MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA EM EQÜINOS: Uma Técnica ao Alcance da Coudelaria de Rincão Por PAULO TEIXEIRA JUNIOR - 1º Ten Cav RIO DE JANEIRO 2003 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA EM EQÜINOS: Uma Técnica ao Alcance da Coudelaria de Rincão Por PAULO TEIXEIRA JUNIOR- 1º Ten Cav Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do diploma de especialização do Curso de Instrutor de Equitação do Exército Brasileiro. Orientador: Cap Cav o Eduardo Xavier Ferreira Migon RIO DE JANEIRO 2003 2003 ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO Avenida Duque de Caxias- Vila Militar- Rio de Janeiro- RJ Este trabalho, nos termos da legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado a propriedade da Escola de Equitação do Exército (EsEqEx). É permitida a transcrição parcial dos textos do trabalho, ou menção ao mesmo, para comentários ou citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não definem uma orientação institucional da EsEqEx. Não constitui norma da EsEqEx proceder qualquer revisão no trabalho monográfico arquivado, seja quanto a forma e correção na apresentação, seja quanto ao conteúdo. JUNIOR, Paulo Teixeira. Transferência Embrionária em Eqüinos: Uma Técnica ao alcance da Coudelaria de Rincão. Rio de Janeiro: Escola de Equitação do Exército (EsEqEx), 2003. 41p. Monografia (Curso de Instrutor de Equitação), EsEqEx. 1.Ensino. 2.Ações subsidiárias.3.Coudelaria de Rincão. I. Autor. II. Título (Ficha catalográfica elaborada pelo autor) “Não dêem dinheiro a seus filhos, se puderem dêem-lhes cavalos. A equitação nunca arrastou ninguém a desonra .nenhuma hora de vida passada numa sela é perdida.” WINSTON’S CHURCHILL RESUMO A pesquisa objetivou identificar em primeira estância o método de controle genético conhecido como transferência embrionária, técnica esta que oferece opções que aumentam a qualidade genética da espécie, visando assim esclarecer a viabilidade de implantação de uma estrutura de manipulação de embriões na Coudelaria de Rincão. Foi realizado um esclarecimento geral sobre reprodução, que facilitará a compreensão de um dos objetivos que é a transferência embrionária propriamente dita. Conectado ao assunto transferência embrionária, temos uma apreciação dos fatores que influenciam os resultados, versando assim elucidar da melhor forma possível os fatores preponderantes para o emprego da técnica em questão. Com um estudo comparativo detalhamos as diversas vantagens do processo e os aspectos limitadores da biotecnia. Verificamos se a Coudelaria de Rincão, objetivo principal desta monografia, atende às condições mínimas para a implantação da técnica e quais seriam as expectativas desta organização militar frente a nova biotecnia de reprodução que vem sendo utilizada com êxito dentro de um cenário mundial. Durante a leitura dessa investigação o leitor poderá observar conclusões positivas que sairão da teoria para ser firmar na prática sistemática e eficiente, atendendo assim algumas necessidades do Exército Brasileiro nos aspectos que tangem sobre a qualidade dos equídeos militares. A certeza maior é que no final desta pesquisa aumentamos o conhecimento através da seriedade da divulgação para o leitor, com aspectos concretos e positivos em relação a transferência embrionária no âmbito do Exército Brasileiro. LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Classificação dos embriões, p. 22 TABELA 2 – Relação de reprodutores da Coudelaria de Rincão, p.34 SUMÁRIO 1 – Introdução 4 2 – Conhecimentos gerais 7 2.1 – Anatomia do Aparelho genital do Garanhão 7 • Constituintes do Ejaculado 8 • Sexualidade dos Garanhões 9 2.2 – Anatomia do Aparelho Genital da Égua 9 2.3 – Endocrinologia do Ciclo Estral 11 • Ciclos Estrais 11 • Papel do Estrógenos 12 2.4 – Comportamento da Égua nas Fases do Ciclo Estral 13 • Comportamento da Égua no Cio ou Estro 13 • Comportamento da Égua no Diestro 13 2.5 – Formação do Corpo Lúteo 13 • A Persistência do Corpo Lúteo 14 • Controle do Funcionamento Ovárico 14 • Anomalias do Funcionamento Ovárico 2.6 – Fotoperíodo e Melatonina • Um Tratamento Simples 15 16 17 3 – Transferência Embrionária 18 3.1 – Sincronização do Cio 18 3.2 – Transferência Enbrionária Propriamente Dita 18 • Preparo e Fecundação da Égua Doadora 19 • Coleta Não Cirúrgica de Embriões 20 • Metodologia da Coleta 21 • Detecção do Embrião e Tratamento 21 • Morfologia Embrionária 22 • Escolha e Preparo da Égua Receptora 23 • Técnica da Transferência 24 3.3 – Fatores que influenciam os Resultados 25 3.4 – As vantagens da Biotecnia 26 3.5 – Os Fatores Limitantes da Transferência Enbrionária 27 4 – A Coudelaria de Rincão 28 4.1 - Histórico 28 4.2 – A Reprodução dos Eqüinos na Coudelaria de Rincão 29 4.3 – O Controle Genético da Coudelaria de Rincão 29 5 – A Coudelaria de Rincão e a Transferência Embrionária 32 5.1 – A Atual Estrutura da Coudelaria de Rincão 32 5.2 – Análise da Coudelaria de Rincão 6 – Conclusão 7 –Referências 33 37 40 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Há 50 ou 60 milhões de anos atrás, tínhamos um animal muito diferente deste que estamos acostumados atualmente. É difícil acreditar que o cavalo arcaico possuía aproximadamente 25 cm de altura. Os membros destes antiquíssimos equídeos tinham cinco dedos bem distintos. Sucessivamente estes minúsculos predecessores do nosso Cavalo, modificaram bastante sua estrutura. O HIRACOTÉRIO e o MESO-HIPO são equídeos, que viveram na terra ainda antes do homem. De cinco dedos no primeiro, encontramos quatro no segundo, pelo processo natural de atrofiamento. O meso-hipo foi o primeiro equídeo que, abandonando as zonas de bosque, foi viver nas planícies. O HIPARIÃO possuía três dedos e já mostrava uma estrutura mais semelhante ao cavalo atual. Do precedente equídeo, através de uma natural seleção, houve várias espécies e subespécies dotados de dois dedos e, afinal, no cavalo de PRZEWALSKI, de um só. Ao pensar na razão, pela qual estes animais evoluíram tanto, podemos concluir que sem sombra de dúvida, a necessidade de sobrevivência foi o principal motivo. Este impressionante avanço genético foi obra de uma cientista conhecida por todos nós como “Mãe Natureza”. A humanidade testemunha nos dias atuais os avanços da ciência, uma realidade que nos permite, incentiva e financia pesquisadores e cientistas, para que eles ampliem cada vez mais as descobertas e conhecimentos sobre a manipulação e controle das características genéticas dos animais, isto é, o homem está substituindo a “Mãe Natureza”, não para atender a uma adaptabilidade do animal ao meio ambiente, mas sim para cumprir as exigências das necessidades humanas. A ciência, sempre que procura alterar a natureza, tem como um dos objetivos aprimorar as técnicas, visando otimizar a produção e os custos envolvidos, sendo assim, sob a ótica da reprodução, a biotecnologia parece não ter obstáculos, pois oferecem métodos na eqüinocultura que são eficientes no preenchimento das determinações do mundo moderno. Dentro desses avanços tecnológicos, a transferência embrionária vem se firmando cada vez mais com o método reprodutivo capaz de atender tanto criadores com uma sólida infra-estrutura, como também criadores menos equipados. A transferência de embriões tem como finalidade gerar mais de um potro por estação reprodutiva de cada égua pré-selecionada. Material genético desejado, boas condições morfológicas, histórico e produção comprovada surgem como quesitos mais importantes para a seleção das doadoras. Essas matrizes podem, com a transferência embrionária, dar origem de três a quatro crias em uma única estação, isto de acordo com grandes especialistas da área. O triplo da produção normal, sem que a matriz tenha que parar de desempenhar sua função cotidiana, como por exemplo, um papel desportivo de alta performance a que esteja submetido, deixando o sacrifício da gestação para as éguas receptoras (barrigas de aluguel). A técnica de transferência de embriões baseia-se na fertilização da égua doadora com o garanhão pré-selecionado (monta ou sêmen). Sete a nove dias após a fecundação faz-se um lavado uterino na doadora, objetivando coletar o embrião que será transferido para uma égua receptora que já teve seu ciclo estral sincronizado com a da doadora, usando métodos farmacológicos. Esta biotecnia abre caminhos para o aprimoramento zootécnico das raças, levando-se em conta que os cruzamentos dirigidos entre excelentes biotípos possam ser triplicados a cada ano. O objetivo do projeto de pós-graduação do curso de Instrutor de Equitação é elucidar da melhor forma possível o método reprodutivo conhecido como transferência embrionária, colocando-a no contexto da Coudelaria de Rincão. A pesquisa mostrará também os fatores que influenciam os resultados abordando os aspectos positivos e negativos. Serão avaliados equipamentos, e os recursos humanos envolvidos na manipulação embrionária. O estudo irá esclarecer, se a Coudelaria de Rincão possui estrutura e maturidade para a implantação de um laboratório de manipulação embrionária, com a finalidade de realizar a técnica nas melhores condições possíveis, e se tal investimento tecnológico atenderia às particularidades desde os cerimonias hipomóveis até os cavalos de alta performance, da tradição ao operacional aprimorando desta forma a reprodução eqüina e suprindo os anseios da força terrestre em aspectos específicos da distribuição de eqüinos. Para um maior esclarecimento, este trabalho de pesquisa foi dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo é basicamente o que foi compreendido até o presente momento. O segundo capítulo aborda as noções gerais de reprodução eqüina, para um melhor entendimento do assunto proposto. O terceiro capítulo descreve a biotecnia conhecida como transferência embrionária, que é um dos objetos do estudo. O quarto capítulo traz um relato sobre a história e a principal missão da Coudelaria de Rincão. O quinto capítulo versa sobre a visão atual da Coudelaria frente aos avanços tecnológicos e uma breve análise do rumo que está tomando. Concluiremos a pesquisa no sexto capítulo. CAPÍTULO II CONCEITOS GERAIS 2.1 - ANATOMIA DO APARELHO GENITAL DO GARANHÃO Nas espécies bissexuadas, o aparelho reprodutor masculino, além da elaboração e secreção dos hormônios testiculares, cumpre também função citogênica, ou seja, a produção de espermatozóides, cabendo-lhe também depositá-lo na via genital feminina. Ele é constituído por dois testículos (contidos na bolsa escrotal), órgãos acessórios, glândulas e pênis. A Bolsa Escrotal, além de alojar os testículos e protegê-los, ela é importante na termorregulação juntamente com o músculo cremáster e com o plexo pampiniforme. Os testículos são dois e estão localizados na bolsa escrotal, tendo formato oval medindo de 8 a 12 cm de comprimento e 5 cm de largura. Apresentam à palpação uma consistência firme semelhante ao do muque. O epidídimo está ligados aos testículos pelo ligamento testicular. Suas funções são de maturação, transporte, armazenamento dos espermatozóides, absorção dos espermas defeituosos e da secreção de glicerifosforicolina e antiaglutininas, entre outras substâncias. Os condutos deferentes penetram na cavidade abdominal e terminam em forma de ampolas (ampolas de Vater).É um tubo muscular que propele os espermatozóides para o ducto ejaculatório na uretra prostática, no momento da ejaculação. As ampolas de Vater são ricas em glândulas que secretam um muco de coloração branca que envolve os espermatozóides assegurando-lhes proteção mecânica e bioquímica, além de ser uma reserva que secreta principalmente ergotioneina. É volumosa, contrátil e participa da ejaculação. Elas se unem a uretra pélvica em uma outra dilatação chamada colliculus seminalis, onde dorsalmente, se encontra a próstata e, lateralmente as duas vesículas seminais. A próstata é uma glândula ímpar que circunda a uretra pélvica. É, no cavalo uma estrutura discreta em forma de noz. Os ductos se abrem em duas fileiras paralelas uma de cada lado da uretra. Emite uma secreção opaca, odorífera e alcalina por ocasião da ereção.As vesículas seminais são glândulas pares que desembocam na uretra pélvica (colliculus seminalis) através de diversos ductos ejaculatórios. O líquido é gelatinoso, incolor e inodoro, formando a maior parte do líquido espermático.As Glândulas de Cowper (bulbos uretrais) são glândulas pares que emitem por ocasião da ereção, aproximadamente, 10 ml de uma secreção viscosa com a função de “limpar” a uretra e neutralizar o pH. O Pênis fica alojado na bainha prepucial, que é comprida e muito erétil. 2.1.1 - CONSTITUINTES DO EJACULADO 2.1.1.1 - FRAÇÃO PRÉ-ESPERMÁTICA É a secreção proveniente das glândulas de Cowper, contém muito poucos espermatozóides e pode ser vista quando o garanhão em ereção tenta montar na égua no cio ou no manequim. 2.1.1.2 - FRAÇÃO ESPERMÁTICA PROPRIAMENTE DITA Consiste de secreções dos epidídimos e das ampolas de Vater, possuindo alta concentração de espermatozóides. São de coloração leitosa, não-viscosa, de volume aproximado de 30 ml, envolvem e protegem os espermatozóides. 2.1.1.3 - FRAÇÃO PÓS-ESPERMÁTICA São secreções das glândulas seminais muito pobres em espermatozóides. São gelatinosas e formam a maior parte do plasma seminal. 2.1.2 - SEXUALIDADE DOS GARANHÕES O instinto sexual começa a se manifestar a partir dos 18 meses de idade. Portanto, já a partir dos 12 meses é aconselhável separar os sexos. A partir dos 24 meses os machos podem entrar na reprodução, porém de forma moderada. Para evitar prejuízos, recomenda-se a coleta de sêmen para avaliação da fertilidade, em termos de volume do ejaculado, concentração de espermatozóides, motilidade e morfologia das células. As células espermáticas permanecem viáveis no trato genital feminino até 48 horas. 2.2 - ANATOMIA DO APARELHO GENITAL DA ÉGUA Apesar do primeiro cio ocorrer em torno dos 18 meses de idade, o aparelho reprodutor feminino somente estará preparado para reprodução a partir dos 30 meses de idade. A maior parte desse aparelho é constituído de dois ovários , duas tubas, ovidutos ou trompas uterinas, útero, vagina e vestíbulo, vulva e clitóris, está suspenso na cavidade abdominal por uma faixa de tecido fibroso chamado de ligamento largo, através do qual passam nervos e vasos que irrigam os órgãos componentes. A parte superior desse ligamento é chamada de Mesovarium e é ela que prende os ovários e a tuba uterina na arcada lombar. A parte lateral do ligamento largo do útero porta o mesosalpinx, onde se alojam as tubas. Os dois mesos delimitam uma cavidade chamada bolsa ovárica, que se abre para a cavidade peritoneal. Sua conformação varia individualmente e pode mesmo ser fechada (atresia) em 3% das éguas. Os ovários estão situados atrás dos rins, e apresentam a forma de um feijão em função da presença de uma fossa de ovulação que os deprime ventralmente no seu meio. O tamanho varia segundo a raça, a idade e a estação do ano. A tuba uterina mede, em média, de 20 a 30 cm de comprimento por 4 a 8 mm de diâmetro cranialmente, e de 2 a 3 mm caudalmente. Ela está dividida em três partes, a saber: pavilhão, ampola, istmo. São cobertas internamente por uma fina camada de células ciliadas que impulsionam o óvulo na direção do útero. Elas são auxiliadas por uma corrente de secreção líquida contra a qual nada os espermatozóides em direção ao óvulo. A fecundação ocorre no terço superior das tubas. O útero é um órgão cavitário que leva a forma de um “y”e consiste em dois cornos, um corpo e um colo ( cérvix ). Está recoberto internamente por uma mucosa especializada, chamada endométrio. É a enorme versatilidade dessa mucosa que permite a implantação do embrião no início da gestação e facilita a transferência de nutrientes da mãe para o feto. A porção que entra em contato com a vagina é chamada de colo uterino ou cérvix. Na maioria das vezes, e especialmente durante a gestação, esta passagem muscular que liga o útero à vagina, como dito acima, está contraída (fechada), isolando o útero de influências externas. Durante o cio ele está relaxado e aberto, permitindo a ejaculação diretamente no útero durante a cópula. A vagina e vestíbulo da vagina formam um conduto de 25 a 35 cm de comprimento, sendo que 15 a 20 correspondem à vagina; há ainda, 6 a 8 cm de diâmetro transversal e 3 a 5 cm de diâmetro vertical. A vulva limita, por dois lábios verticais o, orifício vulvar. Esses lábios são recobertos de um revestimento cutâneo fino e pigmentado, desprovido de pêlos e, sobretudo untuoso; em virtude das glândulas subjacentes.O clitóris está constituído de dois corpos cavernosos curtos e delgados e glande e um músculo ísquio-cavernoso. 2.3 - ENDOCRINOLOGIA DO CICLO ESTRAL 2.3.1 - CICLOS ESTRAIS Nos mamíferos, com exceção dos primatas, a fêmea só aceita o acasalamento no período do cio ou estro. Essa fase do ciclo dura, em média sete dias, variando o período durante o decorrer da estação de monta. O primeiro dia de ciclo é quando são detectados os primeiros sinais de cio. Chamamos de ciclo estral o intervalo de dias que separa dois cios sucessivos, ou seja, é o período que vai do início do cio até o início do outro cio consecutivo. Este intervalo é particularmente longo nas éguas e dura geralmente de 21 a 23 dias. Já o período que vai do final do cio até o início do outro cio é chamado de diestro, e corresponde ao período entre dois cios, no qual a égua não aceita o garanhão (ver figura 1). DIESTRO (± 14 dias) CIO ou estro 1 dia 7 dias CIO ou estro 1 dia 7 dias CICLO ESTRAL (± 21 dias) Figura 1: Representação do Ciclo Estral Fonte: arquivo do autor A maioria das éguas pára de ciclar durante as estações de outono e inverno, quando a luminosidade diária reduz. Esse período é chamado de Anestro estacional. Os ovários se tornam inativos, uma vez que lhes faltam os estímulos oriundos da hipófise. Durante a gestação, a égua também apresenta um quadro de anestro gestacional com ausência de cios. Os animais domésticos que apresentam apenas um ciclo estral por ano são denominados monoéstricos, enquanto os que apresentam vários ciclos são denominados poliéstricos. Estes últimos são ainda denominados poliéstricos estacionais, quando os ciclos ocorrem em um período determinado do ano como em determinadas estações do ano (primavera – verão), como é o caso da égua. Este período próprio para a reprodução é também conhecido como “Estação de Monta”. A égua para efeito reprodutivo é considerada uma fêmea poliéstrica estacional, ou seja: fêmea que apresenta muitos (poli) ciclos estrais (cios) num determinado período do ano (durante as estações da primavera e verão). A fertilidade da égua atinge seu máximo durante os meses de dezembro-janeiro, no hemisfério Sul. Isso decorre do fato de ser o sistema nervoso estimulado com o aumento progressivo da duração da luz do dia; o conseqüente aumento da quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis nas pastagens e o aumento da temperatura média diária. Esses estímulos hipofisários reiniciam a liberação de hormônios na corrente sangüínea, com o conseqüente desenvolvimento dos primeiros folículos. Estes crescem rapidamente até o momento da ovulação quando atingem de 5 a 6 cm. No final da maturação, a parede folicular vai afinando, o que facilita a ruptura do folículo liberando o líquido folicular que contém o óvulo. 2.3.2 - PAPEL DOS ESTRÓGENOS Nos dias que precedem a ovulação ocorre o crescimento folicular e a secreção de estrógenos aumentada penetra na corrente sangüínea da égua. O aumento do nível de estrógenos no sangue atua sobre o sistema nervoso central – SNC – fazendo com que a égua demonstre os sinais externos de cio e com isto aceite a cobertura. Atua, também, em todo o aparelho genital, preparando a vagina para a cópula, lubrificando-a e servindo de meio favorável à sobrevida dos espermatozóides, em todo o caminho que os separam do óvulo. No cérvix, ou colo uterino, age este hormônio relaxando a musculatura, fazendo com que ele se repouse mais ou menos aberto no assoalho da vagina. 2.4 - COMPORTAMENTO DA ÉGUA NAS FASES DO CICLO ESTRAL Durante o cio ou estro, a égua normalmente fica receptiva ao garanhão. Na presença dele ela afasta lateralmente os posteriores, elevando a cauda e urina uma boa quantidade com odor característico. Em seguida ela contrai a parte inferior da vulva o que expõe o clitóris. O cio tem duração média de uma semana, sendo que ovulação ocorre dentro das últimas 48 horas. Caso a fecundação do óvulo não ocorra, a fêmea retornará ao cio dentro de 15 a 16 dias. Assim um ciclo sexual completo tem duração média de 21 dias. No diestro a égua rejeita o garanhão abaixando as orelhas podendo morder e dar coices. 2.5 - FORMAÇÃO DO CORPO LÚTEO Depois da ovulação a cavidade folicular é completada com um coágulo que progressivamente é substituído pelo corpo amarelo ou corpo lúteo produtor de progesterona. Além do corpo lúteo podem também secretar progesterona, a placenta e a supra renal. Ela constitui um fator indispensável no início e durante a gestação. O papel da progesterona é atuar no aparelho genital, propiciando a sobrevida do ovo; e no cérebro (hipófise) para impedir a produção de gonadotrofinas, inibindo com isto o comportamento de cio. Desse modo, ela atua no miométrio inibindo as contrações musculares, comportando-se como um antagônico da ocitocina e no endométrio estimulando o crescimento das glândulas endometriais e a secreção do fluido “leite uterino”, necessário à manutenção do blastocisto antes de sua implantação. No cérvix, ela provoca a redução da quantidade do muco, aumentando a viscosidade e a aderência, e com isso obstruindo o canal cercical. No caso de não-fecundação, o corpo lúteo será destruído gradativamente do décimo até o décimo quarto dia, aproximadamente, e a égua voltará a ciclar. 2.5.1 - A PERSISTÊNCIA DO CORPO LÚTEO A ausência de cios não indica necessariamente que a égua esteja gestante. Pode ocorrer que não seja destruído o corpo amarelo por deficiência de secreção de prostaglandina e sua presença pode persistir por dois a três meses. A persistência do corpo lúteo (ausência de cios) pode confundir os criadores, levando-os a pensarem em gestação e, com isso, perderem a oportunidade de inseminação. Freqüentemente, essa persistência do corpo lúteo sem gestação ocorre no verão e a aplicação de prostaglandinas injetável intramuscularmente resolve o problema. Por outro lado, no começo da estação de monta, algumas éguas podem apresentar cios mais ou menos regulares e em certos casos de maneira contínua. Nesses casos a égua não ovula e logicamente os cios são inférteis. Isso explica o fato de muitas éguas serem cobertas e poucas apresentarem gestação. A ultra-sonografia, ou mesma a palpação retal, revelam ovários de pequeno tamanho com pouco desenvolvimento folicular. Esse fenômeno é muito comum em potrancas de dois para três anos, no início da vida reprodutiva e é conhecido como inatividade ovárica (cio psicológico). 2.5.2 - CONTROLE DO FUNCIONAMENTO OVÁRICO A sucessão de acontecimentos e de transformações que ocorrem no ovário são controladas pela hipófise, uma pequena glândula localizada na parte inferior do cérebro. Para efetuar esses propósitos nos ovários a hipófise secreta as gonadotrofinas ( FSH E LH ). O primeiro estimula o crescimento dos folículos e o segundo é responsável pela sua evolução, ovulação e formação do corpo lúteo. Para comandar esse mecanismo, a hipófise recebe informações das secreções dos ovários e do cérebro (GnRH). A secreção de LH na égua é bastante diferente das outras espécies. Na vaca, na ovelha e na rata e inclusive na mulher, a secreção de LH é muito forte durante um período de algumas horas e constitui o que pode ser considerado um sinal que desencadeia a ovulação. Na égua, não se constata este sinal e o aumento de LH é progressivo, permanecendo esses índices elevados após a ovulação período no qual são muito baixo nas fêmeas de outras espécies. 2.5.3 - ANOMALIAS DO FUNCIONAMENTO OVÁRICO Além das anomalias da persistência do corpo lúteo e da inatividade ovárica sem ovulação, mas com sintomas de cio, existem outras que são raras: Poliovulação: Devido ao tipo de placenta, a égua não suporta uma gestação gemelar. Na maioria das vezes, morrem os dois, e quando a égua consegue levar a termo a gestação, os potros nascem muito fracos e acabam morrendo. Portanto, as ovulações múltiplas são maléficas, pois podem colocar em perigo até a vida da égua. Por outro lado, é considerada uma boa doadora, pois vários embriões poderão ser coletados. Cios anovulatórios: São aqueles em que a égua apresenta desenvolvimento folicular com sinais externos de cio, mas sem ovulação. O crescimento folicular pode chegar até a fase pré ovulatória e depois regride, não havendo ovulação. Como não se forma corpo amarelo, o desenvolvimento folicular retoma seu crescimento num intervalo mais curto (menor que 15 dias). Esses casos são raros e regularizam-se sem nenhuma medicação. Cio interrompido: O cio pode ser interrompido por um ou mais dias e voltar em seguida. Acredita-se que seja por um problema comportamental (éguas cujos sinais de cio são difíceis de detectar). Pode ser, também, conseqüência dos cios anovulatórios acima descritos. Cios silenciosos: São analisados especialmente em éguas gordas em lactação, nas quais ocorrem os sintomas internos de cio tais como: desenvolvimento folicular, sinais de hiperemia de mucosa vaginal e ovulação sem demonstrar sinais externos de cio. 2.6 - FOTOPERÍODO E MELATONINA O controle da atividade ovariana é regulado pelo fotoperíodo (duração do período de luz) em função das estações do ano. Assim, modificando a duração do fotoperíodo diário ou realizando noites farmacológicas graças à administração de melatonina (mensageiro hormonal da noite), é possível modificar o controle estacional dos ciclos estrais. A melatonina já é utilizada comercialmente sob a forma de implante em pequenos ruminantes. Nos eqüinos, as primeiras experiências no que concerne ao modo de ação desse hormônio e a sua eventual atualização estão atualmente em curso com o objetivo de obter éguas ciclando o ano inteiro. Embora este conceito do aparecimento da atividade ciclíca estacional, com o aumento da duração do dia, seja conhecido há muito tempo, é muito recente a sua utilização artificial para antecipar o ciclo estral. Uma transição progressiva de dias curtos para dias longos é inútil, mas uma passagem brutal de oito para dezesseis horas por dia é eficiente. As primeiras ovulações ocorrerão 70 dias após o início do tratamento, mas se faz necessário continuar o tratamento até o começo da primavera para não interromper o ciclo iniciado aos 70 dias. CAPÍTULO III TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA 3.1 - SINCRONIZAÇÃO DO CIO A sincronização do cio é importante para transferência embrionária com o objetivo de colocar as receptoras e as doadoras no mesmo ciclo estral. Existem quatro tipos possíveis de tratamento: Administração de progesterona: explorando seu retro-controle negativo bloqueando a ovulação durante um tempo suficiente para que o corpo amarelo ciclíco eventual tenha desaparecido. O tratamento consiste em administrar progesterona por um período de 15 dias, por via oral, a razão de 40 mg/dia. O cio aparece depois de 3 a 5 dias. Administração de prostaglandina PFG2º-: em duas injeções com intervalos de 14 dias. Tratamento misto de progesterona e prostaglandina: consiste em ministrar progesterona por sete dias para inibir a ovulação e assim a égua não apresentará corpo lúteo eventual com menos de cinco dias e será, então, sensível à ação da prostaglandina. Tratamento com HCG (gonadotrofinas – coriônicas – humanas): com a administração desta substância a égua ovula no prazo de 24 horas. O controle do ciclo estral depende da manipulação farmacológica de eventos hormonais que ocorrem durante o ciclo normal. O principal evento que controla o desenvolvimento do folículo ovariano ao ponto de ovulação é o processo de luteólise ou redução na secreção de progesterona. 3.2 - TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA PROPRIAMENTE DITA A técnica de transferência embrionária pode ser decomposta em cinco atos sucessivos: Preparo e fecundação da égua doadora Coleta do embrião Detecção do embrião Tratamento e envasamento Escolha e preparo da égua receptora 3.2.1 - PREPARO E FECUNDAÇÃO DA ÉGUA DOADORA A fertilidade da égua doadora pode afetar a taxa de recuperação embrionária. Essas éguas devem estar ciclando regularmente, e apresentar uma boa condição ginecológica, comprovada por cultura e biópsia uterina. Para se obter vários embriões de uma mesma égua durante uma estação de monta, faz-se necessária a aplicação de prostaglandina F2, após cada coleta de embrião, para promover a destruição do corpo lúteo, encurtando, assim o diestro. O fotoperíodo ou o estímulo do aumento diário da luminosidade artificial (lâmpadas de 200W= 40 lux. Lux é a unidade que indica o nível de iluminação.), por boxe de 20 m2 é um outro recurso que se pode utilizar para aumentar o número dos ciclos estrais por estação de monta e consequentemente possibilitar uma maior quantidade de embriões coletados. A sincronização dos ciclos entre a doadora e as receptoras é de fundamental importância, devendo a receptora ter ovulado no intervalo de um dia antes, até quatro dias após a doadora. O acompanhamento do crescimento folicular das éguas doadoras e receptoras deve ser diário, a partir da detecção do cio. As éguas doadoras devem ser inseminadas ou cobertas em dias alternados, a partir do início do cio ou quando apresentarem folículos ≥ 30 mm de diâmetro até a constatação da ovulação ou a saída do cio. A utilização de sêmen congelado requer maior rigor com a utilização da ultrasonografia na detecção da hora de ovulação, para poder realizar a inseminação bem próxima da ovulação, ou mesmo até 12 horas após a mesma (média de 6 a 12 horas). 3.2.2 - COLETA NÃO – CIRÚRGICA DE EMBRIÕES Antes de proceder a coleta, a fêmea doadora é colocada num tronco de coleta, tendo o reto esvaziado e a cauda ligada e tracionada por uma corda ou pela mão de um auxiliar. As regiões perineal e vulvar são lavadas cuidadosamente e duchadas por três vezes com sabão líquido iodado e depois secadas. A escolha do dia da coleta varia segundo dois tipos de critérios, são eles: Fisiologia do desenvolvimento embrionário; Tipo de transferência embrionária. A coleta não-cirúrgica só poderá ser efetuada depois que o embrião tiver alcançado a cavidade uterina, o que acontece a partir do quinto dia após a fecundação. Normalmente esses embriões chegam ao útero na forma de mórula ou de blastocisto inicial. Desde a entrada no útero até a fixação, a vesícula embrionária é móvel e não pára de se deslocar de um corno para o outro. Esse movimento exige uma irrigação de toda a cavidade uterina para se conseguir sucesso na coleta. A coleta é mais fácil quando o embrião tem de oito a nove dias do que seis a sete dias. Porém, quanto mais velho for o embrião maior será a inviabilidade do procedimento pois ele será mais frágil à manipulação. A recuperação embrionária nos dias sete, oito e nove não difere significativamente, mas a recuperação no dia seis foi significativamente inferior. Portanto, para se obter uma taxa máxima de recuperação, as coletas deverão ser realizadas nos dias sete a nove dias após ovulação. No caso de ovulações múltiplas, contam-se sete a nove dias a partir da última ovulação pelo mesmo motivo anteriormente descrito. Deve-se levar em conta também a técnica de coleta (cirúrgica ou não-cirúrgica) . Se for cirúrgica a coleta pode ser realizada entre sete e nove dias. Mas se a transferência for não-cirúrgica, que é a freqüentemente utilizada, recomenda-se coletá-los menores, ou seja, no sétimo dia. 3.2.3 - METODOLOGIA DA COLETA Após as regiões perineal e vulvar terem sido lavadas cuidadosamente, por três vezes, uma sonda flexível com um diâmetro interno de 8 mm munida de um balão a sua extremidade é introduzida na cavidade uterina por via vagino cervical. Essa operação é efetuada de uma maneira bastante asséptica, devendo o operador estar munido de uma luva de apalpação de cinco dedos esterilizada, e proteger na palma da mão a extremidade da sonda no curso do trajeto vaginal. Uma vez dentro da cavidade uterina, o balão deve ser inflado com 50 a 60 ml de ar, para assegurar a fixação da sonda na porção distal do corpo uterino, impedindo o extravasamento do líquido de coleta pela vagina. O líquido de coleta (ringer lactato) é aquecido a 37 0 C e é introduzido por gravidade, através da sonda. Após a introdução de cada frasco (dois ou três) faz-se uma leve massagem no útero, para facilitar a recuperação do embrião. Outra alternativa é introduzir o líquido de coleta e esperar 3 minutos para recolhê-lo e depois filtrá-lo, sem necessidade de massagem. O líquido restante no filtro é recolhido numa placa de Petri. O filtro deve ser lavado com 20 ml do meio utilizado, para assegurar-se de que o embrião não tenha ficado retido. 3.2.4 - DETECÇÃO DO EMBRIÃO E TRATAMENTO Após a detecção do embrião no meio de coleta dentro da placa de Petri, com a utilização de uma lupa binocular, ele deverá ser lavado dez vezes num meio de cultura específico, enriquecido com soro fetal bovino e a seguir será avaliado ao seu estágio de desenvolvimento e a sua qualidade. 3.2.5 - MORFOLOGIA EMBRIONÁRIA Os embriões são classificados quanto ao estágio de desenvolvimento e avaliados quanto a sua morfologia. Tabela 1- Classificação dos embriões Estágio de desenvolvimento Mórula Mórula compacta Blastocisto jovem Blastocisto em expansão Blastocisto expandido Idade em dias 5 5 6 7 8 Mensuração em milimicras 125 a 630 125 a 650 132 a 756 136 a 1460 120 a 3930 Blastocisto em eclosão 9 730 a 4520 A quase totalidade dos embriões eqüinos coletados é classificada como viável. Apenas 3 a 5% podem apresentar anomalias morfológicas. Existe uma particularidade, no estágio tubário, na espécie eqüina com relação aos ovócitos não fecundados, zigotos e embriões com degeneração precoce. Essas células ficam retidas nos ovidutos e não chegam à cavidade uterina. Entretanto, quando existe fecundação, existe trânsito tubário e isso permite a passagem dessas células retidas. Assim é possível encontrar dentro do mesmo meio de coleta um embrião e muitos ovócitos degenerados, apesar da égua ter apresentado somente uma ovulação. Os ovócitos degenerados são facilmente diferenciados dos embriões. Eles são geralmente muito elipsóides, achatados, apresentando uma zona pelúcida intacta, enquanto o citoplasma e a membrana plasmática tomam a forma de flocos de uma coloração opaca heterogênea. O tamanho varia de 80 a 180 mm (milimicras) e são mais leves do que os embriões. O primeiro estágio de desenvolvimento embrionário que chega ao útero é o de mórula que se define por possuir uma zona pelúcida espessa com um espaço perivitular – EPV – quase totalmente preenchido pelos blastômeros nitidamente separados. A fase seguinte é a de mórula compacta, onde os blastômeros se aglutinam formando uma massa compacta e ocupam 60 a 70% do espaço perivitular. Uma nova fase, o blastocisto jovem ou inicial, apresenta uma particularidade com relação a outras espécies que se caracteriza pela formação da blastocele no centro do embrião e não em um dos pólos. A blastocele é constituída no começo por pequenas cavidades irregulares, que se juntam, propiciando o início da diferenciação entre o trofoblasto e o botão embrionário. O espaço perivitular está reduzido. O blastocisto em expansão pode ser evidenciado nessas duas estruturas. À medida que o embrião se desenvolve, a zona pelúcida vai diminuindo e quase não existe mais o espaço perivitular. No blastocisto expandido, a zona pelúcida perde 1/3 de sua espessura e pela pressão do líquido da blastocele sobre o botão embrionário, toma uma forma abaulada nesta região. É chamado de blastocisto em eclosão, quando aparece uma ruptura na zona pelúcida que estava pressionada pelo botão embrionário. Dessa forma, o botão embrionário se livra desse envoltório, passando para a fase de blastocisto eclodido. 3.2.6 - ESCOLHA E PREPARO DA ÉGUA RECEPTORA As éguas receptoras devem passar por uma seleção mais rigorosa que as doadoras. Devem possuir as seguintes características: Ter uma idade entre três a dez anos; Estarem ciclando normalmente; Não apresentarem cistos uterinos; Apresentarem corpo lúteo maior do que 30 mm; Apresentarem a cérvix firmemente fechada e útero de conformação tubular. Entre essas receptoras será escolhida, no momento da transferência, de preferência, uma égua virgem que apresentar as melhores características acima descritas e que tiver ovulado o mais próximo da doadora. Considerando-se como grau de sincronia de ovulação, entre a doadora e a receptora, a diferença de dias entre as duas ovulações. O ideal é que a receptora ovule em uma faixa de um dia antes da doadora até quatro dias depois. Escolhida a receptora, ela é colocada em um tronco com a cauda ligada e tracionada para cima por um auxiliar ou por um cordão. A ampola retal é esvaziada dos excrementos que poderão contaminar a vulva no curso da operação. As regiões perineal e vulvar são lavadas cuidadosamente com sabão líquido iodado e duchadas por três vezes e depois secadas. 3.2.7 - TÉCNICA DA TRANSFERÊNCIA A coleta não cirúrgica é a mais utilizada. Ela se assemelha à técnica de inseminação artificial nesta espécie. O embrião é montado dentro de um pailete de 0,25 ou 0,5 ml, dependendo do estágio de desenvolvimento, onde é mantido em um meio de conservação entre duas bolhas de ar por igual quantidade de meio nas extremidades do pailete, conforme o esquema abaixo: Meio de cultura + Bucha o Meio de Ar Ar Ar Figura 2: pailete Este pailete pronto é colocado dentro do aplicador para a transferência do Fonte: arquivo do Meio de embrião (inovulador), e este último é colocado dentro de uma bainha plástica descartável com extremidade aberta e arredondada. Todo este dispositivo é revestido por uma camisa sanitária. Utilizando luvas de palpação estéreis, o técnico deve introduzir o aplicador por via vaginal, guiando-o com o dedo indicador através da cérvix. O embrião é depositado cuidadosamente no corpo do útero. 3.3 - FATORES QUE INFLUENCIAM OS RESULTADOS Na utilização desta biotecnia temos que atentar para aspectos que influem diretamente nos rendimentos dos resultados. Tais fatores podem ser listados da seguinte forma: nutrição, avaliação reprodutiva da receptora, idade das doadoras e receptoras, adaptação da receptora, rígido controle folicular e qualidade do sêmen. A condição corporal é fator limitante à reprodução. Por não ser função orgânica vital e sim “luxo” a manifestação de boa condição reprodutiva só acontece quando as éguas estão bem nutricionalmente. Podemos observar que éguas bem nutridas ciclam por um período mais longo durante a estação de monta enquanto éguas mal nutridas ciclam por períodos menores, entrando rapidamente em anestro. A avaliação clínica das éguas para a escolha de receptoras deve ser criteriosa para que no momento da transferência embrionária não ocorram problemas no ambiente uterino. A adaptação das receptoras ao ambiente em que irão gerar os filhotes é primordial, isto porque, a diferença dos fatores climáticos que variam de região para região, influenciam o comportamento reprodutivo das éguas, que necessitam de um período médio de dois meses para se adaptarem às novas condições de fotoperíodo, temperatura e umidade. Bem como para se adaptarem às novas condições e tipo de pastagem. A experiência de acompanhamento do veterinário bem como a eficiência do intervalo entre os controles foram avaliadas no momento da coleta, em que os dados coletados durante a sincronização da doadora e receptora foram verificados por ultrasonografia. A qualidade do sêmen para se iniciar o programa de transferência embrionária é de vital importância. Devemos avaliar a motilidade e o vigor para que possamos ter uma grande probabilidade de sucesso na inseminação. Os resultados são reflexos diretos dos fatores acima expostos. 3.4 - AS VANTAGENS DA BIOTÉCNICA A transferência de embriões na égua é um método que consiste em coletar do útero de uma égua doadora um ou mais embriões, obtidos por fecundação ao vivo (monta ou inseminação) e o (s) transferir para o útero de uma outra égua receptora, onde ele continuará seu crescimento e seu desenvolvimento até o nascimento. As vantagens dessa técnica são inúmeras, tais como: Aumentar o número de produtos oriundos de fêmeas superiores, por estação de monta, possibilitando um avanço do melhoramento genético; Formação de linhagens maternais; Possibilitar a carreira esportiva com a reprodutiva; Aproveitamento de éguas a partir de dois anos; Alternativa médico-veternária para éguas idosas portadoras de lesões uterinas, cervicais ou vaginais, que tornem impossível uma gestação a termo; Preservação das éguas mais valiosas; Controle de doenças venéreas. Essa técnica pode também permitir obter um ou mais produtos de uma égua que foi objeto de uma atividade inesperada. Dessa forma, antes da égua tomar seu destino, pode-se coletar e congelar embriões e ter produtos desse animal sem a presença do mesmo. 3.5 - OS FATORES LIMITANTES DA TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA Essa técnica é ainda hoje utilizada com algumas restrições, por parte das associações eqüestres. Tais limitações podem ser listadas da seguinte forma: Baixo índice de fertilização (40% a 60%), isso comparando com a inseminação artificial (70% a 80%) e o processo de monta (70% a 80%); Custo de implantação relativamente alto, levando-se em conta os recursos materiais e humanos envolvidos; Devemos levar em conta que este baixo índice de fertilidade deve-se a fatores relacionados à fisiologia da égua, isto porque, nem toda inseminação resulta em fertilização, nem todo embrião é de boa qualidade e nem todo embrião coletado e inoculado resulta em prenhez. CAPÍTULO IV A COUDELARIA DE RINCÃO 4.1- HISTÓRICO A Coudelaria de Rincão foi criada em 1922, com o nome de Coudelaria Nacional do Rincão, oriunda da antiga Estância de São Gabriel, que pertenceu à Companhia de Jesus. Em 1843 foi seqüestrada e incorporada aos bens do Estado, de acordo com o artigo 36 da Lei 317, de 21 de outubro de 1843. Esteve algumas vezes arrendada à civis. Em 1891 retornou ao Ministério do Exército com o nome de Colônia de São Gabriel. Ao longo de sua existência, ostentou outras denominações tais como: depósito de remonta de Valença / 1930 ( denominação histórica ) e depósito de reprodutores de São Paulo / 1938. Foi extinta no ano 1975 sendo seu acervo encaminhado à Coudelaria de Campinas e utilizado pelo Ministério do Exército apenas como Campo de Instrução do Rincão ( CIR ). Recriada em 19 de agosto de 1987 e organizada com o nome de Coudelaria de Rincão, com sede em São Borja – RS. É subordinada à 3ª Região Militar, ocupando instalações no Campo de Instrução de Rincão a partir de 1º de janeiro de 1988, onde segue até a presente data, com suas atividades de criação, produção e melhoramento genético de eqüinos, alcançada através de avançadas técnicas de produção. Sendo os produtos distribuídos posteriormente às demais unidades do Exército Brasileiro, tais como: os Regimentos de Cavalaria de Guarda, o Regimento Escola de Cavalaria, a Escola de Equitação do Exército, o Instituto de Biologia do Exército, a Academia Militar das Agulhas Negras, a Escola de Sargentos das Armas, Centro Hípicos Militares e Campos de Instrução de todo Brasil. A Coudelaria de Rincão e o Campo de Instrução de Rincão possuem uma área de 14.936,74 ha, sendo ocupados 1.200 ha para o desenvolvimento do projeto de equinocultura e 2.411 ha nas áreas de bovinocultura de corte e de leite, piscicultura, formação de pastagens, produção de grãos e hortaliças. A outra grande parte da área é arrendada à produtores civis para a agricultura e pecuária. 4.2- A REPRODUÇÃO DA COUDELARIA DE RINCÃO A finalidade da Coudelaria de Rincão é a produção de eqüinos para o Exército Brasileiro. É dado atenção especial ao manejo sanitário e nutricional do plantel. A Coudelaria produz animais da raça brasileira de hipismo, puro sangue inglês, puro sangue hanoveriano e bretões, também produz animais sem raça definida ( SRD ). As técnicas empregadas na reprodução são: Monta natural: Mais conhecido como sistema de manadas, consiste basicamente em liberar o garanhão no potreiro com as éguas no cio. Monta dirigida: Consiste em colocar o macho em um piquete separado com uma única fêmea no cio. Inseminação artificial: Processo caracterizado pela coleta de sêmen de um determinado garanhão, que será distribuído entre as éguas matrizes selecionas. A inseminação pode ser imediata após a coleta ou em data futura, no qual o sêmen será congelado ( armazenado ). Na Coudelaria existe um rígido controle folicular das matrizes através da ultrasonografia. Destaca-se também no controle de sanidade animal realizando rígido controle da anemia infecciosa eqüina ( AIE ) sendo os teste realizados em laboratório próprio. 4.3- CONTROLE GENÉTICO DA COUDELARIA DE RINCÃO O controle genético realizado na Coudelaria baseia-se em quatro aspectos: genealogia, morfologia, funcionalidade e progênie. Genealogia: A Coudelaria de Rincão possui documentos com os registros das linhagens que são fontes das procedências de cada garanhão e cada matriz. Morfologia: A análise das estruturas físicas das matrizes são de vital importância, tanto, geneticamente como para o sucesso da gestação. Funcionalidade: Neste aspecto é analisado o desempenho do animal, tanto no trabalho em liberdade, como no trabalho montado. É verificado neste item o temperamento, as andaduras, o gesto de salto e o respeito pelo obstáculo. Progênie: Neste item é feito uma análise do produto do casamento do garanhão com a matriz. Esses quatro fatores permitem ao Diretor da Coudelaria, juntamente com a sua equipe, poder avaliar e analisar os produtos gerados e numa síntese, planejar da melhor maneira possível os futuros produtos. CAPÍTULO V A COUDELARIA DE RINCÃO E A TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA 5.1 - A ATUAL ESTRUTURA DA COUDELARIA DE RINCÃO Atualmente a Coudelaria de Rincão vem passando por uma modernização de material e pessoal, refletindo, assim, em vários aspectos que devem ser avaliados. No pavilhão de monta, o laboratório de reprodução possui uma estrutura avançada, com materiais de alta tecnologia, tais como: microscópio com conexão de vídeo, monitores para acompanhamento microscópico, estéril microscópio, balança de precisão, ultrasom, mesas térmicas, esterilizadores, dispositivos para armazenamento de sêmen, etc. O material opera com 100% de disponibilidade, colaborando assim, para o aprimoramento das atividades desenvolvidas no cotidiano da Coudelaria. O atual diretor, Tenentecoronel Vieira, vem investindo bastante não só no aspecto do material como também no pessoal. Na área dos recursos humanos podemos citar o 1º Tenente veterinário Rafael Rodrigues, graduado em medicina veterinária em 1998 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizou residência médica veterinária em clínica e cirurgia de pequenos animais em 1999 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, freqüentou a Escola de Saúde do Exército no ano de 2000, e atualmente é aluno de mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de patologia animal e embriologia. O jovem oficial é aluno do professor doutor José Luis Rodrigues, doutor em ciências veterinárias pela Universidade de Hanover/ Alemanha e PhD em reprodução. O 1º Tenente Rodrigues é atualmente o responsável pela atualização das técnicas reprodutivas na Coudelaria, capacitando assim, o efetivo profissional a produzir de acordo com a nova realidade. A equipe que trabalha diretamente com a nutrição, controle, reprodução e manejo é composta por um Capitão veterinário, 8 Tenentes veterinários, 5 Cabos e 50 Soldados. A outra “ponte” da Coudelaria com a modernidade são seus convênios firmados com Haras Joter Ltda, Universidade Federal de Santa Maria/RS e Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com essas parcerias a Coudelaria de Rincão vem crescendo muito em termos de modernização de técnicas de cunho nutricional, para melhor desenvolvimento de seus produtos, cunho reprodutivo, visando o aumento da qualidade e produção, e o manejo, que colabora direta e indiretamente com a produção e crescimento dos produtos . 5.2 - ANÁLISE DA COUDELARIA DE RINCÃO Em média a Coudelaria de Rincão produz um universo de 150 potros/ano (produtos), com o objetivo de suprir as necessidades anuais de animais cavalares no âmbito do Exército Brasileiro. De acordo com dados estatísticos da própria organização militar, 25% destes produtos são perdidos na concepção e gestação por causas de origens infecciosas e traumáticas. No pós-parto temos ainda uma perda de 5%, originado também por causas infecciosas e traumáticas. O universo reduz-se a aproximadamente 100 produtos/ano. Nos gráficos de distribuição de eqüinos para as organizações militares a que se destinam, existem vagas abertas para o preenchimento, o que nos leva a concluir que a produção de eqüídeos é menor que a verdadeira necessidade. O trabalho de campo desta pesquisa foi até São Borja-RS, na própria Coudelaria de Rincão e numa conversa com o atual diretor pode constatar as expectativas positivas para sanar a falta de eqüinos já registrada. Hoje a Coudelaria possui 270 matrizes disponíveis, neste universo existem éguas das raças brasileiro de hipismo, puro sangue inglês, bretão, Hanoveriano e sem raça definida. A partir deste ano existe um planejamento de retenção de potrancas na sede para aumento e renovação do plantel de matrizes visando aumentar a qualidade e quantidade da produção. Existem 20 garanhões trabalhando efetivamente na reprodução que estão relacionados na tabela 2 a seguir: Nome Ano/base Raça Pelagem Filiação/pai Filiação/mãe Atlas do Rincão 95 Bh Castanho Argus Relíquia Bronzon 84 Han Alazão Angico Alcoven Bolapé 84 Han Castanho Argus Arena Barão 85 Han Tordilho Woldikas Adriana Solene 88 Han Alazão Altivo Robusta Dicey Trip 91 PSI Castanho Halpen bay Printemps Latão HP 91 Bretão Alazão Amaranthus Cantora Jet Set Prince 89 PSI Alazão Crying to Quituta Run Vandicke 94 Bretão Alazão Usbec Batitka Lucky Land 92 Bh Castanho Winsor Landgrafin Flock Paper 84 PSI Alazão Ghadeer Sisa Obstáculo - PSI Tordilho Grunser Dependência Vallle Knock Out 92 Bretão Alazão Caçador Condessa Zondak 94 Han Alazão Solene Seiva Diamante do 98 Han Alazão Barão Venerada CM Rincão Eclipse do 99 Bh Castanho Anauê Vedete 99 Bh Castanho Lucky Land Troyana 00 Mestiço Castanho Fernando Seleta 00 Bh Castanho Amadeus Queixa Rincão Épico do Rincão Falcão do Rincão Fariseu do Rincão Han = Hanoveriano Bh = brasileiro de hipismo PSI = puro sangue inglês Tabela 2 – relação de reprodutores da Coudelaria de Rincão Estes 20 garanhões estão passando por um programa de seleção, visando o aprimoramento da qualidade genética de Rincão. Rigoroso controle do índice de fertilidade do sêmen, aliado a várias avaliações de funcionalidade em liberdade e montado, selecionarão os melhores para integrar o plantel de garanhões, dentro deste controle já existem 4 reprodutores que não passaram nos primeiros testes do programa de seleção dos garanhões, foram eles: Obstáculo, Latão HP, Zondak e Atlas do Rincão. Foram confeccionados no presente ano quatro planos de monta. Esses planejamentos visam colher uma grande variedade de informações que tem por finalidade melhorar a qualidade dos produtos. O 1º plano foi confeccionado pela Seção de Remonta e Veterinária (SRV), o 2º plano é de autoria do General Floriano, o 3º plano colheu informações do Cel Maia e o 4º plano foi criado pelo Diretor, Sub-Diretor e equipe veterinária da Coudelaria de Rincão. Estes quatro planos de monta estão sendo cuidadosamente analisados e darão origem a um plano de monta oficial que será posto em prática nos meses de setembro/outubro (estação de monta). Outra proposta da Coudelaria de Rincão para o aprimoramento de seus produtos é a proposta às unidades militares e militares agraciados com remontas e militares de um relatório semestral da avaliação da progênie (avaliações desportivas, saúde, rusticidade, avaliações nas atividades operacionais, etc). De posse deste relatório serão feitos estudos que irão contribuir para melhoria do controle genético e refletindo automaticamente na melhoria da qualidade dos produtos de Rincão. Os investimentos realizados no laboratório de reprodução colaboraram para um maior controle folicular das matrizes, dinamismo nos diagnósticos, análise detalhada da qualidade do sêmen, dinamismo na coleta de sêmen, melhor armazenamento de sêmen congelado e aperfeiçoamento na técnica de inseminação artificial (domínio da biotecnia pela equipe de veterinários), melhorando as condições de manipulação para um maior índice de fertilização. Com este salto de qualidade e modernidade o Diretor da Coudelaria de Rincão planeja, neste corrente ano, realizar transferência embrionária em animais do seu plantel. Esse protótipo chama-se Programa de Transferência Embrionária (PTE), e basicamente será realizado da seguinte forma: primeiramente serão selecionadas 10 éguas doadoras, essas matrizes passarão por um rigoroso processo de avaliação morfológico, genealógico, funcional e veterinário. Após conclusão desta bateria de exames elas estarão selecionadas para o programa. O segundo passo é selecionar 10 receptoras, que passarão por rígida inspeção veterinária, capturando os melhores ventres do universo disponível. A terceira tarefa será selecionar o garanhão ou o sêmen que será utilizado para a inseminação. Existe a possibilidade da Coudelaria adquirir sêmen (comprado ou doado) para integrar o PTE. Os convênios firmados (Haras Joter e UFRGS) contribuirão com apoio de recursos materiais que ficarão de reserva, tendo em vista que a própria Coudelaria já possui auto-suficiência de material, fruto de investimentos da atual administração, e recursos humanos que apoiarão com a experiência na prática da técnica. O PTE será o pioneiro e visa consolidar a biotecnia no âmbito da Coudelaria, futuramente com o domínio desta técnica os objetivos traçados serão produzir animais superiores para a renovação do plantel de garanhões e em segundo plano uma distribuição destes animais como Vinculados de representação préqualificados. CAPÍTULO VI CONCLUSÃO A escolha do tema tratado teve origem na atual necessidade da Coudelaria de Rincão em melhorar a qualidade dos seus produtos, que são distribuídos anualmente para as mais diversas organizações militares deste país continente. O objetivo central deste trabalho foi especificamente, elucidar o emprego da transferência embrionária na ótica da Coudelaria de Rincão, verificando se a resposta seria eficiente em elevar a qualidade genética dos eqüídeos militares no cenário hípico nacional. O estudo dos assuntos abordados no presente trabalho de pós-graduação, azimutou-nos ao levantamento de dados técnicos em comparação com a realidade da Coudelaria de Rincão. Essas comparações se concretizaram em algumas conclusões. Inicialmente foi realizada uma dissertação que versou sobre os conceitos gerais que tinham o objetivo de elucidar, da melhor maneira, fundamentos que contribuem para a compreensão das bases de sustentação da pesquisa. Vencida esta primeira parte do trabalho, voltaremos para o esclarecimento da técnica, que se revelou altamente positiva, no que tange aos benefícios que produz. Observamos também aspectos que limitam a biotecnia de manipulação embrionária, entretanto, são fatores totalmente controláveis, e que não comprometem uma possível escolha de aplicação da mesma. A Coudelaria de Rincão vem se modernizando ao longo deste ano, e atualmente com a nova diretoria podemos citar vários planejamentos que foram e ainda estão sendo realizados, contribuindo assim para o desenvolvimento inteligente desta organização militar. Os investimentos na atividade fim são os seguintes: a construção de estruturas para avaliação funcional dos animais é de grande valia (picadeiro coberto e picadeiro de adestramento), além de estruturas já existentes (pista de obstáculos rústicos, coliseu, e pista de salto), investimento nos recursos humanos, organizando estágios do efetivo profissional e incentivando o aperfeiçoamento dos oficiais veterinários, aquisição de materiais laboratoriais, rígido controle do manejo dos potros, planejamento de uma rigorosa seleção de garanhões, seleção de matrizes, repetidas inspeções veterinárias das matrizes (controle folicular) e planejamento detalhado para o plano de monta /2003. Além da missão principal da Coudelaria temos ainda a produção de hortaliças para a melhoria nutricional na alimentação dos militares, melhoria na estruturas dos alojamentos, aprovisionamento e almoxarifado e a construção de um hotel de trânsito. Face a conjuntura atual, podemos concluir que a Coudelaria de Rincão possui plenas condições de viabilizar a transferência embrionária, colaborando assim para o aprimoramento dos produtos de Rincão. Nos bastidores do emprego desta biotecnia temos o apoio técnico dos convênios firmados com o Haras Joter Ltda, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade Federal de Santa Maria – RS. Na visão da Coudelaria as vantagens desta técnica são as seguintes: Aumento da qualidade da genética dos produtos contribuindo com duas frentes, primeiramente para uma renovação do plantel de garanhões que contribuirá para uma difusão desta genética superior, e em segundo plano distribuição destes produtos superiores no âmbito do Exército; O custo da implantação será relativamente baixo, por possuir a maioria dos equipamentos e suporte técnico para operar, seja do próprio núcleo, seja vindo com o auxílio dos convênios. As limitações podem se resumidas em: Baixo índice de fertilidade da técnica em relação a outras técnicas (40% a 60% em comparação com a inseminação artificial e processo de monta que atingem 70% a 80%); Resultados colhidos a longo prazo. Pela atual estrutura e maturidade veterinária da Coudelaria de Rincão, já concluímos que a mesma possui condições de conduzir a técnica, tendo em vista que por iniciativa da própria diretoria, neste ano de 2003, nos meses de setembro/outubro (estação de monta) ocorrerá o programa de transferência embrionária, que será o pioneiro, demonstrando assim total auto-suficiência para trilhar na direção da modernidade, posicionando futuramente os eqüinos militares no cenário de destaque nacional. Finalizando o presente trabalho, a única certeza que permanece é que o assunto em pauta é muito dinâmico, isto porque a realidade de hoje pode não ser a de amanhã. Esperamos que os leitores tenham compreendido a importância da implantação e manutenção da transferência embrionária na Coudelaria de Rincão, não só como um processo de melhoria genética, mas como uma porta para a projeção dos produtos de Rincão em proporções de expressão nacional ou até mesmo internacional. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS. NBR 10519: Apresentação de relatórios técnico-científicos. Rio de janeiro, 1989. BASÍLIO, M.G. Centrais de Reprodução: O Consumidor Exige Qualidade Genética e o Mercado Responde com Tecnologia, Profissionalismo e Visão Empreendedora. Em Pauta – Horse Ilimitada, Rio de Janeiro, abril 2003. P. 64- 66. BENTO, C.M. História da 3ª Região Militar: Projeto História do Exército no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Gerdau, v. III,1999. BERNARDI, M.M; GERNIAK, S. L; SPINOSA, H.S. Farmacologia Aplicada à medicina Veterinária. In: BENITES, N.R. Medicamentos Empregados para Sincronização do Ciclo Estral e Transferência de Embriões. 2ª ed. 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