, quando variar sua configuração (mudança de
posição espacial da partícula em relação ao referencial), a energia potencial U do sistema
deve variar de uma quantidade ΔU, de igual valor e oposto, de tal forma que a soma das
variações das duas energias deve ser nula, isto é,
Assim, ficamos com
A
Fg
m
ri
rf
Fg
Figura 1.16 - Deslocamento da partícula sob
ação da força gravitacional terrestre.
B
∆Ecin + ∆U = 0 .
∆Ecin = −∆U .
Para uma dimensão, o trabalho realizado por uma força variável dependente da
posição(como é o caso da força gravitacional) é dado por
rf
W = ∫ F (r )dr ,
ri
na qual, ri (ponto A) e rf (ponto B) são as posições inicial e final da partícula (em relação ao
referencial adotado) ao longo da trajetória, que pode ser retilínea ou curvilínea, conforme
figura 1.16.
Em função da equação anterior, ficamos com
rf
∆U =
− ∫ F (r )dr .
ri
Em se tratando da Terra, a força gravitacional (Fg) está sempre dirigida para seu
centro (para baixo) e o referencial inercial centrado na Terra está dirigido para cima.
Assim, o módulo da força gravitacional adquire o sinal negativo, ou seja,
Fg (r ) = −G
MT m
.
r2
Substituindo o valor do módulo da força gravitacional na equação da variação da
energia potencial, obtemos
rf
GM T m ∫
∆U =
ri
28
 1 1
dr
GM
m
=
−
 −  .
T
r2
 rf ri 
Temos que
∆U =
U f − Ui ⇒ U f =
∆U + U i .
Gravitação
A função energia potencial, quando a partícula se deslocou da posição inicial até
a final, é dada por
 1 1
Uf =
∆U + U i =
−GM T m  −  + U i .
r r 
i 
 f
A escolha de um ponto de referência para a energia potencial é completamente
arbitrária. Normalmente, escolhe-se o ponto onde a energia potencial é nula, o que implica
dizer que a força gravitacional entre os dois corpos também é nula. Tal ponto ocorre
para uma separação infinita entre os corpos. Fazendo Ui→0 quando ri→∞ e retirando os
subscritos, ficamos com
Ug = −
GM T m
.
r
Embora a equação anterior tenha sido deduzida para um sistema isolado Terrapartícula, ela é válida para qualquer par de partículas de massas m1 e m2, com separação
entre seus centros de uma distância igual a r, ou seja,
Ug = −
Gm1m2
.
r
A equação da energia potencial gravitacional para qualquer par de partículas varia
com 1/r, enquanto que a força gravitacional entre elas varia com 1/r2. Além do mais, a
energia potencial é negativa a qualquer distância finita, isto é, a energia potencial é nula
no infinito e decresce com a diminuição da distância, o que implica dizer que a força é
atrativa.
Se a força é atrativa, um agente externo (corpo de sua vizinhança) ao aplicar uma
força F deve realizar trabalho positivo para aumentar a separação entre elas. O trabalho
realizado pelo agente externo produz um aumento na energia potencial quando as duas
partículas são separadas, isto é, a energia potencial torna-se menos negativa quando a
separação aumenta, visto U variar com 1/r.
A energia potencial definida anteriormente é uma energia de ligação do sistema
isolado de dois corpos. Isto implica dizer que um agente externo deve fornecer uma
quantidade igual a +Gm1m2/r para separar as partículas por uma distância infinita.
A equação anterior mostra também que a energia potencial entre as duas partículas é
uma característica do sistema m1+m2 e não de cada partícula isoladamente, ou seja, se
houver variação da separação, a energia potencial variará, pois cada uma está no campo
gravitacional da outra.
A força gravitacional pode ser deduzida da expressão da energia potencial do
sistema. Para sistemas que apresentam simetria esférica, a relação entre força e energia
potencial é dada por
dU g (r )
GM T m
Fg (r ) =
−
=
−
.
dr
r2
Esta equação permite interpretar de outra forma a energia potencial: “a energia
potencial é uma função da posição, tal que sua derivada, com sinal negativo, é igual à
força”. Se o agente externo fornece energia maior do que a energia de ligação, a energia
restante fica na forma de energia cinética da configuração. A energia mecânica total para
um sistema isolado Terra-satélite é dada por
=
E
1 2 GM T m
mv −
.
2
r
29
FÍSICA GERAL II
A equação mostra que a energia mecânica total pode ser positiva, negativa ou
nula, dependendo do valor da velocidade a uma distância específica de separação r. Para
órbitas circulares e sabendo que a velocidade a uma distância r do centro do planeta é
dada por
v=
GM T
,
r
então, a energia mecânica total será dada por,
E= −
QUESTÃO 1.6
Utilizando considerações sobre energia, determinar a velocidade
de escape de um corpo
de massa m lançado da
superfície terrestre.
GM T m
.
2r
A equação da energia mecânica também é válida para órbitas elípticas, mas
devemos substituir o valor de r pelo valor do comprimento do semi-eixo maior da
elipse. A energia mecânica, o momento angular total e o momento linear total de um
sistema planeta-Sol, planeta-estrela qualquer, Terra-Lua, Terra-satélite, são constantes do
movimento ao considerar o modelo do sistema isolado.
Com relação à Terra, devemos fazer as seguintes observações:
a) Vamos considerá-la como uma partícula cuja massa esteja totalmente
concentrada em seu ponto central. No ponto coloquemos nosso referencial inercial. Para
um corpo de massa m, distante RT do centro da Terra (corpo na superfície terrestre), a
energia potencial gravitacional será dada por
Ug = −
GM T m
.
RT
Se o corpo estiver a uma altura y da superfície terrestre onde o campo praticamente
se mantém constante e colocando o referencial inercial na superfície terrestre, apontando
para cima (F(y) = -mg), a energia potencial gravitacional na posição y será dada por
U ( y ) g = mgy .
Nesse caso, para y=0, a energia potencial será nula, e aumentará linearmente
com a altura. Supomos que a partícula se desloque do ponto a (cujas coordenadas são
yo=0 e vo≠0) ao ponto b (com coordenadas x e v, ambas diferentes de zero). A energia
mecânica total deve ser a mesma em qualquer configuração, visto a força gravitacional
ser conservativa. Assim,
1 2
1
mv + U g ( y ) = mv02 + U g ( yo ) .
2
2
Observe que, nesta equação, não aparecem a força nem a aceleração. Como a
energia potencial inicial é nula e a energia potencial a uma altura y é igual a mgy temos,
então, que
1 2
1 2
mv + mgy =
mv0 .
2
2
Eliminando as massas, obtemos a equação de Torricelli, ou seja,
2
v=
v02 − 2 gy .
30
Exercícios
Gravitação
1. Um planeta gira em torno do Sol com raio médio igual a 20 vezes o raio médio da órbita
da Terra. Qual seu período orbital em anos e em dias, para que o planeta complete uma
revolução em torno do Sol?
2. A distância média (semi-eixo maior) do sistema Saturno-Sol é de 1,43 x 1012 m e seu
período de revolução é de 9,35 x 108s. Calcule o valor da constante K, utilizando a lei
dos períodos.
3. Dois navios, com 50 mil toneladas cada um, navegam em rotas paralelas separadas por
200 m. Qual o módulo da aceleração de um dos navios em direção ao outro devido à
atração mútua entre eles? Trate os navios como partículas.
4. Três esferas uniformes com massas de 2 kg, 4 kg e 6 kg, estão colocadas nos vértices de
um triângulo retângulo de lados 3, 4 e 5 m. A massa de 4 kg está no vértice com ângulo
reto. Calcule a força gravitacional sobre a esfera de 4 kg. Trate as esferas como sistema
isolado. Calcule a energia potencial total do sistema.
M
a
5. Calcule o módulo e a direção do campo gravitacional em um ponto P sobre a linha
divisória perpendicular de duas partículas com massas iguais separadas por uma
distância de 2a, conforme figura 1.17.
6. Io, um satélite natural de Júpiter, tem um período de revolução de 1,77 dias e um raio de
órbita de 4,22 x 105 km. Determine a massa de Júpiter a partir desses dados.
P
r
M
Figura 1.17 - Massas
separadas pela distância 2a.
7. Um satélite rasante desloca-se em uma órbita circular logo acima da superfície de um
planeta sem ar. Mostre que sua velocidade orbital (vc ) e a velocidade de escape do
planeta (ve ) estão relacionadas pela expressão ve = 2vc .
8. A figura1.18 representa uma estação orbital A que gravita em órbita circular de raio r,
geoestacionária (período de revolução igual a um dia). Um objeto é lançado da estação
para outra que se encontra em B, situada em outra órbita circular de raio 3 r. A posição
de lançamento é no ponto C, favorável para que o pacote seja recolhido no ponto M,
da órbita de B. O centro do planeta e os pontos M e C estão alinhados. Após quantos
dias, depois do lançamento, o pacote será recolhido no ponto M?
9. O campo gravitacional na superfície de um planeta tem intensidade g. Comente o que
aconteceria coma essa intensidade se:
a) duplicasse a massa do planeta;
B
M
Pacote
A
r
C
3r
Figura 1.18 - Estação
orbital em órbita
elíptica.
b) dobrasse o raio do planeta.
10. A que altura, acima da superfície terrestre, deve ser colocado um satélite em órbita
circular para que seu período de rotação seja de 12 horas?
31
FÍSICA GERAL II
Anotações
32
Gravitação
Anotações
33
FÍSICA GERAL II
Anotações
34
2
Equilíbrio Estático
2.1
Equilíbrio Estático
2.2
Centro de Gravidade
2.3
Estabilidade do Equilíbrio de Rotação
35
2 EQUILÍBRIO ESTÁTICO
FÍSICA GERAL II
Estática é o ramo da mecânica que trata do equilíbrio dos corpos. Quando um
corpo está imóvel e permanece imóvel no tempo, diz-se que o corpo está em equilíbrio
estático. A análise do equilíbrio estático é muito importante nas Engenharias. Os
engenheiros devem identificar todas as forças e torques que agem sobre as vigas e os
cabos das estruturas, tendo a certeza de que toda a estrutura pode tolerar as cargas que
lhe são e serão impostas. A análise das forças e torques em uma peça mecânica ajuda a
determinar a sua durabilidade em uso.
Observamos pela figura 2.1a que a somatória vetorial
das forças externas e dos torques externos é igual a zero.
Portanto, o corpo, nesta condição, está em equilíbrio estático.
Na figura 2.1b, mesmo sendo a somatória vetorial das forças
igual a zero, a somatória vetorial dos torques é diferente de
zero. Assim sendo, o corpo girará em torno de seu centro de
massa. Muitas vezes, considera-se que a condição para que
uma partícula esteja em repouso é a de que a resultante das
forças sobre o corpo seja nula. Porém, como podemos observar
na figura 2.1b, se o centro de massa permanecer em repouso,
é possível que o corpo gire em torno de um eixo ou de um
centro. Não há equilíbrio, se houver rotação. Por essa razão, Figura 2.1.
para que haja o equilíbrio estático, é necessário também que a resultante dos torques que
atuam sobre o corpo, em relação a qualquer ponto, seja nula. Esta condição nos oferece a
liberdade de escolher qualquer ponto para o cálculo dos torques, sendo útil em inúmeras
situações físicas.
Dessa forma, as duas condições necessárias, para que um corpo rígido esteja em
equilíbrio estático, são:
1. A somatória vetorial das forças externas que agem sobre o corpo deve ser nula:

∑F
i , ext
=0
i
2. A somatória vetorial dos torques externos em relação a qualquer ponto deve ser nula:

∑τ i,ext = 0
i
Como vimos, podemos descrever a natureza vetorial da rotação, em torno de
um eixo fixo, como positiva ou negativa. Os torques anti-horários serão positivos, e os
horários, negativos.
Um corpo que está em movimento com velocidade constante satisfaz às duas


p
0 , temos que,
F i ,ext d=
condições, mas não está em equilíbrio estático. Como ∑=
dt
i
o momento linear p = mv é constante. Para um equilíbrio estático, p tem que ser


L
τ i ,ext d=
0 , onde o momento
constante e igual à zero. Da mesma forma ∑=
dt
i
angular L = I ω tem que ser constante e igual a zero para que haja um equilíbrio estático.
Podemos ver que as duas condições dadas (
mas não são suficientes.
36

∑F
i
i , ext
=0 e

∑τ
i
i , ext
= 0 ) são necessárias,
EXEMPLO 2.1
Duas pessoas seguram uma carga de 50 kg sobre uma tábua de 3 m. A massa da tábua
é de 10 kg e a carga está a 1 metro da extremidade A e a 2 metros da extremidade B.
Calcule a força que cada pessoa exerce para suportar a carga.
Solução:
Inicialmente, temos que fazer um
diagrama com todas as forças envolvidas.
FA
Portanto,
FB
A
A primeira condição para que a carga e
a tábua estejam em equilíbrio estático é
que a somatória vetorial das forças seja
igual a zero.
Equilíbrio Estático
PC
1,0 m
PT
3,0 m
B
1,5 m
2,0 m

∑ Fi = 0
i
FA − PC − PT + FB =
0
sendo, PC = 490 N e PT = 98 N . Assim,
FA + FB =
588 N
Como FA e FB não são conhecidas (são as forças procuradas), e como temos uma única relação, não é possível determiná-las.
A segunda condição é que a somatória vetorial dos torques externos envolvidos em relação a qualquer ponto seja igual a zero. Como esta condição serve para qualquer ponto,
escolhemos o ponto A. Portanto,

∑τ
i, A
=0
i
FA (0) − PC (1m) − PT (1,5m) + FB (3m) =
0
PC (1m) − PT (1,5m) + FB (3m) =
0
FB = 212,3 N
Podemos perceber que, com a escolha do ponto A, o torque em A é nulo. Agora, para
determinar FA , podemos usar a relação FA + FB =
588 N , e, portanto,
FA =
588 N − FB ⇒ FA =
375, 7 N
EXEMPLO 2.2
Um peso de 80N está sustentado conforme figura ao
lado. A viga tem 2m e o seu peso é de 10 N. Encontre
a força exercida sobre a viga no ponto A.
Solução:
Inicialmente, temos que determinar todas as forças
que atuam sobre a viga.
37
FÍSICA GERAL II
A somatória vetorial das forças externas, que
agem sobre o sistema, não traz informação
suficiente para resolver o problema.
Fy

=0
i,B
Ty
300
Fx
Tx
A
Tomando os torques em relação
 a B, de modo que o
torque da força desconhecida T seja nulo, teremos:
∑τ
T
B
80N
10N
1m
1m
i
Fy ( 2m ) − PV (1m) =
0
Fy = 5 N
Analisando a somatória dos torques em relação ao ponto A, temos:

∑τ
i, A
=0
i
− PP ( 2m ) + Ty ( 2m ) − PV (1m) =
0
Ty = 85 N
Para determinar a componente de Tx , utilizamos a identidade
T
trigonométrica tan(45o ) = y T . Assim,
x
Tx =
Ty
tan ( 45o )
Tx = 85 N
Agora, podemos utilizar que somatória das forças em x é igual a zero. Deste modo,
Fx − Tx =
0
Fx = 85 N
Portanto,

=
F 85 Niˆ + 5 Njˆ
EXEMPLO 2.3
Uma massa de 10 kg está segura pela mão, com
o antebraço fazendo um ângulo de 900 com o
braço.A massa do antebraço é de 2 kg. Calcule a
força T exercida pelo músculo bíceps.
Solução:
Os torques exercidos pelo massa e pelo antebraço
em relação ao cotovelo
devem ser equilibrados pelo

torque da força T (bíceps). Assim,

∑τ i , A = 0
i
− Pm ( 33cm ) − p y (15cm ) + T (4cm) =
0
T=
10kg ( 9,8m / s 2 ) ( 33cm ) + 2kg ( 9,8m / s 2 ) (15cm )
4cm
T = 882 N
Este valor é bastante alto, pois a força do bíceps atua bem próxima ao cotovelo (4 cm)
e a bola está mais distante (33 cm).
EXEMPLO 2.4
Uma escada AB, pesando 40 N, apóia-se numa parede vertical que faz um ângulo de 600
com a horizontal. Calcule as forças que atuam sobre a escada nos pontos A e B. A escada
é provida de rodas em A, de tal forma que se pode desprezar o atrito na parede vertical.
38
Solução:
As forças que atuam sobre a escada estão ilustradas
na figura ao lado. O peso P está aplicado no centro
C da escada. A força FBx é necessária para evitar
que a escada escorregue e resulta do atrito com o
piso. As forças FBy e FA são as reações normais no
piso e na parede. Usando a primeira condição de
equilíbrio, temos:

∑F
i
Equilíbrio Estático
A
=0
FA
600
C
i
∑Fiy = FBy − P = 0
0
P 30
i
FBy =P → FBx =40 N
∑F
i
ix
FBy
FBx 600 B
=FA − FBx =0
Seja L o comprimento da escada.Tomando os torques em relação a B, de modo que os
torques das forças desconhecidas FBx e FBy sejam nulos, teremos que
∑τ
i
iB
=
FA
Usando
∑F
i
ix
=P
L
sen300 ) − FA L ( sen600 ) = 0
(
2
L
( sen300 ) ( sen300 )
2= P=
11,5 N
L ( sen600 )
2 ( sen600 )
P
=FA − FBx =0 , obtemos,
FBx = 11,5 N
2.2 Centro de Gravidade
A figura 2.2 mostra o esquema de um corpo, dividido em diversas partes, que

podemos imaginar como partículas. O peso de cada uma dessas partículas é wi e o peso


total do corpo é W = ∑ wi . Podemos imaginar, também, que o peso total do conjunto
i
estivesse concentrado num único ponto, de modo que, se o corpo fosse apoiado no ponto,
estaria em equilíbrio. Este ponto é o centro de gravidade X cg , e é definido como o torque

correspondente à força W , aplicado neste ponto. Em relação a qualquer ponto, o torque
total será igual a resultante dos torques dos pesos das partículas em relação ao mesmo
ponto. A coordenada x do centro de gravidade é dada por:
X cgW = ∑xi wi
Figura 2.2
i
Se a aceleração da gravidade for constante sobre toda a extensão do corpo,
podemos escrever wi = mi g e W = Mg , assim,
X cg Mg = ∑mi g wi
i
X cg M = ∑mi wi
i
Esta equação nos dá a coordenada x do centro de massa. Logo, quando o campo
gravitacional for uniforme, a coordenada x do centro de massa é igual à coordenada x ao
centro de gravidade.
O centro de gravidade é o ponto em relação ao qual os torques das forças
gravitacionais que atuam sobre as partículas do corpo têm resultante nula.
39
2.3 Estabilidade do Equilíbrio de Rotação
FÍSICA GERAL II
a)
c.m.
•
b)
•
c.m.
Figura 2.3
O equilibrista a da figura 2.3 anda sobre uma corda esticada e utiliza uma barra
rígida retilínea para ajudar o equilíbrio. Este sistema é instável e andar por uma corda
assim é, obviamente, só para profissionais. O equilibrista b utiliza uma barra rígida na
forma de um U invertido, com dois pesos nas pontas. O centro de massas homem-pesos
é muito mais baixo do que o ponto de apoio do sistema (pés). Neste caso, o sistema é
estável, pois qualquer deslocamento angular provoca o aparecimento de um torque que
tende a retornar o sistema à posição de equilíbrio. Portanto, a estabilidade de um sistema
pode ser aumentada se o centro de gravidade for abaixado.
Os seres humanos têm problema para ficar de pé ou andar sobre dois pés. O centro
de gravidade do corpo humano está numa altura significativa em relação ao nível do solo
e o equilíbrio tem que ser mantido sobre a estreita base de apoio proporcionada pelos pés.
As crianças demoram meses para ficar em pé e levam cerca de um ano para aprender a
andar. Muitos quadrúpedes ficam em pé logo após o nascimento e têm o aprendizado de
locomoção muito mais fácil que os humanos por exemplo, pois a respectiva base de apoio
é muito mais larga e o centro de gravidade está muito mais baixo do que em nós.
Dessa forma, podemos classificar em três categorias o equilíbrio de um corpo em
relação à rotação: estável, instável e indiferente.
a) estável
b) instável
U0 < UB
c) indiferente
U0 > UB
U0 = UB
Figura 2.4 - Equilíbrio a) estável, b) instável e c) indiferente.
O equilíbrio de rotação estável ocorre quando os torques provocados por um
pequeno deslocamento angular do corpo em relação à posição de equilíbrio, provocam
uma rotação que tende a levar o corpo para a posição de equilíbrio inicial. A figura 2.4a
mostra a situação de equilíbrio estável. Quando a caixa gira de um pequeno ângulo em
torno de uma aresta, o torque em relação ao ponto de apoio tende a levar a caixa à posição
inicial. Veja que, neste caso, a rotação eleva o centro de gravidade e aumenta a energia
potencial da caixa (observe a linha tracejada nas duas condições na figura 2.4a).
O equilíbrio de rotação instável ocorre quando os torques provocados por um
pequeno deslocamento angular do corpo tendem a afastar o corpo da posição original. Por
exemplo, uma pequena rotação do bastão (figura 2.4b) provoca sua queda, pois o torque
40
do peso provoca uma rotação que o afasta da posição inicial. A rotação, neste caso, abaixa
o centro de gravidade e diminui a energia potencial do bastão (analisar a linha tracejada
na figura 2.4b). Comparando a figura 2.4a e 2.4b podemos entender a razão do tamanho
da base aumentar a estabilidade: isto está relacionado com a curva de energia potencial
de cada caso. Quando a área superficial é grande em relação ao volume o sistema é mais
estável, quando a área é pequena o sistema é instável.
Um cilindro, que repousa sobre uma superfície horizontal, ilustra o equilíbrio de
rotação indiferente (figura 2.4c). Se o cilindro girar, não haverá torque ou força agindo
para que retorne à posição inicial ou para que se afaste dela. Na rotação do cilindro, a
altura do centro de gravidade não se altera e a energia potencial idem.
Resumindo: se um sistema for ligeiramente perturbado de sua posição de
equilíbrio, este será estável quando o sistema retornar à posição inicial; será instável, se
o sistema se afastar da posição inicial; e indiferente, se não existir torques ou forças que
atuem num ou noutro sentido.
Equilíbrio Estático
EXEMPLO 2.5
A partir do gráfico de energia potencial em função do x, determine, nas posições A, B,
C, D e E, se o equilíbrio é estável, instável ou indiferente.
Solução:
A) Instável, pois qualquer
perturbação diminui a energia
potencial do sistema e o sistema
tende a não voltar à posição A.
B) Estável, uma vez que uma
pequena perturbação da posição
aumenta a energia potencial e o
sistema volta à posição B.
C) Instável, como em A, onde qualquer perturbação diminui a energia potencial do
sistema.
D) Estável, como em B, onde uma pequena perturbação da posição aumenta a energia
potencial.
E) Indiferente, porque uma perturbação não muda o valor da energia potencial.
EXEMPLO 2.6
Um caminhão transporta uma caixa homogênea de massa m, altura h e lado L. Qual
poderá ser a aceleração máxima do caminhão sem que seja provocado o tombamento da
caixa? Admita que o tombamento preceda ao deslizamento da caixa.
41
FÍSICA GERAL II
Solução:


Mesmo o caminhão estando acelerado ( ∑ F i = m a cm ), pretende-se que a caixa não
i
tombe. Portanto, a somatória dos torques em relação ao centro de massa da caixa deve


ser nula ∑τ i ,ext = 0 . Na direção da aceleração temos somente a força de atrito f , e,
i
∑F
portanto. Aplicando
i,x
i
= macm , temos
f = macm
Na vertical não há movimento. Assim,
é igual ao peso mg,
Aplicando
i
i
i
N
FN = mg

∑τ
∑F = 0 , e, por essa razão, a força normal F
i , ext
cosØ , teremos,
= 0 , e sabendo que sen ( 900 − Ø ) =
L )
(
2
Como senØ =
r
FN rsenØ − frcosØ =
0
e
h )
(
cosØ = 2 , obtemos,
r
L
h
−f =
0
2
2
e FN = mg , resulta que
mgL − macm h =
0
FN
Usando f = macm
acm = g
L
h
Exercícios
1. Uma chapa triangular é constituída pela soldagem de quatro
chapas triangulares homogêneas, cada qual com o lado a,
como mostra a figura ao lado. A chapa 1 pesa 40N, a 2 pesa
60, a 3 pesa 40N e a 4, 60N. Localizar o centro de gravidade.
2. O centro geométrico coincide sempre com o centro de gravidade de um corpo?
3. Quarenta por cento do peso de um carro é suportado
pelas rodas traseiras. As rodas traseiras e dianteiras
estão afastadas por 2 metros. Onde está localizado
o centro de gravidade do carro em relação às rodas
traseiras?
4. Uma placa de 10kg está suportado por um cabo preso a
uma travessa de 1m no ponto O (figura ao lado). A
massa da travessa é desprezível. Achar
 a força exercida
pela travessa no ponto O e a tensão T na corda.
42
450
O
T
T
5. Uma placa de 10kg é suportada por um cabo preso
a uma travessa de 1 m (figura ao lado). A massa da
travessa e do cabo são desprezíveis. Achar a força

exercida pelo sistema no ponto O e a tensão T na
cabo.
Equilíbrio Estático
450
O
6. Uma caixa homogênea de 2m x 1m x 1m está sobre
uma tábua inclinada, como mostra a figura. A
inclinação é aumentada lentamente. O coeficiente de
atrito é suficiente para impedir o escorregamento
da caixa. Em que ângulo θ a caixa tombará?
7. Duas forças de 40 N estão aplicadas na borda de uma
chapa circular de raio R =10 cm, como mostra a figura.
Calcular o torque provocado por este par de forças.
8. Durante uma palestra, um estudante segura uma
vara de 2 m e com 5 kg por uma das extremidades,
mantendo-a na posição horizontal. Estime as forças
que o estudente exerce sobre a vara. (existem duas
forças que atuam em direções opostas, separadas pela largura da mão)
9. Uma escada está apoiada contra uma parede vertical sem atrito. O coeficiente de atrito
entre a escada e o piso é 0,5. Qual o menor ângulo dentro do qual a escada ficará
estacionária?
10. Um móbile é constituído por quatro
pesos pendurados em três travessões de
massa desprezíveis. Determinar os pesos
desconhecidos (A, B e C) para o móbile
permanecer em equilíbrio.
43
FÍSICA GERAL II
Anotações
44
Equilíbrio Estático
Anotações
45
FÍSICA GERAL II
Anotações
46
3
Fluidos
3.1
densidade
3.2
pressão em um Fluido
3.2.1
Medidas de pressão
3.3
princípio de pascal
3.4
Empuxo e o princípio de Arquimedes
3.5
dinâmica dos Fluidos
3.5.1.
princípio de Bernoulli
47
3 FLUIDOS
FÍSICA GERAL II
Densidade ρ
(kg/m3 )
Ar
atmosférico
1,293
Madeira
0,6-0,9×103
Álcool
0,806×10
Gelo
0,92×103
Água
1,00×10
3.1 Densidade
3
3
Água do mar 1,025×103
Alumino
2,70×103
Ferro
7,96×103
Cobre
Chumbo
8,93×103
11,6×103
Tabela 3.1 – Densidade de
alguns materiais.
48
Fluidos abrangem os gases e os líquidos. Nos fluidos, os conjuntos de moléculas
da matéria estão aleatoriamente arranjadas e mantidas juntas por forças exercidas pelas
paredes do recipiente. Diferentemente de um sólido, que tem volume e forma definidos,
um líquido tem volume e escoa até ocupar a região mais baixa possível do recipiente
que o contém. Isto quer dizer que não possui forma definida. As forças coesivas num
líquido são fracas e de curto alcance e são frequentemente rompidas pela agitação
térmica. Essas ligações, apesar de fracas, mantêm a unidade dos líquidos. Essa unidade é
quebrada nos gases, pois a separação média das moléculas é grande diante do tamanho das
moléculas. As forças coesivas entre as moléculas são praticamente inexistentes, exceto
durante as colisões, que são muito frequentes e muito rápidas. Por isso, um gás não tem
volume nem forma definidos. Apesar das diferenças, gases e líquidos têm determinados
comportamentos semelhantes e podem ser estudados em conjunto.
O estudo dos fluidos foi sempre um grande desafio científico, que provocou
o pensamento e a imaginação de grandes físicos. Estes grandes físicos utilizaram-se
principalmente dos conceitos de força e conservação. Dessa forma, novas fronteiras do
conhecimento foram abertas e propiciaram uma compreensão melhor destes conceitos e
da própria Física.
Uma propriedade importante dos líquidos e gases (e também dos sólidos) é a
razão entre a massa m e o volume V. Esta razão é denominada densidade ρ :
massa
m
=
Densidade =
ρ
volume
V
3
No sistema internacional (SI) a unidade da densidade é kg / m , mas normalmente
3
=
=
cm3 10−3 m3 ). No caso
a densidade é dada em kg / l, onde l é a unidade de litro
( 1l 10
específico dos gases o volume é determinado pelo recipiente que o contém.
A densidade das substâncias altera-se com a temperatura e a pressão. A maioria
dos sólidos e líquidos contraem ligeiramente quando resfriados e também contraem
ligeiramente quando sob compressão. Estas mudanças no volume são pequenas, logo, é
comum considerar a densidade independente da temperatura e do volume nos sólidos e
líquidos. Em contraste, a densidade de um gás depende fortemente da temperatura e da
pressão e, por essa razão, é indispensável especificar estas duas grandezas. Adotam-se
como condições normais de temperatura e pressão a temperatura de 250C e a pressão
atmosférica ao nível do mar.
A densidade da água, a 4OC, é de 1000kg / m3 ou 1, 00 kg / l (Tabela 3.1). Uma
substância (sólido ou líquido) flutua na água quando a sua densidade for menor que o
da água. Isto é, para um mesmo volume, a água tem massa maior do que a substância. A
razão entre a densidade de uma substância e a densidade da água é sua densidade relativa.
Por exemplo, a densidade da madeira (tabela 3.1) é 600 kg / m3 ; portanto, a densidade
relativa da madeira é 0,6 vezes a densidade da água, por isso a madeira flutua.
EXEMPLO 3.1
Normalmente, a densidade de uma substância é dada em relação à densidade da água,
sendo denominada de densidade relativa. Quais seriam então as densidades relativas do
álcool e do ferro?
Solução:
é
Álcool: a densidade do álcool é 0,806 ×103 kg / m3 e da água
3
3
(ver
tabela
Y.1).
Portanto,
a
densidade
relativa
do
álcool
é
1, 00 ×10 kg / m

3 kg
3 kg 
0,806 . Isto quer dizer que a densidade do álcool cor 0,806 ×10 3 /1, 00 ×10 3  =
m
m 

responde a 0,806 da água.
Ferro: a densidade do ferro é 7,96 ×103 kg / m3 (ver tabela 3.1). Assim, a densidade re-


lativa do ferro é  7.96 × 103
Fluidos
Questão 3.1
Um navio danificado
mal pode flutuar no
mar. Então ele é rebocado para um porto em
um rio. Enquanto é rebocado rio acima, ele
afunda. Por quê?
kg
kg 
/1, 00 ×103 3  =
7,96 .
3
m
m 
3.2 Pressão em um Fluido
Quando um corpo está imerso em um fluido este exerce em cada ponto da superfície
do corpo, uma força perpendicular à superfície. A força que um fluido exerce sobre uma
superfície se origina das colisões das moléculas com a superfície. Considerando uma
colisão elástica, cada uma delas resulta em uma força F em módulo sobre a superfície,
que é dada por
∆p p f − pi mv + (m ( −v )) 2mv
=
F =
=
=
∆t
∆t
∆t
∆t
vi v=
v) . Podemos perceber que
na qual, m é a massa da molécula e v sua velocidade ( =
f
a força resulta na reversão da componente do vetor velocidade da molécula perpendicular
à superfície. Um grande número dessas forças ocorre a cada segundo tendo, por resultado,
uma força macroscópica constante na superfície. Esta força do fluido F, por unidade de
área da superfície A, é a pressão P do fluido:
P=
F
.
A
No sistema internacional, a unidade de pressão é o pascal (Pa). Como a força é
dada em Newton e a área em metro quadrado, temos que
Pa =
N
.
m2
Lembremos que a pressão e a força são grandezas diferentes. Observando a
F
definição de pressão P = , podemos ter uma pressão muito grande a partir de uma
A
força pequena F ao diminuir a área A sobre a qual a força é aplicada. Podemos, também,
criar uma pressão pequena a partir de uma força grande F ampliando a área A de atuação
da força. Quando alguém pisa sobre um único prego, ele perfura a pele. Isto não acontece
quando alguém pisa sobre uma grande quantidade de pregos, conforme figura 3.1.
A grande massa de ar sobre a superfície da Terra exerce uma pressão de cerca de
101kPa sobre a superfície e os corpos sobre ela. Normalmente esta pressão é denominada
1 atmosfera (atm), que constitui uma unidade de medida de pressão. As relações entre
estas e outras unidades estão apresentadas na tabela 3.2.
Figura 3.1 - Pé sobre uma
quantidade grande de pregos
(www.phaneo.de).
49
FÍSICA GERAL II
1 Pa
1 bar
1 atm
1 torr
1 psi
Figura 3.2 - Coluna de
água com altura h e área
da seção reta A.
Questão 3.2
Na Groenlândia as camadas de gelo podem
chegar a 1 km de espessura. Se a densidade
do gelo é ρ=920 kg/m3,
estime a pressão do gelo
sobre o solo.
Questão 3.3
Avalie a força horizontal na parte traseira da
barragem da represa de
Itaipu proveniente da
massa de água. Considere somente a largura
da parte central da barragem com 960 metros
de comprimento e 180
metros de profundidade.
Pascal (Pa)
Bar (bar)
atmosfera
(atm)
Torr (torr)
(mmHg)
libra por polegada
quadrada
(psi) (lb/in2)
1
1,0000·10−5
9,8692·10−6
7,5006·10−3
1,4504·10−4
1,0000·105
1
9,8692·10−1
7,5006·102
1,4504·101
1,0133·105
1,0133·100
1
7,6000·102
1,4696·101
1,3332·102
1,3332·10−3
1,3158·10−3
1
1,9337·10−2
6,8948·103
6,8948·10−2
6,8046·10−2
5,1715·101
1
Tabela 3.2. Tabela de conversão de unidades de pressão.
A pressão exercida por um fluido sobre um corpo tende a comprimir o corpo.
A razão entre a variação da pressão ∆P e a diminuição relativa de volume ( – ∆V / V ) é
denominado de módulo de compressibilidade,
B= −
∆P
.
∆V / V
O módulo de compressibilidade B mede a dificuldade de comprimir um corpo.
Quanto menor a diminuição relativa de volume ( ∆V / V ) , maior será o módulo de
compressibilidade. O valor de B é elevado para sólidos e líquidos e baixo para os gases.
A pressão num lago ou em qualquer oceano aumenta com a profundidade. Como
a densidade é aproximadamente constante, o aumento da pressão é aproximadamente
linear. Analisemos uma coluna de água de altura h e de seção reta A (figura 3.2). O peso
dessa coluna de líquido é
=
w mg
= ρVg
= ρ Ahg
Se PO for a pressão no topo da coluna de água e P a pressão na base, como
F = PA , a força para cima provocada pela diferença de pressão é PA − PO A . Fazendo a
somatória das forças, temos,
P A − PO A = ρ A hg
P − PO =
ρ hg
3.1
A diferença de pressão medida na superfície do líquido e medida em uma
profundidade h é igual a mgh.
EXEMPLO 3.2
Dada uma barragem de uma represa retangular, com 20 metros de largura e 20 metros de
profundidade: a) calcule a pressão no fundo da represa e b) determine a força horizontal
total que age sobre a represa.
Solução:
ρ hg ;
a) Como P − PO =
b) Como =
dF PdA
= ρ ghLdh .
Integrando entre
e h H=
:F
=
h 0=
h= H
∫
h =0
H
ghLdh
= ρ gL ∫ =
hdh
0
1
ρ gLH 2 .
2
3
7,848.107.
Portanto, F (10
=
=
kg / m3 )(9,81N / kg )(20m)(20m) 2 78480000N
50
3.2.1 Medidas de Pressão
Fluidos
Evangelista Torricelli1 inventou um instrumento simples para medir a pressão: o
barômetro (figura 3.3a). Consistia num tubo longo, fechado em uma extremidade e repleto
com mercúrio. Era, então, invertido em um recipiente cheio de mercúrio. A pressão no alto
da coluna de mercúrio pode ser considerada como zero, pois a extremidade é fechada. A
pressão provocada pela coluna de mercúrio no ponto O deve ser igual à pressão provocada
pela atmosfera. Se não fosse o caso, o mercúrio mover-se-ia para um ponto até que o equilíbrio
fosse estabelecido. O peso da coluna de mercúrio no tubo é FP = mg , onde a massa é igual ao
produto entre a densidade ρ Hg e o volume de mercúrio no tubo ( V = Ah ). Portanto,
FP = ρ Hg Ahg .
A pressão PO no ponto O é dada por
FP ρ Hg Ahg
=
=
= ρ Hg hg .
P
O
A
A
À medida que a pressão atmosférica varia, a altura da coluna de mercúrio varia
e, assim, a altura pode ser calibrada para medir a pressão atmosférica. Para uma pressão
=
PO 1=
atm 101kPa , temos
PO = ρ Hg hg
=
h
PO
=
ρ Hg g
Figura 3.3
a) barômetro
101kPa

103 kg 
×
13,5
9,8m / s 2 )

3 (
m


h = 0, 760m .
No barômetro é feita a leitura da pressão diretamente pela altura h. Como esta
altura é dependente da densidade do líquido (mercúrio), usa-se a notação direta de 760
mmHg (milímetros de mercúrio), conforme pode ser visto na tabela 3.2.
O barômetro de Torricelli mede a pressão absoluta (figura 3.3a). O manômetro (figura
3.3b), por sua vez, mede a diferença da pressão atmosférica e a pressão em um recipiente. A
pressão em A é a pressão do recipiente que queremos determinar. Como no caso do barômetro,
as pressões em A e B são as mesmas. Se não fossem as mesmas, parte do fluido experimentaria
ρ hg . Descobrindo a altura da coluna
uma força e se movimentaria. Assim, temos que P − PO =
acima do ponto A (altura de A é igual a altura de B) e multiplicando pelo valor da densidade e
do valor de g, temos a diferença de pressão P − PO , que é chamada de pressão manométrica.
A pressão que medimos do pneu do carro é a pressão manométrica. Atualmente, existe uma
série de novos medidores de pressão que se utilizam destes princípios e/ou de outros, que
estudaremos posteriormente (condução de calor, capacitância, resistividade elétrica, campo
elétrico e magnético).
3.3 Princípio de Pascal
Blaise Pascal (1623-1662) foi um filósofo religioso, físico e matemático francês.
Trouxe notáveis contribuições para as ciências naturais aplicadas. Realizou estudos
importantes em diversas áreas da Física, especialmente sobre fenômenos envolvendo
fluidos. Em um de seus tratados, Traité de l’équilibre des liqueurs, que só foi publicado
um ano após sua morte, Pascal esclareceu, finalmente, os princípios barométricos da
prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Estabeleceu aquele que, hoje, é
conhecido como o Princípio de Pascal:
Figura 3.3
b) manômetro
Questão 3.4
É possível construir
um barômetro utilizando-se água em vez de
mercúrio? Qual seria
a altura da coluna de
água?
1 Evangelista Torricelli (1608-1647) foi um físico e matemático italiano. Galileu, impressionado com seus estudos, convidou-o para trabalhar como seu secretário e assistente de Galileu. Depois da morte do mestre Galileu,
foi então nomeado para substituir-lo como matemático do grão-duque da Toscana e professor de Matemática na
universidade de Florença.
51
FÍSICA GERAL II
Num líquido em repouso ou equilíbrio,
as variações de pressão transmitem-se
igualmente e sem perdas para todos os
pontos da massa líquida.
A prensa hidráulica (figura 3.4) é
uma aplicação corriqueira do princípio de
Pascal. Um cilindro de raio menor com um
pistão é interligado com outro cilindro de
Figura 3..4 - Prensa Hidráulica.
raio maior, também provido de um outro
pistão. Um fluido incompressível (parte mais escura da figura 4) tem a função de transmitir
igualmente as variações de pressão entre os dois cilindros. No pistão menor, uma pequena força
F1 provoca uma variação de pressão F1 / A1 , que é transmitida para o pistão maior ( P1 = P2 ),
como estabelecido pelo principio de Pascal. Assim, podemos escrever:
F1 F2
=
A1 A2
F2 = F1
A2
.
A1
Como a área A2 do pistão grande é maior do que a área A1 do pistão menor, a
força F2 é muito maior que a força F1 .
EXEMPLO 3.3
Uma prensa hidráulica tem um pistão grande de raio 20 cm e um pistão pequeno de raio
2 cm. Qual a força que deverá ser aplicada ao pistão pequeno para que, no maior, possa
sustentar ou elevar um carro de 2000 kg?
Solução:
A pressão P no pistão pequeno é igual ao quociente entre a força aplicada F1 pela área A1 :
P=
F1
A1
A força F2 no pistão maior é o produto da pressão P pela área A2 , que é igual ao peso
do carro,
mg
F2 = PA2 = mg → P =
A2
Como, pelo principio de Pascal, a pressão é igual nos dois pistões, obtemos
F1 mg
A
π r2
=
→ F1 = mg 1 = mg 12
A1 A2
A2
π r2
F1
=
π (2cm) 2
2
2000
kg
9,8
m
/
s
=
(
)(
) π (20cm)2 196 N
Temos que tomar muito cuidado, pois, para este caso, a razão entre os dois raios é 10 e
a razão final entre as forças é 100.
3.4 Empuxo e o Princípio de Arquimedes
Arquimedes de Siracusa (287 a.C. - 212 a.C.) foi um dos mais importantes
cientistas da Antiguidade. Ele fez descobertas importantes em geometria e matemática,
como, por exemplo, um método para calcular o número π, utilizando séries. Este resultado
constitui também o primeiro caso público do cálculo da soma de uma série infinita. Ele
concebeu vários tipos de máquinas civis e militares e encontrou, ainda, o princípio da
52
alavanca. Arquimedes contribuiu para a fundação da hidrostática, tendo feito, entre tantas
outras descobertas, aquela que leva o seu nome e que ficou conhecida como Princípio de
Arquimedes:
Fluidos
Um corpo total ou parcialmente imerso num fluido sofre um empuxo, debaixo para
cima, que é igual ao peso do fluido deslocado.
O princípio de Arquimedes pode ser verificado da seguinte forma: um corpo pesado
preso a um dinamômetro (conforme a figura 3.5), quando imerso em água, apresenta uma
leitura no dinamômetro menor do que quando o corpo não está imerso no líquido. Esta
diferença se deve à força que a água exerce sobre o corpo, conhecida como empuxo, E.
Esta força fica muito evidente quando trocamos o corpo pesado por uma rolha de cortiça.
O empuxo é maior que a força peso quando a rolha é completamente submersa no líquido,
fazendo a rolha subir. A rolha encontra uma situação de equilíbrio e flutua quando somente
uma parte dela fica submersa, isto é, a força peso se iguala à força empuxo, referente ao
volume submerso da rolha. Este principio observado no caso da rolha de cortiça é usado
para medir a densidade de líquidos, sabendo-se a massa e determinando o volume imerso
no líquido (figura 3.6 e exemplo 3.4).
EXEMPLO 3.4
DENSÍMETRO PARA LÍQUIDOS:
O objetivo de um densímetro é medir a densidade de líquidos ρliq . A forma mais comum
deste instrumento é um tubo de vidro longo fechado em ambas as extremidades (figura
3.6). Este tubo é mais largo em sua parte inferior e possui uma graduação na parte mais
estreita.
O densímetro deve ser imerso em um recipiente cheio do líquido do qual se deseja determinar a densidade, até que ele possa flutuar livremente. A leitura é realizada observando
em que marca da graduação fica posicionada a superfície do líquido, conforme figura
3.6. O empuxo E é igual ao peso do fluido deslocado, isto é, E = ρliqVg . No equilíbrio

( ∑F = 0 ) , o empuxo é igual à força peso do próprio densímetro,
∑F = 0
ρliqVg − mg =
0
m
V
Pelas equações acima é possível notar que m é a massa do densímetro e que o V é o volume do fluido deslocado. Isto quer dizer que, determinando o volume imerso do densímetro
no líquido, encontraremos a densidade do líquido ρliq .
Uma das utilidades do densímetro é aquela de inferir a respeito das propriedades dos líquidos através da inspeção de sua densidade, principalmente quando os líquidos são misturas
de substâncias. A qualidade do álcool é aferida através de um densímetro colocado diretamente na bomba dos postos de gasolina (também chamado de alcoômetro). A densidade
é ligeiramente dependente da temperatura e, por essa razão, juntamente com a medida da
densidade, é importante determinar a temperatura do líquido.
ρliq =
Figura 3.5
Figura 3.6
densímetro
Questão 3.5
Projete um densímetro que trabalhe entre
a densidade do álcool
0,8kg/m3 e da água.
3.5 Dinâmica dos Fluidos
O escoamento de um fluido pode ser regular ou turbulento. Mesmo qualitativamente,
descrever o escoamento turbilhonar é muito difícil. Consequentemente, abordaremos
somente o escoamento não turbulento de um fluido “ideal”. Os resultados básicos da
dinâmica dos fluidos derivam das leis de conservação. Começaremos abordando a
conservação de massa.
53
FÍSICA GERAL II
Tomemos um fluido em movimento, em um tubo, com velocidade v1 em um ponto
1, cuja secção transversal tem área A1 , conforme ilustra a figura 3.7. Uma determinada
massa ∆m1 do fluido atravessa essa secção num intervalo de tempo infinitesimal ∆t . Esta
massa ∆m1 está contida num cilindro de base A1 e altura v1∆t . O volume deste cilindro é
Av∆t . Se a densidade do fluido é ρ1 , temos para o infinitésimo de massa
∆m=
ρ1 A1v1∆t .
1
Consideraremos agora a massa ∆m2 em um ponto 2. Por analogia é fácil chegar
ao resultado
∆m=
ρ 2 A2 v2 ∆t
2
Por conservação de massa, o
infinitésimo de massa ∆m2 que passa
por A2 num intervalo de tempo é o
mesmo do infinitésimo de massa ∆m1
que passa por A1 no mesmo intervalo de
tempo. Portanto, ∆m2 =
∆m1 e, assim,
Figura 3.7 - Fluido em movimento em um tubo de
ρ1 A=
ρ 2 A2 v2 ∆t
área de seção reta variável. Os dois cilindros som1v1 ∆t
breados têm volumes idênticos.
ρ1 A1v1 = ρ 2 A2 v2 .
Logo, o produto ρ Av permanece
constante ao longo do tubo, representando o fluxo de massa por unidade de tempo, através
da secção transversal do tubo. Admitamos agora que o fluido seja incompressível, o que
é uma aproximação adequada para a maioria dos líquidos. Assim, temos que a densidade
ρ=
ρ ), e, portanto,
do fluido não muda ( ρ=
1
2
A1v1 = A2 v2
ou seja,
Av = constante
Este resultado é chamado de equação de continuidade e a grandeza Av de vazão
volumar, IV .
EXEMPLO 3.5
O sangue corre por uma artéria, cujo raio é de 1,0 cm, à velocidade de 30 cm/s. Qual a
velocidade do sangue se o raio da artéria for reduzido para 0,7 cm? (geralmente há uma
redução do raio em artérias devido à arterioesclerose, que é o espessamento das paredes
arteriais)
Solução:
Pela equação de continuidade sabemos que
Av = constante
Chamando o pedaço de artéria normal de A e a reduzida de B, temos
AAv A = AB vB
 AA 
 π rA2 
=
vB =
 vA  2  vA
 AB 
 π rB 
2
 π (1, 0cm ) 
=
vB =
 30cm / s 61, 22cm / s
 π ( 0, 7cm )2 


Assim, a velocidade mais que duplica na área reduzida.
54
3.5.1 Princípio de Bernoulli
Fluidos
Daniel Bernoulli (17001782), físico e matemático suíço
fez importantes descobertas sobre
a dinâmica dos fluidos. Em seu
trabalho Hydrodynamica de 1738,
Bernoulli derivou pela primeira
vez uma expressão que relaciona
a pressão à velocidade e à altura
do fluido. Essa expressão leva o Figura 3.8 - Fluido em movimento num tubo de área de seção
reta variável e de elevação variável.
seu nome (princípio de Bernoulli).
Vamos desenvolver esta expressão usando a conservação da energia mecânica.
Consideremos o escoamento de um fluido ideal através de um tubo não uniforme
entre os pontos 1 e 2 em um determinado tempo t (figura 3.8). Após um certo tempo ∆t , o
fluido desloca-se no interior do tubo e passa a ocupar a região entre 1´e 2´. A massa desta
parcela de fluido é ∆m = ρ∆V . Este deslocamento elevou ∆m de y1 para y2 e a velocidade
passou de v1 para v2 .
A variação da energia potencial desta parcela de fluido é dada por
∆U =∆mgy2 − ∆mgy1
∆U =
∆mg ( y2 − y1 )
A variação da energia cinética é
1
1
∆Ecin = ( ∆m ) v22 − ( ∆m ) v12
2
2
1
∆Ecin = ( ∆m ) (v22 − v12 )
2
O fluido à esquerda do ponto 1 exerce uma força sobre esta parcela de fluido
restante, e o trabalho desta força é dado por
W1 = F1∆x1 = P1 A1∆x1 = P1∆V
será
Da mesma forma, o fluido à direita exerce uma força sobre o ponto 2 e o trabalho
W2 =
− F2 ∆x2 =
− P2 A2 ∆x2 =
− P2 ∆V
Portanto, o trabalho total é a soma dos dois trabalhos,
Wtotal =P1∆V − P2 ∆V =∆V ( P1 − P2 )
Como Wtotal = ∆U + ∆Ecin ,
∆V ( P1 − P2 ) =( ρ∆V ) g ( y2 − y1 ) +
1
( ρ∆V ) (v22 − v12 )
2
Dividindo cada elemento por ∆V , obtém-se
1
( P1 − P2=
) ρ g ( y2 − y1 ) + ρ (v22 − v12 ) .
2
Rearranjando os termos, podemos escrever
1
1
P1 + ρ gy1 + ρ v12 =
P2 + ρ gy2 + ρ v22
2
2
Como o ponto 2 pode ser qualquer ponto no tubo, temos que a combinação dos
valores das grandezas do primeiro termo é constante em qualquer ponto no tubo. Este
resultado pode ser escrito como
1
constante
P + ρ gy + ρ v 2 =
2
Esta é a equação de Bernoulli, aplicada a um fluido ideal.
55
FÍSICA GERAL II
v=
0:
Um caso particular é quando o fluido está em repouso, v=
1
1
P1 + ρ gy1 =
P2 + ρ gy2
P1 −=
P2 ρ g ( y2 − y1 )
P1 − P2 =
ρ gh
Este resultado já é conhecido (equação 3.1) e descreve que a diferença de pressão
entre dois pontos está relacionada à distância entre os pontos e a densidade.
Para um fluido que escoa através de um tubo horizontal com uma seção
estrangulada, y1 e y2 são idênticos. Portanto, a equação de Bernoulli assume a forma
1
P + ρ v2 =
constante
2
Como já vimos, o produto Av permanece constante. Quando o fluido se move e
entra na região estrangulada, a área A se torna menor e a velocidade deve aumentar. No
1 2
entanto, P + ρ v permanece constante. Se a velocidade aumenta, então a pressão deve
2
diminuir. Este efeito é denominado de efeito Venturi:
Quando a velocidade de escoamento de um fluido aumenta, a pressão diminui.
velocidade baixa
pressão alta
Figura 3.9 - Uma bola
de futebol girando sofre
uma força perpendicular
à trajetória.
Figura 3.10
O efeito Venturi explica qualitativamente a sustentação da asa de um avião. A
asa de um avião é construída de modo que o ar se mova com velocidade maior na parte
de cima do que na parte de baixo, o que resulta em uma pressão na parte de cima da asa
menor do que a pressão na parte de baixo da asa. Essa diferença de pressão provoca uma
força resultante dirigida de baixo para cima, o que proporciona a sustentação da asa.
No futebol também podemos observar o efeito Venturi. Quando uma bola é
chutada e gira em torno do seu eixo, há uma transmissão do movimento ao ar em sua
volta. Para melhor entendimento do efeito, vamos considerar uma bola estacionária, com
o ar fluindo à sua volta, conforme ilustra a figura 3.9. No lado em que a bola gira no
sentido contrário ao movimento do ar, a velocidade diminui, e do lado que a bola gira no
mesmo sentido do movimento do ar, a velocidade aumenta. Isso resulta numa diferença
de pressão e, conseguinte, numa força resultante. Este efeito, descrito pelo físico alemão
Heinrich Magnus, em 1853, é conhecido como efeito Magnus. Segundo o historiador
James Gleick, Newton já tinha abordado este efeito depois de observar um jogo de tênis.
Os resultados quantitativos da equação de Bernoulli têm que ser observados
com cuidado, pois algumas vezes apresentam discrepâncias em relação às medições
experimentais. A razão das discrepâncias, no caso dos gases, é a compressibilidade do fluido
que não foi levada em conta. A viscosidade, no caso dos líquidos, invalida a conservação
de energia mecânica. Ademais, o escoamento nem sempre é regular, permanente e/ou
livre de turbulências.
EXEMPLO 3.6
Um amplo tanque de água tem uma pequena abertura à distância h da superfície do
líquido (figura 3.10). Calcule a velocidade de escoamento de água através da abertura.
Solução:
Usando a equação de Bernoulli e desprezando a velocidade da água na superfície livre,
temos que
1
P1 + ρ gy1 + 0 = P2 + ρ gy2 + ρ v22
2
As pressões nos pontos 1 e 2 coincidem, ambas são iguais à pressão atmosférica, Patm,
pois os dois pontos estão abertos para a atmosfera:
1
Patm + ρ gy1 + 0= Patm + ρ gy2 + ρ v22
2
=
v22 2 g ( y1 − y2 )
v2 = 2 gh
56
No escoamento de um fluido perfeito, nada evita que ele deslize sobre um sólido
com velocidade tangencial nula. Num fluido real aparece uma força volumétrica de atrito
interno que aparece no deslizamento sobre um sólido. Para caracterizar o grau de atrito
interno do fluido, utilizamos um coeficiente chamado de viscosidade. Viscosidade é a
resistência que o fluido tem ao escoar.
Para descobrir o coeficiente de viscosidade de um fluido, imaginemos o fluido
confinado entre duas superfícies planas, paralelas, de áreas A iguais, afastadas uma da outra
por uma distância d, conforme visto na figura 3.11. A superfície inferior se mantém imóvel,
enquanto que a superfície superior desloca-se com uma velocidade constante v, impulsionada
por uma força Fapl constante. Como a velocidade é mantida constante, a aceleração do
sistema é igual a zero e a somatória das forças envolvidas é igual zero ( ∑F = 0 ) . Isto quer
dizer que a força aplicada Fapl é igual à força de atrito ou de arraste, referente à viscosidade
do fluido. É sabido que um fluido real, em contato com uma superfície, permanece em
repouso em relação à superfície. Assim, o fluido em contato com a superfície superior se
desloca com velocidade vo. A superfície inferior e o fluido em contato com ela permanecem
em repouso. Portanto, a velocidade do fluido varia linearmente entre zero e a velocidade vo:
v
v= 0 y
d
O escoamento é laminar porque o fluido se desloca em camadas planas paralelas
ou em forma de lâminas, que deslizam umas sobre as outras.
A força Fapl é diretamente proporcional a velocidade vo e a área A e inversamente
proporcional à separação d entre as duas superfícies. A constante de proporcionalidade é
o coeficiente de viscosidade η . Portanto,
v A
Fapl = η 0 .
d
No sistema internacional, a unidade do coeficiente de viscosidade η é dado
por N.s/m2=Pa.s. Ainda se usa com
frequência a unidade poise (P), sendo
que
1 Pa.s = 10 P
A tabela 3.3 mostra o coeficiente de viscosidade de alguns fluidos.
Podemos perceber que a viscosidade
é dependente da temperatura. Para
um líquido, η geralmente diminui
com a temperatura. Para gases há
um aumento de η com o aumento da
temperatura.
Fluidos
Figura 3.11
Escoamento viscoso
EXEMPLO 3.7
Quando partículas esféricas se movem através de um fluido, a força do atrito viscoso é
dada pela Lei de Stokes: FS = 6πη rv , na qual r é o raio da partícula, v a velocidade e η é
o coeficiente de viscosidade. Utilizando a lei de Stokes, determine a viscosidade do fluido.
Solução:
O coeficiente de viscosidade pode ser medido através do seguinte experimento: deixase uma esfera cair em um fluido e mede-se sua velocidade terminal. Na velocidade
terminal, a força do atrito viscoso iguala-se à força peso da partícula e, portanto,
=
FS 6=
πη rvT mg
mg
η=
6π rvT
Por exemplo, observa-se uma velocidade terminal vT = 0, 024 m / s para partículas de
poluente, com raio r = 10−5 m e massa =
m 8,3 × 10−12 kg , caindo no ar. Assim,
(8,3 ×10 kg )( 9,8m / s ) ⇒ η=
6π (10 m ) ( 0, 024m / s )
−12
η=
−5
2
1,8 ×10−5 N .s / m 2
57
FÍSICA GERAL II
Para um fluido de viscosidade pequena como a água, a ação da viscosidade se
dá geralmente numa camada muito delgada junto à superfície. Nesta camada limite, a
velocidade varia rapidamente, desde um valor nulo, no meio do fluido até um valor da
velocidade v, junto à superfície. Aumentando a velocidade, esta camada limite “descolase”, havendo aí o aparecimento de vórtices, gerando um refluxo. Com o maior aumento
da velocidade, o movimento torna-se turbulento, caracterizado pelo movimento aleatório
e, aparentemente, caótico. O tratamento teórico é extremamente difícil e encontra-se
incompleto, principalmente o mecanismo que descreve o aparecimento da turbulência e
o regime turbulento.
Exercícios
1. Um pedaço de cortiça de 0,20 kg é mantido preso a um dinamômetro, que está fixado
no fundo do recipiente como mostra a figura 3.12. O dinamômetro indica 8 N. Calcular
a densidade da cortiça.
2. Um pedaço de metal pesa 90 N no ar e 56,6 N quando mergulhado na água. Determinar
a densidade relativa do metal.
Figura 3.12
3. Imagine que você seja capaz de respirar no chão com uma massa de 40 kg sobre a sua
caixa torácica. A que profundidade, na água, você conseguiria respirar, admintindo que
a área frontal da caixa torácica seja de 0,09 m2?
4. O empuxo sobre um corpo submerso depende da forma do corpo?
5. Por que é mais fácil boiar na água salgada do que na água doce?
6. Um tampo de uma mesa tem 1,00 m x 0,80 m. Que força a atmosfera exerce sobre o
tampo? Por que o tampo não se quebra?
7. Supondo que quando seu corpo está flutuando na água doce, 95% do seu corpo fica
imerso, que volume de água o seu corpo deslocará quando estiver inteiramente
submerso?
8. Uma esfera oca de alumínio, com diâmetro externo de 10 cm, flutua na água com
metade do seu volume acima da superfície da água. Determinar o diâmetro interno.
58
Fluidos
Anotações
59
FÍSICA GERAL II
Anotações
60
4
Oscilações
4.1
Movimento de uma partícula Ligada a uma Mola
4.2
Movimento harmônio Simples
4.2.1
deslocamento, velocidade e Aceleração
4.2.2
Energia no Movimento harmônico Simples
4.3
pêndulo Simples
4.4
pêndulo Físico
4.5
pêndulo de torção
4.6
oscilações Amortecidas
4.6.1
4.7
Energia total de um oscilador Amortecido
oscilações Forçadas e Ressonância
61
4 OSCILAÇÕES
FÍSICA GERAL II
Oscilações ocorrem quando um sistema estável é perturbado de sua posição de
equilíbrio. Existem muitos exemplos de oscilações: pêndulo de relógios que se movimentam
da direita para a esquerda, ou vice-versa, periodicamente; movimento das cordas e palhetas em
instrumentos musicais; moléculas em um sólido que oscilam em função da temperatura; ondas
eletromagnéticas, como a luz, que são caracterizadas por vetores oscilantes de campos elétricos
e campos magnéticos; circuitos de corrente alternada, tais como instalações domésticas, em
que a voltagem e a corrente variam periodicamente. Como podemos ver, o estudo de oscilações
é essencial para um melhor entendimento do som, da corrente elétrica e da luz.
Um corpo que oscila possui uma posição de equilíbrio estável. Quando o corpo
é deslocado desta posição e liberado, surge uma força ou um torque que o faz retornar
à posição de equilíbrio. Porém, quando ele atinge o ponto de equilíbrio, a sua energia
cinética faz com que ele atravesse o ponto de equilíbrio e atinja um ponto do outro lado.
Como ele está deslocado da posição de equilíbrio, surge novamente uma força que o faz
retornar a posição de equilíbrio. DEsse modo, o corpo executa um movimento periódico.
Os sistemas que estudaremos com movimento periódicos mais simples, são descritos por
uma única coordenada, como o deslocamento unidimensional num sistema massa-mola
ou o ângulo de desvio do pêndulo.
4.1 Movimento de uma Partícula ligada a uma Mola
Consideremos um corpo de massa m, ligado a uma mola, que pode se mover em
um trilho horizontal sem atrito, conforme ilustrado na figura 4.1. A mola pode ser esticada
ou comprimida e sua massa é desprezível. Se a mola não estiver esticada ou comprimida,
o corpo está em repouso em sua posição de equilíbrio, definida como x=0. Quando a
massa é deslocada de um Δx de sua posição de equilíbrio, a mola exerce uma força Fx
sobre ela, dada pela lei de Hooke,
Fx =−k ∆x ,
na qual, k é a constante de força da mola. Fx é uma força restauradora linear porque é
proporcional ao deslocamento da posição de equilíbrio com sentido dirigido sempre para
a posição de equilíbrio e oposta ao deslocamento. Isto é, quando o corpo é deslocado para
a direita (figura 4.1-II), Δx é positivo e a força elástica Fx é negativa (o sentido da força é
para a esquerda). Diferentemente, Δx é negativo e a força elástica Fx é positiva (o sentido
da força é para a direita) quando o corpo é deslocado para a esquerda (figura 4.1-IV).
Se deslocarmos o corpo para a direita até a posição xb (figura 4.1II) e, a seguir, o
libertarmos, a força resultante e a aceleração tem sentido l)
Fx = 0 xa
para a esquerda. A velocidade aumenta até o corpo atingir
a posição de equilíbrio (xa=0) (figura 4.1-III). Quando o
corpo está em xa, a força resultante que atua sobre ele é
Fx xb
igual a zero (Δx=0); porém, devido à sua velocidade, o lI)
corpo passa pela posição de equilíbrio. Neste ponto sua
velocidade está orientada para a esquerda e a sua aceleração
F x = 0 xa
está orientada para a direita. Logo, a velocidade diminui lII)
até que o corpo pára momentaneamente em xc (figura
4.1IV). Para o caso ideal (sem atrito), │xb│=│xc│. Em
Fx xc
xc , a força resultante e a aceleração tem sentido para a lV)
direita, a velocidade aumenta, o corpo passa novamente
pela posição de equilíbrio e pára momentaneamente no
ponto xb, repetindo o processo inteiro. Quando isto ocorre,
xc xa xb
o corpo está oscilando. Caso não existisse atrito, este
Figura 4.1 - Sistema
movimento se repetiria eternamente.
massa-mola em trilho de ar.
62
Um movimento oscilatório é caracterizado pela sua amplitude A e seu período
T. A amplitude A do movimento é o módulo máximo do vetor deslocamento do corpo
a partir da posição de equilíbrio. Como a amplitude A é o valor máximo do módulo
│Δx│, A é sempre positivo. O período T é o tempo correspondente a um ciclo completo.
Podemos definir também a frequência f, que é o número de ciclos por segundo. Uma
grandeza bastante útil no estudo das oscilações é a frequência angular ω , que é 2π vezes
a frequência.
f =
oscilações
1
T
ω = 2π f
T=
2π
w
Tabela 4.1 - Relação entre período T, frequência f e frequência angular w.
4.2 Movimento Harmônico Simples
Desenvolveremos agora uma representação matemática do movimento descrito
na seção anterior. Como, pela segunda lei de Newton, F=ma, e a=dv/dt=d2x/dt2, temos
d 2x
F =m 2 .
dt
No caso anterior, a força restauradora é dada por F =− k ∆x . Fazendo x0 = 0 ,
temos F = − kx . Substituindo a força F, obtemos
d 2x
m 2 = − kx
dt
d 2x
k
= −  x .
dt 2
m
4.1
Precisamos agora de uma solução matemática para a equação anterior, isto é, uma função
x que satisfaça essa equação (denominada equação diferencial de segunda ordem). Percebemos
que a segunda derivada de x não é nula. Portanto, x tem que ser dependente do tempo t. Assim,
d 2 x(t )
k
= −   x (t ) .
2
dt
m
4.2
Procuramos uma função x(t ) , tal que a segunda derivada dessa função seja igual à
função original com um sinal negativo. As funções trigonométricas seno e cosseno exibem
esse comportamento, de maneira que podemos construir uma solução em torno de uma ou
de ambas as funções. Uma sugestão para uma função-solução de x(t ) da equação 4.2 é
x ( t ) = Acos (ωt )
4.3
com A e ω sendo constantes. Para provar que a função proposta é uma solução, vamos
derivá-la duas vezes e compará-la com a equação 4.2. Assim,
dx(t ) d [ Acos (ωt ) ]
=
= − Aω sen(ωt )
dt
dt
d 2 x(t ) d [ − Aω sen(ωt ) ]
=
= − Aω 2 cos (ωt )
dt 2
dt
d 2 [ Acos (ωt ) ]
= −ω 2 [ Acos (ωt ) ]
2
4.4
dt
Comparando 4.2 e 4.4, observamos que função-solução proposta 4.3,
x ( t ) = Acos (ωt ) é uma solução válida. Observamos, também, através da comparação,
que ω 2 =
k
.
m
63
FÍSICA GERAL II
Na figura 4.2, temos a representação da solução proposta x ( t ) = Acos (ωt ) , para
diferentes valores de ω . Pela figura vemos que um aumento de ω diminui o período
de oscilação e uma diminuição
Período T
de ω aumenta o período de
oscilação. Isto significa que
x(t) = Acos (ωt)
ω é quem regula o tempo de
repetição da oscilação. Por essa
tempo t
razão, ω é denominada de
frequência angular. Assim, com
ajuda da tabela 4.1, podemos
Período T´
escrever a frequência e o período
para um sistema massa-mola
x’(t) = Acos(ω´t ), ω´ = 2ω
k
substituindo a relação ω 2 =
m
tempo t
nas relações do período T e da
frequência f:
Período T´´
1
x’´(t) = Acos(ω´´t ), ω´´ = _ ω
2
Figura 4.2 - Gráfico x(t) para diferentes
valores de frequência ω . A escala do
tempo é idêntica para todos os gráficos.
tempo t
2π
T=
período
ω
f=
frequência
ω
2π
→ T= 2π
m
k
1
2π
k
m
→ f=
Como, para cada caso, o movimento pode começar em diferentes posições,
podemos acrescentar à nossa solução uma constante de fase δ , que é uma mudança do
ângulo inicial (figura 4.3). Fazendo isso, nossa solução pode ser escrita como
=
x ( t ) Acos (ωt + δ )
x(t)
constante
de fase
4.5
x(t) = Acos(ωt+δ)
A
tempo t
Figura 4.3 - Gráfico de duas funções
cosseno com uma diferença de fase δ .
x(t) = Acos(ωt)
-A
Período T
A equação 4.2 e a respectiva solução 4.5 são a base para a análise do movimento
harmônico simples (MHS). Se estivermos analisando um sistema e a força for proporcional
ao deslocamento, consequentemente, o sistema apresentará uma equação de movimento
análoga à equação 4.2 e uma solução análoga à 4.5.
64
EXEMPLO 4.1
Um corpo de massa m1, pendurado numa mola, provoca um estiramento de 10 cm. O
corpo é, então, colocado para oscilar verticalmente. a) Determine a frequência do movimento. b) O que acontece com a frequência de oscilação se o corpo m1 for substituído
por um de massa m2= m1/2.
oscilações
Solução:
a) A constante elástica da mola pode ser determinada pelo deslocamento produzido pelo
do estiramento (Δy=10cm=0,1m). Na posição de equílibrio a somatória das forças é
igual a zero ∑F = 0 e, portanto,
(
)
∑F =−m g + k ∆y =0
1
k=
A frequência de oscilação é dada por
f1
=
=
f1
w
1
=
2π 2π
1
g
1
=
2π ∆y 2π
m1 g
∆y
k
1
=
m1 2π
 m1 g 
 ∆y 


m1
9,81m / s 2
= 1,57
=
s −1 1,57Hz
0,1m
f1 = 1,57Hz
b) Substituindo a massa m1 por m2=m1/2, na frequência f, temos:
=
f2
1
k
1 2k
= =
2π m2 2π m1
=
f2
 1
2 
 2π
x(t)
dt
a) deslocamento
A
=
x ( t ) Acos (ωt + δ ) (equação
A função
-A
4.5) descreve o deslocamento x em função do tempo
em um oscilador harmônico. O valor da função cos- v(t)
seno está sempre compreendido entre -1 e 1, de modo Aω
que o valor de x está sempre compreendido entre –A
e A. O valor de A é denominado de amplitude. A
figura 4.4a mostra o gráfico do deslocamento x ( t ) . -Aω
A velocidade é igual a derivada temporal a(t)
Aω²
d  x ( t ) 
), e a aceleração
do deslocamento, (v(t ) = 
dt
é igual à derivada temporal da velocidade, -Aω²
d [ v(t ) ]



=
2 f1 2, 22Hz
4.2.1 Deslocamento, velocidade e aceleração
a (t ) =
k
m1
tempo
b) velocidade
tempo
c) aceleração
tempo
. Se desejarmos determinar a Figura 4.4 - a) deslocamento, b) velocidade e c)
aceleração de um oscilador harmônico. A escala
velocidade v e a aceleração a em função do tempo, de tempo é idêntica para todos os gráficos.
podemos derivar a equação 4.5 em relação ao tempo:
=
x ( t ) Acos (ωt + δ )
d  x ( t )  d [ Acos (ωt + δ ) ]
v(t ) ==
=
− Aω sen(ωt + δ )
dt
dt
v(t ) =
− Aω sen(ωt + δ ) .
4.6
65
FÍSICA GERAL II
QUESTÃO 4.1
Uma bola batendo
livremente
diversas
vezes no chão é um
exemplo de movimento harmônico simples?
O movimento diário
de um trabalhador
indo para o trabalho e
voltando para casa é
um exemplo de movimento harmônico simples? Explique suas
respostas.
d [ v(t ) ] d [ − Aω sen(ωt + δ ) ]
a (t ) =
=
=
− Aω 2 cos (ωt + δ )
dt
dt
a (t ) =
− Aw2 cos ( wt + δ )
4.7
Podemos observar, pelas equações obtidas e pelos gráficos 4.4b e 4.4c, que a
velocidade oscila entre os valores vmax =
+ω A e – vmax =
−ω A , e a aceleração oscila entre
os valores amax = ω 2 A e – amax = −ω 2 A .
EXEMPLO 4.2
Suponha que num determinado tempo t’ sejam conhecidas a posição x e a velocidade v
de um oscilador. Encontre a amplitude máxima desse oscilador.
dx
A posição é dada por x = Acos (ωt ') e a velocidade v =
= − Aω sen(ωt ') ; A é a
dt
amplitude máxima do oscilador.
Elevando ao quadrado a posição e a velocidade, temos:
v2
2
=
x 2 A=
cos 2 (ωt ') e
A2 sen 2 (ωt ') .
2
Somando x e v, obtemos
ω
2
v
2
x=
+ 2 A2 cos 2 (ωt ') + A2 sen 2 (ωt ')
ω
v2
2
=
x + 2 A2 cos 2 (ωt ') + sen 2 (ωt ') 
ω
1,
Como cos 2 (ωt ) + sen 2 (ωt )  =
v2
2
x + 2 =
A2
ω
v2
A
x2 + 2 .
=
ω
A amplitude máxima depende somente da posição e da velocidade em um determinado
tempo t’.
EXEMPLO 4.3
Um menino observa um pequeno barco ancorado que oscila 12 vezes em 20 s. Cada
oscilação produz uma elevação máxima de 20 cm na superfície da água. Além disso,
nota-se que uma crista de onda qualquer alcança a margem, distante 12 m, em 6 s. Determine: a) o período; b) a velocidade; c) o comprimento de onda*; d) a amplitude da
onda e e) a equação da onda*. (* serão vistos no Capítulo 5)
Solução:
a) Período T: O barco oscila 12 vezes em 20 segundos, assim,
=
T
20 s
= 1, 67 s
12
b ) Velocidade v: a onda percorre 12 metros em 6 segundos, logo
=
v
c) Comprimento de onda λ:
∆x 12m
=
= 2m / s
6s
∆t
λ=
vT =
3,33m
(1, 67 s ) ⋅ (2m / s) =
d) Amplitude A: cada oscilação produz uma elevação máxima de 20 cm na superfície da água.
A = 20 cm = 0,2 m
=
ω 2=
π / T 3,77rad / s .
e) Equação da onda
é x Acos (ωt + δ ) , na qual a freqüência angular
=
Substituindo ω e A, obtemos
=
x (0, 2m)cos ((3.77 rad / s )t + δ )
Observe que não determinamos a diferença de fase δ, pois o problema não traz esta
informação (condições iniciais da observação).
66
4.2.2 Energia no movimento harmônico simples.
oscilações
Se considerarmos o sistema massa-mola como um sistema isolado, podemos
estudar a energia mecânica do sistema, pois o valor da mesma permanece constante. A
energia cinética Ecin do sistema é associada apenas ao movimento da massa m. Utilizando
a velocidade v definida pela equação 4.6, temos
=
Ecin
1 2 1
=
mv
mA2ω 2 sen 2 (ωt + δ )
2
2
=
Ecin
1
mA2ω 2 sen 2 (ωt + δ )
2
A energia potencial U no sistema massa-mola está associada à mola. Para obtermos
a energia potencial temos que descobrir o trabalho realizado pela mola, saindo da posição
de equilíbrio x = 0 até uma posição qualquer x. O trabalho W realizado pela mola é dado por
dW = ( Fx ) dx = ( −kx ) dx
x
1
− kx 2
∫dW =
∫0 ( −kx ) dx =
2
1
W = − kx 2 .
2
A energia potencial U é dada por U = -W, portanto,
1
U = kx 2 .
2
Substituindo x dado pela equação 4.3, temos
=
U
1 2 2
kA cos (ωt + δ ) .
2
Observamos que as grandezas Ecin e U são sempre positivas e variam em função
do tempo. Podemos expressar a energia total do oscilador como,
E= U + Ecin
1 2 2
1
=
E
kA cos (ωt + δ ) + mA2ω 2 sen 2 (ωt + δ )
2
2
2
Substituindo ω = k / m no segundo termo do lado direito, podemos escrever,
1 2 2
1
=
E
kA cos (ωt + δ ) + kA2 sen 2 (ωt + δ )
2
2
1
2
Como o termo kA aparece nos dois termos à direita, podemos colocá-lo em
2
evidência, tal que
=
E
1 2
kA cos 2 (ωt + δ ) + sen 2 (ωt + δ ) 
2
QUESTÃO 4.2
Um sistema massamola, na horizontal
ou na vertical, tem
o mesmo período de
oscilação. A força
gravitacional está em
equilíbrio com a força
normal (para a posição
horizontal) e com a
tensão da mola (para
a posição vertical). O
que acontece com a
posição de equilíbrio
no sistema massa-mola
na vertical, quando
comparado com o
sistema horizontal?
1 para qualquer tempo t, a equação
Como cos 2 (ωt + δ ) + sen 2 (ωt + δ )  =
anterior se reduz a
1
E = kA2 .
2
Isto é, a energia de um oscilador
harmônico simples isolado é dependente
unicamente da constante elástica da mola e
da amplitude máxima. A figura 4.5 mostra a
energia cinética Ecin e potencial U em função
do tempo. Podemos observar que a soma da
energia cinética e potencial em qualquer Figura 4.5 - Energia cinética e potencial em
instante de tempo é igual a
1 2
kA .
2
função do tempo para um oscilador harmônico
simples isolado.
67
FÍSICA GERAL II
a)
EXEMPLO 4.4
v2
A2 . A partir
No exemplo 1, deduzimos a partir da função deslocamento x(t) a expressão x 2 + 2 =
ω
do conceito de conservação de energia, deduza esta mesma expressão.
Solução:
1 2
1
kA E=1/2 kA^2 é a soma da energia potencial U = kx 2
2
2
1 2
U=1/2 kx^2 e da energia cinética Ecin = mv ,
2
=
E Ecin + U
1 2 1 2 1 2
=
kA
mv + kx
2
2
2
1 2 1
1
2
kA = mv + kx 2
2
2
2
m
=
A2
v2 + x2
k
k
como w =
, temos
m
v2
2
x + 2 =
A2
Como a energia total E =
b)
ω
4.3 Pêndulo Simples
Figura 4.6 - a) A posição
do pêndulo simples em
intervalos
de
tempo
iguais. O espaçamento
aumenta quando o pêndulo
se aproxima do fundo
da trajetória, indicando
uma velocidade maior. b)
Diagrama de forças atuando
no pêndulo simples.
Um pêndulo simples é constituído por um fio inextensível de comprimento L,
que sustenta, pendurado, um corpo pequeno e pesado de massa m (figura 4.6). Uma bola
de demolição presa no cabo de um guindaste, o peso da extremidade de um fio de prumo
ou uma criança em um balanço são exemplos de um pêndulo simples. A massa do fio
tem que ser desprezível em relação à massa do corpo, isto é, a massa do corpo é muito
maior do que a massa do fio. Todas as forças de atrito serão desconsideradas e o corpo é
considerado puntiforme. Quando o corpo é deslocado da posição de equilíbrio, fazendo
um ângulo inicial qualquer θ com a posição de equilíbrio (vertical) e, a seguir, é liberado,
o corpo oscila em torno da posição de equilíbrio com um certo períodode tempo T.
As forças sobre o corpo são o peso mg e a tensão na corda T , como mostra a
figura 4.6. O peso tem a componente mgcosθ na direção do fio e mgsenθ na direção
tangente ao arco do círculo. A componente mgcosθ se anula com a tensão na corda T.
Somente a componente de força mgsenθ é responsável pelo movimento do corpo. Como
∑F = ma (segunda Lei de Newton), temos
−mgsenθ =
ma
∑F =
d 2s
dt 2
d 2s
,
4.8
− gsenθ =
dt 2
na qual, s é o comprimento do arco medido a partir do ponto de equilíbrio do pêndulo
(figura 4.6b), e pode ser escrito em função do comprimento L e do ângulo θ ,
s = Lθ
Derivando o comprimento s duas vezes em função do tempo e lembrando que L
permanece constante, obtemos
d 2s
d 2θ
L
=
dt 2
dt 2
Substituindo na equação 4.8, resulta que
d 2θ
L 2 .
− gsenθ =
− m gsenθ = m
dt
68
ângulo
(graus)
900
750
600
450
300
150
120
100
50
20
10
ângulo
(rad)
seno do
ângulo
1,570
1,308
1,047
0,785
0,523
0,262
0,209
0,174
0,087
0,035
0,017
1,000
0,966
0,866
0,707
0,500
0,259
0,208
0,174
0,087
0,035
0,017
oscilações
Tabela 4.2 - Seno de diversos ângulos. Percebe-se que,
conforme o ângulo diminui, o valor do ângulo θ em radianos
tende para o valor da função seno do mesmo ângulo. Abaixo
de 100 não se nota diferença entre os dois valores, quando se
usam somente 3 casas decimais.
A tabela 4.2 mostra que para ângulos pequenos, o valor de senθ é quase idêntico
ao valor do próprio ângulo θ medido em radianos. Assim, para oscilações com ângulos
menores que 150 podemos usar a aproximação senθ ≈ θ na equação anterior, ficando
d 2θ
g
= − θ,
2
dt
L
sendo, θ o valor do ângulo em qualquer tempo, θ é uma função do tempo; portanto,
d 2θ ( t )
g
4.9
= −  θ ( t )
2
dt
L
A equação anterior tem a mesma forma da equação 4.2, do sistema massa-mola.
Igualmente, temos uma solução da equação anterior que é dada por
=
θ (t ) θ max cos(ωt + δ )
4.10
na qual, θ max é o deslocamento angular máximo, ω é a frequencia angular e δ é a
diferença de fase. Derivando a solução 4.10 duas vezes em função do tempo e substituindo
na equação 4.9, obtemos
g
g
w2 = ω 2 =
L
L
O período T e a frequencia f do movimento são, então,
2π
L
T = 2π
=
ω
g
f=
1
1
=
T 2π
g
.
L
4.11
4.12
As equações 4.11 e 4.12 mostram que o período T e a frequência f dependem
somente do comprimento L e da aceleração gravitacional. Quanto maior o comprimento de
um pêndulo simples, maior o período. Para oscilações pequenas, o período é independente
da amplitude da oscilação e da massa do corpo. Galileu Galilei (1564-1642) ao observar o
movimento oscilatório de um dos lustres da catedral de Pisa, verificou que o movimento
do lustre era periódico e que as pequenas oscilações eram isócronas, isto é, aconteciam a
intervalos regulares. Galileu constatou, também, que o período de um pêndulo independe
da natureza e da massa.
QUESTÃO 4.3
Imagine que um pêndulo
esteja pendurado no teto de
um carro com aceleração
constante. O período de oscilação muda em relação ao
período de um pêndulo em
um carro parado? (lembrese do aparecimento de uma
pseudoforça no pêndulo
com o carro acelerado)
DICA:
Vale a pena revisar os conceitos de torque, aceleração angular e momento de
inércia do Capítulo 9 do
livro de Física Geral I.
4.4 Pêndulo Físico
Um pêndulo físico é qualquer corpo pendurado que oscila em torno de um eixo que não
passa pelo seu centro de massa (figura 4.7). Para um pêndulo físico, precisamos usar o modelo
do corpo rígido submetido ao um torque. O torque τ é definido como o produto vetorial entre
   

o vetor posição r de aplicação da força e o vetor força F (τ = r × F ) . A figura 4.7a mostra
69
FÍSICA GERAL II
um corpo de forma irregular que pode girar em torno de um certo ponto O que está a uma
distância d do centro de massa (c.m.). Quando o corpo é deslocado da posição de equilíbrio

(ver figura 4.7b), a força peso mg produz um torque com a seguinte magnitude:
τ = −d ( mg ) senθ .
Para ângulos pequenos, podemos aproximar senθ pelo deslocamento angular θ . Assim,
a)
τ = −dmgθ .
Usando a segunda lei de Newton ( ∑F = ma ) para um sistema que gira, temos
que a somatória dos torques é igual ao produto entre o momento de inércia I e a aceleração
angular α ,
∑τ = Iα .
b)
Figura 4.7 - Pêndulo
físico: a) na posição de
equilíbrio e b) fora da
posição de equilíbrio.
Substituindo o torque calculado para o corpo fora da posição de equilíbrio
e a definição de aceleração angular como a segunda derivada em função do tempo do

d 2θ (t ) 
deslocamento angular  α =
 , obtemos
dt 2 

d 2θ (t )
−dmgθ (t ) =
I
dt 2
2
d θ (t )
 dmg 
= −
 θ (t )
2
dt
 I 
Analogamente ao ao caso do sistema massa-mola e do pêndulo simples, a solução
da equação anterior será dada por
=
θ (t ) θ max cos(ωt + δ )
Derivando esta solução duas vezes em função do tempo e substituindo-a na equação
anterior (como no caso do massa-mola e do pêndulo simples), obtemos
dmg
ω2 =
I
a)
T = 2π
I
dmg
1
2π
dmg
I
f =
b)
Figura 4.8 - a) Relógio
de Pádua (Itália) de 1364
e b) Roda Catarina de um
relógio mecânico.
Para determinar o período ou frequência de oscilação de um pêndulo físico, temos
que conhecer a massa do corpo, a posição do seu centro de massa e o momento de inércia
do corpo em relação ao eixo de rotação. Podemos, a partir do período ou da frequência de
oscilação de um corpo qualquer, determinar facilmente o momento de inércia de um dado
sistema, que é uma grandeza importante na mecânica e, muitas vezes, difícil de se obter
por outros métodos. Conhecendo-se bem as grandezas d, m e I, pode-se determinar com
bastante precisão o valor da aceleração da gravidade local.
4.5. Pêndulo De Torção
A figura 4.8a mostra um relógio construído em 1364, em Pádua na Itália, que
utiliza uma roda Catarina (figura 4.8b) como constante de tempo. A roda Catarina tem
um momento de inércia I em torno do seu eixo. Um torque proporcional ao deslocamento
angular θ da posição de equilíbrio é exercido por uma mola helicoidal sobre a roda. Este
torque é dado por τ = −kθ , onde ké uma constante denominada constante de torção.
dθ
Utilizando o análogo rotacional da segunda lei de Newton, ∑=
τ I=
α I 2 , temos
dt
d 2θ
k
θ
=
−
.
dt 2
I
A equação anterior possui uma solução análoga a todos os sistemas até agora
estudados. O movimento angular é descrito=
por θ (t ) θ max cos(ωt + δ ) e a frequência
2
70
angular, o período e a frequência são dados por:
k
w2 = ,
I
I
T = 2π
,
k
f =
1
2π
oscilações
k
.
I
Assim, o período de uma roda Catarina é determinado unicamente pela constante
de torção k e pelo momento de inércia da roda.
4.6 Oscilações Amortecidas
As oscilações harmônicas simples, estudadas até agora, ocorrem sem atrito. Todas
as forças envolvidas são conservativas e, consequentemente, a energia mecânica total é
constante. Quando o sistema começa a oscilar, ele oscila eternamente, sem diminuição da
amplitude.
Na prática, sempre existe uma ou mais forças não conservativas e a amplitude
de oscilação diminui com o tempo. A
oscilação que diminui de amplitude com A
2 bm
)
−(
o tempo é denominado de oscilação
e t
amortecida (ver figura 4.9). O caso mais
2 bm
)
−(
e t
simples é aquele quando analisamos
um sistema massa-mola, onde o ar ou
outro fluido faz a amplitude diminuir. 0
2T0
T0
5T0 tempo t
3T0
4T0
Esta força produzida por um fluido tem
a forma geral F = bv n , em que b é uma
constante, v é a velocidade e n depende
do sistema e do fluido (usaremos neste
caso n = 1). Portanto, a força resultante - A
sobre a massa é dada por,
Figura 4.9 - Em um oscilador amortecido,
∑F =−kx − bv
e a segunda lei de Newton ∑F = ma
Rearranjando, temos
QUESTÃO 4.5
Sabendo que o período de
uma roda Catarina é dado
por T = 2π
I
, o que
k
devemos fazer para acertar
um relógio que atrasa?
a amplitude decai com o tempo.
para o sistema é
ma =
−kx − bv
m
QUESTÃO 4.4
Qual é a unidade da constante de torção k?
4.13
2
d x
dx
=
− kx − b .
2
dt
dt
d 2x
dx
+b =
− kx .
4.14
2
dt
dt
A figura 4.9 mostra um exemplo de oscilação amortecida. Podemos observar pelas
duas curvas tracejadas que a amplitude decai obedecendo a uma função exponencial
m
−(
2 bm
)
t
) . Contudo, o sistema continua oscilando ( cos(ω´t + δ ) ). A equação que descreve a
posição em qualquer tempo é dada pelo produto da função exponencial e da função cos-seno,
(e
=
x ( t ) Ae
−(
2 bm
)
t
cos(ω´t + δ )
4.15
Substituindo a primeira derivada e a segunda derivada da posição em função do tempo
(4.15) na equação 4.14, observamos que a 4.15 é uma solução da equação 4.14 e que o
valor da frequência angular é dado por
71
k
b2 ,
−
,
m 4m 2
=
ω´
FÍSICA GERAL II
portanto:
• Se o sistema massa-mola tiver pouco atrito, a constante b deverá ser pequena e o
valor da frequência angular tende a ω´=
•
•
k
, que é a frequência angular de um
m
oscilador harmônico simples sem atrito (Compare figura 4.10a e 4.10b).
Quando b = 2 km , o valor de ω será igual a zero. Neste caso, ocorre o chamado
amortecimento crítico (figura 4.10c). O sistema não oscila mais e, ao ser deslocado
e liberado, retorna à posição de equilíbrio sem oscilar.
A condição de b maior que 2 km corresponde ao superamortecimento (figura
4.10d). Igualmente, o sistema não oscila, porém, retorna à sua posição de
equilíbrio mais lentamente que no caso do amortecimento crítico.
A
d
c
Figura 4.10 - Gráficos da posição em função
do tempo para um: a) oscilador harmônico
simples, b) oscilador amortecido, c) oscilador
criticamente amortecido e d) um oscilador
superamortecido.
0
-A
t
b
a
4.6.1 Energia Total de um oscilador amortecido
Nas oscilações amortecidas o trabalho da força ou forças não conservativas faz com que
a energia mecânica do sistema diminua, tendendo a zero depois de um longo tempo. Para
determinar a taxa de variação temporal da energia vamos derivar a energia mecânica total
em função do tempo,
1 2 1 2
mv + kx
2
2
dE
dv
dx
= mv + kx
dt
dt
dt
=
E
dv


Como a variação temporal da velocidade é igual a aceleração  = a  e a variação
dt


 dx

temporal da posição é igual a velocidade  = v  , temos
 dt

dE
= v ( ma + kx )
dt
−kx − bv (equação 4.13),
Como ma =
dE
= −bv 2
dt
A variação da energia é sempre negativa, independente da velocidade v ser
positiva ou negativa. Isto indica que a energia diminui continuamente. A dependência da
taxa de variação da velocidade mostra que esta taxa muda continuamente.
Um comportamento similar acontece em circuitos elétricos contendo indutores,
capacitores e resistores. Existe uma frequência natural de oscilação e a resistência
desempenha o papel da constante de amortecimento b.
72
4.7 Oscilações Forçadas E Ressonância
oscilações
Como vimos na seção anterior, um oscilador real perde sua energia
continuamente. Para manter as oscilações é necessário aplicar uma força propulsora que
varia periodicamente com uma frequência angular ω ( F = F0 cos(ωt ) ). À este movimento
damos o nome de oscilação forçada. Trata-se de um movimento diferente do ocorrido
quando, simplesmente, deslocamos o sistema sem atrito de sua posição de equilíbrio e o
deixamos livre; neste caso, o sistema oscila com uma frequência angular natural ω0 como

já foi determinado neste capítulo para o sistema massa-mola  ω0 =

k 
.
m 
Na oscilação forçada mostraremos que o importante não é somente a quantidade
de energia aplicada pelo trabalho da força propulsora. Para isso, utilizaremos um corpo
pendurado numa mola e excitado com uma frequência ω , A segunda lei de Newton neste
caso pode ser escrita como
∑F = ma
F0 cos (ωt ) − bv − kx =
ma
dx
d 2x
− kx =
m 2
dt
dt
Quando a força propulsora começa a atuar sobre o corpo parado, a amplitude
da oscilação vai aumentando. Após um tempo suficientemente longo, a amplitude de
oscilação tende a um valor constante. Esta condição é chamada de estado estacionário.
Neste caso, uma solução da equação anterior é
=
x ( t ) Acos (ωt + δ )
na qual, a amplitude A é dada por
F0 cos (ωt ) − b
A=
F0 / m
(ω
2
 bω 
− ω02 ) + 

 m 
2
A figura 4.11 mostra o gráfico da amplitude em função da frequência angular ω
aplicada pela força propulsora. Podemos observar, pelo gráfico, que o valor da amplitude
A é máximo para ω ≈ ω0. . Este aumento da amplitude próximo da frequência angular
natural ω0 é chamado de ressonância e a frequência angular natural é denominada de
frequência de ressonância.
Quando o amortecimento é pequeno não há grande diferença entre a frequência

de ressonância ω0 e a frequência natural do oscilador sem amortecimento  ω0 =

k 
.
m 
Neste caso, a ressonância ocorre quando a frequência da força aplicada é igual à frequência
natural do oscilador sem amortecimento e, além disso, a velocidade está em fase com
a força aplicada F0. Essa é a condição mais favorável para transferência de energia ao
oscilador, por unidade de tempo, pois o trabalho efetuado pela força aplicada F0 sobre o
oscilador é máximo e sempre positivo, uma vez que F0 e o deslocamento da massa estão
sempre na direção do movimento. Portanto,
Na ressonância, a transferência de energia potencial da força aplicada ao oscilador
forçado é máxima.
73
A
FÍSICA GERAL II
b=0
não amortecido
QUESTÃO 4.6
A frequência
de
excitação do sistema em
ressonância é igual à
freqüência natural?
QUESTÃO 4.7
Para um cantor conseguir
quebrar um cálice de
cristal, o que é mais
importante: a freqüência ou
a altura do som?
b pequeno
b grande
Figura 4.11 - Gráfico da amplitude em função da frequência angular
aplicada por uma força propulsora. A ressonância acontece quando
a frequência da força propulsora torna-se igual à frequência natural
ω0 . A forma da curva depende do valor da força de amortecimento
F = −bv .
Diferentes valores de força responsável pelo amortecimento ( F = −bv ) são
apresentados na figura 4.11. A altura da curva no ponto máximo é proporcional a (1/b).Isto
expressa que, quanto menor for o amortecimento, mais elevado serão os valores da amplitude.
Na ausência de uma força amortecedora (b = 0), vemos
que a amplitude do estado estacionário se aproxima do
infinito a medida que w → w0 .
A ressonância pode ser observada com um
experimento bastante simples (ver figura 4.12). Se num
fio flexível suspendermos seis pêndulos e oscilarmos o
pêndulo 0, os outros também começarão a oscilar. O
Pêndulo que oscila com maior amplitude é o número
3, que tem o comprimento L igual ao do pêndulo 0, Figura 4.12 - Seis pêndulos simples,
com acoplamento fraco.
portanto, com a mesma frequência natural.
A ressonância é, portanto, o fenômeno que acontece quando existe um pico de
amplitude provocado por uma força cuja frequência está próxima da frequência natural
do sistema. Amplitudes máximas no sinal são obtidas quando a frequência da onda é
igual à frequência de ressonância de circuitos de sintonia em rádios, televisões, celulares
e conexões sem fio. Este fato é usado para selecionar um emissor e rejeitar outros. O
fenômeno de ressonância produz um ruído desagradável quando uma nota musical
coincide com a frequência de oscilação natural do auto-falante. Medidas de tomografia,
para o diagnóstico de doenças, utilizam a ressonância da frequência do núcleo do átomo
de hidrogênio sob a ação de um campo magnético.
Exercícios
1. Um corpo oscila com movimento harmônico simples de amplitude A. a) Qual o
deslocamento do corpo em um período? b) Que distância o corpo cobre em um período?
2. Se a amplitude do movimento de um oscilador harmônico simples for quadruplicada,
por que fator fica multiplicada a sua energia?
3. Um corpo de 0,4 kg, preso a uma mola de constante k = 8,0 N/m oscila com uma
amplitude de 10,0 cm. a) Calcule o valor máximo da velocidade e da aceleração. b)
A velocidade e a aceleração quando o corpo está em 0, 2,5, 5, 5,5 e 10 cm.
4. Um corpo de 1 kg, está preso a uma mola de k = 5x103 N/m. A mola é esticada 10 cm
além da posição de equilíbrio e depois solta. Determine a) o período, b) a freqüência
do movimento, c) a amplitude, d) a velocidade máxima e e) a aceleração máxima. f)
Em que instante o corpo passa, pela primeira vez, na posição de equilíbrio?
74
5. Um fio metálico suporta a massa em um relógio. Quando a temperatura se eleva, o
comprimento do fio aumenta. Qual o efeito do aumento do fio no período do relógio?
oscilações
6. Se em um determinado local o período de um pêndulo de L = 0,7 cm for de 1,68 s, qual
o valor de g?
7. Os pistões de um motor a gasolina estão em movimento harmônico simples (figura
4.13). Se os extremos de seu deslocamento forem 10 cm, encontre a velocidade máxima
e a aceleração máxima do pistão quando o motor estiver funcionando a 5400 rev/min.
Figura 4.13
Figura 4.14
8. Determine o período de oscilação de cada um dos sistemas esquematizados na figura
4.14. Se a amplitude máxima de todos for 10 cm, calcule a energia de cada um dos
sistemas (no caso do pêndulo, calcular a energia potencial no ponto mais alto da
trajetória) .
9. Um corpo plano realiza movimento harmônico simples com uma frequência de 0,45 Hz.
Se o corpo tem uma massa de 2,2 kg e o pivô está localizado a 0,350 m do centro de
massa, determine o momento de inércia do pêndulo ao redor do pivô.
10. Um aro circular, com 1 m de raio, está pendurado perpendicular a uma extremidade e
oscila no seu próprio plano. Qual o período da oscilação?
11. Qual é a razão entre as amplitudes de duas oscilações sucessivas no caso de um
oscilador amortecido?
12. Dê alguns exemplos de sistemas comuns que podem ser osciladores forçados.
13. Um pêndulo com comprimento de 1 m é liberado de um ângulo inicial de 150. Após 1
segundo, sua amplitude foi reduzida pelo atrito a 5,50. Qual o valor de b/2m?
14. O amortecimento é desprezível para um corpo de 0,150 kg pendurado em uma mola
leve, cujo k = 6,3 N/m. O sistema é impulsionado por uma força oscilante de intensidade
a 1,70N. Em que frequência a força fará a massa vibrar com uma amplitude de 0,44 m?
15. A quebra de um cálice de cristal por uma onda acústica intensa é exemplo de
a) amortecimento crítico.
b) superamortecimento.
c) ressonância.
16. Determine a frequência de ressonância de cada um dos sistemas esquematizados na
figura 4.14.
75
FÍSICA GERAL II
Anotações
76
oscilações
Anotações
77
FÍSICA GERAL II
Anotações
78
5
Ondas Mecânicas
5.1
pulsos ondulatórios
5.2
velocidade de ondas
5.3
A onda progressiva
5.4
Reflexão e transmissão de ondas
5.5
ondas Estacionárias
5.6
Interferência de ondas
5.7
Efeito doppler
79
5 ONDAS MECÂNICAS
FÍSICA GERAL II
O estudo das ondas constitui-se no estudo dos fenômenos mais fundamentais e mais
importantes da Física. A onda mais familiar para nós é, provavelmente, aquela que se propaga na
superfície da água. Embora aparentemente simples, ondas deste gênero constituem-se num dos
mais complicados tipos de onda. O mundo está cheio de ondas, incluindo as sonoras, ondas em
cordas, ondas sísmicas, ondas de rádio e outras. Num sentido mais amplo, ondas transportam
energia e momento através do espaço com velocidade definida, sem haver transporte de matéria.
Numa onda mecânica, este efeito é obtido graças a uma perturbação que se propaga no meio. Por
exemplo, quando uma corda longa, que esteja sob tensão, recebe um pequeno pulso transversal, a
deformação provocada propaga-se ao longo da corda como um pulso ondulatório com velocidade
definida. A corda é o meio através do qual o pulso se propaga. À medida que o pulso se propaga,
cada segmento da corda que é perturbado move-se em uma direção perpendicular à direção
de propagação da onda. Ondas desse tipo, em que a perturbação é perpendicular à direção de
propagação, são denominadas ondas transversais (figura 5.1a). As ondas do mar são um exemplo
de ondas transversais. Ondas longitudinais (figura 5.1b) são aquelas em que a perturbação é
paralela à direção de propagação. As ondas acústicas são ondas longitudinais: as moléculas do
gás (ou do líquido) oscilam para frente e para trás, na linha de propagação das ondas acústicas,
alternadamente, comprimindo e rarefazendo o meio.
a)
b)
Figura 5.1 - a) Onda transversal e b) Onda longitudinal.
5.1 Pulsos Ondulatórios
No instante t=0, a forma de um pulso na corda pode ser representado por uma função
de onda y = f ( x) , em um sistema de coordenadas fixo O, conforme mostra a figura 5.2. Num
instante posterior, o pulso avançou sobre a corda, com velocidade v, sem alteração de sua forma.
O pulso é estacionário em um sistema de coordenadas O´, que avança com a mesma velocidade do
pulso. A forma da corda é dada pela função de onda y = f ( x ') ´) no sistema de coordenada O´. A
relação entre os sistemas de coordenadas O e O´ é dada por
x= x´+ vt
Assim, a função de onda é
ou
x=´ x − vt
=
y f ( x − vt ) .
Como a figura 5.2 mostra, esta onda avança para a direita. Para uma onda que avança para
a esquerda, os valores de x serão negativos, portanto,
=
y f ( x + vt ) .
As duas equações anteriores podem representar tanto ondas longitudinais como ondas
transversais.
80
ondas Mecânicas
Figura 5.2 - Pulso em uma corda em dois tempos.
5.2 Velocidade De Ondas
A figura 5.3 mostra um pulso que se propaga para a direita, com velocidade v, ao longo
 de uma
corda. Se a amplitude do pulso for pequena em relação ao comprimento da corda, a tensão F pode ser
considerada constante em todos os pontos. Fazendo o sistema de coordenadas se deslocar com a velocidade
v para à direita, o pulso estará estacionário e a corda se moverá com a velocidade v para a esquerda. Um
pequeno segmento da corda tem a velocidade v numa trajetória circular, portanto, possui uma aceleração
2
centrípeta v R . Como o segmento de corda faz um ângulo θ/2, temos que determinar as componentes
das forças para encontrar a resultante das forças que age sobre o segmento. As componentes das forças
horizontais se cancelam. As componentes verticais, por sua vez, apontam para o centro do arco circular e
são elas que proporcionam a força centrípeta. A somatória das forças é¨, então,
Figura 5.3 - Pequeno
segmento de uma corda.
1 
∑F = 2 Fsen  2 θ  .
  1  1
Para ângulos pequenos  sen  θ   ≈ θ , assim,
  2  2
1 
F  θ  Fθ .
=
∑F 2=
2 
Usando a segunda lei de Newton, temos
Substituindo a =
2
∑F = ma .
v
(aceleração centrípeta), obtemos
R
v2
Fθ = m .
R
5.1
A massa m do elemento ∆s é igual ao produto da densidade de massa μ da corda com o
comprimento ∆s . O ângulo θ e o comprimento ∆s estão relacionados por
∆s
θ=
.
R
Portanto, a massa do elemento é
m = µ Rθ .
Substituindo a massa do elemento na equação 5.1, temos
v2
Fθ = µ Rθ .
R
Isolando a velocidade obtemos
v=
F
µ
.
A equação da velocidade mostra que a velocidade da onda depende unicamente das
propriedades do meio, isto é, da tensão F e da densidade de massa μ. Esta é uma propriedade geral
do movimento ondulatório.
No caso de ondas acústicas em água ou ar, a velocidade v é dada por
v=
B
ρ
,
81
FÍSICA GERAL II
na qual ρ é a densidade do meio em equilíbrio e B é o módulo de compressibilidade. Quando
estudarmos Termodinâmica, veremos que o módulo de compressibilidade é proporcional à pressão
P e a constante dependente do gás γ (para O2 e N2 γ = 1, 4 ). A densidade ρ é igual a razão entre
a massa m e o volume V. Substituindo a massa pelo produto entre a massa molar M e o número de
moles e o volume V pela Lei dos gases ideais ( PV = nRT ), temos,
ρ=
Assim,
m
nM
MP
=
=
.
V nRT / P RT
=
v
B
=
ρ
v=
γP
MP


 RT 
γ RT
M
.
A temperatura T é dada em Kelvin. Para obter a temperatura em Kelvin, somamos 273 à
temperatura Celsius. Logo,
v=
γ R(TC + 273)
M
.
EXEMPLO 5.1
Calcule a velocidade do som no ar a 0ºC e a 25ºC. (massa molar do ar é M = 29×10-3 kg/mol)
Solução:
Como R = 8,314 J/mol.K temos que, para 0ºC,
v ( 0º C )ar =
1, 4 × 8,314 J / mol.K (0 + 273) K
29 ×10−3 kg / mol
v ( 0º C )ar = 331m / s
Para 250C,
v ( 25º C )ar =
1, 4 × 8,314 J / mol.K (25 + 273) K
29 ×10−3 kg / mol
v ( 25º C )ar = 346m / s
5.3 A Onda Progressiva
Figura 5.4 Onda progressiva.
Em t = 0, a curva passa pela origem (figura 5.4) e o deslocamento y perpendicular à
direção de propagação da onda pode ser matematicamente apresentado na forma
 2π 
y ( x ) = Asen 
x ,
 λ 
sendo, A a amplitude máxima do deslocamento e λ o comprimento de onda. Assim, vemos que
o valor de y é o mesmo (pontos a e b da figura 5.4) quando acrescentamos um valor inteiro λ ao
valor de x. Se a onda se deslocar para a direita com uma velocidade v, a função de onda senoidal
para um tempo maior que zero será
2π
Isolando λ , obtemos
 2π

y ( t , x ) Asen 
x − wt  .
=
 λ

5.2
 2π 
λ w  .
y ( t , x ) Asen   x −
t
=
2π  
λ 
2π
λ w λ 2π
Como w =
, podemos escrever = = v . Assim,
T
2π 2π T
 2π

y ( t , x ) Asen  ( x − vt )  ,
=
λ

82
o produto vt, no argumento da função seno, é igual a uma distância, ou seja, a onda senoidal se
desloca para a direita uma distância vt no tempo t. Observe que ( x − vt ) indica que a onda se
desloca para a direita. Se a onda se desloca para a esquerda, ( x − vt ) será substituída por ( x + vt ) .
Podemos escrever a função da onda senoidal 5.2 de uma forma compacta definindo,
número de onda angular k:
2π
k=
.
Assim,
ondas Mecânicas
λ
=
y (t , x) Asen(kx − ωt ) .
A função acima foi desenvolvida assumindo que o deslocamento em y é zero em x = 0 e t = 0.
Acrescentando uma constante, denominada constante de fase δ , podemos generalizar a função da
onda senoidal acima para outros casos, escrevendo
y (t=
, x) Asen(kx − ωt + δ )
EXEMPLO 5.2
Calcule a energia cinética de um segmento Δx de uma corda com densidade μ.
Solução:
Pela função de onda podemos calcular a energia cinética de um segmento. Seja
a massa Δm do segmento igual ao produto entre o comprimento do segmento Δx
e a sua densidade μ:
1
1
∆K = ( ∆m ) v y2 = ( µ∆x ) v y2
2
2
A velocidade é dada por
dx d ( Asen ( kx − ωt ) )
v =
=
= Aω sen ( kx − ωt )
dt
dt
Assim, a energia cinética será
1
∆K =
µ∆xA2ω 2 sen 2 ( kx − ωt )
2
A função seno ao quadrado varia de 0 a 1, portanto, o valor máximo de
1
∆K =
µ∆xA2ω 2 , que é igual ao valor da energia cinética do segmento de corda.
2
Figura 5.5 - Reflexão
de um pulso em uma
fronteira rígida.
5.4 Reflexão E Transmissão De Ondas
Vamos considerar um único pulso em uma corda quando ele alcança uma fronteira. Parte
ou todo o pulso é refletido. Qualquer parte não refletida é denominada como sendo transmitida
através da fronteira.
A figura 5.5 mostra a situação em que nenhuma parte do pulso é transmitida através
da fronteira. Neste caso, o pulso refletido tem a mesma amplitude que o pulso incidente, mas
é invertido. Vamos considerar as forças atuantes. O pulso é criado inicialmente por uma força
ascendente e depois descendente. Na fronteira, o ponto de apoio exerce uma força de reação igual
e oposta sobre a corda (terceira Lei de Newton). Assim, a força ascendente do pulso no ponto de
apoio resulta em uma força descendente do ponto de apoio na corda e, a seguir, a descendente do
pulso resulta em uma ascendente na corda. Portanto, a reflexão em uma extremidade fixa faz com
que o pulso se inverta na reflexão, resultado da terceira Lei de Newton.
A figura 5.6 mostra uma segunda opção idealizada no qual a reflexão é total e a
transmissão é nula. O pulso chega à extremidade de uma corda que esta totalmente livre para se
mover verticalmente. Aqui o pulso é refletido, mas desta vez não é invertido.
Existem situações nos quais a fronteira é intermediária entre os dois casos extremos, isto
é, não é nem completamente rígida nem completamente livre. Por exemplo, uma corda que está
ligada a uma outra corda mais densa. Quando o pulso se desloca primeiro na corda menos densa e
alcança a fronteira entre as duas, parte do pulso é transmitida e parte é refletida e invertida.
Se o pulso se desloca primeiro na corda mais densa e alcança a fronteira entre ambas,
Figura 5.6 - Reflexão
de um pulso em uma
fronteira livre.
83
parte do pulso também é transmitida e parte é refletida, mais não invertida.
FÍSICA GERAL II
F
, na qual µ é
µ
densidade de massa da corda. Portanto, a velocidade do pulso na corda mais densa é menor do que
na corda menos densa.
Como já vimos, a velocidade da onda em uma corda é dada por v =
Uma das aplicações das reflexões de ondas é a técnica de ultrassonografia. As ondas
sonoras são transmitidas através do corpo e refletem nas estruturas e órgãos. A reflexão é detectada,
com isso é uma figura dos órgãos é possível (figura 5.7). Os aparelhos de ultrassom, em geral,
utilizam uma frequência desde 2 até 14 Mhz, emitindo através de uma fonte de cristal piezo-elétrico
que fica em contato com a pele. As ondas sonoras refletidas são organizadas eletronicamente pelo
sistema em uma imagem visual.
Navios, assim como alguns animais marinhos, usam o sonar para localizar, através de
ondas de ultra-som, corpos submersos. O mapeamento da superfície do fundo do mar e, também, o
mapeamento de camadas inferiores, é obtido pela reflexão de ondas mecânicas emitidas por navios.
Este método é importante no descobrimento de novas jazidas de petróleo no fundo do mar.
Figura 5.7 - Imagem de
ultrassom de um feto
humano dentro do útero
materno
(http://www.radiologiasangerhousen.de/
ultraschall.htm e
http://www.maringasaude.
com.br/rxusmga/exames.
shtml).
5.5 Ondas Estacionárias
V
a)
N
N
V
V
b)
N
N
N
V
V
c)
N n=3
V
V
N
N
terceiro harmônico
N
N
d)
n=2
segundo harmônico
V
N
V
n=1
fundamental ou
primeiro harmônico
V
N
N
N
n=4
quarto harmônico
Figura 5.8 - Ondas estacionárias numa corda fixa nas duas extremidades
(N = nó e V = ventre).
Se a onda estiver confinada a uma região entre duas fronteiras rígidas (figura 5.8), como
uma corda esticada entre dois suportes, as reflexões nas fronteiras fazem com que existam ondas
deslocando-se em direções opostas (ver discussão na seção anterior sobre reflexão de ondas em
extremidade). Para certas frequências, nas quais as ondas incidentes e refletidas se superpõem
continuamente, percebe-se uma figura de vibração estacionária, denominada onda estacionária.
Este sistema físico é modelo para fontes sonoras de qualquer instrumento de corda, como o violão,
o violino e o piano. A corda tem vários padrões naturais de vibração, chamados de modos normais.
Cada um desses modos tem uma frequência característica.
Em uma onda estacionária em uma corda esticada, as extremidades da corda devem ser
nós, pois estes pontos são fixos. Esta é a condição de contorno para ondas estacionárias. O modo
de vibração mais simples que satisfaz esta condição tem dois nodos (um em cada extremidade da
corda) e um antinodo (ventre) no ponto central. Para esse modo de vibração, a distância entre as
84
duas extremidades fixas L é igual à metade do comprimento de onda:
L=
λ1
.
2
O modo de vibração seguinte, de comprimento de onda λ2 , ocorre quando L é igual a um
comprimento de onda, isto é, quando
L = λ2 .
O terceiro modo de vibração, onde aparece uma onda estacionária, corresponde ao
comprimento de onda igual a 3 2 λ3 , isto é,
3
L = λ3 .
2
Generalizando, a distância entre as duas extremidades fixas L pode ser relacionada com diferentes
comprimentos de onda dos vários modos de vibração, de modo que
n
=
L
λ=
(n 1, 2, 3, 4,…) .
n
2
A frequência está relacionada com a velocidade e com o comprimento de onda por f = v λ . A
ondas Mecânicas


velocidade da onda v depende da tensão aplicada T e da densidade de massa da corda µ  v = T µ  .


Assim, podemos expressar as frequências, nas quais ocorre uma onda estacionária em uma corda
esticada, como
n T
=
fn
=
(n 1, 2, 3, 4,…) .
2L µ
A frequência de uma corda em um
instrumento de corda pode ser modificada
variando-se a tensão T da corda ou
mudando o comprimento L entre as duas
extremidades. Nos violões a frequência é
ajustada por um mecanismo de parafuso no
braço do instrumento. Aumentando a tensão
T, as frequências dos modos de vibração
aumentam.
Quando uma corda tem uma
extremidade fixa e outra livre, a extremidade
livre é um ventre (figura 5.9). No modo
de vibração fundamental desta corda, o
Figura 5.9 - Ondas estacionárias numa corda fixa
comprimento de onda é igual a λ1 = 4L .
No modo de vibração seguinte λ3 = 4 L .
3
A condição de onda estacionaria é, portanto,
=
L
Usando a relação f = v , temos
λ
apenas na extremidade da esquerda.
(N = nó e V = ventre)
n
(n 1, 3, 5, 7, …) .
λ=
n
4
n
v=
(n 1, 3, 5, 7, …) .
4L
As frequências naturais desse sistema ocorrem somente quando
=
n 1, 3, 5, 7, … , e, portanto,
os harmônicos pares estão faltando (figura 5.9). Um exemplo comum de ondas estacionárias deste
tipo é o das ondas na coluna de ar de um tubo de órgão, onde uma das extremidades é aberta.
Quando condições de contorno são aplicadas a uma onda, descobrimos um comportamento
muito interessante que não tem nenhum análogo no estudo até agora da mecânica. O aspecto
mais relevante desse comportamento é a quantização. Descobrimos que somente determinados
comprimentos de onda são permitidos, que são aquelas que satisfazem as condições de contorno.
Uma visão geral sobre quantização vai ser discutida na disciplina Física Moderna.
=
fn
QUESTÃO 5.1
Em um piano, as cordas
graves são mais longas
e mais grossas do que as
cordas agudas. Por quê?
85
FÍSICA GERAL II
EXEMPLO 5.3
Cada corda de um violão emite uma frequência diferente, conforme tabela abaixo. A
distância L entre os suportes das cordas é de 64 cm. Cada corda está oscilando de acordo
com o padrão de onda estacionária mostrado na figura abaixo. Considerando uma tensão aplicada (em cada corda) igual a 50N, determinar as densidades das cordas.
Mi(-2)
Lá(-2)
Ré(-1)
Sol(-1)
Si(-1)
Mi(0)
82,5 Hz
110 Hz
147 Hz
196 Hz
247 Hz
330 Hz
0,64m
corda
vibrando
Solução:
A velocidade da onda é v = F
µ . Podemos relacionar a velocidade da onda com a
frequência e comprimento de onda (v = λ f ) . Fazendo isso, obtemos
f =
Isolando a densidade, temos
µ=
1
F
λ
µ
F
( f λ)
2
.
.
Como a corda oscila de acordo com um padrão de onda estacionária, o comprimento
de onda é dado por λ = 2 L / n , onde n = 1,2,3,4,…,
isto é, λ 2 L, L, 3 L, 1 L … .
=
2
2
Pela figura da corda vibrando, observamos que ela oscila somente meio comprimento
de onda no comprimento L = 0,64 m, portanto, λ = 2L.
µ=
F
( f 2L )
2
.
Substituindo os valores das respectivas frequências (f) da tabela, obtemos:
Mi(-2)
82,5 Hz
0,004484 kg/m
Ré(-1)
110 Hz
0,002522 kg/m
Lá(-2)
147 Hz
0,001412 kg/m
Sol(-1)
196 Hz
0,000794 kg/m
Si(-1)
247 Hz
0,000500 kg/m
Mi(0)
330 Hz
0,000280 kg/m
Estes valores da densidade das cordas na realidade são um pouco diferentes, pois a
distância entre os suportes não é igual para todas as cordas. Mesmo com as discrepâncias, percebemos que o aumento da densidade é acompanhado de um decréscimo na
frequência.
5.6 Interferência De Ondas
Os efeitos de interferência que trataremos envolvem a superposição de duas ou mais
ondas. Vamos analisar inicialmente duas ondas senoidais que se propagam no mesmo sentido, com
a mesma frequência, mesma amplitude, mas diferem na fase. Podemos expressar as suas funções
de onda individuais como
y2 Asen ( kx − ωt + δ )
=
y1 Asen ( kx − ωt )
e =
nas quais, δ é a diferença de fase entre as duas ondas. A função de onda resultante será
y = y1 + y2 = Asen ( kx − ωt ) + Asen ( kx − ωt + δ )
=
y A  sen ( kx − ωt ) + sen ( kx − ωt + δ ) 
86
Usando a identidade trigonométrica
 a −b 
 a+b
sen a + senb =
2cos 
 sen 

 2 
 2 
e fazendo a
= kx − ωt e b = kx − ωt + δ , a função de onda resultante y pode ser escrita como
δ
δ 

=
y 2 Acos   sen  kx − ωt + 
2
2

δ 
A composição das duas ondas não altera a frequência. A amplitude da onda resultante é 2 Acos  
2
e depende da diferença de fase δ .
• Se δ = 0 , então cos ( 0 ) = 1 e a amplitude da onda resultante é 2A. Os máximos das
•
•
ondas Mecânicas
duas ondas coincidem. Neste caso, diz-se que as ondas estão em fase e que interferem
construtivamente.
δ 
π 
=
=
Se δ = π rad , então cos
  cos
  0 e a amplitude da onda resultante é nula.
2
2
O máximo de uma onda coincide com o mínimo de outra. Neste caso, diz-se que as
ondas estão fora fase e que interferem destrutivamente.
Se δ tem um valor entre 0 e π , a onda resultante tem uma amplitude cujo valor está
entre 0 e 2A.
EXEMPLO 5.4
Duas ondas, com frequências e amplitudes iguais, avançam no mesmo sentido
em um fio. a) Se a diferença de fase entre as duas for de 2π 3 e a amplitude for
5,0 cm, qual a amplitude da onda resultante? b) Determinar a diferença de fase
δ quando a amplitude resultante for de 7,5 cm.
Solução:
a) A função de onda resultante é
δ
δ 

=
y 2 Acos   sen  kx − ωt +  .
2
2

δ 
A amplitude resultante A´ é determinada pelo termo 2 Acos   , portanto,
2
 2π 
A´ 2π = 2(5, 0 cm)cos  3 
3
 2 


A´ 2π = 5 cm
3
b) Aplicando a função arccos na amplitude resultante, temos,
 7,5 cm 
 A´ 
o
δ 2arccos
=
=
 ⇒ δ 82,8

 2arccos  =
 2A 
 2 ⋅ 5 cm 
(
)
(
)
Vamos estudar agora a interferência entre duas ondas sonoras de frequências ligeiramente
diferentes e amplitudes iguais, conforme mostrado na figura 5.10. Admitindo que as duas ondas
a)
estão em fase no instante t = 0, podemos expressar as suas
funções de onda individuais como
t
y1 = Asen (ω1t )
e
y2 = Asen (ω2t ) .
t
t
t
A função de onda resultante será
1
2
3
y = y1 + y2 = A  sen (ω1t ) + sen (ω2t ) 
Usando novamente a identidade trigonométrica
 a −b 
 a+b
sen a + senb =
2cos 
 sen 
 , teremos,
 2 
 2 
1
1
y =2 A cos (ω1 − ω2 )t sen (ω1 + ω2 )t .
2
2
b)
t1
t2
t3
t
Figura 5.10 - a) Interferência entre duas
ondas sonoras de frequências diferentes.
b) Onda resultando
87
FÍSICA GERAL II
ωmed
=
Para frequências próximas, podemos definir uma frequência angular média
(ω1 + ω2 ) / 2 e escrever ∆ω = ω1 + ω2 . Assim,
1

=
y 2 Acos  ∆ωt  sen (ωmed t )
2

1

=
y 2 Acos  2π∆ft  sen ( 2π f med t )
2


onde, ω = 2π f e ∆ω = 2π∆f .
A interferência das duas ondas sonoras ligeiramente diferentes provoca o interessante
fenômeno chamado batimentos (figura 5.10). O som que ouvimos tem a frequência
1
1
f med
= ( f1 + f 2 ) / 2 e a amplitude oscila com a frequência ( f1 − f 2 ) = ∆f . Isto quer dizer
2
2
que os máximos e mínimos devem aparecer com a frequência ∆f . O som é mais alto sempre
que a amplitude está num máximo ou mínimo. A frequência desta variação da amplitude é dita a
frequência de batimento fbat , que é igual à diferença entre as duas frequências:>
fbat =
f1 − f 2 =
∆f .
Embora os batimentos aconteçam em todos os tipos de ondas, são especialmente
percebidos em ondas sonoras. O ouvido humano pode detectar frequências de batimentos abaixo
de 20 batimentos por segundo. Se a frequência de batimentos extrapola este valor, há uma
mistura sem distinção das frequências de batimentos e das frequências f1 e f 2 . Os batimentos são
normalmente empregados no afinamento de instrumentos musicais como, por exemplo, o violão.
As notas são afinadas, fazendo vibrar concomitantemente um diapasão e a corda do instrumento. A
tensão na corda do violão é, então, acertada até que os batimentos sejam inaudíveis, o que indica
uma diferença muito pequena entre a frequência dos dois sons.
EXEMPLO 5.5
Qual a frequência ouvida e quantos máximos por segundo podem ser ouvidos quando
dois diapasões vibram, um com a frequência de 241 Hz e outro com 243 Hz?
Solução:
A frequência ouvida será f med =
(241Hz + 243Hz ) / 2 =
242 Hz .
( f1 + f 2 ) / 2 =
A frequência de batimentos será f bat = f1 − f 2 = 243Hz + 241Hz = 2 Hz , isto quer
dizer 2 máximos por segundo.
5.7 Efeito Doppler
O apito de um trem ou a sirene de uma ambulância soam mais agudos quando estão se
aproximando de nós e mais graves quando estão se afastando. Estas variações constituem o efeito
Doppler. Vamos estudar os casos quando o observador está em movimento, quando a fonte está em
movimento e finalmente quando ambos estão em movimento.
Fonte em repouso e observador em movimento
1= v , sendo T o período e λ0
0
λ0
T0
o comprimento de onda. A frequência original f0 emitida é o número de cristas de onda emitidas por
unidade de tempo. O espaçamento entre as cristas de onda emitidas é λ0 .
Se o observador se move em direção à fonte com velocidade u (figura 5.11a), ele percorre
v
u
uma distância u por unidade de tempo e encontra λ0 cristas adicionais, além das λ0 cristas que
teriam passado por ele se ele estivesse em repouso. Logo, a frequência f observada é mais aguda
(f > f0) e dada por
v u
=
f
+
f0
A fonte está emitindo uma frequência original=
λ0
=
f
88
v 
λ0 
λ0
u
1+ 
v
 u
=
f f 0 1 +  .
 v
Usando a mesma lógica, se o observador se afasta da fonte com velocidade u, ele deixa de
u
ser atingido por λ0 cristas por unidade de tempo e a frequência observada é mais grave:
=
f
v
λ0
−
ondas Mecânicas
u
λ0
v  u
=
f
1−
λ0  v  .
v
Como a frequência original é f 0 = , teremos que
λ0
 u
=
f f 0 1 −  .
 v
Assim, o efeito Doppler, para o caso em que a fonte está parada e o observador está em
movimento, é dado por:
FONTE
 u
=
f f 0 1 ± 
 v
PARADA
+ para aproximação
– para afastamento
Fonte em movimento e observador em repouso
O observador está em repouso em relação à atmosfera e a fonte se move em direção ao
observador com velocidade V (figura 5.11b). Consideremos uma série 0, 1, 2, 3, ..., de cristas de
onda consecutivas emitidas pela fonte. A fonte emite a crista 0 na posição x0.. Como a fonte está em
movimento, depois de um período T0 =
λ0
v
, a fonte emite a crista 1 na posição x1 = VT0 . A crista 2
será emitida na posição x2 , a crista 3 será emitida na posição x3 e assim por diante. O deslocamento
VT0 . Para o observador, o comprimento de onda observado λ
entre cada emissão será sempre ∆x =
entre as cristas será o comprimento de onda original λ0 subtraído por ∆x ,
λ= λ0 − ∆x
 ∆x 
=
λ λ0 1 −  .
 λ0 
Substituindo comprimento de onda original λ0 = vT0
VT0 , temos,
e o deslocamento da fonte ∆x =
 VT 
=
λ λ0 1 − 0 
 vT0 
 V
=
λ λ0 1 −  .
 v
A frequência observada será
f=
0
v
=
λ
v


V

λ0 1 − 
v
Como f 0 = v λ , então
0
Figura 5.11 - a) Observador em
movimento e fonte em repouso e
b) fonte em movimento e observador
em repouso.
1
,
 V
1 − 
 v
ou seja, quando a fonte está se aproximando, a frequência observada f será maior do que a
freqüência original f0.
Para o observador com a fonte se afastando, o comprimento de onda observado λ entre as
VT0 :
cristas será o comprimento de onda original λ0 = vT0 acrescido pelo deslocamento da fonte ∆x =
f = f0
λ= λ0 + ∆x
89
Fazendo as mesmas substituições do caso anterior (fonte se aproximando), temos
 V
=
λ λ0 1 + 
 v
FÍSICA GERAL II
f = f0
1
 V
1 +
 v



.
Portanto, a frequência observada f será menor que a original frequência f0 quando a fonte está se
afastando do observador.
Para os casos em que o observador está parado e a fonte está se movendo, o efeito Doppler é dado
por:
OBSERVADOR
PARADO
f = f0
1
 V
1  
v

- para aproximação
+ para afastamento
Fonte e observador em movimento
Neste caso, superpõem-se os dois efeitos discutidos acima. O movimento do observador
 u
altera a frequência para f 0 1 ±  e o movimento da fonte multiplica a nova frequência por um
 v
1
fator 1  V  , de modo que o efeito Doppler combinado é dado por:



v
OBSERVADOR
E FONTE
MÓVEIS
 u
1 ± 
v
f = f0 
 V
1  
v

Sinais superiores para aproximação
Sinais inferiores para afastamento
O efeito Doppler para o som é observado quando há um movimento relativo entre a fonte
do som e o observador. Como podemos observar pelas relações desenvolvidas, o movimento
da fonte, ou de um observador em direção ao outro, resulta na audição pelo observador de uma
frequência mais elevada do que a frequência original. O movimento da fonte ou do observador
um para longe do outro resulta na audição pelo observador de uma frequência mais baixa que a
frequência original.
Embora nossa análise tenha se limitado até agora
somente ao som, esse efeito está associado a ondas de todo
o tipo. O efeito Doppler em ondas mecânicas é usado para
determinar a presença e a direção do fluxo sanguíneo em
um vaso e suas características hemodinâmicas, conforme
ilustrado na figura 5.12. Nas ondas eletromagnéticas o efeito
Doppler é empregado em sistemas de radar para medir
velocidades dos veículos. Do mesmo modo, astrônomos
usam o efeito Doppler para medir os movimentos relativos
das estrelas, das galáxias e de outros corpos celestes,
observando as mudanças nas frequências da luz emitidas por
estes corpos celestes. Em 1942, Christian Johann Doppler
(1803-1853) mostrou o deslocamento da frequência em
conexão com a luz emitida por duas estrelas girando uma
em relação à outra em um sistema de estrela dupla. O efeito
Doppler para luz foi usado para defender a expansão do
universo, o que conduziu à teoria do Big Bang.
90
Figura 5.12 - Fluxometria utilizando
efeito Doppler – Através desta medida
é possível determinar o fluxo em veias e
artérias (http://www.maringasaude.com.
br/rxusmga/exames.shtml).
EXEMPLO 5.6
Um carro de polícia está perseguindo um carro fugitivo. Ambos se deslocam à velocidade de 160 km/h. O carro de polícia, não conseguindo alcançar o carro, liga sua sirene
com uma frequência de 500 Hz. Considerando a velocidade do som no ar como sendo
340 m/s: a) Qual a mudança Doppler na frequência ouvida pelo carro fugitivo? b) Qual
o comprimento de onda do som que o carro fugitivo ouve?
Solução:
a) A frequência do som da sirene em relação ao solo é f ´= f 0
1
 V
1 −
 v



ondas Mecânicas
, na qual v é
a velocidade do som no solo e V é a velocidade do policial. O som se propaga com
esta frequência na direção do fugitivo. Logo, para este carro, ela chega com frequência
 u
=
f f 0 1 −  , com f 0 = f ´ (frequência em relação ao solo) e u = V (ambos estão à
 v
mesma velocidade em relação ao solo). Portanto,
 V
=
f f ´1 −  .
 v
Substituindo f´, temos
 V
1 − 
v
f = f0 
 V
1 − 
 v
f = f0 .
Ou seja, a frequência não muda.
b) No referencial do carro fugitivo, a onda se propaga com velocidade v '= v − u . Logo,
usando λ f = v ' , temos que (não se esqueça de transformar km/h em m/s),
=
λ
(v − u ) 50m / s
= = 0,1m.
f
500 Hz
EXEMPLO 5.7
Um morcego se orienta emitindo sons de altíssima frequência. Suponha que a emissão da
frequência do som do morcego seja 39000 Hz. Durante uma arremetida veloz diretamente
contra a superfície plana de uma parede, o morcego desloca-se a 1/40 da velocidade do som
no ar (340m/s). Calcule a frequência em que o morcego ouve a onda refletida pela parede.
Solução:
Inicialmente,
determinamos
a
velocidade
do
morcego,
que
é
=
V (340
=
/ 40) m / s 8,5 m / s . Depois dividimos o problema em duas partes: 1ª
Parte: indo do morcego até a parede e 2ª Parte: voltando da parede até o morcego.
1ª Parte: indo do morcego à parede. A fonte (morcego) está em movimento e se
aproximando, portanto,
1
1
39000 Hz
=
f1 f=
= 40000 Hz
0
 V
 8,5m / s 
1 − 
1 −

 v
 340m / s 
2ª Parte: voltando da parede até o morcego. A frequência f1 é refletida na parede e
não muda de frequência na reflexão, retornando com o valor f1 = 40000 Hz . Aqui o
observador (morcego) está em movimento e aproximando, logo,
 V
 8,5m / s 
f f = f1 1 +  = 40000 Hz 1 +
 = 41000 Hz .
 v
 340m / s 
91
FÍSICA GERAL II
Exercícios
1. Uma corda de piano tem uma densidade de 5,0 x 10-3 kg/m e está sob uma tensão de 350 N.
Encontre a velocidade com que uma onda se propaga nessa corda.
2. Calcular a velocidade do som no hidrogênio a T = 300 K (M =2 g/mol e
γ =1,4).
3. Ondas transversais se propagam a 100 m/s num fio com 100 cm de comprimento, sujeito a uma
tensão de 500 N. Qual a massa do fio?
4. Uma corda esticada tem uma massa de 0,2 kg e comprimento de 4m. Qual a potencia que deve
ser fornecida à corda a fim de gerar ondas senoidais que tenham uma amplitude de 10 cm, um
comprimento de onda de 0,5 m e se propaguem com uma velocidade de 30 m/s?
5. Dois pulsos ondulatórios estão se a uma velocidade de 2,5 cm/s movendo em sentidos contrários
ao longo de uma corda (conforme figura abaixo). A amplitude de uma é o dobro da outra. Faça
um esboço da forma da corda em t = 1 e 2 s.
6. Duas ondas com freqüências, comprimentos de onda e amplitude iguais avançam numa mesma
direção. a) Se a diferença de fase entre elas for de π 2 e se a amplitude de ambas for de 2,0 cm,
qual a amplitude da onda resultante? b) Para que diferença de fase a amplitude resultante será
igual a 2,0 cm?
7. Quando se faz soar um diapasão de 440 Hz e a corda Lá de uma guitarra está desafinada,
percebem-se 4 batimentos por segundo. Depois de apertar um pouco a cravelha da corda, a
frequência de batimento aumenta para 8 por segundo. Qual a freqüência da nota da corda
depois de apertada?
8. No palco de um anfiteatro vazio, uma pessoa bate palma em uma única vez. O som reflete nos
degraus de 1 metro de comprimento. Qual a frequência que retorna ao palco?
9. Um morcego pode detectar corpos muito pequenos, cujo o tamanho seja aproximadamente igual
ao comprimento de onda que o morcego emite. Se os morcegos produzem uma frequência de
60,0 kHz e se a velocidade do som no ar é de 340 m/s, qual o menor corpo que o morcego pode
detectar?
10. Um trem bala se aproxima, apitando, a uma velocidade de 180 m/s em relação à plataforma de
uma estação. A frequência sonora do apito do trem é 1,0 kHz, como medida pelo maquinista.
Considerando a velocidade do som no ar como 330 m/s, qual o comprimento de onda ouvido
por um passageiro parado na plataforma?
11. Um carro de polícia está perseguindo um carro fugitivo. Ambos se deslocam à velocidade de
160 km/h. O carro de polícia, não conseguindo alcançar o carro, toca sua sirene. Considere a
velocidade do som no ar como sendo 340 m/s e a frequência da fonte como 500 Hz. a) Qual a
mudança Doppler na frequência ouvida pelo carro fugitivo? b) Qual o comprimento de onda
do som que o carro fugitivo ouve?
92
ondas Mecânicas
Anotações
93
FÍSICA GERAL II
Anotações
94
6
Temperatura e Calor
6.1
termodinâmica
6.2
A Lei Zero da termodinâmica
6.3
termômetros e Escalas termométricas
6.4
Expansão térmica
6.5
quantidade de Calor
6.6
transições de Fase
95
6 TEMPERATURA E CALOR
FÍSICA GERAL II
6.1 Termodinâmica
Por que a Termodinâmica merece um estudo separado da Mecânica? Por que não
incorporá-la e descrever o comportamento térmico de um sistema utilizando os conceitos
da Mecânica já desenvolvidos no primeiro volume? A razão para que isto não possa ser
feito é que, na troca de calor entre dois corpos, não existem partículas que poderiam
obedecer às leis de Newton. Por este motivo, a descrição mecânica falha quando se tenta
incorporar a Termodinâmica. Devemos, portanto, buscar outros procedimentos para se
estudar a interação térmica entre os sistemas.
Entretanto, existe um ramo da Física chamado Mecânica Estatística que, a partir
de primeiros princípios (clássicos ou quânticos), permite descrever um sistema constituído
de várias partículas. A Termodinâmica de equilíbrio pode ser justificada, então, como uma
disciplina decorrente desta descrição.
Imagine um sistema simples consistindo, por exemplo, de um gás ocupando certo
volume, digamos de 1 cm3, à pressão de normal de 1 atmosfera e à temperatura ambiente.
Dentro deste volume encontram-se 1019 partículas, um número surpreendentemente grande.
Como fator de comparação, basta dizer que a população da Terra é “apenas” da ordem
de 109 e isto NÃO é a metade do número de partículas de nosso sistema, mas é 1010 vezes
menor! A tarefa é, então, descrever o comportamento dinâmico para essa enormidade de
partículas: mesmo com várias hipóteses simplificadoras que poderiam tornar os cálculos
mais amenos, contando com computadores de altíssima velocidade, porém, ainda assim,
o trabalho seria formidável! Estabelecer 1019 equações diferenciais vetoriais e de segunda
ordem para descrever esse sistema e depois, devido às simplificações, não temos muita
certeza de que isto seria um resultado aceitável. Mas nada impede que isto seja feito,
desde que estejam disponíveis bons computadores e se tenha a eternidade à disposição.
A Mecânica Estatística contorna esses problemas descrevendo o sistema através de
valores médios de diversas quantidades tais como pressão, temperatura, calor específico,
magnetização, etc. Dizemos que esta descrição se dá em termos da dinâmica molecular e
de uma descrição em nível microscópico.
A Termodinâmica está fundamentada em algumas leis decorrentes da parte
experimental e que foram estabelecidas ao longo dos tempos. Medidas cuidadosas,
experimentos realizados com controle rigoroso, generalizações dos resultados, enfim,
tudo isto serviu para se chegar à descrição macroscópica de interações térmicas entre
sistemas físicos. O tópico que ora iniciamos aborda exatamente estes aspectos: o estudo
das interações térmicas sem considerar o caráter microscópico da matéria. O sistema
discutido acima, um gás encerrado em um pequeno volume, pode ser caracterizado
termodinamicamente por alguns poucos parâmetros. A esses parâmetros chamamos de
variáveis de estado e a equação que os relacionam é chamada equação de estado. Para este
gás pode-se usar, por exemplo, a pressão, o volume e o número de mols. Alternativamente,
elegemos como variáveis de estado a pressão, a temperatura e o volume. Voltaremos a
discutir este tópico quando tratarmos de gases ideais.
6.2 A Lei Zero da Termodinâmica
96
Para iniciar o estudo das propriedades térmicas de sistemas físicos, precisamos
introduzir o conceito de temperatura. De certa forma, este conceito está ligado à sensação de
quente ou frio que temos incorporado de maneira intuitiva desde a mais tenra idade. Porém,
precisamos de algo menos intuitivo, mesmo porque os sentidos podem ser enganosos.
Muitas propriedades da matéria que medimos dependem da temperatura: o
comprimento de uma barra metálica, a pressão de um gás, a corrente transportada por
filamento, a cor de um objeto incandescente e várias outras medidas. Necessitamos de
uma definição operacional de temperatura para ir além de algo meramente sensorial de
quente e frio. Isto pode ser conseguido escolhendo, inicialmente, uma escala termométrica
adequada que faça uso de qualquer propriedade térmica que tenha forte dependência com
a temperatura. Por exemplo, o termômetro caseiro usado para indicar um possível estado
febril, utiliza a expansão de uma coluna de um líquido (em geral, etanol com corante)
encerrado em um tubo capilar. A resistência elétrica de um fio varia quando ele é aquecido
ou resfriado. Esta propriedade pode ser explorada para a construção de um termômetro.
De forma análoga, a pressão de um gás depende fortemente da temperatura na qual ele se
encontra.
Quando se coloca um termômetro em contato com certa porção de matéria existe
uma interação entre os dois e após certo tempo eles entram em equilíbrio térmico, um
estado no qual não ocorre nenhuma variação de temperatura. Por isso, se você desejar
conhecer a temperatura de, digamos, uma xícara de café, é conveniente utilizar um
termômetro cuja capacidade térmica seja muito menor do que a do café a ser ingerido.
Caso contrário, se o seu aparelho de medição tiver massa comparável com o sistema
cuja temperatura se deseja conhecer, é provável que ao entrar em equilíbrio térmico a
temperatura registrada seja muito diferente daquela temperatura inicial que você queria
determinar.
A lei zero da termodinâmica diz o seguinte:
temperatura e Calor
Se os corpos A e B estiverem separadamente em equilíbrio térmico com um terceiro
corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico entre si.
A importância deste fato experimental só foi reconhecida depois que a primeira
e a segunda lei da termodinâmica já tinham sido enunciadas e, portanto, a denominação
de lei zero é muito apropriada. A afirmação acima, elementar como pode parecer, fornece
um meio seguro de interpretar a temperatura como a propriedade que dois corpos, em
equilíbrio térmico entre si, devem estar à mesma temperatura e isto nos leva a concluir que
a lei zero da termodinâmica pode ser expressa de maneira mais formal e mais fundamental:
Existe uma grandeza escalar, denominada temperatura, que é uma propriedade de todos
os sistemas termodinâmicos (em equilíbrio), tal que a igualdade de temperatura é uma
condição necessária e suficiente para o equilíbrio térmico.
6.3 Termômetros e Escalas Termométricas
Qualquer propriedade térmica pode ser escolhida para se construir um
termômetro; porém, algumas são mais convenientes do que outras e esta escolha deve
ser feita de forma criteriosa, atendo-se à reprodutibilidade da medida, à facilidade de
construção, considerando a resposta do termômetro ao se medir determinada temperatura,
e, sobretudo, admitindo-se uma relação monotônica contínua entre a propriedade
termométrica da substância e a temperatura registrada na escala escolhida. Cada escolha
de uma substância e de sua propriedade termométrica, juntamente com a relação admitida
entre a propriedade e a temperatura, conduz a uma escala termométrica específica, cujas
medidas não necessariamente coincidem com as medidas realizadas em outra escala
qualquer e definida de maneira independente. Esta “aparente” inconsistência na definição
de temperatura é contornada por um acordo universal dentro da comunidade científica:
estabelece-se o uso de certa substância, de sua propriedade termométrica e de uma relação
funcional entre esta propriedade e uma escala termométrica adotada universalmente.
Qualquer outra escala particular pode ser, então, calibrada usando-se a escala universal.
97
FÍSICA GERAL II
QUESTÃO 6.1
Em alguns locais da
Terra a temperatura em
graus Celsius é igual à
temperatura
Fahrenheit.
Qual o valor desta
temperatura?
98
O termômetro mais comum é aquele construído com um bulbo de vidro e em
cujo interior é colocado uma substância que pode se expandir quando aquecida (em geral,
utiliza-se etanol ou mercúrio) e a escala é escolhida de tal forma que no ponto de equilíbrio
no qual gelo, água e vapor coexistem marca-se zero e para o vapor de água em ebulição
(a pressão de 1 atm), marca-se o valor 100. Foi desta maneira que Celsius construiu
seu primeiro termômetro, subdividindo estes dois limites (zero e cem) em 100 partes
iguais, chamados graus. Observe que, desta forma, escolhe-se a substância, a propriedade
termométrica (dilatação do líquido) e dois pontos fixos para se determinar a escala. É um
dispositivo bastante versátil e de fácil manuseio, porém, construído desta forma, ele não
permite medidas em temperaturas elevadas e sua precisão, em muitos casos, fica aquém
do desejado.
Outro termômetro bastante comum, principalmente quando se requerem medidas
a temperaturas elevadas e com maior precisão, é aquele construído com um filamento
metálico ou de semicondutor, cuja resistência elétrica varia com a variação de temperatura.
Como a resistência pode ser medida com alto grau de precisão, a temperatura também
pode ser determinada com precisão semelhante.
Existe uma grande quantidade de termômetros à disposição, construídos das mais
variadas formas para diferentes aplicações. Por exemplo, para altíssimas temperaturas
(próximo aos pontos de fusão de metais), o termômetro óptico utiliza a radiação emitida
pelo corpo e compara com um padrão e a leitura da temperatura é realizada diretamente
por um fator de calibração integrante do dispositivo. Uma versão deste termômetro, usado
clinicamente para medidas de temperaturas próximas a do ambiente, utiliza a radiação
infravermelha emitida pelo paciente. Alguns testes têm comprovado que sua precisão é
superior àquela registrada pelos termômetros convencionais para medições de estados
febris.
Embora a escala Celsius seja a mais conhecida, alguns países utilizam a escala
Fahrenheit de temperatura (esta escala não é usada no Brasil). Diferentemente da escala
centígrada (Celsius) ela assinala, para mistura água e gelo em equilíbrio, o valor 32 e para
a água em equilíbrio com seu vapor, o valor 212. Portanto, o intervalo entre os dois pontos
de referência corresponde a 180, enquanto que na escala Celsius é 100. Para converter
uma temperatura dada em Celsius, TC, para a escala Fahrenheit, TF, usamos a relação
=
TF
9
TC + 32o .
5
E inversamente, a transformação de Fahrenheit para Celsius é dada por
=
TC
5
(TF − 32o ) .
9
Existem outras escalas termométricas, mas estão em acentuado desuso, como,
por exemplo, a Rankine e a Reamur.
Como curiosidade sobre a confecção de termômetros e a escolha de escalas,
o sueco Anders Celsius, em 1742, apresentou inicialmente o “zero” correspondendo à
ebulição da água pura a 1 atm e atribuiu o valor 100 para o gelo em equilíbrio térmico
com a água. Foi o biólogo Lineu, também sueco, que em 1745, inverteu os valores como
hoje utilizamos.
Quando calibramos dois termômetros, por exemplo, um do tipo com líquido no
interior do bulbo e outro de resistência, e ambos com leituras concordantes em 0ºC e
em 100ºC, as leituras de temperaturas intermediárias podem não concordar exatamente.
Isto significa que as leituras dependem da substância usada e de suas propriedades
termométricas. O desejado seria, então, que pudéssemos definir uma escala de temperatura
que não dependesse da substância particular utilizada. O termômetro a gás a volume
constante que descreveremos a seguir se aproxima muito desta idealidade.
O funcionamento de um termômetro a gás se baseia no fato experimental que a
pressão de um gás, mantido a volume constante, aumenta linearmente com a temperatura
e isto é verdade para qualquer gás com baixa densidade de tal forma que podemos
considerá-lo ideal. Coloca-se certa quantidade de gás em um recipiente rígido (para
manter seu volume constante) que tem um manômetro acoplado. Em seguida, mergulhase este volume em um banho de água e gelo em equilíbrio, anota-se o valor da pressão.
O outro ponto de referência é determinado usando água em ebulição, correspondendo
à outra pressão registrada pelo manômetro. Estes dois pontos são colocados em um
gráfico de temperatura x pressão e traça-se uma reta passando por eles. Qualquer outra
temperatura pode ser obtida permitindo que nosso termômetro interaja termicamente
com o sistema cuja temperatura se deseja medir. A figura abaixo é um esboço gráfico do
comportamento deste termômetro. As três curvas representam diferentes tipos de gases
e com densidades diferentes.
Extrapolando-se
estas
retas
para pressões tendendo a zero, obtemse o valor de -273,15ºC. Você poderia
suspeitar de que este valor seria diferente
para gases diferentes, mas o resultado é
sempre o mesmo para qualquer tipo de gás,
desde que seja considerado ideal (baixa
densidade). Outro ponto que poderia ser
o
questionado neste experimento seria o Figura 6.1 - Gráfico T ( C) versus p (unidade arbitrária).
comportamento deste gás a baixas temperaturas: à medida que se abaixa a temperatura,
o gás sofre uma transformação de fase e se torna líquido. A partir daí os resultados
ficam comprometidos e não se pode concluir nada. Isto está correto, mas a extrapolação
matemática para baixíssimas pressões é um artifício conveniente e funciona de forma
bastante satisfatória. Em todos os casos, independente da natureza do gás ou da
baixa pressão inicial (para considerá-lo ideal), a pressão vai a zero quando a
temperatura é de -273,15ºC. Este valor sugere um caso universal, porque não depende
da natureza da substância usada no termômetro e também deve representar um limite
inferior para processos físicos. Por isso, esta temperatura é definida como zero absoluto
e serve de base para a escala Kelvin de temperatura. O tamanho de um grau nesta escala
é escolhido para ser idêntico ao tamanho de um grau na escala Celsius e a relação de
conversão entre as duas escalas de temperatura é
temperatura e Calor
TK = 273,15+TC ,
onde TC é a temperatura em graus Celsius e TK é a temperatura em graus Kelvin (ou
temperatura absoluta).
Uma das principais diferenças entre estas duas escalas de temperatura é um
deslocamento no zero da escala. O zero da escala Celsius é arbitrário e depende de uma
propriedade associada a uma determinada substância, a água. O zero da escala Kelvin não
é arbitrário, pois associa este ponto a um comportamento característico de toda substância.
O que ambas tem em comum é que a mesma variação, por exemplo, de 10 oC, corresponde
a 10 K (sem o símbolo de grau). Por razões de precisão e reprodutibilidade da escala
absoluta, o ponto escolhido para referência é aquele no qual o gelo, a água e seu vapor
coexistem em equilíbrio. Isto acontece a uma temperatura de 0,01 oC e para uma pressão
de 610 Pascal (cerca de 0,006 atm). Esta pressão é do vapor de água e não tem relação
alguma com a pressão do gás do termômetro.
99
FÍSICA GERAL II
Na figura 6.2 estão representadas as relações entre as escalas Kelvin, Celsius e
Fahrenheit: figura 3, em escala logarítmica, estão indicadas algumas temperaturas que
ocorrem na natureza.
Figura 6.2 - Relações entre as escalas.
Figura 6.3 - Temperaturas absolutas.
Finalmente, gostaríamos de comentar alguns fatos sobre o ponto zero Kelvin. É
mais ou menos comum as pessoas dizerem que no zero absoluto todo movimento cessa.
Isto não é verdade. Imagine que você resfrie certa porção de uma substância metálica.
Os átomos da rede cristalina possuem movimento de oscilação em torno de um ponto de
equilíbrio e mesmo no zero absoluto, eles continuam oscilando (é o que se chama energia
do ponto zero), porém, com amplitude menor do que faria a uma temperatura maior.
Da mesma forma, em temperaturas ultrabaixas os elétrons das camadas mais internas
continuam suas “trajetórias” curvilíneas em torno do núcleo e suas velocidades escalares
são pouco afetadas pela diminuição da temperatura. A idéia de que todo movimento cessa
é uma descrição clássica do comportamento da matéria, mas ela é inadequada, e uma
abordagem quântica se faz necessária para descrever os fatos experimentais.
6.4 Expansão Térmica
A grande maioria das substâncias, quando aquecidas, sofre uma dilatação. Por
esta razão é que encontramos nas estruturas de pontes certo espaçamento entre as lajes da
pista de rolamento. De forma semelhante, os trilhos de trem são colocados de tal forma
que guardam distâncias entre si, para permitirem certa expansão em dias quentes, evitando
comprometer o alinhamento dos trilhos.
Suponha que a medida linear de uma barra metálica seja L0 a uma determinada
temperatura T0 . Se a temperatura sofre uma variação ∆T = T − T0 , então, o comprimento
varia de ∆L = L − L0 . Pela experiência sabemos que essa variação de comprimento é
diretamente proporcional à variação de temperatura, ao menos quando esta variação não
se verifique exagerada (por exemplo, de umas poucas centenas de graus). É de se esperar
também que a variação de comprimento seja proporcional ao comprimento inicial L0
e isto pode ser confirmado experimentalmente. Por exemplo, se uma barra de 1 m de
comprimento sofre uma dilatação de 0,004 m para uma variação de temperatura ∆T , uma
barra de 2 m sofrerá uma expansão de 0,008 m para a mesma variação de temperatura.
Estas observações podem ser colocadas em forma matemática, introduzindo-se um
parâmetro positivo α, chamado de coeficiente de expansão linear:
∆L= α L0 ∆T ⇒ L − L0= L0α∆T ∴ L= L0 [1 + α∆T ] .
100
O parâmetro α, em geral, depende da
temperatura, mas para variações moderadas ele pode ser
considerado como constante. Sendo uma característica
da substância, ele não depende do comprimento inicial
L0 e sua dimensão é o C −1 = 1 o C quando T é expresso
em graus Celsius, ou K −1 = 1 K , quando a temperatura
for medida em graus Kelvin.
A tabela 6.1 fornece alguns valores do
coeficiente α.
SUBSTÂNCIA
α [0C-1]
Alumínio
2, 4 ×10−5
Cobre
1,8 ×10−5
Latão
1, 7 ×10−5
Aço
1,1×10−5
Vidro
(0,1 a 1,3) ×10−5
temperatura e Calor
(0, 7 a 1, 4) ×10−5
Concreto
TABELA 6.1 - Alguns valores de α.
EXEMPLO 6.1
Uma barra de alumínio, inicialmente a 30 oC, tem comprimento de 0,5m. Qual será seu
comprimento quando a temperatura atingir 80 oC?
Solução:
O coeficiente de expansão é dado pela tabela acima. Então,
L80 = L30 1 + 2, 4 ×10−5 (50)  ⇒ L80 = 0,5 ×1, 0012 = 0,5006 m .
EXEMPLO 6.2
A que temperatura se deve elevar um bastão de cobre de 1 m de comprimento para que
ele tenha uma expansão de 1%? Considere que inicialmente ele esteja à temperatura
ambiente.
QUESTÃO 6.2
Dois corpos de mesmo
material
possuem
as
mesmas
dimensões
externas e mesma forma,
porém um é oco e outro
maciço.
Quando
a
temperatura de ambos
aumentar do mesmo valor,
a dilatação dos corpos será
a mesma ou será diferente?
Explique.
Solução:
A dilatação de 1% corresponde a 0,01m. Portanto, temos:
∆L= α L0 ∆T ⇒ 0, 01= 1,8 ×10−5 ×1× (T − 25) ∴T= 580 ºC .
Já sabemos como calcular a expansão linear de sólidos, mas o que acontece em
termos microscópicos para provocar (produzir) esta dilatação? Um modelo simplificado
pode auxiliar o argumento: os átomos da rede (cristalina ou não) mantem suas posições,
porém, executam um movimento oscilatório em torno de um ponto de equilíbrio estável,
muito parecido com o de um oscilador harmônico, mas não exatamente igual. Um
acréscimo de temperatura significa fornecer calor e, com isto, as amplitudes de oscilação
aumentam gradativamente à medida que sua temperatura cresce. Como a curva de energia
potencial é assimétrica (se ela fosse simétrica como a de um oscilador harmônico, não
ocorreria dilatação da rede), a distância média entre os átomos sofre um acréscimo quando
se eleva a temperatura. Esses efeitos microscópicos se refletem macroscopicamente na
expansão do sólido. O aumento na amplitude de oscilação dos átomos da rede pode levar
a uma situação dramática, na qual a força restauradora já não é suficiente para manter a
coesão do sólido e, a partir daí, tem início a fusão do material.
A descrição unidimensional pode ser generalizada para duas e três dimensões,
com um pouco mais de álgebra. Vamos considerar o caso tridimensional e veremos que
em duas dimensões, o mesmo raciocínio pode ser usado. Para facilitar os cálculos, vamos
tratar de um sólido na forma cúbica e com arestas L0. Quando aquecido, todas as três
dimensões se expandem e podemos escrever,
3
( L)3 =V =( L0 + α L0 ∆T )
Então, V = L30 + 3L30α∆T + 3L30α 2 (∆T ) 2 + L30α 3 (∆T )3 . Observe que os dois
últimos termos podem ser escritos como 3L30 (α∆T ) 2 e L30 (α∆T )3 . O produto α∆T é da
Figura 6.4 - Modelo de
uma rede cristalina e a
energia potencial entre
os átomos.
ordem de 10-3, ou mesmo menor, para variações moderadas de temperatura (em torno
3
2
de 100 oC) e, portanto, (α∆T ) e (α∆T ) são da ordem de 10-6 e 10-9, respectivamente.
Podemos, então, desprezá-los quando comparados com o termo contendo α∆T . Com
101
FÍSICA GERAL II
QUESTÃO 6.3
Por que muitas vezes o
bulbo de uma lâmpada
incandescente se quebra
quando, por exemplo, uma
gota de água cai sobre ele?
E por que um copo de vidro
comum pode se quebrar ao
adicionarmos um líquido
quente?
esta aproximação, o resultado final é escrito como
V= L30 + 3α L30 ∆T= V0 + 3αV0 ∆T ⇒ ∆V= 3αV0 ∆T ,
que usualmente é escrito na forma ∆V = γ V0 ∆T onde γ ≡ 3α . Este é o resultado final
para uma expansão volumétrica de um sólido. Observe que, para este caso, consideramos
o sólido isotrópico (possui as mesmas propriedades em todas as direções) de tal forma
que o coeficiente γ é dado simplesmente como 3α. Entretanto, existem exceções, e uma
delas é o composto CaCO 3 (calcita) que se expande mais facilmente em uma direção do
que em outra. Tais materiais não podem ser tratados pelas relações estabelecidas acima.
O caso bidimensional pode ser tratado de forma parecida com aquela realizada
acima, considerando uma placa metálica quadrada de L0. O resultado obtido, para uma
variação ∆S da área, pode ser expresso pela relação:
∆S= S0 β∆T , onde β = 2α e S0 é a área inicial.
Existe um ponto sobre a dilatação superficial que, invariavelmente, causa certo
embaraço no estudante. Se uma placa possui um orifício, quando ela for aquecida, a área
deste orifício aumenta ou diminui? A resposta correta é que suas dimensões aumentam.
Isto é, quando a placa se dilata, a área livre do orifício fica maior, e não menor, como é
comum se pensar. Acontece o mesmo quando aquecemos uma casca esférica metálica: o
volume interno se torna maior, e não menor. O exemplo seguinte mostra como calcular a
expansão de um orifício.
EXEMPLO 6.3
Uma chapa de aço apresenta um orifício com área de 100 cm2. Inicialmente sua temperatura é 20 oC e, então, é aquecida até 100 oC. Qual a variação da área deste orifício?
Solução:
O buraco se expande exatamente da mesma forma como se fosse preenchido pelo metal.
Portanto, sua expansão pode ser calculada de maneira convencional, usando o coeficiente β aço
= 2α aço
= 2, 2 ×10−5 º C−1 .
∆S= S0 β aço ∆T= 100 × 2, 2 ×10−5 × 80= 0,18cm 2 .
E se a chapa fosse resfriada a 0 0C em vez de ser aquecida?
∆S =100 × 2, 2 ×10−5 (−20) =−0, 044 cm 2 . O sinal negativo indica uma contração.
A tabela 6.2 fornece os valores de coeficientes
de expansão volumétrica para alguns líquidos.
Para obter os valores de γ para sólidos, basta
multiplicar os dados da tabela 1 (para coeficientes
lineares) pelo fator 3.
SUBSTÂNCIA
γ [ K −1ou oC −1 ]
Álcool etílico
11×10−5
12, 4 ×10−5
Benzeno
Glicerina
Mercúrio
48 ×10−5
18 ×10−5
96 ×10−5
Gasolina
TABELA 6.2 - Coeficientes de
expansão volumétrica (líquidos).
EXEMPLO 6.4
Um frasco de vidro de 100 cm3 contém mercúrio líquido até a borda. Inicialmente a
temperatura é 25 oC. Começamos seu aquecimento até a temperatura atingir 100 oC. O
mercúrio irá transbordar? Em caso afirmativo, qual a quantidade de líquido que sairá
do frasco?
102
Solução:
Para responder a primeira pergunta, basta comparar os coeficientes de expansão
volumétrica de ambos os materiais. A tabela 1 fornece para o vidro, o valor médio
temperatura e Calor
γ vidro =
3α vidro =×
3 0, 6 ×10−5 =
1,8 ×10−5 ºC −1
O valor γ da tabela 2, para o mercúrio, é 18 ×10−5 oC −1 , que é 10 vezes maior do que o
do vidro. Isto certamente fará com que o mercúrio transborde do recipiente.
Os valores quantitativos podem ser determinados utilizando-se os dados acima.
∆Vvidro = 100 ×1,8 ×10−5 (100 − 25) = 0,135cm3 .
∆VHg = 100 ×18 ×10−5 (100 − 25) = 1,35cm3 .
Portanto, o líquido entornado tem volume dado por,
∆Ventorndo = ∆VHg − ∆Vvidro = 1,35 − 0,135 = 1, 215cm3 .
Estes resultados podem servir para você explicar o funcionamento de um termômetro
de mercúrio com bulbo de vidro.
Dilatação Térmica da Água
No intervalo de temperatura entre 0 o C e 4 o C a água diminui seu volume ao
ser aquecida, indicando que o coeficiente de expansão térmica nesta região é negativo
(figura 6.5). Acima de 4 o C , ela se expande quando aquecida, apresentando, portanto,
um valor máximo em sua densidade a 4 o C . Abaixo desta temperatura, ela se expande, e
isto explica porque o gelo obtido nas forminhas que você coloca no congelador apresenta
a superfície curva para cima (este fato é mais evidente em formas de metal do que em
formas de plástico líquido).
Esse comportamento anômalo da água tem um efeito muito importante na vida
de animais e plantas, principalmente em lagos. A água se congela a partir da superfície
para baixo; acima de 4 o C , a água fria flui para a parte mais interna devido à sua maior
densidade. Porém, quando a temperatura decresce ainda mais, a densidade volta a ser
menor na camada superficial e o fluxo para baixo cessa e a água na camada mais externa
fica mais fria do que em regiões mais profundas. À medida que ocorre o congelamento na
superfície, o gelo flutua por ser menos denso e a água no fundo permanece a temperatura
próxima a 4 o C , até que aconteça todo o
congelamento do lago. Se a água se contraísse
ao ser resfriada, o congelamento se daria
inicialmente em camadas mais profundas e,
gradativamente, o processo de solidificação
atingiria a superfície. Na ocorrência deste
mecanismo, a vida abaixo da superfície
(animais e plantas) sofreria enormes prejuízos
Figura 6.5 - Detalhe do comportamento
e, possivelmente, a evolução da vida na Terra
volumétrico da água próximo a 0ºC.
teria seguido um curso muito diferente.
6.5 Quantidade de Calor
Quando uma colher metálica é colocada em uma xícara de café quente, ela se
aquece e o café se esfria até ambos atingirem o equilíbrio térmico. Se você esperar um
tempo razoavelmente longo (comparado àquele transcorrido para que café e colher se
equilibrem termicamente), ambos os corpos entrarão também em equilíbrio térmico
com o ambiente, mas no momento estamos interessados no que acontece entre o café
e a colher. A interação que produz esta variação de temperatura é uma transferência de
103
FÍSICA GERAL II
Figura 6.6 - Processos
para
aquecer
certa
quantidade de água.
energia entre um corpo e outro. À esta transferência de energia, produzida pela diferença
de temperatura, denominamos fluxo de calor ou transferência de calor. Neste caso, a
energia transferida é chamada de calor ou energia térmica.
É importante que você saiba claramente a diferença entre calor e temperatura.
Calor é uma forma de energia que é transferida de um corpo a outro quando existe uma
diferença de temperatura entre eles. A temperatura depende do estado físico do material
e sua descrição quantitativa indica se um corpo está frio ou quente. Pode-se alterar a
temperatura de um sistema fornecendo ou retirando-se calor (energia) dele. Por exemplo,
para se aquecer certa quantidade de água podemos fornecer calor realizando trabalho sobre
ela. Foi desta forma que Joule realizou suas experiências para concluir que o aumento
de temperatura é proporcional ao trabalho realizado. Medidas cuidadosas permitiram o
estabelecimento da primeira lei da Termodinâmica a ser estudada no próximo capítulo.
Alternativamente, para aquecer a água podemos colocá-la em contato térmico com uma
fonte de calor, cuja temperatura seja maior do que o recipiente. A figura 6.6 ilustra os dois
processos.
É bastante comum (e errôneo) ouvir que em dias de verão “está fazendo muito
calor”. Dificilmente se consegue elaborar uma frase com tão pouco sentido. O que se quer
dizer, efetivamente, é que a temperatura está elevada e não que está calor. Achou um
pouco pedante? Pode ser, mas é a forma fisicamente correta de descrever a situação.
Como o calor é energia que está sendo transferida, deve existir uma relação
entre suas unidades e aquelas conhecidas da energia mecânica, como, por exemplo, o
Joule. Experimentos cuidadosos sobre esta equivalência mostram que
1 caloria (cal)= 4.186 joules
O uso da caloria como unidade de calor é bastante comum, embora ela não
faça parte do Sistema Internacional. A recomendação do Comitê Internacional de Pesos
e Medidas é que seja usado o Joule como unidade básica de todas as formas de energia e,
obviamente, isto inclui o calor. A determinação de uma unidade de energia para o calor
foi obtida considerando-se a quantidade de energia necessária para se elevar de um grau
Celsius, de 14,5 a 15,5ºC, a massa de 1 g de água, à pressão de 1 atm.
Calor Específico
Utiliza-se o símbolo Q para representar certa quantidade de calor transferida de
um corpo a outro. Quando esta quantidade está associada a uma diferença infinitesimal de
temperatura, dT, escrevemos dQ.
A experiência tem mostrado que a quantidade de calor Q necessária para elevar
a temperatura de uma massa m de certo material é diretamente proporcional à diferença
de temperatura ∆T = T f − Ti . Mostra, também, que esta quantidade de calor necessária
é diretamente proporcional à massa da substância. Dobrando-se a massa, há necessidade
de se duplicar a quantidade de calor fornecida; se para a mesma massa, dobrarmos o
intervalo de temperatura, precisaremos de duas vezes a quantidade de calor. Um detalhe
importante: a quantidade de calor para fazer variar a temperatura depende da natureza do
material. Certa massa de alumínio requer uma quantidade de calor menor do que a mesma
massa de água quando queremos ter a mesma variação de temperatura. Por exemplo,
1 kg de alumínio requer 910 J para que sua temperatura varie de 1 o C , enquanto 1 kg de
água requer 4190 J para a mesma variação de temperatura. As conclusões acima podem
ser sintetizadas matematicamente:
Q ∝ m∆T ⇒ Q = mc∆T .
A constante de proporcionalidade, c, introduzida na equação é chamada calor específico da
substância. Note que, embora o valor numérico desta constante dependa de cada material,
estamos supondo que ele seja independente da temperatura. De fato, ele não é, mas
104
dependendo do intervalo de temperatura considerado, pode-se supor que seu valor seja
constante. É uma aproximação bastante boa para um grande número de substâncias em
intervalos moderados de temperatura. Experimentalmente os valores de calor específico
para uma dada substância podem ser obtidos fornecendo-se pequenas quantidades de
calor dQ e medindo-se as variações infinitesimais de temperatura:
dQ
= mcdT ⇒=
c
1 dQ
.
m dT
Embora o termo calor específico seja de uso
comum, ele pode induzir a um entendimento confuso:
quando dizemos que uma substância tem calor específico
de determinado valor, isto pode dar a impressão de que
o corpo possui uma quantidade calor. Lembre-se de que
calor é uma forma de energia em trânsito e, portanto,
não existe algo como “certa quantidade de calor em
determinado corpo”.
Nota-se pela tabela 6.3 que não há registro
de valores para gases. Isto tem motivo especial, como
veremos no próximo capítulo: os calores específicos dos
gases são bastante susceptíveis a variações de pressão,
enquanto que, para líquidos e sólidos, a dependência é
muito menor.
temperatura e Calor
CALOR
SUBSTÂNCIA ESPECÍFICO
(J/kg.K)
Alumínio
910
Berílio
1970
Cobre
390
Ferro
470
Chumbo
130
Prata
234
Gelo (0 0C)
2100
Sal (NaCl)
880
Vidro
837
Álcool etílico
2400
Água (15 C)
4186
TABELA 6.3 - Calor específico de
algumas substâncias.
0
EXEMPLO 6.5 - Avaliação da quantidade de energia despendida em estado febril.
Na linha seguinte avalie a energia gasta quando um adulto de 70 kg está com sua temperatura 2 0C acima daquela usual.
DADO: chumano ≈
=
cágua 4200 J=
kg.K 4200 J kg.ºC .
Solução:
Estamos supondo que toda massa do homem seja constituída por água. Obviamente,
isto não é verdadeiro, mas lembre-se de que é uma avaliação. Na realidade, o corpo
humano é constituído por aproximadamente 70 % de água.
Q = mc∆T = 70kg × 4200 J kg.K × 2K = 5,88 ×105 J .
Mas o que significa este número? Para efeito de comparação, a ordem de grandeza desse resultado equivale à energia despendida para elevar 1000 kg a uma altura de
10 m. Isso significa aquecer 1 kg de água até o ponto de ebulição. Para suprir esta energia, o corpo humano processa a transformação dos alimentos ingeridos. Uma refeição
bem balanceada e sem exageros consegue fornecer em torno de 6, 7 ×106 J .
O valor obtido está um pouco acima daquele calculado considerando o calor específico do corpo humano como sendo chumano = 3500 J kg.K , porém a ordem de grandeza se mantém. Este valor menor envolve, além da água, proteínas, gorduras e sais
minerais.
EXEMPLO 6.6
Certo dispositivo eletrônico, constituído basicamente de 23 mg de silício, é percorrido por
= 7,4 × 10-3 J/s . Se
uma corrente elétrica que gera um aquecimento a uma taxa de 7,4 mW
ele não dissipar este calor, fatalmente irá se deteriorar por super aquecimento. Calcule esta
taxa de aquecimento.
DADO: csilício = 700J/kg.K
105
Solução:
Para se calcular a taxa de aquecimento, precisamos primeiramente obter a variação da
temperatura por unidade de tempo (segundo). O calor gerado por segundo é
Q=
potência unidade de tempo =
7, 4 ×10−4 /1 segundo =
7, 4 ×10−4 J
Q mcsilicio . Com os valores
Então, a variação de temperatura nesse intervalo é ∆T =
numéricos, temos
7, 4 ×10−3
=
∆T
= 0, 46 K . Isto representa uma taxa de aquecimento de quase 0,5 K
23 ×10−6 × 700
por segundo. Se não houver troca de calor entre o dispositivo e o meio ambiente, poucos
minutos serão suficientes para comprometer seu funcionamento. Um dissipador eficiente teria que ser projetado para que houvesse uma troca de calor a uma taxa próxima de
0,47 K/s.
FÍSICA GERAL II
Calor Específico Molar
O calor específico, algumas vezes, é expresso utilizando-se o número de mols da
substância. Suponha que certo material, de massa m, tenha massa molecular M. O número
de mols é dado pela relação:
número de mols =n =m M ⇒ m =nM .
Então, a capacidade molar de calor, C, é definida de maneira análoga àquela usada
para calor específico:
dQ = nCdT
e as unidades da constante C são [J / mol.K ] .
Podemos comparar o calor específico com a capacidade molar, a partir das
definições:
dQ = mcdT e dQ = nCdT .
Portanto, igualando as duas quantidades, temos:
m
/ 
dQ
= mcdT
= nCdT ⇒ mcdT
C Mc . O calor molar é dado pelo calor
/ =   CdT ∴=
M 
específico multiplicado pela massa molecular da substância. Introduzimos a definição de
calor molar para comparar seus valores quando a substância é metálica. Na tabela abaixo
estão listados os valores para alguns sólidos metálicos.
SUBSTÂNCIA
c
C
[J/g.K] [J/mol.K]
Observando a terceira coluna da tabela 6.4,
Alumínio
910
24.4
pode-se ver que os valores de C estão muito próximos
Cobre
390
24.5
de 25 J/mol.K quando medidos a temperatura
ambiente. Este resultado é chamado lei de DulongFerro
470
25.0
Petit, em homenagem aos dois físicos franceses que
Chumbo
130
26.6
o determinaram experimentalmente. Diversos outros
Tungstênio
136
25.0
sólidos metálicos apresentam valores semelhantes TABELA 6.4 - Calor molar de alguns
para C.
sólidos metálicos (T = 300K).
6.6 Transições de Fase
Designamos por fase qualquer estado da matéria, tais como o de um sólido, de um
líquido ou de um gás. Ordinariamente, as substâncias se apresentam na natureza em um
desses três estados. Quando, por exemplo, um sólido é aquecido, sua temperatura cresce
e se continuamos a fornecer calor, ele pode passar para o estado líquido. A transição de
uma fase para a outra é o que se chama de transição de fase do material. Fornecendo-se,
lentamente, calor a certo volume de gelo a 0 oC e a pressão normal, sua temperatura não
106
varia. Entretanto, parte dele se transforma em água líquida. Todo calor cedido não fez
variar a temperatura da amostra, mas foi utilizado para produzir uma transição de fase.
Se toda massa de gelo se transforma em água líquida (ou não), certamente, dependerá
da massa inicial do gelo e da quantidade de calor fornecida. Para se converter 1 kg de
gelo inicialmente a 0 ºC (e a pressão atmosférica) para água líquida, são necessários
3,34 ×105 J de calor. Define-se calor latente de fusão, Lf , por unidade de massa, como o
calor necessário para que ocorra a fusão de uma unidade de massa do material. No caso
L f 3,34 ×105 J/kg .
da água, =
A generalização das idéias discutidas acima pode ser expressa da seguinte forma:
para liquefazer a massa m de certo material, cujo calor latente de fusão seja Lf , é necessário
fornecer a esta massa uma quantidade de calor Q dada por
temperatura e Calor
Q = mL f .
O processo inverso, isto é, a solidificação de 1 kg de água a 0 ºC (e a pressão
atmosférica), requer a retirada de 3,34 × 105 J para se obter sua solidificação. A convenção
de sinais para a adição ou retirada de calor do sistema, é simples:
O calor é considerado positivo se ele entra no sistema; será considerado
negativo se ele sair do sistema.
Para englobar essas duas possibilidades, e para casos nos quais existam outras
transições de fase, escreve-se
Q = ± mL (transferência de calor em uma transição de fase).
Prosseguindo com o exemplo da água, quando ela recebe calor sua temperatura
aumenta; se chegar até 100 ºC (estamos sempre supondo que a pressão seja de 1 atm) e
continuarmos fornecendo calor, ela sofre uma transição de fase passando para o estado
gasoso. Como ocorreu na fusão, sua temperatura no processo de vaporização permanece
constante. O calor necessário para se vaporizar 1 kg de água inicialmente a 100 ºC é
2, 25 ×106 J/kg . Isto corresponde ao calor latente de vaporização da água, Lv .
Se você tem alguma experiência culinária, deve ter notado que para se ferver
certa quantidade de água necessita-se menos calor do que para transformá-la em vapor.
Esta observação pode ser feita mais quantitativamente: para atingir 100 ºC, a partir de 0 ºC,
5
fornecemos 4, 2 ×10 J para 1 kg de água. Para vaporizá-la totalmente são necessários
6
2, 25 ×10 J , uma quantidade cinco vezes maior do que para aquecê-la até a fervura. A
tabela 5 fornece o calor de fusão e de vaporização para algumas substâncias, juntamente
com as temperaturas de fusão e ebulição sob pressão normal.
TABELA 5: Calor latente para algumas substâncias
SUBSTÂNCIA
FUSÃO (oC)
Hélio
∗∗
Hidrogênio
-259
Água
0,0
Chumbo
327,3
Cobre
1083
Prata
960,6
Ouro
1063,0
Lf (J/kg)
∗∗
3
58,6 ×10
3
334 ×10
EBULIÇÃO (oC)
Lv (J/kg)
-269
20,9 ×10
3
452 ×10
-252,9
100,0
3
3
2256 ×10
3
871 ×10
24,5 ×10
3
134 ×10
1750
3
2193
5070 ×10
3
2336 ×10
2660
1578 ×10
3
88,3 ×10
3
64,5 ×10
1187
QUESTÃO 6.4
Para elevar a temperatura
de uma substância você
deve fornecer calor a
ela? Se você fornecer
calor,
a
temperatura
necessariamente aumenta?
Explique .
3
3
107
FÍSICA GERAL II
3
Quando dizemos que o calor de vaporização da água vale 2256 × 10 J/kg ,
estamos sempre considerando a pressão normal de 1 atmosfera. Este valor se verifica ao
nível do mar, porém, nem sempre as medidas são realizadas a beira mar. Suponha que a água
seja colocada a uma altitude de 2000 m, onde a temperatura de ebulição é de 95 ºC. O calor
de vaporização nestas condições é um pouco maior do que o valor registrado a 0 ºC, sendo
Lv (95ºC)
= 2, 27 ×106 J/kg .
EXEMPLO 6.7
0,1 kg de gelo é retirado do congelador a uma temperatura de -10 0C e deixado dentro
de um recipiente até atingir a temperatura ambiente de 25 0C. Em seguida, o líquido é
aquecido para que toda a massa se evapore. O calor específico do gelo é 2100 J/kg.K, e
da água é o dobro deste valor.
a) Esboce um gráfico qualitativo da temperatura contra o tempo para todo o processo.
b) Qual a quantidade total de calor cedida a esta massa?
Figura 6.7 - Esboço da
evolução temporal do
sistema.
Solução:
a) O gráfico qualitativo do processo está mostrado na figura 6.7.
b) No primeiro trecho o gelo, inicialmente a -10 0C, atinge a temperatura de fusão. O
calor absorvido pelo gelo é
Q1 =
0,1× 2100 × (0 − 10) =
−2100 J =
−0, 21× 104 J .
A fusão total da amostra requer uma quantidade de calor dada por
Q2 =
−0,1× 3,34 ×105 J =
−3,34 × 104 J.
Em seguida, o líquido ainda a 0 0C, é deixado esquentar até atingir 25 0C.
Depois, o líquido recebendo calor atinge 100 0C. Nesta etapa, de 0 a 100 0C, não há
necessidade de se fracionarem os cálculos: pode-se considerar como um único processo
com início a 0 0C e final a 100 0C. O calor absorvido é
Q3 =
−0,1× 4200 × (100 − 0) =
−4, 2 ×104 J.
QUESTÃO 6.5
Alguns
viajantes
do
deserto transportam água
em recipientes de lona.
A água se infiltra pela
lona e se evapora. Como
isso faz com que a água
remanescente se esfrie? O
mesmo processo ocorre em
recipientes de argila ou de
barro.
Quando a temperatura atinge 100 0C, continuamos fornecendo calor até a completa evaporação do líquido:
Q4 =
−0,1× 22,56 ×105 J =
−22,56 × 104 J.
O calor absorvido pela amostra, considerando todo o processo, é dado por
QTOTAL =
Q1 + Q2 + Q3 + Q4 =
−30,3 × 104 J.
Novamente, o sinal negativo indica uma absorção de calor pelo sistema.
Observe que nos cálculos sempre foi suposto que a massa se manteve fixa:
iniciamos com 0,1 kg de gelo e terminamos com a evaporação de 0,1 kg de água. Você
seria capaz de indicar em qual parte do experimento existe a maior perda de massa?
Faça uma estimativa dessa perda, usando sua experiência culinária.
EXEMPLO 6.8
Um calorímetro, de capacidade térmica desprezível, contém 0,1 kg de água a 20 ºC.
Uma massa de ferro de 0,2 kg e a 720 ºC é colocada neste calorímetro.
a) Qual a temperatura final de equilíbrio?
b) Que massa de água evaporou no processo?
Solução:
a) Vamos supor inicialmente que exista uma temperatura final 20 oC < T f < 100 oC . Se
encontrarmos uma temperatura final maior do que 100 0C, significa que parte da água
(ou toda ela) sofreu evaporação.
Como o calorímetro é adiabático (não permite troca de calor com o meio), só é possível
ocorrer troca de calor entre o sólido e a água:
108
Q1 + Q2 =
0.
Q1 se refere ao calor cedido pela massa de ferro e Q2 se refere ao calor recebido pela
água.
temperatura e Calor
Q1 =0, 2 × 470(T f − 720) =94T f − 67, 7 ×103 .
Q2 = 0,1× 4200(T f − 20) = 420T f − 8, 4 ×103 .
Então, a relação acima fica:
94T f − 67, 7 ×103 + 420T f − 8, 4 ×103 =0 ⇒ 514T f =76 ×103 ∴T f =148 oC .
Este valor indica que houve evaporação do líquido.
Ora, se aconteceu de evaporar algum líquido (ou todo, que não será o caso como
veremos abaixo), então a temperatura de equilíbrio será de 100 ºC. Nestas condições,
podemos escrever:
Q1 =×
0, 2 470(−620) =
−58,3 ×103 J (o sinal negativo indica calor cedido).
Q2 =
Q2∆T + Q2vaporizacão =
m1 × 4200 × (80) + m2 × 2256 ×103 .
Mas, m1 + m2 =
0,1 (massa total de água), sendo que m1 se refere à massa que
permaneceu líquida, e m2 é a massa que evaporou.
Assim, Q2 pode ser escrito como:
Q2 =
m1 × 4200 × (−620) + m2 × 2256 ×103 =
336 ×103 (0,1 − m2 ) + 2256 ×103 m2 ⇒
Q2 = 1920 ×103 m2 + 33, 6 ×103 .
0 , tem-se
Usando Q1 + Q2 =
−58,3 ×103 + 1920 ×103 m2 + 33, 6 ×103 =0 ∴ m2 ≈ 0, 013kg .
Esta é a massa evaporada no processo.
Se encontrássemos um valor maior que 0,1 kg a temperatura de equilíbrio não seria
100 ºC. É o caso no qual todo o líquido se evapora e a temperatura final do sólido é
superior a 100 ºC.
Exercícios
1. Uma barra metálica possui comprimento de 40,125 m a 20 ºC. e tem comprimento de
40,148 m quando está a 45 ºC. Qual o coeficiente linear de dilatação linear para este
material?
2. Um cilindro de cobre está a 20 ºC. Em qual temperatura seu volume aumenta de 0,15%?
3. Um frasco de vidro com volume de 1000 cm3 está totalmente cheio de mercúrio a
temperatura de 0 ºC. Quando o conjunto é aquecido a 55 oC, um volume de 8,95 cm3 de
mercúrio transborda. Dado γ mercurio= 18 ×10−5 K −1 , calcule o coeficiente de dilatação
volumétrica do vidro.
4. Quando estava pintando o topo de uma antena de 60 m de altura, o trabalhador deixa
cair acidentalmente um recipiente de 1 litro de água que estava em sua mochila. Sua
queda é amortecida por alguns arbustos e toca o solo sem se quebrar. Supondo que a
água absorva todo o calor devido à energia potencial gravitacional, qual a variação da
temperatura da água?
5. Um pequeno aquecedor de 200 watts está submerso em 100 gramas de água à 23 ºC.
Calcule o tempo necessário para aquecer essa quantidade de água até a ebulição.
109
FÍSICA GERAL II
6. Antes de fazer um exame médico, um adulto de 70 kg, com temperatura de 36 ºC,
consome um volume de água de 0,35 litro que está a 12 ºC.
a) Qual deve ser a temperatura de seu corpo ao atingir o equilíbrio térmico? Despreze
qualquer anomalia devido ao metabolismo e suponha que o calor específico do corpo
seja 3480 J/kg.K.
b) A variação de temperatura de seu corpo é suficiente para ser detectada por um
termômetro clínico comum?
7. Qual o calor total necessário para converter 12 gramas de gelo a 10 ºC em vapor de
água a 100 ºC ?
8. Qual deve ser a velocidade inicial de um projétil de chumbo a 25 ºC, de tal forma que,
quando atingir um anteparo metálico, o calor gerado seja suficiente para ocorrer a
fusão desse projétil? Suponha que todo calor gerado no impacto seja usado somente
para aquecê-lo, não havendo perdas nem para o meio e nem para o anteparo.
9. Um técnico de laboratório coloca em um calorímetro certa amostra desconhecida de
massa 80 g e à temperatura de 100 ºC . O calorímetro é feito de cobre e tem massa de
0,150 kg. Dentro dele estão 0,250 kg de água e ambos (calorímetro + água) estão a
19 ºC . O equilíbrio térmico se verifica a 26,1 ºC . Qual o calor específico da amostra?
10. Um estudante assistindo a uma aula de Física produz 100 W de calor. Qual a
quantidade de calor produzida por uma turma de 40 alunos durante 50 minutos de
aula? Suponha que todo este calor seja transferido para os 200 m2 de ar da sala de
aula. A densidade do ar é 1,2 kg/m2 e seu calor específico é 1020 J/kg.K. Qual seria
o aumento de temperatura da sala, supondo que ela não troque calor com o exterior?
11. Um calorímetro, de capacidade térmica desprezível, contém 200 gramas de álcool
a 30 ºC. 150 gramas de cobre a 800 ºC são colocados dentro deste calorímetro.
a) Qual a temperatura de equilíbrio?
b) Se houve vaporização de álcool, qual a massa remanescente após ter sido atingido
o equilíbrio térmico?
Dados:
110
ebulição
3
cálcool
= 2430 J/kg.K ; Tálcool
= 78 ºC; Lvaporização
álcool = 854 × 10 J/kg
ccobre = 390 J/kg.K
temperatura e Calor
Anotações
111
FÍSICA GERAL II
Anotações
112
7
Primeira Lei da
Termodinâmica
7.1
Introdução
7.2
trabalho
7.3
A primeira Lei da termodinâmica
7.4
Gás Ideal: Energia Interna e Calor Específico
113
7 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA
FÍSICA GERAL II
7.1 Introdução
No capítulo anterior vimos que calor é uma forma de energia em trânsito devido
a uma diferença de temperatura entre dois corpos. Quando este fluxo cessa, o equilíbrio
térmico é atingido e o uso da palavra calor se torna inapropriado. A expressão “quantidade
de calor em um corpo” é totalmente incorreta, como é incorreta também a expressão
“quantidade de trabalho em um corpo”. A realização de trabalho e o fluxo de calor são
métodos pelos quais a energia interna de um sistema pode ser variada. Quando dois
corpos, a diferentes temperaturas, são colocados para interagir, a temperatura de equilíbrio
atingida por ambos tem um valor intermediário (não o valor médio, em geral) entre as
duas temperaturas iniciais.
Para estabelecer a primeira lei da termodinâmica precisaremos usar o conceito de
trabalho, estudado no primeiro volume. A definição de trabalho envolve uma integração
ao longo de um caminho que a partícula seguia desde um ponto inicial até um ponto final:
esse tipo de integral é chamado de integral de linha. Se o sistema era conservativo, o valor
dessa integral independia do percurso e era função somente dos pontos inicial e final.
Neste caso, chamávamos de força conservativa. A interpretação geométrica do trabalho
realizado sobre a partícula referia-se à área sob a curva em um gráfico da força versus
distância.
Em termodinâmica não se faz alusão ao conceito de partícula: tratamos de sistemas
macroscópicos constituídos por um número muito grande de partículas (algo em torno de
1020, ou mesmo maior). Portanto, imaginar que possamos calcular o trabalho realizado
sobre cada partícula não parece um ponto de partida razoável.
7.2 Trabalho
A maneira mais fácil de introduzir o conceito de trabalho em termodinâmica é
usar um sistema composto por um gás. O trabalho mecânico realizado sobre o sistema
pode ser tratado de forma semelhante àquele estudado em mecânica, considerando a
variação de volume do sistema:
 
WFi → f = ∫ F . dr ao longo de algum percurso escolhido previamente.
f
i
Figura 7.1 Volume contendo certa
quantidade de gás.
A figura 7.1 mostra um recipiente com certa quantidade de gás em seu interior,
em dois estágios do processo que queremos analisar. O dispositivo contém um êmbolo
que pode se movimentar sem atrito. O que acontece quando empurramos este êmbolo,
comprimindo o gás dentro do recipiente? Antes de responder a esta pergunta, existe
outra que, de certa forma, a precede. Suponha que inicialmente o gás esteja em equilíbrio
caracterizado por uma dada pressão e uma temperatura conhecida. Se não existe atrito
entre o êmbolo (ou pistão) e as paredes, por que o gás não empurra de forma espontânea
e indefinidamente esse êmbolo para a direita? O gás não o faz porque existe uma equação
de estado que governa o comportamento termodinâmico desse sistema: deslocar o pistão
indefinidamente para a direita significa tornar o volume infinito e a pressão ir a zero.
Mas existe a pressão externa exercida pelo ambiente sobre o êmbolo e quando ambas se
igualam, cessa o deslocamento espontâneo do pistão.
Todo sistema termodinâmico possui uma equação estado que relaciona entre si
as variáveis de estado por meio de uma relação matemática. Se ela é conhecida, ou se é
simples ou não, é outra história. Por exemplo, o volume de um sólido pode ser expresso
pela relação matemática já conhecida:
V = V0 1 + γ (T f − Ti )  .
114
Podemos avançar um pouco mais e acrescentar uma dependência com a pressão:
V = V0 1 + γ (T f − Ti ) − κ ( Pf − Pi  .
κ é a compressibilidade isotérmica do material. Essas relações não descrevem o
comportamento do sólido para toda faixa de temperatura e/ou pressão: são equações
aproximadas, válidas em certa região de temperatura e pressão, mas que descrevem
bastante bem a variação do volume em função de T e P.
Da mesma forma que escolhemos uma convenção de sinais para o calor que entra
em um sistema sendo positivo e o calor que sai como sendo negativo, para o trabalho
adotamos: trabalho positivo se refere aquele realizado pelo sistema e negativo como
aquele realizado sobre o sistema. A figura 7.2 sintetiza as convenções usadas mais
frequentemente.
Resta ainda responder a pergunta sobre o que deve acontecer com o gás se ele for
comprimido pelo pistão. A resposta é bem simples: depende. A compressão é realizada de
forma lenta ou não? As paredes podem trocar calor com o meio externo ou são adiabáticas?
Por hora, vamos esquecer da segunda condição e nos ater à primeira. Mais adiante, iremos
incorporá-la às nossas considerações para estabelecer a primeira lei da termodinâmica.
Suponha, então, que algum agente externo tenha comprimido o gás até certo volume Vi
(não estamos interessados por quem e como isto foi feito). O êmbolo é então travado nesta
posição e a seguir é lentamente liberado. Esse processo é chamado de processo quaseestático: a descompressão acontece de forma gradual e em cada etapa o pistão se move
infinitesimalmente de uma quantidade dx. Este mecanismo permite conhecer o valor da
pressão em todo instante do processo.
primeira Lei da
termodinâmica
Figura 7.2 Convenção de sinais para
o calor e para o trabalho.


Quando o pistão se move de dr = dxi , o trabalho infinitesimal realizado pelo
sistema pode ser escrito como:

=
dW Fi
=
.idx Fdx , onde F é a força exercida pelo gás sobre o êmbolo.
Se o pistão tem área A, o volume infinitesimal dV pode ser escrito como
dV = Adx . A pressão exercida por esta força (sobre o pistão) é p = F A . Portanto,
podemos escrever
dW = pA ×
Para uma variação finita
Vi até um volume V f , teremos
Vf
Wi→f = ∫ pdV
dV
⇒ dW = pdV .
A
(não
infinitesimal),
desde
um
volume
(trabalho realizado pelo sistema).
Vi
A relação acima está de acordo com a convenção adotada sobre o sinal: se o
volume final é maior do que o volume inicial, houve uma expansão e a integral é positiva
(p é sempre positiva). Neste caso, temos W > 0 (trabalho realizado pelo sistema). Se
acontecer uma compressão, Vf < Vi , a integral é negativa e temos W < 0 (trabalho realizado
sobre o sistema).
Para calcular a integral acima devemos conhecer a pressão ponto a ponto durante todo o
processo: no caso de um gás ideal, pV= nRT ⇒ p=
nRT
. Exatamente por isso que
V
idealizamos um processo quase-estático: a pressão é conhecida durante toda a evolução do
sistema. Se o pistão fosse liberado repentinamente, a expansão ocorreria de modo tão rápido
que dificilmente poderíamos escrever a relação funcional pV = nRT para todo instante
da descompressão. Isto causa dificuldade para se obter o trabalho realizado pelo gás, pela
seguinte razão: não sabemos o que colocar no integrando para o cálculo da integral.
115
FÍSICA GERAL II
Figura 7.3 – Diagrama
pV para uma evolução
arbitrária e infinitesimal.
A interpretação geométrica do trabalho realizado pelo gás pode ser dada de
maneira semelhante àquela utilizada para partículas; entretanto, neste caso temos o que se
chama de diagrama pV (figura 7.3). A área sob a curva é numericamente igual ao trabalho
realizado pelo sistema. Convém observar que, diferentemente do caso de partículas no qual
a força pode ser positiva ou negativa, a pressão é sempre positiva. Assim, os diagramas
pV se situam sempre no 1º quadrante porque p e V são positivos.
EXEMPLO 7.1
Obtenha as expressões para o trabalho realizado por um gás ideal ( pV = nRT ) quando:
a) O volume se mantém constante.
b) A pressão se mantém constante.
c) A temperatura se mantém constante.
d) O sistema é isolado termicamente.
Para cada um dos processos acima, esboçar o diagrama pV.
Solução:
a) Se o volume se mantém inalterado, então V f = Vi . A integral com ambos os extremos iguais é nula. Portanto, o trabalho realizado pelo gás neste processo (chamado de
isocórico ou isovolumétrico), é zero.
(1)
b) Se a pressão não varia (processo isobárico), a integral é facilmente calculada:
Vf
=
∫ pdV
=
W
Vi
Vf
p ∫=
dV p (V f − Vi ) .
(2)
Vi
c) Esse processo requer uma temperatura constante (chamado de processo isotérmico).
Contrariamente ao que se ouve com frequência, este processo requer troca de calor entre
o sistema e o meio ambiente, permitindo que a temperatura fique inalterada. Nesse caso,
as paredes do sistema devem ser boas condutoras de calor para facilitar a troca de calor.
Vf
Wi → f=
∫ pdV ⇒ W
Vf
=
i→ f
Vi
nRT
dV ∴Wi → f= nRT (ln V f − ln Vi )
V
Vi
Vf
Wi → f = nRT ln .
Vi
∫
(3)
d) Um processo adiabático é caracterizado por não existir troca de calor entre o sistema
e o meio ambiente. Neste caso, variam p, V e T, simultaneamente. A equação de estado
γ
que o descreve é dada por pV =
K= constante, sendo γ > 1. Podemos escrever a
pressão na forma
=
p
K
=
KV −γ . Então, o trabalho é dado por
γ
V
Vf
Wi → f =
∫ pdV ⇒ W
i→ f
Vi
Vf
Vf
 V −γ +1 
= ∫ KV dV = K 

 −γ + 1 Vi
Vi
−γ
 V f1−γ Vi1−γ 
V f1−γ
Vi1−γ
∴Wi →=
−
⇒
K
=
−
W
K
K


f
i→ f
1− γ
1− γ .
1 − γ 1 − γ 
γ
Esta resposta pode se simplificada: note que K = pV para quaisquer valores de p e V.
γ
Então, valem as relações K = piVi γ e K = p f V f . Substituindo esses valores, temos:
V f1−γ
Vi1−γ
1
 p f V f − piVi  .
− piVi
∴W=
W=
p fVf
i→ f
i→ f
1− γ
1− γ
1− γ 
γ
116
γ
(4)
A figura 7.4 mostra os diagramas pV para os quatro processos discutidos (Vf < Vi ).
Note que a curva adiabática (4) tem inclinação maior do que a isoterma (3) passando pelo
mesmo ponto.
Esse exemplo permite concluir algo muito importante sobre o trabalho realizado por
um sistema. Observe os diagramas pV referentes aos processos (b) e (c): os valores numéricos
das áreas sob as curvas são diferentes. No caso (b) o trabalho é maior do que no caso (a). O
que se pode concluir deste fato é que o trabalho realizado pelo gás depende do caminho
seguido entre os estados inicial e final. Se para dois processos diferentes (mas com mesmos
volumes inicial e final), os resultados fossem iguais, seria mais uma coincidência matemática
do que uma característica do comportamento físico do sistema. Expresso de outra forma, se
dois valores do trabalho são diferentes para dois caminhos ligando os estados inicial e final,
temos uma indicação de que o trabalho depende de como se verifica a evolução do sistema.
Um exemplo extremo do que acontece está ilustrado na figura 7.5.
Sobre a notação: alguns autores escrevem um “d” cortado na frente do W para
deixar explícito que dW não é uma diferencial exata, mas tão somente uma quantidade
infinitesimal. Outros autores preferem escrever δ W pela mesma razão. Continuaremos
escrevendo dW, entendendo que isso não significa que ela seja uma diferencial exata.
O próximo exemplo ressalta alguns aspectos importantes na resolução de
problemas. Uma fonte frequente de erros está ligada às unidades das grandezas usadas na
termodinâmica.
EXEMPLO 7.2
0,5 mol de um gás ideal ocupa um volume 4 litros e está a pressão de 4 atm. Este gás
evolui para outro estado e ocupa um volume de 6 litros a pressão de 2 atm. O processo
está mostrado na figura 7.6: uma reta ligando os estados inicial e final. O valor da
constante dos gases é R = 8,3 J/molK.
a) Qual a temperatura inicial do sistema? E a final?
b) Encontrar o trabalho realizado pelo gás neste processo (figura 7.6).
Solução:
O primeiro passo para resolver o problema é uniformizar as unidades e, como a constante
R foi fornecida no SI, é conveniente usarmos esse sistema.
1 litro → 10−3 m3 ∴Vi =4 ×10−3 m3 e V f =6 ×10−3 m3
1 atm → 10 5 N / m 2 ≈ 105 Pascal ∴ pi =4 ×105 Pascal e p f =2 ×105 Pascal
a) Sendo um gás ideal, pV = nRT . Para determinar as temperaturas inicial e final,
usamos os dados acima:
INICIAL:
5
(4 ×10=
N/m 2 )(4 ×10−3 m3 ) (0,5mol)(8,3J/molK)
=
Ti ∴Ti 385,5K .
FINAL:
5
(2 ×10=
N/m 2 )(6 ×10−3 m3 ) (0,5mol)(8,3J/molK)
=
T f ∴T f 289,1K .
b) PRIMEIRO MÉTODO: Para obter o trabalho realizado pelo gás, podemos calcular
a área sob a curva dada na figura 7.6, com as unidades uniformizadas: dessa forma, o
valor numérico será seguido de Joule.
A área compreendida sob a curva no diagrama pV corresponde a um trapézio, cuja
área é formada pela área de um triângulo (A1) e pela área de um retângulo (A2). O sinal
do trabalho deve ser escolhido segundo foi convencionado: uma expansão significa
trabalho positivo.
W = ÁREA(J) = A1 + A2 = 200 J + 400 J = 600 J (positivo, pois houve uma expansão).
Este método funciona bem quando a área da figura pode ser calculada de forma simples,
pela soma de duas ou mais áreas que determinam a área total.
primeira Lei da
termodinâmica
Figura 7.4 - Os processos
(1), (2), (3) e (4) supondo
V f ≥ Vi (expansão).
a) isocórica seguida por
isobárica.
b) isobárica seguida por
isocórica.
Figura 7.5 - O trabalho depende de como evolui o sistema entre os estados (i) e (f).
Figura 7.6 - Evolução do gás
– Exemplo 7.2.
117
FÍSICA GERAL II
SEGUNDO MÉTODO: Podemos obter o mesmo resultado a partir da definição de
trabalho. Mas, para isso, devemos conhecer como p varia com V, isto é, obter p(V) e
substituir no integrando.
Neste caso, precisamos da equação da reta que passa pelos pontos que caracterizam os
estados inicial e final.
5
∆p p f − pi
2 ×10
8
2 ×10
∆V V f − Vi
5
8
p − pi =m(V − Vi ) =p − 4 ×10 =−10 (V − 4 × 10−3 ) ∴ p =−108V + 8 ×105 .
==
−
=
−10 .
Coeficiente angular: m =
−3
6×103
Vf
Wi → f
 108V 2

= ∫ (−108V + 8 ×105 )dV = −
+ 8 ×105V 
=
2

 4×103
Vi
6×103
 108V 2
5 
=
 − 2 + 8 ×10 V 
3

 4×10
=
−1800 J + 800 J + 4800 J − 3200 J ∴W =
600 J .
7.3 A Primeira Lei Da Termodinâmica
A formulação matemática da primeira lei da termodinâmica contém três idéias
relacionadas: (1) a existência de uma função chamada energia interna; (2) o princípio da
conservação da energia; (3) a definição de calor como energia em trânsito devido a uma
diferença de temperatura.
O conceito de energia interna merece algum comentário. Como caracterizar a energia
interna de um sistema termodinâmico? Para tornar a discussão mais concreta, vamos supor
um sistema constituído por certa quantidade de um gás diatômico (não necessariamente ideal).
A energia interna é formada por diversas contribuições: a energia cinética de translação, a
energia cinética de rotação dos átomos que formam cada molécula em torno de seu centro, a
energia cinética de vibração dos átomos em torno do ponto de equilíbrio, a energia potencial
devido às interações entre as moléculas do gás. Entretanto, se o recipiente que contém o gás
for elevado de uma altura h no campo gravitacional, esta variação não contribui para a energia
interna. Isto significa que a energia interna de um sistema é invariante por translação.
Embora tenhamos considerado um sistema constituído por um gás, as conclusões
podem ser estendidas a diferentes sistemas termodinâmicos. Obviamente, a inclusão ou
a retirada de algum tipo de energia interna depende da complexidade do sistema. Por
exemplo, para uma amostra sólida, a energia interna de translação, muito importante no
caso de um gás, não pode ter qualquer contribuição na soma dos diversos tipos de energias
internas. Entretanto, a contribuição devido às interações entre os átomos da rede cristalina,
é muito superior do que aquela registrada no caso de um gás.
Vimos que o trabalho realizado por (ou sobre) um sistema termodinâmico
depende do caminho seguido durante o processo. Dizemos que o trabalho não é uma
variável de estado, e, matematicamente, esse fato é expresso pela condição de dW não
ser uma diferencial exata. De forma análoga,
o calor transferido também não é uma
variável de estado, mas depende de como
ele é adicionado ao sistema ou retirado dele.
Para se convencer disso, vamos analisar uma
das inúmeras experiências que comprovam
este fato. Novamente, usamos um gás ideal
e a informação de que em uma expansão
livre a temperatura se mantém constante. O Figura 7.7 - Processos que demonstram que o
calor adicionado depende do caminho.
procedimento envolve duas situações e ambas
estão ilustradas na figura 7.7.
118
À direita, é permitido ao sistema trocar calor enquanto seu volume aumenta, de
forma quase-estática, desde o volume Vi até um volume Vf . Existe uma fonte de calor
(chamado reservatório térmico) que mantém constante a temperatura do gás a 300 K. O
estado final do processo é caracterizado pelos parâmetros pf , Vf e 300 K.
À esquerda, temos aprisionado o gás em um volume Vi e a pressão pi por meio
de uma membrana. O volume total do recipiente é Vf. Com estas escolhas reproduzimos
as mesmas condições inicial e final do processo à direita. As paredes são adiabáticas e,
portanto, não permitem troca de calor com o meio. Por algum dispositivo, a membrana
é rompida e o gás se expande, ocupando todo o recipiente. O trabalho realizado pelo gás
é nulo porque o sistema não contém nenhuma parte móvel que poderia ser variada. Note
que o estado final é idêntico ao anterior: pf , Vf e 300 K.
Podemos então concluir que a transferência de calor, assim como o trabalho
realizado, depende do processo seguido pelo sistema.
primeira Lei da
termodinâmica
Para estabelecer a primeira lei da termodinâmica, vamos imaginar o seguinte
experimento: um gás está confinado em um recipiente que possui um pistão móvel e
fornecemos a esse sistema uma quantidade de calor Q. Além do trabalho realizado pelo
gás, sua temperatura aumenta. Um aumento de temperatura corresponde a um acréscimo
da energia interna E do sistema. A primeira lei estabelece matematicamente que
Q =∆E + W .
Podemos escrever a relação sob a forma
∆E = Q − W .
“A variação da energia interna de um sistema termodinâmico é a diferença entre o
calor absorvido e o trabalho realizado pelo sistema”.
A primeira forma diz simplesmente que o calor absorvido pelo sistema é dividido
em duas partes (não necessariamente iguais!): uma delas é usada para aumentar a energia
interna e a outra parte é utilizada para que o sistema possa realizar trabalho.
A segunda forma, ∆E = Q − W , é significativa do ponto de vista conceitual:
vamos escrevê-la na forma diferencial
dE
= dQ − dW .
A função energia interna é uma variável de estado: dE é uma diferencial exata. Isto
é surpreendente, pois a diferença entre duas diferenciais inexatas resulta em uma exata!
E somente esta diferença dá uma diferencial exata: qualquer outra relação tal
como 2dQ − dW , ou dQ − 3dW , depende do caminho seguido pela evolução do sistema
e, portanto, resulta em uma diferencial inexata.
Existem situações para as quais as diferenciais inexatas se tornam exatas. É o que
veremos no exemplo seguinte.
EXEMPLO 7.3
Usando a primeira lei, analise as transformações: (1) isovolumétrica, (2) isobárica, (3)
adiabática, (4) isotérmica. (para todas as transformações considere um gás ideal).
Solução:
(1) Como o volume se mantém constante, o trabalho mecânico realizado pelo sistema
ou sobre ele é nulo. Pela 1ª lei temos:
∆E =
Q . Neste caso, o calor é igual à variação da energia interna dE = dQ , isto é, a
diferencial inexata se transforma em uma exata.
(2) A variação da energia interna é dada por: ∆E = Q − p∆V .
(3) Para este processo não há troca de calor entre o sistema e o meio exterior, portanto,
∆Q =
0 . A variação da energia interna é escrita como ∆E =
W ou, na forma diferencial,
dE = dW . A diferencial inexata dW se transforma em uma exata.
119
FÍSICA GERAL II
(4) Para um gás ideal, a energia interna é somente função da temperatura e como em
0 . Portanto,
um processo isotérmico não há variação de T, pode-se concluir que ∆E =
a primeira lei nos dá Q = W : o calor que entra no sistema é convertido totalmente em
trabalho realizado pelo sistema. Podemos avançar um pouco mais na análise. Se o gás
se expande isotermicamente, havendo, pois, uma absorção de calor. Se o gás se contrai
isotermicamente, ∆V > 0 ⇒ W > 0 e, nesse caso, acontece uma rejeição de calor.
EXEMPLO 7.4
O diagrama pV da figura 7.8 indica uma série de processos termodinâmicos. No processo ab, são fornecidos 150 J de calor ao sistema e no processo bd, fornecem-se 600 J.
a) Encontre a variação da energia interna do sistema no trecho ab.
b) Qual a variação da energia interna no percurso abd?
c) Achar a variação da energia interna no trecho acd.
Figura 7.8 - Os processos
citados no Exemplo 7.4.
Solução:
a) No trecho ab o volume permanece fixo, portanto, o trabalho mecânico realizado pelo
sistema é nulo. Então, a primeira lei da termodinâmica se resume a Q = ∆E ∴∆E = 150 J .
b) Para o percurso abd, temos processos consecutivos: a → b → d . A pressão se mantém
constante durante a expansão b → d ; logo, Wb→d = p∆V =8 ×104 (3 ×10−3 ) ∴Wb→d =240 J .
Pelo item (a), sabemos que o trabalho é nulo no trecho a→b. Então,
Wabd = Wab + Wbd = 240 J .
O calor total que entra no sistema no percurso abd é dado pela soma de ambas as
absorções; Qabd = Qa →b + Qb→d = 150 J + 600 J = 750 J .
A primeira lei da termodinâmica nos fornece a resposta:
Qabd = Qa →b + Qb→d = 150 J + 600 J = 750 J .
c) O trecho acd também é composto por dois processos consecutivos: a → c → d .
A pergunta é: precisamos calcular algo para saber qual a variação da energia interna entre os estados a e d? A resposta é não, porque a energia interna é uma variável de estado
e, portanto, só depende dos estados inicial e final. Ela tem o mesmo valor encontrado
no item (b): 510 J.
Mas vamos supor que queiramos encontrar o calor envolvido neste trecho.
No trecho c→d o volume se mantém constante e, portanto, o trabalho mecânico é nulo.
Para a→c, o trabalho é Wa →c = p∆V =3 × 104 (3 × 10−3 ) ∴Wa →c =90 J =Wa →d .
A primeira lei nos dá Qad =∆E + Wad =510 J + 90 J ∴ Qad =600 J .
Observe que não é possível conhecer, pelos dados do problema, o calor envolvido nos
trechos individuais ac e bd; tampouco se conhecem as variações da energia interna nos
trechos ab e bd.
Figura 7.9 - Ciclo arbitrário no diagrama pV.
Processos Cíclicos
Os ciclos têm grande importância, tanto no aspecto teórico como nas aplicações
tecnológicas. Para estas últimas, podemos citar os motores de combustão e os refrigeradores.
Um ciclo pode ser caracterizado por uma expansão e uma compressão e o sistema
voltando ao estado inicial. A figura 7.9 mostra um ciclo arbitrário no diagrama pV. Um
ciclo é representado no diagrama pV como uma curva fechada. Quando o sistema completa
um ciclo, cada variável de estado retorna ao seu valor inicial.
As variáveis de estado que conhecemos até agora são p, V, T e Einterna . Em particular, a
variação da energia interna do sistema após um ciclo é zero (como o é para toda variável
de estado).
∆Einterna =
0 para um processo cíclico.
120
EXEMPLO 7.5
A figura 7.10 mostra diversos processos termodinâmicos sofridos por um sistema físico. Ao longo do caminho acb, uma quantidade de calor igual a 90 J flui para dentro do
sistema e um trabalho de 60 J é realizado por ele.
a) Qual o calor que é absorvido pelo sistema ao longo do percurso adb, sabendo-se que
um trabalho de 15 J é realizado pelo sistema?
b) Quando o sistema retorna de b para a ao longo do trecho curvo, o valor absoluto do
trabalho realizado pelo sistema é de 35 J. O sistema absorve ou libera calor? Qual é este
valor?
c) Sabendo-se que ∆Eda =
8 J , calcule os calores absorvidos nos processos ad e db.
Solução:
Uma fonte permanente de erros na resolução de problemas deste tipo é a falta de um
procedimento sistemático. Portanto, convém identificar inicialmente com clareza o que
é dado e o que é pedido. Fique atento também aos resultados correspondentes aos itens
porque, em geral, eles podem ser usados em itens subsequentes.
Dados: Qacb = 90 J e Wacb = 60 J .
primeira Lei da
termodinâmica
Figura 7.10 - Os processos termodinâmicos para
o exemplo 7.5.
a) Os dados permitem conhecer o valor da variação da energia interna entre os pontos a
e b (lembre-se de que essa variação independe do caminho).
Qacb =
∆Eacb + Wacb ⇒ ∆Eacb =
Qacb − Wacb ∴∆Eacb =
90 J − 60 J =
30 J .
Queremos obter o calor que o sistema absorveu no trecho adb, sabendo-se que foi realizado um trabalho de 15 J.
∆Eacb =
∆Eadb =
30 J , portanto, a primeira lei nos fornece
Qadb =
∆Eadb + Wadb ⇒ Qadb = 30 J + 15 J ∴ Qadb = 45 J .
b) O trabalho tem valor absoluto de 35 J. Observe que a variação de volume de b→a é
negativa e, portanto, o trabalho realizado pelo sistema é negativo: Wb→a ≡ Wba =
−35 J . De
forma semelhante, a variação da energia interna também é negativa: ∆Eba = −∆Eab . Mas
pelo item (a), ∆Eab = 30 J ∴∆Eba = −30 J . A soma do trabalho (negativo) com a variação
(negativa) da energia interna dá um valor negativo para o calor. Portanto, no trecho adb há
liberação de calor pelo sistema. O valor numérico deste calor obtem-se através da primeira
lei: ∆Qba =
−30 J − 35 J ∴∆Qba =
−65 J .
c) Pede-se calcular o calor nos trechos ad e db, sabendo-se que ∆Eda =
8J .
Vamos considerar inicialmente o trecho db: neste trecho o trabalho mecânico é zero
porque não há variação de volume ⇒ Wdb =
0 . Do item (a) conhecemos a variação da
energia interna entre os pontos a e b: ∆Eab =
30 J que pode ser escrita como a soma de
duas contribuições: ∆Eab =
∆Ead + ∆Edb ∴∆Edb =
∆Eab − ∆Ead ⇒
⇒ ∆E=
30
J
−
8
=
J
22
J
.
Como
o
trabalho
é
nulo,
Qdb =
∆Edb =
22 J .
db
Qad + Qdb . Pelo item (a), Qadb
Para calcular o calor Qad , usamos os fatos de que Q=
adb
é conhecido e vale 45 J. Então, temos,
Qadb = Qad + Qdb ⇒ 45 = Qad + 22 ∴ Qad = 23 J .
7.4 Gás Ideal: Energia Interna E Calor Específico
Temos usado um gás ideal como sistema termodinâmico em diversos exemplos.
Mas o que determina se um gás é ideal ou não? Sob que condições um gás pode ser
considerado ideal? A resposta que muitas vezes se encontra em livros textos é que “um gás
é ideal quando sua pressão for baixa e sua temperatura for alta”. Obviamente, falta definir
o que é baixa e o que é alta. Entretanto, existe uma definição um pouco mais precisa:
121
FÍSICA GERAL II
um gás é dito ideal quando as interações entre as partículas que o compõe podem ser
desprezadas, exceto nos raros instantes em que elas colidem umas com as outras. Isto está
um pouco melhor, mas como saber se elas interagem de forma tão fraca e tão raramente?
Um dos potenciais que descreve bastante bem a interação entre duas moléculas de um gás
é o potencial de Lennard-Jones (também conhecido potencial 6-12, devido aos expoentes
da distância que separa as moléculas). A força decai rapidamente a zero com a separação
das moléculas e cresce rapidamente quando as partículas se encontram muito próximas, na
iminência de uma colisão. Para complementar o argumento, pode-se mostrar, baseando-se
em considerações quânticas que a separação média entre as partículas é muito maior que o
valor médio do comprimento de onda de de Broglie. Isto quer dizer que, durante a maior
parte do tempo, a molécula se comporta como uma partícula livre. Por exemplo, o ar
(mistura basicamente de nitrogênio e oxigênio) à temperatura ambiente e pressão normal
de 1 atm (≈ 105 Pa), pode ser tratado como gás ideal? Qualquer gás, e não somente o ar,
pode ser considerado ideal sob essas condições. A idealidade é menos restritiva: mesmo
quando a pressão é cerca de 4 atm e a temperatura é próxima à do ambiente, o gás ainda
preserva o comportamento ideal.
A equação de Clapeyron é a equação de estado que descreve um gás ideal:
pV = nRT (Equação de Clapeyron).
Ela é a síntese de diversos experimentos que resultaram em duas leis empíricas:
Lei de Boyle-Mariotte → pV = constante (quando se mantém constante a temperatura).
Lei de Charles e Gay-Lussac →
V
= constante (quando se mantém fixa a pressão).
T
A equação de estado de Van der Waals,

an 2 
+
p
(v − nb) =
nRT ,

2 
V


descreve o comportamento de um gás real com maior precisão que a de Clapeyron,
introduzindo os parâmetros a e b. Esta equação (obtida de forma empírica) considera a
interação entre as moléculas (parâmetro a) e o volume ocupado por elas (parâmetro b).
Obviamente, se a e b tendem a zero, recuperamos a forma da equação de Clapeyron. A
escolha de uma ou de outra depende da precisão que se deseja nos cálculos. Nosso estudo
sobre o comportamento dos gases está baseado na equação de Clapeyron.
Energia interna de um gás ideal
No início da secção 3 comentamos sobre as contribuições para a energia interna
de um sistema. Agora queremos, especificamente, tratar de um gás ideal. Imagine certo
volume ocupado por um gás composto de, por exemplo, moléculas diatômicas (N2, O2,
H2), ou ocupado por um gás monoatômico (He, Ne, Ar). Para gases monoatômicos a
energia interna é praticamente representada pelo movimento de translação pura, dentro da
faixa de temperatura que usualmente trabalhamos (até T ≈ 1000 K). Para gases diatômicos
temos outras contribuições para a energia interna, além da translação do centro de massa
das moléculas: a energia de rotação em torno do centro de massa e a energia de vibração em
torno do ponto de equilíbrio. Entretanto, a única contribuição que deve ser considerada
para a pressão do gás é a parte translacional. As outras contribuições são importantes
para outras características dos gases, como veremos ao estudar o calor específico de um
gás ideal.
É possível mostrar que a energia interna de um gás ideal é somente função da
temperatura: Einterna = E(T) . Ela não depende de qualquer outro parâmetro (variável de
estado). Adicionalmente, pode-se mostrar que a energia interna de um gás ideal formado
por n moles é dada por
122
3
nRT (energia interna de gás ideal).
2
Lembre-se de que a temperatura é sempre expressa em Kelvin.
Eint erna =
primeira Lei da
termodinâmica
Calor específico de um gás ideal
O calor específico de uma substância depende das condições segundo as quais se
fornece calor ao sistema. Para sólidos e líquidos, essa dependência é quase irrelevante,
porém, para gases é importante que se explicitem essas condições. Isto porque a
compressibilidade de sólidos e líquidos é muito menor que a dos gases. Para os primeiros,
geralmente se mede o calor específico mantendo-se a pressão constante e que é denominado
calor específico a pressão constante. Os valores fornecidos nas tabelas e aqueles usados
nos exemplos do capítulo anterior são todos medidos a pressão constante. Para os gases
temos duas (entre inúmeras) condições muito importantes que determinam o calor
específico: define-se o calor específico molar a volume constante, Cv , e o calor específico
molar a pressão constante Cp . O primeiro é medido usando-se um processo isocórico (ou
isovolumétrico), enquanto que, para o segundo, usa-se um processo isobárico. Existe uma
relação matemática bastante simples entre os dois valores, que será obtida a seguir.
Calor específico a pressão constante
Certa quantidade de gás, formada por n moles é colocada dentro de um recipiente de
volume constante. Fornecemos calor de forma infinitesimal, dQ, ao sistema para elevar
sua temperatura de um valor dT. Pela definição de calor específico molar a volume
constante, temos:
dQ = nCV dT .
A pressão do gás aumenta, mas nenhum trabalho mecânico é realizado por ele porque temos
mantido o volume fixo. Nestas condições, a primeira lei da termodinâmica se reduz a
dQ = dE ⇒ dE = nCV dT .
Os mesmos n moles poderiam ser aquecidos de maneira diferente, mantendo-se a pressão
constante e deixando o volume variar (processo isobárico). Pela definição de calor
especifico a pressão constante,
dQ = nC p dT .
O calor que flui para dentro do sistema é dividido em duas partes: uma utilizada para
variar a energia interna do gás e outra usada para que o gás realize trabalho. No processo
isobárico, dW = pdV. Da equação de gás ideal, pV = nRT, podemos expressar a quantidade
dV em função de n, R e dT:
d ( pV=
) d (nRT ) ⇒ dp.V + pdV= nRdT .
Como a pressão é mantida constante, dp é nulo. Portanto, temos
pdV = nRdT ⇒ dW = nRdT .
A primeira lei da termodinâmica nos dá
dQ = dE + dW ⇒ dQ = dE + nRdT . Mas dQ = nC p dT e podemos escrever:
nC p dT
= dE + nRdT .
Podemos substituir o valor dE obtido para o processo isovolumétrico, dE = nCV dT , na
relação acima para obter,
CV + R .
nC p dT = nCV dT + nRdT ⇒ C=
p
123
FÍSICA GERAL II
Esta é a relação entre Cp e CV que procurávamos.
Mas observe o que foi feito para sua dedução: simplesmente substituímos a
expressão de dE obtida no processo isovolumétrico na expressão do processo isobárico.
Isto é justificável? A resposta é sim, desde que consideremos o gás como sendo ideal. Se
você se lembrar, a energia interna de um gás ideal depende somente da temperatura. E
para um mesmo incremento dT, é irrelevante a que tipo de processo o gás foi submetido:
sua energia interna sofre o mesmo acréscimo quando a temperatura é aumentada por dT.
A razão entre os valores dos calores específicos, Cp e CV , é designada pela letra
grega γ:
γ≡
Cp
C +R
R
=V
=
1+
> 1.
CV
CV
CV
Essa grandeza é a mesma que aparece no processo adiabático, pV γ = constante.
Já conhecemos a expressão para a energia interna de um gás ideal:
Eint erna =
3
nRT .
2
dE 3
= nR . Anteriormente estabelecemos a relação dE = nCv dT a partir da
dT 2
definição de calor específico molar. Igualando as duas quantidades, temos:
3
dE 3
nR nCV ∴ C V = R .
=
=
2
dT 2
O valor numérico desta relação é dado por,
Então,
3
3
CV = R ⇒ CV = × 8,31 J/mol.K =12, 47 J/mol.K .
2
2
TIPO DE GAS
GAS
Cv (J/mol.K)
Cp(J/mol.K)
Cp-CV (J/mol.K)
γ = Cp C V
MONOATÔMICO
He
Ar
H2
N2
O2
CO
CO2
SO2
12,47
12,47
20,42
20,76
20,85
20,85
28,46
31,39
20,78
20,78
28,74
29,07
29,16
29,16
36,95
40,47
8,31
8,31
8,32
8,31
8,31
8,31
8,48
8,98
1,67
1,67
1,41
1,40
1,40
1,40
1,30
1,29
DIATÔMICO
POLIATÔMICO
TABELA 7.1 - Calor específico molar para gases (25 oC).
Os dados experimentais para os gases monoatômicos concordam muito bem com
os resultados teóricos que obtivemos. Entretanto, para os gases diatômicos percebem-se
discrepâncias entre os valores de CV e Cp previstos e os determinados experimentalmente.
Nossa hipótese era de que, independente da estrutura da partícula que compõe o gás, os
valores de calores específicos molar deviam ter os mesmos valores. Isso porque a energia
interna do gás foi considerada como sendo exclusivamente devido à parte translacional.
Esta hipótese se ajusta muito bem em relação a pressão, porém, para as características
calorimétricas do gás ela não oferece bons resultados. Para os gases diatômicos é de
suspeitar que exista uma outra contribuição para a energia interna: mesmo à temperatura
ambiente, a parte rotacional das moléculas deve ser considerada. A parte vibracional,
entretanto, começa a contribuir somente a temperaturas próximas a 1000 oC. Em síntese,
devemos alterar o valor da energia interna para gases diatômicos:
Ediatomico =
124
5
nRT (gás diatômico).
2
A figura 7.11 mostra a dependência do calor específico molar do H2 em função da
temperatura. Outros gases diatômicos apresentam comportamento semelhante, mas os
patamares da curva surgem a diferentes temperaturas.
primeira Lei da
termodinâmica
Figura 7.11 - Capacidade térmica molar do hidrogênio.
O fator numérico 5/2 na energia interna para gases diatômicos, que substituiu o
fator 3/2 referente a gases monoatômicos, pode ser justificado por um teorema chamado
teorema da equipartição da energia. Seu enunciado é bastante simples:
“Cada grau de liberdade presente em cada molécula contribui com 1 kT para a
2
energia interna do gás”
A constante k que aparece na relação acima é a famosa constante de Boltzmann. A
constante dos gases, R, está definida em termos de k através da igualdade
R = kN avogrado .
EXEMPLO 7.6
Certa quantidade de um gás diatômico ideal sofre um processo que está representado no
diagrama PV, mostrado a figura 7.12.
Dados: R = 8,31 J/mol.K; Tinicial = 600 K .
a) Achar o número de moles do gás.
b) Qual a temperatura final do sistema?
c) Encontrar a variação da energia interna.
d) Determinar o trabalho realizado pelo gás.
e) Qual o calor trocado com o ambiente?
Solução:
Todas as unidades estão no SI, portanto, não há necessidade de se fazer qualquer conversão.
a – Como o gás é ideal, podemos usar a equação de Clapeyron:
104 (N/m 2 ) × 3 ×10−1 (m3 )
3 ×103
=
∴ n ≈ 0.6 moles.
pV= nRT ⇒ piV=
nRTi ∴=
n
i
8,31(J/mol.K) × 600(K) 8,31× 600
Figura 7.12 - Diagrama
PV para o exemplo 7.6.
b – Novamente podemos usar a equação de gás ideal:
p f V f= nRT f ⇒ T f=
4 ×103 ×10−1
≈ 80 K .
8,31× 0, 6
125
FÍSICA GERAL II
5
nR∆T .
c – Foi dado que o gás é diatômico, portanto, ∆E=
2
5
∆E = × 0, 6 × 8,31× (80 − 600) =−3,9 ×103 J.
2
d – O cálculo do trabalho pode ser feito através da área da figura no diagrama pV. Este
procedimento já foi utilizado no exemplo 2.2. A área total é composta da área A1 referente
ao retângulo e uma área A2, de um triângulo. Observe que o processo envolve uma compressão e, portanto, o valor do trabalho é negativo: foi feito um trabalho sobre o sistema.
A1 =
4 ×103 (0,1 − 0,3) =
−800 J .
1
A2 = × 6 ×103 (−0, 2) =−600 J .
2
Então, Wi → f = −1400 J.
e – A primeira lei da termodinâmica nos fornece o calor trocado:
Q =∆E + W ⇒ Q =−3900 J − 1400 J ∴ Q =−5300 J . O sinal negativo indica que o
sistema cedeu calor para o meio ambiente.
EXEMPLO 7.7
Qual o valor da velocidade média de uma molécula de N2 a 300 K e a pressão atmosférica?
Solução:
Suponha que tenhamos um mol de gás. A energia interna para moléculas diatômicas de um
gás ideal, a essa temperatura, é composta de duas partes: uma translacional e outra rotacional.
3
1
 5
E =Etranslação + Erotação = RT + 2  RT  = RT
2
2
 2
Estamos interessados na velocidade da partícula, portanto, só temos que considerar a
parte translacional.
1
3
=
Mv 2
RT (onde M é a massa do gás).
2
2
3
A energia cinética de um mol de nitrogênio é Ecinética = × 8,31× 300 =
3, 74 ×103 J .
2
Etranslação
= E=
cinética
Para uma molécula:
ε=
cinética
3, 74 ×103
≈ 6, 23 ×10−21 J .
6, 02 ×1023
A massa de uma molécula é dada=
por: m
28 ×10−3 kg
⇒ m ≈ 2,33 ×10−26 kg .
23
6, 02 ×10
Então, a velocidade média de uma molécula pode ser escrita:
1
2
6, 23 ×10−21 ∴ v ≈ 520 m/s
× 4, 6 ×10−26 v=
2
Este valor está próximo às velocidades das partículas que compõem nossa atmosfera.
126
EXEMPLO 7.8
Mostrar que quando um gás ideal sofre um processo adiabático, tem-se pV γ = constante.
primeira Lei da
termodinâmica
Solução:
Em um processo adiabático não há troca de calor entre o sistema e o exterior: todo calor
gerado fica retido e, portanto, a temperatura varia. Isto acontece, por exemplo, quando o
som se propagada pelo ar: a onda sonora comprime e expande rapidamente certa massa
de ar de tal forma que não há tempo suficiente para que ela troque calor.
A energia interna de um gás ideal é função somente da temperatura. Para qualquer tipo
de processo que ocorra, uma variação dT da temperatura corresponde a uma variação
dE da energia interna, dada por:
dE = nCV dT .
Da primeira lei, dQ = dE + dW ⇒ 0 = dE + dW ∴ dE = −dW .
Então, temos
nCv dT = − pdV .
nRT
Usamos agora a equação de Clapeyron: pV= nRT ⇒ p=
. Substituindo na equaV
ção acima, temos
nRT
dT
R dV
nCV dT =
−
dV ⇒
=
−
V
T
CV V .
C p − CV dV
dT
dV
R∴
=
−
=
−(γ − 1)
⇒
Mas sabemos que C p − CV =
T
CV
V
V
dT
dV
. Podemos integrar essa equação:
⇒
=
(1 − γ )
T
V
T
V
dT ′
dV ′
1−γ
=
−
(1
γ
)
∫T T ′
∫V V ′ ⇒ ln T − ln Ti =(1 − γ ) [ln V − ln Vi ] =ln(V / Vi )
i
i
⇒ ln T − ln Ti = ln V 1−γ − ln Vi1−γ ∴ ln T − ln V 1−γ = ln Ti − ln V 1−γ
Portanto, temos o resultado:
T
T
T
T
ln 1−γ = ln 1−i γ ⇒ 1−γ = 1−i λ . Como Ti e Vi são constantes (condições iniciais do
V
Vi
V
Vi
problema) podemos escrever
TV γ −1 = constante.
pV
Usando novamente a lei dos gases ideais, T =
, que pode ser substituída na relação
nR
acima para obtermos
γ
pV=
nR × constante = outra constante.
No diagrama pV, uma adiabática tem inclinação maior do que aquela correspondente a
dp
uma isotérmica. Você seria capaz de mostrar isso? Inicie calculando
para ambos os
dV
processos em um ponto comum (pi , Vi , Ti ) para as duas curvas.
Figura 7.13 - Ciclo para o
exemplo 7.9.
EXEMPLO 7.9
O sistema passa por um ciclo mostrado na figura 7.13, com p0 = 100 kPa e V0 = 1litro.
No trecho a→b o sistema absorve 450 J de calor; no trecho b→c ele absorve 200 J.
A energia interna em 1 vale 200 J.
a) Determine a energia interna no ponto b.
b) Encontre a energia interna no ponto c.
c) Qual o trabalho no ciclo?
d) O sistema absorve ou cede calor no trecho c→a?
e) Qual a variação da energia interna no ciclo?
127
FÍSICA GERAL II
Solução:
A unidade de volume não está no SI: 1 litro = 10-3 m3.
100 kPa = 105 Pa = 105 N/m2.
a – A energia no ponto b pode ser calculada pela primeira lei.
Wab = p0 ∆V = p0 (2V0 ) ⇒ Wab = 105 (N/m 2 ) × 2 ×10−3 (m3 ) = 200 J.
Qab =∆E + Wab =( Eb − Ea ) + Wab ∴ Eb =450 + 200 − 200 =450 J.
b – O trabalho realizado no trecho bc é nulo. Portanto, pela primeira lei, temos:
Qbc = ( Ec − Eb ) ⇒ 200 J = Ec − 450 J ∴ Ec = 650 J.
c – O trabalho no ciclo pode ser obtido pelas áreas: no caso de um ciclo, o trabalho é
dado, em módulo, pela área da figura envolvida pelas curvas. Existe uma regra prática
para se determinar o sinal do trabalho: observe o sentido do percurso. Se for anti-horário, o trabalho é negativo; se for horário, o trabalho é positivo. Você pode justificar isso?
A área envolvida é a de um triângulo:
1
=
Wabc
=
( 2V0 p0 ) 200 J . Como o sentido é anti-horário, Wabc = −200 J .
2
d – Queremos calcular Qca .
∆E =Ea − Ec ⇒ 200 J − 650 J =−450 J .
Calcular o trabalho realizado no trecho ca através das áreas determinadas pelo retângulo e pelo triângulo, pode ser um risco pelo fato de se ter complicações na escolha dos
sinais. Neste caso, é mais seguro obter o trabalho por integração.
A equação da reta que passa por c e a pode ser encontrada calculando-se primeiramente
seu coeficiente angular, m:
∆p pa − pc
105 − 3 ×105
m=
=
⇒ m=
∴ m= 108  Pa/m3  .
−3
−3
10 − 3 ×10
∆V Va − Vc
A equação da reta é dada por
5
p − p=
m(V − V0 ) ⇒ p − 10=
108 (V − 10−3 ) ∴ p= 108V .
0
10−3
2
V
Wca =
10 ×
∫ −3 10 VdV =
2
3×10
8
8
10−3
10−6 9 ×10−6 
⇒ 10 
−
∴Wca =
−400 J.
2 
 2
8
3×10−3
Pela primeira lei, temos então,
Qca =
∆Eca + Wca =
−450 J − 400 J =
−850 J . O sinal negativo indica que houve liberação de calor pelo sistema.
e – A variação da energia interna é nula porque o ponto final coincide com o ponto inicial.
Exercícios
Sugestão: a combinação da lei dos gases ideais com a primeira lei da termodinâmica pode
ser útil em diversos problemas.
1. Dois mols de um gás ideal são aquecidos à pressão constante, desde 300 K até 380 K.
(a) Usando um diagrama pV, faça um esboço deste processo. (b) Calcule o trabalho
realizado pelo gás.
128
2. Três mols de um gás ideal estão à temperatura de 127 ºC. Enquanto a temperatura é
mantida constante, o volume aumenta até que a pressão caia a 40% do valor inicial.
a) Desenhe um diagrama pV para este processo.
b) Qual o trabalho realizado pelo gás?
primeira Lei da
termodinâmica
5
3. Um gás sob pressão constante de 1,5 ×10 Pa e com volume inicial de 0,09 m3 é resfriado
até que seu volume fique igual a 0,06 m3.
a) Esboce um diagrama pV para o processo.
b) Calcule o trabalho realizado pelo gás.
4. Na figura 7.14, considere o processo cíclico 1 → 3 → 2 → 4 → 1 .
a) Encontre o trabalho para este ciclo e mostre que ele é igual à área do interior da
curva.
b) Que relação existe entre o valor obtido em (a) e o valor calculado no sentido
inverso do ciclo?
5. Um gás ideal passa pelo processo ilustrado na figura 7.15. Inicialmente o gás sofre uma
descompressão isobárica e, em seguida, por uma compressão isotérmica. Determine o
trabalho realizado pelo gás,
a) Na expansão isobárica.
b) Na compressão isotérmica.
c) Em todo o processo.
Figura 7.14
Figura 7.15
6. Considere novamente a figura do problema 5. É possível, em termos dos mesmos
processos, que o trabalho realizado seja nulo. Supondo o mesmo processo isobárico,
encontre o volume final do processo isotérmico para que isto ocorra.
7. Na figura 7.16, um fluido passa por um processo isobárico 1→2, no qual o calor
absorvido a pressão constante é 10 kJ e, em seguida sofre um processo isocórico 2→3,
no qual o calor absorvido a volume constante vale 11 kJ.
A energia interna no ponto 1 é E1 = 5 kJ.
a) Encontre E2 e E3 .
b) Se o fluido passa por um processo 3→1, no qual W31 = 6,6 kJ, determine Q31 .
Figura 7.16
8. Em certo processo químico, um técnico de laboratório fornece 254 J de calor para o
sistema. Simultaneamente, são realizados 73 J de trabalho sobre o sistema. Qual é o
aumento da energia interna desse sistema?
9. Um sistema evolui do estado a até o estado b ao longo dos três caminhos mostrados na
figura 7.17.
a) Ao longo de qual caminho se tem o maior trabalho? E o menor?
b) Sabendo-se que Eb > Ea , ao longo de qual caminho o valor absoluto do calor, Q ,
trocado com o ambiente é maior? Para este caminho, o calor é positivo ou negativo?
Figura 7.17
10. Um sistema realiza um ciclo indicado na figura 7.18. O valor absoluto do calor
transferido é 7200 J.
a) O sistema absorve ou libera calor para o ciclo indicado?
b) Calcule o trabalho realizado pelo sistema neste processo cíclico.
c) Se o ciclo for percorrido em sentido inverso, o sistema libera ou absorve calor?
d) Qual é este valor?
129
FÍSICA GERAL II
Figura 7.18
11. (Calor específico) Um cilindro contém 0,01 mols de He a 300 K.
a) Qual o calor necessário para aumentar sua temperatura para 340 K, mantendo-se o
volume constante? Faça um diagrama pV para este processo.
b) Se em vez de se manter o volume constante mantém-se a pressão constante, qual
seria o calor necessário para atingir a mesma temperatura de 340 K? Esboce um
diagrama pV para este processo.
c) Qual seria o fator responsável pela diferença entre os valores encontrados (a) e (b)?
d) Qual a variação o da energia interna no item (a)?
12. Um mol de He passa pelo processo mostrado na figura do problema 7. O calor
específico molar a volume constante é 12,5 J/mol.K e, a pressão constante, ele vale
20,8 J/mol.K.
a) Calcule a diferença de energia interna no percurso 1→2.
b) Qual a variação da energia interna no trecho 2→3?
c) Encontre a diferença de energia interna no trecho 3→1.
13. (Calor específico) Considere o gás propano (C3H8) como um gás ideal com
γ = 1,127 . Determine o calor específico molar a volume constante e o calor
específico molar a pressão constante.
14. O calor específico a pressão constante do alumínio varia quase linearmente com a
temperatura. A 300 K seu valor é 24,4 J/mol.K e a 600 K ele vale 28,1 J/mol.K.
a) Estabeleça uma expressão matemática da forma C p= A + BT , calculando as
constantes A e B a partir dos dados fornecidos.
b) Construa um gráfico para esta dependência.
c) Determine a quantidade de calor absorvida por 2,5 mols de Al quando sua
temperatura cresce de 300 K para 500 K, a pressão constante.
15. Certa quantidade de ar (gás ideal) vai do estado a até ao estado b ao longo da reta no
diagrama pV, conforme mostrado na figura 7.19.
a) Neste processo, a temperatura aumenta, diminui ou se mantém constante?
3
1, 4 ×105 Pa , qual o
b) Se Va = 0, 07 m3 , Vb = 0,11m , pa = 105 Pa e p=
b
trabalho realizado pelo gás?
Figura 7.19
130
primeira Lei da
termodinâmica
Anotações
131
FÍSICA GERAL II
Anotações
132
8
Segunda Lei da
Termodinâmica
8.1
Introdução
8.2
Sentido de um processo termodinâmico
8.3
Máquinas térmicas
8.4
Ciclo de Carnot
8.5
Entropia
133
8 SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA
FÍSICA GERAL II
8.1 Introdução
Você provavelmente já deve ter lido ou escutado advertências sobre conservar
energia. Entretanto, a primeira lei da termodinâmica é uma afirmação de que a energia
é sempre conservada. Então, para que se fazem tantas campanhas para poupar energia
se, não importa o que fizermos, a energia sempre se conserva? Isto está correto,
porém, existem formas de energia que tem mais utilidade do que outras e a primeira
lei conta parte da história. A outra parte é contada pela segunda lei da termodinâmica.
A possibilidade ou a impossibilidade de se usar energia é o conteúdo da segunda lei.
Pode-se perguntar porque alguns processos acontecem de forma espontânea
e outros nunca foram registrados na Natureza. Por exemplo, é muito fácil transformar
energia em calor: quando um bloco, com certa energia cinética, desliza sobre um plano
horizontal com atrito, sua velocidade diminui gradativamente
até que ele atinja o repouso. Ao fim do processo, ambas as
superfícies ficam aquecidas: toda energia cinética foi convertida
em calor, aumentando as energias internas da superfície e do
bloco. Mas ninguém jamais relatou que um bloco, deixado
sobre uma mesa, espontaneamente começou a se movimentar
devido à retirada de energia interna da mesa e do próprio
bloco. Note que este último processo não contraria a primeira
lei: sua impossibilidade está contida na segunda lei. Outra
situação que se apresenta de forma assimétrica: imagine um
mol de certo gás (ideal, se você quiser) confinado na metade
de um recipiente de volume total V. Na outra metade é feito
Figura 8.1 - As situações
vácuo (figura 8.1). Entre os dois volumes, aquele que contém inicial e final do processo de
o gás e o outro vazio, existe uma membrana que, uma vez expansão livre.
rompida, permite que o gás se expanda por todo o volume V.
Após a expansão, é possível observar novamente o gás ocupando o volume inicial
V/2? Esta situação jamais será observada. Se isto ocorrer não há violação da primeira lei
da termodinâmica. Mas, certamente, violaria a segunda lei. Será que a palavra jamais está
bem empregada? Para verificar, vamos fazer um cálculo simples e rápido. Existem 6 × 1023
moléculas no recipiente e a probabilidade de uma delas estar, por exemplo, na metade à
esquerda é 1 2 (isto porque o volume foi dividido em duas partes iguais). A probabilidade de
2
duas delas estarem nessa parte do recipiente é
3
1 1 1 1
× = =   . Para três moléculas, temos
2 2 4 2
1 1 1 1 1
× × = =   . A regra geral é imediata: a probabilidade de que todas as moléculas
2 2 2 8 2
6×1023
1
.
se encontrem, em determinado instante, na metade à esquerda do recipiente é  
2
23
Que significa este número? Ele pode ser escrito como 2−6×10 = 2−60.000.000.000.000.000.000.000 .
Se você considerar que este número, extraordinariamente pequeno, como sendo zero,
então a palavra jamais está bem empregada. Caso contrário, pode-se dizer que embora
possível de acontecer, o evento é “muito extraordinariamente” improvável. Para se ter uma
pálida idéia do que estamos falando, suponha um sistema mais modesto, com apenas 120
moléculas. Se você se propõe a filmar o sistema (com uma superfilmadora capaz de registrar
o movimento das partículas do gás) para documentar o instante no qual todas as moléculas
migram espontaneamente para o volume V/2 à esquerda, vai precisar de um tempo da
ordem de 10 vezes a idade do universo. Este é um processo claramente irreversível. De
134
forma semelhante, nunca se registrou que um bloco metálico inicialmente em equilíbrio
térmico espontaneamente se esfrie em uma extremidade e se aqueça na outra, criando uma
diferença de temperatura entre elas às expensas de sua energia interna. Ou você já escutou
alguém contar que “desfritou” algum ovo? A Natureza desconhece o comando desfazer
e a segunda lei da termodinâmica resume o fato da impossibilidade de que os processos
acima descritos possam ocorrer espontaneamente.
Segunda Lei da
termodinâmica
8.2 Sentido de um Processo Termodinâmico
Os processos que ocorrem na Natureza são todos irreversíveis: ocorrem em
um sentido, mas não ocorrem no sentido inverso. Apesar desta preferência, podemos
imaginar uma classe de processos idealizados que poderiam ser reversíveis. Um
sistema que realiza esse processo reversível ideal está sempre muito próximo do
equilíbrio termodinâmico com as vizinhanças e no interior do próprio sistema. Definese, então, processo reversível como sendo aquele que está sempre em equilíbrio
termodinâmico. Por esta razão é que chamamos tais processos de quase-equilíbrio.
A expansão do gás, discutida na seção anterior, é um processo que em nenhum
momento está em equilíbrio: somente no final o sistema atinge o equilíbrio. A figura
8.2 mostra, de forma bastante pitoresca, a situação de uma absurda reversibilidade.
O estado aleatório ou o grau de desordem do estado final de um sistema pode
ser relacionado com o sentido da realização de um processo natural. Por exemplo,
imagine que você tenha colocado em ordem as cartas de um baralho, separando por
naipe e em ordem crescente de valor. Quando você atirar esse baralho para o alto, ao
chegar ao solo, você esperaria que ele se mantivesse ordenado como no estado inicial?
A experiência tem mostrado que o baralho chega ao solo em um
estado de maior aleatoriedade (ou de maior desordem) do que possuía quando
estava ainda em suas mãos. O gás que sofreu uma expansão livre na secção
anterior possui um estado final mais desordenado do que o estado inicial.
Na figura 8.3 estão esquematizados um processo irreversível e um processo reversível. Em 3a temos uma quantidade
de gelo a 0 oC envolvido por uma
caixa metálica mantida a 70 oC.
Após certo tempo, o gelo se funde
e a água atinge a temperatura de
40 oC (este não é ainda um estado
de equilíbrio). Este é um processo
irreversível porque a diferença de
temperatura é finita (não infinitesimal). Na parte 3b, a caixa é mantida
a uma temperatura muito próxima a
0 oC e somente incrementos infinitesimais (positivos ou negativos) de
calor são permitidos. Dessa forma,
pode-se aquecer quase – estaticamente a água ( δQ positivo) ou resfriá-la quase – estaticamente, permitindo que pequenas quantidades Figura 8.3
de água voltem ao estado sólido a) Processo irreversível: o bloco de gelo derrete irreversível( δQ negativo). Esse procedimento mente quando colocado em uma caixa de metal;
b) Processo reversível: elevando ou diminuindo infinitesimalcaracteriza um processo reversível,
mente a temperatura da caixa o calor flui para o gelo ou o calor
porque pode-se reverter seu sentido. flui para a caixa e a água congela novamente.
Figura 8.2 - A sequência
poderia acontecer, mas é
altamente improvável.
QUESTÃO 8.1
As duas mãos estão
inicialmente à mesma
temperatura. O ato de
esfregar as mãos uma
na outra é um processo
reversível?
135
8.3 Máquinas Térmicas
FÍSICA GERAL II
A conversão de trabalho em calor ocorre espontaneamente quando o trabalho é
realizado por forças dissipativas tais como o atrito. Em dias frios é comum esfregar as mãos
para aquecê-las. O freio de um carro é efetivo devido às forças de atrito entre o disco e as
pastilhas e a energia dissipada na forma de calor gerado é transferida para o meio ambiente.
A conversão de calor em trabalho é uma questão um pouco mais delicada. Esta conversão é altamente conveniente do ponto de vista econômico. A energia transferida como trabalho presta-se a inúmeras aplicações práticas. Esta energia transferida
na forma de calor não pode ser usada diretamente, por exemplo, para se erguer certa
massa até a uma determinada altura; a simples queima de combustível não propicia a
um carro seu deslocamento: adianta muito pouco despejar um litro de gasolina sobre
a lataria de um automóvel e em seguida atear fogo. A não ser que o propósito seja apenas pirotécnico e não o de locomoção. Ou, talvez, o carro já tenha lhe dado dores de
cabeça suficientes... Excetuando essas duas últimas hipóteses, é necessário primeiro converter o calor em trabalho: é exatamente isso que uma máquina térmica faz.
Uma máquina térmica muito
simples está representada na figura 8.4.
Um cilindro metálico, provido de um
pistão móvel, contém certa quantidade de
um gás ideal. Inicialmente, este gás está
comprimido e seu estado é caracterizado
por uma pressão pi, um volume Vi e uma
temperatura T igual a do ambiente.
136
Figura 8.4 - Um gás comprimido que se expande
isotermicamente.
No capitulo anterior, vimos que em uma expansão isotérmica quase-estática, o
sistema absorve calor do meio para manter sua temperatura constante e o gás realiza trabalho sobre o pistão à medida que seu volume expande. Como o processo é isotérmico e
o gás é ideal, a variação da energia interna é nula, e pela primeira lei da termodinâmica,
Q = W . Neste processo, certa quantidade de calor absorvido, Q, é convertida em trabalho. Entretanto, este método de expansão simples não é muito satisfatório: ele acontece
uma única vez. Após ocorrer a expansão, a pressão do gás se iguala à da atmosfera, p0,
e o sistema fica em equilíbrio mecânico. Para fazer com o gás volte ao estado inicial,
precisamos realizar trabalho sobre o sistema para comprimí-lo. Parte do trabalho realizado pelo gás durante a expansão deve ser reinvestido sobre ele e fazê-lo retornar ao
estado inicial para uma expansão subseqüente. Para isto, vamos comprimir o gás por
um caminho diferente daquele da expansão, de tal forma, que o trabalho realizado sobre ele seja menor. A escolha requer pressões menores durante a compressão e o valor líquido é (1)
acrescentou-se calor ao sistema; (2) o gás retornou
ao estado inicial e está apto a realizar outra expansão; e (3) durante a expansão mais trabalho foi pelo
gás do que foi investido para completar um ciclo.
A figura 8.5 mostra o diagrama pV para este ciclo.
Em um ciclo qualquer (não necessariamente
igual ao que acabamos de discutir), sabemos
que o sistema realiza trabalho sobre o meio
durante a expansão (positivo), e durante a
compressão o meio realiza trabalho sobre o
Figura 8.5 - Ciclo para uma expansão
sistema (negativo). O trabalho resultante é dado
isotérmica quase-estática.
pela área compreendida pelo ciclo no diagrama
pV. Se o ciclo evolui no sentido horário, Wciclo > 0, e será negativo se ocorrer no
sentido anti-horário. Como ∆E =
0 para um processo cíclico, a primeira lei nos dá:
Qciclo = Wciclo .
Segunda Lei da
termodinâmica
Ou seja, o trabalho resultante realizado em um ciclo é igual ao calor líquido acrescentado
para o ciclo. Todas as máquinas térmicas operando em ciclo têm em comum algumas
características. Uma substância, chamada de substância de trabalho, passa por um
processo cíclico. O calor trocado é permutado com o meio pela substância de trabalho a
(pelo menos) duas temperaturas diferentes: o calor é
absorvido pelo sistema à temperatura mais elevada
e deve ser cedido para o meio a uma temperatura
mais baixa para completar o ciclo. É exatamente
este calor líquido (Qabsorvido = |Qcedido |) que representa
o trabalho realizado pelo sistema no ciclo. Esta
é uma conclusão geral e independe de como se
verifica o ciclo e do tipo de substância de trabalho.
Obviamente, alguns ciclos são mais eficientes do
que outros e nos projetos de uma máquina térmica
o objetivo é alcançar o maior rendimento possível.
O ciclo de Otto representa, de forma
idealizada, os processos cíclicos de um motor a
explosão. A figura 8.6 representa um ciclo para Figura 8.6 - Ciclo de Otto no diagrama pV.
esse processo. No ponto a, uma mistura de argasolina entra na câmara de combustão e é comprimida adiabaticamente até o ponto b.
Em seguida, é aquecida isocoricamente até o ponto c pela explosão da mistura devido
à corrente elétrica nos eletrodos da vela: é exatamente nesse trecho que acontece a
absorção de calor pelo sistema. A força motriz transferida do motor para as rodas se dá
no trecho adiabático cd. O calor deixa o sistema no trecho isocórico da. Completado
o ciclo, o sistema se posiciona para um novo ciclo a partir de sua posição inicial.
O rendimento є de uma máquina térmica é definido como a razão entre o trabalho
realizado e o calor absorvido pelo sistema:
є=
Qabs − Qcedido
Q
W
=
= 1 − cedido .
Qabs.
Qabs
Qabs.
O calor Qabs. é usualmente conseguido pela combustão de carvão, de derivados de
petróleo ou de outra espécie de combustível que deve ser pago e, portanto, as máquinas
térmicas devem ser projetadas para se ter o maior rendimento possível. Por exemplo, o
motor a combustão tem rendimento da ordem de 50%. Observando a definição matemática
do rendimento, ele aumenta à medida que Qcedido diminui: a rejeição de calor pelo sistema
deve ser minimizada para se alcançar maiores rendimentos da máquina térmica. O caso
ideal acontece quando o calor rejeitado é nulo, portanto, tem-se є =1. Esta seria a máquina
perfeita (ou a máquina dos sonhos) com eficiência de 100%. Desde as primeiras máquinas
a vapor a tecnologia tem aperfeiçoado constantemente as novas gerações de máquinas
térmicas. Entretanto, é impossível a construção de um aparato com rendimento de 100%.
Isto é a essência da segunda lei da termodinâmica (enunciado de Kelvin-Planck):
“É impossível a construção de uma máquina térmica,
operando em ciclos, converter totalmente o calor absorvido em trabalho”.
Se você se lembrar do início desta seção, poderia argumentar que no caso
discutido, o sistema sob uma transformação isotérmica converteu integralmente o calor
absorvido em trabalho realizado pelo pistão sobre o meio. Isto não contraria o enunciado
de Kelvin-Planck? Definitivamente, não. Observe que no enunciado aparece a expressão
operando em ciclos e isso faz toda a diferença. Na evolução a que nos referimos acima,
acontece somente uma expansão e, portanto, não está caracterizado um ciclo. Para que o
137
FÍSICA GERAL II
sistema retorne ao seu estado inicial é necessário que se realize trabalho sobre ele e certa
quantidade de calor é rejeitada neste processo.
É importante reconhecer que a máquina térmica com 100% de eficiência
obedeceria à primeira lei, mas é a segunda lei da termodinâmica que nega a possibilidade
de sua existência. Ocasionalmente surge algum inventor que faz alarde de ter conseguido
construir um moto perpétuo: se o aparato violar somente a segunda lei, ele é chamado de
moto perpétuo de segunda espécie; se violar a primeira lei, ele é chamado de moto perpétuo
de primeira espécie; se violar ambas as leis simultaneamente, ainda não se concebeu
um nome apropriado. Em geral, essas pessoas não tiveram a oportunidade de adquirir
conhecimento suficiente sobre termodinâmica. Vivessem em outra época, provavelmente
estariam em busca da pedra filosofal.
Reservatório quente
Uma máquina térmica pode ser
representada esquematicamente na forma
mostrada na figura 8.7.
máquina
térmica
Qq
W
A máquina absorve calor Qquente de uma
fonte quente que está à temperatura Tquente , realiza
trabalho, e rejeita calor |Qfrio | para um reservatório
frio que está à temperatura Tfrio .
Qf
Reservatório frio
Figura 8.7 - Representação de uma
máquina térmica.
EXEMPLO 8.1
Uma máquina térmica, operando em ciclo, absorve 200 J de calor de um
reservatório quente, efetua trabalho e libera 150 J para uma fonte fria. Qual o rendimento
(ou eficiência) desta máquina? Faça uma representação esquemática do processo.
Solução:
Vimos que o trabalho efetuado é dado por: Wciclo =Qq − Q f =200 J − 150 J =50 J ,
independentemente do tipo do ciclo realizado.
200 J
O rendimento é então,
є
=
Wciclo
50 J
25 25% .
= = 0,=
200 J
Qq
50 J
Representação esquemática do processo.
150 J
EXEMPLO 8.2
Uma máquina térmica tem rendimento de 35%.
a) Qual o trabalho que ela realiza, por ciclo, se recebe 150 J de uma fonte quente?
b) Qual o calor rejeitado por ciclo?
Solução:
Wciclo
W
⇒ 0,35 = ciclo ∴Wciclo = 52,5 J .
Qabs.
150 J
b) Wciclo =Qciclo − Qcedido ⇒ Qcedido =150 J − 52,5 J =97,5 J .
a) є =
138
EXEMPLO 8.3
A figura 8.8 representa o diagrama pV para uma versão idealizada de um
pequeno motor de Stirling (proposto por Robert Stirling em 1816). A máquina usa
8 ×10−3 mols de um gás ideal e opera entre duas fontes, uma a 95 ºC e a outra a 24 ºC.
Seu funcionamento ocorre à taxa 0,7 ciclos por segundo.
a) Qual o trabalho realizado em um ciclo?
b) Qual a potência desta máquina?
c) Que calor líquido é transferido para o gás em cada ciclo?
d) Encontre o rendimento desta máquina.
Solução:
a) Para calcular o trabalho total, precisamos obter os trabalhos nos trechos ab e cd.
Nesses trechos a evolução se processa isotermicamente e já conhecemos a expressão
que permite obtê-los:
Vf
(exemplo 7.1 do capítulo anterior). Portanto, podemos escrever:
Wi → f = nRT ln
Vi
Segunda Lei da
termodinâmica
Figura 8.8 – Diagrama pV
para o ciclo de Stirling.
1,5Va
1,5
=
Wab nRT=
nRT
=
nRTab ln1,5 .
ab ln
ab ln
Va
1
V
1
Wcd = nRTcd ln d = nRTcd ln
= −nRTcd ln1,5 .
Vc
1,5
Com os valores numéricos inseridos nas expressões acima, podemos obter o trabalho
realizado pelo gás nesse ciclo (nos trechos bc e da o trabalho é nulo).
Wciclo = Wab + Wcd = nRTab ln1,5 − nRTcd ln1,5 ⇒ nR (Tab − Tcd ) ln1,5 ∴
Wciclo =×
8 10−3 × 8,31× (95 − 24) ln1,5 ⇒ Wciclo ≈ 1,91J .
Observe que usamos as temperaturas dadas em Celsius e não em Kelvin. É justificável?
b) A potência é dada pelo quociente P =
é o tempo de um ciclo. Portanto,
∆W
. Aqui ∆W é trabalho em um ciclo e ∆t
∆t
1,91J
≈ 1, 4 W .
0, 7 s
c) O calor total transferido durante um ciclo pode ser obtido usando-se a primeira lei
da termodinâmica:
Qciclo =
∆Einterna + Wciclo . Mas a variação da energia interna é nula porque o estado final é
igual ao estado inicial. Assim,
Q=
Wciclo ≈ 1,91J .
ciclo
d) Para encontrar o rendimento da máquina térmica, precisamos conhecer o calor
retirado da fonte quente e o calor cedido à fonte fria. O exemplo 7.1, item (c), do capítulo
anterior pode ajudar.
Em um processo isotérmico sofrido por um gás ideal, a variação da energia interna é nula
e, portanto, o calor envolvido é igual ao trabalho (pela primeira lei da termodinâmica).
=
Pciclo
Vi
=×
8 10−3 × 8,31× 368 × ln1,5 ≈ 9, 2 J .
Vf
O rendimento da máquina térmica é:
W
1,91J
є = ciclo =
≈ 0, 20 = 20% .
Qabs. 9, 2 J
Poderíamos resolver este item de forma um pouco diferente (mas equivalente!):
Qab =
nTab ln
W
nR(T − T ) ln1,5 Tab − Tcd
T
=
=
1 − cd ≈ 20% .
є = ciclo = ab cd
Qabs.
nRTab ln1,5
Tab
Tab
Observe que embora a eficiência deste motor Stirling seja razoável, a sua potência é baixa.
139
FÍSICA GERAL II
O termo máquinas térmicas pode dar a falsa impressão de que esses dispositivos
tenham a finalidade única de receber certa quantidade de calor e realizar trabalho.
Entretanto, um refrigerador também pode ser tratado como uma máquina térmica com
seu ciclo invertido, ou seja, ele faz exatamente o contrário: recebe o calor de uma fonte
fria (parte interna do refrigerador) e o transfere para uma fonte quente (meio ambiente).
A máquina térmica, como estudada até agora, fornece trabalho; para um refrigerador,
precisamos fornecer trabalho.
Pela convenção de sinais que adotamos, para um refrigerador Qfrio é positivo
(entra no sistema), porém, W e Qquente são negativos (o trabalho entra no sistema e o calor
é rejeitado para uma fonte quente). Com isto, escrevemos
W = −W e
Qquente = −Qquente .
Observe que −W > 0 e −Qquente > 0 .
A figura 8.9 é a representação esquemática
de um refrigerador. De acordo com a primeira lei da
termodinâmica, para um processo cíclico ( ∆E =
0 ),
temos:
Qquente + Q=
Wciclo ⇒ −Qquente
= Q frio − W .
frio
Mas, como W = −W e Qquente = −Qquente , podemos
escrever:
Qquente
= Q frio + Wciclo (para um refrigerador).
Figura 8.9 - Diagrama esquemático
Note que o calor transferido para a fonte quente é
de um refrigerador.
sempre maior do que o calor retirado da fonte fria. Por
essa razão é que se desenha a seta entrando na fonte quente com largura maior. Compare
com o diagrama correspondente às máquinas térmicas (figura 8.7).
Do ponto de vista econômico, o melhor refrigerador é aquele que remove a maior
quantidade de calor Q frio por ciclo, com o mesmo trabalho realizado sobre ele, Wciclo . O
QUESTÃO 8.2
Você acha uma boa idéia
deixar a porta de um
refrigerador aberta para
abaixar a temperatura da
cozinha?
Q frio
(usamos módulo para Qfrio , mas isso é desnecessário
Wciclo
porque ela é uma grandeza positiva).
A razão acima é chamada de coeficiente de desempenho e designada por K:
Q frio
Q frio
(desempenho de um refrigerador).
=
K =
Wciclo
Qquente − Q frio
O desempenho é tanto maior quanto menor for a diferença entre as duas trocas de calor,
Qquente e Qfrio . Se elas forem iguais, o coeficiente de desempenho é infinito: uma situação
altamente desejável, mas que, infelizmente, não é factível. Conseguir um refrigerador que
funcione sem absorver trabalho, não só o tornaria famoso, mas também seria regiamente
pago pela invenção. Entretanto, a versão de Clausius da segunda lei da termodinâmica,
determina a impossibilidade:
quociente relevante é, então,
“É impossível a realização de qualquer processo que tenha como única etapa a transferência de
calor de um corpo frio (temperatura mais baixa) para um corpo quente (temperatura mais alta) ”.
Enunciado desta forma a segunda lei parece não ter relação alguma com o
enunciado de Kelvin-Planck. Mas só aparentemente os dois enunciados não estão
relacionados: é possível mostrar que, se qualquer processo é impedido por um enunciado,
então é proibido também pelo outro.
EXEMPLO 8.4
Um refrigerador tem o coeficiente de desempenho 5,5. Qual o trabalho necessário para
se obter 10 cubos de gelo, cada um de 100 gramas, inicialmente à temperatura de 10 ºC?
140
Solução:
A massa de água a ser congelada é 1 kg. Precisamos primeiro abaixar a temperatura da
água até 0 ºC:
Q1 = (1 kg)(4,18 kJ/kJ.K)(283 K − 273 K) = 41,8 kJ.
Segunda Lei da
termodinâmica
O calor de fusão do gelo (igual ao calor de solidificação da água) vale 333.5 kJ/kg. Precisamos, então, retirar esse calor para haver a solidificação da massa de água, portanto,
Q2 = 333,5 kJ.
O calor total que deve ser removido é
Qtotal = Q1 + Q2 = 41,8 kJ + 333,5 kJ ≈ 375 kJ.
Pela definição do coeficiente de desempenho, temos:
Q frio
375 kJ
K=
⇒ W=
= 68, 2 kJ .
5,5
W
EXEMPLO 8.5
Um refrigerador doméstico, cujo coeficiente de desempenho é 4,7, extrai calor da câmara fria (onde se colocam os alimentos) à taxa de 250 J por ciclo.
a) Quanto de trabalho por ciclo é necessário para operar o refrigerador?
b) Quanto calor é rejeitado para o ambiente, que serve como fonte quente?
Solução:
a) Para calcular o trabalho, usamos a definição do coeficiente de desempenho:
Q frio
250 J
W=
⇒ W=
= 53J .
4, 7
K
Essa quantidade de energia é transferida para o sistema por um agente “externo”: o motor elétrico é o responsável por isso. Este valor, transformado em moeda corrente, é que
aparece na fatura de energia elétrica.
b) A primeira lei da termodinâmica nos dá:
Qquente =
W + Q frio =
53J + 250 J =
303J .
Por este valor percebe-se que o refrigerador é um excelente aquecedor de ambiente. Pagando por 53 J (o trabalho do motor), você tem 303 J de calor liberado para o ambiente.
Se você usasse um aquecedor elétrico teria somente 53 J de calor para cada 53 J que
pagasse.
8.4 Ciclo De Carnot
Considere todas as máquinas térmicas concebíveis operando entre dois reservatórios
térmicos com temperaturas Tquente e Tfrio . Cada uma delas tem eficiência inferior a 100%
de acordo com a segunda lei da termodinâmica. A pergunta
que o engenheiro francês Sadi Carnot conseguiu responder
era: qual dessas máquinas térmicas tem o maior rendimento?
É interessante notar que Carnot chegou à resposta correta
mesmo acreditando na teoria do calórico.
O ciclo proposto por Carnot é um ciclo idealizado
pelo fato de ser um ciclo reversível. Uma máquina térmica
operando ciclicamente segundo o ciclo de Carnot tem o
máximo rendimento (figura 8.10). Temos quatro estágios
para o ciclo de Carnot:
(1) Uma expansão isotérmica reversível à temperatura
Tquente e uma quantidade de calor Qquente é absorvido
pelo sistema (trecho a-b).
Figura 8.10 - Diagrama pV
para o ciclo de Carnot.
141
FÍSICA GERAL II
(2) Um processo adiabático reversível: a temperatura do sistema decresce de Tquente
para Tfrio (trecho b-c).
(3) Uma compressão isotérmica reversível à Tfrio: o calor | Qfrio | é retirado do sistema
(trecho c-d).
(4) Um processo adiabático reversível para completar o ciclo: a temperatura do
sistema aumenta novamente até Tquente (trecho d-a).
Usaremos um gás ideal para obter o rendimento de uma máquina operando segundo um ciclo de Carnot, mas o resultado é válido de forma geral.
Na expansão isotérmica ab, a energia interna se mantém constante e, portanto, o
calor é igual ao trabalho realizado pelo gás:
Qquente
= W=
nRTquente ln
ab
Q frio = Wcd = nRT frio ln
Vb
Va
Vd
V
= −nRT ln c
Vc
Vd
(para o trecho ab).
(para o trecho cd).
Note que Vd é menor que Vc , logo, Qfrio é negativo (Qfrio = | Qfrio | para deixar
explícito que se trata de um valor negativo): durante a compressão isotérmica há rejeição
de calor pelo sistema.
O quociente entre os valores acima fornece
Q frio
Qquente
T frio ln(Vc / Vd )
.
=
−
×
Tquente ln(Vb / Va )
Para os processos adiabáticos encontramos (válido somente para gás ideal; veja
exemplo 7.1 do capítulo anterior):
TquenteVbγ −1 = T frioVc1−γ e TquenteVaγ −1 = T frioVdγ −1 .
Dividindo uma pela outra, temos:
Vbγ −1 Vcγ −1  Vb 
=
∴ 
Vaγ −1 Vdγ −1  Va 
γ −1
V 
=  c
 Vd 
γ −1
⇒
Vb Vc
.
=
Va Vd
Esta relação pode ser utilizada na expressão do quociente dos calores:
Q frio
Q frio
T
T frio
.
= − frio ou, em módulo,
=
Qquente
Tquente
Qquente Tquente
A definição de rendimento (ou eficiência) é
є = 1−
Q frio
Q quente
∴ є = 1−
Tfrio
.
Tquente
Esta é a expressão do rendimento para uma máquina térmica operando segundo
o ciclo de Carnot. Nenhuma outra, trabalhando entre as temperaturas Tquente e Tfrio, dá um
rendimento superior a este. Isso é fácil de perceber porque a máquina térmica de Carnot
opera em ciclos reversíveis. Desnecessário dizer que as temperaturas devem sempre ser
expressas em Kelvin.
EXEMPLO 8.6
Um inventor alega ter construído um motor que, em certo intervalo de tempo,
absorve 110 MJ de calor a 415 K e rejeita 50 MJ a 212 K; simultaneamente esse motor
realiza um trabalho de 16,7 kW.hora. Você investiria dinheiro nesse projeto?
Solução:
As unidades não estão padronizadas: uma boa escolha é trabalhar no SI.
kJ
kW × hora = × 3600s ∴ kW × hora =
3600 kJ =
3, 6 MJ
s
Pelos dados que o inventor nos forneceu podemos calcular o rendimento de sua máquina:
W
(16, 7(3, 6MJ)
є =
=
≈ 0,55 ou 55% .
110 MJ
Qquente
142
O rendimento para o ciclo de Carnot desse motor é:
T frio
212
є=
1−
=
1−
∴ є ≈ 49% .
Tquente
415
Como é maior do que o máximo teórico previsto para o ciclo de Carnot, a melhor decisão é não investir.
Segunda Lei da
termodinâmica
EXEMPLO 8.7
Certa máquina de Carnot absorve 2000 J de calor de um reservatório a 500 K, realiza
trabalho e rejeita calor para um reservatório a 350 K.
a) Qual foi o trabalho realizado?
b) Que calor foi cedido ao reservatório?
c) Qual o rendimento dessa máquina?
Solução:
O item (c) é imediato:
c) є =−
1
Tf
Tq
1
=−
350
0,3 ∴ є = 30%.
=
500
a) Na dedução da fórmula do rendimento do ciclo de Carnot, obtivemos a relação
Qf
T
350
=
− f ∴Qf =
−2000 ×
=
−1400 J .
500
Qq
Tq
O sinal negativo é consistente porque o calor está sendo rejeitado pelo sistema.
b) A primeira lei da termodinâmica nos dá (após completar um ciclo ∆E =
0 ):
W =Qtotal =2000 J − 1400 J =600 J .
Este valor poderia ter sido determinado através do item (a):
є=
W
⇒ W = 0,3 × 2000 J = 600 J .
Qq
EXEMPLO 8.8
0.20 mol de um gás ideal diatômico ( γ = 2) passa por ciclo de Carnot com temperaturas de 227 oC e 27 oC. A pressão inicial é pa = 106 Pa, e durante a expansão isotérmica
à temperatura mais alta, seu volume dobra.
a) Achar a pressão e o volume em cada um dos pontos a, b, c e d da figura ao lado.
b) Calcule Q, W e ΔE no ciclo todo, e em cada um dos trechos. CV = 20,8 J/mol.K.
c) Determine o rendimento desse aparato.
Solução:
As temperaturas devem ser transformadas para Kelvin: 300 K e 500 K.
a) pa = 106 Pa (dado). Usamos a equação do gás ideal para obter o volume:
=
Va
(0, 20)(8,31)(500)
= 8,31× 10−4 m3 .
6
10
Figura 8.11 -+Ciclo de
Carnot para o Exemplo 8.8.
Se o volume dobra após a expansão isotérmica, então,
=
Vb 16, 62 ×10−4 m3 .
Durante a etapa isotérmica a→b, temos:
106 × 8,31×10−4
∴ pb =5 ×105 Pa .
paVa =pbVb ⇒ pb =
−4
16, 62 ×10
 Tq
T
 f
Na expansão adiabática b→c: TqVbγ −1= T f Vcγ −1 ∴Vc= Vb 
1

−4
3
 = 59, 6 ×10 m .

γ −1
143
FÍSICA GERAL II
A pressão no ponto c pode ser obtida pela equação dos gases ideais:
pc=
nRTc (0, 20)(98,31)(300)
=
⇒ pc= 0,837 ×105 Pa.
−4
59, 6 ×10
Vc
O volume no ponto d pode ser obtido de forma semelhante àquele usado para calcular o
Vd 29,8 ×10−4 m3 .
volume no ponto c, através da adiabática. O resultado é=
A pressão no ponto d pode ser calculada pela equação dos gases ideais e o resultado é
=
pd 1, 67 ×105 Pa.
b) Nos trechos isotérmicos a variação da energia interna é zero (gás ideal) e, portanto,
pela primeira lei da termodinâmica, temos:
V
Va
V
c→d: Wc →d = Q f = nRT f ln d = −346 J.
Vc
Nos trechos adiabáticos o calor trocado é nulo e pela primeira lei da termodinâmica temos:
Trecho d→a: Wda = −∆Eda .
Trecho b→c: Wbc = −∆Ebc
Para um gás ideal a energia interna é somente função das temperaturas inicial e final.
Pela primeira lei da termodinâmica, temos:
Wbc = −∆Ebc = −nCV (T f − Tq ) = −(0, 20)(20,8)(300 − 500) = 832 J.
b
a→b: Wa →=
Q=
nRTq ln =
(0, 20)(8,31)(500) ln=
2 576 J.
b
q
Wda = −∆Eda = − nCV (Tq − T f ) = −(0, 20)(20,8)(500 − 300) = −832 J .
Se você não se recorda de onde vieram as expressões para as energias internas, convém
rever a seção 3 sobre calor específico do capítulo anterior.
Uma tabela mostra os resultados obtidos para o item (b). A última linha dá o calor total
e o trabalho total para o ciclo.
PROCESSO
Q (J)
W (J)
ΔE (J)
576
576
0
a→b
0
832
-832
b→c
-346
-346
0
c→d
0
-832
832
d→a
230
230
0
TOTAL
c) O rendimento dessa máquina de Carnot:
є
=
500 K − 300 J
Wciclo 230 J
usar є = 0, 40 .
=
= = 0, 40 ; ou poderíamos
500 K
Qquente 576 J
Se o ciclo de Carnot for revertido, é possível obter o que se chama refrigerador de Carnot.
O coeficiente de desempenho desse refrigerador pode ser expresso combinando-se a
definição de desempenho, K, com a transferência de calor,
=
K
Q frio
Qquente
=
T frio
Tquente
para o ciclo.
Q frio
Q f Qq
Tf
.
=
=
⇒K
Tq − T f
Qquente − Q frio 1 − Q f Qq
Um bom desempenho é conseguido quando a diferença de temperatura é pequena:
neste caso pode-se retirar grande quantidade de calor da câmara, com pouco trabalho
realizado sobre o sistema. Se a diferença de temperatura for grande, necessita-se injetar
uma quantidade substancial de trabalho. Um refrigerador caseiro, real, tem coeficientes
de desempenho próximo a 5, entretanto, se ele operasse seguindo um ciclo de Carnot teria
seu coeficiente de desempenho próximo a 10 (tente justificar esta estimativa!).
144
8.5 Entropia
A segunda lei da termodinâmica, como foi formulada, tem aspecto diferente das
outras leis que você já encontrou, tais como: a segunda lei de Newton, a primeira lei
da termodinâmica, a lei dos gases ideais; ela não possui um caráter quantitativo, isto é,
não está relacionada a uma equação. Seu enunciado diz respeito a uma impossibilidade.
Entretanto, seu enunciado pode ser formulado em termos quantitativos através do
conceito de entropia.
O fluxo de calor entre dois corpos a diferentes temperaturas ocorre,
espontaneamente, sempre no sentido do de maior temperatura para o de menor
temperatura. A expansão livre, irreversível, de um gás sempre ocorre para que o sistema
alcance o estado de maior desordem, comparada com o estado inicial. Em ambos
os processos, a primeira lei da termodinâmica não é violada. Mas por que, então, a
natureza se comporta de tal forma a conseguir a máxima desordem possível? Responder
porque pode ser uma presunção metafísica; mas podemos entender como isso acontece
e quantificá-la: o objetivo desta seção pode ser restrito a esse ponto.
A entropia fornece uma estimativa quantitativa do grau de desordem de um
sistema. Para entendermos como isto pode ser feito, vamos considerar, novamente, um
gás ideal. A escolha pode ser restritiva, mas as conclusões serão abrangentes. Suponha que
esse gás sofra uma expansão isotérmica: adiciona-se uma pequena quantidade de calor
dQ e esperamos que ele se expanda o suficiente para manter sua temperatura constante.
Neste processo a energia interna não varia e pela primeira lei da termodinâmica, o
trabalho é igual ao calor adicionado:
dQ = dW = pdV =
nRT
dV
dQ
dV ∴
=
.
V
V
nRT
As partículas, após a expansão, podem se mover em um volume maior e, portanto, suas
posições se tornam mais aleatórias. A variação relativa do volume,
dV
, fornece uma
V
indicação de quanto se aumentou o estado de aleatoriedade ou de desordem do sistema.
Mas esse quociente é proporcional à razão
dQ
e isto também indica de quanto foi
T
Segunda Lei da
termodinâmica
CURIOSIDADE
A
sigla
OTEC
(Ocean
Thermal
Energy Conversion)
representa a idéia de
se utilizar a diferença
de
temperatura
entre a camada
superficial
(25oC)
e águas a 100m de
profundidade (10oC)
nos oceanos. Para um
motor operando em
um ciclo de Carnot, o
rendimento seria de
apenas 5%. Que é um
baixo rendimento,
ninguém contesta;
porém,
realizase um trabalho
útil a custo zero
(desconsiderando,
obviamente,
os
valores
dos
investimentos).
aumentado o grau de desordem do sistema pela adição de calor à temperatura constante.
Introduzimos o símbolo S para a entropia do sistema e definimos a variação
infinitesimal de entropia dS durante um processo infinitesimal reversível à temperatura T,
através da relação
dS =
dQrev.
T
(processo infinitesimal reversível).
Para evolução não infinitesimal, quando uma quantidade de calor Q é fornecida isotérmica
e reversivelmente ao sistema, a variação total de entropia é dada por
∆S = S 2 − S1 =
Qrev.
.
T
A unidade dessa nova variável de estado, entropia, é J/K no Sistema Internacional.
Podemos perceber o significado físico da entropia em termos de desordem
do sistema. Uma temperatura elevada corresponde a um movimento bastante caótico.
Quando a temperatura é baixa, o movimento molecular é menor e o fornecimento de
uma quantidade de calor Q produz um aumento substancial neste movimento aleatório.
Por outro lado, quando a temperatura já é alta, a mesma quantidade de calor produzirá
um aumento relativamente menor no estado aleatório existente. Portanto, a razão Q/T
caracteriza de forma apropriada o crescimento da desordem no estado do sistema quando
uma quantidade de calor é absorvida.
A lei zero da termodinâmica está relacionada à variável de estado que chamamos
de temperatura. A primeira lei define uma variável de estado, a energia interna do sistema,
145
FÍSICA GERAL II
em termos de duas grandezas que não são variáveis de estado (calor e trabalho). A segunda
lei da termodinâmica está relacionada com a variável de estado que chamamos entropia.
Se dQrev. for o calor adicionado quando o sistema segue uma trajetória reversível
entre os estados, a variação da entropia, independentemente da trajetória real seguida, é
igual a esse calor transferido ao longo da trajetória reversível dividido pela temperatura
do sistema. Em outras palavras, a função entropia é uma variável de estado: sua variação
só depende dos estados inicial e final e não do caminho seguido entre os dois estados.
Da mesma forma que se medem, por exemplo, variações da energia interna, no caso da
entropia acontece o mesmo: medimos variações de entropia. Entretanto, é comum em
termoquímica atribuir um valor padrão S0 e a partir desta referência medir-se a entropia
(assim como elegemos uma referência na medida da energia potencial gravitacional).
Quando o calor é absorvido pelo sistema, dQrev. é positivo e, portanto, a entropia
do sistema aumenta. Se dQrev. é negativo (rejeição de calor), a entropia do sistema diminui.
Como a entropia é uma medida de desordem do sistema e eles tendem para estados mais
desordenados, a entropia de Universo aumenta em todos os processos naturais. Esta
é outra maneira de enunciar a segunda lei da termodinâmica. É comum ouvir-se que a
entropia de um sistema sempre cresce. Isto não é verdade: a entropia de um sistema pode
decrescer; o que sempre cresce é a entropia do Universo (aqui Universo significa sistema
+ ambiente). O crescimento da entropia está associado ao que se chama flecha do tempo:
por isso é fácil identificar se o filme de uma demolição está correndo de forma inversa.
Para calcular a variação de entropia para um processo não-infinitesimal (alguns
livros costumam chamá-lo de processo finito), devemos reconhecer que a temperatura
geralmente não permanece constante. Neste caso, a variação de entropia entre dois
estados, inicial e final, é dada por
f
f
S f − Si =∆S =∫ dS =∫
i
i
dQr
T
(calculada ao longo de uma trajetória reversível).
No caso de um processo adiabático reversível, nenhum calor é trocado entre o sistema
e o ambiente, portanto, a variação de entropia é nula: ∆S adiabático = 0. Por isso esta
transformação é chamada de isentrópica.
Considere agora um sistema realizando um ciclo reversível arbitrário. Como
a entropia é uma variável de estado e, portanto, só depende dos valores inicial e final,
conclui-se que a variação de entropia é nula. A expressão matemática que exprime esta
condição é dada por:
dQrev.
= 0 (ciclo reversível).
T
∫
EXEMPLO 8.9
Uma massa de gelo de 0,120 kg a 0 oC é colocado em água que está à mesma
temperatura. O sistema (água + gelo) é exposto ao ambiente para que haja a fusão do
gelo (a temperatura permanece a 0 oC). Determine a variação de entropia entre 0,120 kg
de gelo e 0,120 kg de água. Dado o calor latente de fusão do gelo é 335 kJ/kg.
Solução:
A fusão do gelo se processa de forma irreversível porque a transferência de calor é feita
irreversivelmente (o processo está longe de ser infinitesimal). Porém, para se calcular a
variação de entropia devemos seguir um caminho reversível. Obviamente, o resultado
será o mesmo porque a entropia é uma variável de estado e só depende dos estados
inicial e final e não do caminho seguido. Isto pode ser conseguido imaginando que o
recipiente esteja a uma temperatura ligeiramente superior a do sistema (água + gelo).
Q fusão = mL fusão = (0,120 kg)(335 kJ/kg) ∴ Q fusão = 40, 2 kJ .
∆S = Slíquido − S sólido
146
f
f
dQ
1
Q 40, 2 kJ
= ∫
⇒ ∆S =
dQ =
=
= 147 J/K .
∫
T
Ti
T
273K
i
EXEMPLO 8.10
Você se propõe a fazer café e coloca 0,5 litro de água para ferver. Inicialmente a água
está à temperatura de 20 ºC e, devido à pressão atmosférica local, ela ferve a 95 ºC.
Determine a variação de entropia nesse processo. Dado: cp= 4,2 kJ/kg.K.
Segunda Lei da
termodinâmica
Solução:
Precisamos eleger um caminho reversível para o processo. Podemos imaginar uma série
de reservatórios térmicos com temperaturas ligeiramente diferentes entre si, iniciando a
20 oC e terminando a 95 oC. A água vai trocando calor sucessivamente com esses reservatórios até atingir a temperatura de ebulição. Em cada etapa, ela recebe reversivelmente uma quantia infinitesimal de calor dQ.
Se o calor específico da água é cp (constante), então, dQ = mc p dT .
f
dQ
∆=
S ∫
⇒ ∆=
Q
T
i
368
∫
293
mc p dT
T
∴∆=
S (0,5 kg)(4, 2 kJ/kg.K) ln
368 K
= 478, 6 J/K
293K
EXEMPLO 8.11
Um gás ideal sofre uma expansão livre adiabática. Qual a variação da entropia do sistema neste processo?
Solução:
Para uma expansão livre de um gás ideal, nenhum trabalho (mecânico) é realizado pelo
sistema porque não ocorreu deslocamento de partes móveis do sistema: portanto, W
é nulo. Como o sistema está isolado termicamente, nenhum calor foi trocado entre o
sistema e o ambiente: portanto, Q também é nulo. Ainda mais: a variação da energia
interna, ΔE, é zero porque para um gás ideal a temperatura se mantém constante durante
uma expansão livre.
Com todas as grandezas se anulando, somos levados a acreditar que a variação de
entropia deve ser zero. Esta conclusão pode ser obtida se você usar ∆S = S 2 − S1 =
Qrev.
T
e considerar que, devido ao fato do sistema estar isolado termicamente, Q se anula e
por isso ΔS = 0. Isto parece uma contradição, pois no início desta seção dissemos que
ao final de uma expansão livre do gás ideal, a entropia aumentava porque as partículas
tinham um grau de aleatoriedade maior do que no início. Alguma coisa parece não funcionar bem aqui e a suspeita recai sobre o uso da equação para ΔS: ela foi utilizada de
maneira não conveniente. Isto porque devemos empregá-la para processos reversíveis.
Podemos escolher um processo isotérmico (T mantida constante) como sendo
infinitesimal e reversível ligando os estados inicial e final:
f
f
dQrev. 1
=
∆S ∫ =
dQrev. .
T
T ∫i
i
dQrev = dWrev. . Então,
Mas em um processo isotérmico para gás ideal, ∆E = 0 ⇒
a
1 lei
=
∆S
1
T
Vf
. ∴∆S
∫ dWrev=
Vi
Vf
Vf
1
ou ∆S =
nR ln .
nRT ln
Vi
T
Vi
Esta é a variação da entropia na expansão livre de um gás ideal. Note que, sendo o volume final maior do que o volume inicial, há um aumento de entropia no processo: foi o
que dissemos no início da seção.
147
Exercícios
FÍSICA GERAL II
Em diversos problemas você vai usar uma combinação da lei dos gases ideais com a
primeira e a segunda leis da termodinâmica.
MÁQUINAS TÉRMICAS.
Figura 8.12 Problema 1.
1. Um mol de gás ideal monoatômico (Hélio) passa pelo ciclo mostrado na figura 8.12.
=
pb 10
=
atm, Vb 10−3=
m3 , e Vc 8Vb .
O trecho bc é uma expansão adiabática;
a) Encontre pc , Ta , Tb , Tc .
b) Calcule ∆Eab , ∆Ebc , ∆Eca . Verifique se ∆E =
0 para o ciclo.
c) Qual o calor trocado em cada trecho do processo?
E qual o calor trocado no ciclo?
d) Calcular o trabalho total realizado no ciclo.
e) Qual é a eficiência do ciclo?
Dados: γ monoatômico = 1, 67 ; 1atm ≈ 105 Pa
2.
Um mol de um gás ideal monoatômico, inicialmente ocupando um volume de 10
litros e à temperatura de 300 K, é aquecido a volume constante até a temperatura
de 600 K, expande isotermicamente até atingir a pressão inicial e finalmente é
comprimido isobaricamente, retornando ao volume, pressão e temperatura originais.
a) Calcule o calor absorvido pelo gás durante um ciclo.
b) Qual o trabalho realizado pelo gás nesse ciclo?
c) Qual a eficiência deste ciclo?
3. Um mol de um gás ideal sofre transformações como indica a figura 8.13. O estado a
=
=
kPa, Va 22, 4 litros.
tem pa 100
a) Determine as temperaturas dos estados a, b, c, d.
b) Qual o calor acrescentado em cada ciclo?
c) Qual o trabalho realizado em cada ciclo?
d) Quanto de calor é retirado por ciclo?
e) Qual é a eficiência dessa máquina térmica?
Figura 8.13 Problema 3.
4.
Um motor Diesel produz 2200 J de trabalho mecânico e rejeita 4300 J de calor em
cada ciclo.
a) Qual a quantidade de calor que deve ser fornecida para esta máquina por ciclo?
b) Encontre sua eficiência.
5.
Um motor a gasolina produz uma potência igual a 180 kW. Sua eficiência é 0,28.
a) Qual o calor fornecido a esta máquina por segundo?
b) Qual o calor rejeitado por ela em cada segundo?
6. Para produzir gelo, um freezer extrai 42 kcal de calor de um reservatório a -12 ºC em
cada ciclo. O coeficiente de desempenho deste freezer é 5,7 e ele funciona em um
ambiente cuja temperatura é 26 ºC.
a) Quanto calor, por ciclo, é rejeitado para o ambiente?
b) Qual é o trabalho, por ciclo, necessário para que ele funcione?
148
7. Um refrigerador possui um coeficiente de desempenho igual a 2,1. Ele absorve
3, 4 ×104 J de calor da fonte fria em cada ciclo.
a) Qual é o trabalho mecânico que se deve fornecer à máquina em cada ciclo?
b) Que calor é rejeitado na fonte quente por ciclo?
Segunda Lei da
termodinâmica
CICLO DE CARNOT.
8.
Uma máquina de Carnot opera com um reservatório quente a 620 K e absorve 550 J
de calor a esta temperatura por ciclo, e fornece 335 J para o reservatório frio.
a) Qual o trabalho produzido por ciclo?
b) Encontre a temperatura da fonte fria.
c) Qual é a eficiência desta máquina?
9.
Certa máquina de Carnot tem eficiência de 59% e realiza 2,5 ×104 J de trabalho em
cada ciclo.
a) Que calor esta máquina extrai da fonte quente em cada ciclo?
b) Suponha que rejeite calor para uma fonte fria a 20 ºC. Qual a temperatura da fonte
quente?
10. Uma máquina térmica, funcionando com gás ideal, opera em um ciclo de Carnot entre
227 ºC e 127 ºC. Ela absorve 6 × 104 cal à temperatura maior.
a) Que trabalho, por ciclo, esta máquina consegue realizar?
b) Qual é seu rendimento?
11. Uma máquina de Carnot opera entre 320 K e 260 K e absorve 500 J de calor da fonte
quente.
a) Que trabalho ela pode fornecer?
b) Se esta máquina, trabalhando entre essas duas temperaturas, funcionar como
refrigerador, que trabalho deve ser fornecido a ela para retirar 1000 J da fonte fria?
12. Uma máquina térmica de Carnot possui uma eficiência de 0,6 e a temperatura do
reservatório quente é 800 K. Se 3000 J são rejeitados para a fonte fria em um ciclo,
qual o trabalho que esta máquina realiza por ciclo?
13. Uma máquina de Carnot opera com um reservatório frio a -90 ºC e possui eficiência
de 40%. Um engenheiro recebeu a tarefa de aumentar seu rendimento para 45%.
a) De quantos graus Celsius ele deve aumentar a fonte quente, permanecendo fixa a
temperatura da fonte fria?
b) De quantos graus Celsius ele deve diminuir a fonte fria, mantendo constante a
temperatura da fonte quente?
ENTROPIA
14. Um estudante, na falta do que fazer, aquece 0,350 kg de gelo a 0 ºC até sua completa
fusão.
a) Qual a variação de entropia para este processo?
b) A fonte de calor é um corpo de massa muito grande que está a 25 ºC. Qual a
variação de entropia deste corpo?
c) Qual a variação total de entropia da água e do corpo?
149
FÍSICA GERAL II
15. Acrescenta-se certa quantidade de calor Q reversivelmente e isotermicamente a um
sistema que está a uma temperatura T.
a) Encontre a expressão para a variação de entropia deste sistema.
b) Qual o valor de ΔS se Q = 30 J e T = 300 K?
16. Em um processo reversível, 3 mols de um gás ideal são comprimidos isotermicamente
a 20 ºC. Durante a compressão, um trabalho de 1850 J é realizado sobre o gás. Qual
a variação de entropia deste gás?
17. Um bloco de gelo de 15 kg a 0 ºC passa para o estado líquido dentro de uma sala
a 20 ºC. Considere a gelo e a sala como formando um sistema isolado e suponha a
sala grande o suficiente para que sua variação de temperatura possa ser desprezada.
a) A liquefação do gelo é reversível ou irreversível? Explique sem recorrer às
equações, desenvolvendo um raciocínio físico simples.
b) Calcule a variação de entropia do sistema (gelo + sala). O resultado é compatível
com o item (a)?
18. Dois blocos metálicos de mesmo material e a temperaturas diferentes estão separados
por uma parede isolante. Em seguida, a parede que os separa é removida e os blocos
são aproximados para trocar calor (veja figura ao lado). Suponha que o bloco mais
quente tenha temperatura T + ΔT, e mais frio esteja à temperatura T − ΔT.
mc ln
a) Mostre que a variação de entropia do bloco mais quente é ∆S quente =
Figura 8.14 –
Problema 18
150
mc ln
b) Mostre que para o bloco mais frio tem-se ∆S frio =
T
.
T − ∆T
T
.
T + ∆T
Segunda Lei da
termodinâmica
Anotações
151
FÍSICA GERAL II
Anotações
152
9
Referências
NUSSENZVEIG, Herch Moysés. Curso de Física Básica. 4.ed. São Paulo: Edgard
Blucher, 2002, v.2.
TIPLER, Paul A.; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros, Rio de Janeiro:
LTC Livros Técnicos, 2006. V.1
SERWAY, Raymond A.; JEWETT JR., John W. Princípios da Física, São Paulo: Pioneira
Thompson Learning, 2004 v. 1.
HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de Física, 7. ed.
Rio de Janeiro: LTC Livros Técnicos, 2006. V. 2
YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física II Sears & Zemansky, 12. ed. São
Paulo: Addison Wesley, 2008
153
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