Utilização do “Slake Durability Test” na caracterização da alteração de granitos Use of the “Slake Durability Test” to characterize the alteration of granites. Mário Quinta Ferreira(1,a), Ana Antão(2,b) 1 Universidade de Coimbra, Dep. Ciências da Terra, 2 Instituto Politécnico da Guarda, ESTG - Dep. Eng. Civil a [email protected]; [email protected] SUMÁRIO Descrevem-se os granitos e a metodologia utilizada no ensaio de “Slake”. O granito da Guarda é porfiróide de grão muito grosseiro a grosseiro, e o granito do Jarmelo é não porfiróide de grão médio. Foram ensaiados os graus de alteração I a IV. Utilizaram-se tambores com malhas de 2mm, 4mm e 12mm de abertura e realizaram-se também dois ciclos adicionais de desgaste para além dos normalizados. Apresenta-se uma nova proposta de classificação da durabilidade específica para os granitos, baseada nos resultados do “Slake” e da porosidade. Palavras-chave: Durabilidade; Granito; Classificação; Alteração. SUMMARY The methodology used in the “Slake Durability Test” is presented and the tested granites are described. The Guarda granite has porphyry texture, large to medium grain, while the Jarmelo granite has non porphyry texture and medium grain. Weathering grades from I to IV were tested. Test drums with 2mm, 4mm and 12mm of mesh aperture were used. Two additional cycles were used beyond the normalized ones. A new durability classification proposal is presented for the granites, based on the results of the “Slake” and of the porosity. Key-words: Durability; Granite; Classification; Alteration. grosseiro. Como elementos essenciais possui quartzo, oligoclase, microclina, albite, biotite e moscovite; os minerais acessórios compreendem a apatite, o zircão e a magnetite, sendo a caulinite, a sericite e a clorite os minerais secundários mais abundantes. O granito do Jarmelo apresenta textura hipautomórfica granular, bastante uniforme com dimensão média dos cristais de matriz de cerca de 3 mm, apresentando-se as moscovites com dimensões ligeiramente inferiores. É de grão médio não porfiróide, de duas micas com larga predominância da moscovite [5]. É uma rocha leucocrática a leucomesocrática. Como elementos essenciais referem-se o quartzo, a microclina geralmente pertitizada, as plagioclases sódicas e sódico-cálcicas e a moscovite; os minerais acessórios compreendem a biotite, a apatite, a esfena, o zircão e a magnetite, sendo a caulinite, a sericite, a clorite, os óxidos e hidróxidos de ferro e os minerais do grupo do epídoto os minerais secundários mais abundantes. A maior diferença apresentada por estes dois granitos verifica-se a nível da textura, apresentado o Introdução O ensaio designado pela Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas por “Slake Durability Test” [1], que passaremos a referir simplificadamente como “Slake” ou como “Ensaio de Desgaste em Meio Aquoso” tem sido utilizado para estudar o comportamento de materiais argilo-xistentos relativamente à sua resistência ao desgaste por atrito em meio aquoso. Este ensaio foi inicialmente proposto para as rochas argilo-xistosas [2, 3]. Os materiais estudados neste trabalho foram os granitos da Guarda e do Jarmelo, que pertencem à grande mancha de granitos hercínicos do norte e centro de Portugal. O granito da Guarda apresenta textura porfiróide, de grão muito grosseiro a grosseiro (com dimensão média dos cristais de matriz de 7mm), tendo os megacristais feldspáticos comprimentos médios de 45mm, podendo ultrapassar os 70mm. É do tipo monzonítico, de duas micas, com predomínio da biotite [4]. É uma rocha leucomesocrática, com grandes cristais de feldspato e grão geralmente 763 granito da Guarda textura porfiróide de grão muito grosseiro a grosseiro, enquanto que o granito do Jarmelo apresenta textura não porfiróide de grão médio. No presente trabalho o “Slake” foi utilizado para caracterizar a durabilidade das rochas graníticas com graus de alteração de I a IV segundo a classificação da IAEG [6]. analisar o comportamento dos materiais mais sãos, utilizando o tambor padrão de 2mm de malha. Verificou-se que o decréscimo do Id não ultrapassou os 3,5%, ou seja grande parte do material desagregado permanecia dentro do tambor sendo assim contabilizado como não tendo sofrido desgaste. Consideramos pois que este ensaio apresenta pouca sensibilidade para materiais rochosos muito resistentes e em que a percentagem de minerais expansivos é praticamente inexistente, vindo confirmar o referido por [8] relativamente a vários granitos sãos do norte e centro de Portugal. Metodologia O ensaio foi executado segundo o procedimento recomendado [1]. Em relação a outros ensaios de desgaste, tais como o ensaio de Los Angeles ou o ensaio de Micro-Deval, o “Slake” é um ensaio simples de efectuar pois necessita de amostras pequenas, entre 400 a 500g, sem grande preparação dos provetes, sendo também menos demorado. O “Slake” tem ainda a vantagem de facilmente permitir adaptações quer em relação às condições de utilização do material, quer em relação às próprias características de execução do ensaio. Com efeito vários autores [7, 8, 9, 10] têm referido a necessidade de aumentar a duração do ensaio em rochas muito resistentes e/ou sugerido a utilização de tambores com malhas de dimensões ajustadas ao material em estudo [11, 12, 13]. Estes últimos autores após estudo realizados em granitos da Coreia, sugerem a utilização de tambores com malhas de dimensões ligeiramente superiores a 2mm em relação ao tamanho médio dos grãos de quartzo existentes na rocha o que permitiria separar o material com comportamento de rocha do material friável com comportamento de solo. Assim, tendo em consideração a dimensão média dos grãos de quartzo dos granitos por nós estudados, optámos, para além da execução do ensaio segundo o procedimento normalizado, com uma malha de 2mm de abertura, pela utilização adicional de tambores com malhas de 4mm e de 12mm (Figura 1). Uma outra alternativa utilizada foi a realização de um terceiro ciclo de 1000 rotações. Pretendeu-se deste modo analisar a sensibilidade do ensaio à influência da textura da rocha, nomeadamente do granito de grão grosseiro porfiróide da Guarda. a) b) Análise dos resultados Os resultados mostram que é nos granitos mais alterados que a influência da dimensão da malha dos tambores mais se faz sentir. O aumento da percentagem perdida (diminuição do valor de Id2) quando se utiliza o tambor de malha de 12mm em vez dos 2mm padronizado, é de cerca de 26%, no grau de alteração IV e no caso dos granitos com grau de alteração III é de cerca de 7%, o que está de acordo com os resultados obtidos por outros autores [12, 13] para os granitos alterados de grão grosseiro da Coreia. Executaram-se também alguns ensaios em que foi introduzido um terceiro e um quarto ciclo para c) Figura 1 – Tambores utilizados no ensaio de “Slake” e sua relação com o material alterado (grau IV) do granito da Guarda. a) Tambor de malha 12 mm; b) Tambor de malha 4 mm; c) Tambor de malha 2 mm. Com o intuito de analisar melhor a influência que a dimensão da malha dos tambores tem com a dimensão média do grão da rocha, e com o seu estado de alteração, foi feita a análise granulométrica do material retido e passado nos três tambores até ao peneiro nº 200. Verificou-se que 764 ao longo de quatro ciclos padronizados e para os vários graus de alteração analisados. Em face dos resultados obtidos, parece-nos que a classificação de Gamble [2] tendo sido elaborada para os argilitos e xistos argilosos, deve ser adaptada para rochas de outra natureza, com granulometria mais grosseira, mais resistentes e com menores perdas. Com efeito, a designação de durabilidade média dada ao grau de alteração IV destes granitos, não corresponde às características de resistência e de deformabilidade que as rochas apresentam, encontrando-se nitidamente sobreavaliada. existe uma mudança da curva granulométrica dos graus de alteração I e II para os graus III e IV, relativamente ao material granítico retido. As curvas correspondentes à rocha sã a pouco alterada (graus I e II) correspondem a materiais uniformes (Cu = 1.11) enquanto as curvas das rochas mais alteradas apresenta uma certa graduação (Cu entre 1.15 e 2.7 e Cc com alguns valores inferiores a 1 e superiores 3). Além desta análise granulométrica, foi também analisado o tipo de material que ficava retido nos vários tambores. É a partir da malha de 12 mm que se pode fazer a separação entre o material rocha e o material desagregado com características de solo (com os grãos de quartzo, de feldspato e de micas individualizados). Esta evidência é mais nítida nos granitos mais alterados (graus III e IV). Para o granito do Jarmelo a realização do “Slake” com tambores de malha normalizada de 2 mm, malha de 4 mm e de 12 mm, não influência muito os resultados do ensaio. No entanto a inspecção visual do material retido nos tambores utilizando o granito do Jarmelo, mostrou que só a partir do tambor de malha 4 mm é que ficavam retidos dentro de cada tambor apenas fragmentos de rocha em todos os graus de alteração. Apenas no material são (grau de alteração I) se observaram só fragmentos de rocha no material retido nos três tambores. Com efeito, neste granito a textura hipautomórfica granular com dimensão média dos cristais da matriz de cerca de 3 mm e sem fracturação evidente, adequa-se bem à malha normalizada de 2 mm. Por este motivo a evolução do desgaste após os provetes terem sido sujeitos ao ensaio gelo/degelo foi apenas efectuada nos tambores de malha 2 mm. Tomando por base a classificação da durabilidade proposta por Gamble [2] fez-se a correspondência entre o grau de alteração e o desgaste (Id2) dos granitos estudados, tal como se apresenta na Tabela 1. 100 I 90 II Id (%) II III 80 III III IV 70 IV IV 60 1 2 3 Número de ciclos 4 Figura 2 – Evolução das perdas do granito do Jarmelo ao longo de quatro ciclos. (I, II, III e IV – graus de alteração). Sendo o “Slake” um ensaio expedito, permitindo uma primeira avaliação da durabilidade dos materiais, deve poder fornecer indicações que se relacionem com as características de resistência e deformabilidade da rocha, principalmente nos graus de alteração mais avançados. Proposta de classificação das rochas graníticas Os resultados obtidos neste trabalho levam-nos a tecer algumas considerações sobre a aplicabilidade deste ensaio para classificar a durabilidade de rochas graníticas. Segundo o procedimento da ISRM [1], o “Slake” é especialmente dirigido às rochas brandas com minerais argilosos na sua constituição. A sua fácil utilização e a não necessidade de provetes com formas e dimensões específicas, tornaram-no num dos ensaios mais difundidos para a avaliação da alterabilidade de uma rocha por desgaste em meio aquoso. No entanto a sua utilidade em rochas que, se bem que alteradas, não possuem minerais argilosos, ou possuem-nos em muito pequenas percentagens, têm levado vários autores a sugerirem modificações deste ensaio como atrás se fez referência. Às nossas latitudes, muitas rochas graníticas sofrem um processo de alteração essencialmente físico, não originando nesse processo evolutivo minerais secundários argilosos em quantidade suficiente para Tabela 1 – Classificação da durabilidade [2] - sua relação com o grau de alteração [6] dos dois granitos. Grau de Durabilidade Id2 alteração muito elevada >98 I elevada 95 – 98 II média a alta 85 – 95 III média 60 – 85 IV baixa 30 – 60 muito baixa <30 Com o objectivo de averiguar a evolução do Índice de durabilidade (Id) com o aumento do número de ciclos, foram efectuados vários ciclos de desgaste segundo o procedimento recomendado pela ISRM [1] ou seja com a duração de 10 minutos e a 20rpm. Na Figura 2 apresenta-se graficamente a evolução do desgaste em meio húmido para o granito do Jarmelo 765 comportamentos diferenciados do material rochoso granítico estudado [14]. Espera-se assim dar uma contribuição para a avaliação da durabilidade em materiais graníticos, recorrendo a ensaios expeditos. influenciar o seu comportamento relativamente ao desgaste em meio aquoso. Assim, com base nos resultados obtidos, sugere-se uma proposta de classificação de durabilidade para os materiais graníticos, que se baseia nos seguintes pressupostos [14]: O ensaio é realizado com a malha de 2 mm; A classificação é definida em função dos valores de Id2 e da porosidade (n); Procura-se que a separação entre as várias classes corresponda a comportamentos diferenciados. Os intervalos propostos para as classes de durabilidade Id2 (%) são: 0-85 muito baixa; 85-90 baixa; 90-95 média; 95-98 alta; 98-100 muito alta. Os intervalos de classes consideradas para a porosidade n (%) são: 0-1 muito baixa; 1-3 baixa; 3-8 média; 8-13 elevada; > 13 muito elevada. A descrição da durabilidade dos granitos pode ser feita utilizando as duas componentes como por exemplo: baixa durabilidade e média porosidade (Figura 3). muito baixa baixa média alta Referências Bibliográficas muito alta muito elevada 14 12 elevada n (%) 10 8 6 w 1-Guarda w 2-Guarda w 3-Guarda w 4-Guarda w 1-Jarmelo w 2-Jarmelo w 3-Jarmelo w 4-Jarmelo 4 3 2 1 média baixa muito baixa 0 75 80 85 Id2 (%) 90 95 98 100 Figura 3 – Classificação da durabilidade para os dois granitos estudados. W1, W2, W3, W4 – graus de alteração. Conclusão Verificou-se que o ensaio de ”Slake” é inadequado para aferir a alterabilidade/durabilidade dos materiais graníticos, devido principalmente à textura e ao facto de praticamente não apresentarem minerais argilosos na sua composição. Assim, propôs-se uma outra classificação da durabilidade para materiais rochosos com características semelhantes aos estudados. A nova classificação é baseada em dois parâmetros – o Id2 e o n. A obtenção do parâmetro Id2 é feita segundo o preconizado em [1], sendo identificadas cinco classes de durabilidade a que correspondem 766 [1] ISRM (1981) Rock characterization testing & monitoring – ISRM suggested methods. Editado por E. T. Brown, Pergamon Press. [2] GAMBLE, J.C. (1971) Durability-plasticity classification for shales and other argillaceous rocks. Tese de PhD, Universidade de Illinois, Urbana, EUA. [3] FRANKLIN, J. A. (1974) Rock quality in relation to the quarrying and performance of rock construction materials. Proc. 2nd Int. Cong. of IAEG, São Paulo, (Brasil), V.1, pp. 2.1-2.11. [4] TEIXEIRA, C., MARTINS, J.A., MEDEIROS, A.C., PILAR, L., MESQUITA, L.P. e FERRO, M.N. (1963) Notícia explicativa da folha 18-C, Guarda. Carta Geológica de Portugal, escala 1/50 000, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. [5] TEIXEIRA, C., MEDEIROS, J.A., PILAR, L., CARVALHOSA, A. e FERRO, M.N. (1963) Notícia explicativa da folha 18-A, Vila Franca das Naves. 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