Trabalhos Manuais O currículo de TM e artes práticas na EW estimula a capacidade criativa, ao mesmo tempo em que estabelece segurança estética através de uma orientação consciente da vontade em desenvolvimento do estudante. A vontade é a capacidade interior que nos permite, através de nossas ações, interagir com o mundo. Mas, mais importante, essa atividade da vontade lança os fundamentos de nosso pensar. Biólogos descobriram que quando nós nascemos, nosso cérebro tem bilhões de passagens neurais ativas. Quando atingimos a adolescência, se essas passagens foram corretamente exercitadas durante os anos da primeira e média infância, elas tem uma correlação com a nossa capacidade de pensar. Se elas não foram usadas, elas simplesmente atrofiam. Nós as mantemos ativas através do uso de nossas mãos. O cérebro descobre o que os dedos exploram. As pontas de nossos dedos têm uma grande densidade de terminações nervosas. Apropriadamente treinadas, elas podem discriminar num nível de paridade com nossa visão. Se nossas crianças não são encorajadas a serem ativas com suas mãos, elas se tornarão “cegas de dedos” (finger blind), e a rica estimulação através dos nervos em direção às vias neurais diminuirá. Em seu livro “The hand: How it shapes the Brain language and culture”, o neurologista californiano Frank Wilson argumenta que as pessoas que usam suas mãos compartilham de uma forma de conhecer o mundo inacessível àqueles não educados nas artes manuais ou práticas. Segundo Wilson, o conhecimento manual do mundo realmente ensina ao cérebro novas habilidades. O tatear, explorar e manipular manual pode enviar por outras vias o circuito neural do cérebro. Matti Bergstrom, um professor e neurofisiologista da Suécia disse o seguinte: a densidade das terminações nervosas das pontas de nossos dedos é enorme. Sua discriminação é sempre tão boa como a dos nossos olhos. Se não usamos nossos dedos, se na infância e juventude nos tornamos “finger blind”, esta rica rede de nervos fica empobrecida – isto representa uma enorme perda para o cérebro e impede o desenvolvimento multifacetado do indivíduo. Tal prejuízo pode ser semelhante à cegueira em si. Talvez pior, enquanto uma pessoa cega pode simplesmente não ser capaz de encontrar este ou aquele objeto, o “finger blind” pode não entender seu valor e significado interno. Trabalho manual e crafts (artesanato) devem ser ensinados imaginativa e artisticamente, encorajando projetos (design) originais que são cheios de cor e criativos na forma... As crianças devem aprender novas formas de usar a cor e fazer esboços que indicam o uso prático do trabalho. Trabalhando para transformar os materiais da terra promovemos crescimento interno e o sentimento de bem estar das crianças. Estas aulas sustentam e complementam outras matérias na escola ajudando a trazer equilíbrio e integridade para a educação. Através da beleza, da cor e da forma, o trabalho manual e o artesanato ajudam a levar a criança do brincar para o pensar imaginativo como adultos, formando uma espécie de ponte entre os dois. As mãos desempenham um papel importante nesse acordar. A atividade dos dedos desperta os sentidos que conectam a criança ao mundo, e toda a sua vida de pensamento começa a mover-se. Rudolf Steiner disse que essas atividades levam ao desenvolvimento do julgamento. O juízo origina-se das forças imaginativas, trabalhando através do coração. Não é somente a cabeça mas é um ser humano todo que forma um juízo. Pense quantos sentidos são usados num trabalho manual – visão, tato, movimento, equilíbrio e muitos outros. Os sentidos captam diferentes impressões do mundo e une-os para formar um juízo. Nossas mãos nos conduzem a uma relação mais profunda e íntima com o mundo, e, portanto, a uma compreensão maior da humanidade. Grande parte do TM tem relação com o estar desperto, observar coisas e perceber detalhes. Pesquisas atuais do cérebro constataram que o uso das mãos abre vias neurológicas que de outro modo atrofiaram. Em outras palavras, mão e olho em interação, trabalhando juntos, permitem o funcionamento de mais vias neurológicas. Assim podemos dizer que os TM com crianças pequenas é um campo de treinamento para o pensar, e quanto mais se inclua o cultivo da beleza e sentimento, mais o pensar intelectual se torna vontade criativa. Will-developed intelligence – Handwork and Pratical Arts in Waldorf School By Davis Mitchell and Patricia Livington Quando se começa uma aula de trabalhos manuais com crianças pequenas, a primeira coisa que deve ser feita é apresentar-lhes as mãos. As crianças utilizam as mãos mas não têm consciência delas. Assim, na primeira aula é contada uma história que fala sobre as mãos, depois disso a criança brinca com elas de massagear, esfregar, tocar. Neste momento estamos trabalhando o sentido do tato, ao mesmo tempo que o pensar através do sentir. Através destas mãos a criança transforma o material em algum objeto útil e ao se saber capaz de transformar o mundo, de atuar neste mundo, ela se sente segura e confiante se transformando num adulto com grandes capacidades de atuação. Ao trabalharmos o tricô e o crochê, a criança precisa escolher a forma correta de trabalhar as agulhas. A forma que ensinamos a criança é muito difícil, mas todos os dedos da mão são trabalhados. A coordenação e motricidade fina são intensamente desenvolvidas. Sabe-se que a motricidade fina e a coordenação são diretamente relacionadas com o raciocínio lógico e o desenvolvimento de um pensar matemático e claro. Existe um fluxo constante do pensar para as mãos, assim como das extremidades para o pensar, não é consciente mas os movimentos devem sempre chegar até as pontas dos dedos. A estética é muito exigida em todos os trabalhos. Apesar do belo ser relativo para cada um, existe um padrão de beleza que deve ser tentado alcançar. Para tanto a criança deve ter limpeza e capricho com o trabalho. O belo talvez seja o ponto chave para o desenvolvimento do trabalho. PENSAR-SENTIR-QUERER Através dos sentimentos criamos o elo, a cooperação entre as mãos e a cabeça. As cores despertam interesse, entusiasmo, alegria, que estimulam sentimentos, estimulam processos cefálicos que atuam sobre os membros. Esta é uma atividade artística e harmoniosa. Uma aula de TM está oscilando constantemente entre o pensar, o sentir e o querer. Por trabalhar com o fazer, acredita-se erroneamente que nas aulas só se desenvolve o querer. O pensar da criança é constantemente solicitado, quando ela precisa segurar a agulha de maneira correta, quando precisa fazer cálculos de números de pontos, quando precisa de atenção e concentração para não errar, ou perceber seu erro, quando precisa fazer o projeto de seu trabalho e segui-lo. Ao mesmo tempo em que pensa, está trabalhando com suas mãos. Steiner diz que o querer deve chegar até a ponta dos dedos e é nesse exato ponto que a criança está quando está atuando numa sala de trabalhos manuais. Permeando estes dois pólos está o sentir da criança, e este é atingido no momento em que escuta a história para aprender a segurar a agulha corretamente ou fazer a corda de crochê, na escolha das cores e os sentimentos que inconscientemente estas lhe despertam. O sentir deve ser a passagem do pensar no trabalho e o executar. Isto se dá na escolha das cores harmônicas, na busca constante da beleza e perfeição do trabalho. O pensar, sentir e querer devem ser equilibrados através do trabalho. Este deve despertar sentimentos na criança intelectual, estimular atividade na criança sem vontade, despertar o pensar na criança sonhadora. Steiner disse: “O pensar é o tecer cósmico”; a fibra contínua do pensar se entretece para formar pensamentos integrais. Traduzido da revista “Education as na art” Vol. 35, n1, 1976/77