caracterização das reações da vacina contra vírus a

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ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA
29 e 30 de novembro de 2010
Unioeste – Campus de Cascavel
ISSN 2176-4778
CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES DA VACINA CONTRA VÍRUS
A/H1N1/2009 EM COMUNIDADE ACADÊMICA, PARANÁ, BRASIL
Eliane P. Góes1 ,
Oscar Kenji Nihei,
Marcos Augusto M. Arcoverde,
Patrícia Lima Miranda.
INTRODUÇÃO
Os casos de infecções pelo novo vírus da influenza A/H1N1/2009, que difere
antigenicamente do vírus influenza sazonal preexistente (A/H1N1), iniciou-se em abril
de 2009, no México, no mesmo mês disseminou-se para os Estados Unidos da América
(EUA), e em seguida, para os demais países do mundo (TANG et al., 2010).
No Brasil, o primeiro caso de infecção pelo vírus A/H1N1/2009 foi registrado
em 7 de maio de 2009 e novos casos foram detectados até julho, sendo principalmente,
de indivíduos que haviam viajado recentemente para países da América do Norte ou
para a Argentina, e desde este período, o número de casos aumentou no Brasil atingindo
milhares de pessoas (OLIVEIRA et al., 2009).
O novo vírus da influenza humana A/H1N1/2009, é derivado do rearranjo entre
o vírus da influenza suína H1N1 da Eurásia e o vírus da influenza suína
H1N1/H1N2/H3N2 da América do Norte (TANG et al., 2010), sendo muito similar,
quanto à sua hemaglutinina (HA), ao vírus H1N1 que causou a pandemia de 1918, e a
morte de milhões de pessoas em todo o mundo, demonstrando que esta “nova”
configuração molecular apresenta alguma vantagem evolutiva hoje, passado quase um
século, desde sua aparição (COHEN, 2010).
Apesar do temor inicial de que este novo vírus apresentasse altas taxas de
mortalidade, similar ao vírus H1N1 de 1918, o acompanhamento dos novos casos
possibilitou verificar que a maioria dos pacientes infectados pelo vírus influenza
A/H1N1/2009 apresentava um quadro clínico semelhante ao de uma infecção pelo vírus
1
Enfermeira, Mestre. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Foz do Iguaçu, Grupo de
Estudo em Saúde Coletiva em Enfermagem. Rua Ariquemes, 52, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, CEP
85869-300. gó[email protected]
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influenza comum sazonal, i.e, causando uma combinação de febre, tosse, falta de ar,
mialgia e fadiga (TANG et al., 2010).
Os dados epidemiológicos indicam que o vírus influenza tipo A/H1N1/2009 já é
o mais predominante dentre os diferentes tipos de vírus influenza circulantes no mundo
(TANG et al., 2010).
No Brasil, no período de 19 de abril a 22 de agosto de 2009, foram registrados
5757 casos confirmados laboratorialmente de infecção pelo A/H1N1/2009. As maiores
incidências ocorreram em duas faixas etárias, em crianças até 5 anos de idade (3,8
casos/100.000) e no grupo de 20 a 29 anos (4,6 casos/100.000). Considerando que os
exames laboratoriais realizados em pacientes que apresentavam a infecção respiratória
aguda severa, e que muitos pacientes suspeitos não realizaram os exames laboratoriais
para confirmar a infecção pelo A/H1N1/2009, estima-se que o número de casos tenha
sido bem maior. Os principais sintomas da infecção foram febre e tosse, podendo ainda
apresentar cefaléia, mialgia ou artralgia, calafrios e rinorréia. A maioria dos casos se
concentrou nas regiões sudeste e sul do Brasil, com uma incidência de 3,7
casos/100.000 habitantes e 8,6 casos/100.000 habitantes, respectivamente, e
principalmente nos municípios que fazem fronteira com a Argentina, Paraguai e
Uruguai (OLIVEIRA et al., 2009).
Com o surgimento da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
estimulou o desenvolvimento de estratégias de controle da infecção mediante
desenvolvimento de vacinas e caracterização de sua imunogenicidade e segurança, pelos
centros de pesquisa internacionais. Em resposta, mais de 30 vacinas para H1N1
pandêmico foram desenvolvidas e licenciadas, e desde setembro de 2009, mais de 50
países
implementaram
programas
de
imunização
nas
suas
populações
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009). As vacinas para o A/H1N1/2009
desenvolvidas são dos seguintes tipos: 1) organismos vivo atenuado; 2) organismo
inativado (fragmentado, de subunidade ou com o vírus inteiro) sem adjuvante; 3)
organismo inativado (fragmentado ou de subunidade) com adjuvante.
Segundo o Comitê Consultivo Global sobre Segurança de Vacinas, após a
distribuição de mais de 150 milhões de doses de vacinas para diferentes países do
mundo, nenhum efeito adverso não previsto pelos estudos existentes foi relatado para
nenhuma das diferentes formulações da vacina, seja com ou sem adjuvantes, o que tem
confirmado a segurança da vacina (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009).
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No entanto, alguns raros casos estavam relacionados a relatos de reações de
hipersensibilidade frente à vacina, com aparecimento de urticária, angioedema e
anafilaxia (moderada a severa), tendo sido esta última fatal em alguns casos registrados.
A taxa de anafilaxia registrada frente a componentes da vacina foi de 0,1 a 1 para cada
100.000 doses aplicadas (BOLAM; GRILLS, 2009; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2009).
Alguns
trabalhos
descreveram
efeitos
adversos
da
vacina
do
vírus
A/H1N1/2009, os quais se verificou que os principais efeitos adversos locais relatados
foram vermelhidão ou dor e os principais efeitos adversos sistêmicos relatados foram
febre e mialgia ou artralgia, sendo que, em média, os efeitos apareciam em até 48 horas
após o recebimento da vacina, mas variavam de 1 a 7 dias (DINH et al., 2010; LIANG
et al., 2010).
Mesmo existindo medicamentos, tais como o oseltamivir, para o tratamento da
infecção pelo vírus A/H1N1/2009 pandêmico, o surgimento mutações no vírus
A/H1N1/2009 tem sido relatado (0,25 a 2,46% dos isolados) (TANG et al., 2010).
Apesar da comprovada segurança das diferentes formulações vacinais
licenciadas e existentes, a OMS considera a constante farmacovigilância sobre os efeitos
adversos que possam surgir em decorrência da vacinação, um ponto crítico da estratégia
de controle e prevenção de novos casos de influenza do tipo A/H1N1/2009.
OBJETIVOS
Investigar as informações sobre o aparecimento de sinais de reações vacinais e a
sua incidência em funcionários e estudantes universitários de uma Universidade Pública
do Estado do Paraná que receberam a vacina do vírus A/H1N1/2009 em uma campanha
nacional de vacinação.
METODOLOGIA
Esta pesquisa trata-se de um estudo descritivo de natureza quantitativa. A coleta
ocorreu em uma instituição de ensino superior pública da cidade de Foz do Iguaçu,
Paraná, Brasil. A população deste estudo foi composta de 648 participantes, constituído
de estudantes e funcionários que receberam a vacina contra influenza A/H1N1/2009
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durante a campanha de vacinação nacional. O período de vacinação foi de 12 a 16 de
abril de 2009, e a coleta de dados ocorreu entre os dias 26 a 30 do mesmo mês e ano.
O imunobiológico utilizado nesta isntituição foi a vacina contra influenza
A/H1N1/2009 pandêmico, formulação de suspensão injetável (via intramuscular),
cartucho contendo frasco-ampola multidose (com 10 doses de 0,5 ml), lote UH003AB
(Laboratório Sanofi Pasteur Inc. Discovery Drive Swiftwater, EUA; importada e
registrada por Sanofi-Aventis Farmacêutica Ltda.Suzano/SP)
Esta atividade foi realizada em colaboração com a Secretaria Municipal de
Saúde de Foz do Iguaçu-PR. Ao todo foram vacinados 958 indivíduos, mas apenas 648
aceitaram participar desta pesquisa.
O estudo foi realizado através de um questionário que continha perguntas sobre
possiveis reações locais e sistêmicas decorrentes da vacinação e foi elaborado baseado
em trabalhos anteriores realizados que avaliaram os efeitos da vacina em diferentes
populações (DINH et al., 2010; LIANG et al., 2010). Foram consideradas reações
vacinais locais a vermelhidão, dor, edema, calor, hematoma, endurecimento e prurido
ocorridos no local da aplicação. Como reações sistêmicas foram considerados os
seguintes sintomas: febre, mal-estar geral, mialgia, artralgia, cansaço, cefaléia,
convulsões, coriza, diarréia, edema de face, falta de apetite, insônia, hipotensão
linfadenomegalia, náuseas, paralisia de membro, vertigens, vômitos, urticária, tosse e
outros sintomas relacionados ao sistema respiratório.
Os dados foram analisados estatisticamente utilizando-se das porcentagens
obtidas. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Seres Humanos da
Universidade Estadual do Oeste – Campus de Cascavel – PR.
RESULTADOS
A população total da amostra foi composta por 648 indivíduos de ambos os
sexos, sendo que destes 567 (87,5%) eram estudantes, 77 (11,88%) eram funcionários e
4 (0,62%) não informaram a ocupação na instituição. A Tabela 1 apresenta a proporção
de indivíduos de cada sexo entre a população estudada e a ocupação na instituição.
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TABELA 1: Caracterização da amostra por sexo e ocupação.
População
Sub-
%
Estudantes Funcionários NI
Total
F
331 51,08
288
41
2
M
311 47,99
275
35
1
NI
Total
6
0,93
4
1
1
648
100
567
77
4
Abreviatura: F, feminino; M, masculino; NI, não informado
Quanto à idade dos participantes, observou-se que a maioria eram jovens
condizendo com o esperado por ser um ambiente universitário. O participante mais
jovem tinha 15 anos e o mais idoso 69 anos de idade.
Para a análise das reações vacinais e melhor compreensão dos resultados, estas
foram separadas em reações locais e sistêmicos. Do total de vacinados que responderam
o questionário, 177 (27,31%) apresentaram reações locais e 167 (25,77 %) apresentaram
reações sistêmicas, sendo que destes, 68 (10,49%) apresentaram ambas.
Quanto à faixa etária e reação local, observou-se que a faixa etária que
proporcionalmente apresentou maior percentual de reação vacinal local foi a
compreendida entre 15 e 24 anos (Tabela 2).
TABELA 2. Faixa etária e reação vacinal local.
Reação
Local
Positivo
(N e %)
Negativo
(N e %)
15-18
19-24
25-29
30-34
Faixa etária (anos)
35-39 40-44 45-49
55
(31,07)
91
(51,41)
14
(7,91)
5
(2,82)
8
(4,52)
1
(0,56)
129
(27,39)
206
(43,74)
42
(8,92)
29
(6,16)
28
(5,94)
36
Sub-total
184
297
56
34
Abreviatura: N, número absoluto; NI, não informado.
Total
50-54
55-59
60 ou +
NI
2
(1,13)
0
0
0
1
(0,56)
177
(27,3%)
11
(2,34)
6
(1,27)
6
(1,27)
3
(0,64)
3
(0,64)
8
(1,70)
471
12
8
6
3
3
9
648
As reações adversas locais foram relatadas por 177 indivíduos (120 do sexo
feminino e 57 do sexo masculino), sendo que as mais frequentes no público feminino
foram dor (n = 94, 78,3%) e induração do local (n = 30, 25%), e dentre o sexo
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masculino, foram dor (n = 42, 73,7%), induração do local (n = 7 , 12,3%) e calor (n = 6,
10,5%) (Gráfico 1).
Feminino
Indivíduos com reação local
(número absoluto)
100
Masculino
90
80
70
60
50
40
30
20
10
ou
tro
s
o
Pr
ur
id
en
to
ec
im
En
du
r
or
Ca
l
a
Ed
em
Do
r
He
m
at
om
a
Ve
rm
el
hi
d
ão
0
Reação local
GRÁFICO 1. Reações vacinais locais, Foz do Iguaçu-PR, 2009.
As reações adversas sistêmicas foram relatadas por 167 indivíduos (102 do sexo
feminino e 65 do sexo masculino) sendo que as reações sistêmicas mais frequentemente
relatadas pelos indivíduos do sexo feminino foram cefaléia (42,2%), mal-estar (41,2%),
cansaço (33,4%), febre (28,4%), coriza (18,6%) e tosse (18,6%) (Gráfico 2). Dentre os
individuos do sexo masculino, as reações sistêmicas mais frequentes foram o cansaço
(40%), mal-estar (40%), cefaléia (33,8%), febre (32,3%), coriza (15,4%) e tosse
(15,4%) (Gráfico 2).
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Feminino
Masculino
M
Fe
br
al e
-e
st
a
M r
ia
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Vô
m
Ve ito
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O
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ro
s
Indivíduos com reação sistêmica
(número absoluto)
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Reação sistêmica
GRÁFICO 2. Reações vacinais sistêmicas, Foz do Iguaçu-PR, 2009.
CONCLUSÕES
Mediante os dados encontrados verificou-se que os mais jovens apresentaram
mais reações vacinais locais e sistêmicas quando comparados ao restante do grupo. Esse
fato necessita de maior investigação para obtermos conclusões mais exatas para
responder a esse fenômeno.
Do total de vacinados, 27,31% apresentaram reações locais e 25,77%
apresentaram reações sistêmicas. Apesar das reações vacinais adversas relatadas pelos
participantes deste estudo serem esperadas, quando comparadas com os dados de
trabalhos cientificos que avaliaram a biosegurança das vacinas contra influenza
A/H1N1/2009, foi possível verificar que os percentuais detectados neste trabalho podem
ser considerados elevados.
REFERÊNCIAS
BOLAM, Bruce; GRILLS, Nathan. Adverse effects following pandemic influenza
(H1N1) 2009 vaccination. Australian and New Zealand Journal of Public Health,
Austrália, v. 33, n. 6, p. 584, dez., 2009.
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COHEN, Jon. Swine flu pandemic. What's old is new: 1918 virus matches 2009 H1N1
strain. Science, Estados Unidos da América, v. 327, n. 5973, p. 1563, mar., 2010.
DINH, Aurelien; LAWRENCE, Christine; SALOMON, Jérome; DESCATHA, Alexis.
Expected and unexpected adverse effects H1N1 vaccination for health care workers in a
university hospital. Vaccine, Holanda, v. 28, n. 9, p. 2063, fev., 2010.
LIANG, Xiao-Feng, et al. Safety and immunogenicity of 2009 pandemic influenza A
H1N1 vaccines in China: a multicentre, double-blind, randomised, placebo-controlled
trial. Lancet, Inglaterra, v. 375, n. 9708, p. 56, jan., 2010.
OLIVEIRA W, et al. Pandemic H1N1 influenza in Brazil: analysis of the first 34,506
notified cases of influenza-like illness with severe acute respiratory infection (SARI).
Euro Surveillance, Suécia, v. 14, n. 42, p. 19362, out., 2009.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Global Advisory Committee on Vaccine
Safety,3-4 December 2009. Weekly Epidemiological Record, Suíça, v. 85, n. 5, p. 29,
jan., 2009.
TANG, Julian W.; SHETTY, Nandini; LAM, Tommy Tsan-Yuk. Features of the new
pandemic influenza A/H1N1/2009 virus: virology, epidemiology, clinical and public
health aspects. Current Opinion in Pulmonary Medicine, Estados Unidos da
América, v. 16, n. 3, p. 235, mai., 2010.
PALAVRAS-CHAVE: Vacinas; Vacinas contra Influenza; Efeitos adversos,
Estudantes.
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