Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Science in Health maio-ago 2014; 5(2): 56-60 Análise bacteriológica de Esponjas de Banho em Uso e Métodos de Desinfecção 1 Bacteriological Analysis of Bath Sponges in Use and Methods of Disinfection Andressa Adão Nogueira 2 Rene dos Santos Cunha Neto 2 Priscila Reina Siliano 3 Resu mo Introdução: Muitas bactérias têm hábitos parasitários nos seres humanos, podendo ser transmitidas por objetos como esponjas de banho. Objetivos: Isolar, identificar e estimar a quantidade de bactérias em esponjas de banho, após seu uso, e testar a eficácia de agentes antibacterianos na descontaminação destas. Métodos: Vinte esponjas de banho foram distribuídas para vinte indivíduos, que as usaram durante sete dias, realizando-se a análise bacteriológica após o uso. No teste de desinfecção, foram utilizados hipoclorito de sódio (1%), álcool etanol 70% e água fervente. Resultados: Em 100% das amostras encontraram-se enterobactérias e em 10% bactérias do gênero Staphylococcus. Nas amostras tratadas com hipoclorito de sódio (1%) e o álcool 70% não houve desenvolvimento bacteriano, diferentemente das tratadas com água fervente. Conclusões: Nas esponjas analisadas foram detectadas bactérias potencialmente patogênicas, mostrando que alguns cuidados com tais esponjas devem ser tomados. O hipoclorito de sódio e o álcool foram considerados agentes antibacterianos eficazes. Palavras-chave: Bactérias • Banhos • Poríferos • Anti-infecciosos locais. A b s t ra c t Introduction: Many bacteria have parasitic habits in humans and can be transmitted by objects such as bath sponges. Objectives: To isolate, identify and estimate the presence and quantity of bacteria in bath sponges after use, and test the efficacy of antibacterial agents in the decontamination. Methods: Twenty bath sponges were distributed to twenty individuals, who used them for seven days, and were analyzed for bacteriological presence after use. In disinfection tests sodium hypochlorite (1%), ethanol alcohol (70%) and boiling water were used. Results: In 100% of the samples enterobacteria were found and in 10% bacteria of the genus Staphylococcus. The samples treated with sodium hypochlorite (1%) and alcohol 70% showed no bacterial growth, unlike those treated with boiling water. Conclusions: In used sponges some potentially pathogenic bacteria were detected, showing that some care with such sponges should be taken. Sodium hypochlorite and alcohol were considered effective antibacterial agents. Key-words: Bacteria • Baths • Porifera • Anti-infective agents, local. 1 Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – Centro Universitário Fundação Santo André – CUFSA, Santo André – SP [Brasil] 2 Graduados em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Fundação Santo André, CUFSA. 3 Profa. Dra. e Docente do Centro Universitário Fundação Santo André 56 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Nogueira AA, Cunha-Neto RS, Siliano PR, Análise bacteriológica de Esponjas de Banho em Uso e Métodos de Desinfecção • Science in Health • maio-ago 2014; 5(2): 56-60 Introdução eficácia de agentes antibacterianos na descontaminação destas. As bactérias são seres vivos amplamente distribuídos pelo planeta, encontradas na água, no solo, no ar ou associadas a outros seres vivos, podendo nestes ter hábitos parasitários. As espécies de bactérias parasitas são responsáveis por uma grande variedade de doenças que afetam os seres humanos1. Materiais e métodos Vinte amostras de esponja de banho da mesma marca foram distribuídas para vinte indivíduos do campus do Centro Universitário Fundação Santo André, 05 homens e 15 mulheres, na faixa etária dos 20 aos 70 anos, que as usaram durante o banho, por 7 dias. Após esse período, as esponjas foram recolhidas para a análise bacteriológica e para a realização do teste de eficácia de diferentes agentes antibacterianos. Agentes infecciosos podem ser transmitidos de um indivíduo para outro de forma direta ou indireta2. Na transmissão direta, esses agentes são transferidos de um indivíduo infectado para um indivíduo susceptível por contato físico direto ou por secreções; enquanto que, na transmissão indireta, tais agentes são transmitidos de um indivíduo infectado para um indivíduo susceptível através de objetos e veículos como, por exemplo, água, alimentos, vetores, roupas e produtos usados na higiene pessoal3. Recortes de 1 cm³ das amostras foram colocados em tubos contendo caldo nutriente. A partir deste, realizaram-se três diluições seriadas, na razão 10, em solução salina estéril e o cultivo em placas com Ágar MacConkey (Merck, Alemanha), pela técnica de esgotamento, que foram incubadas a 37ºC, por 24 horas. Alíquotas das terceiras diluições de caldo foram cultivadas, através da técnica de semeadura em superfície com alça de Drigalsky, em placas contendo Ágar Nutriente (Merck, Alemanha) e estas foram incubadas a 37ºC, por 24 horas. As colônias que se desenvolveram foram contabilizadas e submetidas à coloração de Gram, realizando-se o teste da catalase para as bactérias Gram-positivas. As colônias obtidas em Ágar MacConkey foram semeadas nos meios de cultura da série Enterokit B-EPM, MILi e citrato de Simmons (Probac, Brasil), incubados a 37ºC, durante 48 horas. A leitura dos meios do Enteroki B para identificação de enterobactérias se realizou através das atividades bioquímicas realizadas pelos micro-organismos como: fermentação de glicose, produção de H2S, produção de LTD (L-triptofano desaminase), produção de urease, produção de lisina descarboxilase, motilidade, produção de indol e utilização de citrato como fonte de carbono. Para a desinfecção das esponjas, recortes de 1 cm³ foram colocados em soluções de hipoclorito de sódio 1%, álcool 70% e água fervente, durante dez minutos. Posteriormente, os Dentre os produtos utilizados para higiene pessoal estão as esponjas de banho. As esponjas dos tipos vegetal e sintética são consideradas potenciais veículos de transmissão de bactérias patogênicas, pois oferecem condições favoráveis à proliferação desses seres vivos, tais como a não remoção de resíduos celulares, temperatura elevada e umidade 4. O controle da proliferação bacteriana é um assunto abrangente e de inúmeras aplicações práticas. Calor, pasteurização, radiação, filtração, alcoóis, halogênios e fenóis são exemplos de agentes empregados para realização de tal controle3. Estudos com esponjas de banho e panos de limpeza demonstraram que a utilização de hipoclorito de sódio consiste em um método de descontaminação eficaz4, 5, 6 . Por serem consideradas veículos de transmissão de bactérias potencialmente patogênicas, a análise bacteriológica de esponjas de banho é de grande importância. Assim sendo, este trabalho teve como objetivo isolar, identificar e estimar a quantidade de bactérias em esponjas de banho, após seu uso, e testar a 57 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Nogueira AA, Cunha-Neto RS, Siliano PR, Análise bacteriológica de Esponjas de Banho em Uso e Métodos de Desinfecção • Science in Health • maio-ago 2014; 5(2): 56-60 recortes das esponjas passaram pelos testes de crescimento em meios de cultura em Ágar Nutriente e incubados por 24 horas a 37 ºC. vas, alta resistência a muitos antibióticos e causadores de infecções hospitalares graves7. Dentre as espécies do gênero, Serratia liquefaciens pode provocar infecções no trato urinário e no trato respiratório7. Serratia marcescens é considerada o membro mais importante do gênero, descrita como um patógeno oportunista que pode disseminar-se rapidamente em ambiente nosocomial, como unidades de tratamento intensivo neonatal e pediátrico, geralmente responsável por infecções como pneumonia, septicemia, bacteremia, infecções urinárias e meningites7, 8, 9. Nem todas as espécies pertencentes ao gênero Enterobacter, encontrado em 30 % das amostras neste trabalho, estão associadas a doenças causadas em seres humanos10. Dentre as que estão, Enterobacter cloacae e Enterobacter aerogenes são as espécies mais frequentemente isoladas11, consideradas patógenos oportunistas causadores de infecções nosocomiais como bacteremia, infecções do trato urinário e meningites em pacientes submetidos a cirurgias neurais12. Resultados Em 100% das amostras foram encontradas enterobactérias e em 10% bactérias possivelmente pertencentes ao gênero Staphylococcus. Analisando-se os resultados dos gêneros identificados evidencia-se que o gênero Serratia apresentou maior incidência, ocorrendo em 65% das amostras, seguido pelo gênero Enterobacter (presente em 30%), Citrobacter e Staphylococcus (10%) e Hafnia em 5% das amostras. Quanto às espécies, Serratia liquefaciens é a espécie de maior prevalência, estando presente em 45% das esponjas analisadas, seguida de Enterobacter aerogenes (presente em 20%), Serratia marcescens (15%), Enterobacter cloacae (10%) e as demais, Hafnia alvei, Citrobacter freundii e Citrobacter diversus, em 5% das amostras. Com relação à desinfecção das esponjas, nas amostras tratadas com hipoclorito de sódio 1% e álcool 70%, não foi observado crescimento bacteriano, enquanto que em 100% das amostras tratadas com água fervente houve o desenvolvimento de bactérias. O gênero Staphylococcus, detectado em 10% das amostras deste estudo, possui 33 espécies, sendo que 17 delas são comumente isoladas de amostras biológicas humanas13. Dentre essas espécies, a de maior interesse médico é o Staphylococcus aureus por estar possivelmente associada a diferentes tipos de infecção como lesões superficiais na pele (espinhas e furúnculos) osteomielites, endocardites, síndrome do choque tóxico, infecções urinárias, entre outras14. Discussão Em um estudo semelhante, foram encontradas bactérias Gram-negativas e Gram-positivas em todas as esponjas de banho analisadas4. No presente estudo, bactérias Gram-negativas também foram detectadas em todas as amostras, enquanto que as Gram-positivas foram detectadas em apenas 10% destas. A quantidade variável de bactérias presentes nas esponjas verificadas pode ser explicada pelo fato destas terem sido utilizadas por diferentes indivíduos, com diferentes hábitos de higiene. O gênero Hafnia, encontrado em 5% das amostras, é constituído por patógenos de humanos e animais, sendo Hafnia alvei seu único representante15, 16. Esse micro-organismo comporta-se como patógeno oportunista e tem sido identificado como agente etiológico de infecções urogenitais, do trato respiratório inferior, gastroenterites, pneumonias, meningites, endoftalmites, bacteremia e infecções nosocomiais15,17. Dos gêneros encontrados, Serratia é o mais frequente (65%) e inclui bactérias reconhecidas como importantes patógenos, com propriedades invasi- Do gênero Citrobacter, detectado em 10% das 58 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Nogueira AA, Cunha-Neto RS, Siliano PR, Análise bacteriológica de Esponjas de Banho em Uso e Métodos de Desinfecção • Science in Health • maio-ago 2014; 5(2): 56-60 amostras, as espécies mais importantes são Citrobacter freundii e Citrobacter diversus3. Citrobacter freundii é um patógeno oportunista que pode causar diarreia, meningite, septicemia e infecção do trato respiratório e urinário, especialmente em grupos de alto risco18. Citrobacter diversus pode causar bacteremias, infecções respiratórias, urinárias e do sistema nervoso central. Por ser um patógeno nosocomial, pode ser isolado e permanecer por longo período em ambientes de serviços neonatais19. provém do ácido hipocloroso, um agente oxidante que impede o funcionamento do sistema enzimático celular, formado quando o cloro elementar ou os hipocloritos são adicionados à água2, 20. A respeito do álcool, estando em uma concentração de 70%, este penetra no interior dos micro-organismos e desnatura as proteínas, o que provoca a morte celular21. Quanto à água fervente, esta é capaz de eliminar formas vegetativas de patógenos, muitos vírus e fungos, pois a alta temperatura causa a desnaturação das proteínas e das enzimas necessárias ao metabolismo3. Porém, neste estudo, esse agente desinfetante não se mostrou tão eficaz, já que nas amostras com ele tratadas não houve eliminação de todas as bactérias. Em relação à descontaminação das esponjas de banho em uso, foi testada a eficácia de três agentes antibacterianos: hipoclorito de sódio, álcool e água fervente. A ação germicida do hipoclorito de sódio R e f e r ê n c ias 1. M arcondes AC, Lammoglia DA. Biologia ciências 7. M enezes EA, Cezafar FC, Andrade MSS, Rocha da vida: seres vivos. São Paulo: Atual; 1998. MVAP, Cunha FA. Frequência de Serratia sp em Infecções Urinárias de pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia em Fortaleza. Rev Soc Bras Med Trop 2004 fev;37(1):70-1. 2. T ortora GJ, Case CL, Funke BR. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed; 2005. 3. T rabulsi LR, Alterthum F. Microbiologia. 4. ed. 8. Polilli E, Parruti G, Fazii P, D’Antonio D, Palm- São Paulo: Atheneu; 2005. A. Face and body sponges: beauty aids or potential microbiological reservoir? Eur J Dermatol 2003 Nov-Dec;13(6):571-3. ieri D, D’Incecco C, et al. 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