UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A PREVENÇÃO E O CONTROLE DO CÂNCER ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO Por: Fatima Mendes Carvalho Orientador Prof. Celso Sanches Pereira Rio de Janeiro 2006 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A PREVENÇÃO E O CONTROLE DO CÂNCER ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior Por Fatima Mendes Carvalho 3 AGRADECIMENTOS Registro aqui meus agradecimentos ao meu professor-orientador Celso Sanches Pereira e ao meu chefe imediato no INCA, Eduardo Barros Franco, pelos toques importantes que foram dados por ele e pela paciência e colaboração na realização desse trabalho. Agradeço também aos meus pais, Sebastião e Lair, ao meu filho, Eduardo, a minha irmã Mônica e a “minha fiel escudeira” Vera, que me deram força e incentivo e que agüentaram a minha “TPM” (Tensão Pré-Monografia). Estendo meus agradecimentos ao professores e colegas da UCAM/INSTITUTO A VEZ DO MESTRE do curso de Docência do Ensino Superior, aos amigos que sempre estiveram dispostos a ajudar e a todos que de alguma forma contribuíram para a construção deste trabalho. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao amor da minha vida – meu filho Eduardo. 5 RESUMO O presente trabalho sobre Prevenção, Controle e Educação do Câncer consiste em levar o leitor a entender o que vem sendo feito no Brasil, mais especificamente, pelo Ministério da Saúde, através do seu Instituto Nacional do Câncer, para evitar esta doença que se configura como um grande problema de saúde pública tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. Resultados de numerosas pesquisas demonstraram que existem medidas efetivas de prevenção primária e secundária que podem reduzir substancialmente o número de casos novos de câncer e prevenir muitas mortes atribuídas à doença. A palavra câncer, para a maioria das pessoas, é sinônimo de sofrimento e morte. A desinformação constitui uma das principais barreiras para enfrentar este mito e prevenir a atual situação do câncer no Brasil e no mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional do Câncer (INCA), tem como missão o controle deste grave problema de saúde pública. Sua estratégia básica para este objetivo é a educação da população para desmistificar esta doença, bem como esclarecer sobre as possibilidades de preveni-la. Um dos canais comunitários escolhidos para este trabalho é a “escola”, que tem sua eficiência demonstrada em programas desta natureza. Este trabalho foi elaborado com o objetivo de sintetizar alguns conceitos sobre câncer, desde seus aspectos biológicos, até seus fatores de risco. Introduzir o leitor nos programas de prevenção ao Câncer e nas ações educativas que o INCA vem desenvolvendo e que, acredito estar contribuindo para a redução dos efeitos da doença como também dos prejuízos econômicos e sociais que acarreta. 6 METODOLOGIA Como abordar uma questão tão delicada como a prevenção do câncer nas “escolas”? Como enfrentar ou neutralizar campanhas publicitárias tão sedutoras e competentes, envolvendo recursos milionários, sofisticadas tecnologias direcionadas, em sua maior parte, aos adolescentes e jovens? Sabemos que a “escola” não pode tudo, mas pode informar, instigar, provocar e não se omitir. A prevenção primária dos fatores de risco de câncer é um dos desdobramentos possíveis do tema saúde, hoje já inseridos no currículo escolar. Seu estudo implica no conhecimento de informações de base científica, oriundas das diferentes disciplinas, numa abordagem que é, por excelência, interdisciplinar. Com o objetivo de oferecer uma efetiva ajuda ao leitor, que enfrenta tantos desafios no cotidiano profissional como educador, o presente trabalho apresenta informações científicas e históricas onde o tema fatores de risco de câncer é abordado buscando a valorização da saúde. O trabalho é baseado numa pesquisa institucional, através de relatórios e publicações do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional do Câncer e seus pares, assim como no trabalho pessoal junto ao INCA no apoio a estruturação, aprimoramento e desenvolvimento permanente aos programas de prevenção e controle do câncer e seus fatores de risco, estimulando a expansão da cobertura e qualidade do sistema de educação sobre essa importante causa de morbidade e mortalidade, para que os resultados obtidos sejam de utilidade não só aos pesquisadores ou estudiosos, mas principalmente aos gestores de saúde, no planejamento das ações e na tomada de decisões, e às organizações da sociedade civil, no estímulo ao conhecimento sobre o problema e subsidiando ações de fortalecimento da cidadania. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................... CAPÍTULO I A EDUCAÇÃO PORTA DE ENTRADA DA PREVENÇÃO .......................................................... CAPÍTULO II Pág. 14 O PROGRAMA SABER SAÚDE DO INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER ........................................ CAPÍTULO III Pág. 8 Pág. 17 CONHECENDO UM POUCO O CURSO DE CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES DO “PROGRAMA SABER SAÚDE” ............................... CAPÍTULO IV Pág. 24 ENTENDENDO O CÂNCER E SEUS FATORES DE RISCO - Doenças que a Educação pode evitar O CÂNCER ................................................... FATORES DE RISCO ................................... O TABACO .................................................... O ÁLCOOL .................................................... O SOL ........................................................... OS HÁBITOS ALIMENTARES ...................... OUTRAS RADIAÇÕES ................................. OUTROS FATORES DE RISCO Pág. Pág. Pág. Pág. Pág. Pág. Pág. Pág. 29 29 34 36 42 44 46 48 AMBIENTAIS E OCUPACIONAIS ................. SEXO ............................................................ Pág. 66 Pág. 67 O CONTROLE DE CÂNCER NO BRASIL ............... Pág. 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... Pág. 81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. Pág. 86 ÍNDICE DE FIGURAS ........................................................................ Pág. 88 CAPÍTULO V EVENTOS, ATIVIDADES CULTURAIS E/OU ATIVIDADES EXTRACLASSE ................................................................................. Pág. 90 O AUTOR ........................................................................................... Pág. 97 8 INTRODUÇÃO Os seres vivos são feitos de unidades microscópicas chamadas células1. Grupos de células similares com mesma função formam um tecido. Por sua vez, grupos de tecidos constituem os órgãos. Um conjunto de órgãos com funções relacionadas chama-se sistema. Em anatomia, um sistema é um conjunto de órgãos que trabalhando juntos executam determinada função. Doença é a perda da homeostasia2 corporal, total ou parcial, estado este que pode cursar devido a infecções, inflamações, isquemias, modificações genéticas, seqüelas de trauma, hemorragias, neoplasias3 ou disfunções orgânicas. Câncer ou cancro é o nome popular do conceito médico de uma neoplasia maligna, que se refere genericamente às doenças em que determinado grupo de células do corpo se divide de forma descontrolada, invadindo os tecidos adjacentes e/ou distantes, comprometendo tecidos, órgãos e sistemas. O Câncer não é uma doença única e sim um conjunto de várias doenças diferentes. A vários diferentes tipos de câncer correspondem vários diferentes tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. De uma maneira geral, se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas, ele é denominado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma. 1 AS células são as unidades estruturais e funcionais dos organismos vivos e representa a menor porção de matéria viva dotada da capacidade de auto-duplicação independente. 2 Homeostasia é a propriedade de um sistema aberto, seres vivos especialmente, de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados pôr mecanismos de regulação interrelacionados. A capacidade de sustentar a vida dos fluidos do corpo humano é afectada pôr todo um leque de factores, como a temperatura, a salinidade, o ph, ou as concentrações de nutrientes, como a glicose, vários iões, oxigénio, e resíduos, como o dióxido de carbono e a ureia. Dado que estes factores afectam as reacções químicas que mantêm o corpo vivo, este inclui mecanismos fisiológicos para os manter dentro dos limites desejáveis. 3 Neoplasia é o termo que designa alterações celulares que acarretam um crescimento exagerado destas células. 9 FIGURA 1 Exemplo de progressão do câncer/cancro FIGURA 2 Exemplo de CARCINOMA FIGURA 3 Exemplo de SARCOMA 10 Analisando pela teoria da evolução humana, o câncer sempre esteve aí, já que o câncer, pelo que se sabe hoje, é resultado de mutação genética. Como, desde o início da vida houve mutação, é razoável imaginar que a doença sempre existiu. A mais antiga evidência de câncer, no entanto, remonta a 8.000 a.C. O tipo mais comum de neoplasia encontrada em fósseis, e ainda assim raramente, é o osteossarcoma, um câncer ósseo. As primeiras descrições de tumores foram encontradas em papiros4 do Egito, e datam de 1.600 a.C. Existem também documentos na Índia, de 600 a.C., que descrevem lesões na cavidade bucal parecidas com câncer. Foi Hipócrates, na Grécia, que cunhou a palavra "câncer". O "pai da medicina” , como é conhecido, viveu entre 460 e 370 a.C. e usou os termos "carcinos" e "carcinoma" para descrever certos tipos de tumores. Em grego, querem dizer "caranguejo", pelo aspecto do tumor - as projeções e vasos sanguíneos ao seu redor fazem lembrar as patas do crustáceo. Alguns séculos depois, entre 130 e 200 d.C., viveu Galeno, um médico romano. Considerado a maior autoridade na área por, ao menos, mil anos, ele foi referência no tratamento do câncer. Foi Galeno quem determinou que a doença era incurável e que, uma vez diagnosticada, havia pouco a fazer. A medicina só começou a ter avanços significativos na Renascença, no século XV, quando floresceram por todos os lados cientistas e artistas, especialmente na Itália. Michelangelo, um desses artistas, teria retratado em sua famosa escultura "A Noite" (La Notte), uma mulher com câncer de mama. A teoria baseia-se no aspecto disforme de seu seio, que, a considerar a habilidade do escultor, não foi casual. FIGURA 4 “La Notte” – detalhe do túmulo de Giuliano de Médici, 1526-33” Cyperus papyrus, ou simplesmente papiro é uma planta famosa desde 40 séculos antes da era cristã. Encontrada às margens do Nilo, sua fama é mais do que merecida, pois foi ele que forneceu à humanidade um dos principais instrumentos do progresso: o papel. 4 11 Somente no século XVIII o tabu da doença começou a mudar, com John Hunter, cirurgião escocês que sugeriu que alguns cânceres poderiam ser curados por cirurgia. Nesse mesmo século, um médico italiano atentou para o fato de que os hormônios5 poderiam ter influência sob a doença. Na Inglaterra, um médico escreveu um artigo alertando para os perigos do tabaco6, que acabara de virar moda no país. E outro, percebeu que era grande a incidência de câncer na bolsa escrotal entre limpadores de chaminé. Mas a moderna oncologia despontou somente no século XIX. A descoberta da célula ganhara importância e, em 1867, o médico alemão Matthias Schleiden sugeriu que o câncer seria fruto da divisão de células doentes. Com o surgimento da anestesia e o desenvolvimento da cirurgia novas técnicas surgem, como por exemplo, a mastectomia7 radical, por exemplo, foi criada no final do século. Pesquisas lançaram os fundamentos da hormonioterapia8 e, em 1896, Wilhelm Röentgen descobriu o raio-X9, que lhe valeria o primeiro Nobel de Física. O sistema endócrino é formado pelo conjunto de glândulas endócrinas, as quais são responsáveis pela secreção de substância denominadas hormônios. As glândulas endócrinas (do grego endos, dentro, e krynos, secreção) são assim chamados pôr que lançam sua secreção (hormônios) diretamente no sangue, pôr onde eles atingem todas as células do corpo. Cada hormônio atua apenas sobre alguns tipos de células, denominadas células-alvo. 5 O tabaco é nome comum dado às plantas do género Nicotina (Solanaceae), em particular a N. tabacum, originárias da América do Sul da qual é extraída a substância chamada nicotina. Foi trazida para a Europa pêlos espanhóis, no final do século XV. Era mascado ou, então, aspirado sob a forma de rapé (depois de secar as suas folhas). Um médico francês, de nome Jean Nicot (de onde deriva o nome da nicotina) usava-o como medicamento, para curar as enxaquecas da rainha Catarina de Médicis. 6 Mastectomia é o nome da cirurgia de remoção completa de toda a mama. É um dos tipos de tratamento cirúrgico para o câncer de mama. Quando só se remove um quarto da mama, a operação chama-se quadrantectomia. 7 Hormonioterapia - Muitos tecidos de nosso corpo tem seu crescimento normal regulado pôr hormônios. Alguns desses tecidos podem dar origem a tumores, que muitas vezes mantém sensibilidade aos hormônios, que podem estimular seu crescimento ou inibi-lo. Mama, endométrio e próstata são os exemplos mais freqüentes de tumores onde a hormonioterapia é empregada. Ao bloquearmos o estímulo que o tumor necessita para crescer ele pode diminuir de tamanho. Os hormônios atuam nas células através de receptores. Os receptores são moléculas que, ao se ligarem aos hormônios, causam uma determinada ação na célula. 8 9 Os raios X são emissões eletromagnéticas de natureza semelhante à luz vizível. (...)a energia atravessava facilmente os objetos, e se comportava como a luz visível. Após exaustivas experiências com objetos inanimados, Röntgen resolveu pedir para sua esposa pôr a mão entre o dispositivo e o papel fotográfico. A foto revelou a estrutura óssea interna da mão humana, com todas as suas formações ósseas; foi a primeira chapa de raios X, nome dado pelo cientista à sua descoberta 8 de novembro de 1895. 12 Mas é somente no século XX que a pesquisa na área de câncer ganha vigor e as descobertas se intensificam. Em 1903, foram feitas as primeiras aplicações de radioterapia10 contra tumores. No entanto só a partir da II Guerra Mundial, com o desenvolvimento da medicina nuclear, é que a radioterapia surgiu como tratamento rotineiro contra câncer. Em pleno século XXI, o Brasil enfrenta fenômenos, como o envelhecimento da população, desemprego, informatização do trabalho e globalização, que modificam a realidade nacional de forma significativa. Nesse novo Brasil, as mudanças demográficas – maior número de idosos – aliadas a um mercado de trabalho caracterizado por uma circulação de pessoas maior e mais rápida, com grandes concentrações populacionais nos centros urbanos, aumenta a probabilidade de maior contato com agentes microbianos, o que aumenta a propagação de agentes infecciosos e o risco de epidemia. Para agravar estes problemas, ainda há o fato de que os órgãos responsáveis por implementar ações de Saúde Pública não conseguirem se adaptar às condições sócio-econômicas e culturais do país na intensidade e amplitude necessárias. Daí, a pressão sobre as autoridades para que uma parcela cada vez maior da sociedade tenha acesso à EDUCAÇÃO, SAÚDE, ALIMENTAÇÃO e MORADIA. O Câncer é a segunda causa de morte por doença no Brasil. Se medidas urgentes não forem tomadas, passará a ser a primeira até 2020 (WHO11, 2004), sobrecarregando ainda mais o sistema da saúde, cortando, precocemente, vidas produtivas e provocando dor e sofrimento aos portadores da doença e seus familiares. Uma das principais razões para o aumento da incidência do câncer na população é a exposição prolongada a fatores de risco cada vez mais comuns na vida moderna. A chamada cultura do mundo moderno impõe às pessoas, desde a infância e a adolescência, costumes 10 Radioterapia é uma especialidade médica que se ocupa do tratamento oncológico baseado em radiação. As duas maneiras de utilizar radiação contra o câncer são a teleterapia que utiliza fonte externa de radiação com isótopos radioativos ou aceleradores lineares e a braquiterapia que é o tratamento através de isótopos radioativos inseridos dentro do corpo do paciente. 11 WHO - World Health Organization OU OMS - Organização Mundial de Saúde, OMS. 13 inadequados. O fumo, a alimentação incorreta, a exposição às irradiações solares, o álcool, são alguns exemplos, entre muitos outros, de fatores de risco que deterioram a qualidade de vida, fragilizam o organismo, provocam o câncer. Reavaliar essa cultura, através da prevenção e da educação, especialmente da população jovem, está entre as prioridades do Ministério da Saúde. O estímulo a uma mudança de comportamentos certamente ajudará a controlar a incidência do câncer no Brasil. O Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional do Câncer (INCA), tem como missão o controle deste grave problema de saúde pública. Sua estratégica básica para este objetivo é a educação da população para desmistificar esta doença, bem como esclarecer sobre as possibilidades de preveni-la. Este trabalho tem por objetivo oferecer aos profissionais de diversas áreas uma pequena análise sobre a situação do câncer no Brasil, enfocando algumas análises de seus determinantes, a distribuição de ocorrências bem como de algumas ações de controle adotadas. Ao final o autor espera oferecer elementos que possam ajudar na reflexão sobre as questões necessárias para embasamento da participação do setor de educação e de saúde e de outros setores no planejamento de ações estratégicas que se colocam como fundamentais para entender e enfrentar o grande desafio da construção de um política que visa minimizar o aparecimento, os efeitos do adoecimento e evitar as mortes por este grupo de doenças. 14 CAPITULO I A EDUCAÇÃO PORTA DE ENTRADA DA PREVENÇÃO Educar para a Saúde nas escolas implica, também, que a Saúde seja abordada de forma holística12, trabalhando-se todos os aspectos que concorrem para sua obtenção e manutenção. O adoecimento e a morte por câncer e outras doenças crônicodegenerativas, têm ocorrido em faixas etárias cada vez mais jovens, independente de classe social, devido à exposição precoce aos fatores de risco, entre eles o tabaco, alimentação inadequada, álcool, radiações solares, stress e vida sedentária. Apesar do desenvolvimento de novas tecnologias e dos avanços no tratamento do câncer, o maior impacto observado sobre sua incidência e mortalidade tem se devido às ações de prevenção, mas para que isso seja possível, uma ampla difusão de conhecimento aliada à reflexão crítica se faz necessário, contribuindo para formar cidadãos capazes de optar por comportamentos responsáveis em relação à sua saúde e à saúde coletiva. A escola, espaço educativo por excelência, é um dos locais privilegiados para este tipo de ação, tendo nos professores e educadores seus agentes fundamentais. O Ministério da Saúde, através do INCA, já vem desenvolvendo programas neste sentido, mas frente à dimensão do território nacional, do 12 Holística é um termo usado com o significado de totalidade, para dizer que os fenômenos do universo acontecem de modo simultâneo e interdependente. Usa-se holística como sinônimo de holismo para dizer, por exemplo, que no universo as unidades se organizam na totalidade, conservando a sua interdependência. 15 universo de escolas a serem envolvidas e o número de profissionais de educação a serem capacitados, impõem-se à necessidade de uma melhor estratégia para atingir todo o País. Tornar a Prevenção uma disciplina curricular de todos os seguimentos da educação é uma “idéia” que pretende contribuir para o desenvolvimento das ações de prevenção de câncer e outras doenças não comunicáveis junto à população do Brasil. A escola é um importante espaço para o desenvolvimento de um programa de educação para a saúde entre crianças, adolescentes, jovens e adultos. Distingui-se das demais instituições por ser aquela que oferece a possibilidade de educar através da construção de conhecimentos resultantes do confronto dos diferentes saberes: aqueles trazidos pelos alunos e seus familiares, e que expressam crenças e valores culturais próprios; aqueles contidos nos conhecimentos científicos veiculados pelas diferentes disciplinas; os divulgados pelos meios de comunicação, muitas vezes fragmentados e desconexos, mas que devem ser levados em conta por exercerem forte influência sócio-cultural e aqueles trazidos pelos professores, constituídos ao longo de sua experiência resultante de vivências pessoais e profissionais, envolvendo crenças e se expressando em atitudes e comportamentos. Esse encontro de saberes gera o que convencionou chamar “cultura escolar”, que assume expressão própria e particular em cada estabelecimento, embora apresente características comuns a tudo aquilo que é típico do mundo escolar. Portanto, a cultura escolar configura e é instituinte de práticas sócioculturais, inclusive comportamentos, mais amplas, que ultrapassam as fronteiras da escola. É dentro deste enfoque que se entende e se justifica uma disciplina de educação para a saúde, inserida e integrada no cotidiano e na cultura escolar, irradiando-se, dessa forma, para além dos limites acadêmicos. É nesse contexto, que os profissionais de educação têm um papel fundamental que não se restringe apenas a de um mero repassador de informações. Sua atuação é, sobretudo, a de educar a partir da construção de conhecimentos dentro do contexto da cultura escolar, como referida anteriormente. Nesta concepção, é importante que se reconheçam como modelos nos quais não só os alunos, mas toda a comunidade se inspira para 16 adotar ou mudar comportamentos que podem contribuir para uma melhor qualidade de vida. Destacam-se a adoção de comportamentos saudáveis que envolvam hábitos alimentares, práticas de exercícios físicos regulares, o não fumar, a redução ou abandono do consumo de bebidas alcoólicas, a proteção à exposição solar excessiva e aos fatores ocupacionais, além de hábitos sexuais responsáveis e protegidos, dentre outros que previnem o câncer, as doenças sexualmente transmissíveis e outras doenças, como as cardiovasculares. É sabido que uma ação desta natureza deve levar em conta várias barreiras existentes que dificultam a adoção de ações educativas de promoção à saúde, na rotina da educação e de seus profissionais. Entre elas, está a dificuldade que o sistema de ensino vem atravessando, redimensionando suas funções e práticas, com uma sobrecarga de expectativas por parte da sociedade carente de atenção e de informação. Em decorrência disso, os educadores vêm acumulando responsabilidades, de forma crescente, sem remuneração adequada, o que os faz sentirem-se, muitas vezes, despreparados e relutantes para lidarem com questões que, aparentemente, estariam fora de sua alçada. Essa atitude se explica, em parte, pela falta de uma tradição no desenvolvimento de ações voltadas para mudanças de estilos de vida no Brasil, e que também se reflete na formação dos professores, inicial e continuada, constituindo-se em mais uma dificuldade para a implementação de ações de promoção da saúde em escolas. A introdução do tema no currículo de formação de professores contribuiria para a formação de profissionais mais conscientes de seu papel em relação à sua própria saúde e, portanto, mais capacitados para ensinar de forma coerente e com naturalidade a seus alunos, influenciando-os a ter um comportamento saudável. Torna-se cada vez mais urgente e necessário que a relação entre saúde, estilo de vida, questões psicossociais, econômicas, políticas e culturais sejam discutidas nas escolas de formação de professores. Além do conhecimento, as crenças, atitudes, habilidades e comportamentos dos profissionais de educação, são elementos fundamentais para a efetividade das relações educativas junto aos estudantes. 17 CAPÍTULO II O PROGRAMA SABER SAÚDE DO INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER O Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional de Câncer – INCA, e sob a orientação técnica da Coordenação de Prevenção e Vigilância – CONPREV, desenvolveu e vem implementando o “PROGRAMA SABER SAÚDE” de controle do tabagismo e outros fatores de risco de câncer nas escolas. Trata-se de uma proposta de educação para a saúde que tem como objetivo formar cidadãos responsáveis e críticos, capazes de decidir sobre a adoção de estilos de vida saudáveis, com responsabilidade social e sobre o meio ambiente, dentro de um concepção mais ampla de saúde, ou seja, completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença. Tal programa requer uma abordagem multi e interdisciplinar em suas diferentes instâncias, tanto na concepção como na execução, capaz de dar conta dos desafios decorrentes dos seus objetivos, e cuja efetivação torna necessário o estudo dos diferentes aspectos relacionados à saúde para possibilitar a adoção consciente de comportamentos e estilos de vida. Como um programa de educação para a saúde a ser desenvolvido nas escolas implica, também, em ações concebidas, implementadas e avaliadas com a parceria de profissionais de educação. O programa tem no professor o profissional melhor qualificado para a ação direta com os alunos. Além disso, é necessário o estabelecimento de interfaces com os diversos setores da sociedade envolvidos no processo de educação dirigidos às diferentes populações. Até o momento o “PROGRAMA SABER SAÚDE” destina-se, particularmente a atender os níveis fundamental e médio de ensino, ou seja, à população infanto-juvenil, mas quanto ao seu aspecto capacitador, está alcançando cada vez mais um maior número de profissionais de nível superior da área de educação. 18 O Brasil é um país de dimensões continentais que possui 49 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar, dos quais, cerca de 57 milhões estavam inseridos na rede de ensino conforme dados do MEC (2004). Para atingir essa população nos diferentes pontos do país é preciso descentralizar as ações de promoção da saúde, visando reduzir a exposição aos principais fatores de risco, estabelecendo parcerias entre o nível federal, as Secretarias Estaduais de Saúde (SES), Municipais de Saúde (SMS), dentro da política do Sistema Único de Saúde (SUS) preconizada pelo Ministério da Saúde e com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação (SEE e SME) nas ações junto às escolas. Os parâmetros curriculares nacionais (PCNs) propõem o tema Saúde como um dos temas transversais dentro do currículo de todas as escolas do país, incorporando e somando esforços com a área da Saúde nas ações de promoção da saúde. Os demais temas transversais, tais como ética, meio ambiente, cidadania, orientação sexual e pluralidade cultural, propostos pelos PCNs, são também trabalhados o SABER SAÚDE, reafirmando o caráter da abordagem multi e interdisciplinar deste programa. Assim concebido... O PROGRAMA SABER SAÚDE tem por objetivo geral reduzir, entre jovens, a prevalência de consumidores de tabaco e álcool, a exposição inadequada às radiações solares, o consumo de alimentos inadequados e o sedentarismo, estimulando, assim, a alimentação saudável e as atividades físicas, entre professores, demais profissionais da área de educação e escolares, atingindo também as famílias e a comunidade em geral. Como objetivos específicos o programa preconiza: 1. ampliar o conhecimento da comunidade escolar sobre os principais fatores de risco de câncer e outras doenças; 2. eliminar a poluição tabagística nas escolas; 3. estimular a alimentação saudável nas escolas; 4. prevenir a exposição excessiva ao sol; 5. e estimular a prática de atividades físicas. 19 Este projeto desenvolveu e vem testando e atualizando metodologia de capacitação de professores, metodologias de inserção do tema no currículo escolar, material didático de apoio e metodologia de avaliação da estrutura, do processo e do desfecho das ações educativas. No aspecto de capacitação dos educadores o projeto tem as seguintes ações: Informar, sensibilizar e capacitar os professores com relação à importância da prevenção da exposição a fatores de risco, sobretudo o tabagismo, e sugerir como introduzir o tema durante as ações de rotina da escola. Incentivar os educadores a rever seus próprios estilos de vida em relação aos fatores de risco em questão, para que tenham uma melhor qualidade de vida, sendo modelos de comportamento coerentes para sua família, seus alunos e para a comunidade em gera. Incentivar os educadores a abordar o tema tabagismo e outros fatores de risco e de outras doenças no seu dia-a-dia, nos diferentes locais de debate e junto aos pais e à comunidade que se refere à escola. Incentivar os educadores a abordarem o tema, sobretudo tabagismo, dentro do currículo escolar com seus alunos. Capacitar os educadores, quais sejam, orientadores pedagógicos ou professores diretamente, com informação técnica, argumentações e materiais de apoio específicos, que possibilitem a inserção do tema no currículo formal e informal, através de um curso de capacitação específico. Apresentar e fornecer o material de apoio par professores, alunos e biblioteca da escola. Para que a implementação do Programa Saber Saúde se realize integrada ao Projeto Pedagógico e ao currículo da escola, é importante que seu desenvolvimento seja proposto e discutido nos diferentes momentos de planejamento da ação educativa. É importante lembrar que a concepção e elaboração do Projeto Pedagógico da escola deve ocorrer no interior de um processo permanente de 20 discussão e formulação de propostas que considerem, por um lado, os valores culturais relativos ao trabalho, lazer, saúde, organização e necessidades de vida cotidiana e, por outro, o conhecimento sistematizado historicamente pelo homem. Observações diretas e informações sobre a qualidade de vida nos grandes centros urbanos e na zona rural, a poluição, os desmatamentos, o avanço tecnológico, a incidência de doenças, etc., são dados de realidade que devem ser enfocados possibilitando a caracterização do contexto abrangente, cuja problematização propicia a definição de propostas diferenciadas de organização e implementação do currículo escolar. O levantamento de dados sócio-econômicos e culturais das comunidades atendidas pela instituição de ensino pode ser realizado a partir de diferentes materiais e instrumentos de coleta de dados, compondo um manancial inesgotável de contexto próprios para o desenvolvimento do trabalho educacional. O PROGRAMA SABER SAÚDE oferece alguns instrumentos que poderão contribuir para o levantamento desses dados. O primeiro momento do planejamento prevê o conhecimento de aspectos sócio-econômicos e culturais da comunidade atendida pela escola, com base em dados coletados através de questionários, entrevistas, conversas informais, fichas de matrícula, consulta a instituições, compondo um diagnóstico acerca da realidade local. A atualização e inclusão de novos dados é uma importante providência no sentido de manter sempre atual e, com isso, detectará mudanças que permitirão revisões no próprio planejamento. De posse desses dados, o corpo docente reúne-se para organizá-lo, agrupando-os de acordo com a sua natureza: social, econômica, cultural e educacional; índices de evasão, repetência, gráficos que indiquem a produtividade alcançada pelas turmas, bem como dificuldades mais comuns. Essa sistematização facilita a análise dos dados, visando interpretar e interrelacionar as situações levantadas. A realização de um diagnóstico no inicio do ano letivo é uma fonte segura para a elaboração de objetivos gerais e específicos que nortearão a ação pedagógica, durante o ano todo, e a definição de metas que apontem a produtividade esperada. 21 Esses referenciais possibilitam, também, definir parâmetros para a avaliação de resultados alcançados. Para o monitoramento das ações é fundamental que sejam organizados cronogramas de atividades formais e informais. É no segundo momento de elaboração do projeto pedagógico que se define o planejamento bimestral, a partir do diagnóstico obtido no primeiro momento. Essa etapa ocorre quando docentes se reúnem no início de cada bimestre para definir propostas de ação pedagógica. A articulação de propostas no coletivo da escola deve estar em consonância com os objetivos e metas já definidos. Além disso, os professores deverão considerar a proposta dos PCNs para as séries em que atuam, as principais dificuldades dos alunos e a importância da abordagem de temas transversais para encaminhamento de questões comuns. O terceiro momento diz respeito à formulação de atividades. Prevê a indicação de objetivos específicos, conteúdos, definição de procedimentos didáticos, identificação e registro de dados acerca do desempenho dos alunos. Esse momento está diretamente ligado ao cotidiano da sala de aula e define a possibilidade de atendimentos diferenciados. Nos dois primeiros momentos a escola precisa se voltar par a realização de encontros de professores. constantes de informação. É importante que sejam realizadas trocas Todos precisam estar informados acerca dos muitos aspectos que interferem no processo de construção do conhecimento, e contribuam com sugestões e material informativo. Cabe a cada professor implementar ações que articulem as proposições definidas nos dois momentos iniciais de planejamento, com as características e necessidades dos alunos e dos conhecimentos a serem ensinados. É no terceiro momento de composição, portanto, que os objetivos específicos, conteúdos e procedimentos didáticos são definidos para o trabalho com as turmas. É fundamental que sejam organizadas e realizadas atividades que atendam aos questionamentos que motivaram a ação pedagógica. As questões ligadas ao tema transversal saúde, identificadas como prioritárias, poderão ser veiculadas de diferentes maneiras. Algumas poderão 22 ser abordadas mediante uma ação que inclua a participação de parte, ou de todos os professores da escola, durante um período restrito. Outros, por suas especificidades e grau de aprofundamento, poderão ser tratados durante períodos mais extensos. Os três momentos de organização do projeto pedagógico mantém entre si a função de retroalimentação do processo do ensino e da aprendizagem. O segundo e o terceiro momentos se repetem a cada bimestre, mantendo entre si uma profunda articulação. Ambos têm a função de responder às expectativas criadas no primeiro momento do projeto pedagógico, expectativas essas que se reformulam a cada ano, em função dos resultados alcançados e também da atualização das informações sobre a população que a escola atende. O projeto pedagógico visto a partir desse enfoque, está em constante reformulação. As informações obtidas, em cada um dos momentos, vão pouco a pouco configurando a ação pedagógica, numa permanente troca de saberes. A inserção dos temas transversais, em sala de aula, deverá ocorrer a partir de atividades de caráter bastante diversificado e em consonância com todo o processo de composição do projeto pedagógico. Portanto, não é mais uma tarefa que vem se somar às muitas outras que a escola já desenvolve. É um trabalho inserido no currículo e que propõe mudanças de mentalidade e da maneira como alunos e professores atuam e se situam na escola e no mundo. Por outro lado, o conhecimento dos professores sobre os fatores de risco trabalhados não é suficiente para produzir a ação, embora seja um requisito necessário. É preciso, sobretudo, que eles estejam, além de bem informados, conscientes de seu papel de modelos de comportamento, e que adotem um estilo de vida que privilegie os comportamentos saudáveis. Embora o “PROGRAMA SABER SAÚDE” exista para capacitar, cada vez mais professores, para atuarem nesta frente, o desejável é que este conteúdo já estivesse inserido no contexto curricular da graduação em pedagogia. Na forma de programa, o curso de capacitação é apresentado para ser desenvolvido em dois dias. Para seu desenvolvimento efetivo é necessário 23 contar com profissionais motivados e comprometidos, ou seja, é preciso que eles sejam informados e capacitados sobre o significado do programa e sua metodologia de trabalho. Sua proposta intercala palestras informativas com dinâmicas que buscam promover o envolvimento e a reflexão crítica a partir da dramatização de situações do cotidiano da escola. A CONPREV, responsável técnica do “PROGRAMA SABER SAÚDE” criou, para a apresentação das palestras, alguns recursos audiovisuais, que são distribuído às coordenações estaduais, com o objetivo de facilitar a sua multiplicação que poderá se dar através da reprodução em cartazes ou álbuns seriados e uso de transparências. A realização desse curso é fundamental para que o “PROGRAMA SABER SAÚDE” alcance seus objetivos e contribua para a melhoria da qualidade de vida de nossa população. 24 CAPÍTULO III CONHECENDO UM POUCO O CURSO DE CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES DO “PROGRAMA SABER SAÚDE” O Curso de capacitação de multiplicadores do Programa Saber Saúde tem dois públicos alvo relevantes: os representantes das Secretarias Municipais de Saúde e de Educação e os professores e profissionais da área de Educação. Os objetivos do curso são: Informar e sensibilizar os participantes sobre a importância da prevenção do câncer e seus fatores de risco, sobretudo o tabagismo. Levar os participantes a rever seus próprios hábitos, atitudes e comportamentos acerca dos fatores trabalhados. Orientar os participantes a incentivar os professores a abordarem o tema fatores de risco de câncer, sobretudo tabagismo com seus alunos. Orientar os participantes a incentivar os professores a abordar o tema tabagismo e outros fatores de risco de câncer no seu dia-adia, nos locais de debate e junto aos pais e à comunidade que se refere à escola. Capacitar os participantes com informações, argumentação e materiais de apoio específicos que possibilitem a orientação de professores par à inserção do tema no currículo formal e informal. Capacitar os participantes para elaborar o projeto de implantação do programa em seus municípios através do estabelecimento de parcerias com área de educação. O Curso se utiliza de material próprio, criado pelo Instituto Nacional do Câncer, através de sua equipe técnica do Coordenação de Prevenção (CONPREV). Dentre este material destacamos o livro “O Câncer e seus fatores de risco, doenças que a educação pode evitar” e o livro “Saber Saúde Prevenção do tabagismo e outros fatores de risco de câncer entre escolares do 25 ensino fundamental”. Além destes dois livros o curso conta com diversificado acervo de material didático e de divulgação do Programa Saber Saúde, como cartazes, folhetos e adesivos, além de três vídeos educativos: “O Câncer e seus fatores de Risco”, “O Homem de Giz” e “O Programa Saber Saúde nas Escolas – Orientações Metodológicas”. O curso acontece basicamente com a seguinte programação: apresentação dos temas, dinâmicas e debates orientados. Em seu planejamento é escolhido um espaço que possibilite a reunião total do grupo com distribuição dos participantes de forma a facilitar a comunicação, a observação das suas reações e a atmosfera do grupo e que permita a coexistência de grupos de trabalho. Utilizam-se como recursos didáticos retroprojetor; data show, quadro de giz ou quadro branco ou flip chart, folhas de papel, lápis, caneta, hidrocor, papel pardo, cronômetro, transparências e canetas para retroprojetor, dispositivo para projeção de vídeo com tela (televisão) que permita que todos acompanhem a projeção. Das palestras apresentadas destacamos: “O INCA E A PREVENÇÃO DO CÂNCER” Cujo objetivo é: Apresentar os objetivos das ações desenvolvidas pelo INCA bem como seu organograma institucional. Informar aos profissionais participantes do curso os motivos para a adoção de políticas de prevenção dos fatores de risco. Informar aos participantes sobre as ações de desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, através do INCA para a prevenção do tabagismo e outros fatores de risco. Apresentar os diferentes programas desenvolvidos pela CONPREV. Ao “apresentador” cabe deixar claro a importância da adoção de ações preventivas em face de gravidade do aumento dos casos de adoecimento e morte por câncer no Brasil, mas a ênfase na abordagem deverá ser colocada sempre na perspectiva da valorização da vida e promoção da saúde. 26 A palestra “O Programa Nacional de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco de Câncer nas Escolas” cujo objetivo é: Informar aos participantes os motivos que levaram o MS/INCA a propor e desenvolver o Programa Saber Saúde de Prevenção ao Tabagismo e outros fatores de risco nas Escolas em parceria com Secretarias e Profissionais da educação. Informar sobre os objetivos e ações do Programa Saber Saúde. Explicar estratégias de implantação descentralizada. Apresentar o material de apoio produzido e disponível para o desenvolvimento do programa. Nela é importante que a exposição se faça de forma a deixar clara a importância e urgência da adoção de um programa de prevenção do tabagismo e outros fatores de risco nas escolas, explicando com riqueza de detalhes a estratégia de implantação descentralizada assim como o processo de avaliação contínua de sua implantação e implementação. Já a apresentação das “ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS” tem como objetivos: Apresentar e discutir com os participantes a metodologia proposta para o desenvolvimento do programa saber saúde nas escolas. Orientar os participantes a motivar e capacitar os participantes para desenvolver o programa saber saúde com suas turmas de forma interdisciplinar e transversal ao currículo. Orientar os participantes a motivar e capacitar os participantes para desenvolver o programa saber saúde inserido no projeto pedagógico da escola. É importante que esta atividade seja realizada por um profissional da área de educação cuja apresentação se fará com transparências ou slides que tenham como base o material de apoio – “Livro Saber Saúde” - e deverá ser ilustrada com exemplos do cotidiano do trabalho nas escolas. Essa exposição é muito importante para que os professores possam compreender a metodologia e esclarecer dúvidas que possam surgir. É fundamental que o apresentador deixe o grupo à vontade e que acredite no programa para motivar os participantes. 27 Após a apresentação, deverá ser exibido o vídeo 4 “Programa saber Saúde nas escolas” que mostra situações em diferentes turmas, disciplinas e séries, de forma que os participantes possam melhor compreender como a metodologia proposta pode ser desenvolvida. Após a exibição do vídeo, o apresentador terá oportunidade para esclarecer dúvidas que venham a surgir. A adoção de dinâmicas de grupo durante o curso irão propiciar a integração do grupo, partindo de algo fundamental como se conhecer mutuamente; romper o “gelo” desde o princípio, a fim de desfazer tensões; demonstrar que nenhum membro do grupo pode passar desapercebido e dar uma idéia dos valores pessoais dos membros participantes. Isto permite que todos saibam QUEM É QUEM. Não se chegará a um conhecimento do grupo, a não ser conhecendo os indivíduos. Dinâmicas de leitura e apresentação de temas deverão informar aos participantes sobre o tema Prevenção de Câncer e seus fatores de risco; capacitar os participantes com informações técnicas da área de saúde sobre o que é Câncer, o que é um fator de risco e quais são os principais fatores de risco de câncer; capacitar os participantes para abordar o tema tabagismo e os outros fatores de risco, álcool, irradiação solar e dieta alimentar; capacitar os participantes par que possam abordar todos os fatores de risco de câncer tanto no currículo formal quanto no informal e fornecer subsídios técnicos para a apresentação e discussão em grupo sobre o câncer e seus fatores de risco. Para que essas dinâmicas alcancem os objetivos propostos, é importante que haja uma leitura atenta do livro “Câncer e seus fatores de risco: doenças que a educação pode evitar”. Dinâmica de baseada na troca de experiências comuns e pessoais sobre os principais fatores de risco de câncer: tabagismo, álcool, radiação solar excessiva e alimentação inadequada irão estimular a noção de que devemos ser coerentes com o que acreditamos e adotamos para nossa vida pessoal e aquilo que ensinamos na escola. Além disso, espera-se com ela: Envolver os membros do grupo com o tema prevenção de câncer. Exercitar os membros do grupo com situações do cotidiano. Estimular a reflexão, a argumentação e a apropriação de conceitos préexistentes ou adquiridos durante a capacitação. 28 Exercitar a capacitação de improvisação e de utilização oportuna das situações e ganchos que a sala de aula oferece, tendo em vista os conhecimentos adquiridos. Esta atividade ainda cria a oportunidade para que aspectos importantes relacionados com objetivos do projeto sejam objeto de reflexão. A partir desta atividade retrospectiva os participantes poderão constatar a influência fundamental da escola no desenvolvimento dos indivíduos e a importância do professor neste contexto. Essa atividade também propicia ao participante, seja ele professor ou não, colocar-se temporariamente (através das lembranças) na condição de aluno e lembrar da importância que alguns professores tiveram em suas vidas. Essa dinâmica pretende que os participantes entendam sua importância na vida de seus alunos. E pode, ainda, contribuir para aumentar sua tolerância e compreensão frente a determinados comportamentos. Sua realização permite que o participante avalie, ao longo de sua história, as possibilidades que lhe foram oferecidas ou tolhidas pelas atitudes de seus professores (informações, castigos, educação). É possível ainda, explorar como os participantes vivenciaram e conseguiram superar situações mais problemáticas, e que serviram de modelo para momentos futuros. 29 CAPÍTULO IV ENTENDENDO O CÂNCER E SEUS FATORES DE RISCO Doenças que a Educação pode evitar O CÂNCER “O Câncer e seus fatores de risco – doenças que a Educação pode evitar” não é apenas mais um capítulo desta monografia. Trata-se do título de um, dos muitos, materiais de divulgação e educação elaborados pela Coordenação de Prevenção e Vigilância – CONPREV, do Instituto Nacional do Câncer/Ministério da Saúde. Material educativo elaborado no ano de 1997 pelas Dras. Luisa da Costa e Silva Goldfarb, Tânia Maria Cavalcante e Vera Luiza da Costa e Silva, com assessoria pedagógica de Letícia Casado Marques e Ana Maria Monteiro, adaptação de Ziraldo Alves Pinto e Miguel Mendes Reis. Artes de Ziraldo, Mig, Marco Antonio de J. Ferreira, Mauro Ernesto de Oliveira e Ferreth com computação gráfica de Ricardo Machado e revisão de Teresa da Rocha é material utilizado até hoje, por educadores em todos os municípios do Brasil. Este material, associado ao manual com sugestões para educadores, “Saber Saúde – Prevenção do Tabagismo e outros Fatores de Risco de Câncer”, elaborado no ano de 1998, com texto de Luisa da Costa e Silva Goldfarb e Ana Maria Monteiro e revisão do Prof. Antonio Rufino Neto, ainda com ilustração do Ziraldo e Miguel Reis, assim como Artes de Ziraldo, Mig, Marco Antonio e Mauro Ferreth com computação gráfica do Ricardo machado, fazem parte de um kit super atual, destinado as escolas brasileiras. Com linguagem apropriada aos meios “não médicos”, os livretos fazem parte de um conjunto de materiais elaborados, especialmente, para informar e subsidiar os educadores dentro dos programas de prevenção ao câncer e seus fatores de risco nas escolas. 30 Entender o que é o câncer é essencial para entender esta monografia... e a melhor explicação está nas primeiras páginas do livreto da CONPREV, abaixo reproduzidas, e já bem explanado, no que tange a sua história, na introdução desta. “As células não pensam. Elas só conseguem cumprir suas tarefas porque foram programadas para tal. Todas as informações que formam esse programa estão escritas num complexo e maravilhoso composto químico chamado ADN132. O ADN forma os cromossomos que estão guardados no núcleo da célula. Agora, imagine que este programa é destruído ou fica sem sentido. As células, então, enlouquecem. A única coisa que passam a fazer é se multiplicar e invadir o terreno das células saudáveis”. Esta é a explanação mais simples que há sobre esta doença e com o apoio visual dos slides aqui reproduzidos fica fácil ao educador assimilar estes conceitos básicos para retransmiti-los a seus “aluno”. FIGURA 5 “O QUE É O CÂNCER?” Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer 1312 FIGURA 6 “COMO SURGE O CÂNCER?” Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer ADN ou ácido desoxirribonucléico é a molécula orgânica que quando transcrita em RNA, tem a capacidade de codificar proteínas. Tem a forma parecida com uma escada espiral cuja disposição dos degraus se dá em quatro partes moleculares diferentes. Esta disposição constitui as chamadas quatro letras do código genético. 31 FIGURA 7 “ESTÁGIOS DO CÂNCER” Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer FIGURA 8 “ESTÁGIOS 1 E 2 DO CÂNCER” Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer FIGURA 9 “ESTÁGIO 3 DO CÂNCER” Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer Traduzindo os slides, teremos: Que vários elementos que podem causar ou contribuir diretamente para a ocorrência de uma seqüência de eventos que levem ao surgimento do câncer. O caminho final comum dos cânceres é alguma alteração genética, que converte uma célula bem constituída, participante do corpo como um todo, numa outra, "renegada", destrutiva, que não responde mais a comandos de uma comunidade de células. Promotores (oncogenes) e supressores têm um papel central e decisivo em muitos casos. Substâncias químicas (como o benzeno e nitrosaminas), agentes físicos (como radiação gama e ultravioleta), e agentes biológicos (como alguns tipos de vírus), contribuem para a carcinogênese em algumas circunstâncias. 32 O agente carcinogênico mais importante para a população em geral é o tabaco, pois ele causa ou contribui para o desenvolvimento de aproximadamente um terço de todos os cânceres, principalmente em pulmão, esôfago, bexiga e cabeça e pescoço. São vários os estágios em que o câncer se desenvolve: O estágio 1 é localizado. Geralmente confinado ao órgão de origem. Geralmente curável com medidas locais, como cirurgia ou irradiação. O estágio 2 é localizado, mas extenso. Pode se estende para fora do órgão de origem, mas mantém a proximidade. É às vezes curável com medidas locais (cirurgia e irradiação), às vezes em conjunto com a quimioterapia. O estágio 3 é disseminado regionalmente. Estende-se para fora do órgão de origem, atravessando vários tecidos. Pode atingir linfonodos (gânglios) na região do tumor. Tem ainda o potencial de ser curado, embora as recidivas sejam mais freqüentes. O tratamento local ou sistêmico depende das características do tumor. O estágio 4 é disseminado difusamente. Geralmente envolve múltiplos órgãos distantes e é raramente curável. O sucesso da terapia contra o câncer depende da escolha das modalidades de tratamento que mais se adequar ao paciente e à sua doença, necessitando muito a cooperação entre especialidades. Suporte geral também é muito importante, incluindo controle de distúrbios metabólicos, infecciosos, cardiopulmonares, freqüentes nos pacientes submetidos a tratamentos agressivos. Quando a prevenção do câncer através da mudança de hábitos não é possível, a detecção precoce é a melhor estratégia para reduzir a mortalidade. Campanhas de esclarecimento da população, e também de profissionais de saúde são feitas nesse sentido. Infelizmente, no Brasil ainda são bastante falhas e descontínuas. Muitas pessoas não fazem exames de rotina porque elas têm medo de descobrir que têm câncer. Apesar de obviamente os exames de screening serem realizados para detectar a doença, a grande maioria das pessoas 33 examinadas está livre de doença. Exames normais são um alívio para as pessoas, principalmente aquelas de alto risco para o desenvolvimento de câncer. Detectar doenças que põem em risco a vida das pessoas tão cedo quanto possível oferece a maior oportunidade de cura e sobrevida, com a melhor qualidade de vida. O câncer não para de crescer só porque a pessoa não está pronta para lidar com ele. O que você não sabe pode machucar você. A maioria dos exames preventivos não diz se você tem câncer ou não. O que eles fazem é indicar condições anormais, que podem ser causadas pelo câncer - ou que podem ser precursoras do câncer. Um exame preventivo positivo requer uma investigação mais completa. Alguns exames adicionais podem ser realizados para encontrar a causa do resultado positivo, e determinar se o câncer está ou não presente. 34 FATORES DE RISCO O câncer é uma doença diferente. Não tem uma causa única e facilmente identificável, portanto há muitas coisas no nosso dia-a-dia que podem, ou não, causar câncer. A essas “coisas” chamamos de “FATORES DE RISCO”. Quando mais expostos a esses fatores, maior o risco. FIGURA 10 “FATORES DE RISCO DO CÂNCER” Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer Nosso sistema imunológico13 elimina muitos dos fatores que provocam o câncer, mas só até certo ponto. O contato contínuo com esses fatores pode 13 O Sistema imunológico compreende todos os mecanismos pelos quais um organismo multicelular se defende de invasores internos, como bactérias, vírus ou parasitas. Mas não é só isso; ele também é responsável pela “limpeza” do organismo, ou seja, a retirada de células mortas, a renovação de determinadas estruturas, rejeição de enxertos, e memória imunológica. Também é ativo contra células alteradas, que diariamente surgem no nosso corpo, como resultado de mitoses anormais. Essas células, se não forem destruídas, podem dar origem a tumores. 35 vencer as defesas do organismo. Por outro lado, quanto mais abatido estiver o sistema imunológico, menos exposição a fatores de risco é necessária para começar a doença. Porém, como o corpo se defende, precisamos pensar também nos fatores de risco internos. Se o organismo, por algum motivo, e o envelhecimento é um deles, está numa condição propícia à mutação celular, ele facilita a ação dos fatores de risco externos. E o câncer nasce desse desequilíbrio. Eles podem ser encontrados no meio ambiente ou podem ser herdados. A maioria dos casos de câncer está relacionada ao meio geral (água, terra e ar), ao ambiente de consumo (alimentos, medicamentos, tabaco, álcool e produtos de uso doméstico), ao ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins) e ao ambiente cultural (comportamento e estilos de vida). Por outro lado, alguns fatores reduzem as probabilidades do indivíduo desenvolver câncer. São chamados de fatores de proteção. Eles podem ser genéticos e externos, tais como atividades físicas, lazer visando redução do stress e alimentação rica em fibras, como verduras e frutas em abundância. Os fatores de risco mais conhecidos e combatidos são: O Tabaco; Maus Hábitos Alimentares; O Álcool; A Radiação; O Excesso de Sol; A Poluição Química; Vírus, etc... 36 O TABACO “NADA ESTÁ TÃO ASSOCIADO AO CÂNCER QUANTO O FUMO NADA FAZ TÃO BEM QUANTO EVITÁ-LO” O consumo de tabaco é considerado pela Organização Mundial de Saúde (WHO) a maior causa isolada de adoecimento no mundo. Atualmente, estima-se que o uso do tabaco esteja relacionado a 90% dos casos de câncer de pulmão e a 30% de todos os outros cânceres. Cerca de 90% dos fumantes adultos tornam-se dependentes da nicotina até os 19 anos de idade. A suscetibilidade do grupo jovem mostra a necessidade de uma intervenção através de ações educativas nesta população (WHO, 2004). As pessoas só conseguem se preocupar com prejuízos imediatos. É mais fácil alguém deixar de fumar porque o cigarro amarela os dentes do que pensando na saúde e a envolvente publicidade dos cigarros tenta cada vez mais conquistar jovens consumidores, despreocupados com o futuro que lhes parece distante. Nas propagandas, fumar é exercer a “liberdade”. Dizem que é ruim, mas você que fazer assim mesmo... Porém, como já falamos antes, os números estão aí mesmo para mostrar que fumar é um perigo real e imediato: oito brasileiros morrem por hora vitimados por câncer, infarto do miocárdio, derrame cerebral e doenças respiratórias, entre outras doenças associadas ao fumo. Cada vez mais o câncer se manifesta em pessoas mais jovens, principalmente as que começaram a fumar na tenra idade da adolescência(WHO, 2004). A utilização do tabaco é considerada por muitos como sendo a droga porta de entrada para o abuso de drogas ilícitas. Freqüentemente, a experiência com o uso de cigarros é acompanhada do uso de álcool e seguida pelo uso de drogas ilícitas. Um dos grandes obstáculos para o controle do tabagismo é o fato de seu consumo ser aceito pela sociedade como parte de um “estilo de vida”. As 37 crianças crescem num ambiente onde os cigarros são anunciados e vendidos em todo lugar, onde o fumar é inserido como comportamento desejável pelos meios de comunicação, onde pessoas respeitadas e admiradas fumam. É fundamental, portanto, tentar mudar o comportamento da sociedade, através deste grupo, mostrando que fumar deixou de ser considerado apenas um hábito para ser uma dependência, cujos malefícios não se limitam só aos fumantes, atingindo de forma ampla e danosa a todos e ao meio ambiente. A fumaça do tabaco é a maior mistura de substâncias tóxicas que o ser humano pode absorver voluntariamente. Contém cerca de 5 mil substâncias químicas diferentes, entre as que compõem o próprio tabaco, como a nicotina, monóxido de carbono e alcatrão, e as que a ele se juntam, desde o plantio até a manufatura final do cigarro, como a amônia, corantes, aromatizantes, edulcorantes, metais, resíduos de produto agrícolas e até substâncias radioativas, como é o caso do Polônio 210 e do Carbono 14. Isso sem falar nos produtos que entram na confecção do papel e do filtro do cigarro. A fumaça do cigarro contribui para a poluição do ar, sobretudo nos ambientes fechados, e os filtros que levam 100 anos para se degradarem, se acumulam poluindo o solo e as águas. O cigarro ainda é uma das grandes causas de incêndios urbanos e rurais, causando irreparáveis perdas e destruindo reservas florestais. O plantio do tabaco retira nutrientes do solo, deixando-o imprestável para novas culturas. Desta forma, ele exige grandes quantidades de fertilizantes no seu cultivo. Exige também grande quantidade de pesticidas que contaminam o solo, as fontes de água próximas às plantações e os animais da região. Além disso, para obter bom preço de mercado, as folhas do tabaco devem ser grandes e para isso requer o uso de desbrotantes, produtos que matam os brotos e forçam a planta a só crescer através das folhas já existentes. Antes de serem exportadas ou enviadas à indústria, as folhas do tabaco sofrem uma secagem. No Brasil, a secagem de quase toda a produção tem sido feita em fornos de lenha. Essa lenha tem vindo do desmatamento de 38 florestas nativas, principalmente da região sul, que estão sendo extintas e substituídas por eucaliptos. TABACO E POBREZA formam um “CÍRCULO VICIOSO”. Este foi o tema que a OMS – Organização Mundial de Saúde elegeu para ser abordado durante as comemorações do “Dia Mundial sem Tabaco”, em 2004, com o objetivo de atrair a atenção de formadores de opinião sobre essa realidade, promover debates e propostas de encaminhamentos e abordagens dessa problemática. “Hoje nenhum país pode mais deixar de reconhecer que ações para controlar o tabagismo devem ser centrais aos seus programas de desenvolvimento”. Neste sentido, o Governo Brasileiro tem investido esforços para articular nacionalmente um Programa de Controle do Tabagismo intersetorial e abrangente. Apesar de todas as dificuldades que o Brasil enfrenta por ser um país produtor de tabaco, ser um país em desenvolvimento, por ter que lidar com as constantes e sofisticadas estratégias de grandes transnacionais de tabaco para minar as ações de controle do tabagismo, muitos são os indicadores de que estamos avançando. A queda de 32% no consumo anual per capita de cigarros entre 1989 e 2002, os resultados de um recente estudo no município do Rio de Janeiro que mostrou uma queda na prevalência de fumantes de 30% em 1989 para 21% em 2001(Brasil/Ministério da Saúde/INCA, 2003), a evidência de que o fumante brasileiro é um dos mais motivados do mundo a deixar de fumar no mundo (Gicliotti, 2002) e de que há um grau elevado de consciência na população sobre os riscos do tabagismo e do tabagismo passivo (Brasil/Ministério da Saúde/INCA, 2003) são dados animadores que mostram que a política de controle do tabagismo no Brasil encontra-se no caminho certo.”14 Brasil, Ministério da Saúde, Organização PAM-AMERICANA da Saúde. “TABACO E POBREZA, um círculo vicioso – a Convenção-Quadro de Controle do Tabaco: uma resposta / Brasil. Ministério da Saúde; Organização Pan-Americana da Saúde” – Brasília: Ministério da Saúde, 2004 – Pág.167/168 14 39 As imagens dominam nosso cotidiano e a comunicação contemporânea está totalmente calçada na grande produção de imagens. A visão se tornou o principal sentido do mundo moderno contemporâneo, e vivemos hoje, sob o total domínio do olhar, seja ele natural ou artificial. O olho mágico, as câmaras fotográficas, os circuitos internos de TV, compartilham nosso cotidiano com tanta intimidade que sequer percebemos o quanto nossa vida esta condicionada ao ver e ser visto. Através do olhar, comunicamos, julgamos, classificamos, nos vemos refletidos na paisagem urbana, nas imagens que se apresentam, que nos representam, comemos com os olhos, acreditamos só no que vemos e nosso desempenho social depende de sermos “homens de visão”. Olhamos “de viés” para o que nos é estranho e com “ bons olhos” para o que nos é familiar, inspirados pelo olhar elucidamos as questões, clareamos as idéias, nos iludimos e desiludimos, o que quer dizer a mesma coisa. Portanto nada mais contundente do que a imagem do “CÂNCER”. “Na cama, de olhos semicerrados, a boca aberta no esforço desesperado por ar, a cabeça sem cabelos, os ossos salientes pela magreza do doente termina. No colo dele, uma fotografia tirada apenas dois meses antes daquele momento final. Na imagem, um homem robusto, musculoso e de farta cabeleira loira aparece com o filho pequeno nos braços. A divulgação das fotos chocantes foi o último desejo do moribundo, Bryan Lee Curtis, um americano de 34 anos devastado pelo câncer nos pulmões. O motivo para tornar pública a própria agonia foi à esperança de servir de alerta sobre os malefícios do cigarro. Enquanto agonizava, em 3 de junho, sua mãe ligou para o St. Petersburg Times, jornal da cidade de St. Petersburg, na Flórida, pedindo a presença de um fotógrafo. As 11h56, Bryan morreu em casa, ao lado da mãe, da mulher, Bobbie, e do filho Bryan Jr. de 2 anos. Em poucos dias, o retrato de sua morte espalhou-se pelo mundo. O que choca na imagem é a certeza de que não se trata de modelos maquiados num estúdio. Bryan estava morrendo e o cigarro - ele começou a fumar aos 13 anos, consumia dois maços por dia e só parou às vésperas da 40 morte, quando lhe faltou força para aspirar a fumaça - foi realmente o principal responsável pela doença. Ele só soube do câncer em abril, ao procurar ajuda médica com fortes dores abdominais. Não havia o que fazer. Tratava-se de uma das formas mais agressivas da doença e o fígado já havia sido tomado pelo tumor. "Esse tipo de câncer costuma ser devastador e acomete 15% dos doentes", diz a médica Nise Yama-guchi. vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (1999). Quando soube que estava condenado a perder a batalha contra o câncer, Bryan formalizou seu casamento, chamou o filho e uma sobrinha de 9 anos para uma conversa sobre os motivos da morte que se aproximava e decidiu transformar as imagens de sua aflição em bandeira contra o tabagismo.”( Revista Veja 30/06/99) FIGURA 11 Esposa, filho e Bryan nos últimos minutos de sua vida FIGURA 12 Bryan (como era antes) com o seu filho no colo Seguindo a linha de que “as imagens dominam nosso cotidiano”, desde 2001, uma resolução da Agência Nacional de Saúde Nº104/31 de maio 2001 41 determina, dentre diversas diretrizes, a inserção de advertências contra o tabagismo, acompanhadas de imagens, e do número de telefone do Disque Pare de Fumar, nas embalagens dos produtos fumígenos derivados do tabaco. Proíbe ainda a utilização de qualquer tipo de invólucro ou dispositivo que impeça ou dificulte a visualização das advertências. As fotos impressas abrangem desde pessoas hospitalizadas, a cenas de incômodo social, passando por doenças em órgãos específicos, tendo em comum os males causados pelo uso de cigarro. Estas medidas partiram da consciência das estatísticas assustadoras relacionadas à perda de saúde pelos fumantes, fazendo com que os governos de diversos países investissem cada vez mais em campanhas contra o consumo de cigarros. No Brasil, a estratégia adotada pelo Ministério da Saúde se baseou em uma abordagem que já vinha sendo desenvolvida primeiramente no Canadá. Esta estratégia se refere à impressão de fotos e inscrições de advertência ao consumo de tabaco nos maços de cigarro. FIGURA 13 Imagens dos maços de cigarro No momento, a CONPREV, através da sua Divisão de Controle do Tabagismo, junto com a equipe do Laboratório de Neurobiologia II, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UERJ e da equipe do Departamento de Artes & Design - PUC-RIO vem desenvolvendo o “PROJETO DE DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DAS NOVAS IMAGENS E ADVERTÊNCIAS IMPRESSAS NOS MAÇOS DE CIGARRO”, projeto este, que operacionaliza o plano de trabalho das Ações Nacionais instituídas pela Política Nacional de Atenção Oncológica, operacionalizado através do Centro de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – CEPESC/UERJ. É a PREVENÇÃO e a EDUCAÇÃO andando juntas dentro das UNIVERSIDADES. 42 O ÁLCOOL “PODE SER A GOTA D”ÁGUA” Acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, homicídios, suicídios, abandono do lar, espancamentos em família... Fatos tristes que freqüentemente têm álcool entre seus ingredientes. Mesmo assim, a maioria das pessoas não percebe que o álcool também é uma “droga”. Como outras drogas, o álcool causa dependência nas pessoas. A mudança de comportamento que ele proporciona é socialmente incentivada. Para muitos é um apoio em momentos de insegurança e tristeza. Como qualquer outra droga, o álcool provoca alterações no sistema nervoso, modificando o comportamento da pessoa, produzindo momentâneo prazer e tornando-o um usuário e dependente. O alcoolismo é uma doença e pode atingir qualquer pessoa. O alcoolista ou como é mais comumente conhecido, o alcoólatra, é o dependente físico e psicológico da bebida e precisa de esforço e tratamento adequado para largar esta dependência. O álcool está relacionado com 50 a 70% de todas as mortes devido a câncer de língua, cavidade oral, faringe, laringe e esôfago, de fígado, de mama e de intestino. É na infância e adolescência que se dá a utilização do álcool pela primeira vez. As causas são similares àquelas que levam a fumar e a maior parte das vezes o consumo de ambos está associado, sendo importante enfatizar que o álcool potencializa o efeito carcinogênico do tabaco. O prejuízo que o álcool normalmente causa ao fígado reduz a capacidade que esse órgão tem de neutralizar as substâncias cancerígenas. Dados colhidos em dez capitais, na última década, confirmam que 60% dos estudantes de 1º e 2º graus fizeram uso pelo menos uma vez na vida e que 23,9% da população até 18 anos de idade, no Brasil, são consumidores regulares de bebidas alcoólicas. (Ministério da Saúde/INCA, 2002). 43 O alcoolismo é considerado uma doença de difícil tratamento e que leva a uma deterioração psicológica, orgânica e social dos indivíduos dela acometidos. FIGURA 14 OS EFEITOS DA BEBIDA NO CORPO 44 O SOL “SOL É BOM... MAS NÃO EXAGERE!” Outro fator de risco de câncer é a exposição excessiva às radiações solares. Não é apenas o excesso momentâneo. O efeito nocivo dos raios solares se acumula durante a vida. Não adianta nada se esbaldar na praia e na piscina durante a juventude e parar na maturidade para não “envelhecer a pele” ou evitar o câncer... o mal já foi feito. O câncer de pele, que está relacionado à exposição ao sol, é o mais freqüente no país, em ambos os sexos, tornando-se um problema de saúde pública, pois embora, em geral, não leve à morte, é responsável por extensos danos estéticos. As pessoas de pele clara que se expõem ao sol de forma prolongada e freqüente, por atividades profissionais ou de lazer, constituem o grupo de maior risco. No Brasil o clima tropical, a grande quantidade de praias, a idéia de beleza associada ao bronzeamento, principalmente entre os jovens, além do grande número de crianças e adolescentes trabalhando na agricultura e outras atividades ao ar livre, favorecem enormemente esta exposição excessiva. A infância é uma fase particularmente suscetível aos efeitos maléficos das radiações ultravioleta porque os danos que causam à pele se acumulam no decorrer da vida. São os raios ultravioleta tipo B do sol que atingem as camadas mais profundas da pele e podem alterar suas células, provocando câncer. Parte destes raios invisíveis é absorvido pela camada de ozônio existente na alta atmosfera, mas a redução progressiva da camada de ozônio vem diminuindo a filtragem de raios ultravioleta, aumentando assim os efeitos cancerígenos da exposição excessiva ao sol. FIGURA 15 FIGURA 16 CARCINOMA15 MELANOMA16 45 No entanto, o sol é necessário à saúde em uma dose mínima diária, antes das 10hs e depois das 16 hs. Protegendo a pele com chapéus, guardasóis, óculos escuros e filtros solares durante qualquer atividade ao ar livre estamos nos prevenindo quanto aos efeitos nocivos do sol. Durante o período em que os raios solares incidem mais intensamente sobre a terra, ou seja, entre as 10 da manhã e 4 da tarde, é melhor reduzir ao mínimo sua exposição ao sol. Quem vive em cidades localizadas a grande altitude precisa ter mais cuidado ainda, pois a proteção atmosférica é menor, já que os filtros solares apenas reduzem parcialmente os efeitos ultravioleta. 5 Tumor maligno da pele, dos tecidos glandulares ou das membranas mucosas, com origem em células derivadas da ectoderme, desenvolve-se a partir de células epiteliais, e espalha-se para os tecidos adjacentes, nomeadamente os gânglios vizinhos. O carcinoma do pulmão e da mama são exemplos desta patologia. 1 6 Tumor maligno das células produtoras de melanina (melanócitos) da pele. Na maioria dos casos desenvolve-se a partir de um nevo pré-existente, mas também pode surgir no olho ou nas membranas mucosas. 1 46 OS HÁBITOS ALIMENTARES “CUIDADO PRA NÃO MORRER PELA BOCA!” Com relação aos hábitos alimentares pode-se dizer que eles estão relacionados em conjunto a 35% de todos os tipos de câncer. Uma alimentação com altos teores de gordura e altos níveis calóricos está relacionada a um maior risco de desenvolver câncer de cólon, reto e mama, bem como a má conservação alimentar e o hábito de consumir alimentos salgados. Por outro lado uma alimentação rica em fibras, vitamina C, betacaroteno, vitamina "E" e outros compostos orgânicos vegetais pode proteger, parar ou até reverter os processos de carcinogênese. Entre os jovens é comum a preferência por alimentos tipo “fast food” que incluem a maioria dos fatores de risco alimentares acima relacionados. Esta tendência se observa não só nas classes sociais mais abastadas, mas também nas menos favorecidas, principalmente nas regiões urbanas embora nas regiões rurais, esse tipo de alimentação venha se estabelecendo também, em decorrência da vontade de copiar o modelo urbano de vida, muitas vezes acessado através da publicidade. Nos hábitos alimentares contemporâneos, o consumo de alimentos ricos em fatores de proteção tais como frutas, verduras, legumes e cereais costuma ser baixo. Alguns alimentos aumentam a capacidade de defesa do organismo, evitando, freando e até revertendo o processo de câncer. Ele contém elementos como vitamina C, vitamina E, carotenóides, selênio, zinco, cobre, ferro e manganês, que são protetores. Devem ser consumidos com freqüência e quantidade. Entre eles destacamos a cebola, o alho, os brócolis, a couveflor, o repolho, a couve, o espinafre, todos os legumes vermelhos e amarelos, como a cenoura, a abóbora, a batata baroa, bem como todas as frutas, principalmente as cítricas, a laranja, o caju, o mamão, etc. As fibras que são as 47 partes não digeríveis dos vegetais, como as cascas, auxiliam a prevenção do câncer porque limpam o intestino grosso, diminuindo a formação de agentes cancerígenos, e reduzem a absorção de gordura pelos intestinos. Elas são encontradas no milho, feijão e cereais integrais. Atividades físicas e relaxantes também são protetoras, pois previnem a obesidade e o stress que também contribuem para doenças cardiovasculares e o câncer. 48 OUTRAS RADIAÇÕES “RADIAÇÃO, MUITO MAIS PERTO DO QUE VOCÊ PENSA”. Os médicos estudaram as conseqüências das bombas atômicas17 lançadas sobre o Japão há mais de 50 anos atrás e ficou comprovado que, mais cedo ou mais tarde a radiação ionizante provoca câncer. A ionização, ou seja, o deslocamento de elétrons das moléculas, é um fenômeno que causa danos às células e pode provocar câncer. Trata-se de um processo lento, podendo demorar 30 anos para se manifestar. No caso do Japão, o índice de leucemia e tumores de estômago, de pulmão e do trato urinário, entre outros, aumentou. FIGURA 17 FIGURA 18 A BOMBA DE HIROSHINA VÍTIMAS DE HIROSHINA Bomba atômica é uma arma explosiva cuja energia deriva de uma reação nuclear e tem um poder destrutivo imenso - uma única bomba é capaz de destruir uma cidade grande inteira. Bombas atômicas só foram usadas duas vezes em guerra, pelos Estados Unidos contra o Japão nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, elas já foram usadas centenas de vezes em testes nucleares pôr vários países. 17 49 Uma bomba atômica utiliza a energia liberada durante o processo de fusão dos núcleos atômicos. Como elemento de fissão18, a bomba atômica utiliza o urânio19 enriquecido no isótopo 235 ou no plutônio 239, obtido pela transformação artificial do urânio 238. Para que a explosão aconteça, é necessário que a quantidade de urânio ou plutônio empregada constitua a chamada massa crítica, a qual nada mais é que a quantidade exata em que os nêutrons desprendidos espontaneamente não se perdem no exterior, sem ter atingido outros átomos de urânio. Ou seja, o acionamento da bomba ocorre no instante exato em que se forma a massa crítica. Para tanto, dois fragmentos de urânio ou plutônio, que juntos constituem a dita massa crítica, são montados no corpo da bomba, separados por certa distância. A união destas duas partes realiza-se rapidamente pela ação de um explosivo que, por sua vez, é detonado por uma espoleta de tempo ou percussão. Liberada parte da energia, surgem os isótopos radiativos criptônio 90 e bário 143, que emitem partículas “b” e se transformam em novos isótopos radiativos que, em conjunto, passam por cerca de duzentos estados intermediários antes de converter-se em núcleos atômicos estáveis. A eles se deve a radiatividade residual que persiste após os efeitos mecânicos, térmicos e radiativos no instante da explosão. Quando esta ocorre, a energia desencadeada se transmite aos produtos resultantes da fissão, em forma de energia cinética. A enorme velocidade a que tais produtos se deslocam é freada pelo choque com as moléculas da atmosfera e a energia cinética se transforma em calórica, alcançando-se no ponto da explosão temperaturas da ordem de 100 milhões de graus centígrados. Tudo isso produz enormes ondas de choque e calor, de efeitos devastadores. A primeira bomba atômica, de caráter experimental, explodiu em Alamogordo. Foi utilizada como arma dissuasiva pelos Estados Unidos na guerra contra o Japão. A que caiu sobre Hiroshima, em 06 de agosto de 1945, tinha uma potência de 20.000 toneladas de trinitrotolueno (TNT). Outra foi depois lançada sobre Nagasaki. Posteriormente, a capacidade explosiva desse tipo de bomba aumentou muito, a ponto de, hoje, as bombas de 1945 18 19 Cisão, ruptura. Urânio – metal radioativo, de grande densidade, branco como a prata e fusível a alta temperatura. 50 serem consideradas meros protótipos, principalmente desde 1981, quando os Estados Unidos anunciou sua intenção de fabricar a bomba de nêutrons. A bomba de nêutrons é uma arma nuclear de radiação controlada par que a energia liberada pela explosão atômica se distribua em radiação instantânea, sendo secundários o calor e a onda explosiva. Isso se obtém graças a uma bomba de fissão-fusão miniaturizada e de pequena potência, que emite um grande fluxo de nêutrons de alta energia, produzido por fusão dos núcleos leves de deutério e trítio. A explosão de 1 KT mata imediatamente as pessoas que estiverem a 800 m e, mais tarde, as que estiverem a 1.000 m. Os efeitos expansivos e calóricos não ultrapassam os 1.300 m, mas o raio de danos contra os seres vivos é dez vezes maior que o de uma explosão normal. Embora ninguém espere sofrer um bombardeio atômico, todos estamos sujeitos a esse tipo de radiação, que provoca danos celulares e detona o processo de câncer. Quando se tira uma radiografia, recebe-se radiação ionizante por isso é importante evitar o excesso de exames desse tipo e proteger com escudos de chumbo os órgãos reprodutores. Acidentes em usinas nucleares, como o de Chernobyl, na Rússia, não contaminam apenas o local, já que resíduos radioativos podem viajar pelo vento ou através de alimentos exportados e chegar ao nosso país e causar o mesmo tipo de aumento de casos de câncer encontrados como no caso do Japão. Chernobyl (Чернобыль), em russo ou Chernobyl (Чорнобиль), em ucraniano, é uma palavra emblemática pois significa absinto, uma substância extremamente amarga. Não fosse este o nome da cidade, não seria visto como coincidência com o que está no livro de Apocalipse 8:11 ao dizer que uma estrela chamada Absinto "... cai sobre um terço dos rios e sobre as fontes de água... e muitos dos homens morreram por causa das águas, porque foram feitas amargas". O acidente de Chernobyl foi percebido as 09:30hs. do dia 27 de abril de 1986 pelos monitores de radiação da Central Nuclear de Forsmark, perto de Uppsala, Suécia. Os monitores detectaram níveis anormais de iodo e cobalto, 51 motivando a evacuação dos funcionários da área devido a vazamento nuclear. Mas os especialistas não constataram nenhum problema na Central. O problema estava no ar. Foram verificados níveis anormais no norte e centro da Finlândia. Em Oslo, na Noruega, dobraram. Na Dinamarca, os níveis subiram 5 vezes. Os suecos através da embaixada em Moscou interpelaram o Comitê Estatal para o Uso da Energia Atômica e a Organização Internacional de Energia Atômica devido a suspeita de que os ventos que traziam radioatividade à Escandinávia vinham do interior da União Soviética, mas Moscou negou por 2 dias qualquer anormalidade. Enquanto isso a vida continuava normalmente...os operários trabalhando, as donas de casa em seus afazeres domésticos, as crianças indo a escola, enfim, a rotina continuava a mesma para todas as pessoas. Mas a presença de rutênio nas amostras analisadas na Suécia era emblemática, visto que o rutênio se funde a 2.255 °C, sugerindo uma explosão grave. Foi só em 28 de abril que se assumiu o acidente nuclear na República da Ucrânia e foi dada uma breve declaração de quatro sentenças, que "uma explosão, incêndio e fusão do reator tinha ocorrido na Central Nuclear Vladimir Ilitch Lênin" em Pripyat. Um satélite americano varreu a região da Ucrânia, encontrando uma usina com o teto destroçado e um reator ainda em chamas com fumaça vertendo do interior. Apenas, em 30 de abril, o Pravda - jornal do Partido Comunista, tocou no assunto do acidente. Para se ter uma idéia de normalidade, as comemorações do 1° de maio tiveram seus desfiles normalmente realizados em Kiev, a capital ucraniana, e em Minsk, na Bielorússia. No dia 3 de maio a nuvem estava sobre o Japão e no dia 5 de maio chegou aos EUA e Canadá. Mikhail Gorbáchov demorou 18 dias para falar sobre o acidente, só o fazendo em 14 de maio de 1986. 52 FIGURA 19 O Acidente Nuclear em Chernobyl, na Rússia (Infográfico: como aconteceu a tragédia). No acidente de Chernobyl foram liberados 3 milhões de terabecqueréis para a atmosfera. Sendo que 46.000 terabecqueréis composto de materiais com meia-vida longa (plutônio, césio, estrôncio). Chernobyl foi igual a 500 vezes a explosão sobre Hiroshima. Toda a população de Pripyat começou a ser evacuada após 36 horas deveriam "sair em 2 horas e ficar três dias fora". Os 45.000 habitantes não puderam levar nada. Tudo, inclusive eles mesmos, estava contaminado por radiação. Foi feito um cerco que existe até hoje, num raio de 30 km em volta de Chernobyl, conhecido como Zona de Exclusão, o que elevou os evacuados para 90.000. Em 1997 esta área foi aumentada para 2.500 km2. Nesta zona a radiação atinge a mais de 21 milhões de Curies. As chuvas e inundações da primavera, quando a neve derrete, tem feito com que a radiação se espalhe e o perigo aumente. Estas águas em 50 anos contaminarão o rio Pripyat e a bacia do Dnieper, o que afetará a vida de 10 milhões de pessoas. O total de evacuados na Ucrânia, Bielorússia (Belarus) e Rússia foi de 326.000 pessoas. 53 Continuaram operando 2 reatores, produzindo metade da energia consumida em Kiev e os funcionários da Central Nuclear foram transferidos para a cidade de Slavutich, a 40 km de distância. Todos os dias um trem com proteção contra exposição fazia a viagem até a Central Nuclear (Chernobyl foi operacionalmente desativada em 15/12/2000). Os "liquidators" foram recrutados à força para limpeza, muitos eram soldados jovens sem roupa e treinamento apropriados. Mais de 650.000 ajudaram na limpeza no primeiro ano. Muitos destes adoeceram e entre 8.000 a 10.000 faleceram devido às doses recebidas no local da usina. Durante o trabalho, para não enlouquecerem, ouviam música na área cercada por arame farpado. Foram adotadas diversas medidas para cobrir o centro do reator com material que absorve o calor e filtra o aerossol liberado. Com helicópteros, em 27 de abril, começou-se a jogar em cima do reator 1.800 toneladas de uma mistura de areia e argila, 800 t de dolomita (bicarbonato de cálcio e magnésio), 40 t de boro e 2.400 t de chumbo. Para reduzir a temperatura do material e a concentração de oxigênio, bombeou-se nitrogênio líquido para baixo do vaso do reator. Construiu-se embaixo do reator um sistema especial para remoção de calor, de modo a evitar a penetração do núcleo do reator no solo. Os pilotos envolvidos morreram devido à exposição; uma dúzia de helicópteros de carga, caminhões e outros veículos se tornaram radioativos e tiveram que ser abandonados. Para evitar a contaminação das águas subterrâneas e superficiais da região, foram tomadas as seguintes medidas: construção de uma barreira subterrânea impermeável ao longo do perímetro urbano da usina, perfuração de poços profundos para baixar o nível das águas do subsolo, construção de barreira de drenagem para o reservatório de água de resfriamento e instalação de sistema de purificação para drenagem da água. As unidades 1 e 2 voltaram a operar em outubro/novembro de 1986, e a unidade 3 em dezembro de 1987, depois da execução de trabalhos de descontaminação, manutenção e melhoramentos na segurança dos reatores. Segundo o jornal soviético Pravda, a cidade ucraniana de Chernobyl, com mais 54 de 800 anos, foi programada para ser totalmente nivelada, dois anos e meio depois do acidente. Isto não foi feito. Três anos e meio depois, os moradores daquela localidade, "especialmente as crianças, sofrem de inflamação da tireóide, de falta de energia, de cataratas e dum aumento das taxas de câncer", segundo o Manchester Guardian Weekly. Em certa área, médicos especialistas predizem que dezenas de milhares de pessoas ainda irão morrer de câncer, causado pela radiação e haverá um aumento de doenças genéticas, de malformações congênitas, de abortos involuntários, e de bebês prematuros, nas gerações vindouras. Os diretores de fazendas informaram haver um índice crescente de defeitos congênitos entre os animais criados nas fazendas: "Bezerros sem cabeça, membros, costelas ou olhos; porcos com crânios anormais". Informouse que as medições das taxas de radiação apresentam-se 30 vezes maiores do que as normais na área. Segundo o jornal soviético Leninskoye Znamya crescem pinheiros incomumente grandes na área, bem como choupos com folhas de 18 cm de largura, cerca de 3 vezes seu tamanho normal. FIGURA 20 “OS FILHOS DE CHERNOBYL” Como proteção de longo prazo, optou-se por "sepultar" o reator, com a construção de paredes internas e externas e de um teto, sob a forma de tampa. A estrutura levou sete meses para ficar pronta e tem a altura de um prédio de 20 andares, a fundação não é sólida e há risco de colapso das paredes. 55 Selaram o reator com 300.000 t de aço e concreto. Recentemente, apareceram rachaduras nas paredes. O trabalho ainda não está concluído. A construção da unidade 5 e 6 foram paralisadas. Um novo sarcófago foi licitado para ser construído sobre o atual que não é a prova de vazamento. Deverá ficar pronto em 2008 e terá 245 X 144 X 86 m. Chernobyl ainda vive, igual a um vulcão adormecido, pode novamente entrar em "erupção" e dispersar mais radioatividade na atmosfera. Isto seria causado pelas falhas estruturais do atual sarcófago e do material que ainda se encontra incandescente. Em dezembro de 1986 uma massa intensamente radioativa foi detectada na base da unidade 4, formada por areia, vidro e combustível nuclear, batizada de "pé de elefante", por ter mais de 2 m de circunferência e centenas de toneladas. A análise do material mostrou aos cientistas que grande parte do combustível vazou sob a forma de areia. Debaixo do reator, encontrou-se concreto quente fumegante, lava e formas cristalinas (chamada de chernobilita). As paredes do sarcófago começaram a ruir, porque foram construídas sobre as paredes instáveis do reator. Os trabalhos sofreram redução não apenas pela falta de dinheiro, mas também pelas mortes e stress entre os cientistas envolvidos. Um consórcio de empresas européias traçou planos para cobrir o reator com uma nova estrutura de concreto para durar tanto quanto as pirâmides e conter o material radioativo. Em maio de 1997, foi avaliado que para isto seria necessário aplicar US$ 760 milhões durante oito anos. Em junho daquele ano, a Ucrânia e os países do G-7 aprovaram o plano de melhorias do sarcófago. Uma das propostas é construir uma estrutura côncava e através de trilhos fazê-la deslizar sobre o local onde está o reator quatro. Desta forma, a construção não implicaria em exposição direta com a radiação emanada. Até agora, o dinheiro não apareceu e o túmulo de Chernobyl causará problemas pelos próximos 100.000 anos. Encobriu 2.300 aldeias e cidades e inutilizou 130.000 km2. Chernobyl tornou-se referência para o grau máximo de acidente nuclear; a escala vai de zero (erro sem nenhuma importância do ponto de vista segurança) até sete (grau Chernobyl - acidente grave). 56 No final de agosto de 1986, o governo soviético divulgou relatório de 382 páginas sobre o acidente identificando a causa como tendo sido o fato dos operadores, durante um teste de segurança, terem desligado três sistemas de segurança. Em 30.07.1987, seis russos (Viktor Petrovich Bryukhanov - chefe da usina, Nikolai Maksimovich Fomin - engenheiro chefe, Anatoly Stepanovich Dyatlov - Adjunto do Engenheiro Chefe, Kovalenko, Rogozhkin, Laushkin) foram levados a julgamento por violação das normas de segurança que levaram à explosão do reator. Três foram declarados culpados e sentenciados a 10 anos em campo de trabalhos forçados. Uma das principais conclusões da Conferência Internacional uma década após Chernobyl, organizada em Viena pela União Européia, AIEA e Organização Mundial da Saúde, foi à estatística das vítimas do acidente de abril de 1986. Um total de 237 pessoas, trabalhadores envolvidos com o acidente foram hospitalizados, destes, 134 foram diagnosticados com síndrome aguda de radiação. O total oficial de mortos em virtude da radiação emitida pelo acidente no reator foi de 31 pessoas, vitimadas pela participação direta no combate aos incêndios da unidade. Duas pessoas faleceram atingidas diretamente pela explosão do reator, e uma terceira, de infarto. No entanto, milhares de pessoas sofreram e sofrem as conseqüências da exposição à radiação até hoje. Em janeiro de 1993, a AIEA refez sua análise do acidente e atribuiu como sendo a causa principal o projeto do reator e não mais a erro operacional (excesso de confiança, falha na comunicação entre os operadores e a equipe que conduzia o teste, desligamento dos sistemas de segurança) conforme relatório de 1986. O RBMK tem defeitos de nascença. O reator se torna instável, elevando temperatura e aumentando a reatividade em baixa potência.O reator é suscetível à formação de bolhas de vapor nos seu interior e a refrigeração promovida pelo vapor é menos eficiente que a água. Por sua vez, a formação de vapor aumenta a potência da reação, porque diminui a absorção de 57 nêutrons. Algo como se alguém pisasse no freio de um veículo e a velocidade aumentasse. Gravações de vídeo, fotografias tiradas após o acidente apresentam "ruídos" (flashes) provocados pela ação da radiação. O número de crianças acometidas de problemas na tiróide e casos de leucemia aumentou desde então. Observou-se que um grande número de crianças passou a ter perda de todos os pelos do corpo. Crianças que nunca serão como as outras que puderam brincar, subir em árvores, alimentar-se com frutas e leite saudáveis. Em 1991 as repúblicas soviéticas se separaram e a Ucrânia voltou a existir como país independente. Nomes, como Chernobyl e Kiev - a capital, passaram para a forma ucraniana - Chornobil e Kiif. A unidade 1 foi desligada em março de 1992 e depois funcionou até 1996. A unidade 2 sofreu um incêndio no salão da turbina em outubro de 1991, com isto apressou a decisão do Parlamento ucraniano que imporia moratória nuclear em 1995 e a trouxe para 1993. A unidade 3 teve problema com válvulas e foi desligada em abril de 1992. Na ocasião, em 1993, o sistema de geração elétrica estava preste a desligar e suspenderam a moratória. Em 1995, o sistema elétrico ucraniano foi conectado ao sistema elétrico russo, mas por falta de pagamento, permaneceu depois algum tempo desinterligado. Com isto o reator três voltou a funcionar. A independência da Ucrânia da URSS e a crise econômica e política que vigora na região fez com que muitos vizinhos europeus tivessem que investir em proteção em Chernobyl. A Noruega calcula ter recebido 6% do material da explosão com o deslocamento da pluma radioativa sobre seu território. Belarus, 25%, Ucrânia, 5% e Rússia, 0,5%. Muitos operadores de nacionalidade russa em busca de melhor salário retornaram à Rússia. Doze anos depois a região alpina na Europa continua muito contaminada pela precipitação nuclear. Uma análise revelou níveis bastante altos do isótopo radioativo césio 137, noticiou o jornal francês Le Monde. Em alguns lugares a radioatividade era 50 vezes maior do que os padrões europeus para lixo nuclear. As amostras mais contaminadas vieram do Parque 58 Nacional Mercantour, no sudeste da França; do monte Cervino, na fronteira ítalo-suíça; da região de Cortina, na Itália; e do Parque Hohe Tauern, na Áustria. As autoridades pediram aos países afetados que monitorem os níveis de radiação da água e de alimentos sensíveis à contaminação, como cogumelos e leite. Em 29/03/2000, a Ucrânia decidiu fechar a central até o fim do ano, condicionado à ajuda financeira internacional. Após assegurar o fechamento para o dia 15/12/2000 ao presidente dos EUA, o Parlamento ucraniano tentou um dia antes adiar o evento para depois do inverno em 2001. No entanto, a unidade 3 de Chernobyl foi desligada na data marcada, com direito a transmissão ao vivo pela televisão. O chefe de turno Alexander Yelchishchev acionou o botão BAZ, ativando o sistema automático de segurança às 13:16 (11:16 GMT). Em segundos a potência do reator começou a baixar até zero. A posição russa foi contra o fechamento da unidade remanescente, afirmando ser segura a operação daquele reator até 2011 e que sua saída foi provocada por pressão política sobre a Ucrânia que espera investimentos ocidentais que só virão com o fechamento total da Central Nuclear. O fechamento deixa 9.000 desempregados, que também foram contra o descomissionamento da unidade. Em conseqüência, o Governo ucraniano solicitou um crédito de US$ 1,48 bilhão ao Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento para dois novos reatores nucleares, destinados a substituir a produção elétrica de Chernobyl, nas centrais de Rivne e Khmelnytsky, no oeste da Ucrânia. Da mesma forma, a Lituânia, com a Central de Ignalina de dois reatores RBMK de 1.500 MW, é condicionada a entrar na Comunidade Européia quando desativar seus reatores. Apesar das especificações superiores nos reatores ocidentais, a influência do acidente foi devastadora para a indústria nuclear de todo o mundo (Relatório do Greenpeace), embora não assumida pelos defensores 59 intransigentes da opção nuclear. Após o acidente, foram iniciadas as construções de 48 unidades, entre 1987 e 1999. Chernobyl ainda se fará sentir por pelo menos mais 50 anos, conforme artigo na revista inglesa "Nature", para o Greenpeace em seu relatório após os 14 anos - a catástrofe só começou. Mais um relatório foi emitido em 2002 a respeito das conseqüências humanas do acidente. O que aconteceu em Chernobyl demonstra que energia nuclear não é assunto isolado de uma nação, um evento nuclear atravessa fronteiras e não tem cidadania, avançando sobre todos nós e tudo a nossa volta. O acidente de 1986 levou o presidente da república José Sarney (19851990) a recomendar ao ministro Aureliano Chaves que constituísse uma comissão especial, que se reuniu em maio de 1986, para avaliar seu impacto no programa nuclear brasileiro, bem como promover uma cuidadosa revisão nas condições de segurança e radioproteção na central nuclear brasileira. Mas no dia 13 de setembro de 1987, aconteceu no Brasil o acidente radioativo de Goiânia, Goiás. No ocorrido foram contaminados milhares de pessoas acidentalmente pelas radiações emitidas por uma cápsula de césio137. Foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior radiológico do mundo. A cápsula de césio-137 fazia parte de um equipamento hospitalar utilizado para radioterapia que utiliza o césio para irradiação de tumores, ou materiais sanguíneos (sangue e plasma sanguíneo). O irradiador havia sido desativado há dois anos (1985) e se encontrava abandonado numa edificação pertencente ao Instituto Goiano de Radioterapia. Dois catadores de sucata chamados Roberto e Wagner invadiram o prédio abandonado e observaram um volume muito pesado, constatando ser um bloco de chumbo, venderam para um depósito de materiais em desuso, chamado no Brasil de ferro-velho. Ao desmontar o equipamento para o reaproveitamento do chumbo, o dono do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de cloreto de Césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal de cozinha (NaCl), mas que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Vendo a bela emissão do 60 sal, o proprietário do ferro-velho o distribuiu para seus parentes, vizinhos e amigos. Pelo fato de esse sal ser higroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo internamente. Tão logo expostas à presença do material radioativo, as pessoas em algumas horas começaram a desenvolver sintomas: náuseas, seguidas de tonturas, com vômitos e diarréias. Alarmados, os familiares dos contaminados foram inicialmente à drogarias procurar auxílio, alguns procuraram postos de saúde e foram encaminhados para hospitais. Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa desconhecida medicando os doentes sintomaticamente. Como não se descobriam às causas da estranha doença, durante entrevista com médicos, dezesseis dias depois de ocorrido o acidente, a esposa do dono do ferro velho relatou para a junta médica que os vômitos e diarréia se iniciaram depois que seu marido desmontou um aparelho estranho. Imediatamente foi pedido que ela levasse um fragmento deste para a Vigilância Sanitária. Somente após este momento, no dia 29 de setembro de 1987, foi constatada a contaminação radioativa de milhares de pessoas. O governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a população da região. Desta 112 800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. 129 apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta vindo a desenvolver sintomas e medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo. Até a atualidade (2006) todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira. Quatorze anos depois do maior desastre atômico brasileiro, o governo de Goiás prepara a inclusão de mais 600 pessoas na lista de vítimas. O Ministério Público estadual descobriu pelo menos oito mortes 61 não contabilizadas na estatística oficial da tragédia. O césio 137 ainda faz vítimas em Goiânia. Investigação feita pelo Ministério Público de Goiás desde março aponta pelo menos oito novas vítimas fatais do maior acidente nuclear da história do Brasil, ocorrido em 1987. Nenhuma delas está incluída na relação de dez mortos reconhecida oficialmente. ‘‘Essas pessoas estão morrendo à míngua’’, afirma o promotor Marcus Antônio Ferreira Alves, responsável pelo levantamento. Os casos descobertos agora são de funcionários civis e militares convocados para remoção do lixo atômico e segurança das áreas de risco. Fazem parte de um universo de 616 pessoas envolvidas nesse trabalho. O Ministério Público quer incluir todos na lista de vítimas do césio. Foram ignorados num cadastro feito logo após o acidente, que registra outros 600 nomes de servidores públicos e moradores das áreas atingidas. O governo estadual prepara uma revisão da lista de atingidos pelo césio com base nas informações do Ministério Público. ‘‘Ainda não sabemos o tamanho real do problema, mas até o final do ano assinaremos um documento que vai acrescentar outras vítimas do acidente nuclear’’, diz o chefe do Gabinete Civil do governo de Goiás, Jonathas Silva. A nova relação será decidida pela Superintendência Leide das Neves, órgão estadual criado no início de 1988 para acompanhar os acidentados. ‘‘Devemos incluir todos os policiais e funcionários civis que trabalharam no isolamento da área e no depósito de lixo atômico, mesmo sem sintomas de doenças’’, afirma a médica oncologista Maria Paula Curado, superintendente da Leide das Neves. O levantamento do Ministério Público aponta 379 PMs, 220 servidores do Consórcio Rodoviário Intermunicipal (Crisa), 15 bombeiros e duas garis da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurb). Ferreira Alves propõe o pagamento de pensões vitalícias de R$ 360,00 para os civis e uma promoção de três patentes para os militares. O benefício depende de aprovação da Assembléia Legislativa de Goiás e seria concedido também aos filhos dessas pessoas nascidos depois do acidente. 62 Na última semana, o Correio Braziliense visitou três pessoas doentes que fazem parte da lista do Ministério Público. Uma delas, Zilda Maria de Jesus, 49 anos, tem câncer no cérebro e no pescoço. Fez quatro cirurgias esse ano e não tem mais esperança de vencer a doença. Nilton Pereira, 56 anos, também tem câncer no pescoço. O soldado Marques de Souza Rodrigues, 37 anos, tem câncer no cérebro. Júnior, filho dele, nasceu com má-formação em uma das válvulas do coração. Além das oito novas mortes documentas pelo Ministério Público, levantamento feito pelo Crisa contabiliza mais três vítimas fatais. AS VÍTIMAS “Zilda Maria câncer no pescoço e cérebro” · FIGURA 21 Zilda Maria – Vítima do césio 137 - câncer no pescoço e cérebro A ordem vinha de um homem vestido como astronauta. Macacão branco, sapatilha amarela, luvas amarelas e máscara branca. Ele se movia com um aparelho na mão, voltado para o chão. Quando soava um apito e acendia a luz vermelha, o homem indicava o local para que Zilda limpasse o chão contaminado com poeira de césio. Com as mãos nuas e vestindo a mesma roupa que saíra de casa, ela cumpria as ordens. Zilda Maria de Jesus, 49 anos, funcionária pública da Companhia de Urbanização de Goiânia cumpriu a mesma tarefa todos os dias úteis, das 7h às 16h, entre quatro de novembro de 1987 e 18 de julho de 1988, na Fundação do Bem Estar do Menor (Febem) para onde foram levadas cerca de 30 pessoas que sofreram 63 irradiação. Em 1999, ela descobriu um caroço no pescoço. Em 2001 fez quatro cirurgias para extração de nódulos no pescoço e no cérebro. ‘‘Aquela gente (os isolados na Febem) parecia que estava doida. Muito deprimidos. Era só eu chegar, vinham me abraçar. Eu tinha medo, mas tava lá mesmo, então aceitava’’, conta à mulher, que voltava para casa com a mesma roupa usada no trabalho. ‘‘Meu filho tem um caroço no pescoço. Eu tenho muito medo de ser alguma coisa porque eu lavava minha roupa misturada com as outras da casa’’, conta. ‘‘Quando o médico me falou o que era, me deu vontade de subir na janela e pular lá embaixo. Chorei, chorei, até me conformar. Chorar, pra quê? Tiro um caroço aqui, aparece outro ali. Sei que pra mim não tem solução. Só espero a morte.’’ A gari da Comlurb parou de trabalhar neste semestre, mas não está aposentada. Recebe R$ 329 líquidos mensais de salário. ‘‘Eu fazia o meu serviço, ia para o banheiro e deitava, até ficar melhor. A mão enrolava, o canto da boca tremia e a boca vinha parar aqui, quase na orelha. Vomitava tudo o que tinha dentro de mim.’’ “Nilton de Souza - Câncer no pescoço” FIGURA 22 Nilton de Souza - Vítima do césio 137 - Câncer no pescoço Aos 56 anos, Nilton Pereira de Souza (foto menor) parece um negro forte. Mas está corroído por dentro. Teve um câncer no pescoço. A mão esquerda está sempre dormente e com a pele escamada. Os dentes caíram todos. Nilton de Souza era mecânico do Consórcio Rodoviário Intermunicipal S.A. Em 1996 e 1997, dez anos depois do acidente nuclear, ele trabalhou no 64 depósito provisório de rejeitos radioativos, em Abadia de Goiás, a 30 quilômetros de Goiânia. A tarefa era ajudar na construção do depósito definitivo, que ficou pronto em julho de 1997. Tudo o que não pôde ser descontaminado na área do acidente foi transportado para Abadia de Goiás. As casas derrubadas, calçadas, árvores, muros, terra, móveis, cachorros, porcos, uniformes de soldados e até carro de polícia. Foram seis toneladas de rejeitos radioativos depositados em contêineres provisórios. O definitivo é todo forrado de chumbo e enterrado. Nilton, embora mecânico, fazia de tudo um pouco. Ajudava na topografia, operava máquinas e até cozinhava no depósito. No mínimo oito horas diárias. Muitas vezes chegou a caminhar em torno das caixas metálicas para fazer piquetes de medição. Na saída do trabalho, a mesma rotina: uma pessoa vestida com roupa de astronauta passava um aparelho próximo ao seu corpo. Sempre soava um apito na região das canelas, pés e peito. Ele não sabia que estavam medindo a irradiação que o atingira durante o dia. Cerca de dois anos depois que deixou de trabalhar no depósito, descobriu o câncer. No final de 1998, estava fazendo quimioterapia. “Marques Rodrigues - Câncer no cérebro” FIGURA 23 Marques Rodrigues - Vítima do césio 137 - Câncer no cérebro Os policias que fizeram a guarda da área acidentada e do lixo atômico foram tratados com descaso. Desde os primeiros dias do acidente, o médico Vasco Martins Cardoso, coronel da Polícia Militar, denunciou as condições em que a que os militares estavam expostos. 65 Um dos exemplos das conseqüências do descaso é o soldado Marques de Souza Rodrigues, 37 anos. Em 1996, submeteu-se a uma cirurgia para extração de um tumor no cérebro. Em 1989, seu filho, Júnior, nasceu com máformação de uma das válvulas do coração. Essa é uma das reações típicas provocadas pela radiação. A superintendente da Fundação Leide das Neves, a médica Maria Paula Curado, diz que é um erro imaginar que a exposição à radiação provoca apenas câncer. É comum a ocorrência de várias doenças, entre elas hipertensão, gastrite, síndrome do pânico, problemas de pele e a má-formação congênita em filhos. ‘‘Quando sinto insônia, levanto à noite e vou para a beira da cama do meu filho. Eu o beijo para ver se o rosto está frio. Tenho cisma de um dia encontrá-lo morto’’, lamenta Marques Rodrigues. Além de todo o sofrimento causado pela doença, o soldado não tem direito a tratamento na Fundação Leide das Neves, que foi criada para assistir às vítimas do acidente nuclear. É que Marques não é considerado radioacidentado. Embora até a sua ficha individual de Marques na Polícia Militar tenha registros de índices de radiação, tenha trabalhado por três anos entre o local do acidente no centro da cidade e o depósito provisório de lixo atômico. Os policiais militares, os funcionários do Crisa e da Comurg foram irradiados e muitos desenvolveram câncer, sem, no entanto, terem sido considerados radioacidentados. Hiroshima e Nagasaki, Chernobyl e Goiânia ainda provocam câncer. 66 OUTROS FATORES DE RISCO AMBIENTAIS E OCUPACIONAIS “Já imaginou respirar provocadores de câncer todo dia?”. E não estamos falando só da fumaça de cigarro que respiramos na rua, nos escritórios e ambientes fechados. O fato é que muitas pessoas são obrigadas a respirar ou mexer com produtos tóxicos por causa de suas profissões. Operários, principalmente da indústria química, agricultores e pintores, entre muitos outros, precisam tomar cuidado e usar equipamento de proteção para não se intoxicarem com essas substâncias. Mesmo sem o profissional perceber, pequenas doses diárias se acumulam no corpo durante anos de trabalho e podem iniciar o processo do câncer. A poluição do ar no ambiente industrial é o fator mais nocivo. Entre as substâncias que alguns grupos de trabalhadores inalam, durante 8 horas por dia estão o asbesto, encontrado em materiais como fibra de amianto ou o cimento; os hidrocarbonetos aromáticos, encontrados na fuligem; as aminas aromáticas, usadas na produção de tintas e pesticidas, e o benzeno, encontrado nas usinas siderúrgicas e nos solventes de tintas e cola. O risco se torna bem maior quando o trabalhador também é fumante ou o ambiente está poluído com a fumaça dos cigarros, cachimbos ou charutos. 67 SEXO “ SEXO SEGURO NÃO TEM FURO” A camisinha é boa para evitar gravidez indesejada, é boa para prevenir AIDS e também pode evitar que as pessoas se contaminem com certos vírus capazes de alterar as células e provocar um câncer. Esses vírus são: O Herpesvírus tipo II e o Papilomavírus ou mais conhecido como HPV, relacionado ao câncer do colo uterino. FIGURA 24 LESÕES POR HPV O vírus HIV associado ao Citomegalovírus pode desencadear o aparecimento do sarcoma de Kaposi, e associado ao Herpesvírus I e II, pode levar ao câncer de língua e de reto em pacientes portadores de AIDS. FIGURA 25 SARCOMA DE KAPOSI EM SIDA 68 O vírus HTLI associa-se a um tipo de leucemia e linfoma de linfócitos T. O vírus da hepatite B está relacionado ao câncer de fígado. O aumento do número de parceiros, a falta de higiene e a precocidade do início da vida sexual estão relacionados a um maior risco de câncer de colo uterino, além de várias doenças sexualmente transmissíveis, mostrando que hábitos sexuais seguros são vantajosos sob todos os ângulos. Muitas das causas do câncer estão relacionadas ao nosso estilo de vida. Portanto, ao tipo de atitude que adotamos no nosso dia-a-dia, desde que nascemos. A formação de hábitos saudáveis começa cedo e tem influencia do ambiente em que vivemos: em casa, na escola, na comunidade... Daí, a importância do papel que o educador pode exercer em sala de aula, ao interagir com seus alunos, ajudando a multiplicar e disseminar orientações que estimulem bons hábitos, fundamentais para a prevenção do câncer, como por exemplo: fumar e beber são fatores de risco importantes para o câncer e diversas doenças, mas são controláveis. O ideal é nem começar o vício, pois é difícil parar. A mudança de hábito é um desafio maior. Por isso, a comunicação do conhecimento sobre a importância de prevenir o câncer, por meio da adoção de hábitos saudáveis dever ser feita por um educador, de maneira didática e atraente, e de forma contínua e permanente. 69 CAPÍTULO V O CONTROLE DE CÂNCER NO BRASIL Nas duas primeiras décadas do século passado, enquanto as endemias ocupavam a atenção das políticas de saúde no Brasil, o câncer começava a despontar nos países desenvolvidos entre as doenças com maior taxa de mortalidade. (Kroeff, 1951). Os números ascendentes na Europa e EUA determinariam a inclusão de propostas para uma política anticâncer na legislação sanitária brasileira, em 1920, durante o governo Epitácio Pessoa. Na prática, o decreto proposto por Carlos Chagas incluía uma rubrica específica para o câncer nos impressos de óbito, que seriam disponibilizados nas inspetorias, delegacias de saúde e farmácias, assim como sua notificação compulsória, no intuito da produção de medidas sanitárias eficientes (Decreto nº 14.354). Os dados referentes à população do Distrito Federal subsidiariam o primeiro plano anticâncer apresentado pelo obstetra Fernando Magalhães, durante o Primeiro Congresso Nacional dos Práticos, dentro das comemorações pelo Centenário da Independência, em setembro de 1922. Magalhães além dos primeiros números, ainda que precários, colhidos no passado no âmbito das Casas de Misericórdia, apontaria de maneira pioneira, a relação entre substâncias como alcatrão, resinas, parafinas, anilinas e câncer, a partir de sua constatação em operários (Magalhães, 1923). Do evento sairia à definição de câncer como “mal universal” inserindo-o como um dos desafios a ser enfrentado pela agenda republicana, onde os dilemas que atingiam a nação só poderiam ser respondidos com um saber próprio sobre o país. (Motta, 1992). O câncer começaria a migrar de um encargo exclusivo da área médica para ser projetado como um problema de saúde pública. Paralelamente, novas tecnologias eram destinadas no combate às neoplasias, como a eletrocirurgia, o Raios-X e o Radium, impulsionando as políticas de profilaxia do câncer no Brasil, o que modificaria, ainda que lentamente, o paradigma do incurável pelo recuperável. Caberia, no entanto, a 70 iniciativa privada a fundação do Instituto de Radium, em Belo Horizonte, em 1922, primeiro centro destinado à luta contra o câncer no Brasil, viabilizado devido à persistência de Borges da Costa e orçamento do governo Arthur Bernardes. (Fenelon, Almeida, 2001). A partir dos anos 20, novos atores influenciados por políticas anticâncer positivas nos países desenvolvidos, principalmente França e Alemanha, começariam a pensar o câncer como um processo sanitário gerenciado pelo Estado, como Eduardo Rabello, Mário Kroeff e Sérgio Barros de Azevedo. Somente no início da década de 30, durante o governo provisório, se investiria na construção de um aparato hospitalar para o tratamento e estudo do câncer. Construído o primeiro e cedido para outros fins, seria erguido um segundo Centro de Cancerologia, de alcance distrital, embrião do Instituto Nacional de Câncer, inaugurado em maio de 1938, no período estado-novista, por Getúlio Vargas e Mário Kroeff. O caráter nacional do projeto anticâncer só seria viabilizado em 23 de setembro de 1941, com a criação do Serviço Nacional de Câncer, destinado a organizar, orientar e controlar a campanha de câncer em todo o país (DecretoLei nº 3.643). Ao SNC caberia a coordenação das ações nos estados e municípios, além do incentivo a criação de organizações privadas que se estenderiam, com o passar dos anos, por todo o território, constituindo uma rede, ainda que não se adotasse este conceito. Instituída a política anticâncer nacional, o SNC seria despejado de sua sede pela Polícia Militar, em 1943, como parte do esforço de guerra, e depositado em espaço inadequado, na Lapa, danificando o processo de continuidade. Em 1946, o SNC ocuparia parte das dependências do Hospital Graffré e Guinle, enquanto negociava a construção de uma sede central, no Distrito Federal (Kroeff, 1946). Tendo como contexto uma nova definição para saúde como sendo o completo bem estar físico, social e mental, deixando de consistir apenas em ausência de doença, proposta pela recém fundada Organização Mundial de Saúde, com a participação do Brasil, em 1946, o SNC passaria a utilizar a informação como estratégia na prevenção para obtenção do diagnóstico precoce da doença. 71 A mudança de foco faria com que as políticas de câncer, a partir de 1951, ganhassem visibilidade entre a população, e por conseqüência, entre os legisladores, o que garantiria o suporte orçamentário adequado para a expansão da campanha de câncer no Brasil, e a conclusão do hospital-instituto central (INCA), sede do SNC, no Rio de Janeiro, inaugurado em agosto de 1957, por Juscelino Kubitschek e Ugo Pinheiro Guimarães. A ação ousada ultrapassaria as fronteiras, influenciando na decisão da União Internacional de Controle do Câncer (UICC) de promover no Brasil, em 1954, o 6º Congresso Internacional de Câncer, organizado em São Paulo por um dos membros de sua diretoria executiva, e diretor do SNC, Antonio Prudente. Como resoluções seriam adotados os conceitos de controle, consistindo nos meios práticos aplicados às coletividades capazes de influenciar a mortalidade por câncer (Prudente, 1960) e uma nomenclatura de neoplasmas para uso internacional, mais tarde aprimorada para Classificação Internacional de Doenças para Oncologia (CID-O), pela Organização Mundial de Saúde. O fortalecimento do papel do SNC e a aprimoramento dos conceitos fariam com que os mentores da política anticâncer começassem a pensar a epidemiologia do câncer levando em consideração as condições ambientais, a extensão territorial e os contrastes do país. (Marsillac, 1959). Ao mesmo tempo, gerava-se a certeza entre especialistas de que os sintomas eram a fase tardia do câncer, o que fundamentaria a discussão para a difusão de clínicas de prevenção e diagnóstico de câncer. (Marsillac, 1960). Assim, o período desenvolvimentista traria como contribuição às políticas de controle do câncer, a produção de soluções alternativas perante o reconhecimento de programas sanitários onerosos em desacordo com a realidade do país, e o esforço simultâneo de uma relação mais harmoniosa entre investimentos em saúde e desenvolvimento econômico. (Fadul, 1964). O progresso das iniciativas do SNC, e por tabela, do INCA, levaria, a partir de 1965, ao planejamento de reuniões anuais entre os representantes das organizações vinculadas à campanha contra o câncer visando tecer uma política unificada, com bases sólidas em todo o Brasil, o que culminaria na 72 institucionalização da Campanha Nacional de Combate ao Câncer, em dezembro de 1967. (Decreto nº 61.968). Apesar dos avanços, o fim dos anos 60 veria renascer os atributos da medicina liberal que entendia o câncer como um problema individual de cada doente. A nova dinâmica, resultante do Plano Nacional de Saúde, formulado pelo Ministro da Saúde, Leonel Miranda, removeria o INCA, braço executivo da SNC, para o Ministério da Educação, deixando à iniciativa privada um rentável campo de incursão médico-cirúrgica. (Bodstein, 1987). O período também representaria o esvaziamento gradual do vocábulo câncer por estar associado à morbidez, por terminologia menos comprometida, como doenças crônicodegenerativas. (Carvalho, 2006). A interrupção autoritária das políticas anticâncer que haviam colhido consenso entre o público e o privado, fortalecendo o privado em detrimento do público, traria como conseqüência a decadência do INCA e a extinção do SNC, transformando-o em Divisão Nacional de Câncer, em 1970, de caráter técniconormativo, administrada em Brasília (Decreto nº 66.623), vinculada a Secretaria de Assistência Médica. Uma ação administrativa inédita, em 1980, denominada co-gestão, iria aprimorar com agilidade e flexibilidade, o controle do câncer no Brasil. Tratavase da combinação administrativo-financeira entre os Ministérios da Saúde e Previdência Social para fins de implementação de programas, através da Campanha Nacional de Combate ao Câncer. (Mota, 1983). Um desses programas, originado da necessidade do sistema de saúde unificar a produção de informações em câncer, denominado PRO-ONCO (Programa de Oncologia), iria estruturar e ampliar as bases técnicas em âmbito nacional nas áreas de educação, informação e controle do câncer (Lopes, Abreu, Rezende, Lavor, 1994) que hoje atuam através da CONPREV. Os primeiros anos da década de 80 marcariam o início de um período de crescimento e recuperação do INCA, como órgão fundamental para a política de controle do câncer no Brasil. Em 1980, o INCA passa a receber recursos financeiros através da CNCC, como resultado do processo de co-gestão acordado entre o Ministério da Saúde e o da Previdência e Assistência Social, o que permitiu, em apenas dois anos, duplicar a prestação de serviços 73 médicos pelo INCA. Passaram a ser inúmeras as reformas e programas executados, bem como os convênios técnico-científicos firmados, que projetariam ainda mais o INCA como um centro médico-hospitalar especializado, de ensino e de pesquisa. A partir de 1982, o INCA e a CNCC buscam reorientar as ações de controle do câncer, por meio de um Sistema Integrado de Controle do Câncer SICC, cuja estrutura técnico-administrativa passaria a ser o Pro-Onco. Em 1983, esta proposta é consolidada, transferindo-se para o INCA/CNCC as atividades até então exercidas pela Divisão Nacional de Doenças CrônicoDegenerativas - DNDCD (a que também se incorporara a Divisão Nacional de Câncer), da Secretaria Especial de Programas de Saúde - SNEPS, do Ministério da Saúde. Desde então, dá-se uma ação contínua, de âmbito nacional, abrangendo, em forma de programas, múltiplos aspectos do controle do câncer: informação (registros de câncer), combate ao tabagismo, prevenção de cânceres prevalentes, educação em cancerologia nos cursos de graduação em Ciências da Saúde e divulgação técnico-científica, que se estende por toda a década de 80 e que se mantém até os dias de hoje. Com o objetivo de propor ações mais abrangentes no controle do câncer no Estado do Rio de Janeiro, foi criado, em 1986, no Ministério da Saúde, o Programa Sistema Integrado e Regionalizado de Controle do Câncer. O trabalho foi iniciado em agosto de 1986 e, inicialmente apenas dois profissionais médicos e um administrativo faziam parte do grupo. A expansão das atividades a outros estados levou sua transformação, em 1987, no Programa de Oncologia - PRO-ONCO, firmado por protocolo de cooperação mútua entre a Campanha Nacional de Combate ao Câncer - CNCC e o INAMPS/MPAS. Com a extinção da CNCC o Programa passou a fazer parte do Instituto Nacional de Câncer, constituindo a Coordenação de Programas de Controle do Câncer - PRO-ONCO. Manteve-se o nome pelo papel que já representava no contexto nacional e internacional. O objetivo sempre foi, desde o início, estruturar um serviço de abrangência nacional voltado para as ações de prevenção e controle do câncer. 74 Desde a sua criação, o PRO-ONCO desenvolve e lidera ações de âmbito nacional em três grandes áreas: educação, informação, controle e avaliação. Sua contribuição, através da edição de livros, manuais, revistas e folhetos, bem como da elaboração de vídeos, audiovisuais e campanhas de conscientização, foi decisiva para o avanço do combate ao câncer no Brasil. Em 1991, foi criada a Fundação Ary Frauzino para Pesquisa e Controle do Câncer (FAF) com o objetivo de viabilizar recursos humanos e tecnológicos para o desenvolvimento das atividades do Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão oficial do Ministério da Saúde cuja missão é o controle do câncer no Brasil. A partir de 1992, o Sistema Integrado Tecnológico em Citopatologia SITEC passou a integrar o PRO-ONCO. O laboratório processa exames citológicos de mama e cervicovaginal e anatomopatológicos (materiais de biópsia) para cerca de 400 postos de coleta no Estado do Rio de Janeiro. Seu objetivo é servir de modelo à implantação de programas de controle do câncer cervicouterino, além de atuar na formação de citotécnicos, necessários a estes programas. No mesmo ano o PRO-ONCO assumiu a Radiofarmácia, a qual produz insumos para os serviços de Medicina Nuclear e de Ultrasonografia do Instituto e de outras instituições. O controle do tabagismo sempre mereceu um destaque entre os trabalhos desenvolvidos pelo serviço, principalmente após sua incorporação pelo Instituto Nacional de Câncer; inúmeras campanhas foram desenvolvidas, e diversos eventos foram realizados, entre eles o Congresso Brasileiro de Tabagismo. O trabalho se desenvolveu e cresceu de tal forma que, em 1996, a direção do INCA optou pela criação de coordenadoria voltada especialmente para cuidar do assunto, a Coordenação Nacional de Controle do Tabagismo e da Prevenção Primária do Câncer - Contapp. Atuar na prevenção dos fatores de risco do câncer e na informação ao público em geral e a grupos específicos - profissionais de saúde, entidades públicas e privadas – sempre foi uma das mais importantes missões do INCA. Consciente desta importância, em 1996, a Fundação Ary Frauzino aplicou nesta área recursos significativos. 75 Os investimentos da FAF permitiram ao INCA importantes ações no campo da educação, informação, controle e avaliação, que foram decisivas para o avanço do combate ao câncer e o Fornecimento de infra-estrutura para o bom funcionamento das atividades destas áreas, incluindo a compra de Estação utilizada como servidor pelo PRO-ONCO assim como microcomputadores, impressoras, monitores de vídeo e acessórios de microinformática. Locação do Grupo 201, da Rua dos Inválidos, n° 212 e adequação das salas para a Contapp, com pintura, revisão da rede elétrica e instalação de sistema de segurança, compra de mobiliário e linha telefônica dedicada à Internet para a Contapp. Contratação de serviços de editoração de livros-textos, vídeos, estudos, cursos e seminários para a formação de multiplicadores em ações de prevenção e diagnóstico precoce do câncer. Em 1998, a fusão do PRO-ONCO e da CONTAPP, em uma única unidade, a Coordenadoria Nacional de Controle do Tabagismo e de Prevenção e Vigilância do Câncer - CONPREV, constituiu-se em uma etapa importante para a dinamização da atuação do INCA nessa área. A implantação das ações de prevenção do tabagismo e outros fatores de risco de câncer utiliza o modelo do SUS, para torná-la ágil e efetiva. Desta forma, o INCA capacita e dá suporte às Secretarias Estaduais de Saúde (e Distrito Federal) para que possam treinar e apoiar seus municípios no desenvolvimento das campanhas de prevenção e na implantação do programa em escolas, unidades de saúde e ambientes de trabalho. Os modelos de trabalho conjunto com esses órgãos e o material necessário à implantação e às campanhas foram desenvolvidos pelo INCA. Em 1998, os convênios firmados entre o Ministério da Saúde e as 27 Secretarias de Saúde (Estaduais e do DF) liberaram recursos da ordem de R$ 6 milhões (INCA, 1998), que permitiram às Secretarias implantar uma estrutura técnico-administrativa para o desenvolvimento daquelas ações, realizar campanhas de prevenção nas datas comemorativas e treinar pessoal de 1.869 municípios brasileiros, superando largamente a meta de 1.000 municípios. As ações diversificadas e relevantes para a prevenção e a detecção precoce do câncer contaram com a alocação de recursos orçados e disponíveis na FAF. 76 Em 1998, as realizações do Instituto, entre outras, o desenvolvimento do Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero - Viva Mulher, o desenvolvimento dos Centros Regionais de Controle do Câncer, a ampliação do sistema de informações sobre o câncer e a realização de eventos técnicocientíficos abordando a prevenção e detecção precoce, foram alvo do apoio financeiro e administrativo da Fundação, através de Contratos e convênios firmados pela FAF, adequação física e atualização tecnológica, disseminação de Informações com a editoração, composição, fotolitos e acabamento da Revista Brasileira de Cancerologia, elaboração de material promocional, destacando-se: - o documentário em vídeo para professores com roteiro da cartilha Prevenção do Câncer e para o evento Crescendo Livre do Tabaco; - o primeiro ano de funcionamento do Viva Mulher e o encontro de validação do Programa; - o Dia Nacional de Combate ao Fumo e a campanha INCA Livre do Cigarro. - Participação de representantes do INCA em eventos relacionados aos trabalhos voltados à prevenção e informação. Em 1999, foi criado o Programa de Vigilância do Câncer e seus Fatores de Risco, visando ao conhecimento mais detalhado do atual quadro do câncer no Brasil e de seus fatores de risco, a partir do desenvolvimento de um sistema de informações capaz de integrar dados oriundos de várias fontes. Com a sua implantação, será possível manter Registros de Câncer de Base Populacional em cada Estado da União, atingindo 100% de cobertura da população brasileira residente nas 27 capitais, incluindo o Distrito Federal. Com isto estarão também garantidas as condições para o desenvolvimento de ações locais de vigilância e avaliação da prevenção e controle do câncer de acordo com as especificidades de cada região brasileira. Em 2000, com o foco no desenvolvimento de ações coordenadas para o Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco, para o Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, bem como para a Avaliação e Vigilância do Câncer e seus Fatores de Risco, o INCA avançou significativamente neste âmbito, planejando reuniões, encontros e oficinas de trabalho, de forma 77 integrada, com os diversos representantes das secretarias estaduais de Saúde, com vistas a adequar as medidas estratégicas à realidade de cada estado brasileiro. Outra conquista expressiva em 2000, com grandes benefícios para a saúde do cidadão brasileiro, foi à aprovação da Lei 10.167, que restringe a publicidade do cigarro na mídia e proíbe o patrocínio de eventos esportivos e culturais pela indústria do tabaco, como resultado do persistente trabalho empreendido pelo INCA no controle do tabagismo nos últimos anos e de sua intensificação em parceria com o Ministério da Saúde. O controle do câncer consiste em uma abordagem multidisciplinar, em que a prevenção nos níveis primário (promoção da saúde) e secundário (detecção do câncer em fase inicial), vinculada à vigilância epidemiológica (análise e produção de dados técnicos e científicos sobre o câncer), tem papel preponderante na redução dos índices de incidência e mortalidade pela doença. Com este foco, o INCA desenvolve de forma integrada o Programa de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco, o Programa de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama e o Programa de Avaliação e Vigilância do Câncer e seus Fatores de Risco. Em 2001, o INCA avançou significativamente neste âmbito, planejando reuniões, encontros e oficinas de trabalho, de forma integrada, com os diversos representantes das secretarias estaduais de saúde, com vistas a adequar as medidas estratégicas à realidade de cada estado brasileiro. O Programa de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer é consubstanciado em ações contínuas e pontuais, desenvolvidas através de um sistema descentralizado de gerência, valendo-se das três esferas governamentais – federal, estadual e municipal. Desta forma, o INCA capacita e dá suporte as 26 Secretarias Estaduais (e Distrito Federal), para que possam treinar e apoiar os 5.527 municípios brasileiros no gerenciamento do Programa em nível local e na promoção das campanhas de prevenção, bem como na implantação de ações contínuas. As ações contínuas têm como finalidade estabelecer as medidas de controle em unidades de saúde, ambientes de trabalho e escolas, os principais canais comunitários. Já as ações pontuais estimulam o desenvolvimento de 78 campanhas de prevenção e enfatizam a comemoração em âmbito nacional das datas alusivas ao câncer e ao tabaco: 31 de maio – Dia Mundial sem Tabaco; 29 de agosto – Dia Nacional de Combate ao Fumo; e 27 de novembro – Dia Nacional de Combate ao Câncer (veja em DATAS INSTITUCIONAIS). O processo de descentralização funciona através da capacitação de recursos humanos, em que o INCA capacita as equipes coordenadoras dos estados (secretarias estaduais de saúde e educação), que, por sua vez, capacitam as equipes coordenadoras dos municípios (secretarias municipais de saúde e educação), para desenvolverem atividades de coordenada operacional e técnica do Programa. Essas últimas capacitam os profissionais que atuam diretamente nas respectivas unidades de saúde, ambientes de trabalho e escolas. Os modelos de trabalho conjunto com os órgãos governamentais e o material necessário são desenvolvidos pelo INCA através de experiências-piloto. Em 2001, o Programa de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco alcançou a marca dos 3.588 municípios treinados (543 a mais que no exercício de 2000), ou seja, com cobertura de 65% do total de municípios do país, com equipes treinadas para desenvolver ações gerenciais e educativas, incluindo as Secretarias Municipais de Saúde e de Educação (RELATÓRIO INCA 2001). Em 2002, o Programa evoluiu satisfatoriamente, tendo alcançado a marca dos 3.600 municípios treinados, com 65% do total de municípios brasileiros cobertos. Em reconhecimento à efetividade do Programa de Controle do Tabagismo, o INCA recebeu em 2002 uma medalha da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) durante a realização do Congresso Internacional de Prevenção ao Tabagismo, promovido pela Associação Brasileira Comunitária para a Prevenção do Abuso de Drogas em Belo Horizonte-MG. As “Ações educativas” compreendem atividades pontuais, traduzidas em campanhas e eventos, e as atividades de natureza contínua: intervenções sistematizadas em escolas, unidades de saúde e ambientes de trabalho e são disseminadas através de uma rede de gerenciamento regional do Programa, formada pelas Secretarias Estaduais (SES) e Municipais de Saúde (SMS) e do 79 DF, seguindo a lógica de atendimento descentralizado do SUS. Hoje, nos 26 estados da Federação e no Distrito Federal, as SES possuem uma Coordenação do Programa de Controle do Tabagismo, que por sua vez vem descentralizando as ações para seus municípios. Em 2003, foram capacitados 372 novos municípios, totalizando 3.932 municípios dotados de recursos humanos treinados para gerenciamento do Programa, o que equivale a uma cobertura de 71,3% em relação ao total de municípios brasileiros existentes, 5.527. Ainda no âmbito deste Programa, foram capacitadas 12.249 escolas e 3.966 ambientes de trabalho e unidades de saúde (RELATÓRIO INCA 2003). Em 2004, as ações educativas continuaram a ser coordenadas em escolas, ambientes de trabalho e unidades de saúde. Elas atingiram, no período, 83 municípios brasileiros e 203 participantes. Foram capacitados pelo “Programa Saber Saúde” 6.705, professores em 556 escolas. Para a implantação do Tratamento da Cessação do Tabagismo na Rede Pública de Saúde foram capacitados 1.019 profissionais de 512 unidades de saúde (RELATÓRIO INCA 2004). A Promoção da Saúde nas Escolas – Saber Saúde desenvolveu em 2005: • pesquisa com a UFPEL no município de Pelotas (RS), para avaliação de resultados com vistas ao aprimoramento da estratégia de promoção da saúde na escola e sua adoção pelo MEC; • Em cooperação como o MEC, aprimoramento da estratégia com objetivo de unificá-la a outras estratégias de promoção da saúde nas escolas; • Cadastramento no novo sistema de mala direta de 741 novas escolas sensibilizadas e capacitadas, além da entrada de dados de 3.320 escolas no novo sistema de remessa de material do INCA, totalizando um acumulado de 13.379 escolas. Houve aumento de 88% no número de escolas, com 70% de seus professores capacitados (13.988 professores), em relação a 2004; • Finalização do CD-ROM Saber Saúde para reprodução e distribuição. 80 FIGURA 26 DADOS DO PROGRAMA SABER SAÚDE (INCA, 2005) 81 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentro de uma comunidade, a escola assume papel tão importante e abrangente no cotidiano das pessoas que é capaz de modificar a sua qualidade de vida. Na escola a sociedade deposita toda a esperança de uma boa educação abrangendo a formação intelectual, moral, cívica e espiritual das crianças. De encontro a este anseio caminham os conceitos de promoção de saúde e educação em saúde que são bem articulados entre si. Educação em saúde é conceituada como sendo o modo pelo qual uma população é informada e conscientizada sobre os problemas da sociedade da qual faz parte e assim através dessa compreensão providenciar a busca de suas soluções para elevar sua qualidade de vida e chegar à saúde. Dessa forma enquadrando-se na definição da Organização Mundial de Saúde - OMS que entende saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não só a ausência de doenças como também condições de vida que levam a qualidade de vida. Promoção de saúde é uma ação global que objetiva a melhoria da qualidade de vida das pessoas sendo necessário para isso ter acesso à informação. Tendo em vista que educação em saúde é um dos braços transformadores da consciência cidadã de uma sociedade, para utilizá-la adequadamente e fazer com que gere os seus melhores resultados há necessidade de avaliar o “modus operante” usado pelo corpo docente e como está sendo a percepção dos pais dos alunos ou de seus responsáveis sobre os efeitos desse trabalho no dia a dia dos seus filhos. Após a Constituição Federal de 1988, com a nova proposta de saúde para todos, o paradigma mudou de um foco de atenção excludente para um totalitário beneficiando todos os brasileiros (até estrangeiros no território nacional). Saúde passou a ser direito de todos e obrigação do estado (CF/88, art. 196). Hoje, saúde está associada à qualidade de vida e à promoção de saúde. Em seu conceito, a saúde se promovia proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, cultura física, formas de 82 lazer e descanso, sendo necessário o esforço coordenado de políticos, setores sindicais e empresariais, educadores e médicos. A idéia de promoção de saúde caracterizava um nível de atenção da medicina preventiva. O significado do termo foi mudando passando a ser uma estratégia promissora: a promoção da saúde, como vem sendo entendida nos últimos 20-25 anos, representa uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas e seus entornos neste final de século. Partindo de uma concepção ampla do processo saúde–doença e de seus determinantes, propõe a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução. Em 1986, quando da divulgação da carta de Ottawa, a promoção de saúde foi associada a um conjunto de valores dentre eles a qualidade de vida e uma combinação de estratégias (ações do Estado, da comunidade, dos indivíduos, do sistema de saúde e de parcerias intersetoriais) que representam a responsabilização múltipla. A carta de Ottawa estabelece o seguinte conceito para promoção de saúde: “A promoção da saúde é o processo que visa aumentar a capacidade dos indivíduos e das comunidades para controlarem a sua saúde no sentido de a melhorar. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, o indivíduo ou o grupo devem estar aptos a identificar e realizar as suas aspirações, a satisfazer as suas necessidades e a modificar ou adaptar-se ao meio. Assim, a saúde é entendida como um recurso para a vida e não como uma finalidade de vida.” Ao mencionar um estado de completo bem-estar físico, mental e social vê-se nitidamente o conceito de saúde da O.M.S. Esses conceitos podem ser divididos em dois seguimentos: no primeiro a promoção da saúde centrava suas atividades na transformação dos comportamentos dos indivíduos e no segundo (onde está o conceito moderno de promoção de saúde) relaciona-o à qualidade de vida, suas atividades voltadas para o coletivo e ao ambiente num sentido amplo. É nesse grupo que se enquadra o conceito de promoção de saúde divulgado na carta de Ottawa que o define assim: “Promoção de saúde 83 é o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”. Promoção de saúde ainda pode ser conceituada como sendo o conjunto de atividades, processos e recursos, de ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar melhoria das condições de bem-estar e acesso a bens e serviços sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o desenvolvimento de estratégias que permitam a população maior controle sobre sua saúde e suas condições de vida, a níveis individual e coletivo. Da Constituição Brasileira no seu artigo 6º têm-se estabelecidos os direitos sociais, dentre eles a educação e a saúde. Ainda no texto constitucional, no seu artigo 196º outra referência é feita sobre a saúde como direito de todos e dever do Estado, devendo ser garantidas mediante políticas sociais e econômicas. Falar em saúde implica conseqüentemente falar em educação. Elas estão lado a lado até mesmo na constituição federal, donde tiramos o termo educação em saúde que não pode deixar de ser associado ao conceito de promoção da saúde se quisermos obter um sentido completo do mesmo. Promoção de Saúde é uma ação global que objetiva a melhoria da qualidade de vida das pessoas sendo necessário para isso ter acesso à informação. A educação em saúde, com vistas à promoção de saúde, pretende colaborar na capacitação do cidadão para que este haja como agente de transformação e participe dos movimentos que lutam pela preservação do ambiente e melhoria das condições de vida. A promoção da saúde é o processo que vai possibilitar a cada população avaliar a qualidade de vida que lhe é oferecida, atuar sobre ela para conseguir cada vez mais saúde. A escola apresenta como uma de suas funções a de despertar a consciência de existência do indivíduo e estabelecer as relações entre ele e as outras pessoas e também seu ambiente. Nos primeiros anos de vida escolar ocorre a socialização do ser proporcionado pelo encontro com um grupo diferente da família e que apresenta realidades sociais e comportamentais 84 diversas das que o aluno trouxe de casa. O professor é nesse momento sua referência (assim como os pais em casa), o exemplo oferecido é de suma importância, pois tal como um espelho suas funções refletem sobre os alunos. O espaço para o desenvolvimento de um trabalho de conscientização e educação em saúde está aberto, o desafio consiste em saber fazer um bom uso dele. Educar nos obriga ao entendimento do processo ensino-aprendizagem. Define-se ensinar, de maneira ampla, como fazer com que as pessoas aprendam e aprendizagem como o processo pelo qual a conduta se modifica em resultado da experiência. As características da forma de ensinar definirão o tipo de aprendizagem e seus efeitos na educação. A motivação é requisito indispensável para aprender. Para utilizar as forças motivadoras é preciso conhecê-las e saber como se realizam. A motivação é um processo pessoal, interno, que determina a direção e a intensidade do comportamento humano. A aprendizagem só se realiza a partir do desencadeamento de forças motivadoras. A educação em saúde é uma estratégia essencial da promoção de saúde, pois é um componente de mudança social. A educação em saúde é direcionada para as ações voluntárias, individuais ou de grupos; ou como tomada de decisões zelando pela saúde de terceiros e pelo bem da comunidade. A promoção de saúde se faz por meio da educação, da adoção de estilos de vida saudáveis, do desenvolvimento de aptidões e capacidades individuais, da produção de um ambiente saudável. Está estreitamente vinculada, portanto, à eficácia da sociedade em garantir a implantação de políticas públicas voltadas para a qualidade de vida, ao desenvolvimento da capacidade de analisar criticamente a realidade e promover a transformação positiva dos fatores determinantes da condição de saúde. O ensino de saúde tem sido um desafio para a educação, no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hábitos de vida. Os estudos mostram que transmitir informações a respeito do funcionamento do corpo e descrição das doenças, bem como um elenco de hábitos de higiene, não é suficiente para que os alunos desenvolvam 85 atitudes de vida saudável. É preciso educar para a saúde levando em conta todos os aspectos envolvidos na formação de hábitos e atitudes que acontecem no dia-a-dia da escola. As pessoas necessitam além de tempo, de informações a respeito da origem e cursos das doenças de forma que sejam capazes de compreender e fazer aplicação dos recursos disponíveis para a sua prevenção. O profissional que trabalha com educação em saúde atua como um mediador do processo ensino aprendizagem ampliando a visão de seus aprendizes. As sábias palavras de Paulo Freire (1996) se encaixam perfeitamente na explicação dessa tarefa de mediador do professor quando diz: “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” . Não há ninguém que não consiga passar algo de novo a outrem (ou seja, não há ninguém desprovido da capacidade de ensinar), pois à medida que se vive conceitos são formulados, opiniões são adquiridas, preferências criadas, experiências compartilhadas, do mesmo modo que não há quem não tenha algo a aprender. “Saber que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção.” Paulo Freire (1996). São necessárias à formação docente qualidades múltiplas dentre elas: gostar de aprender, critica, ética, aceitação do novo, não discriminação, querer bem aos alunos, disponibilidade para o diálogo, saber escutar, respeito aos saberes e autonomia do educando, tudo isso podendo se traduzir em humildade. Professores, alunos, familiares, sociedade devem e podem chegar juntos aos objetivos do processo ensino aprendizagem em promoção de saúde e educação em saúde que é o desenvolvimento do saber de modo compartilhado e interativo. 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Albala C, Vio F, Yanez M. Epidemiological transition in Latin America : a comparison of four countries. Rev Med Chil 1997; 125: 719-127. International Union Against Cancer: Introduciton UICC Global Cancer Control. Geneve, Switzerland, Interntational Union Against Cancer, 2005. Kamangar F, Dores GM e Anderson WF. Ptterns of cancer indidence, mortality and prevalence across five continents: defining priorities to reduce cancer disparities in different geographic regions of the world. J Clin Oncol 2006; 24:2137-2150. Koifman S, Koifman R. Environment and cancer in Brazil: an overview from a public health perspective. Mutation Research 2003; 544: 305-11. Laurenti R. Transição demográfica e transição epidemiológica. In: Anais do 1º Congresso Brasileiro de Epidemiologia; 1990, 2-6 set; Campinas. Rio de Janeiro: ABRASCO; 1990. p. 143-65. Organização Panamericana de Saúde. Policies and managerial guidelines for national cancer control programs. Rev Panam Salud Publica/Pam Am J Public Health 2002; 12(5): 366-70. Waters WF. Globalization, socioeconomic restructuring, and community health. J Community Health 2001; 26(2): 79-92. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional do Câncer Câncer no Brasil: dados dos registros de base populacional. Volume 3. Rio de Janeiro: INCA, 2003. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional do Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) Saber Saúde – 87 prevenção do tabagismo e outros Fatores de Risco. Rio de Janeiro: INCA, 1998. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional do Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) O Câncer e seus Fatores de Risco. Rio de Janeiro: INCA, 7. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional do Câncer Implantando e avaliando o Programa de Controle do Tabagismo e outros fatores de risco de câncer nas escolas. 2ª Edição. Rio de Janeiro: INCA, 2004. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional do Câncer Módulo “Escola Livre de Tabaco”. 2ª Edição. Rio de Janeiro: INCA, 2004. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional do Câncer Estimativa 2006 – Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2005. Brasil, Ministério da Saúde, Departamento Nacional de Câncer Publicação Comemorativa de 30 anos de atividades do Instituto Nacional de Câncer. Rio de Janeiro: INCA, 1968. Brasil, Ministério da Saúde, Instituto Nacional do Câncer Publicação Comemorativa : “Meio Século de Combate ao Câncer no Brasil – Um breve histórico da origem e desenvolvimento do Instituto Nacional do Câncer (INCA)”. Rio de Janeiro: INCA, 1989. http://www.inca.gov.br/home » INCA » Relatórios » Relatório Anual/ Relatórios Anuais. 88 ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1 Exemplo de progressão do câncer/cancro .................... Pág. FIGURA 2 Exemplo de Carcinoma ................................................ Pág. 9 FIGURA 3 Exemplo de Sarcoma .................................................. Pág. 9 FIGURA 4 “La Notte” – detalhe do túmulo de Giuliano de Médici, 1526-33” ....................................................................... Pág. 10 FIGURAS 5 “O QUE É O CÂNCER?” - Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer ....................... Pág. 30 “COMO SURGE O CÂNCER?” - Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer .......................................................................... Pág. 30 “ESTÁGIOS DO CÂNCER” - Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer Falando Sobre Câncer .................................................. Pág. 31 “ESTÁGIOS 1 E 2 DO CÂNCER” - Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer .......................................................................... Pág. 31 “ESTÁGIO 3 DO CÂNCER” - Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer .......... Pág. 31 “FATORES DE RISCO DO CÂNCER” - Slide de aula do Curso de Capacitação Gerencial Profissional do Programa Saber Saúde – Módulo Falando Sobre Câncer ......................................................................... Pág. 34 FIGURAS 11 Esposa, filho e Bryan nos últimos minutos de sua vida Pág. 40 FIGURAS 12 Bryan (como era antes) com o seu filho no colo ........... Pág. 40 FIGURAS 13 Imagens dos maços de cigarro ..................................... Pág. 41 FIGURAS 14 OS EFEITOS DA BEBIDA NO CORPO ........................ Pág. 43 FIGURAS 15 CARCINOMA ............................................................... Pág. 44 FIGURAS 16 MELANOMA ................................................................. Pág. 44 FIGURAS 17 A BOMBA DE HIROSHINA .......................................... Pág. 48 FIGURAS 18 VÍTIMAS DE HIROSHINA ............................................ Pág. 48 FIGURAS 19 O Acidente Nuclear em Chernobyl, na Rússia (Infográfico: como aconteceu a tragédia). ..................... Pág. 52 FIGURAS 20 “OS FILHOS DE CHERNOBYL” ................................... Pág. 54 FIGURAS 06 FIGURAS 07 FIGURAS 08 FIGURA 09 FIGURAS 10 9 89 FIGURAS 21 Zilda Maria – Vítima do césio 137 câncer no pescoço e cérebro ........................................................................ Pág. 62 FIGURAS 22 Nilton de Souza - Vítima do césio 137 - Câncer no pescoço ........................................................................ Pág. 63 FIGURAS 23 Marques Rodrigues - Vítima do césio 137 - Câncer no cérebro ......................................................................... Pág. 64 FIGURAS 24 LESÕES POR HPV ..................................................... Pág. 67 FIGURAS 25 SARCOMA DE KAPOSI EM SIDA ................................ Pág. 67 FIGURAS 26 DADOS DO PROGRAMA SABER SAÚDE (INCA, 2005) ............................................................................ Pág. 80 90 EVENTOS, ATIVIDADES CULTURAIS E/OU ATIVIDADES EXTRACLASSE Conforme exigência especificada no item IV e VII do Manual do Aluno da Universidade Cândido Mendes/Instituto A vez do Mestre, onde “...cada aluno deverá visitar museus, bibliotecas e/ou assistir eventos culturais como teatro, shows ou eventos do gênero... apresentando os comprovantes, originais (no mínimo de 4), como “tickets”, em anexo a Monografia”, apresento os “tickets” de ingresso dos seguintes espetáculos assistidos em 2006: NO TEMPO DO GUARANÁ COM ROLHA Produção teatral de Benvindo Sequeira e da Família Oficina. Trata-se de uma comédia no Brasil do século XIX ao início do século XX, expostos pela obra de cinco comediógrafos: “O Juiz de Paz da Roça” de Martins Pena, “A torre em Concurso” de Joaquim Manoel de Macedo, “Como se fazia um deputado” de França Jr., “A revista Musical – O Rio de Janeiro de 1877” de Arthur Azevedo e “Que pena ser só ladrão” de João do Rio. Comédia musical de aproximadamente 90 minutos, tendo em cena 40 atores e músicos, pertencentes da “Família Oficina”, com muitas canções do séculos XIX e XX, faz um passeio pelos costumes da época, mostrando com já em 1830 havia a corrupção, as bandalhas eleitoreiras, o crime, a sexualidade, etc... fazendo uma ligação direta entre o Brasil de 1830 e o Brasil de agora. 91 92 O DOENTE IMAGINÁRIO Uma das mais famosas comédias escrita por Molière, em 1673 que trata da estória de “Argan, um doente imaginário, rico e avarento burguês, que sofre de hipocondria e faz de tudo para que sua filha se case com um médico, com o intuito de assegurar para si, consultas médicas gratuitas. Mas a moça tem outros planos e deseja casar-se com outro pretendente. A estória envolve amor, intriga e poder e é uma montagem da “Limite 151 Cia. Artística” com direção de Jacqueline Laurence com Tonico Pereira como protagonista. 93 OS PÂNDEGOS Comédia carioca com histórias em que as personagens estão em uma situação limite, o espetáculo apresenta situações absurdamente humanas e absurdamente insanas. E nada mais humano do que a insanidade. Tecido por esquetes, a narrativa vai em um crescente, mostrando seus personagens e suas diferentes facetas – claro, com muito bom humor. No palco, Dig Dutra e Wagner Trindade se revezam nos esquetes. O texto também foi escrito por eles. Cada personagem é construído sob medida e a total segurança dos atores permite que brinquem com o texto. O espetáculo conta ainda com a participação de: Andy Gercker e Cláudio Andrade. A iluminação, por sua vez, é criada por Ricardo França. A trilha sonora é assinada pelo também diretor, Daniel Dias da Silva. 94 A PRIMEIRA VEZ QUE EU DISSE EU TE AMO Com muito bom humor e alto astral, a peça A Primeira Vez Que Eu Disse Eu Te Amo transita por diversos pontos de vista sobre o amor, o sexo, o casamento, a separação, a traição e a paixão com situações inusitadas e engraçadas. As canções de Vinícius de Moraes, Tom Jobin, Roberto Carlos, Cazuza e Dolores Duran são executadas ao vivo. O espetáculo surgiu quando quatro amigos se juntaram com o desejo de apresentar uma peça onde pudessem se divertir e divertir a platéia com pensamentos, poesias e canções. A dramaturgia desenvolvida por Pitty Webo foi feita através de fatos “quase” reais da vida dos atores. Texto e direção: Pitty Webo, Elenco: Nildo Parente, Helena Werneck, Daniel Del Sarto e Pitty Webo, Músicos: Bruno Scatena (baixo), Daniel Valentini (piano e teclado) e Gil Tandeta (bateria), todos em cena. 95 PAGANDO MICO Espetáculo musical que tem 32 crianças no elenco, conta a relação das crianças com a verdade e a mentira sem ficar "PAGANDO MICO". A trama envolve três personagens principais: TINA, GUGA E IVONETE (Prima cearense de Guga que sofre preconceito por parte do primo). Eles se envolvem num jogo de verdade, mentira e chantagem, em meia confusão acabam jurados de um concurso de novos talentos promovido pela escola. Os três agora estão de frente, numa situação que não há como escapar. O elenco de 32 Crianças da OFICINA DE INTERPRETAÇÃO INFANTIL da ONG PALCO SOCIAL criada por Ernesto Piccolo (Diretor) E Rogério Blat (Autor) em 1993. 96 COMO O DIABO GOSTA Comédia escrita por Rogério Blat, com direção de Cláudio Handrey, tem em cena 14 atores, dentre eles Thiago Fragoso, atualmente protagonista da telenovela “O Profeta” da Rede Globo. Através de elementos do Teatro de Revista e do Teatro Besteirol dos anos 80, a peça mostra o cotidiano brasileiro atual, numa linguagem de humor, simples e acessível, despretensioso, irreverente e que utiliza o riso como cartase, provocando o reconhecimento e a reflexão do público. “Tulipa” é um funcionário do INSS, que mora na mesma casa com sua esposa, animadora de festa infantil, Jandira, e com o cunhado, Piragiba, que em nada colabora com as despesas de casa. Homem simples e comum, Tulipa leva uma vida afogada em burocracias e dívidas, quando é atingido por uma bala perdida que o deixa entre a vida e a morte. A partir daí, surpresas rondam o destino deste homem criando situações embaraçosas. Somente pela intervenção divina, é que os diversos nós começam a ser desatados. 97 O AUTOR Fatima Mendes Carvalho, natural do Rio de Janeiro, nascida em 05 de novembro de 1961, filha de Sebastião Carvalho e Lair Mendes Carvalho, é formada em Administração Hospitalar, pelo INSTITUTO METODISTA BENNETT FACULDADES INTEGRADAS (Setembro/1987) e pós-graduada em ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR pela UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (Novembro/1988). Servidora Pública Federal do MINISTÉRIO DA SAÚDE, trabalha no INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCa) na COORDENAÇÃO DE PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA/SERVIÇO DE APOIO LOGÍSTICO como ANALISTA EM CIÊNCIA & TECNOLOGIA SÊNIOR III (MS)/ANALISTA EM ADMINISTRAÇÃO PLENO (INCA). Admitida em Janeiro de 1982 pela CAMPANHA NACIONAL DE COMBATE AO CÂNCER, campanha “criada pelo Decreto nº 61.968 de 22/12/1967, pelo Sr. Presidente da República, que instituiu no Ministério da Saúde a CAMPANHA NACIONAL DE COMBATE AO CÂNCER – CNCC., destinada a intensificar e coordenar em todo o território nacional as atividades públicas e privadas de prevenção, de diagnóstico precoce, de assistência médica, de formação de técnicos especializados, de pesquisa, de educação, de ação social e de recuperação, relacionadas com as neoplasias malignas em todas as suas formas clínicas, com a finalidade de reduzir-lhe a incidência”, trabalhou de Junho de 1981 à Março de 1982 no assessoramento à Coordenação do Programa Integrado de Medicina Nuclear – PIMN, na elaboração do Programa Anual de trabalho para o exercício de 1982 (fase de implantação do PIMN) , incluindo estudos e pesquisas, contendo o plano de aplicação de recursos necessários, assim como a tabela de pessoal à ser contratado, promovendo e propondo as medidas que visavam a obtenção de recursos financeiros, humanos e materiais para a operacionalização do programa em âmbito nacional. 98 De Abril de 1982 à Novembro de 1982 foi designada Assistente do Sr. vice-diretor e Chefe da Divisão Médica do Hospital dos Servidores do Estado – HSE/INAMPS, desempenhando , principalmente, função de controle e análise dos processos administrativos nas áreas de material e recursos orçamentáriofinanceiros do HSE. De Novembro de 1982 à Agosto de 1983 atuou como Assistente do Sr. vice-presidente e Chefe da Secretaria de Medicina Social da Direção Geral do INAMPS, desenvolvendo, principalmente, função de análise dos processos de solicitação de tratamento fora de domicílio, tanto em âmbito nacional como para tratamentos no exterior custeados pelo MS/INAMPS. De Agosto de 1983 à Maio de 1985 foi nomeada como Integrante do “PROJETO PILOTO” da Comissão Interinstitucional Municipal de Saúde – CIMS, em co-gestão com o MINISTÉRIO DA SAÚDE, INAMPS, SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE e SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, conforme designação do ofício nº 517-0/288 de 22 de novembro de 1983, do Sr. Superintendente Regional do INAMPS/RJ., como membro da SECRETARIA EXECUTIVA DA CIMS, desenvolvendo ações junto aos projetos que geraram a estruturação do antigo SUDS (SISTEMA UNIFICADO E DESCENTRALIZADO DE SAÚDE), hoje conhecido como SUS (SISTEMA UNIFICADO DE SAÚDE). De Maio de 1985 à Maio de 1990 fez o Assessoramento à Coordenação do Programa Integrado de Medicina Nuclear e Atividades Afins – PIMAG. Principalmente nas áreas de projetos especiais, educacionais e de pesquisa junto à seus pares, tais como FIOCRUZ, CNPQ, UERJ, UFRJ, UFF, INCA e outros. Destaca-se neste período sua participação no PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO 1º SERVIÇO INTEGRADO DE IMAGENS DO PIMAG, em ação conjunta com o então “SUDS”, hoje SUS, em toda a rede hospitalar federal, estadual e municipal do Rio de Janeiro e seus municípios. Destaque ainda, para a participação na implantação e desenvolvimento do PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA EM IMAGEM, que visava a formação de profissionais de saúde, em âmbito nacional, nas áreas de medicina nuclear, ultra-sonografia e afins, com intercâmbio de profissionais, inclusive no exterior. 99 De setembro de 1989 à maio de 1990, designada para a função de Administradora do Serviço de Imagens da unidade Venezuela/PIMAG/RJ. De Maio de 1990 à Janeiro de 1994 assumiu a administração do LABORATÓRIO DE IMUNOGENÉTICA DO PROGRAMA DE IMUNOGENÉTICA E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS – PITO, desenvolvendo o estudo de “vida e sobrevida” relativo à todos os transplantes de órgãos realizados no RIO DE JANEIRO, em órgãos públicos federais, estaduais e municipais, trabalho base para propostas e diretrizes de novas ações para o programa de transplante de órgãos no Brasil. De março de 1991 à outubro de 1994, designada para a função de Administradora do PROGRAMA DE IMUNOGENÉTICA E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS – CITRO do INCA. Foi no exercício de 1991 que a CAMPANHA NACIONAL DE COMBATE AO CÂNCER – CNCC foi extinta pelo Decreto Lei nº 109 de 02 de Maio de 1991, sendo seus funcionários absorvidos pelo Ministério da Saúde, com lotação no quadro de pessoal do INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA De Outubro de1994 à Agosto de 2000 foi designada para a COORDENAÇÃO DE ADMINISTRAÇÃO GERAL (COAGE) do INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA) e lotada na DIVISÃO DE MATERIAL/SERVIÇO DE COMPRAS onde ficou como responsável pela aquisição de todo MATERIAL PERMANENTE do INCA/MERCADO NACIONAL. De Agosto de 2000 à Março de 2001 integrou o GRUPO DO PROJETO EXPANDE – EXPANSÃO DE CENTROS DE ALTA COMPLEXIDADE EM ONCOLOGIA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE/INCA em todo o território nacional. Grupo multi profissional responsável pela análise de necessidades de implantação de “CACON’s” – CENTROS DE ALTA COMPLEXIDADE EM ONCOLOGIA) junto as diversas SECRETARIAS ESTADUAIS e ao SUS e a partir de Abril de 2001 ficou lotada no SERVIÇO DE APOIO LOGÍSTICO DA COORDENAÇÃO DE PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA DO INCA/CONPREV, onde é a responsável pelo processo de planejamento e orçamentação anual à nível estratégico e operacional dos projetos institucionais na área de prevenção 100 do INCA, acumulando a responsabilidade de supervisão dos treinandos na área de administração, planejamento e logística. A conclusão do curso de Docência do Ensino Superior abre uma nova fase profissional na área de educação.