observações astronômicas de josé brazilício de

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ALEXANDRE AMORIM
OBSERVAÇÕES ASTRONÔMICAS DE
JOSÉ BRAZILÍCIO DE SOUZA
Florianópolis (SC), março de 2010.
Copyright 2010 A.Amorim
A524
Amorim, Alexandre.
Observações astronômicas de José Brazilício de Souza, 2010. 232p.
1. Astronomia. 2. Observação Astronômica. 3. José Brazilício de
Souza. 4. Bibliografia. I. Título
CDD – 523
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SUMÁRIO
1 A ASTRONOMIA (por Sufi Junior) ............................................................................................... 5
José Brazilício de Souza – o Astrônomo ...................................................................................... 6
O Projeto Brazilício ..................................................................................................................... 7
2 SISTEMA SOLAR: OBJETOS E OBSERVAÇÕES ....................................................................... 8
2.1 Observações de Mercúrio ............................................................................................................. 9
2.2 Observações de Vênus ................................................................................................................. 9
2.3 Observações de Marte ................................................................................................................ 16
2.4 Observações de Asteróides ......................................................................................................... 17
2.5 Observações de Júpiter .............................................................................................................. 20
2.6 Observações de Saturno ............................................................................................................. 25
2.7 Observações de Urano ............................................................................................................... 30
2.8 Observações de Netuno? ............................................................................................................ 30
2.9 Observações de Cometas ........................................................................................................... 32
2.9.1 Cometa C/1882 R1 (Cruls ou Grande Cometa de Setembro de 1882) ................................ 32
2.9.2 Cometa 12P/Pons-Brooks ................................................................................................. 39
2.9.3 Cometa C/1885 X1 Fabry ................................................................................................. 41
2.9.4 Cometa C/1887 B1 Thome ............................................................................................... 43
2.9.5 Cometa C/1888 R1 Barnard .............................................................................................. 44
2.9.6 Cometa C/1892 E1 Swift .................................................................................................. 46
2.9.7 Cometa C/1901 G1 Viscara .............................................................................................. 47
2.9.8 Cometa C/1907 L2 Daniel ................................................................................................ 52
2.9.9 Descoberta independente? ................................................................................................. 54
2.9.10 Cometa 1P/Halley............................................................................................................ 56
2.10 Observação da Lua .................................................................................................................. 58
2.10.1 Cratera Messier................................................................................................................ 58
2.10.2 Circo de Stadius............................................................................................................... 58
2.10.3 Mar das Crises e seu interior ............................................................................................ 59
2.10.4 Região de Posidonius....................................................................................................... 59
2.10.5 Rupes Recta..................................................................................................................... 60
2.10.6 Observação da Lua Jovem ............................................................................................... 61
2.10.7 Outras regiões lunares...................................................................................................... 61
2.10.8 Luz Cinérea e Fenômenos Lunares Transientes ............................................................... 63
2.10.9 A observação de 11 de maio de 1885 .............................................................................. 64
2.11 Observação Solar ..................................................................................................................... 67
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2.12 Observação de Meteoros .......................................................................................................... 76
3 OBSERVAÇÃO DE ECLIPSES ................................................................................................... 81
3.1 Eclipse Parcial da Lua de 16 de outubro de 1883 ........................................................................ 81
3.2 Eclipse Total da Lua de 4 de outubro de 1884 ............................................................................ 82
3.3 Eclipse Parcial da Lua de 24 de setembro de 1885 ...................................................................... 83
3.4 Eclipse Parcial da Lua de 3 de agosto de 1887 ............................................................................ 84
3.5 Eclipse Total da Lua de 28 de janeiro de 1888 ............................................................................ 85
3.6 Eclipse Total da Lua de 23 de julho de 1888 .............................................................................. 86
3.7 Eclipse Parcial da Lua de 17 de janeiro de 1889 ......................................................................... 88
3.8 Eclipse Total da Lua de 15 de novembro de 1891 ....................................................................... 89
3.9 Eclipse Parcial da Lua de 11 de maio de 1892 ............................................................................ 91
3.10 Eclipse Total da Lua de 4 de novembro de 1892 ....................................................................... 92
3.11 Eclipse Total da Lua de 27 de dezembro de 1898 ..................................................................... 92
3.12 Eclipse Total da Lua de 17 de outubro de 1902 ........................................................................ 94
3.13 Eclipse Total da Lua de 27 de novembro de 1909 ..................................................................... 94
3.14 Eclipses Solares ....................................................................................................................... 94
3.15 Recorrência dos Eclipses de Brazilício ..................................................................................... 95
3.16 Cálculos das Fases de Eclipses Lunares .................................................................................... 98
3.16.1 Eclipse Parcial da Lua de 9 de março de 1876 ................................................................. 98
3.16.2 Eclipse Parcial da Lua de 24 de julho de 1907 ................................................................. 99
3.16.3 Cálculo para o Eclipse Total da Lua de 27 de setembro de 2015 .................................... 104
4 OBSERVAÇÃO DE CONJUNÇÕES ......................................................................................... 108
5 OBSERVAÇÃO DE OCULTAÇÕES LUNARES ...................................................................... 121
6 OBSERVAÇÃO DE ESTRELAS DUPLAS ............................................................................... 124
7 OBSERVAÇÃO DE ESTRELAS VARIÁVEIS ......................................................................... 135
8 OBSERVAÇÃO DE FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS ............................................................ 143
8.1 Crepúsculo Incomum ............................................................................................................... 145
9 REGISTROS DE TEMPERATURA E FENÔMENOS METEOROLÓGICOS ........................... 148
10 COMENTÁRIOS COMPLEMENTARES ................................................................................. 151
10.1 A Questão dos Horários ......................................................................................................... 151
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10.2 Declinação Magnética ............................................................................................................ 151
10.3 Os Instrumentos Usados.......................................................................................................... 152
10.4 A Pesquisa Astronômica de Brazilício .................................................................................... 153
ANEXO I – MAIS LICÇÕES DE COSMOGRAPHIA ................................................................... 161
Na terra e no espaço ...................................................................................................................... 161
A que distância estamos do sol? ..................................................................................................... 162
O movimento da translação da Terra ao redor do Sol ...................................................................... 162
O movimento de rotação da Terra .................................................................................................. 163
Equinócios e Solstícios .................................................................................................................. 164
Posições na esfera terrestre e seus effeitos no movimento apparente do céo..................................... 165
A gravitação universal ................................................................................................................... 165
O pólo do norte .............................................................................................................................. 166
Os tremores de terra ....................................................................................................................... 167
Relogios do Sol .............................................................................................................................. 167
Atmosphera lunar ........................................................................................................................... 168
O Sol da noite ................................................................................................................................ 168
As nebulosas .................................................................................................................................. 169
Constellações do hemispherio norte e numero das estrellas e nebulosas que a compõem ................ 170
Calculos astronomicos .................................................................................................................... 171
ANEXO II – O DIÁRIO METEOROLÓGICO E ASTRONÔMICO............................................... 179
ANEXO III – CALENDÁRIO BRAZILICIANO (?) ...................................................................... 228
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... 231
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A ASTRONOMIA1
A astronomia não é uma sciencia isolada; é a fonte perenne de que dimanam todas as sciencias. A
ella intimamente se prendem a physica, a geologia, a mineralogia, a chronologia e tantas outras sciencias que
hoje abrem o seu sanctuario á nossa curiosidade.
Parece ter nascido lá para os lados do oriente, nessas regiões onde provavelmente descerrou-se
tambem a chrysalida da humanidade.
No estado selvagem não è o homem estranho á astronomia: elle acompanha a marcha diurna do
sol e o movimento annual deste astro; observa as phases da lua, e sobre ellas funda o seu calendario rudimentar.
Ao attingir o estado pastoril é o céo ainda o seu indicador: os pastores do Himalaya, do Pamir ou
do Iran consultam-no ao cahir da noite ou aos primeiros albores do dia.
Caminha a civilização. Dos simples gregarios formaram as tribus, e estas abraçando a vida
agricola, se não se tornaram absolutamente sedentarias, pelo menos já teem mais apego ao solo que
desbravaram e humedeceram com o suor do trabalho.
Augmenta a astronomia o seu campo de observação, tornam-se mais patentes as suas vantagens.
A agricultura tem necessidade de conhecer as estações, precisa fixar a epoca das sementeiras, a do
córte das arvores, a das chuvas periodicas, e quem senão a astronomia, - pela observação do sol, da lua ou das
estrellas mais brilhantes, - poderia fornecer-lhe tão preciosos elementos?
Decorrem os seculos, e a civilização não para. Congregam-se as tribus ás margens dos grandes
rios e dão origem ás nações. E' então do Nilo, do Tigre, do Ganges ou do Yang-tse-kiang que os membros da
classe sacerdotal, homens superiores, depositarios dos primeiros vagidos da sciencia, perscrutam a
immensidade, reconhecem o movimento proprio dos cinco planetas visiveis, e, baseando-se nas phases lunares,
criam a semana, consagrando cada um dos dias de que ella se compôe aos mesmos planetas e mais ao sol e á
lua.
Se analysarmos as varias theogonias dos antigos povos, e mesmo a dos gregos, que os romanos
adoptaram, veremos que todas ellas se apoiam mais ou menos nas observações astronomicas, que os seus
deuses principaes se identificam com os astros mais brilhantes do firmamento.
Os philosophos gregos entregaram-se tambem ao estudo dos astros, mas, levados pelas
apparencias, não chegaram a comprehender o mecanismo celeste.
Teve a mesma sorte a escola de Alexandria. Ptolomeu apresentou o seu systema planetario, que
por algum tempo foi aceito, e todavia este e o do astronomo dinamarquez Tycho-Brahe, estavam muito longe
da realidade, eram verdadeiros obices ao progresso da astronomia mathematica.
Chegou então Copernico, e a luz se fez. Estava finalmente desvendado o mysterio que por tantos
seculos zombara da curiosidade humana.
Desde essa epoca seguir a astronomia uma brilhante estrada, realisando dia a dia as mais
estupendas conquistas, penetrando mais e mais nos dominios do infinito.
Hoje a astronomia não é apanagio de uma determinada classe; não tem segredos para quem se der
ao prazer de interrogal-o. O céo deslisa vagarosamente sobre as nossas cabeças, e os nossos olhos não se
fartarão de contemplar as bellezas que elle encerra.
Se a geographia alarga-nos o espirito mostrando-nos que além da terra em que nascemos ha outras
regiões, outros povos, outros climas; quanto não temos a lucrar com o estudo da astronomia, que nos conduz o
espirito a outros mundos tão distantes de nós, a outros sóes tão differentes desse que nos aquece e illumina!
E que effeito moral não produz em nós esta divina sciencia! Habitua-nos a olhar para o nosso
globo como para um atomo perdido no vacuo immenso; ensina-nos a ser tolerantes para com os nossos irmãos
na pesquiza da verdade; mostra-nos as grandezas e honrarias humanas por um prisma que as reduz a dimensões
microscopicas.
Felizes aquelles que sabem lêr, mesmo soletrando, os caractéres luminosos que a noite insculpiu
na abóboda celeste!
SUFI JUNIOR.
1
Artigo publicado no jornal Sul-Americano em 17 de agosto de 1902, p. 1, dedicado ao Reverendo Pº. A. Ganafini.
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6 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
José Brazilício de Souza – o Astrônomo
Este livro não poderia deixar de iniciar com um texto escrito pelo próprio José Brazilício de Souza.
O leitor percebeu a ortografia diferente da moderna. E esta decisão de transcrever o texto original foi mantida
em todo este livro. Não ousamos atualizar o texto para a gramática moderna.
Mas quem foi José Brazilício de Souza?
O seu nome está indelevelmente registrado na História de Santa Catarina como o compositor da
melodia do Hino do Estado de Santa Catarina, cuja letra é de autoria de Horácio Nunes Pires.
O que poucos sabem é que este nobre catarinense foi um notável astrônomo, pois registrou
observações visuais num período de 27 anos. Segundo seu neto, Abelardo Sousa, Brazilício foi "mais astrônomo
do que músico".
As informações sobre as observações astronômicas de Brazilício reapareceram em algumas
colunas do jornal O Estado nas décadas de 1970 e 1980. Tais colunas eram escritas por Abelardo Sousa. No
entanto Sousa já preparara na década de 1970 uma biografia sobre Brazilício que foi definitivamente impressa
em 2002 com o título O Sábio e o Idioma, com revisão de Sueli Sousa Sepetiba. O livro trata de notas
biográficas de José Brazilício de Souza, principalmente no que se refere a Música, Astronomia e ao idioma
Volapük2
Fora esta biografia é incomum encontrar o nome de José Brazilício de Souza associado à
astronomia, exceto em jornais da época de sua atividade de observação. Em publicações específicas de
Astronomia, encontramos um verbete no Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, 2ª Ed.
(1996), de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão:
Souza, José Brasilício de. Professor brasileiro nascido em Goiana, Pernambuco, a 9
de janeiro de 1854 e falecido em Desterro, (atual Florianópolis, SC), no início do
século XX. Escreveu Lições de Cosmografia (Desterro, 1890).
Após a leitura inicial do livro Sábio o autor decidiu criar um website contendo as observações de
José Brazilício de Souza com os primeiros comentários. Entretanto a partir de 27 de junho de 2006 iníciou o
Projeto Brazilício. Acrescenta-se a tal projeto a publicação deste livro, não apenas na divulgação das
observações, mas também dos vários artigos escritos por Brazilício e comentários sobre suas observações e
artigos.
O que fez Brazilício gostar de Astronomia?
Encontramos no livro Sábio, página 61:
"Com que teria Brasilício aprendido a estudar o firmamento? Não nos consta
houvesse por aqui [em Desterro/Florianópolis], no último quartel do século XIX,
quem se dedicasse a ensinar astronomia até o ponto em que ele chegou. Pelo seu
registro, que transcreveremos a seguir, só se pode deduzir que ele tenha, talvez,
aprendido, em livros próprios, alguns rudimentos e, daí por diante, a coisa ficou
por conta da sua aguçada capacidade de autodidata."
Como iniciou a curiosidade astronômica?
"...dirigia os olhos para o céu e, na calada das noites, confidenciava meus planos
a uma estrela distante. Depois, quis saber os nomes das mesmas, suas
semelhanças..., desejei conhecer os planetas... e enfim outros corpos do espaço."
O primeiro registro astronômico foi na noite de 11 de agosto de 1882 quando Brazilício anotou o
seguinte em seu diário:
Dia 11 de agosto de 1882 - de 7 horas às 8 ½ da noite.
Constellações estudadas - Cruzeiro do Sul, Triangulo austral, Altar, Centauro,
Boieiro, Compasso. Signos do
Zodiaco - Scorpião, Balança, Virgem.
É na constelação de Centauro que se acha a estrella mais vizinha de nós (1ª gr).
Na do Boieiro acha-se também a estrella Arcturus (1ª gr).
No signo de Scorpião acha-se a estrella Antares (1ª gr).
Na da Virgem, a estrella Spica (1ª gr).
Brazilício manteve correspondência com Camille Flammarion, Secretário Geral da Sociedade
Astronômica da França.
Entre 1888 e 1891 lecionou Geografia e Cosmografia no Liceu de Artes e Ofícios.
Em seus artigos de assuntos astronômicos, Brazilício usava o pseudônimo "Sufi Junior",
certamente numa referência ao astrônomo persa Abderrahman Al-Sufi.
Estas e outras informações serão consideradas ao longo dos capítulos da presente obra.
2
Idioma universal criado na segunda metade do séc. XIX pelo padre Johann Martin Schleyer
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20 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
2.5 Observações de Júpiter
O planeta Júpiter foi observado diversas vezes por Brazilício, em especial a configuração dos
satélites galileanos. Vejamos todos os registros encontrados na Agenda:
1883 julho 26 - Conjunção de Jupiter e Venus á 10' de distancia. Jupiter ao S. Os
dous astros parecião uma estrella dupla visivel á olho nú. O phenomeno só pôde ser observado
ás 6 ½ da manhã, hora em que os planetas surgirão no horizonte.
Comentário: as conjunções entre Júpiter e Vênus são bem comuns. Trataremos sobre isto no
capítulo sobre Conjunções.
1883 dezembro 11 - ...Jupiter magnifico. Observei (150) a sombra de um satellite
desde a sua apparição até quasi chegar ao meridiano central, sem contudo ter ainda entrado o
satellite no disco do planeta. Acho ser a causa disto a posição da Terra em relação em relação
ao Planeta e ao Sol.
Comentário: a luneta de 95 mm usada por Brazilício tinha resolução suficiente para detectar o
trânsito das sombras das luas galileanas. Lembramos que os elementos para as efemérides das luas galileanas
são suficientes para as simulações em programas de computador. No caso desta observação, o evento ocorreu na
madrugada do dia 11. A sombra era do satélite Ganimedes, o maior deles. E a explicação sobre o fato do satélite
ainda não ter “entrado” no disco enquanto a sua sombra já o transitava está correta.
1884 janeiro 8 - 3h. da m. - Mudando o vento pude observar Jupiter. Tres
satellites ocupavão o lado do Leste e um o do Oeste. Visiveis as zonas claras parallelas ao
equador.
Comentário: os 3 satélites à Leste eram Ganimedes , Io e Europa, enquanto que o satélite à Oeste
era Calisto. Se Brazilício reobservasse Júpiter apenas 1 hora depois, poderia observar o trânsito da sombra de
Europa. Já as zonas paralelas ao equador são visíveis mesmo com um instrumento de 60 mm de abertura.
Recomendamos a leitura do livro Manual do Astrônomo, de Jean Nicolini, para saber mais sobre a observação
destas faixas jupiterianas.
1884 janeiro 10 - ...Jupiter com um satellite á L. e tres á O.
1884 janeiro 12 - 4h da manhã. Jupiter com 3 satellites á O. e 1 á L.
1884 janeiro 16 - 2h da m. - Jupiter - 2 satellites á O. 1 á L. e o ultimo sobre o
disco do planeta onde projeta sua sombra. Acompanhei a sombra que se deslocava em direção á O.
e ás 3h apparece o satellite junto ao disco, do lado O... 8h da tarde - Jupiter - 2 satellites
á L. e 2 á O.
Comentário: os 2 satélites à Oeste eram Io e Europa, enquanto que o satélite à Leste era Calisto. A
sombra era de Ganimedes. A emersão de Ganimedes é calculada pelo SkyMap Pro 10 para as 03:35. Parte da
diferença é devido à defasagem de 14 minutos entre a hora média local e a do fuso GMT-3. Os 10 minutos
talvez sejam mais em virtude da demora em se perceber o satélite contíguo ao disco do planeta e não no instante
da emersão observada.
1884 janeiro 17 - ...Jupiter - dous satellites á O e dous á L.
1884 janeiro 24 - ...Jupiter, muito brilhante. Um satellite á L.e tres á O.
1884 janeiro 25 - ...Jupiter - Dous satellites á L. e dous á O.
1884 fevereiro 5 - ...Muito visiveis estavão as zonas escuras do disco de Jupiter.
1884 fevereiro 12 - ...Jupiter - 2 satellites a L. e 2 á O. estando um quasi junto
ao planeta e o outro muito affastado.
1884 março 18 - ...9h. 25' da n. Approximação de dous satellites de Jupiter, a
ponto de quasi apparentemente tocarem-se, formando-se assim um só satellite, porém allongado.
Comentário: os 2 satélites em conjunção eram Io e Europa. O horário de máxima aproximação
confere com a informação de Brazilício (21:25 HML = 21:39 EBT)
1884 abril 8 - ...6h. 45' da t. Jupiter - 3 satellites á L. e um á O. Ve-se á L.
do ultimo satellite uma pequenina estrella menos brilhante que os satellites porém parecendo
um quinto satellite por achar-se na mesma linha dos outros.
Comentário: os 3 satélites à Leste eram Calisto, Ganimedes e Europa, enquanto que o satélite à
Oeste era Io. A pequenina estrela é catalogada como BD +21 1717 e possui magnitude 9,9.
1884 abril 10 - ...Jupiter. 3 satellites visiveis.
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32 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
2.9 Observação de Cometas
A pesquisa feita até então mostra que Brazilício observou a passagem de 8 (oito) cometas e talvez
tenha participado numa provável descoberta. A seguir traremos informações específicas para cada cometa
observado.
2.9.1 Cometa C/1882 R1 (Cruls ou Grande Cometa de Setembro de 1882)
O Grande Cometa de 1882 foi relatado oficialmente em 11 de setembro de 1882 pelo astrônomo
belga, porém naturalizado brasileiro, Louis Cruls, no Observatório Imperial do Rio de Janeiro. Apesar de
existirem alguns registros anteriores ao de Cruls, o Observatório Imperial foi o primeiro a medir a posição e
divulgar à comunidade científica por meio de mensagem telegráfica enviada aos editores da revista
L'Astronomie. De fato a comunicação foi publicada na edição de outubro de 1882, páginas 308-11. Como o
astro foi visível em plena luz do dia, vários relatos por carta chegaram à redação de L'Astronomie no decorrer
dos meses. Porém nada mais justo do que reconhecer a eficiência de Louis Cruls em utilizar o meio de
comunicação mais rápido da época, a saber, o telégrafo. Apesar disto, até hoje o cometa apenas é nomeado de
"Grande Cometa de Setembro de 1882" e não por Cometa Cruls. Vale lembrar que a próxima vez que um
cometa recebeu o nome de um astrônomo brasileiro foi em 28 de dezembro de 2002, por ocasião da descoberta
do Cometa Juels-Holvorcem.
A seguir temos todas as observações feitas por Brazilício conforme anotadas em sua Agenda.
1882 - 18 de Setembro - Apparição de um cometa muito perto do Sol, ás 8 horas da manhã. Á
oeste do Sol e na distancia apparente de 8 vezes o diametro do Sol.
Ascenção recta: 11 horas 26' e 46" |
Declinação boreal: 1°,15',31" N
| 10 horas ½ m
19 - Visivel apenas 4' antes do nascer do Sol
20 - Céu nublado durante o dia inteiro
21 - [idem]
1882 - 26 de Setembro
Apparição da cauda
4h 20' m
Apparição do nucleo
4h 50' m
Comprimento da cauda
7°,30'
Tornou-se invisivel ás 5h 33'
Apparição do Sol
6h 16'
Differença entre a aparição [do] nucleo e a do Sol = 86'
Distancia do cometa ao Sol 21° 30'
Ascenção recta
- 10h 58'
Declinação austral 3°
Acha-se pois a L. da constellação do Sextante
1882 - 28 de Setembro
Apparição da cauda
4h, 8'
Apparição do nucleo
4h, 37' 30"
Deixou de ser visivel ás 5h, 33'
Comprimento apparente da cauda 7°, 15', 7"
Distancia ao Sol
24°, 30'
Ascenção recta
10h, 50'
Declinação austral
4°
1882 - 30 de Setembro
Apparição da cauda
Apparição do nucleo
Comprimento da cauda
Nascimento do Sol
Distancia do cometa ao
AR
= 10h, 48'
D.austral = 6°
3h, 47'
4h, 23'
9°
6h, 12'
Sol 27°, 15'
1882 - 7 de Outubro
Apparição da cauda do cometa
2h, 40'
Apparição da lua
3h, 15'
Apparição do nucleo
3h, 32'
Comprimento da cauda
14°
Distancia angular do cometa á lua
25°, 38'
Distancia angular do cometa á Régulus 23°, 30'
Distancia angular do cometa á  Hydra 17°, 10'
AR
= 10h, 30'
D
= 10°
Distancia do cometa ao Sol
35°, 45'
1882 - 10 de Outubro
Distancia do nucleo do cometa á  da Hydra
Á Régulus do Leão
16°
24°, 50'
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58 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
2.10 Observação da Lua
Este é um tipo de observação que Brazilício se destacou muito, não apenas na selenografia como
no acompanhamento de vários eclipses lunares. O próprio Brazilício explicou a sua predileção pela selenografia
numa carta enviada à redação da revista L’Astronomie nas seguintes palavras:
Les études sélénographiques de M. Gaudibert
enflammé d'ardeur pour l'observation de notre satellite.
publiées
par
L'Astronomie
m'ont
Apesar de citar apenas Gaudibert na verdade a série de artigos sobre os Estudos Selenográficos foi
principalmente escrita por Philippe Gérigny. Estes artigos começaram a ser publicados na edição de
L’Astronomie em abril de 1883 onde na sua página 159 trazia uma carta lunar e a relação de crateras e outros
acidentes selenográficos. Muito provavelmente Brazilício usou este mapa lunar da mesma forma que fica
evidente a sua leitura dos artigos posteriores, pois as observações foram feitas com base nos artigos.
Seguem as observações da Lua organizadas por algumas regiões de destaque:
2.10.1 Cratera Messier:
1884 Janeiro 16 - ...Na Lua observei muito claramente a dupla cratéra Messier e o
circo de Posidonius.
Comentário: As crateras Messier foram brevemente descritas na edição de L’Astronomie de junho
de 1884, página 234. São duas crateras muito próximas uma da outra e estão situadas no Mar da Fecundidade.
Gerigny informa no citado artigo que Beer et Mädler as observou como duas pequenas crateras bem profundas.
Mas em 1855 Webb notou que a cratera oriental era um pouco maior que a outra e, em 1856, percebe que a
cratera ocidental além de ser menor é, também, alongada no sentido leste-oeste, enquanto que a cratera oriental
é alongada no sentido norte-sul. Rubens de Azevedo informa em seu livro “Lua – Degrau para o Infinito” que
as sombras produzidas por Messier devem ser desenhadas cuidadosamente, porém necessitam-se instrumentos
de grande abertura para tal tarefa.
1884 Fevereiro 12 - ...Lua magnifica. Observei o mar das Crises que se acha
proximo do circulo d'illuminação. A dupla cratéra Messier conquanto ainda longe do circulo de
illuminação é bem visivel como dois pontinhos muito brilhantes. O vento N. difficulta as
observações.
Comentário: A Lua já passara da fase Cheia em cerca de 2 dias. O círculo de iluminação é o que
chamamos hoje de terminadouro, isto é, a linha entre o lado iluminado e o não iluminado.
1887 Agosto 7 - 5h. m. Magnifico luar. Observei a Lua...Visivel perfeit.mte a dupla
cratéra Messier. Tempo seguro.
2.10.2 Circo de Stadius
1884 Março 6 - Tempo regular de manhã. De tarde tornou-se bom e á noite pude
observar a Lua. Impossivel distinguir o circo de Stadius, sem borda por já estar um pouco
longe o circulo d'illuminação.
Comentário: o circo de Stadius é muito raso, dependendo de determinado ângulo de iluminação
para ser percebido. Brazilício relata aqui a dificuldade de distinguir Stadius pelo fato de estar longe do
terminadouro. Gerigny faz uma breve descrição de Stadius em L’Astronomie, outubro de 1883, página 392,
informando que a borda do circo tem cerca de 8 km de largura, porém detectada como uma mancha de
coloração ligeiramente diferente do terreno vizinho. Webb também detectou o anel montanhoso de Stadius,
embora muito difícil de observar. Brazilício se ocupou outras vezes deste circo.
1884 Março 17 - ...11 h. da noite. Observei a Lua com o fim de ver se distinguia
melhor o circo de Stadius. Com effeito elle apresentava-se melhor do que no dia 6.
Comentário: Brazilício se ocupa novamente de Stadius, comparando com a observação anterior.
No dia 6, Stadius estava relativamente próxima do terminadouro, e a Lua seguia para a fase Cheia. Já neste dia
17, a Lua passara pela fase Cheia e o ângulo de incidência dos raios solares sobre Stadius mudou (o Sol
ultrapassara o meridiano local em Stadius) e talvez este seja o motivo do circo ser melhor observado.
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80 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
A Luz Zodiacal
Em seu artigo escrito no Jornal do Commercio de 16 de novembro de 1887, Brazilício mencionou
a luz zodiacal desta forma:
A luz zodiacal, visivel em certos mezes do anno ao oriente e ao occidente, antes
do nascer do sol e logo depois do seu occaso, nos mostra um destes enxames de corpusculos
rodeando o astro central e estendendo-se alem da orbita da Terra.
Existem melhores épocas para se observar a luz zodiacal. Durante o anoitecer é melhor observá-la
nos meses de julho, agosto e setembro. Já ao amanhecer, é melhor visualizá-la nos meses de março, abril e maio.
Tal visibilidade depende da inclinação da eclíptica em relação ao horizonte local. Isto não impede de se observar
a luz zodiacal em outras épocas do ano. O problema é a atual poluição atmosférica e luminosa que reina nos
centros urbanos. Numa época em que a cidade de Nossa Senhora do Desterro era iluminada por lamparinas
queimando óleo de baleia, o céu era escuro o suficiente para se observar a luz zodiacal. Encontramos dois
registros de Brazilício: uma observação ao amanhecer e outro ao anoitecer.
1884 Julho 4
5h. 30m. m. Bella madrugada. Ve-se perfeitamente o cone de luz
zodiacal desde a constellação do Touro até Peixes.
1887 Novembro 15
Bonito dia. A noite esplendida. Muito visivel ao poente a luz
zodiacal.
Bibliografia desta seção:
FLAMMARION, Camille, Astronomie Populaire, Paris, 1880.
FLAMMARION, Camille, Les Étoiles et Les Curiosités du Ciel,1882.
Jornal do Commercio, 16 de novembro de 1887
MOURÃO, Ronaldo R. F. Anuário de Astronomia e Astronáutica 2009.
MOURÃO, Ronaldo, R. F. Atlas Celeste, 1997, 8ª edição.
SOUZA, José Brazilício de, Diário Meteorológico e Astronômico, 1882-1909.
Revista do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, maio de 1886.
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Observação de Eclipses 81
Capítulo 3: Observação de Eclipses
O primeiro eclipse registrado por Brazilício foi em 16 de outubro de 1883, um eclipse parcial da
Lua. A particularidade deste evento reside no fato de acontecer durante a madrugada e sua magnitude umbral
não exceder 30%. Isto não era empecilho para Brazilício deixar de observar. Além deste, ele observou outros
nove eclipses lunares, sendo que 7 (sete) eventos encontram-se na Agenda e 5 (cinco) foram relatados em
jornais da época. Devemos ficar atentos a eventos relatados em jornais e não encontrados na Agenda. E no caso
dos eclipses temos pelo menos 3 (três) eventos que satisfazem esta condição. Curiosamente Brazilício não
relatou a observação de nenhum eclipse solar, embora alguns ocorreram durante sua atividade. Examinaremos
primeiramente cada eclipse lunar observado, relatado ou calculado por Brazilício.
3.1 Eclipse Parcial da Lua de 16 de outubro de 1883
Temos apenas o relato observacional existente na Agenda
30' da manhã - Céo nublado, chuva. Ainda não começou o eclipse (1)
1h
- Cessou a chuva. Apparece a lua.
1h 25m
- O bordo da lua no polo S ainda não está perfeitamente delineado. Há diversas
saliencias. (2)
1h 30m - Nublado o céo. Vê-se a lua de espaço á espaço.
2h 30m - O bordo S acha-se na penumbra.
2h 35m - A penumbra alcança a cratéra Tycho.
3h
- Lua na sombra. Encobre-se de novo o céo. Chuvisca.
3h 7m - A sombra encobre a cratéra Tycho. Distingue-se vagamente a parte da lua que se acha
eclipsada. A sombra tem a cor parda.
3h 30m
Chega a sombra ao mar das Nuvens no hemispherio S e ao mar do Nectar no hemispherio
O. Apezar de se achar eclipsada a cratéra Tycho, continuão visíveis algumas das suas
irradiações, na parte iluminada da lua.
4h
- A sombra affasta-se do mar das Nuvens em direção ao S.
4h 15m - A lua encoberta por nuvens que se acumulão no horizonte.
4h 30m - Céo inteiramente coberto. Chuva. (3)
Aspecto da lua ás 3h 30m.
Devemos lembrar que os horários usados por Brazilício sempre eram em tempo médio local ou
HML (Hora do Meridiano Local). Este tempo será sempre cerca de 14 minutos atrasado em relação o atual fuso
horário de Brasília, hora oficial válida para o município de Florianópolis. O céu parcialmente nublado impediu
Brazilício de anotar corretamente os toques U1 e U2, respectivamente primeiro e segundos contatos da Lua com
a sombra da Terra.
As saliências observadas no bordo sul da Lua devem-se ao fato do centro da Lua não estar
diametralmente oposto ao centro do disco solar ou então Brazilício estava se referindo à região fortemente
craterizada nas proximidades do polo sul lunar. Normalmente tal perfil é discernível em ocultações rasantes.
Dados calculados pelo software SkyMap Pro 10
Circunstâncias do Eclipse (hora local):
Lua entra na penumbra : 1883 out 16 01:40:54
Lua entra na umbra
: 1883 out 16 02:58:37
Meio do eclipse
: 1883 out 16 03:54:17
Lua sai da umbra
: 1883 out 16 04:50:00
Lua sai da penumbra
: 1883 out 16 06:07:41
Magnitude Umbral
: 0.281
Duração da fase umbral
: 1h 51m 23s
Duração da fase penumbral : 4h 26m 46s
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98 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
3.16 Cálculos das Fases de Eclipses Lunares
Entre os manuscritos de Brazilício encontramos 2 (dois) cálculos de eclipse lunar. O primeiro
cálculo é do eclipse de 8 de março de 1876 enquanto que o segundo é para o eclipse de 24-25 de julho de 1907.
Muito provavelmente o primeiro cálculo era um exercício para adquirir prática no assunto e tal
exercício iniciou por volta de 1907, uma vez que não encontramos evidência de cálculos para um eclipse lunar
anteriormente registrado (17/10/1902). Desde que foi publicado o livro Sábio procuramos localizar a fonte usada
por Brazilício para estes cálculos. Foi de ajuda o cálculo disponível no livro La Luna de A. Fresa e do
Astronomy – a Handbook de Roth et alli, porém ambos tinham formas de cálculo diferente. O livro Traité
élémentaire d’astronomie physique de Jean-Baptiste Biot possuía vários elementos semelhantes, mas não eram
os cálculos usados por Brazilício.
Após tais descobertas de cálculos similares, descobrimos que Brazilício usou a 3ª edição do livro
Cours d’Astronomie de Edmond Dubois3. As páginas 334 a 336 da obra mostram todas as etapas do cálculo.
3.16.1 Eclipse Parcial da Lua de 9 de março de 1876
O cálculo deste eclipse está na Agenda escrita por Brazilício. Em página anterior encontramos
medidas de azimute e altura realizadas em 18 de outubro de 1907 e na página imediatamente posterior
encontramos determinação de estado do cronômetro em 5 de setembro de 1909. Este eclipse foi visível na Ilha
de Santa Catarina, porém ocorreu seis anos antes das atividades observacionais de Brazilício, o que não impede
dele ter observado por contemplação.
Vejamos as etapas do cálculo deste eclipse:
Calculo do eclipse parcial da Lua, visivel em Paris a 9 de Março de 1876
Elementos do calculo.
Epoca T.M. de Paris da opp. em AR .........
Decl. da
para esta epoca
.............
 = - {
"
do
"
"
"
...............
Mov. hor. em AR da
......................
"
d.
do
......................
"
"
em decl. da
...................
(mov. hor. relat. da
em declinação)ℓ - {
"
"
d.
do
....................
Parallaxe hor. equat. da
...............
"
"
"
do
...............
Semi-diam. da
.........................
" d.
do
............................
17h 39m 30s ,3
' = + 4° 53' 17",4

M
m
P
p
d
D
= - 3° 57' 15",9
=
30' 11",3
=
2' 18",0
=
- 16' 13",6
=
=
=
=
=
+
58",7
57' 59",9
8",9
15' 49",8
16' 7",9
Desenvolvimento do calculo
Calculo para determinar A e A', raios app. dos discos de sombra para a penumbra.
P =
p =
P + p
57' 59",9
8 ,9
= 58'
D = 16'
P+p-D = 42'
P+p+D =1°14'
d'onde A =
A'= 1°
Calculo de  (inclinação da orb. rel)
(2)
8",8
M - m = 27' 53",3 ct log = -4,776416
t
7",9
 = 3°57'15",9 = ...c log cos = 0,001035
0",9
(M-m)cosen  ct log
= -4,777451
16",7
ℓ = -15' 14",9
log = 2,961374
42' 42",91 (ℓ = m ##
log tang = -1,738825
15' 30",98
= -28° 43' 30"
Calculo de  cos 
 = 56'
1",5 log = 3,526534
log cos  = -1,942968
log  cos  = 3,469502
 cos  = 49' 7",83
donde o eclipse é parcial porque  cos  > A
O cálculo de Brazilício termina nesta sentença. Não há desenvolvimento posterior para se
determinar os instantes do eclipse.
3
Cabe aqui relatar o acaso da descoberta: durante uma conversa com o geólogo meteorista Rodrigo Sato ele informou que gosta de
colecionar não apenas meteoritos e rochas, mas também livros antigos, e que possuía vários livros de astronomia em francês do século XIX.
Perguntei a ele se possuía o Astronomie Populaire de Flammarion, edição de 1890, e se os demais livros possuíam algum tipo de cálculo
sobre eclipses. Numa próxima ocasião em que nos encontramos, ele trouxe dois livros: o Astronomie Populaire e o Cours d’Astronomie de
Dubois. Quando pus os olhos no capítulo sobre eclipses, não havia dúvidas: era exatamente o cálculo que Brazilício usara.
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124 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
Capítulo 6: Observação de Estrelas Duplas
Uma das primeiras coisas que um observador faz ao adquirir um instrumento astronômico é
localizar e detectar as principais estrelas duplas. E com Brazilício não foi diferente. Notaremos que algumas
estrelas ele descobriu a duplicidade sem tomar conhecimento de informações anteriores. Vale lembrar que
Brazilício não dispunha de todo o material impresso que existia nos principais observatórios do mundo. Porém
muita informação sobre estrelas duplas era obtida através das páginas do livro Curiosités du Ciel de Camille
Flammarion. Vejamos quais os alvos observados por Brazilício.
Alfa do Cruzeiro
1883 março 27 Observando a estrella  do Cruzeiro achei-a tríplice. Consigno aqui
esta observação porque C. Flammarion nada diz á respeito della. Apresenta mais ou menos este
aspecto:
1883 dezembro 11 ...[ do Leão muito bem desdobrada na ocular 200.  do Centauro
igualmente] e bem assim  do Cruzeiro.
1884 janeiro 10 ... [ do Leão bem distincta,] e bem assim  da Cruz e  do
Centauro.
Comentário: De fato o livro Curiosités du Ciel não menciona a triplicidade de alfa Crucis. Tanto
que a estrela nem figura na tabela de estrelas duplas nas páginas 686-9. Esta informação foi apreciada por A.
Seixas Netto que escreveu o seguinte: "Outra coisa valiosa que me alegrou muito e cheguei a evocar aulas do
maravilhoso astronomo Mancio da Costa, meu professor - e aluno do Brasilicio -, foi recordar, e ver
"claramente visto", que José Brasilicio de Sousa foi o primeiro no Hemisfério Sul a desdobrar (o jargão é
astronomico) a estrela alfa do Cruzeiro do Sul que (realmente) é uma estrela tripla. Até Flamarion não ha
referência à tripla alpha-Crucis. A primeira referência foi de Brasilicio, deu-lhe grande prestigio na Europa."
Mas curiosamente um mês após a consignação de Brazilício a respeito de alfa Crucis, a edição de
Maio de 1883 da Revista L'Astronomie apresentou um artigo escrito por Flammarion sobre Estrelas Duplas. Na
nota de rodapé na página 165, Flammarion informa:
"En 1685, les jesuites envoyés à Siam par Louis XIV dédoublèrent  de la Croix du Sud, et en
1689, Richaud, à Pondichéry, dédoubla  du Centaure. Mas ce nétaient pas là des mesures."
O Catalogo de Washington alista uma primeira medição feita 1826 quando as componentes AB
estavam distantes 5,4" em AP 114°. Neste mesmo ano as componentes AC foram medidas com distância de
87,2" em AP 200. A qualidade óptica das atuais lunetas de 60 mm permitem desdobrar a estrela alfa Crucis,
principalmente durante o crepúsculo náutico quando há um contraste ideal entre a imagem da estrela e o fundo
do céu.
Épsilon do Perseu
1883 dezembro 1 ...Não posso distinguir com a ocular 150 a companheira da estrella
 do Perseu, que se acha á 9" de distancia.
Comentário: Esta estrela figura na tabela do Curiosités, página 688. Flammarion informa que as
duas componentes possuem respectivamente magnitudes 3,3 e 8,5 com separação de 9". Possivelmente a
dificuldade de não discernir um objeto de 8ª magnitude próximo à estrela principal de 3ª deve-se a baixa altitude
que epsilon Persei atinge em Florianópolis, a saber, 22 graus. O Catálogo de Washington não informa sobre a
variação da distância angular entre as duas componentes que justifiquem uma aproximação suficiente para
ultrapassar o limite de resolução de um instrumento com 95 mm de abertura da objetiva.
Gama do Leão
1883 dezembro 11 ... do Leão muito bem desdobrada na ocular 200.
1884 janeiro 10 ...  do Leão bem distincta, e bem assim  da Cruz e  do
Centauro.
1884 janeiro 29 ... Bem distincta a estrella  do Leão.
Comentário: Flammarion descreve gamma Leonis como uma dupla magnífica que, junto com
Castor (alfa Geminorum), é uma das mais belas duplas do hemisfério boreal. São descritas como dois diamantes
translúcidos, tendo magnitudes de 2,5 e 4,0 e separação de 3,3". Acrescenta que uma das componentes descreve
um arco de 30° ao longo de 1 século, de modo que a revolução completa chega a 1.000 anos. Mourão, por sua
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148 Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
Capítulo 9: Registros de Temperatura e Fenômenos Meteorológicos
Abelardo Sousa, neto de Brazilício, foi quem informou os leitores do jornal O Estado sobre os
registros meteorológicos feitos no período de 1884 a 1887. Num artigo intitulado “Estão ocorrendo mutações
climáticas?” na edição de 1° e 2 de janeiro de 1977, Abelardo traz várias informações sobre temperatura e
chuvas na cidade de Desterro, obtidas diretamente da Agenda de Brazilício. Podemos afirmar que Abelardo foi a
primeira pessoa a analisar e reduzir os dados de Brazilício. O artigo despertou a atenção de A. Seixas Netto,
então responsável pelos boletins meteorológicos nos jornais locais. A edição do jornal O Estado de 9 de janeiro
de 1977 trazia já uma afirmação: “Estão ocorrendo mutações climáticas”.
Agora incluímos nesta obra toda a Agenda de Brazilício digitada para facilitar a pesquisa e análise
(Anexo II).
Um dos objetivos da anotação dos dias chuvosos era para estudo posterior, tal como lemos nesta
carta de Brazilício à Eduardo Nunes Pires, escrita em 9 de dezembro de 1888 no idioma volapük e
posteriormente traduzida por Abelardo Sousa:
Desterro, balsetalul 9id, 1888
Desterro, 9 de dezembro de 1888
Flen lestimalik Ed. Pires,
Respeitável amigo Ed. Pires,
Dalol-ös obi lofön ole vobi at oba
smalik, seki loegamas obik du yels fol.
Labom veütio nemödik, ibo binom vemo
nelefulnik: no labob pliemis zesüdik al mekön
loegamis stomavik.
Yed, if sam obik päsukom-la fa uts, kels
binoms cödels in din at, älon obs-öv lesuno
kodamis valik kels stitoms klümi obsik.
Logon ya Bosi nitedik in blüf at obik,
a.s. pluüni lömibas du kilul e zülul, difi
gletik bevü kilul e folul e.l.
Li-vilol yufön obial fovön vobi at?
Ävedom-öv somo nefikuliküno, lusumikum e
seladikum, bi logs fol ailogoms umo ka tel.
Äikanobs-öv noetön jenis anik stomavik,
beginöl
in
balul
füdetik
ed
aifeleigön
loegamis obsik, kels, ünü yels nemödik,
äbitopoms-öv nited jenik.
Nolob das ailabol ya vobis tu mödik (vp
patiko, keli egivol kopi e lani olik), ab i
etos no flagos timi lonedik. Aidunom valikosi
nefikuliko me vilöf.
E lemäno, lio löfiek oibinos plo obs
datüvön
Klänis
Nata?
Sevön
lonis
kels
airegoms jeni sembal omik, tefü tim, top, e.
l.? aibinön fino ko om, milagöl omi visü
subimikos u jekikos?...
Valadob spido gepüki olik, kel, binob
zeladiko, okotenom levemo obi.
D.O.D.
Sufi Junior
Stelavel du düps nedanik
Permita-me
oferecer-lhe
este
pequeno
trabalho, resultado das minhas observações
durante quatro anos.
Tem pouca importância, porque está muito
incompleto;
não
disponho
dos
elementos
necessários
para
fazer
observações
meteorológicas.
Contudo, se o meu exemplo fosse seguido
por outros, que são juízes neste assunto,
completar-se-iam muito cedo todas as causas
que regem o nosso clima.
Vê-se já algo de interessante nesta
minha experiência, a saber: o excesso de
chuvas durante março e setembro, a grande
diferença entre março e abril e assim por
diante.
Quer
auxiliar-me
a
continuar
esta
tarefa?
Ficaria assim bem mais fácil, agradável
e correta, porque quatro olhos vêem sempre
melhor que dois.
Poderíamos
registrar
alguns
casos
meteorológicos, começando em janeiro próximo,
e comparar nossas observações, que, dentro de
poucos anos, teriam, pelo menos interesse
histórico.
Sei que já tem muitos trabalhos (o
Volapük, principalmente, ao qual se dedica de
corpo e alma), mas esses também não exigem
longo tempo. Faz-se todas as coisas com
facilidade: basta querer.
E, de resto, como seria agradável para
nós descobrir os planos da natureza? Conhecer
as leis eternas que regem a sua história, com
respeito ao tempo, lugar e assim por diante?
Estar, enfim, com ela, admirando-a de frente,
sublimados ou emocionados?...
Aguardo com rapidez a sua resposta, que,
estou certo, muito me agradará.
S.A.A.
Sufi Junior
Astrônomo nas horas vagas
Como anexo da carta havia uma tabela indicando todos os dias de chuva desde janeiro de 1884 a
dezembro de 1887.
O desejo de Brazilício não se concretizou: Eduardo Nunes Pires devia estar ocupado o suficiente
para não se dedicar ao registro meteorológico. Nem Brazilício continuou com este tipo de registro. Seu último
registro meteorológico da forma iniciada em 1884 é da data 25 de fevereiro de 1888. A partir desta data ele só
registrava eventos astronômicos de interesse e raros eventos meteorológicos.
Entre os manuscritos separados da Agenda encontramos gráficos sobre a distribuição das chuvas
nos anos de 1884 a 1887 conforme imagens a seguir:
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Diário Meteorológico e Astronômico 179
Anexo II – O Diário Meteorológico e Astronômico
Transcrevemos a seguir o conteúdo da Agenda alistando eventos e anotações entre 11 de agosto
de 1882 e 19 de setembro de 1909. Não foram incluídas quaisquer folhas separadas da Agenda nem
apontamentos que não dizem respeito à observações astronômicas ou meteorológicas.
Dia 11 de agosto de 1882 - de 7 horas às 8 ½ da noite.
Constellações estudadas - Cruzeiro do Sul, Triangulo austral, Altar, Centauro, Boieiro,
Compasso. Signos do Zodiaco - Scorpião, Balança, Virgem.
É na constelação de Centauro que se acha a estrella mais vizinha de nós (1ª gr).
Na do Boieiro acha-se também a estrella Arcturus (1ª gr).
No signo de Scorpião acha-se a estrella Antares (1ª gr).
Na da Virgem, a estrella Spica (1ª gr)
Dia 13 de Agosto de 1882 - de 7 horas á 8 da noite
Constellações estudadas - Aguia, Lyra, Peixe austral.
Signos do Zodiaco - Sagittario, Capricornio, Aquario.
É na constellação da Aguia que se acha a estrella (1ª gr.) Altair
Na da Lyra a estrella Vega (1ª gr.)
Na do Peixe austral a Fomalhaut (1ª gr.)
1882 - 18 de Setembro - Apparição de um cometa muito perto do Sol, ás 8 horas da manhã. Á
oeste do Sol e na distancia apparente de 8 vezes o diametro do Sol.
Ascenção recta: 11 horas 26' e 46" |
Declinação boreal: 1°,15',31" N
| 10 horas ½ m
19 - Visivel apenas 4' antes do nascer do Sol
20 - Céu nublado durante o dia inteiro
21 - [idem]
1882 - 26 de Setembro
Apparição da cauda
4h 20' m
Apparição do nucleo
4h 50' m
Comprimento da cauda
7°,30'
Tornou-se invisivel ás 5h 33'
Apparição do Sol
6h 16'
Differença entre a aparição [do] nucleo e a do Sol = 86'
Distancia do cometa ao Sol 21° 30'
Ascenção recta
- 10h 58'
Declinação austral 3°
Acha-se pois a L. da constellação do Sextante
1882 - 28 de Setembro
Apparição da cauda
4h, 8'
Apparição do nucleo
4h, 37' 30"
Deixou de ser visivel ás 5h, 33'
Comprimento apparente da cauda 7°, 15', 7"
Distancia ao Sol
24°, 30'
Ascenção recta
10h, 50'
Declinação austral
4°
1882 - 30 de Setembro
Apparição da cauda
Apparição do nucleo
Comprimento da cauda
Nascimento do Sol
Distancia do cometa ao
AR
= 10h, 48'
D.austral = 6°
3h, 47'
4h, 23'
9°
6h, 12'
Sol 27°, 15'
1882 - 7 de Outubro
Apparição da cauda do cometa
2h, 40'
Apparição da lua
3h, 15'
Apparição do nucleo
3h, 32'
Comprimento da cauda
14°
Distancia angular do cometa á lua
25°, 38'
Distancia angular do cometa á Régulus 23°, 30'
Distancia angular do cometa á  Hydra 17°, 10'
AR
= 10h, 30'
D
= 10°
Distancia do cometa ao Sol
35°, 45'
1882 - 10 de Outubro
Distancia do nucleo do cometa á  da Hydra
Á Régulus do Leão
Á Sirius do Grande Cão
Á Procyon do Pequeno Cão
Comprimento da cauda
Largura
da cauda
16°
24°, 50'
55°, 24'
46°, 25'
15° 30'
1°, 30'
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Agradecimentos
Esta obra e projeto não seriam possíveis graças ao apoio, colaboração e disponibilidade das
seguintes pessoas:
Sueli Sousa Sepetiba;
Togo Vaz Sepetiba.
Também devemos agradecer o trabalho das instituições que mantém obras de referência originais
ou digitalizadas, sem as quais seria difícil obter artigos antigos. As instituições são:
Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina;
Biblioteca Nacional da França (esta pesquisa fez uso do portal Gallica);
Smithsonian Astrophysical Observatory e National Aeronautics and Space Administration
(esta pesquisa fez uso do NASA's Astrophysics Data System);
Biblioteca do Observatório Nacional.
Nome do arquivo:
livro_brazilicio_preview.doc
Pasta:
D:\pesquisa\brazilicio
Modelo:
C:\Documents and Settings\Alexandre Amorim\Dados de
aplicativos\Microsoft\Modelos\Normal.dot
Título:
Observações Astronômicas de José Brazilício de Souza
Assunto:
Autor:
Alexandre Amorim
Palavras-chave:
observação visual
Comentários:
Registros, textos e comentários sobre as observações
astronômicas de Brazilício.
Data de criação:
4/7/2010 9:48
Número de alterações:48
Última gravação:
4/7/2010 11:00
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