FREGUESIA - Notícia - freguesia de cordinhã

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FREGUESIA - Notícia
LAGAR DE VARAS DE CORDINHÃ GANHA NOVA VIDA
A Junta de Freguesia de Cordinhã quer inverter os efeitos da passagem do tempo e recuperar o lagar da Quinta do Mancão,
desativado há cerca de meio século. O objetivo é fazer com que o único lagar de varas conhecido no concelho volte a funcionar.
Foi um auto de contraordenação levantado pela Guarda Nacional Republicana que despoletou a aquisição do antigo lagar da Quinta
do Mancão pela Junta de Freguesia de Cordinhã. Desativado há mais de meio século, o lagar encontra-se em ruínas e estava até há
poucas semanas completamente tomado pelas silvas e pelas heras.
Sendo edifício contíguo ao estaleiro da Junta de Freguesia, a autarquia foi chamada a ajudar na identificação dos seus proprietários,
na sequência de um auto de contraordenação levantado pela Guarda Nacional Republicana, pelo estado de abandono e degradação
em que se encontrava a estrutura.
Não terá sido fácil determinar os proprietários do imóvel, quase meia centena, segundo Adérito Machado, presidente da Junta de
Freguesia de Cordinhã, alguns já sem ligação à freguesia.
“Inicialmente o lagar pertencia a seis pessoas. Entretanto os donos morreram e o lagar foi herdado há vários anos pelos seus
descendentes, cerca de 50 pessoas. Alguns nem sabiam muito bem onde ele ficava”, explica o autarca.
Limpeza demorou uma semana
Perante a dificuldade em conseguir que todos se juntassem para proceder à limpeza do espaço, a Junta de Freguesia de Cordinhã
ofereceu-se para assumir dali para a frente a responsabilidade pela sua limpeza e manutenção, na condição de que os proprietários
lhe doassem o edifício.
A escritura do antigo lagar veio a ser feita no início deste ano, tendo a limpeza sido realizada há cerca de duas semanas. Dado o
estado em que a infraestrutura se encontrava, completamente tomada pelas silvas e pelas heras, a intervenção durou cerca de uma
semana.
Desde que o antigo lagar da Quinta do Mancão deixou de funcionar, o que terá acontecido há mais de 50 anos, o edifício foi tomado
pela vegetação. O telhado caiu, as heras tomaram conta das paredes, em pedra e barro, o chão, de terra batida, foi invadido pelas
ervas daninhas e chegaram mesmo a nascer árvores e arbustos no interior do edifício.
Só depois da intervenção concluída, a autarquia pode constatar as características do lagar e a situação em que se encontra.
De volta à atividade
Com quatro varas, o Lagar da Quinta do Mancão é testemunha fiel da forma como se fabricava azeite na freguesia de Cordinhã há
cerca de um século, apenas com recurso à força motriz dos animais e do homem.
Terá sido desativado com a entrada em funcionamento dos lagares de prensas hidráulicas, de que ainda existe memória nas
traseiras de um estabelecimento comercial no centro da sede de freguesia.
Numa visita ao espaço, pode constatar-se facilmente que o lagar tem dois espaços distintos: uma sala de moagem onde a azeitona
era transformada em pasta e outra (através de quatro galgas movidas por animais), a um nível mais baixo (a zona das varas) onde a
massa da azeitona era prensada e filtrado o azeite.
“O meu pai tem 70 anos e mal se lembra de vir aqui com o meu avô”, acrescenta Adérito Machado, atestando a dificuldade com que
a autarquia se deparou em encontrar quem se recordasse de ver o lagar em trabalhar e pudesse explicar o seu funcionamento.
O objetivo da Junta de Freguesia de Cordinhã é agora o de reabilitar todo o espaço, de modo a que volte a funcionar.
“A nossa ideia é comprar uns quilos de azeite e colocá-lo a funcionar uma ou duas vezes por ano para reviver o passado”, diz ainda
o autarca.
Telhado é maior dificuldade
Com as obras do futuro Museu Agrícola e Etnográfico de Cordinhã a arrancarem em breve, a ideia é também criar um circuito
turístico que encaminhe os visitantes do museu ao antigo lagar.
A autarquia pretende igualmente construir, nas imediações do imóvel, um espaço polivalente a servir de apoio ao lagar, com serviço
de café.
Segundo Adérito Machado, a maior dificuldade na intervenção a fazer no antigo lagar tem a ver com o telhado, uma vez que, para
além da estrutura, as paredes do edifício têm também que ser reforçadas, para o suportar.
Para a concretização da intervenção, a autarquia conta com a população da freguesia. O Grupo de Jovens “Estrela que brilha” já se
manifestou disponível para trabalhar no restauro do antigo lagar.
A Junta de Freguesia de Cordinhã espera ainda vir a receber o apoio da Câmara Municipal de Cantanhede e da Região de Turismo
do Centro, a quem perspetiva apresentar o projeto em breve.
Não são muitos os lagares de varas existentes no país e são ainda menos os restaurados para turismo e em funcionamento. Sem
que se conheçam lagares deste género na região, o mais próximo será o Lagar da Cabreira, em Góis. Mas este, como o Lagar do
Fojo (Alentejo) e o Lagar de Parada (Carregal do Sal), são de duas varas. Lagares de quatro varas, como é o caso deste Lagar da
Quinta do Mancão em Cordinhã, parecem ser mais difíceis de encontrar.
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