Economia - Centro Celso Furtado

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09/05/2016
A indústria esquecida — CartaCapital
Economia
Opinião
A indústria esquecida
Meirelles, o favorito do mercado para a Fazenda, deu curso às políticas
que desmantelaram a manufatura brasileira
por Luiz Gonzaga Belluzzo — publicado 05/05/2016 04h02
Alexandre Campbell/ Forum World Economic
O ínclito Henrique Meirelles
O vice-presidente Michel Temer movimenta suas
tropas para formar o governo provisório, caso o
Senado acolha a abertura do processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff. Entre
os favoritos para assumir como plenipotenciário da área econômica desponta o ex-presidente
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do Banco Central de Lula, o ínclito Henrique Meirelles. É o favorito do mercado.
Ao longo de sua gestão no Banco Central, Meirelles seguiu a cartilha de seus apadrinhadores
e deu curso às políticas que, desde os anos 1980, desmantelaram a indústria brasileira.
Naquele período, a economia brasileira foi submetida à regressão industrial e econômica
deflagrada pela crise da dívida externa e suas consequências: escassez de divisas, enormes
déficits fiscais, alta inflação com indexação generalizada e crise monetária.
A chamada “década perdida” foi marcada por forte restrição externa. Isso suscitou a queda
pronunciada da relação entre as importações e o PIB, que chegou à incrível cifra de 3%. Tratase de um fechamento “forçado” da economia. Nesse ambiente de caos econômico, o Brasil
deixou de incorporar os novos setores e, portanto, as novas tecnologias da chamada Terceira
Revolução Industrial.
A estabilização do nível geral de preços levada a cabo em meados dos anos 1990 livrou a
economia brasileira da hiperinflação, mas não teve forças para eliminar a herança dos
malfadados anos 1980. As condições em que foi realizada a estabilização custou ao Brasil
uma combinação perversa entre câmbio valorizado e juros estratosféricos, com graves
prejuízos para o crescimento e a diversificação da indústria.
O “afastamento” das transformações manufatureiras globais nos legou insuficiências em
vários setores: infraestrutura de telecomunicações móveis, PCs, computadores portáteis,
tevês de plasma e LCD, câmeras digitais, componentes eletrônicos, para não falar da
robótica, dos novos materiais e da nanotecnologia.
No plano dito “microeconômico”, a organização empresarial brasileira distanciou-se das novas
formações empresariais que surgem no âmbito da formação das cadeias produtivas globais.
A reconfiguração do espaço global foi acolhida com eficientes respostas estratégicas nas
economias asiáticas, sob a égide de agressivas políticas industriais e de exportação de
manufaturados. No fim dos anos 1970, a produção e a exportação de manufaturados
brasileiros eram próximas ou superiores às de seus concorrentes asiáticos. Hoje, esses
países têm posições que são um múltiplo da produção e exportação brasileiras de
manufaturados.
A escalada industrial da China tornou nossa situação no setor ainda mais desvantajosa. A
estratégia chinesa apoiou-se numa agressiva exportação de manufaturados, com seu ápice
na segunda metade dos anos 2000.
Isso, combinado à mudança favorável nos termos de troca, acentuou as tendências que
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afligiram a economia industrial brasileira nos últimos 30 anos: valorização cambial,
“reprimarização” da pauta de exportação, bloqueios à diversificação da estrutura industrial,
permanência de uma organização empresarial defensiva e frágil.
A fragilização industrial ocorre em um momento de intenso movimento de fusões e aquisições
em todos os níveis das cadeias produtivas globais. Sendo assim, a política industrial não pode
reproduzir as orientações do período dito nacional desenvolvimentista e, muito menos,
promover uma abertura comercial sem uma política industrial e financeira ajustada aos tempos
de hoje.
A literatura relevante sobre processos de industrialização ou de (re)industrialização assinala a
importância da ação do Estado na promoção das formas de financiamento, na educação, na
criação de sistemas de inovação e nas políticas comerciais, leia-se, na abertura de
oportunidades a serem capturadas pelas iniciativas do setor privado. Não é preciso lembrar
ao leitor que essa foi a experiência de Alemanha, Japão, Coreia, China e Estados Unidos.
A manutenção do câmbio real competitivo é condição necessária, porém, não suficiente para
a constituição da nova política, mas deve ser complementada por um conjunto de ações
governamentais executadas simultaneamente.
A escolha das cadeias prioritárias é de suma importância. É reconhecido o potencial de
inovação e da disposição para suportar riscos de alguns segmentos da vida empresarial
brasileira. Falamos do agronegócio, da indústria de base e das sinergias que podem nascer
das parcerias público-privadas nas áreas de infraestrutura. Essas políticas possuem
características que permitem a concertação de ações voltadas para a qualificação das
cadeias industriais.
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