Caracterização morfológica de 25 cultivares tomateiro tipo cereja – caracteres da planta RODRIGUES MB; DORNELLES ALC; SILVA VOMZ; PESSOA CA;deSERRALHA BCS; SILVA DAG; PEREIRA MB. 2008. Caracterização morfológica de 25 cultivares de tomateiro tipo cereja – caracteres da plantal. Horticultura Brasileira 26: S4461-S4467. CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE 25 CULTIVARES DE TOMATEIRO TIPO CEREJA – CARACTERES DA PLANTA 1 2 Marinete Bezerra Rodrigues ; Ana Lúcia Cunha Dornelles ; Victor Ortega Medeiros 3 4 3 Zanon da Silva ; Cristiane Alves Pessoa ; Bárbara Cristina De Souza Serralha ; 1 2 Débora Alves Gonzaga da Silva ;Maurício Ballesteiro Pereira 1 UFRRJ, Instituto de Agronomia, Curso de Pós-Graduação em Fitotecnia, BR 465, Km 7, CEP 23890-971, 2 3 Seropédica, RJ; UFRRJ Instituto de Biologia, Departamento de Genética; UFRRJ, Instituto de Agronomia, 4 Faculdade de Agronomia; UFRRJ, Instituto de Biologia, Faculdade de Ciências Biológicas. e-mail: [email protected] RESUMO Com o objetivo de avaliar a variabilidade de tomateiro do tipo cereja existentes na Coleção de Variedades de Tomateiro da UFRRJ, 25 genótipos foram comparados a campo durante o outono de 2007, em um experimento em Blocos ao Acaso (três repetições), avaliando-se características das cinco plantas centrais da parcela, para as características qualitativas pigmentação antociânica no hipocótilo das plântulas, hábito de crescimento predominante, pigmentação antociânica no terço superior das hastes, forma da folha, divisão do limbo da folha, coloração da flor e tipo de Inflorescência, e as características quantitativas ângulo de inserção da folha (medido no terço médio da planta), comprimento da folha, largura da folha, comprimento do entrenó (medido como comprimento da haste para cinco cachos) e intensidade da coloração da folha. Os resultados mostraram a existência de variabilidade para a maioria das características, excetuando-se a cor das flores, em que para todos os genótipos apresentaram coloração amarela, e para ângulo de inserção da folha que não apresentou diferenças significativas. Estas características mostraram-se eficientes tanto para caracterização genotípica como para identificação de genótipos superiores e divergentes para serem utilizados como progenitores em programas de melhoramento genético vegetal. PALAVRAS-CHAVES: Solanum lycopersicum; características quantitativas; variabilidade genética. ABSTRACT Morphological characterization of 25 varieties of cherry tomato - characters of the plant To evaluate the variability of the cherry tomato in the UFRRJ collection of varieties of Tomatoes, 25 genotypes were compared in field during the autumn of 2007 in an experiment using a Randomized Complete Block Design (three replications), evaluating the five central plants of the plot, for the qualitative characteristics: anthocyanic pigmentation on the hypocotyl, growth habit, anthocyanic pigmentation on the upper third of the stems, shape of the leaf, division of the leaf blade, the flower colour and type of inflorescence; and the quantitative characteristics: insertion angle of Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 4461 Caracterização morfológica de 25 cultivares de tomateiro tipo cereja – caracteres da planta the leaf (measured in the middle third of the plant), length of the leaf, width of the leaf, length of the internode (measured as length of the rod to five bunches) and intensity of the color of the leaf. The results showed that there is variability for most characteristics, except for the color of the flowers, which was yellow for all genotypes and insertion angle of the leaf, that showed no significant differences. These characteristics have proved to be effective for genotypic characterization and for identification of superior and divergent genotypes to be used as parents in programs of plant breeding. KEYWORDS: Solanum lycopersicum; quantitative characteristics; genetic variability. INTRODUÇÃO O tomateiro (Solanum lycopersicon, Lycopersicon esculentum Mill ) é originário dos Andes e foi domesticado por colonizadores europeus e enviado para a Europa. Na região considerada centro de origem, ainda hoje são encontradas numerosas espécies em sua forma primitiva, inclusive de tomate-cereja, considerado por diversos autores como o ancestral mais próximo dos genótipos tradicionalmente plantados. Por isso, os tomateiros do grupo cereja têm sido considerados, mais rústicos que os tomates cultivados(Jenkins,1948; Rick,1997). As plantas são tipicamente autógamas e geralmente de crescimento indeterminado com 15 a 50 frutos por penca. Os frutos são pequenos, podendo ser redondos ou compridos, pesando entre 10 e 30g (Diez Niclos,1995). Para serem usados em cruzamentos, os progenitores devem atender a diversos critérios com relação a características desejáveis, de acordo com os objetivos do programa de melhoramento. Assim, este projeto teve por objetivo estudar a variabilidade de caracteres agronômicos da planta de 25 genótipos de tomate cereja, que possam ser usados como descritores ou tenham importância para o cultivo, que permitam identificar a existência de variabilidade genética e selecionar indivíduos de tomateiro cereja agronomicamente superiores dentro da Coleção de Variedades de Tomateiro da UFRRJ, adequadas ao cultivo orgânico, para serem usados como progenitores em programas de cruzamentos. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na Casa de Vegetação e Campo Experimental do Instituto de Agronomia – Departamento de Fitotecnia – UFRRJ e no Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal – Departamento de Genética, Instituto de Biologia – UFRRJ. A área em questão vem sendo manejada sob cultivo orgânico. As sementes foram colocadas para germinar em bandejas de polipropileno, preenchidas com substrato preparado com a mistura de solo argiloso, areia e esterco bovino curtido, na proporção 1:1:1. O transplante para área experimental foi realizado quando as plantas apresentaram dois pares de folhas definitivas. O plantio no campo foi feito com o espaçamento de 1,50m entre linhas e 0,40m entre plantas. As plantas foram conduzidas com uma haste, no sistema de tutoramento em fios. Foram usados genótipos da coleção de tomate cereja do Departamento de Fitotecnia da UFRRJ. Nove* desses genótipos foram escolhidos, entre os melhores já avaliados em 2 experimentos anteriores (Rocha ,2008) e o restante, ainda não avaliados, foram incluídos para Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 4462 Caracterização morfológica de 25 cultivares de tomateiro tipo cereja – caracteres da planta esta pesquisa, totalizando 25 genótipos, que são: Cereja riscado, Cereja Amarelo, Perinha*, Chawick cherry*, Perinha amarelo*, Sol da manhã*, Perinha vermelho, I pitanga amarelo, N, Bobina, Tomate Rósea, Riscado Pêra, F, Ea, G*, Furtado, Cerejão, Chocolate, H, L, M amarelo*, Riesentraube*, I Cereja*, Cereja Laranja e o 23 Amarelo*. As características avaliadas foram algumas das indicadas como descritores do tomate para fins de registro de cultivar, de acordo com as “Instruções Para Execução Dos Ensaios De Distingüibilidade, Homogeneidade E Estabilidade De Cultivares De Tomate (Lycopersicon esculentum Mill.)”, usadas pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Foram avaliadas características qualitativas: pigmentação antociânica no hipocótilo das plântulas, hábito de crescimento, pigmentação antociânica no terço superior das hastes, forma da folha, divisão do limbo da folha, coloração da flor e tipo de Inflorescência; e as características quantitativas: ângulo de inserção da folha (medido no terço médio da planta), comprimento da folha, largura da folha, comprimento do entrenó (medido como comprimento da haste para cinco cachos) e intensidade da coloração da folha. Para avaliação das características foi realizado um ensaio em BC (três repetições), com 25 genótipos, onde cada parcela foi composta por uma linha contendo 7 plantas, plantadas conforme descrito acima. Somente as 5 plantas centrais foram usadas para avaliação. Foi feita a análise preliminar considerando modelo misto com médias e tratamentos (genótipos) fixos e os demais elementos aleatórios. Foram determinadas as médias, as variâncias dos erros efetivos e a matriz de covariância residual, com auxilio do aplicativo computacional GENES. Após a ANOVA foi aplicado a cada característica individualmente o DMS (t a 5%) (RAMALHO et al., 2005), para comparar as médias. As características qualitativas foram analisadas pela determinação das freqüências em cada parcela experimental. RESULTADO E DISCUSSÕES No que se refere às características qualitativas (Tabela 1), foi observada uma grande variabilidade para a maioria das características. Com exceção do Hábito de Crescimento(II), em que apenas dois genótipos apresentaram crescimento determinado (Cerejão e 23 amarelo) e Coloração da Flor em que o amarelo predominou, em todas as demais características houve uma distribuição dos genótipos em várias classes. A análise da variância das características quantitativas (Tabela 2) mostrou a existência de variação significativa entre os genótipos para todas as variáveis com exceção de Ângulo da Folha, que, apesar de estar entre os descritores oficiais para tomate, aparentemente não é eficiente para discriminar entre genótipos de tomateiro do tipo cereja. Quanto às correlações observadas (Tabela 3), houve uma correlação negativa entre ângulo da folha e comprimento da folha. As dimensões comprimento e largura da folha tiveram uma correlação positiva altamente significativa entre si, da mesma forma que as correlações entre comprimento da haste respectivamente com comprimento de folha e com largura de folha. Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 4463 Caracterização morfológica de 25 cultivares de tomateiro tipo cereja – caracteres da planta LITERATURA CITADA BRASIL, MAPA. Instruções para execução dos ensaios de distingüibilidade, homogeneidade e estabilidade de cultivares de tomate (Lycopersicon esculentum Mill.)”.Diário oficial da união, Seção 1, p. 4-5 de 01/12/2005. CRUZ, C. D. Programa GENES. BIOAGRO UFV, 2008. DIEZ NICLOS, J. Tipos varietables. In: NUEZ, F. (Coord.) El cultivo del tomate. Madrid: Mundi Prensa. p. 93-129, 1995. JENKINS, J.A. The original of the cultivated tomato. Economic Botany 2: p.379-392. 1948. RAMALHO, M. A. P., EERREIRA, D. F. e OLIVEIRA, A. C. Experimentação em genética e melhoramento de plantas. 2ª Ed.Editora UFLA, 322p. 2005). RICK, C.M. Fobes, J,F. and Holle, M. Genetic variation in Lycopersion pimpinellifoum: evidence of evolutionary change in matting system. Plant Systematics and Evolution 127: 139-170. 1977. ROCHA, M. C. Avaliação de acessos de tomate cereja em cultivo orgânico: características agronômicas, físico-químicas e mercado. 2008. Tese (Doutorado em Fitotecnia), curso de pósgraduação em fitotecnia, UFRRJ, Seropédica, RJ. TAYLOR, I.B. Biosystematics of the tomato. In: ATHERTON, J.G.; RUDICH, J. (Ed).The tomato crop: a scientific basis for improvement. London: Chapman & Hall, 1986, p1-34. Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 4464 Caracterização morfológica de 25 cultivares de tomateiro tipo cereja – caracteres da planta Tabela 1. Caracteres Qualitativos: (I) Percentagem de antocianina no epicótilo; (II) hábito de crescimento predominante: Indeterminado ou Determinado; (III) percentagem de antocianina no terço superior do caule; (IV) forma das folhas tipos 1: 2: 3: e 4: ; (V) divisão do limbo das folhas: pinadas e bipinadas; (VI) Cor das flores: Amarelas ou alaranjadas e (VII)Forma das inflorescências: Uníparas, Bíparas ou Multíparas. Variedade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 I II III 100.0 83.3 57.1 69.3 97.7 100.0 100.0 88.0 100.0 100.0 68.4 100.0 94.9 96.8 100.0 83.8 94.7 100.0 68.2 86.1 100.0 91.3 100.0 83.6 95.2 I I I I I I I I I I I I I I I I D I I I I I I I D 46.7 80.0 100.0 80.0 73.3 100.0 53.3 78.6 100.0 85.7 85.7 60.0 100.0 100.0 60.0 66.7 93.3 100.0 73.3 60.0 86.7 93.3 100.0 92.9 100.0 IV V 1 2 3 4 Pi Bi 15 9 13 10 11 10 15 5 15 10 10 15 15 11 15 5 15 15 5 15 15 10 15 15 2 - 1 4 3 - 5 2 5 5 10 13 4 5 10 10 5 - 13 6 15 10 15 2 2 6 3 1 5 5 8 4 3 5 2 9 15 15 15 15 5 13 12 9 12 15 13 15 10 15 15 10 7 11 15 12 10 VI Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Am Al Al U 2 12 12 12 1 12 10 1 10 8 13 5 14 14 13 7 15 15 5 5 3 15 15 12 VII B 13 2 2 12 12 3 8 5 2 1 10 1 1 5 5 10 10 7 3 M 1 1 3 2 5 6 5 1 3 5 5 5 - (1)Cereja riscado, (2)Cereja Amarelo, (3)Perinha*, (4)Chawick cherry*, (5)Perinha amarelo*, (6)Sol da manhã*, (7)Perinha vermelho, (8)I pitanga amarelo, (9)N, (10)Bobina, (11)Tomate Rósea, (12)Riscado Pêra, (13)F, (14)Ea, (15)G*, (16)Furtado, (17)Cerejão, (18)Chocolate, (19)H, 20-L, (21)M amarelo*, (22)Riesentraube*, (23)I Cereja*, (24)Cereja Laranja e o (25)23 Amarelo*. Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 4465 Caracterização morfológica de 25 cultivares de tomateiro tipo cereja – caracteres da planta Tabela 2. Médias e Resumo da análise da variância para os caracteres quantitativos. Cereja riscado Cereja Amar. Perinha Chawick cherry Perinha amar. Sol da manhã Perinha verm. I pitanga amar. N Bobina Tomate Rosea Riscado Pera F Ea G Furtado Cerejão Chocolate H L M amarelo Riesentraube I Cereja Cereja Laranja 23 Amarelo Média Mínimo Máximo DMS QM Gen QM Res Cor Int cl Cve Cvg Cvg/Cve Ângulo das folhas Compr. das folhas 88,4 87,9 91,6 96,7 96,9 87,5 99,0 85,3 96,9 91,0 97,6 90,6 94,6 93,8 97,6 96,6 93,4 88,4 93,4 97,7 93,2 92,8 92,5 93,3 85,6 92,9 61,0 109,5 14,62 ns 47,9 79,3 36,0 29,0 28,3 34,8 29,1 30,7 29,3 31,4 27,7 31,1 32,7 33,6 35,6 28,1 36,5 32,8 43,4 28,7 28,8 32,0 26,4 35,7 36,4 28,1 28,9 31,8 24,3 50,0 5,22 46,9** 10,1 54,9 10,0 11,0 1,10 9,589 Médias das Variáveis Largura das Compr. haste folhas (5 cachos) 30,4 22,7 23,1 30,7 23,0 23,8 24,0 29,3 22,8 25,7 27,8 28,6 28,5 22,9 30,1 26,9 34,3 25,5 24,3 28,5 23,4 29,0 31,6 23,0 24,2 26,6 17,66 38,38 4,28 34,0** 6,8 57,2 9,8 11,3 1,16 Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 65,2 53,2 56,8 80,5 69,3 56,0 65,1 74,3 65,8 64,4 64,8 68,2 71,5 60,4 80,7 66,1 73,0 66,3 85,2 50,3 72,4 79,6 62,1 67,5 46,8 88,4 9,45 243,0** 33,1 67,9 8,5 12,4 1,45 Cor verde das folhas(padrão RGB) 76,0 82,7 99,3 72,0 61,3 75,3 71,3 68,7 88,7 68,7 93,3 76,7 70,0 60,7 65,3 86,7 86,7 88,0 80,7 72,0 76,7 61,3 66,0 66,7 81,3 75,9 60,0 120,0 21,15 329,5 * 165,9 24,7 17,0 9,7 0,57 S 4466 Caracterização morfológica de 25 cultivares de tomateiro tipo cereja – caracteres da planta Tabela 3. Correlações residuais Variável I II III IV II -0,322* - Matriz de Correlação Residual III IV -0,016 0,665** - -0,213 0,429** 0,592** - V 0,011 -0,137 -0,172 0,039 I-Ângulo das folhas;II-Compr. das folhas;III-Largura das folhas;IV-Compr. Haste(5 cachos);VI-Cor verde das folhas Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 4467